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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Os USA e os novos golpes...


Esquivel, prêmio Nobel da Paz: “Protestos na Venezuela são movidos pelos EUA”



Em entrevista à imprensa argentina, o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel garantiu que “há uma intenção de desestabilizar não apenas a economia como também a ação social e política” na Venezuela.
Ao comentar nesta segunda-feira (17/02) a série de protestos e marchas de opositores ao governo de Nicolás Maduro, o arquiteto, escritor e ativista pelos direitos humanos disse também que há uma “investida originada nos Estados Unidos”.
“Tudo isso para produzir mudanças que não se fazem por meio de eleições”, disse o argentino. Para Esquivel, quem move os “fios dos protestos são os EUA e seus aliados”.
Esquivel pediu também maior presença do Mercosul (Mercado Comum do Sul), bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela — em nota divulgada hoje, o Mercosul repudiu a violência e “ameaças de ruptura da ordem democrática” no país. “O Mercosul tem que se fortalecer. Estão muito lentos”, disse Esquivel, horas antes da publicação do comunicado do bloco.
O Nobel da Paz ainda elogiou as conquistas sociais da Venezuela, ressaltando que a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) reconheceu o país latino-americano por ter erradicado o anafalbetismo da população.
“Fui até as zonas marginais. Ali, as pessoas não tinham água e nenhum médico se atrevia a entrar para prestar atendimentos. A Venezuela era um país que não produzia nada, era provida pelos EUA. Hoje, a Venezuela tem um integração”, disse Esquivel.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Medicina cubana, exemplo de humanidade...


Médico cubano fala à imprensa pela primeira vez

Em entrevista exclusiva, Maikell Rodriguez Valle diz por que escolheu Candiota para trabalhar, desmente inverdades sobre o Mais Médicos e diz como se sentiu ao ser denunciado por um colega de profissão
Profissional disse levar muito a sério o juramento de Hipócrates
Crédito: ANTÔNIO ROCHA
Ele gosta de churrasco, mas é hipertenso. Prometeu começar academia semana que vem, se o serviço permitir. Esteve na Venezuela e na Bolívia realizando o mesmo trabalho que faz no Brasil, em comunidades pobres e indígenas que, historicamente, tiveram pouco acesso à saúde pública. Foi manchete dos principais jornais brasileiros semana passada, quando um colega de profissão de Bagé o denunciou ao Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) por ter atendido a um paciente em estado grave, fora da sua jurisdição. "Nós temos experiências em outros países. Não somos novatos", disse, como que respondendo a quem duvida de sua competência. "Quando cheguei ao Brasil, falei que não íamos mudar nada na saúde que o Brasil não queira mudar", lembrou.     
O médico mais badalado do Brasil atualmente - depois, apenas, da colega Ramona Rodríguez, que pediu asilo aos EUA para ver o namorado em Miami - concedeu entrevista exclusiva ao Jornal MINUANO. Entrevista esta pretendida desde semana passada, quando o profissional se tornou assunto na imprensa nacional, mas preferiu esperar a turbulência passar.  
Na sede da prefeitura de Candiota, bairro Dario Lassance, Maikel Rodriguez Valle, 34 anos, recebeu a equipe de reportagem e falou, em bom portunhol, por mais de uma hora. Consequência do diálogo mantido com seus pacientes no interior do município, onde prefere atuar. Atrasou-se por alguns minutos, pois estava fazendo o que manda a profissão: salvando vidas. Agora, quando o Ministério da Saúde está prestes a arquivar a denúncia do Conselho Regional de Medicina (Cremers), numa demonstração clara de bom-senso, o cubano quebra o silêncio. Fala da medicina e da saúde pública em Cuba, do programa federal Mais Médicos, por que escolheu Candiota para trabalhar e o que sentiu ao ser denunciado por um colega de profissão.
 
De Cuba para o Brasil
Valle é divorciado e pai de dois filhos. Um de seis e outro de quatro anos de idade. Não os trouxe por opção, visto que são muito novos e, segundo ele, seria traumático para as crianças esse choque de cultura e mudança de idioma. Neste ponto, Valle desmente o primeiro mito acerca do Mais Médicos, onde diziam que eram proibidos de trazer as famílias. "Conheço colegas que trouxeram a família. Eu não trouxe por que moro em Cuba, vou voltar para lá e não quero que meus filhos retornem falando português", explicou. A família que ficou em Cuba segue recebendo o salário que ele recebia no Hospital de Pinar Del Rio: "O Mais Médicos é um extra no salário", declarou.   
Formou-se em Medicina em 2007, na Faculdade Ernesto Che Guevara, em Pinar Del Rio, província que fica ao leste da ilha, há 142 quilômetros da capital Havana. Fez residência em Medicina Geral e Integrada (saúde da família), e iniciou sua segunda especialização em anatomia patológica. Trancou os estudos após se inscrever no programa federal. Pretende retomá-los após cumprir sua estada em território brasileiro, que compreende três anos de trabalho. Ao completar um ano no Brasil, vai tirar férias na ilha e rever os filhos. 
Ficou sabendo do programa Mais Médicos através de um edital publicado pelo governo cubano. Resolveu se inscrever por iniciativa própria, desmitificando o boato de que são obrigados pelo regime castrista a vir trabalhar. "Nós que quisemos participar, nada é obrigado. Da mesma forma como fomos para Venezuela e Bolívia", afirmou. Perguntado se vale a pena financeiramente, respondeu: "Desse tema nós não falamos. Mas realmente estou muito feliz. Algumas coisas as pessoas tergiversam", disse, afirmando que está muito satisfeito com o salário e que não se tornou médico para ganhar dinheiro, mas para levar saúde à população.       
 
O episódio 2 de janeiro
Sobre o que aconteceu no dia 2 de janeiro de 2014, no Hospital Beneficente de Candiota, Valle foi reticente. Disse apenas que foi aquilo mesmo que está nos jornais e não quis discorrer sobre o assunto. Não se sentiu chateado ou magoado pela denúncia do colega de profissão. Pelo contrário. Mostrou amadurecimento e uma grande espiritualidade em não recriminar a atitude, respeitando a opinião dos brasileiros e se dando o direito de apenas discordar. "Para mim o importante é a opinião do povo", disse, fazendo alusão ao massivo apoio que obteve nas redes sociais e, inclusive, da presidente Dilma Rousseff. 
Sobre as críticas que o programa Mais Médicos e os cubanos vêm recebendo da categoria brasileira, Valle deu uma lição de humanidade e respeito: "Nós levamos muito a sério o juramento de Hipócrates, que diz que devemos tratar nossos colegas médicos como irmãos. Isso é uma lei do juramento hipocrático, que nós cubanos temos muito presente. Para nós eles são irmãos. O programa tem sido atacado por que toda a mudança traz um pouco de repercussão. É algo normal", considerou. "Da nossa parte nunca vai haver uma resposta negativa contra os colegas. Sempre vamos tratá-los como irmãos. Podemos dizer que em Cuba eles são bem-vindos. Eles e todos os colegas do mundo".
A maioria dos médicos cubanos, segundo Valle, tem duas especializações. Os que não possuem, estão cursando, assim como ele. Ou seja, ninguém é marinheiro de primeira viagem, como reza o corporativismo médico brasileiro que duvida das qualificações cubanas.   
Trabalham 32 horas por semana, com oito horas reservadas para os estudos. Mas como atende no interior, Valle trabalha bem mais tempo. "Estamos tratando de fazer realmente como está concebido na medicina familiar, que é a prevenção, mudanças de modos e estilo de vida, partindo da célula da sociedade, que é a família: tem que conversar, tem que ver as condições de vida, o ambiente onde mora, a alimentação, as condições da água", explicou, confessando que não gosta do tumulto da cidade e que prefere a calma dos campos. 
 
A rotina em Candiota 
De acordo com o médico cubano, quase não existe diferença entre trabalhar em Cuba ou no Brasil. A diferença maior, segundo ele, está nas doenças, visto que regiões tropicais apresentam enfermidades específicas. A outra diferença é a de que todo e qualquer exame, cirurgia, tratamento ou atendimento é gratuito na "ditadura castrista".  
Em Candiota, o maior problema são os hipertensos, em virtude da alimentação fronteiriça. Principalmente as carnes nos churrascos, o que ele sabe que faz parte da cultura, mas que pretende orientar os consumidores mais pré-dispostos à hipertensão. Ele mesmo é um adepto aos assados gaúchos, mas tem de pegar leve porque faz parte da lista dos que sofrem de pressão alta.    
Atua com uma equipe composta por três pessoas: um médico, um enfermeiro e um agente de saúde. De casa em casa percorrem quilômetros por dia, nos lugares mais isolados do município, alguns de difícil acesso. Comentou que, em Cuba, quando as localidades não permitem chegar de carro, alguns profissionais não se incomodam de atender a cavalo quando as situações exigem. 
Agora estão no aguardo de uma unidade móvel equipada para qualificar ainda mais o atendimento. E existe a previsão da chegada de mais dois profissionais cubanos para auxiliarem nos trabalhos.  
Mantém um bom relacionamento com os médicos brasileiros que atuam em Candiota. "O Mais Médicos trata-se de um trabalho em conjunto. Entre todos vamos tratar de ajudar a população. Nossa ideia é poder trabalhar juntos, mas não pensando cada um por si. Não tenho problemas pessoais com ninguém. Há médicos que falam bem do programa, que são a favor e que querem ajudar", relatou.    
Valle é situado historicamente. Explicou que pesquisou sobre Candiota e que escolheu a cidade não pela usina, mas por abrigar a região onde se travou a Batalha do Seival, por causa de Antônio de Souza Netto, destacado líder da Revolução Farroupilha, e também por Bento Gonçalves e os Lanceiros Negros. 
 
Os candiotenses agradecem 
Os pacientes até estranham em receber médicos em casa para atendê-los. "Eles são muito agradecidos", comentou. O cubano quer apenas trabalhar e levar saúde e informação aos candiotenses. Quando imprevistos ocorrem, como no caso da denúncia do Simers, apenas acompanha de longe, não se envolve, pois sabe que, no íntimo, agiu corretamente. "Estamos acostumados às dificuldades, mas isso nos dá mais forças. Cuba tem um povo lutador. Estamos bloqueados pelos EUA há décadas e Cuba segue firme sem esmorecer", alegou. "Nossa concepção de vida é mais espiritual do que material".    
Com a decisão extraoficial de que o Ministério da Saúde irá arquivar a denúncia feita pelo Cremers, sepultando a hipótese de deportação de alguém que quis salvar uma vida, quem ganha é a população de Candiota. Porque, parafraseando Che Guevara, "hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás".        
 
Fonte: JORNAL MINUANO
Por: Felipe Severo

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Washington desestabiliza a Ucrânia - da Rede CastorPhoto


Paul Craig Roberts: EUA desejam derrubar governos do Brasil, Venezuela, Bolívia e Equador!


 [*] Paul Craig Roberts – Institute for Political Economy


Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Barack Obama, um maníaco?
 maníacos por controlar o mundo, em Washington, pensam que só é democrático o que Washington decida e imponha contra outros países soberanos. Nenhum outro país da Terra será jamais capaz de tomar uma, sequer uma, decisão democrática.

O mundo assiste há eras a essa arrogância dos EUA, com Washington derrubando um governo democrático após outro e impondo em cada país um fantoche norte-americano. É o que Washington fez no Irã em 1953, quando a CIA, como a própria agência já admite e Ervand Abrahamian demonstra em seu livro The Coup [O Golpe] (The New Press, 2013) derrubou o governo eleito de Mossadeq; e como Washington fez também mais recentemente, quando derrubou o governo eleito de Honduras, e como fez inúmeras outras vezes em todos esses golpes.

Atualmente, Washington trabalha em tempo integral e faz horas extras para derrubar o governo da Síria, do Irã (outra vez!) e da Ucrânia. 

Washington também já pôs em sua alça de mira a democracia da Venezuela, da Bolívia, do Equador e do Brasil; e, nos seus sonhos mais enlouquecidos, Washington sonha com derrubar também governos de Rússia e China.

Dia 22/1/2014, Bouthaina Shaaban conselheira de Comunicações do governo sírio, perguntou a Wolf Blitzer, propagandista alugado a Washington e ao lobbyisraelense, em plena televisão norte-americana, por que o governo dos EUA, falando pela boca do secretário de Estado John Kerry, imagina que teria o direito de decidir quem deve governar a Síria, em lugar do povo sírio. [Pesquisas mostram que os índices de aprovação do presidente al-Assad são superiores aos de todos os governantes ocidentais]. Nem o viscoso-escorregadio Blitzer foi suficientemente viscoso-escorradio para responder “porque nós somos o povo excepcional, indispensável”. Mas é o que Washington pensa. Entrevista a seguir (em inglês):

Não demorará, e Washington retomará o trabalho de desestabilizar o governo do Irã, um hábito, suponho. Mas, no presente momento, Washington está dedicada a desestabilizar a UcrâniaA Ucrânia tem um governo democraticamente eleito, mas Washington não gosta dele, porque não foi escolhido por Washington. A Ucrânia ou a parte ocidental do país está cheia de ONGs mantidas por Washington cujo objetivo é entregar a Ucrânia às garras da União Europeia, para que os bancos da União Europeia e dos EUA possam saquear o país como saquearam, por exemplo, a Letônia; e para simultaneamente enfraquecer a Rússia, roubando parte da Rússia tradicional e convertendo-a em área reservada para bases militares de EUA-OTAN contra a Rússia.
Vladimir Putin , atleta
Talvez Putin, atleta, esteja distraído pelos Jogos Olímpicos na Rússia. É isso, ou é uma espécie de charada que ainda não deciframos, mas... Por que a Rússia não pôs em alerta máximo os seus mísseis nucleares e ocupou com soldados o oeste da Ucrânia, para impedir que todo o dinheiro da Ucrânia seja roubado por Washington? Em todos os países há cidadãos que trocariam por dinheiro o próprio país; e o oeste da Ucrânia pulula de traidores desse tipo. [No Brasil temos os MILICANALHAS e os demotucanos! redecastorphoto]

Como temos visto há décadas, árabes e muçulmanos são capazes de vender o próprio povo em troca do dinheiro ocidental. Os ucranianos ocidentais também estão interessados no mesmo negócio. As ONGs financiadas por Washington existem para entregar a Ucrânia às garras de Washington; ali os ucranianos converter-se-ão em servos dos EUA, e essa parte essencial da Rússia será transformada em palco para exibição da violência militar dos EUA.

De todos os “protestos” violentos aos quais o mundo tem assistido, os “protestos” na Ucrânia são os mais completamente orquestrados.

Dia 6/2, o blog Zero Hedge, um dos sites inteligentes e bem informados da Internet, postou uma gravação “vazada” em que fala a desprezível Victoria Nuland, uma das secretárias-assistentes de Estado do governo Obama. Nuland e Geoffrey Pyatt, enviado dos EUA à Ucrânia, discutem sobre quem Washington coroará próximo chefe de governo da Ucrânia. 

Victoria Nuland: F*da-se a União Europeia
Nuland está furiosa, porque a União Europeia não se uniu a Washington no plano para impor sanções ao governo ucraniano para completar a tomada da Ucrânia por Washington. Nuland fala como se fosse Deus, como se tivesse direito divino para escolher quem governa a Ucrânia – que ela já está escolhendo.

A União Europeia, por corrompida que já esteja pelo dinheiro de Washington, mesmo assim ainda consegue entender que ter enriquecido com o dinheiro de Washington não lhe garante qualquer proteção contra os mísseis nucleares russos. A resposta de Nuland à União Europeia que hesita em arriscar a própria existência em benefício da hegemonia dos EUA é:

“Foda-se a União Europeia”.

São os votos de Washington aos seus aliados mais cativos e a todos os povos do mundo.



[*] Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics.Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week eScripps Howard News ServiceTestemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica.

Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O quase milagroso fortalecimento da Celac e o sonho da "Pátria Grande




 ATILIO BORÓN
  no CORREIO DA CIDADANIA





Contra todos os prognósticos, a comunidade de países vai se consolidando como instituição “nuestroamericana”. Não é um milagre, mas quase. Contra todos os prognósticos, a Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos) vai se consolidando como instituição “nuestroamericana” e está a ponto de celebrar em Havana sua segunda cúpula de presidentes.

Dizemos “milagre” porque quem poderia ter imaginado, há apenas cinco anos, que o sonho bolivariano de Hugo Chávez – sonho fundando em um impecável diagnóstico da geopolítica mundial – de construir um organismo regional, sem a presença dos Estados Unidos e do Canadá, daria frutos?

Ele, Chávez, e aqueles que o acompanharam nessa empreitada patriótica, tiveram que vencer toda a classe de obstáculos: a resignação de alguns governos, a claudicação de outros, o ceticismo dos mais distantes e a sistemática oposição de Washington, dado menor na política de outros países. Eppur si muove, diria Galileu, ao contemplar a co-criação desse projeto bolivariano, pela primeira vez na história comum a todas as nações da América Latina e do Caribe, com a única exceção – até o momento! – de Porto Rico. Sem dúvidas, o fortalecimiento da Celac – como o da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) no plano sul-americano – é muito boa notícia para a causa da emancipação da Pátria Grande.


A Casa Branca tentou, primeiro, impedir o lançamento da Celac, em dezembro de 2011 em Caracas, com a presença de seu incansável promotor e mentor, já atacado por um câncer que lhe custaria a vida. Ao fracassar em sua tentativa, o império mobilizou seus aliados regionais para abortar – ou pelos menos, adiar para um futuro indefinido – a iniciativa. Tampouco funcionou. A próxima estratégia consistiu na utilização de alguns de seus incondicionais peões na região como cavalos de Tróia, para estragar o projeto desde dentro.

Não avançou muito, mas conseguiu que o primeiro governo que exerceu a presidência pro-tempore da Celac, em 2012, o Chile de Sebastián Piñera, declarasse por meio da boca de Alfredo Moreno, seu chanceler, que “a Celac será um fórum, não uma organização, que não terá sede, secretariado, burocracia nem nada disso”. Um fórum! Quer dizer, um âmbito de amáveis e intranscedentes práticas de governantes, diplomatas e especialistas, que nem de longe colocariam em questão a dominação imperialista na América Latina e o Caribe.


E a Casa Branca também conseguiu, através do militante ativismo de seus principais amigos da Aliança do Pacífico, México, Colômbia e Chile, que todas as decisões da Celac deveriam ser adotadas por unanimidade. Parece que a “regra da maioria” – tão cara para a tradição política estadunidense – somente funciona quando lhes convém; quando não, impõe-se um critério que, de fato, dá poder de veto a qualquer dos 33 membros da organização. Mas essa é uma faca de dois gumes: Panamá e Honduras poderiam vetar uma resolução que exija colocar um fim ao status colonial de Porto Rico, mas Bolívia, Equador e Venezuela poderiam fazer o mesmo frente a outra que proponha requerer a colaboração do Comando do Sul dos EUA para combater o narcotráfico.

O segundo turno presidencial da Celac, em 2013, foi de Cuba, e o presidente Raúl Castro Ruz deu passos importantes para desbaratar as manobras do chanceler chileno: a institucionalização da Celac avançou e foi criado um embrião de uma organização que, para essa cúpula, conseguiu elaborar 26 documentos de trabalho, algo que nenhum fórum faz. Algumas propostas, como a declaração da América Latina e o Caribe como uma “Zona de Paz”, serão objeto de um debate surdo, porque não se trata só de evitar a presença de armas nucleares na região – como saber se elas não existem na base de Mount Pleasant, nas nossas Ilhas Malvinas? –, mas também de utilizar o recurso da força para resolver conflitos internos.


Esse tema faz alusão subliminar à tradição intervencionista de Washington na América Latina e à presença de 77 bases militares na região, cujo propósito é exatamente esse: intervir, quando as condições lhes convenham, com sua força militar na política interna dos países da região, complementando a aberta intervenção que Washington já realiza em todos eles.


Lembrem-se, para citar um exemplo bem didático, o papel decisivo da “embaixada” para determinar o ganhador da recente eleição presidencial em Honduras. O tema, como se pode ver, será um dos mais urticantes e divisórios, porque há governos, e não são poucos, que não somente toleram a presença dessas bases militares norte-americanas, mas que, como Colômbia, Peru e Panamá, as reivindicam.


Porto Rico

Outro tema potencialmente disruptivo é a aprovação da proposta venezuelana de integrar Porto Rico à Celac – que é absolutamente lógico, levando em conta a história e o presente desse país, assim como sua cultura, sua língua e suas tradições –, mas que provavelmente suscitará reservas entre os governos mais próximos a Washington, para quem Porto Rico é um inegociável espólio de guerra. Uma guerra cuja vitória foi apreendida dos patriotas cubanos e, graças à apropriação de Cuba, Porto Rico e Filipinas, a Roma americana iniciaria a transição de república a império.


Desconta-se, em troca, um apoio unânime para o pedido argentino com relação às Ilhas Malvinas, ao levantamento do bloqueio a Cuba e para outras propostas direcionadas a reforçar os vínculos comerciais, políticos e culturais. Sabe-se que o Equador apresentará uma proposta de repúdio à espionagem realizada pelos EUA e de desenvolvimento de uma nova rede de comunicação na Internet a salvo da interdição de Washington; e é provável que se aprovem propostas concretas em relação ao combate à pobreza e que se examinem alternativas para consolidar o Banco do Sul e, eventualmente, para criar uma grande empresa petroleira latino-americana, tema sobre o qual o presidente Chávez havia insistido uma e outra vez.


A transição geopolítica internacional em curso, e que se manifesta no deslocamento do centro de gravidade da economia mundial até a Ásia-Pacífico; o declínio do poderio global dos EUA; a irreparável queda do projeto europeu; a persistência da crise econômica iniciada no fim de 2007, e que parece somente se acentuar com o passar do tempo; e a permanência de uma “ordem” econômica mundial que concentra riqueza, marginaliza nações e aprofunda a depredação do meio ambiente têm atuado como poderosos incentivos para remover a inicial desconfiança que muitos governos tinham em relação à Celac.


Costa Rica

O acordo fechado em Caracas em 2011 estabelecia que uma troika tomaria sucessivamente conta da presidência durante os primeiros três anos: começou com o Chile, depois Cuba (ratificando o repúdio continental ao bloqueio estadunidense e seu propósito de isolar a Revolução Cubana) e, ao fim dessa cúpula, a presidência será passada à Costa Rica. O país, incondicional aliado de Washington, deverá enfrentar decisivas eleições em 2 de fevereiro, quando pela primeira vez em décadas a hegemonia política  da direita neocolonial costarriquenha estará ameaçada pela ascensão de um novo e surpreendente ator político: a Frente Ampla.


A atual presidenta, Laura Chinchilla, por muitos anos funcionária da USAID, é garantia, com o triunfo do oficialismo, da “domesticação” da Celac e do retorno ao projeto cunhado por Sebastián Piñera e expressado com total descaro por seu chanceler. Mas todas as pesquisas dão por certo que haverá segundo turno e, então, o discurso e as propostas bolivarianas do candidato da Frente Ampla, José M. Villata, poderiam catapultá-lo à presidência Costa Rica.


Com certeza, assim como aconteceu há poucos meses com as eleições presidenciais na vizinha Honduras, todo o aparato de inteligência, manipulação midiática e o financiamento dos partidos amigos já foi colocado em ação por Washington, para quem uma derrota  da direita neocolonial costarriquenha seria um revés de amplas repercussões regionais. Se isso acontecesse, a Celac poderia dar um novo passo em direção a sua definitiva institucionalização, algo que a América Latina e o Caribe precisam impreterivelmente.


Atilio Borón é diretor do Programa Latino-americano de Educação à Distância em Ciências Sociais (PLED), Buenos Aires, Argentina. Prêmio Libertador al Pensamiento Crítico 2013. www.atilioboron.com.ar - Twitter: http://twitter.com/atilioboronFacebook: http://www.facebook.com/profile.php?id=596730002

Tradução: Opera Mundi.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O porto de Mariel, Brasil, Cuba e o socialismo




Beto Almeida (*) Carta Maior

Havana - Tem sido extremamente educativo registrar, aqui em Havana, a reação do povo cubano diante da inauguração do Porto de Mariel. Expressando um elevado nível cultural, uma mirada política aprofundada sobre os fenômenos destes tempos, especialmente sobre a Reunião de Cúpula da Celac que se realiza por estes dias aqui na Ilha, tendo como meta central, a redução da pobreza, os cubanos revelam, nestas análises feitas com desembaraço e naturalidade, todo o esforço de 55 anos da Revolução Cubana feita na educação e na cultura deste povo.

Mariel, uma bofetada no bloqueio

Poderia citar muitas frases que colhi ao acaso, conversando com os mais diversos segmentos sociais, faixas etárias distintas, etc, mas, uma delas, merece ser difundida amplamente. O marinheiro aposentado Jorge Luis, que já esteve nos portos de Santos e Rio de Janeiro, que vibra com o samba carioca, foi agudo na sua avaliação sobre o significado da parceria do Brasil com Cuba para  construir o Complexo Portuário de Mariel. “ Com Mariel,  Brasil rompe concretamente o bloqueio imperialista contra Cuba”, disse. E adverte: “ Jamais os imperialistas vão perdoar Lula e Dilma”. Ele não disse, mas, no contexto do diálogo com este marinheiro negro, atento ao noticiário de televisão, leitor diário de jornal, informado sobre o que ocorre no Brasil e no mundo,  estava subentendido, por sua expressão facial, que ficava muito claro porque Dilma é alvo de espionagem dos EUA.

O tom da cobertura do oposicionismo impresso brasileiro, pré-pago, à inauguração do Porto de Mariel, não surpreende pela escassa informação que apresenta, muito menos pela abundante insinuação de que tratar-se-ia apenas  de um gasto sem   sentido,  indefensável, indevido.  Ademais, sobram  os  rançosos preconceitos de sempre, afirmando que o Brasil estaria financiando a “ditadura comunista”,  tal como este oposicionismo chegou a mencionar que seria esta a única razão para empreender um programa como o Mais Médicos, que salva vidas e que tem ampla  aprovação  da sociedade brasileira.

É necessário um jornalismo de integração

Informações objetivas sobre o significado e a transcendência do Complexo Portuário de Mariel certamente faltarão ao povo brasileiro. Primeiramente, porque o oposicionismo midiático não permitirá sua difusão, numa evidente prática de censura. E, por outro lado,  nem o PT ou as forças que sustentam politicamente   o governo Dilma e estas iniciativas robustas da política externa brasileira,  com tangíveis repercussões sobre a economia brasileira, possuem uma mídia própria para esclarecer o significado de Mariel, ante um provável dilúvio de   desinformações sobre a sociedade brasileira.

Primeiramente, deve-se informar que o financiamento feito pelo BNDES, algo em torno de um bilhão reais na primeira fase,  não se trata de uma doação a Cuba. É um empréstimo, que será pago. As relações bilaterais Brasil-Cuba registram crescimento contínuo nos últimos anos.

Além disso, está condicionado à contratação de bens e serviços na economia brasileira, além de envolver cerca de 400 empresas,  sendo, portanto, um dos fatores a mais que explicam porque há contínua expansão no mercado de trabalho brasileiro, com uma taxa de desemprego das mais baixas de sua história. Ao contrário do que ocorre, por exemplo,  na Europa, onde aumenta o desemprego e há eliminação de direitos trabalhistas e sociais conquistados décadas atrás.

Dinamização das forças produtivas

Além disso, Mariel vai ser  - por enquanto , Dilma inaugurou apenas a primeira fase  -  o maior porto do Caribe, com capacidade para atracar navios  de calado superior a 18 metros, e  também , podendo movimentar mais de 1 milhão de conteiners por ano. Terá um impacto especial para o comércio marítimo também direcionado ao Pacífico, via Canal de Panamá. Para isto, vale lembrar da importância da participação da China, crescente, na economia latino-americana, em especial  com o Brasil. Tanto o gigante asiático como empresas brasileiras, já manifestaram interesse em instalarem-se na Zona Econômica Especial a ser  implantada em Mariel, onde também já foi construída uma rodovia moderna, estando em construção, uma ferrovia.

De alguma maneira , Havana retoma uma posição de destaque no comércio marítimo internacional,  pois já foi o maior porto da América Latina,  ponto de conexão de várias rotas, tendo sido, por isso mesmo, uma cidade com mais de 70 por cento de habitantes portugueses,  quando Portugal era um grande protagonista na marinha mercante internacional. Havana já teve, também,  uma das maiores indústrias navais do mundo.

Cuba  sempre impulsionou a integração

O tirocínio do marinheiro negro Jorge Luis é perfeito. Depois de suportar décadas de um bloqueio que impediu os cubanos a compra de uma simples aspirina no maior e mais próximo mercado do mundo, os EUA, a Revolução Cubana, tendo resistido a ventos e tempestades, sobretudo às agressões  imperialistas, soube preparar-se para esta nova etapa da história, simbolizada pela existência de uma Celac que vai se consolidando, pouco a pouco. Não sem enfrentar ações desestabilizadoras, lançadas contra os países mais empenhados na integração regional latino-americana, como Venezuela, Bolívia, Equador, e, também, pelas evidentes ações hostis contra Brasil e Argentina. Cuba investiu parte de seus modestos recursos na solidariedade internacional. Seja no envio de 400 mil homens e mulheres para derrotar  o exército racista da África do Sul que havia invadido Angola, como também para promover , em vários quadrantes, com o envio de professores, métodos pedagógicos, médicos e vacinas, a eliminação do analfabetismo e o salvamento generalizado de vidas. É o caso, por exemplo,  do programa Mais Médicos, não por acaso tão injustamente desprezado pela oligarquia midiática, que vocaliza os laboratórios farmacêuticos multinacionais.

Como defender que salvar vidas merece desprezo?

É certo que todas as economias caribenhas e latino-americanas  serão dinamizadas com a entrada em funcionamento do Porto de Mariel, gerando mais empregos, possibilitando novas opções comerciais. É emblemático que China esteja firmando um acordo estratégico de cooperação com a Celac. Para uma economia cercada de restrições, sem  capacidade de investimentos,  sem engenharia nacional para fazer esta obra por conta própria,  o Porto de Mariel, é um imenso  descortinar de possibilidades para Cuba. Os gigantescos navios chineses, de uma China que consolida sua posição como a segunda potência comercial mundial, não podiam mais aportar no velho Porto de Havana, o que resultava numa limitação operacional e logística, com impactos econômicos negativos de grande monta. O Porto de Havana será readaptado para o turismo e a economia cubana, no seu conjunto, recebe, com Mariel um enorme impulso para a dinamização de suas forças produtivas. A atendente do hotel onde estou instalado me confessava hoje o interesse de ir trabalhar em Mariel, porque, segundo disse, o futuro está por ali e são empregos mais promissores.

Mariel e seus impactos internacionais

Realmente,  para um economia que perdeu a parceria que tinha com a União Soviética, que resistiu durante o período especial com as adaptações inevitáveis  para salvar o essencial das conquistas da Revolução,  o que Mariel significará é de extraordinária relevância. E é exatamente na dinamização das forças produtivas da Revolução Cubana que se localizam  as chaves para muitas portas que podem ser abertas para uma maior dedicação de meios , recursos e iniciativas visando a integração latino-americana. E,  neste quebra-cabeças, a política estratégica implantada por Lula, continuada por Dilma,  é ,inequivocamente, muito decisiva. Que outro país poderia fazer um financiamento deste porte para a construção de Mariel?

Por último, pode ser muito útil uma reflexão sobre os diversos pensadores, formuladores e também executores de políticas de integração. Desde Marti,  aquele analisou a importância da “nossa Grécia”, numa referência ao significado da civilização Inca, mas que também  formulou o conceito de Nuestra América,  até chegando ao pensamento de Getúlio Vargas, criador do BNDES, o banco estatal de fomento que está financiando a construção do Porto de Mariel, uma estupenda ferramenta integradora. Tudo converge para a abertura de uma nova avenida para dar trânsito à integração. Seja pela sabedoria dos povos da região que estão sabendo apoiar, com o seu voto,  os governos que mais impulsionam estas políticas, seja pelos avanços concretos que estas políticas integradoras têm registrados, apesar da insistência nada profissional do jornalismo de desintegração em reduzir tudo a zero.

Futuro socialista

A força e a necessidade histórica das ideias se vêm comprovadas nesta inauguração da primeira etapa do Porto de Mariel, em plena reunião da Celac, sem a presença de Estados Unidos e Canadá, patrocinadores históricos da desintegração entre os povos. A simbologia da justeza histórica do pensamento martiniano, nos permite, agora,  afirmar, também, que José Marti é um dos autores intelectuais de Mariel. E,  retomando o otimismo realista do marinheiro Jorge Luis, constatamos que  a dinamização das forças produtivas da Revolução Cubana que a parceria entre Cuba e Brasil possibilita, foi estampada na frase final do discurso do presidente cubano, General  Raul Castro: “Mariel e a poderosa infraestrutura que o acompanha são uma mostra concreta do otimismo e  da confiança  com que os cubamos  olham o futuro socialista e próspero da Pátria”. O marinheiro negro captou o significado essencial  destes dias. Não por acaso, a Marcha das Tochas, que celebra com chamas que não se apagam, as ideias de Marti, em seu aniversário, ontem - com mais de 500 mil manifestantes, maioria esmagadora de jovens - teve, na  primeira fila, além de Raul, os presidentes Evo Morales, Nicolás Maduro, Pepe Mujica,  Daniel Ortega. As ideias de Marti, materializadas nestes avanços produtivos e integradores, como Mariel, vão iluminando o futuro socialista de Cuba e, com isto, da integração latino-americana.

(*) Beto Almeida, de Havana, Membro do Diretorio da Telesur