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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

- O homem com uma câmera (Chelovek s kinoapparatom) – URSS (1929)




Direção: Dziga Vertov
Roteiro: Dziga Vertov
Um experimento cinematográfico que foi considerado inovador para a sua época por utilizar várias técnicas até então pouco ou nada vistas. É um documentário que mostra um dia normal, totalmente típico, na cidade de Moscou.
Sem dúvida, um dos filmes mais importantes da história do cinema. A inquietação e teorias de Vertov o levou a criar uma obra mestra para a linguagem cinematográfica.
Em O Homem com uma câmera (ou O Homem com uma câmera na mão, ou O Homem com uma câmera de filmar), o diretor experimenta diversos recursos, como movimentos de câmera, sobreposição de imagens, velocidade (aceleração e slowmotion), planos, enquadramentos e, sobretudo, uma montagem original para a época.
Todos esses elementos respaldavam as suas teorias sobre a função da câmera e do próprio cinema – a câmera-olho, num processo de “humanização” da câmera, com as lentes funcionando como múltiplas retinas que enxergam os acontecimentos ao seu redor, unindo e sobrepondo pontos de vista.
Apesar de captar imagens do cotidiano soviético, com seus lugares, pessoas, movimentos e objetos, o filme radicaliza o conceito de “documentário”, pois une os registros documentais à manipulação feroz do diretor, resultado em uma obra artística, poética e autoral.
Enfim, esse não é apenas um filme, mas uma fonte teórica riquíssima, para se explorar a linguagem cinematográfica. Certamente, muitos cineastas do século passado beberam dessa fonte e ainda há o que beber.


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domingo, 29 de julho de 2012

Como tudo no Brasil, a liberdade de expressão é privilégio dos ricos!

Rafael Castilho

A crescente participação dos blogs e das redes sociais na difusão de conteúdo jornalístico e de opinião, democratizando o debate político para além dos meios de comunicação tradicionais vem causando arrepios na classe conservadora.

A cada dia, os brasileiros adquirem o habito de buscar fontes alternativas de informação e de reflexão sobre as grandes questões políticas nacionais, ou mesmo sobre a nossa vida cotidiana.

Isso sem falar nos conteúdos de diversão e entretenimento.

A população jovem aprendeu rápido a buscar conteúdo na internet, deixando de depender da programação das tradicionais empresas de comunicação.

Ainda que a velha mídia tenha imensa importância na formação de opinião, a internet (em especial as redes sociais), surgem como fonte alternativa.

Entre outras coisas, as pessoas perceberam que a vida real não se resume à "versão oficial" dos jornais.

Enquanto as redes sociais eram meras concorrentes na geração de entretenimento, os grandes grupos de comunicação se prepararam para a disputa de mercado.

Mas quando as questões políticas  nacionais passaram a ser discutidas, contradizendo as grandes manchetes midiáticas, a disputa passou a ser questão de sobrevivência.

Nas últimas eleições, as redes foram responsáveis por "inverter o roteiro" de uma novela que deveria ter um final diferente, caso o debate político eleitoral estivesse ainda entregue aos grandes grupos de comunicação.

Agora, a disputa é pelo poder.

Os grandes interesses da oligarquia estão em jogo.

Para os ricos, a democracia atendia ao propósito de legitimar o poder dos grandes grupos econômicos, porém, acomodando sanha por representação e participação política na sociedade brasileira.

Tampouco interessava à oligarquia governos autoritários e intervencionistas que viessem a limitar as grandes negociatas.

A democracia desenhada pela oligarquia era um grande teatro. O cenário ideal para a manutenção dos velhos privilégios. E a mídia dirigia o espetáculo com maestria, cabendo ao povo o papel de referendar nas urnas o que já estava decidido.

O Brasil ainda não fez mais do que algumas reformas sociais e tênues correções de rumos. Mas isso já foi suficiente para o estresse dos conservadores.

A democratização nos meios de comunicação, pode a médio e longo prazo dissolver a capacidade dos grandes grupos de comunicação "pautarem" a agenda do executivo e do legislativo.

A possibilidade de o Estado criar instrumentos sérios de regulação da mídia é tratada pelos magnatas como um atentado contra a liberdade de imprensa.

Mas ao que parece, a liberdade de expressão deve ser um privilegio apenas dos grandes e ricos grupos de comunicação.

Sem menor pudor, a velha imprensa vem atacando a "blogosfera" e exigindo que o poder público controle as redes sociais, inibindo seu potencial de comunicação com a sociedade.

Não são poucos os editoriais em que os grandes jornais acusam os blogueiros de serem militantes contratados pelo PT.

Muito curioso este protesto.

Ao menos este blogueiro que vos fala, jamais foi filiado ao Partido dos Trabalhadores e sequer militou em suas prestigiosas fileiras.

Além do mais, seria razoável que os grandes órgãos de imprensa fossem também denunciados por apoiarem de maneira escandalosa, desde sempre, o partido que condenou o Brasil à chaga do neoliberalismo.

E por falar em neoliberalismo, a velha imprensa festejou a abertura escancarada da economia brasileira à especulação internacional. Regozijou-se gostosamente defendendo a dilapidação do patrimônio público para empresas gringas que sucatearam os serviços ao consumidor, enquanto recheavam seus cofres. Deu de ombros para a quebradeira da industria nacional que ficou sem condições de competir no mercado internacional.

Mas o interessante, é que este apego às regras de ouro do livre mercado globalizado não se reflete quando  o assunto é a concorrência das empresas de comunicação brasileiras com empresas estrangeiras.

Os grandes jornais e televisões se manifestam com veemência em defesa da soberania nacional quando vêem a possibilidade de serem obrigados a concorrer com os grandes grupos estrangeiros.

É pena que não tenha sido da mesma forma quando eles defenderam a quebra do monopólio estatal do petróleo, das telecomunicações e a venda a preço de banana das nossas grandes empresas estratégicas ao interesse especulativo internacional.

E as contradições não param por aí.  Os magnatas das comunicações querem impedir uns poucos blogs de receberem publicidade institucional.

Mas a hipocrisia moralizadora da velha mídia, ao tratar dos gastos públicos, omite os bilhões de reais gastos com o dinheiro do contribuinte, por meio de publicidade governamental, para pagar o arrego dos grandes grupos que desde sempre conspiram contra o Brasil.

A liberdade de expressão não pode ser, como tantas coisas no Brasil, privilegio da oligarquia. 

Ensaia-se uma ofensiva contra os blogs e a sociedade deve estar consciente deste verdadeiro atentado contra a democracia.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Grande mídia perde mais uma na Justiça

Por Venício A. de Lima, no Observatório da Imprensa:
O confronto emblemático em torno da legalidade de regras históricas da agência reguladora FCC (Federal Communications Commission), relativas à propriedade cruzada (cross ownership) dos meios de comunicação (jornais, emissoras de rádio e televisão) em mercados locais, teve seu lance mais recente na Suprema Corte dos Estados Unidos, na sexta feira (29/6).


Poderosos grupos de mídia como o Chicago Tribune, a Fox (News Corporation) e o Sinclair Broadcast Group (televisão), além da NAB (National Association of Broadcasters, a Abert de lá), mesmo quando favorecidos, têm reiteradas vezes contestado judicialmente decisões da FCC alegando que elas violam as garantias da Primeira Emenda da Constituição dos EUA – vale dizer, a liberdade de expressão e a liberdade da imprensa.

Quando presidida pelo republicano Kevin Martin (2005-2009), a FCC tomou decisões – coincidentes com os interesses da grande mídia – que“flexibilizariam” normas restringindo a propriedade cruzada, em vigor (à época) há mais de 35 anos.

Organizações da sociedade civil que lutam contra a concentração da propriedade na mídia recorreram ao Tribunal Federal da Filadélfia (U.S. Court of Appeals for the Third Circuit) contra a decisão e venceram a ação.

Não houve julgamento do mérito e a alegação básica foi de que a FCC ignorou os procedimentos legais devidos e não ouviu os grupos contrários à decisão que estava sendo tomada [ver “Propriedade cruzada, lá e cá“].

Os grandes grupos de mídia apelaram, então, à Suprema Corte que, agora, ratificou a decisão do Tribunal da Filadélfia (ver aqui).

Revisão das regras

A decisão da Suprema Corte, coincidentemente, foi tomada quando a FCC está realizando audiências públicas para rever exatamente as regras sobre propriedade cruzada. Decisão legal determina que elas devam ser revisadas a cada quatro anos “para levar em conta as mudanças no ambiente competitivo”. E tudo indica que haverá nova tentativa da agencia reguladora – outra vez, no interesse expresso dos grandes grupos de mídia – de “flexibilizar” as normas.

E no Brasil?

Registre-se, em primeiro lugar, que esse tipo de pauta não encontra espaço na cobertura jornalística da grande mídia brasileira. Nada encontrei sobre o assunto nos jornalões.

Aqui, como se sabe, não existe agência reguladora para a radiodifusão (nada sequer parecido com a FCC) e nem mesmo um órgão auxiliar do Congresso Nacional – o Conselho de Comunicação Social previsto no artigo 224 da CF88 – que poderia discutir (apenas, discutir) esse tipo de questão, funciona. Ademais, não há qualquer regra que regule e/ou limite diretamente a propriedade cruzada dos meios de comunicação. Ao contrário, nossos principais grupos de mídia, nacionais ou regionais, se consolidaram exatamente praticando a propriedade cruzada.

Recentemente tive a oportunidade de comentar a posição de grupos de mídia brasileiros que consideram o controle da propriedade cruzada superado pela “convergência de mídias”, além de “ranço ideológico”, “discurso radical que flertava com o autoritarismo”, “impasse ultrapassado” e “visão retrógrada” [ver “Propriedade cruzada – Os interesse explicitados“ e “Marco regulatório – Ainda a propriedade cruzada“].

Nesses tempos, em que a necessidade de um marco regulatório para o setor de comunicações “parece” estar sendo reconhecida até mesmo pelos atores que a ela sempre resistiram, é interessante acompanhar o que ocorre nos EUA. A propriedade cruzada é tema inescapável no debate sobre a regulação do setor.

Nos EUA, a Suprema Corte tem historicamente ficado do lado da diversidade e da pluralidade de vozes.

A ver.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Formigas derrubam muro de cobrança da Folha

Formigas derrubam muro de cobrança da Folha Foto: Edição/247

Desde que a Folha de S. Paulo passou a cobrar por seu conteúdo na web, internautas buscaram meios de burlar o sistema; é uma prova de que as tentativas de fechar uma plataforma aberta, como a rede, raramente funcionam

247 – Na semana passada, a Folha de S. Paulo instituiu o seu “muro de cobrança poroso”. Trata-se de um sistema que permite aos internautas acessarem uma quantidade restrita de seu conteúdo – acima desse limite, só pagando. No caso da Folha, são 20 artigos por mês e a estratégia é idêntica à do The New York Times. No domingo, o editor-executivo do jornal, Sérgio D´ávila defendeu a decisão, alegando que “qualidade custa caro”.
No entanto, o muro da Folha já foi derrubado na rede. O internauta “Formiga Solitária” enviou um tutorial, passo a passo, para ler a íntegra da Folha, sem passar pelo muro de cobrança. Basta impedir que os navegadores executem comandos JavaScript. Fizemos o teste e, realmente, funciona. Abaixo, as instruções:
COMO VER O CONTEÚDO DA FOLHA DE SÃO PAULO, SEM SER INCOMODADO E/OU BLOQUEADO

passo 1: baixar o google chrome
passo 2: Depois de baixado, no google chrome colocar o endereço chrome://chrome/settings/content
passo 3: Em JavaScript selecionar " Não permitir que nenhum site execute o JavaScript"
passo 4: Fechar a janela ( x ) do lado direito superior e reiniciar o Chrome.
passo 5: Pronto, agora poderá navegar no site da Folha de São Paulo sem ser incomodado.
passo 6: Se conseguirem, eu aceito os obrigados de bom grado.
O exemplo ilustra como é difícil erguer muros e fechar uma plataforma aberta, como é o caso da internet. Quando o New York Times decidiu fechar seu conteúdo, um de seus principais colunistas, o economista Paul Krugman, passou a ensinar os leitores a ‘by-passarem” o muro. Bastava segui-lo no Twitter.
Mais recentemente, no mesmo dia em que o jornal The Daily, também passou a cobrar pela navegação, um internauta postou na rede social Tumblr todo o conteúdo da publicação.
Na primeira semana de julho, em Olinda (PE), um encontro nacional discutirá a questão do direito autoral na internet. Segundo Sérgio Amadeu, um dos participantes do evento, não faz sentido entrar numa plataforma aberta, como a internet, com uma mentalidade fechada.

domingo, 24 de junho de 2012

TÍTULO DO FILME: CABRA MARCADO PARA MORRER (Brasil, 1984) DIREÇÃO: Eduardo Coutinho



Filme documentário, Cabra Marcado para Morrer foi dirigido por Eduardo Coutinho inicialmente em fevereiro1964, sendo obrigado a interromper as filmagens devido ao golpe militar de 31 de março, quando as forças militares cercam a locação no engenho da Galiléia. Dezessete anos depois em 1984 retoma o projeto, seu lançamento foi no ano seguinte em 1985.
Conta história das Ligas Camponesas de Galiléia e de Sapé além da vida de João Pedro Teixeira que era um líder camponês da Paraíba assassinado a mando de latifundiários de Pernambuco em 1962.
Através de depoimento da viúva Elizabeth Teixeira, de seus filhos e de camponeses que presenciaram a história, coletou informações para o documentário. O tema principal do filme passa a ser a trajetória de cada um dos personagens que, por meio de lembranças e imagens do passado, evocam o drama de uma família de camponeses durante os longos anos do regime militar.

TÍTULO DO FILME: CABRA MARCADO PARA MORRER (Brasil, 1984) DIREÇÃO: Eduardo Coutinho
ELENCO: Elisabeth Teixeira e família, João Virgínio da Silva e os habitantes de Galiléia (Pernambuco). Narração de Ferreira Gullar, Tite Lemos e Eduardo Coutinho. 120 min., Globo Vídeo.
Gênero: Documentário, Ano de Lançamento: 1985, País de Origem: Brasil, Idioma do Áudio: Português do Brasil,

Para saber mais leia em:
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=242
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabra_Marcado_para_Morrer
http://nuevomundo.revues.org/1520
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000386663

terça-feira, 5 de junho de 2012

“Precisamos resistir à vigilância digital”, diz fundador do movimento pelo software livre


Richard Stallman falou sobre a luta pelo software livre no Palácio Piratini | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Samir Oliveira no SUL21

O Palácio Piratini recebeu nesta segunda-feira (4) um convidado totalmente diferente das autoridades afeitas a formalismos que costumam frequentar a sede do governo gaúcho. O norte-americano Richard Stallmann, liderança histórica do movimento em defesa do software livre, estava bem à vontade com uma calça jeans bastante surrada e uma camiseta vermelha de mangas curtas em pleno inverno.
Fundador da Free Software Foundation, Stallman falou durante mais de 1h30min sobre a luta que empreende há mais de de 30 anos, quando inventou o GNU, que mais tarde se agregaria aos componentes criados por Linus Torvalds, originando o Linux – sistema operacional desenvolvido e distribuído de forma totalmente livre e gratuita.
Stallman se mostrou extremamente preocupado com a vigilância exercida por governos e corporações através da internet. Na verdade, a crítica de Richard é direcionada para qualquer equipamento eletrônico que opere com aplicativos fornecidos pelas corporações tradicionais do ramo, como a Microsoft e a Apple.
“A sociedade digital vive sob a ameaça da vigilância. Nem Stálin tinha como vigiar o que todos faziam o tempo inteiro, mas hoje isso é possível”, disse o ativista. Ele não poupou nem as redes sociais e pediu ao público que não colocasse fotos suas no Facebook. “Não deem ao Facebook mais uma oportunidade para me vigiar”, apelou.
Stallman é fundador da Free Software Foundation | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Ele fez questão de manifestar que o receio de ter informações sobre a sua vida rastreadas por equipamentos eletrônicos fará com que nunca mais vá à Argentina. “Amanhã à noite visitarei a Argentina pela última vez. Eles estão desenvolvendo um sistema de vigilância que recolhe a impressão digital de todos os que entram no país. No momento, está operando apenas em Buenos Aires, e eu consegui achar uma maneira de entrar por outra cidade, sem precisar ser tratado como se fosse um criminoso. Algumas coisas não devem ser toleradas, é nosso dever não tolerá-las”, indignou-se.
Ele considera necessária a utilização das ferramentas tecnológicas no combate ao crime, por exemplo, mas questiona a facilidade com que as informações podem ser acessadas hoje em dia. “Um cidadão europeu resolveu exigir do Facebook todas as informações que a empresa tinha sobre ele. Foram mais de 200 páginas. Durante o império soviético, a polícia secreta não poderia reunir essa quantidade de informações sobre uma pessoa comum, sem nenhuma importância política”, comparou.
Stallman atenta para o perigo de as informações compartilhadas na rede serem utilizadas contra os próprios usuários. “Na Inglaterra, prenderam manifestantes antes que eles chegassem a um protesto. A vigilância digital é utilizada para atacar os direitos humanos e a democracia”, alertou.
“As escolas e os governos devem trabalhar somente com software livre”, defende
Richard Stallman acredita que os softwares patenteados restringem a liberdade das pessoas, já que seus códigos de produção são fechados e não permitem que sejam feitas modificações. Por isso, ele defende que as escolas e os governos utilizem somente sistemas livres.
“Ou o usuario controla o programa, ou o programa controla o usuário" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

“As escolas têm a missão de educar bons cidadãos para uma sociedade livre, forte, independente e cooperativa. Jamais deveriam ensinar seus alunos a mexer em programas pagos, pois estariam ensinando dependência. Por que as corporações distribuem sistemas operacionais de graça para as escolas? Querem que as crianças fiquem dependentes de seus produtos. É como dar agulhas com drogas para que os alunos fiquem viciados. A primeira dose é de graça. Mas depois será preciso pagar”, comparou.
Stallman considera que os programas desenvolvidos de maneira fechada e paga colocam o indivíduo a mercê dos caprichos da empresa que detém os direitos sobre o produto. “Ou o usuario controla o programa, ou o programa controla o usuário. E por trás desse programa, há uma corporação que o controla. É por isso que os aplicativos pagos são um instrumento para subjugar as pessoas e sua própria existência é um problema social a ser enfrentado”, opinou.
Ele disse que é preciso fazer a defesa do software livre “como um direito humano” e atacou as duas principais empresas que produzem sistema operacionais e aplicativos de forma paga e fechada: a Microsoft e a Apple. Stallmann observou que o Windows possui sistemas de vigilância e interfere na autonomia dos usuários ao modificar os programas sem permissão “de quem deveria, teoricamente, ser o dono do computador”.
E fez questão de dizer que “a Apple não é melhor”, apesar de as duas companhias serem rivais no mercado. “Os computadores da Apple foram fabricados para serem jaulas. A genialidade de Steve Jobs foi fabricar uma jaula tão confortável que milhões de idiotas desejam viver nela”, disparou.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A primavera brasileira


Luis Nassif na CARTA CAPITAL

O conceito da “primavera” foi adotado para descrever países ou comunidades em que a Internet entrou quebrando barreiras de silêncio.
Nos países de regime ditatorial, a “primavera” significou romper o controle estatal sobre a informação. Mas em muitos países democráticos, significou romper cortinas de silêncio impostas pela chamada velha mídia – os grandes meios de comunicação nacionais.
Nos Estados Unidos, a blogosfera ajudou a romper o sigilo em torno das guerras do Iraque e Afeganistão. Na Espanha, antes mesmo da explosão da Internet, os sistemas de SMS (torpedos) telefônicos ajudaram a desarmar a tentativa de grandes grupos midiáticos de atribuir um atentado à oposição.
Na Argentina, há um conflito latente entre o governo Cristina Kirchner e os grandes grupos midiáticos. No momento, passeatas tomam as ruas da cidade do México, contra a imprensa local.
No Brasil, em pelo menos três episódios exemplares a blogosfera foi fundamental para romper barreiras de silêncio.
O primeiro foi na Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Capitaneados pela revista Veja, a chamada grande mídia se esmerou em demonizar os agentes públicos, vitimizar o banqueiro Daniel Dantas e transformar Gilmar Mendes no maior presidente da história do STF (Supremo Tribunal Federal).
Apenas a blogosfera preocupou-se em mostrar o outro lado, o das investigações.
O episódio terminou com o Opportunity se safando junto à Justiça. Mas, no campo da opinião pública, poder judiciário, ministros que se aliaram ao banqueiro, o próprio banqueiro e Gilmar Mendes saíram amplamente derrotados. O episódio mostrou os limites da grande mídia para construir ou destruir reputações.
Várias armações foram denunciadas pela blogosfera, como o caso do falso grampo no STF, o grampo sem áudio da suposta conversa entre Demóstenes Torres e Gilmar Mendes, a lista falsa de equipamentos da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) brandida pelo então Ministro da Justiça Nelson Jobim.
O segundo episódio relevante foi a promoção do livro “A Privataria Tucana”, com indícios de enriquecimento pessoal do ex-governador José Serra. Apesar de totalmente ignorado pela velha mídia, o livro bateu todos os recordes de vendas do ano.
Agora, tem-se o caso do envolvimento da revista Veja com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Foram quase dez anos de parceria, que transformaram o bicheiro no mais poderoso contraventor da república.
Graças às reportagens de Veja, o senador Demóstenes Torres tornou-se símbolo da retidão na política. Com o poder conquistado, participou de inúmeros lobbies em favor de Cachoeira e de avalista das denúncias mais extravagantes da revista.
Veja sempre soube das ligações de Demóstenes com Cachoeira. Mas por quase dez anos enganou seus leitores, não só escondendo essa relação, como difundindo a ideia de que Demóstenes era político inatacável.
Na velha mídia, não há uma linha sobre essas manobras, nada sobre as 47 conversas gravadas entre o diretor da revista em Brasília e Cachoeira, as quase 200 dele com todos os membros da quadrilha.
Assim como no Egito, Estados Unidos, Espanha, México, França, é a Internet que está explodindo cortinas de silêncio.

domingo, 27 de maio de 2012

Blogueiros planejam grande mobilização

Do sítio Vermelho:

O segundo dia do 3º Encontro de Blogueiros começou, (26/5), com um debate empolgante em defesa da blogosfera e da liberdade de expressão.

Na mesa, Paulo Henrique Amorim, Eduardo Guimarães, Esmael Morais e Emílio Gusmão falaram do uso de ações judiciais como forma de intimidação e tentativa de censura de suas páginas. A mesma experiência foi relatada via telefone por Lúcio Flávio e por outros blogueiros de diversas partes do Brasil durante o debate que se seguiu à exposição dos palestrantes. Cansados de só reclamar, eles defenderam o início de uma grande mobilização nacional pelo cumprimento da Constituição Federal, que garante a liberdade de expressão aos brasileiros.


A ideia lançada na noite de ontem pelo jornalista e ex-ministro das Comunicações Franklin Martins foi encampada pelos participantes do encontro, que vão propor uma ampla campanha de mobilização nacional em defesa da regulamentação dos artigos da Constituição que tratam da comunicação. “Nada além da Constituição” seria o lema do movimento, que teria o seu auge no dia 5 de outubro, data em que se completa 24 anos de promulgação da Constituição de 1988, com uma grande ação em defesa da Carta Magna brasileira. “Vou pressionar o Miro (Altamiro Borges) para que a Barão de Itararé faça uma grande celebração neste dia”, afirmou Paulo Henrique Amorim, um dos principais defensores da ideia.

O autor do blog Conversa Afiada tem motivos de sobra para defender a campanha, já que responde atualmente a dezenas de processos referentes a conteúdos veiculados em sua página, 24 deles proposto apenas pelo banqueiro Daniel Dantas. Foi ele quem aconselhou os blogueiros presentes a enfrentar o uso da Justiça como forma de censura e não cumprir a decisões judiciais para a retirada de posts do ar, levando o caso para decisão no Supremo Tribunal Federal. “A Justiça não tem o poder de censura. Só tirem os posts do ar após a decisão do Supremo, porque nenhum juiz tem poder de censura no Brasil”, conclamou.

Amorim defendeu ainda que os blogueiros transcendam a batalha de judicialização da censura. “Nós fomos responsáveis por um processo político irreversível no Brasil. Antes de nós, o José Serra e o Fernando Henrique Cardoso davam três telefonemas e calavam o Brasil. Hoje isso não é mais possível”, afirmou, acrescentando que é preciso botar mais gente para participar das discussões sobre a blogosfera. “Temos que multiplicar o número de participantes dos debates por mil. O nosso debate não é de blogueiros políticos, é muito mais que isso, é o da democracia”, conclui o jornalista.

Enfrentamento

O enfrentamento também foi a solução sugerida pelo presidente do movimento dos Sem Mídia, Eduardo Guimarães em sua exposição. “Eu resolvi ir para o combate com esta gente a algum tempo. Em 2007, eu resolvi pegar um megafone e sair para protestar contra a situação e recebi o apoio de muita gente. Desde então, criamos uma ONG e fomos para o enfrentamento, entrando inclusive com ações contra o PIG”, informou, citando como exemplo do péssimo serviço da grande mídia o clima de medo gerado em torno da vacinação contra a febre amarela em 2008, em que mais pessoas morreram por vacinação indevida, do que pela doença.

Guimarães ressaltou também a mudança de posicionamento da grande mídia e de parte da sociedade em relação aos blogueiros. “Está havendo uma reação. Eles estão nos xingando e buscando formas de nos intimidar. Antes eles nos ignoravam, mas agora estão reagindo com a judicialização e a ameaças de agressão. As ações não existiam antes porque éramos ignorados. Hoje estamos incomodando e ninguém teria o trabalho de tentar nos intimidar se não estivéssemos incomodando. Por isso, precisamos avançar nesta proposta de uma associação de defesa dos blogueiros em todo o país. Precisamos avançar nisso, pois diante destas ameaças e judicialização, os que têm recursos reduzidos não poderão continuar o seu trabalho”, declarou.

O Encontro prossegue até domingo, com amplo debate sobre vários temas ligados à defesa da blogosfera, dos blogueiros e da liberdade de expressão.

sábado, 19 de maio de 2012

Discografia Antonio Nobrega










07 - Antonio Nobrega - Nove de Frevereiro 02 - 2006

Antonio Carlos Nóbrega nasceu em Recife, em 02 de maio de 1952 é um dos nossos melhores artistas sem sombra de duvidas.
Filho de médico, estudou no Colégio Marista do Recife. Aos 12 anos ingressou na Escola de Belas Artes do Recife. Foi aluno do violinista catalão Luís Soler e estudou canto lírico com Arlinda Rocha.
Com sua formação clássica, começou sua carreira na Orquestra de Câmara da Paraíba em João Pessoa, onde atuou até o final dos anos 60. Na mesma época participava da Orquestra Sinfônica do Recife, onde fazia também apresentações como solista.
Como contraponto à sua formação erudita, Antonio Nóbrega participava de um conjunto de música popular com suas irmãs.
 
"Só que a música popular que eu compunha e tocava era a das rádios e da televisão: Beatles, Jovem Guarda, a nascente MPB, Caetano Veloso, Edu Lobo". dizia ele.
 
Em 1971 Ariano Suassuna procurava um violinista para formar o Quinteto Armorial e, após ver Antônio Nóbrega tocando um concerto de Bach, lhe fez o convite que mudaria completamente sua carreira musical.
Antônio Nóbrega, que até essa ocasião tinha pouco conhecimento da cultura popular, passou a manter contato intenso com todas suas expressões como os brincantes de caboclinho, de cavalo-marinho e tantos outros, que passou a conhecer e pesquisar.
Nóbrega revelou-se um fenômeno, ao conseguir unir a arte popular com a sofisticação. É, literalmente, um homem dos sete instrumentos, capaz de cantar, dançar, tocar bateria, rabeca, violão etc. Realizou espetáculos memoráveis em teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo, com destaques para Figural (1990) e Brincante (1992). Figural é um espetáculo em que Nóbrega, sozinho no palco, muda de roupa e de máscaras para fazer uma das mais ricas demonstrações da cultura popular brasileira e mundial.
Terminou em 12 de novembro de 2006 a temporada paulistana do espetáculo 9 de Frevereiro, e, em seguida, iniciou a temporada carioca. Este espetáculo, cujo nome é uma alusão ao carnaval pernambucano e um trocadilho com frevo, explora várias formas de se tocar frevo: com uma orquestra de sopro, com um regional, com violino e percussão etc. Também há várias das formas de se dançar frevo: com apenas um dançarino (Nóbrega) em passos estilizados de dança moderna, com vários dançarinos em passos de frevo, com e sem sombrinha e até o público todo, em ciranda de frevo. Como não poderia faltar em um espetáculo enciclopédico sobre o frevo, há pelo menos dois momentos didáticos: em um a orquestra explica várias modalidades e costumes do frevo, e Antonio Nóbrega ensina uma pessoa da platéia a dançar frevo.
Como sempre, Nóbrega é praticamente desconhecido na televisão do Brasil. Apesar disso, seus espetáculos são extremamente concorridos.

domingo, 29 de abril de 2012

Musica das buenas

Jamelão – Aqui Mora O Ritmo (1962)

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Créditos: UmQueTenha














Elenco do Teatro da PUC de São Paulo – Morte e Vida Severina (1966)

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Beth Carvalho – Coração Feliz (1984)

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sábado, 28 de abril de 2012

A nova Guerra Fria, agora na internet


Por Carlos Castilho no OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

Os Estados Unidos ganharam a Guerra Fria nuclear sem disparar um tiro, mas podem estar perdendo a versão cibernética do conflito pela supremacia mundial. E acredite quem quiser: a nova superpotência virtual  é a China, apontada pelos especialistas ocidentais em segurança cibernética como a maior incógnita contemporânea no que se refere a políticas de uso da internet.
Os norte-americanos não admitem publicamente, mas o jornal inglês The Guardian afirmou na série "Batalha pela Internet" que o número de chineses especialistas em crackear [1] computadores e redes virtuais é maior do que o dos engenheiros norte-americanos dedicados ao desenvolvimento de novos programas e equipamentos para computação. Os crackers chineses são conhecidos também como cyber jedis (guerreiros cibernéticos), numa analogia com os guerreiros do bem na série Guerra nas Estrelas.
No fundamental, a nova versão da Guerra  Fria é essencialmente uma guerra por informações onde as armas convencionais passaram a um segundo plano, para desespero de toda a multimilionária indústria bélica mundial. Os jedis chineses, em sua esmagadora maioria protegidos pelo governo de Beijing, vasculham o sistema financeiro ocidental, as redes de comunicações privadas e governamentais, descobrem vulnerabilidades em bancos de dados, em complexos de energia e transporte, bem como, é óbvio, nos serviços de inteligência militar.
A grande diferença em relação à Guerra Fria nuclear é que agora a busca por informações não está voltada para o botão vermelho da retaliação atômica, mas a um complexo e ainda pouco estudado sistema de tomada de decisões no qual os indivíduos estão sendo substituídos por processos  impessoais, como as bolsas de valores.  A balança do poder mundial não depende mais exclusivamente de decisões tomadas na Casa Branca ou no Palácio do Povo, em Beijing.
A descoberta do poder chinês na internet assustou os governos ocidentais, em especial os Estados Unidos e a Inglaterra, onde os seguidores da velha Guerra Fria ainda são muito influentes. Se até a queda do Muro de Berlim (1989) , os espiões e cientistas nucleares eram os grandes alvos dos estrategistas soviéticos e norte-americanos, agora todas as atenções se voltam para jovens entre 17 e 30 anos, a faixa etária dos modernos guerreiros cibernéticos, um ramo dos nerds (jovens fanáticos por computação).
Em 2011 foi criado na Inglaterra um projeto chamado Cyber Security Challange (Concurso sobre Segurança Cibernética)  destinado a atrair nerds  para o campo da Guerra  Fria cibernética.  Logo na primeira edição, no ano passado, quatro mil jovens de ambos os sexos se inscreveram para a competição, que não chegou a ser divulgada na imprensa. No ano passado, o vencedor foi Jonathan Millican, estudante do primeiro ano de engenharia eletrônica, com 19 anos incompletos.
O julgamento final da versão 2012 Cyber Security Challange deveria ter ocorrido em março, mas teve que ser adiado porque o site do concurso foi crackeado, segundo os britânicos, por cyber jedis chineses. Os prêmios previstos no concurso variam desde bolsas de estudo até inscrição grátis em eventos ligados à segurança cibernética. Não há prêmios em dinheiro, mas segundo o jornal The Guardian, o emprego em empresas do setor é imediato.
São garotos como Jonathan que passaram a ser observados de perto por estrategistas mililtares que acabam de receber plenos poderes do presidente Barack Obama e do governo inglês para desenvolver uma estratégia antichinesa na guerra pelo controle da internet. Segundo a Casa Branca, cerca de 60% das empresas norte-americanas que tiveram seus sites invadidos por crackers acabaram pedindo falência.  
Até agora a principal estratégia do Pentágono era criar muros virtuais (firewall) contra invasões de redes de computadores, mas os especialistas já se deram conta que a defesa passiva é inútil, porque a criatividade dos cyber jedis é quase infinita. Para cada muro criado surgem imediatamente dezenas de opções sobre como derrubá-lo. Por isso a tendência é investir nas ações ofensivas, atacando os centros onde se aglutinam os guerreiros virtuais.
O problema é que a dispersão é enorme nessa área, da mesma forma que o altíssimo índice de privatização das empresas ligadas ao gerenciamento de informações na web  complica a ação dos militares, cuja cultura operacional é tradicionalmente centralizadora e vertical. Nos Estados Unidos, de 80% a 90% dos bancos de dados estão em mãos privadas, o que torna extremamente relevante o papel da Google, a megacorporação no setor de informações e a terceira maior empresa privada do mundo no ramo das comunicações.  
A estratégia da Google na Guerra Fria cibernética é fundamental para a balança do poder entre os Estados Unidos e a China, mas também transcendental para nós, que usamos gratuitamente os mecanismos de busca, correio eletrônico, YouTube e dezenas de outros aplicativos desenvolvidos pela empresa para captar nossas preferências e dados pessoais.


[1]Neologismo criado para expressar o ato de identificar códigos, senhas e arquivos protegidos em computadores ou redes de computadores. Os crackers são o oposto dos hackers, que desenvolvem novos softwares.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A latitude humana do sétimo continente de Michael Haneke

O SÉTIMO CONTINENTE - 1989

Der Siebente Kontinent, 1989
Legendado, Michael Haneke
        Créditos: Convergência Cinefila
 
Classificação: Excelente

Formato: AVI
Áudio: alemão
Duração: 104 min.
Tamanho: 700 MB
Servidor: Mediafire (4 partes) e 4Shared (torrent) 

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SINOPSE
Georg e sua esposa Anna percebem o quanto suas vidas são isoladas e monótonas quando sua filha Eva, em uma tentativa desesperada para conseguir atenção, passa a fingir estar cega. A família decide então alterar sua realidade e mudar para a Austrália.

Fonte: Cineplayers
The Internet Movie Database: IMDB


ANÁLISE

Atenção: A análise contém spoilers

A latitude humana do sétimo continente de Michael Haneke



Na seqüência final do celebre documentário Arquitetura da destruição (1992), o diretor Peter Cohen conclui em poucas palavras, toda a abrangência do dilema que circunda a sua obra documental e mais precisamente, todo o problema filosófico que envolve a ascensão do nazismo na Alemanha. Cohen se pergunta sobre a árdua tarefa de se definir o nazismo em termos tradicionalmente políticos, devido à diversidade de sua dinâmica que extrapola tais perspectivas. O nazismo segundo Cohen, se define por termos estéticos que tem como única ambição o “embelezamento violento do mundo”. Os campos de extermínio estariam muito mais ligados a uma espécie de assepsia estética e biológica da cultura humana, do que propriamente vinculados à extinção dos inimigos políticos do regime.
Seriam necessárias milhares de páginas e centenas de pensadores pós e pré segunda guerra, para que esse fenômeno calcado na beleza e na barbárie pudesse ser entendido com o mínimo de coerência. Porém, é louvável a capacidade que a poesia e a ficção, longe do rigor teórico ou documental, têm para nos atingir ao trabalhar sobre esse mesmo âmbito conceitual do autoritarismo. Sem sombras de dúvidas, no cinema contemporâneo, ninguém o fez e o faz, tão bem quanto o diretor austríaco Michael Haneke.
Um constante crítico do autoritarismo e um questionador do existencialismo humano. Assim poderia ser definido boa parte do trabalho desse que é um dos maiores gênios do cinema contemporâneo. Após receber dezenas de prêmios e ter praticamente cinco de seus filmes premiados com a Palma de Ouro em Cannes, Michael Haneke merece uma determinada atenção desde a sua primeira obra para o cinema, O Sétimo Continente de 1989.
Michael Haneke
Aclamado por filmes como Violência Gratuita (1997), Professora de Piano (2001), Caché (2003) e A Fita Branca (2009), foi depois de dirigir vários filmes para a televisão – muitos deles baseados em obras literárias – que a partir de sua primeira produção para o cinema, Haneke inaugurou sua vertente conceitual. Filme que deu vida a um traço autoral sistematizando uma crítica brilhante que parte de união precisa do formalismo de sua linguagem cinematográfica com o debate sobre os extremos do racionalismo.
Em O Sétimo Continente, Michael Haneke dá início ao que viria ser conhecido como a sua Trilogia da Era do Gelo Emocional (também chamada de Trilogia da incomunicabilidade ou Trilogia da glaciação’), seguido pelo O Vídeo de Benny (1992) e 71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso (1994). Ambas, obras de menos relevância em sua filmografia, mas que já nos permite traçar o perfil de Michael Haneke como o cineasta mais cruel e violento de nossos tempos, quiçá, da história do cinema mundial. O porquê de tamanha consideração me encarrego de esclarecer um pouco mais adiante, primeiro vamos ao filme.
O Sétimo Continente é baseado na história real de uma família de classe média austríaca constituída por Georg, um engenheiro, a sua esposa Anna, oftalmologista, e a sua filha Eva. Diante de uma vida normal cercada por uma rotina comum a qualquer ambiente doméstico, a família decide mudar-se para a Austrália em busca de recomeço. Porém, tal mudança nada mais seria que um pretexto social para a execução de um plano metódico onde o casal resolve dar cabo de suas próprias vidas, levando consigo a sua filha.

Representando os últimos anos de vida da família, que vão de 1987 a 1988, o filme é cercado da reconstrução de atividades cotidianas que acabam por remeter ao tédio e a insatisfação. Diante da ordem do tédio, pequenos e simbólicos gestos começam a se manifestar, como no caso da pequena Eva que no ambiente escolar simula ter sido arrebatada por uma cegueira espontânea, nada mais do que uma forma de expressar sua carência afetiva e requerer a atenção dos pais e colegas. Os pais, imersos na rotina também vivem certo dilemas, como o incomodo psicológico que Georg se submete, pelo simples fato substituir com mais eficiência um colega de trabalho a beira de sua aposentadoria.
O esvaziamento das relações humanas é a tônica do filme, a coexistência impessoal no quotidiano dos personagens e as relações de rotina, consumo e distanciamento transparecem na composição formal dos planos de Michael Haneke. Eis o grande dom de um diretor, transformar sentimentos e conceitos em imagens, muito se manifesta na composição e na montagem. O Sétimo Continente tem um tratamento único dentre os filmes de Haneke, tal formalismo procede em suas obras seguintes, mas nenhum alcança tamanha sistematização quanto nesse filme. Um típico exemplar do “estilo alemão” de se dirigir que faz lembrar muitas vezes, os documentários de seu contemporâneo, Harun Farocki.
Ao ler qualquer sinopse do filme, alguns poderiam acreditar que O Sétimo Continente expõe os dramas de uma família que acabam por derrocar em um suicídio coletivo. Porém, tal leitura seria um grande equivoco, pois nenhum “drama” é representado, os atos e incômodos são singelos, o filme é claro e prático o que faz da morte algo ainda mais violento. Michael Haneke é visceral, porém da forma mais sóbria possível. Os seus filmes são extremamente cruéis sem nenhum tipo de apelo estético ou glamorização da violência. Não há inocentes em suas histórias, tanto o que é narrado quanto a sua maneira de narrar põem em jogo as relações de cumplicidade.

A racionalidade e a falta de sentido da vida contemporânea são armas nas mãos de Haneke. A sua frieza narrativa, como por exemplo, as cenas onde a família planeja e executa a destruição de todos os seus bens antes de se matarem, são cenas que embriagam os expectadores com tamanha demonstração de brutalidade por parte de pessoas tão comuns. É terrível ver a violência, porém, é ainda mais terrível quando essa é cometida por um semelhante que não carregue consigo a herança de nenhuma relação maniqueísta. Eis a grandeza da crítica que esse filme representa ao desconstruir a moralidade e todos os excessos de valores racionais, ao mesmo tempo se apropriando dessa mesma maneira e ver e representar o mundo.
Freud certa vez afirmou que abolição da fronteira entre o humano e o não-humando carregava consigo o que ele determinou como “pulsão de morte”. Segundo o pensador tal característica, comum ao gesto e à arte grotesca, determina um processo de dessubjetivação que solapa o racionalismo e gera uma pulsão de morte. Michael Haneke propõe uma visão sobre o outro lado da moeda trazendo a pulsão de morte não para o contexto do grotesco ou das dualidades do ser humano, mas sim, para o contexto da clareza da orientação racional e do processo de desilusão gerado pela incapacidade de alterar a ordem do mundo. Diante daqueles que crêem que a pulsão de morte manifesta-se apenas no sombrio da existência humana, Haneke apenas traduz para o cinema o que todo processo racional acabou por manifestar como um dos seus possíveis legados, o suicídio e a descrença. Nesse seu caso, um suicídio enquanto um ato estético.
Por mais que se trate de um filme tomado por uma ordem niilista, é possível enxergamos uma profundidade que se aproxima de uma espécie de “embelezamento violento do mundo”. Algo que esteja além simplesmente dos meandros do esvaziamento racional dos sentidos existenciais. Talvez a metáfora do sétimo continente e do ritual de passagem -representado no filme pelo lava-jato fundindo assepsia e lágrimas – signifique uma representação da possibilidade de um lugar melhor. E não estou falando de uma concepção metafísica, mas sim, de quão melhor a existência humana poderia ser, se determinados traços da humanidade fossem diferentes. A descrença nesse caso, nada mais seria do que a manifestação, violenta e estética, da crença na possibilidade de um mundo mais digno.



Análise retirada do site sopadecinema