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domingo, 13 de março de 2011

Leis do fumo, produção e consumo de drogas lícitas e ilícitas

Editorial do Sul21

Os produtores de fumo de muncípios do Vale do Rio Pardo (RS), liderados pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), buscam apoio contra a proibição de aditivos no tabaco defendida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No dia 09, uma comitiva de vereadores e sindicalistas de Santa Cruz do Sul esteve na Assembléia Legislativa, entregando ao seu presidente um estudo da Fundação Getúlio Vargas sobre os impactos na economia da região, caso as restrições sejam aprovadas.
Na sexta-feira (11), foi realizada uma audiência pública na Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul para discutir as restrições propostas. Coordenada pela Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia Legislativa, a audiência deverá reunir prefeitos e vereadores dos municípios da região, bem como produtores e representantes da indústria e das entidades do setor.
Visando diminuir o poder de atração do cigarro sobre os fumantes em potencial, na sua maioria jovens, a Anvisa quer limitar a divulgação dos cigarros e combater o acréscimo de aditivos que tornem seu sabor mais palatável e mais sedutor. De acordo com sua proposta, 80% dos espaços de divulgação dos cigarros, inclusive das embalagens, serão destinados para alertar sobre seus malefícios à saúde e será proibida a adição de açúcar ao fumo.
O fumo burley, produzido na região, será diretamente atingido. Por perder açúcar durante o processo de cura, este tipo de fumo recebe doses de açúcar no processo de industrialização. Serão afetadas 20 mil famílias, bem como a economia dos municípios de Santa Cruz do Sul, Arroio do Tigre e Segredo. Segundo o presidente da Afubra, a limitação da divulgação do cigarro levará a um aumento do contrabando e da sonegação, pois o consumo não diminuirá.
Anvisa, produtores e autoridades locais têm, todos, parte da razão e seus argumentos merecem ser analisados. Como qualquer outro produto lançado e mantido no mercado, o cigarro conquista consumidores e movimenta a economia. Não fosse assim, não seria produzido. Não obstante este fato, o cigarro, por conter substâncias que produzem sensação de prazer e alento, é procurado pelos consumidores que se tornam, muitas vezes, dependentes, física e psiquicamente, de seu uso. Por este motivo, por mais nocivo que seja o seu consumo, é dificílimo o controle da produção e circulação deste produto.
Tal como ocorre hoje com as bebidas alcoólicas, há que se encontrar um meio termo que regulamente a produção, a distribuição e o consumo do tabaco e de seus derivados, sem colocá-los na ilegalidade, que provoca as falsificações, a sonegação, o contrabando e a criminalidade, da mesma forma como acontece com as drogas ilícitas. A história da regulamentação das bebidas alcoólicas pode servir como exemplo a ser seguido.
Tendo como objetivo a melhoria do produto, a saúde da população ou o controle da ordem pública, as leis que controlam a produção, a venda e o consumo das bebidas alcoólicas são antigas. A primeira lei conhecida surgiu durante o Império Romano, no ano 92 do Calendário Juliano. Visando a melhoria da alimentação e o aumento da produção de grãos, o imperador Domitiliano proibiu a plantação de novos vinhedos destinados à produção de vinhos e determinou a erradicação da metade das vinhas então existentes. As evidências históricas são de que a determinação foi ignorada pela maioria das províncias romanas.
A lei da pureza da cerveja (Reinheitsgebot) foi editada no ano de 1516, na Baviera, definindo os ingredientes de produção e o preço máximo de sua venda ao público. Em 1906, o Reinheitsgebot se estendeu por toda a Alemanha e foi incorporado à regulamentação federal para a taxação da cerveja. Hoje, as boas cervejas em todo o mundo seguem espontaneamente as normas de produção da Reinheitsgebot original.
Na tentativa de conter a “mania de gim” que assolou a Inglaterra durante a primeira metade do século XVIII, quando esta bebida chegou a custar mais barato que a cerveja e tornou-se de consumo popular, o Parlamento da Grã-Bretanha promulgou o Gin Act 1736. Por meio dele, foram taxadas enormemente a produção e a venda de gim, tornando economicamente inviável o seu comércio. As lojas ilegais prosperaram e a probabilidade de envenenamento aumentou imensamente devido ao destilo ilegal do produto. Sob violentos protestos populares, o ato foi revogado em 1743.
A mania de gim só começou a diminuir nos anos seguintes, após o Gin Act 1751, que coibiu a produção e o consumo do craze gin, estabelecendo normas para a produção e a venda desta bebida, assim como os horários de consumo público de todas as bebidas alcoólicas. Na mesma época, o aumento do preço dos grãos, devido o crescimento da população urbana, fez com que os proprietários de terra deixassem de produzir a bebida, destinando os grãos, anteriormente destinados à sua produção, para um mercado mais rendoso.
A lição que estas histórias nos apontam é a de que a proibição ou a regulamentação extremada não resolvem. Vejam-se, mais recentemente, a Lei Seca norte-americana e o combate às drogas ilegais, com o aumento da criminalidade e da violência em todo o mundo. A regulamentação ponderada tem dado resultados importantes, que precisam ser imitados. No caso da produção de fumo, em discussão neste momento, além da regulamentação, alternativas rendosas precisam ser incentivadas junto a seus produto

sábado, 8 de janeiro de 2011

Colônia: a mais majestosa catedral alemã


A opinião é praticamente unânime: a Catedral de Colônia é o prédio sacro mais famoso da Alemanha. Sua história se inicia em 1164, quando o imperador alemão Frederico Barba Roxa saqueou Milão, transferindo os supostos restos mortais dos Três Magos para a cidade renana de Colônia. Esta transformou-se em local de peregrinação, e a afluência de fiéis era tão grande que a catedral da época não a comportava.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  Catedral de Colônia à noiteEm 1248 o arcebispo Konrad von Hochstaden lançava a pedra fundamental do novo santuário. A planta era de Mestre Girard, trazido especialmente de Amiens, França. Inspirada em modelos franceses, a catedral foi projetada no estilo predominante na época, o gótico. Mas a moda passa, e em 1560 a construção foi interrompida, pois para os renascentistas o gótico estava totalmente ultrapassado, e faltava dinheiro à cidade.
A segunda fase teve que esperar quase 300 anos. Em 1794, com a ocupação da cidade por Napoleão Bonaparte, a casa de orações serviu até como depósito de armas. Mas em 1842, Frederico Guilherme 4º, rei da Prússia, ordenou a continuação das obras, sob a direção do arquiteto Ernst Friedrich Zwirner. Assim o soberano protestante angariava a simpatia da maioria católica de Colônia. A inauguração da “rainha das catedrais” realizou-se em 15 de outubro de 1880, 632 anos após o início da construção.
Tesouro de 6900 metros quadrados
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  Reis Magos, trazidos de Milão a Colônia em 1164 A catedral – ou Dom – é o principal cartão-postal de Colônia. Com 157 metros de altura, suas torres podem ser vistas de praticamente qualquer ponto da cidade, que tem um perfil plano. Somente o Portal de São Pedro, na face norte, ornamentado com estátuas dos 12 apóstolos, data do século 14; os demais arcos são do século 19. A porta principal mostra a passagem do Antigo ao Novo Testamento, de Adão e Eva até Jesus; a dos Reis Magos traz santos, reis, bispos e missionários; o portal da lateral sul é marcado pelo estilo neogótico.
Seu interior tem uma área de 6900 metros quadrados, divididos em cinco naves e sete capelas. Ele ostenta desde afrescos do século 14 a vitrais no estilo romântico. As duas naves principais, com 43 metros de altura, estão dispostas em forma de cruz. O coro, com 104 bancos de carvalho esculpido, é o maior da Alemanha. Aqui, a sensação de profundidade e altura é realçada pelas colunas lisas, formando arcos pontiagudos ao encontrar o teto. A iluminação diurna fica a cargo dos dez mil metros quadrados de janelas, parte das quais coberta com vitrais coloridos.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  Fiéis oram na catedralObservar “ao vivo” as imponentes proporções dessa catedral impressiona mesmo aqueles que a conhecem de fotografias. O ponto alto de uma visita a este monumento arquitetônico é o sarcófago dos Reis Magos, guardado numa redoma de vidro. A arca que abriga as relíquias foi concluída em 1181 pelo artesão francês Nicolas de Verdun. Trata-se de uma obra-prima em ouro, prata e esmalte.
Patrimônio ameaçado
Após sobreviver a duas guerras mundiais (e a 14 bombas na segunda), o Dom tem que ser continuamente restaurado. Os técnicos de uma oficina permanente experimentam, por exemplo, diversas maneiras de livrar sua superfície externa da pátina negra que a cobre há décadas.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  Catedral de Colônia ameaçada pela especulação imobiliáriaNão apenas por razões estéticas: a poluição atmosférica ameaça os mais de 50 tipos de pedra empregados em sua construção. Sobretudo o calcário e o arenito vêm sendo lentamente corroídos pela chuva ácida da região industrial.
No século 21, a Catedral de Colônia enfrenta uma nova ameaça: a cobiça dos especuladores imobiliários. Desde 1996 ela é Patrimônio Cultural da Humanidade reconhecido pela Unesco, sendo uma das condições não se construírem prédios altos em suas proximidades.

Revisão: Alexandre Schossler

sábado, 1 de janeiro de 2011

2011! seja bem vindo!

Um novo ano se avizinha.
Cheio de espectativas, cheio de promessas.
Teremos no País a continuação,por parte da nova Presidenta Dilma, do governo Lula que acabou saindo com 87% de aprovação popular?
Ou iremos avançar em novas conquistas que não foram possiveis de se concretizarem no governo anterior?
Urge uma atitude mais agressiva por parte do novo governo no que diz respeito a regulação da mídia, pois está na hora de dar um basta às "famiglias" que dominam os meios de comunicação e que mantém um oligopólio impressionante no domínio da (des)informação.

No nosso estado sulino Tarso Genro, em seu discurso de posse hoje de manhã abordou três eixos que certamente seu governo terá como preocupação fundamental: o primeiro será a questão da geração de emprego e renda pois o mundo do trabalho assim o exige; num segundo ponto teremos as questões da
participação popular, creio que através da revitalização do Orçamento participativo que, durante o governo de Olivio Dutra, permeou o desenvolvimento do estado, abrindo espaços de democratização onde as prioridades sejam oriundas das necessidades e anseios dos menos privilegiados e, finalmente, o combate à corrupção, tanto a nível civil quanto de governo.
Esses três eixos principais, juntamente com  as questões de segurança pública, educação e saúde deverão ser aqueles que nortearão as açoes desse governo do RS.
Esperemos!

E para nosso rigozijo nesse ano que inicia, um video e uma musica de Chico Burque nos lembrando o quanto tivemos e teremos que lutar para afastar de vez tudo aquilo que aprisiona, mata e tortura.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Para relaxar......e pensar....

O hipocondríaco é, antes de tudo, um forte

Tudo é uma questão de ponto de vista.
A frase é extremamente idiota, eu sei. Mas dessas pequenas idiotices do dia-a-dia a gente consegue extrair verdadeiras lições – ou são os sábios que zelam por nós condensando em pílulas de conforto instantâneo grandes ensinamentos?
Vamos exemplificar o ditado. Meu ortopedista. Grande sujeito, pai de um amigo meu. Um dia, deu uma opinião reversa sobre o senso comum que rodeia o meu prontuário médico e disse algo do tipo: “você não é uma pessoa fraca, pelo contrário, é muito forte – caso contrário, já teria empacotado”.
Vamos aos fatos: devido ao jornalismo, peguei muita pereba nesta vida. De malária, foram duas, falciparum, uma em Timor Leste e outra em Angola, durante coberturas. Não digo isso com orgulho, pelo contrário. Jornalistas da antiga contam que mediam-se carreiras pelo número de doenças tropicais contraídas. Mas o tempo passou e a régua foi para a quantidade de textos censurados, depois para processos na Justiça e o número de discursos inflamados de congressistas indignados. Ou seja, pegar malária durante o exercício da profissão virou coisa demodê, quiçá despreparada para usar um repelente caro do exército norte-americano.
Dengue foi uma, no interior da Paraíba, doída – sem manchas, pelo menos. Teve uma mononucleose do Punjab paquistanês. Dizem que é chamada de “doença do beijo”, pela forma de transmissão – a explicação que eu trouxe para casa (e que colou, graças a Deus) foi de que em muitos vilarejos, durante as refeições, o uso do copo era coletivo (isso mesmo, “do”, artigo, definido, masculino, singular). Com o treco circulando pela boca e pela mão de todos, não deu outra.
Outra vez, alguma porcaria se alojou perto do meu coração, gerando uma pericardite – o que me deixou uma semana internado, comendo boa comida. Nessa, achei que ia empacotar, tamanha a dor no peito logo no começo. Foi um período bom para terminar o mestrado. Tranquilo, sem muita gente ligando, cobrando textos ou dívidas.
Viroses e afins não entraram na lista, mesmo que ferozes, porque aí teríamos uma capivara e não um post. Aliás, a virose é a “pescada” da medicina. É aquele peixe genérico, que muitas vezes nem o médico sabe o que é mas, pelos sintomas, recebe o tratamento básico – água, alimentação leve e repouso.
(Ter na conta também o fato de ser hipertenso, conviver com uma cardiopartia, dois discos mal colocados na coluna e uma artrose torna a vida mais divertida – para dizer o mínimo. E como jornalismo é uma profissão relaxante e o Brasil nem tem problemas na área de direitos humanos, tá tudo na santa paz.)
E retornando ao pensamento inicial: pegar todas essas perebas em um contexto como esse e estar de pé a ponto de ser um (péssimo) goleiro e com o fígado pronto para aguentar os benefícios de um chope no final do expediente não é para qualquer um, meu irmão.
Por que o texto? Uai, nada melhor do uma escrita hipocondríaca para passar o tempo na espera do hospital.
Tudo (realmente) é uma questão de ponto de vista.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Por que sou a favor de benefícios assistenciais

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Gente é pra ser feliz, (…) não pra morrer de fome
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Meire no blog Salada Medica

Este post dá apenas um pontapé para que vocês discutam este tema.
Praticamente não dei plantão em serviço público. Em pouco tempo de formada ingressei na medicina privada e por anos mantive clientela de médio a alto nível sócio-econômico, já que só trabalhava em consultório particular.
Minha vida acadêmica esteve totalmente fora da realidade do nosso país até 2006, quando, pensando em fazer mais do que só consultório particular, trabalhei como médica da Rede Estadual de Assistência à Pessoa com Deficiência e tomei posse no cargo que ora exerço no Governo Federal.
Até entendo por que algumas das pessoas do meu círculo de contatos pensam como eu pensava antes, que políticas sociais são medida populista, que não é dando que se ensina, que não é dando que se leva um povo adiante, que esforço pessoal é suficiente, que iniciativa privada é o que há e por ai vai, porque já pensei assim também e não posso afirmar que a minha posição atual seja a correta.
Quem mudou meu pensamento da água para o vinho não foi nenhum bom argumentador, nenhum sociólogo, nenhuma assistente social. Foi uma baixinha de dois anos de idade, moreninha dos cabelos negros, sorridente, carinhosa, de família muito pobre  e domiciliada na periferia de Natal. Como muitos outros pacientes continuam sendo, ela foi uma das minhas grandes professoras.
A menininha nasceu com surdo-mudez e foi atendida por mim no Centro de Reabilitação Infantil. Indiquei avaliação otorrinolaringológica e ela foi escolhida para receber implante coclear. Vibramos de felicidade porque a pequena iria começar a ouvir, faríamos tratamento com fonoaudióloga  e e ela poderia ter uma vida mais próxima a das crianças de sua idade.
Mas o pai não permitiu a cirurgia, um procedimento caro, mas que seria custeado pelo SUS. Não houve acordo, tentamos de tudo e ele foi inclusive bem agressivo com a equipe. Precisei pedir ajuda ao Conselho Tutelar.
No final das contas o pai, pessoa não alfabetizada, sem formação técnica alguma, sem emprego e sobrevivendo de ‘vínculos’ precários de trabalho braçal, chorou bastante e admitiu o motivo: a menina recebia o amparo social ao deficiente. Se a menininha fosse curada a família  correria o risco de não ter o que comer, porque uma vez deixando de ser ‘deficiente‘, a menina perderia seu benefício (um salário mínimo por mês).
Entre outras atribuições, avalio praticamente todos os dias pessoas com deficiência para subsidiar a concessão deste mesmo benefício. E  não raro me emociono com mães e pais buscando, a todo custo, transformar perante a classe médica o seu filho ou filha em uma criança com invalidez. Os pais circulam em médicos, fazem exames, queixam-se de que crianças sorridentes e sapecas são psicopatas ou que crianças já alfabetizadas tem atraso mental grave e o que é pior, orientam que a criança fique calada e diga que nada sabe durante a entrevista pericial.
Excluindo os casos claros de tentativa de fraudar o sistema,  a manobra resulta do desespero, da falta de perspectiva. É a fome. Uma das formas da família receber a garantia de uma renda mensal é ser acometida por alguma fatalidade. Um pai que fique paraplégico, uma mãe que tenha um derrame e perca a memória, um filho com deficiência grave.
Um povo com fome é de fato um povo inválido, um povo paralisado, desconectado, sem capacidade de ação, é um povo que estende a mão, espera e agradece o pouco que vier, pede esmola para não roubar.
Filho de faminto tem desnutrição intra-útero e corre maior  risco de desenvolver retardo do desenvolvimento motor e cognitvo, além de epilepsia e possivelmente danos na arquitetura cerebral. Enquanto não houver um pequeno enriquecimento do povo muito pobre no nosso país iremos apenas perpetuar essa ciclo bizarro e cruel.
Quando uma família recebe um benefício assistencial que seja de fato suficiente para garantir uma cota calórico-proteica mínima ocorre uma sequência de benefícios. A mãe, que antes precisava se prostituir ou saia para trabalhar como ‘autônoma’ recebendo muito menos do que merece e muitas vezes deixando seus filhos trancados dentro de casa ou largados na rua, pode ser dar ao ‘luxo’ de dar mais atenção às crianças e mantê-las menos próximas do underground.
Sou a favor de um benefício de prestação continuada para toda e qualquer família em alta vulnerabilidade, não só para idosos ou pessoas com deficiência incapacitante, desde que associado a um mecanismo de contrapartida.
A contrapartida seria manter a criança na escola, o adolescente em um curso técnico, o adulto em programas de alfabetização, além de um bom programa de controle de natalidade. Tudo isto o Brasil já tem, mas muitas vezes as pessoas não buscam.
Fora a questão humanista em si, vem a questão de saúde pública.
A má alimentação afeta não só o crescimento e desenvolvimento da pessoa, afeta sua imunidade, facilita infecções. Famílias pobres vivem confinadas em ambientes minúsculos, muitas vezes em casas com um cômodo para várias pessoas. O confinamento aliado à desnutrição amplifica a proliferação de vírus, fungos e bactérias, tanto que o Brasil não consegue se livrar da Febre Reumática, da Tuberculose ou da Hanseníase.
Saindo da questão de saúde pública, tem a questão econômica.
O adoecimento destas pessoas gera ônus para os cofres públicos. É muito mais barato manter o povo alimentado, acordá-lo para produzir e impulsionar o desenvolvimento do país do que custear tratamento de condições ligadas a pobreza e subnutrição, exames complementares, honorários médicos, medicamentos…
Se seguirmos em frente no raciocínio, chegamos ainda em outro ponto. A distribuição de dinheiro que está retido nas contas do Governo ou em mãos de graúdos aumenta o poder de compra das pessoas. Isto gera injeção na economia, nas vendas, nos negócios, na capacidade de manutenção das empresas e geração de mais empregos. Parte destes benefícios volta para o próprio governo na forma de impostos sobre produtos e parte fica justamente nas mãos de uma parcela dos contribuintes, sejam eles comerciantes ou empresários.
E fora as questões humanistas, de saúde pública e econômica pinceladas aqui,  há a questão de segurança.
Em ‘O Ensaio Sobre a Cegueira‘ (Saramago), pessoas pacatas e de vida tranquila que se vêem engaioladas e sem suprimentos alimentares, em pouco tempo passam a apresentar comportamento criminoso, do furto ao estupro. Em todo tempo e lugar, onde há miséria e fome há saques e crimes de outras naturezas. Já sabemos que embora exista multicausalidade, inclusive uma predisposição genética ao comportamento sociopata, a variável isolada mais importante na prevalência da criminalidade de um país é a baixa condição socio-econômica.
Então se nada parece um bom argumento para justificar a distribuição de renda para pessoas desfavorecidas, pensar num país com menor violência, com menos crianças nas ruas servindo de ‘aviãozinho‘ para traficantes, com menos pedintes nas ruas não é tentador?
Mas ai vem o argumento do contra que é de fato uma falácia de generalização. ‘Ah, quem tem uma renda mínima não vai mais querer trabalhar, vai se acomodar’. Quem faz isto chama todo o povo brasileiro de oportunista e preguiçoso. Quem convive de perto com gente muito carente pode afirmar que boa parte do povo é formada por pessoas com vontade de mudar de vida, por pessoas que só precisam que uma mão seja estendida, por pessoas que querem o melhor para seus filhos, que querem que seus filhos um dia alcancem algo que nunca alcançaram.
Muitos de nós certamente viemos de famílias pobres e somos resultados dos esforços heróicos de nossos avós e pais.Quem não quiser crescer, que assim fique, viva de uma bolsa qualquer, mas não é por estes que o todo deve ser sacrificado. Façamos a devida medida de justiça.
Em suma e pensando com meus batons, chego a conclusão que a implantação da renda mínima, que seria um benefício idêntico ao concedido a idosos carentes e pessoas com deficiência + invalidez para o trabalho, é estratégia altamente razoável dos pontos de vista de cidadania, saúde pública, economia e segurança e que pode, em médio prazo, mudar o perfil do povo brasileiro.
Quanto menos pessoas com fome e mais pessoas com poder de compra o Brasil ‘produzir’, melhor para todos. Quem paga a conta são os brasileiros que como eu, tiveram mais oportunidades, puderam estudar e ter colocação no mercado, uma vida digna e independente de políticas sociais.  E pagamos satisfeitos se o fruto no nosso trabalho é transformado em algo bom para o país como um todo.
É para papo de mais de metro, porque tem ainda a questão penal. Num pais menos pobre o Estado pode ter garantido o seu direito de punir, pois não há atenuantes para quem rouba de barriga cheia.
Fora tudo isto, esta concessão evitaria a triste necessidade da família carente da atualidade entrar em verdadeiro processo mórbido em busca de um membro da família que seja inválido para que sua renda seja concedida. Vocês não tem idéia de como é triste atender pessoas com este comportamento. O brasileiro não merece essa humilhação e um país com uma carga tributária violenta como o nosso tem o dever de fazer isto.
Abraços,

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O carrinho de bebê adaptado como trailer a reboque de bicicleta

Carrinho trailer reboque de crianças para bibicleta
Ele já existe mas ainda não é tão comum por estas bandas. O fato é que o simpático carrinho de bebê adaptado como reboque de bicicletas faz um baita sucesso em diversas partes do mundo. Não demora muito e o pequeno trailer infantil começa a circular com mais força aqui no Brasil.
O veículo é inspirado nos tradicionais ecotáxis ou ciclo-riquixásrickshaws, em inglês –, que são aqueles triciclos ou quadriciclos já incorporados à paisagem urbana de vários países da Indonésia e da Ásia, como meio de transporte de passageiros, em meio ao trânsito caótico.

Trailer dobrável para bibicletas
Na Europa, ao contrário, as mães transportam os filhos nos mini-trailers engatados às bicicletas em curtos trajetos nas cidades de pequeno porte ou em passeios com a família no campo ou regiões turísticas durante o verão.
Como o carrinho é inteiramente dobrável, acomoda-se bem no porta-malas do carro. O modelo que aparece nas fotos foi desenvolvido pela empresa italiana Bellelli, especializada na fabricação de cadeirinhas de segurança para transporte de crianças em automóveis.
Reboque de crianças para bicicleta
Produzido em plástico, nylon e alumínio, o reboque foi projetado para acomodar uma ou duas crianças fixadas ao assento com cintos de segurança de cinco pontas. A estrutura ainda suporta colisões e capotagens, além de proteger os passageiros contra o vento e a chuva.
Não resta dúvida de que se trata de uma ideia e tanto para os momentos de lazer com a família. Com a vantagem de proporcionar simultaneamente atividade física para os pais e diversão para os filhos… em contato saudável com a natureza!
Trailer reboque para bicicleta
Carrinho de bebê puxado por bicicleta
Carrinho infantil rebocado por bicicleta
Trailer reboque para bikes
Mais fotos sobre a montagem desse ecotrailer, no site coreano Shinsegae Mall.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Tragédia em Pernambuco....


SOS Palmares: ajuda para vítimas de tsunami fluvial
by Marco Aurélio Weissheimer.


O professor Beto Gesteira, técnico de hóquei sobre patins do Sport Recife e que, entre outras coisas, usa esse esporte para mudar a vida de crianças carentes na comunidade de Caranguejo-Tabaiares, em Recife, envia mensagem descrevendo a tragédia que se abateu sobre a cidade de Palmares, na Zona da Mata Sul, em Pernambuco. Palmares é uma das cidades arrasadas por um verdadeiro tsunami fluvial causado pelas fortes chuvas na região. Beto Gesteira sobrevoou a cidade de helicóptero registrou a tragédia com várias fotografias e está pedindo ajuda. Ele escreve:
Estas fotos foram tiradas por mim. Fiz um vôo de helicóptero e andei pela cidade. Fiquei muito triste com o que vi, não foi só uma enchente onde a água chega e inunda as casas e ruas, foi uma “tsunami fluvial”, onde uma enxurrada de mais de 15 metros de altura de água destruiu casas, quarteirões, bairros. A situação aqui é muito difícil de descrever, faltam remédios, produtos de higiene pessoal, colchões, água mineral. Quanto à infraestrutura da cidade…
Sem energia elétrica, postes e mais postes arrancados e partidos pela força da água, canos de esgotos e água estourados, um metro de lama pelas ruas e dentro das residências, muitos animais mortos, alimentos estragados na lama, cheiro muito ruim por todos os lados, centenas de estabelecimentos comerciais completamente destruídos, hospitais com 5 metros de água.
O povo está necessitando de tudo, são milhares de pessoas que tiveram não só suas casas como também seus estabelecimentos comerciais destruídos. Palmares vive da cana de açúcar e da entressafra do comércio. O povo está perambulando pelas ruas sem esperança e muita tristeza. Como estou aqui sei das maiores necessidades, peço que quem puder ajude de alguma maneira, mobilize seus amigos, parentes, vizinhos, o pessoal do trabalho e do condomínio. As maiores necessidades são:
-Produtos de higiene pessoal
-Produtos de limpeza
-Água mineral
-Colchões
-Mobília em geral
Quem quiser pode também contribuir com a conta:
S.O.S. PALMARES
AG – 0916
CC – 258-4
Operação – 06
Caixa Econômica Federal
Amigos, estou muito triste e conto com ajuda de todos.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Europa gelada.....

Natal branco, Natal em branco: os desastres na Europa


Natal branco, Natal em branco: os desastres na Europa
Estrada em Hazel Grove, próximo a Manchester em Londres, sob a neve (Foto: Tom O'Donoghue/Flickr)

Enquanto a Europa congela, a falha dos modelos meteorológicos mostra mais uma vez os danos das mudanças climáticas.
Ninguém esperava o frio tenebroso que se abateu sobre a Europa nos últimos dias. Todo mundo torcia por um Natal branco, isto é, com neve. Mas não se esperava tanta neve, nem tanto frio. Muita gente vai passar o Natal em branco, isto é, sem as viagens programadas, os encontros desejados. Até Papai Noel vai ter dificuldades para voar com suas renas.
Em Varsóvia, capital da Polônia, país em que as benesses do capitalismo triunfante depois da Guerra Fria produziram bastante pobreza e muita miséria, só na noite de sábado para domingo 15 pessoas morreram de frio, na maioria do grupo dos sem-teto. Em todo o país já foram assinaladas 47 mortes por congelamento, segundo a rede de TV TVN24.
Trens estão parados, aeroportos cancelam vôos às centenas, as estradas estão perigosíssimas. Na Bulgária um apagão deixou 220 cidades sem energia elétrica durante horas a fio, sob as temperaturas baixíssimas da estação. Na Alemanha, além do aeroporto de Frankfurt ter cancelado mais de 100 vôos, duas pessoas morreram de frio. Todos os grandes aeroportos europeus foram afetados, suspendendo vôos e operações pelo menos durante algumas horas, senão por um dia inteiro. Trens quebraram no interior do Euro-túnel sob o canal da Mancha, deixando 2 mil pessoas – muitas delas crianças – no escuro, sem água e sem comida durante 16 horas, até que pudessem ser retiradas.
Enquanto isso, na costa leste dos Estados Unidos em um dia nevou, em alguns lugares, o que neva durante o mês inteiro, como em Washington D.C., a capital.
Atualmente, a maioria dos boletins meteorológicos segue modelos computadorizados (inclusive no Brasil). Com base em alguns pontos-chave, um mapa de temperaturas e outros dados de previsão do tempo é elaborado, como se fosse um mapa-modelo que recobre as regiões que lhe servem de referentes. Tudo isso é feito com base na coleta de dados naquele momento e com base em séries históricas.
Pois bem, os modelos elaborados estão com dificuldades para se encaixarem nas regiões de referência. Um indício cotidiano disso, e aberto ao leigo no assunto, é a velocidade com que as “previsões para os próximos dias” têm mudado. Na segunda-feira prevê-se que vai nevar na quarta; já na terça a previsão muda para quinta, e aí começa a nevar na terça mesma, e não neva nem na quarta nem na quinta, enquanto na sexta-feira a temperatura despenca para níveis imprevistos e por aí vai. É verdade que houvera advertências de que esse período que antecedeu a abertura oficial do inverno no hemisfério norte (21 de dezembro) seria rigoroso. Mas ninguém esperava tanto rigor.
Diante disso até as desculpas esfarrapadas ganham algum crédito. Por exemplo, porta-vozes oficiais da Euro-Star, a companhia responsável pela linha férrea operada no Euro-túnel, entre a Grã-Bretanha e o continente, disseram que a inesperada quebra dos trens no interior da passagem se devia às quantidades inesperadas de neve, à sua “fofura”, que seria maior do que a habitual, e ao choque térmico com o ar mais quente e mais úmido dentro dela. No momento, isso soou como uma desculpa improvisada. Mas vá se saber. Na verdade ninguém sabe muito bem o que está acontecendo com o clima na Europa e no mundo, só se sabe que as condições estão piorando rapidamente, enquanto os governantes dos países ricos se enrolavam nas próprias pernas na Conferência de Copenhague. Bons tempos em que se dizia que quem regulava o tempo era São Pedro.
Só falta uma coisa, de fato, para completar o cenário: algum comentarista, no Brasil, atribuir a culpa por esse caos na Europa à política externa do governo Lula e ao atraso nas obras do PAC. Sem falar na redução dos impostos para os aparelhos da linha branca, que faz certamente o povo  pobre do Brasil comprar mais eletrodomésticos do que as linhas de transmissão de energia elétrica na Bulgária podem suportar.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Depoimento de Carlinhos Medeiros em seu blog....



Não gosto deste dia

E tenho motivos de sobra para não gostar. Enquanto a minoria ganha presentes, viagens e outros mimos de príncipes e princesas, a maioria vive nas ruas, drogada, abandonada e prostituída. Nem sequer sabe que hoje é o seu dia, nem ao menos sabe o que é ser criança, apesar das brincadeiras de pique - esconde permanecerem em seu imaginário [...]


Filhas e filhos do acaso, elas são tratadas como animais, espancadas e violentadas dentro de seus próprios lares, por pessoas que deveriam oferecer carinho e proteção.

E ganham às ruas. Vão viver debaixo dos viadutos, dentro dos esgotos como ratos assustados, fazendo pequenos furtos, trocando o corpo frágil e sem esperança por um punhado de drogas, a fim de esquecer o abandono e as dores.

Feliz dia das crianças? A TV Globo deverá passar programas especiais dedicados à minoria, patrocinados por grandes empresas de brinquedos, enquanto as que vivem nas ruas, se por ventura olharem à TV de uma vitrine antes de serem expulsas por um segurança, sonharão com um futuro que não virá. São nossos gatos e gatas borralheiras a espera de um príncipe de faz-de-conta.

Uma criança feliz precisa de uma família sólida, bem estruturada. E engana-se quem achar que apenas as provisões materiais são necessárias a essa felicidade.

E necessário manter os laços familiares fortalecidos e, no aconchego do lar, criar motivos para que o interesse pelo mundo possa ser retardado o máximo possível. É necessário externar carinho, respeito e afeto. Gritar com uma criança é expô-la ao vexame, é violentá-la.

Trabalhei durante oito anos numa multinacional que me tomava quase todo o tempo, vivia praticamente dentro de um avião, mas nunca deixei de acompanhar meus filhos, fazer programas de finais de semana com toda a família, tendo o cuidado de não cair na rotina, oferecendo-lhes um mundo melhor que o falso e cheio de armadilhas que se apresenta aí. Até onde eu pude. Feliz dia das crianças.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Da importância da memória ...







Escrito por Maria Clara Lucchetti Bingemer

O grande filósofo Martin Heidegger afirma que "a memória é o recolhimento do pensar fiel". Com isso, quer dizer que ela protege e guarda consigo tudo aquilo que é importante, que faz sentido, que se antepõe e antecede mesmo aos fatos como seu sentido. Tudo aquilo, enfim, que se propõe ao pensamento como conteúdo digno de ser refletido e recordado. Por isso, a memória é a condição de possibilidade da cultura, da civilização, de tudo que o ser humano constrói sobre a terra.

Em termos teológicos, a memória é o que permite não perder a Palavra revelada e acolhida na fé; a identidade do Deus pessoal que se revela, diz seu nome e mostra seu rosto e deseja ser reconhecido. Pela memória se narra e se conta, sempre de novo, a história dessa experiência, desse diálogo, dessa identidade. E tudo isso para fazer memória, para poder testemunhar para as novas gerações, para não deixar esquecer aquilo que fez e deve continuar fazendo a humanidade: viver, sofrer, rir, pensar, falar e conhecer.

Existe a memória da alegria, do amor vivido e realizado, dos momentos vividos juntos. Memória dos rostos sorridentes, das palavras trocadas, dos gestos de carinho sentidos sobre a pele que, tocada, se sente vibrar de vida e gozo. É recordação que ajuda a viver e concede doçura ao mais duro cotidiano.

Mas existe também a memória da dor, que arrasta para a visibilidade e a frente do proscênio a dor das vítimas diante dos poderes alimentados pelo princípio de domínio. A memória da dor não fala em termos abstratos, do "ser humano" ou da "humanidade".

Fala do outro concreto: do desespero das viúvas que se lançam impotentes sobre o caixão do companheiro; do choro das crianças órfãs que gritam sem entender por que seu pai jaz no chão perfurado por balas e granadas; dos rostos emagrecidos e famintos dos que vivem em continentes que as grandes potências riscaram dos mapas. Fala do holocausto nazista e dos expurgos stalinistas e de seus milhões de vítimas que têm nome, endereço, um número tatuado na pele do braço e uma estrela amarela costurada na roupa.

Quando há olvido dessa dor e desse sofrimento, começa um processo lento de desumanização de um povo ou de uma cultura. Por isso filósofos como Adorno, teólogos como Johann Baptist Metz, enfatizam a importância da dimensão subversiva da memória. É subversiva porque não deixa esquecer e traz as vítimas para o centro da atenção. É subversiva porque não deixa desaparecer na noite dos tempos o mal praticado, a justiça desprezada, e põe em evidência o processo de extinção da tradição que começa a crescer, ameaçando sufocar a dignidade humana e empurrar em direção à desumanidade.

A memória reclama uma razão anamnética, um modo de pensar que não reduza o sujeito a uma abstração conceitual sem referência à história e aos processos sociais. E assim reivindica o direito de ser uma mediação crítica para a prática humana. Seu instrumento é por excelência a narrativa. A narrativa é a morada da memória. Assim nasceu o cristianismo, quando os discípulos do nazareno narravam uma e outra vez a história daquele que passara pela vida fazendo o bem, que fora morto violenta e injustamente, mas que Deus ressuscitara e agora se encontrava vivo em meio a eles.

Assim acontece igualmente com as vítimas da história que, nomeadas e narradas pela memória, permanecem vivas e se mantém acesa a chama de suas vidas que clamam por justiça. Não se trata de um mero amor às tradições, mas o desejo de criar e formar uma comunidade de solidariedade com as vítimas da história, que interrompe as tentativas de calar e amordaçar a verdade que os sistemas totalitários de todos os tipos carregam em seu bojo. A memória resgata a narrativa ardente do passado e o atualiza para transformar o presente. Rememora acontecimentos com urgência de futuro, criando uma solidariedade que olha longe e vê além das aparências.

Um país sem memória vai pouco a pouco vendo desaparecer e esfumar-se sua identidade verdadeira. Abre espaço para retornos indesejados e varre para as sombras de um equivocado esquecimento presenças luminosas cujas vidas deveriam ser narradas uma e mais vezes, a fim de iluminar o caminho das novas gerações. Esperemos que o Brasil não entre nessa lista. Seria desastroso e indigno da grande nação que é.

Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, é professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio.

domingo, 2 de agosto de 2009

Concordo plenamente...












Onde você estiver, procure estar lá de verdade

por Nelson Sganzerla - nelsonsganzerla@terra.com.br

Sei que acharão estranho estar em determinado lugar e ao mesmo tempo não estar, ou, muitas vezes, estar e não percebermos que não estamos. Louco isso, não?

Quantas vezes vamos a determinados lugares que preferíamos não ir, muitas vezes vamos contrariados, pela insistência dos amigos; lugares que não sabemos bem o porquê, mas nos sentimos mal desde o momento em que entramos e nos deparamos com pessoas que nada têm a ver com o nosso agir, nosso falar e nosso pensar.

Tenho certeza que você já se sentiu assim. Em uma reunião com velhos amigos, em uma festa acompanhando alguém, uma viagem que insistiram para que fosse, um aniversário de quem você nunca viu mais gordo, mas você foi para agradar terceiros, enfim... lugares e momentos que além de não nos dizerem nada, nada agregam à nossa vida. E, no dia seguinte, nos perguntamos - O que é que eu estava fazendo lá? Mas eu lhe digo: na verdade, você não estava lá.

Pois é... muitas vezes o nosso espírito, o nosso eu interior, fala conosco através desses sentimentos de estranheza de repúdio, de incômodo, mas nunca damos ouvidos; ao contrário, procuramos insistir em momentos que a nada nos levam, a não ser a um sentimento de vazio interior.

Para estarmos felizes, onde quer que estejamos, precisamos antes de tudo estar por completo, em mente, corpo e alma e,
formaturadefinitivamente, estarmos lá de verdade.
Dou aqui como exemplo: o dia da nossa , o dia em que nasceu o filho, o dia do primeiro beijo, momentos inesquecíveis que não irão se desmanchar com o passar do tempo, porque estávamos lá de verdade.

Fazemos tantas coisas de uma maneira mecânica, até para seguir determinadas convenções sociais, que não nos damos conta do tempo que desperdiçamos com bobagens e com tantas outras inutilidades em nossas vidas.

Eu tomei há muito tempo uma decisão em minha vida: Não vou mais a lugares onde não me sinta bem, onde não estarei lá de verdade, não mantenho nenhum tipo de amizade com quem nada me diz, e fujo dos espertalhões que em tudo querem levar vantagem.

Noto que hoje o mote das pessoas é se vangloriar de atitudes que ao meu modo de pensar não existe valor algum. Atitudes machistas, fúteis, mal educadas e desrespeitosas para com as pessoas, e vantajosas só para um lado.

Não freqüento mais a casa de pessoas invejosas e nem faço questão nenhuma que freqüentem a minha; pessoas que são interesseiras, que procuram sempre saber como você vai e não como você está.
Pessoas que querem saber com que carro você está andando, como vai a sua empresa; se você está ganhando dinheiro ou não; pessoas que não conseguem ser feliz com sua própria vida. Notei que se assim eu o fizer, não serei eu e, definitivamente, não estarei lá.

Portanto, eu sei que existem coisas que muitas vezes não dá para mudar, principalmente no mundo corporativo, onde as amizades são na maioria por interesse, mas posso mudar o meu interior e não ser mais um, nesse inconsciente coletivo, onde falsos valores misturam-se com verdadeiros e a palavra ética há muito ficou esquecida. Definitivamente, sei e escolho onde quero estar de verdade.

Pense nisso.




segunda-feira, 27 de abril de 2009

Gilmar Mendes de plantão.....

Dantas é indiciado pela PF por mais 5 supostos crimes

O sócio-fundador do Banco Opportunity, Daniel Dantas, foi indiciado hoje pela Polícia Federal (PF) pelos supostos crimes de gestão fraudulenta, formação de quadrilha, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e empréstimo vedado. Ao longo das investigações, a PF encontrou indícios de crimes antecedentes, supostamente praticados pelo Grupo Opportunity: contra a administração pública, delitos praticados por organização criminosa e contra o sistema financeiro nacional. Esses três últimos sustentam o indiciamento por lavagem de dinheiro.

Dantas, preso por duas vezes em 2008, durante as investigações da Operação Satiagraha, prestou depoimento hoje na sede da PF em São Paulo, entre 7h55 e 8h25. Ele deixou o local acompanhado do advogado, Andrei Zenkner Schmidt. "Houve indiciamento formal dele (Dantas) e nós nos colocamos à disposição. O indiciamento já estava noticiado, e não há exercício de defesa com indiciamento já pronto", disse Schmidt.

Segundo a defesa, Dantas manteve-se em silêncio diante das perguntas do delegado que comanda atualmente a operação, Ricardo Saadi, e do procurador do Ministério Público Federal (MPF) Rodrigo de Grandis. "O STF (Supremo Tribunal Federal) nos assegurou acesso irrestrito aos autos. Enquanto essa documentação não for juntada, eu determinei a ele que não falasse", afirmou, provavelmente referindo-se aos documentos apreendidos pela PF pouco antes da Páscoa, que, supostamente, contêm indícios de contratos ilegais e transferências e remessas ao exterior não declaradas.

"É direito da defesa ter conhecimento integral da investigação. Ele se prontificou a falar, desde que sejam juntadas todas as provas", acrescentou. Também devem depor à PF entre hoje e amanhã o presidente do Banco Opportunity, Dório Ferman, o vice-presidente Carlos Rodenburg, a irmã de Dantas, Verônica Dantas, e os executivos Daniele Ninio, Arthur Joaquim de Carvalho, Eduardo Penido Monteiro, Norberto Aguiar, Maria Amália Delfim de Melo Coutrim e Rodrigo Bering de Andrade.

sábado, 25 de abril de 2009

Sempre amoroso....

Carta a uma velha





Frei Betto
- Correio da Cidadania

Para Nina Garcia Alencar.

Querida amiga Nina,

Por que a trato com familiaridade? Ora, agora você me conhece intimamente: meu nome é Velhice. É bem verdade que muitas pessoas de avançada idade se sentem constrangidas, até humilhadas, ao se aproximarem de mim. Como se a Velhice fosse um mal a ser evitado.

Não se conformam com a progressiva e irrefreável degradação do organismo: a audição reduzida, as restrições alimentares, a mobilidade contida, o uso de bengala etc. Por isso, até se recusam a pronunciar meu nome. Esquecem que, à decadência do corpo deveria corresponder à ascendência do espírito. Mas a vida ensina que não se colhe o que não se plantou.

Já não convém chamar uma pessoa de velha. Inventam-se eufemismos, como se a cobertura do bolo modificasse o sabor do recheio: terceira idade, melhor idade, dign/idade... Ora, se devemos encarar a realidade, sugiro ‘eterna idade’, já que os velhos estão mais próximos dela.

Aterrorizadas pela certeza de que um dia serão velhas, e iludidas pela busca ilusória de imortalidade, muitas pessoas, respaldadas pelos simulacros científicos que prometem juventude perene, se esforçam ao máximo para evitar o encontro comigo. Ingerem drágeas que prometem reduzir o desgaste das células, fazem cirurgias plásticas, passam horas a malhar o corpo. E ainda se dão ao ridículo de se fantasiarem de jovens, de adotar vocabulário de jovens, de freqüentar festas de jovens. Como é triste ver uma velha de 70 anos bancando a mocinha de 20! Peruca na cabeça vai bem, mas na alma...

Nina, sei o quanto a sua vida valeu a pena: a família, a fé, as flores de seu acalanto, a sabedoria de permanecer numa cidade do interior e não acompanhar os filhos no rumo das metrópoles.

O que a faz longeva? O que lhe permite celebrar saudáveis 95 anos sem ter recorrido a nenhum desses artifícios? A paz de espírito. Você escolheu cultivar bens infinitos, aqueles que se guardam no coração, e não bens finitos, que envaidecem sem jamais saciar a sede de Absoluto. Você escolheu a amorosa maravilha da cotidianeidade, essas miudezas que, como miçangas, colorem a linha da felicidade: a oração, a freqüência à igreja, o encontro com as amigas, o socorro aos pobres, o cuidado da casa e, no crepúsculo da vida, dar-se ao direito de espiar o mundo pelas janelas dos livros, dos jornais, da TV.

Sonho com o dia em que as mulheres descubram que o auge da beleza reside em encontrar a mim, a Velhice. Essa beleza emoldurada pelas rugas da intensidade de vida e pelos cabelos alvos, fundada na sabedoria de espírito, na capacidade de relativizar tantas coisas que os mais jovens encaram como absolutas. Beleza de quem já não recorre a artifícios exteriores para enfeitar a vaidade; basta o sorriso luminoso, a delicadeza dos gestos, o dom de recolher-se em silêncio ainda que, em volta, todos disputem a palavra aos gritos.

Você bem sabe, Nina, que estar comigo é experimentar algo que, cada vez mais, poucos conhecem: a serenidade. Uma pessoa se torna serena quando se dá conta de que vive num palácio de inúmeros aposentos – a vida –, mas já não sente o menor ímpeto de percorrê-los, perdeu toda curiosidade em relação a eles. Basta-lhe um aconchegante quartinho onde suas plantas recebam um pouco de sol. 

Nina, acolhe o meu afetuoso abraço de feliz idade! Curta a minha companhia sem nenhuma ansiedade frente aos desígnios de Deus. Ele a colherá desta vida, como um jardineiro à sua flor, no momento oportuno. Então, sim, você descobrirá que, do outro lado, a vida é terna.

O carinho de sua companheira,

Velhice.

Frei Betto é escritor, autor de "A arte de semear estrelas" (Rocco), entre outros livros.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Retorno....

Estamos retornando de um breve retiro espiritual, necessário para redestribuir forças interiores, na procura de um equilíbrio existencial que potencialize nossas aspirações evolucionistas.Vamos dar continuidade ao nosso pequeno trabalho de socializar a informação, tentando colaborar para a manutenção de uma mídia alternativa democrática.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A elite é que há de melhor no Brasil:

Dia desses, eu estava em um evento empresarial repleto daqueles sujeitos que se consideram a fina flor da sociedade tupiniquim, desfilando em seus terninhos, gravatas e vestidos de grife e cabelos engomados com litros de Gumex. Impecáveis.

Passando pelas várias rodinhas de bate papo antes do começo do evento, pude ouvir comentários ofensivos contra o a “corrupção” e a “incompetência” do governo do presidente Lula, ironias maliciosas contra a primeira-dama Marisa (“Ela não tem classe!”) e outras imbecilidades que só mesmo quem lê Veja, Folha ou Estadão pode proferir com tanta pompa, circunstância e convicção.

Lá pelas tantas, já começando a ficar de saco cheio de tanta pavonice e soberba, escutei um sujeito de nariz arrebitado e olhar de peixe morto dizendo para um grupo de japoneses: “Sabem qual é o problema do Brasil? O brasileiro!”. Não agüentei. Cheguei perto daquela rodinha e soltei, tentando elevar minha singela retórica ao nível daquele iluminado:

- É mesmo? E você é oriundo de que país, nobre colega?
- Eu? Ora, sou do Brasil...
- Ah, então você também é culpado pelos problemas do país, não é mesmo?
O cidadão me olhou surpreso e respondeu indignado:
- Imagina! Eu trabalho, amigo! Sou empresário! Estou falando desse povinho ignorante e sem educação que vive bebendo cachaça em botecos e elegendo políticos sem preparo ou moral para ocupar cargos públicos!

Como percebi que o “representante do que há de melhor no Brasil” estava começando a ficar exaltado e, em breve, acabaria por tirar sua suástica do bolso e jogá-la na minha cabeça, resolvi contemporizar, tentando fingir altivez e soberba no mesmo nível:

- Mas, colega, o povo pobre é e sempre foi maioria no Brasil. Nosso irretocável grão-mestre Fernando Henrique Cardoso só foi eleito por duas vezes graças aos votos dessa mesma massa ignara que, agora, resolveu votar no apedeuta...
- Ora, mas isso só aconteceu por causa dessa “bolsa esmola” que o Lula dá pra esses vagabundos!
- Se é assim, como poderemos explicar a primeira eleição do sapo-barbudo-crípto-comunista, haja vista que naquela época nosso supremo mandatário, o príncipe dos sociólogos, não dava bolsa esmola a ninguém, pelo contrário, só descia a lenha na cabeça do Zé povinho?
- Ah, bom... É, olha, não é bem assim, o FDP tem muita sorte e o problema é que a conjuntura internacional não estava favorável e... (Percebi que ele ficou nervoso por não ter decorado direito o que o Jabor e o Mainardi ensinaram). Nossa, olha a hora! Vocês me dão licença, preciso subir pois o evento já vai começar.

E vazou, sem perder a classe, sorrindo para as câmeras próximas, como se nada tivesse acontecido.

Os orientais que acompanharam o diálogo surreal acima ficaram olhando uns para os outros, com cara de pastel, constrangidos. Para cidadãos de um país como o Japão, onde termos como nação e cidadania não são apenas palavras usadas para vender jornais e produtos, presenciar comentários como o proferido pelo legítimo representante da “raça superior” acima deve ser algo que transcende a compreensão humana...

Créditos:

sábado, 3 de maio de 2008

Todas as mulheres do mundo

Como a condição feminina mudou ao longo da história. De primeira dama do paraíso, virgem santíssima e carolas a Madonas, Leilas Diniz e mulheres-maravilha — muitas vezes à beira de um ataque de nervos. Preconceitos, assédios, triplas jornadas de trabalho: a mulher do século 21

Cláudio César Dutra de Souza, Sílvia Ferabolli

Pegamos emprestado o título do filme de Domingos de Oliveira, de 1966, com Paulo José e a paradigmática Leila Diniz no auge de sua beleza e talento, para fazer algumas reflexões pertinentes sobre o panorama histórico da condição feminina.

Há milênios, a mulher é submetida por formas mais ou menos explícitas de violência e contenção. A primeira é descrita no gênesis bíblico, no qual nossa mãe Eva é alçada a uma condição de inferioridade ao homem, primeiro por ser um “subproduto” de uma parte de seu corpo e não o resultado vivo do sopro divino como fora Adão. Em seguida, Eva é feita culpada pela expulsão do Éden, ao tomar parte ativa no processo de desobediência divina, ao dar ouvidos à serpente e, por conseqüência, nos jogando para fora da boa vida paradisíaca.

Segundo o culto mariano católico, mesmo num casamento restrito e monogâmico, a mulher é impura - já que não é possível ser mãe e virgem

Antes de Eva havia o mito de Lilith. No Talmude, ela é descrita como a primeira mulher de Adão que, devido a sua insubmissão a um plano divino que a colocava como naturalmente inferior, foi lançada aos infernos, como Lúcifer, tornando-se, entre outras coisas, o símbolo do desregramento sexual e sedução maligna. Características que alertavam para perigos envolvidos em um papel mais ativo da mulher. Na era cristã, a Virgem Maria apareceu como resgate e modelo para a mulher nos próximos séculos. Infelizmente, o culto mariano impõe à mulher um modelo nocivo ao seu desenvolvimento subjetivo. Mesmo dentro de um casamento restrito e monogâmico, ela jamais seria suficientemente “pura” - ostentando em si a vergonhosa mácula do pecado sexual, visto que a maternidade e a virgindade são obviamente incompatíveis.

Em qualquer revisão histórica que se efetue da condição feminina, chegam-se a conclusões semelhantes que apontam para períodos mais ou menos misóginos [1] no Ocidente. A Igreja Católica de 2008 é contida pelo Ocidente laico que, a partir do Renascimento, vem limitando, a muito custo e com relativo sucesso, o seu poder imperial. Se assim não fosse, as idéias do Vaticano na atualidade não difeririam muito de seus ancestrais medievos. Exemplo disso são as declarações dos últimos dois papas acerca da condição feminina, fatalmente ligadas aos pecados da carne, aborto, sexualidade e comportamentos sociais diversos. “Tirem os vossos rosários de nossos ovários”, bradam as feministas ainda hoje. E com razão.

Em contrapartida, por meio da luta de mulheres e homens, principalmente no século 20, foram formuladas leis de proteção e benefícios fundamentais à correção de injustiças de gênero históricas. Porém, elas, paradoxalmente, não inibem violências das mais diversas contra a descendência de Eva. Ainda hoje, mulheres vivem sob jugo patriarcal e, em certos casos, sofrem violências sob o beneplácito do próprio Estado, que, ou introduz a submissão em seu breviário de leis, ou é frouxo no julgamento e condenação com bases na honra viril maculada. Notadamente presente em países como a China, Tailândia, algumas regiões da África e Oriente Médio e também na América Latina, essa característica possui tentáculos suficientemente grandes para abarcar países do "primeiro mundo", que não são de modo algum isentos de registros de violência e contenção do gênero feminino.

Nada contra uma mulher adulta usar o corpo como lhe convier - inclusive fazendo sexo remunerado. O que preocupa é a relação submissa que a prostituiçao cria, sob mediação do dinheiro

Poderíamos pensar que há algo de errado com os homens... Será? Descartando, por ora, aqueles que são mais ignorantes ou provenientes de culturas que reduzem a importância do feminino, nos deteremos naqueles que possuem educação cultural e meios favoráveis para um comportamento menos machista e opressor com as mulheres. Porém, não se furtam de ser cúmplices do turismo sexual do terceiro mundo, de pertencerem a redes internacionais de pedofilia e de perpetrarem de forma oculta aquilo que já não podem fazer às claras.

Donos dos meios de produção, pertencentes à elite branca e dominante, tais homens perceberam, há muito, que existem formas sutis de burlar as regras às quais estão submetidos para poderem dar vazão ao primitivismo que resiste ainda dentro de si. A primeira e mais evidente se dá no território da prostituição. Ela prospera a passos largos no mundo inteiro. Clientes cada vez mais fiéis e assíduos utilizam-na como forma de exercer menos a sexualidade do que uma relação de poder onde, sob a mediação do dinheiro, se tem a mulher que se quer e da forma mais conveniente. A manutenção da indústria da prostituição tem como princípio a miséria de mulheres e meninas nas regiões mais vulneráveis do planeta e a demanda sempre crescente por esse serviço.

Não somos contrários à decisão de uma mulher adulta usar o seu corpo da forma como mais lhe convier, e isso pode incluir o ato sexual mediante remuneração. Contudo, preocupa-nos que esse homem descrito anteriormente está sempre ávido por “carne nova” e, ao que parece, cada vez mais jovem. Para isso não hesita em aproveitar-se da indigência financeira e moral que acomete alguns países do terceiro mundo, cujo comércio de escravas sexuais movimenta altas somas financeiras e destrói a vida de adolescentes e crianças, vítimas das mais cruéis situações de maus-tratos e violência.

Nas grandes empresas, esse mesmo homem aprendeu a valer-se da mão-de-obra feminina. Farta e abundante, está sempre disposta a dar o melhor de si no ambiente laboral, visto que o fantasma de suas avós, dependentes e oprimidas, ainda se faz presente em uma mulher que hoje em dia coloca a carreira em pé de igualdade com o desejo de casar e ter filhos. E por que seriam excludentes ambas as coisas? Infelizmente as pioneiras da década de 50 a 70 pagaram um alto preço pela sua independência. Eram vistas como condenadas a ser pouco atraentes e frustradas no campo amoroso, em troca de ascensão profissional. É algo que a mulher contemporânea já não aceita. E, graças a isso, temos as famosas duplas, triplas e quádruplas jornadas da mulher. Acorda cedo, trabalha o dia todo, dá atenção à cria e de noite é esposa atenciosa e uma amante ardente para o seu marido que, por ser homem, não precisa provar muita coisa, já que, historicamente, esse sempre teve valor em si e, de certa forma, ainda mantém essa premissa interiorizada.

Modelo por modelo, preferimos a Leila Diniz: subversiva sem ser patrulhadora, amante sem acrobacias, maternal sem culpas, trabalhadora consciente de seu valor, sedutora sem ser manipuladora

Nas classes populares percebe-se a incidência cada vez maior de um matriarcado estabelecido a partir de condições sociais que destacam uma situação favorável ao trabalho feminino, em contraste ao masculino. Mulheres da periferia obtêm renda como manicures, cozinheiras, costureiras, babás, faxineiras, ou, na pior das hipóteses prostitutas - trabalhos tradicionalmente associados ao feminino. Os homens nessas mesmas condições percebem a sua capacidade tradicional de trabalho diminuída no que se refere às atividades mais tradicionalmente ligadas ao masculino, seja por terem que dividi-las com as mulheres, seja pela perda de postos de trabalho ou exigências cada vez maiores de qualificação para ocupá-las. Assim não são raros os homens ociosos, alcoolistas e, muitas vezes, violentos com suas mulheres – aquelas mesmas que arcam com o orçamento familiar, custos de criação dos filhos e que, não raro, sofrem com a violência e desprezo masculino, que insiste em negar-lhes o valor merecido. De acordo com a pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), feita no Brasil em 1998, a violência doméstica é a causa de uma a cada cinco faltas de mulheres ao trabalho [2].

É uma premissa comum no universo do liberalismo econômico o de capitalizar as revoluções a fim de domesticá-las e inseri-las em um contexto lucrativo e palatável. E a revolução feminina das últimas décadas parece não fugir a essa mesma regra. Tendo adquirido o direito a uma sexualidade livre, a mulher ainda continua a sofrer com estigmas morais e a perder o seu valor com o declínio da beleza e da juventude. Tendo conseguido ascender ao mercado de trabalho, sofre explorações, assédios e humilhações. Isso reflete-se na vida pessoal, tornando-a estressante e sofrida, o que acarreta em moléstias que vão da depressão, ausência de libido até moléstias cardíacas - que incidem de forma cada vez mais preocupante no universo feminino.

Tais exemplos sugerem que talvez a mulher pós-feminista tenha tornado-se um bom negócio comercial, sexual e laboral. O que poderia ter dado errado em décadas de lutas feministas então? Talvez Camille Paglia tenha algumas respostas. Ela denuncia o feminismo xiita e politicamente correto dos anos 70, que tentou anular algumas premissas básicas em relação á estruturação subjetiva daquilo que nomeamos como o “feminino”, criticando violentamente a geração de Betty Friedan e o feminismo militante que anulava as diferenças entre os sexos. Palavras de Camille na Folha de São Paulo do dia 27 de março de 2006: "No começo dos anos 90 eu declarei guerra contra o stalinismo do politicamente correto no establishment feminista. Isso causou controvérsia, especialmente minha defesa da pornografia e das revistas de moda. Mas, graças à Madonna, minha ala do feminismo ganhou a batalha. Ela influenciou uma geração de mulheres que abraçou novamente o sexo e a beleza."

Afora os deslumbramentos de Miss Paglia, Madonna certamente é um ícone da modernidade, que fornece algumas pistas para o entendimento das benesses e das armadilhas em que as mulheres se vêem envolvidas atualmente, na ânsia de buscarem o absoluto, que é reservado a poucas (e poucos). Modelo por modelo, ao invés da apolínea popstar norte-americana, optamos pela nossa dionisíaca Leila Diniz que, na década de 60, já previa a multiplicidade de formas e contradições do feminino, que cada vez mais se pronunciam nesse milênio, só que de uma forma mais fluídica e prazerosa. Desobrigada da perfeição estética e da produção maquinal de gozos, Leila era subversiva sem ser patrulhadora, amante sem acrobacias, maternal sem culpas, trabalhadora consciente de seu valor, sedutora sem ser manipuladora, enfim, essa foi a imagem quase arquetípica que dela ficou.

Nunca a mulher desfrutou de tanta liberdade como hoje, em certos agrupamentos sociais. E o avanço da condição feminina só acrescenta, ao universo masculino, a companhia de uma mulher mais plena

Estamos convencidos de que o avanço da condição feminina só acrescenta benesses ao universo masculino, que, ao longo das últimas décadas, desfruta da companhia de uma mulher mais plena e companheira. Nunca ela desfrutou de tanta liberdade em certos agrupamentos sociais como nos dias de hoje. Infelizmente, ecos medievais ainda subsistem nos corações e mentes. Até mesmo nos daqueles que, aparentemente, se apresentam como os mais evoluídos, sendo que ainda estamos longe do ideal de igualdade entre os gêneros, visto que basta a experiência de uma guerra para que o nosso verniz civilizatório venha por água abaixo [3].

Mudar a mentalidade masculina torna-se um imperativo para que possamos reduzir comportamentos agressivos e misóginos no mundo atual. Para isso, entendemos ser necessário uma conscientização feminina no sentido de que as mulheres assumam a sua parcela de culpa na transmissão de inúmeros preconceitos. Principalmente, na educação das crianças, da qual ainda são as grandes responsáveis direta, como mãe e indiretamente como educadoras, visto que a quase totalidade desse ramo profissional, mais incisivamente na América Latina, se constitui de mulheres que, não raro, educam meninos e meninas sob as regras mais conservadoras possíveis - fato que, na maioria dos casos, não lhes é consciente.

Temos esperanças de que as reivindicações e lutas em prol de uma sociedade menos sexista e injusta frutifiquem nas próximas décadas. Mas para que isso se cumpra, ainda há muitas lutas a empreender. Recordemos, por exemplo, que somente com o novo Código Civil, que passou a valer a partir de 2003, o homem deixou de ser considerado como a “cabeça do casal”, bem como foram suprimidos outros arcaísmos humilhantes tal como o bizarro conceito de “mulher honesta” [4]. Que o Dia Internacional da Mulher, que comemoramos no mês de março, não sirva apenas para afagos e flores compensatórias, mas que seja também o dia em que Eva, Lilith, a Virgem Maria, Madonna, Leila Diniz, Condoleeza Rice, a mãe, a virgem, a puta, a trabalhadora, enfim, todos os arquétipos e estereótipos possam se unir em um ser integral pleno de contradições, qualidades, defeitos e subjetividades inerentes a qualquer ser humano, independente do gênero a que pertença.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

O ódio à velhice


Cynara Menezes

Agora que estou grávida, faço hidroginástica, atividade física apelidada por uma amiga de “natação geriátrica”. E é verdade. Minhas colegas de piscina são todas velhinhas. Adoro velhos, crianças e adolescentes, também. Confesso ter maior dificuldade de relacionamento com os adultos. Parece que a idade adulta é a idade da dissimulação. Velhos, crianças e adolescentes são sinceros por natureza. É muito mais fácil lidar com gente que não esconde o que pensa, ainda que não seja agradável ouvir.

No vestiário, as velhinhas me contam de suas doenças. Uma diz que se submeteu a uma cirurgia moderna, que lhe deixou cinco furinhos nas costas: “Bem aqui, ó”, exibe. Não dá para ver nada... Acho graça. Ela me conta que o tal procedimento ultra-sofisticado custou a bagatela de 170 mil reais! Fico pensando: se fosse pobre, estaria morta, coitada. Outra senhora se queixa de que não gosta de ser idosa, e me espanta saber o porquê. “Velho sofre muito preconceito, ninguém gosta de velho.”

Que horror. Chegamos a uma época de desprezo absoluto à velhice, condição inexorável do ser humano – bem, ou é isso ou morrer. Ficar velho não é mais tornar-se um sábio, mas um enjeitado. Talvez esteja na repulsa ao envelhecimento a raiz de tanta superficialidade no mundo, de tanto querer seguir jovem à custa de cirurgias plásticas patéticas em vez de se preocupar em aprimorar o espírito. Cuidar da mente, evoluir como ser humano, e, claro, conservar a alma sempre jovem. Isso é saber envelhecer bem. E reflete no lado de fora.

Alguém se engana mesmo com uma mulher que injetou não-sei-o-quê na boca para rejuvenescer? Ela parece de fato mais moça ou apenas feiosa? Ladies, preocupar-se com as rugas causa rugas! Não sou uma radical do “deixa cair”, nada disso. Não vejo mal algum em pintar os cabelos, passar uns creminhos para hidratar a pele (o creme compensa!), fazer exercícios para manter a forma. Mas há um exagero evidente nesta busca pela juventude eterna. Me incomoda essa multidão de seres espichados, de faces sem movimento, como um exército de clones assustadores a desfilar pelos calçadões da vida, sem idade ou identidade.

Como será no futuro quando os netinhos falarem de suas vovozinhas? “Ah, vovó é tão linda, com aqueles olhos puxados de chinesa! E os beijos que ela me dá, com aquela boca de Pato Donald, toda inchada? Adoro cada cicatriz naquele corpinho dela!” Observo a carne vincada, as dobras, os braços flácidos, as marcas que o tempo deixou no corpo de minhas colegas de hidroginástica e sinto saudade, já, da pele macia de vovó, tão longe de mim no final da vida. Aos 86, sua pele é enrugada, sim, como um dia também eu naturalmente serei. Mas suave ao toque, como a de um bebê.

Reparo que não se usa mais falar “morreu de velhice”, “de causas naturais”. Será que também aí não estaria embutido o preconceito? Diz-se que uma atriz, aos 90 e tantos anos, morreu de falência múltipla dos órgãos. Alguém me explica que é porque a ciência avançou e hoje em dia se sabe que as pessoas não morrem de causas naturais, mas por alguma razão específica. Ganha-se em informação, perde-se em poesia. Num mundo como o que vivemos, morrer de velhice deveria ser considerado um luxo.

Cynara Menezes

La Dolce Vita

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