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sábado, 17 de setembro de 2011

“A Copa é no Brasil, mas não é para os brasileiros”



 
Para o jornalista Jorge Kajuru, a Copa do Mundo de 2014 no Brasil é um evento para turistas. E quem vai pagar a conta é o brasileiro
Danilo Augusto


Jorge Kajuru - Foto: Reprodução
O Brasil será sede da Copa do Mundo de 2014. Desde 2007, quando o país foi escolhido como sede do mundial, vários questionamentos surgiram em torno desse evento.
Em entrevista a Radioagência NP – parceira do Brasil de Fato – o jornalista Jorge Kajuru afirma que o país tem plenas condições e estrutura para realização do evento. Porém, relata que o problema da Copa ser no Brasil está relacionado “à crise moral dos representantes.” Ele critica o financiamento através de dinheiro público do BNDES no evento e pede mais postura da presidenta Dilma sobre o tema. Para Kajuru, a Copa é no Brasil, mas não é para os brasileiros. E acrescenta: “É uma Copa para turistas. Quem vai pagar a conta é o brasileiro, vai sair do imposto”.
Conhecido por sua coragem de enfrentar os cartolas do futebol, Kajuru também detalha a relação entre a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, a qual ele descreve como “ladrões públicos do futebol mundial.” O jornalista também acusa a Rede Globo. “O Ricardo Teixeira também é intocável pela proteção da Rede Globo de Televisão”. Segundo ele, a emissora é sócia em negócios envolvendo futebol, principalmente, monopólio e exclusividade de transmissões. Leia a seguir a entrevista.

O Brasil será sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Como você avalia a realização deste evento em nosso país?
Jorge Kajuru – Não sou contra a Copa do Mundo no Brasil. O país tem condições e estrutura. O problema da Copa ser aqui não é estrutural, e sim, de crise moral. Vão roubar de nós brasileiros, pagadores de impostos, porque sairá de forma pública a maior parte do dinheiro gasto na Copa do Mundo. O governo federal, em pleno o governo do presidente Lula, teve que assinar um documento no qual a Fifa ganhará todo o dinheiro da Copa sem pagar qualquer centavo de tributos. A Fifa aceitou o Brasil como sede da Copa tendo essa condição como base de negócio. Todo dinheiro faturado aqui ela (Fifa) vai levar para a Suíça e fazer a divisão entre os ladrões públicos do futebol mundial.

Você já declarou que vai torcer contra a seleção brasileira na Copa. Por quê?
Vou torcer contra o Brasil na Copa de 2014. Também vou rezar para que na final o Brasil esteja, e que, exatamente na final, o Brasil perca de forma vergonhosa. E que haja, no Maracanã, com o segundo maracanasso, um linchamento público verbal contra a fi gura do senhor Ricardo Teixeira. O estádio inteiro em eco para que ele criasse vergonha na cara e deixasse a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e também o Brasil, e se juntasse ao seu bando e quadrilha lá da Suíça.

A realização da Copa demanda um investimento financeiro muito alto. Grande parte vem por meio do financiamento do BNDES. Você é a favor de financiamento público em um evento, que como você disse, terá o lucro dividido em meios privados?
A Copa é no Brasil, mas não é para os brasileiros. É uma Copa para turistas. Quem vai pagar a conta é o brasileiro, vai sair do imposto. O BNDES já colocou R$ 4,8 bi na Copa. Até 2014 pode dobrar esse valor. O mais grave é que quando foi definido o Brasil como sede da Copa, fi cou estabelecido de forma pública, para todos os brasileiros – nas palavras do então presidente Lula e do Ricardo Teixeira – que não se gastaria nenhum centavo público para Copa do Mundo, que todas as despesas seriam privadas. O governo e o Ricardo Teixeira mentiram, foram canalhas.

E como você avalia o papel da presidenta Dilma neste processo?
O que ela disse foi o mais grave. A presidente Dilma afirmou que não poderia divulgar os valores fi nanceiros gastos pelo governo até 2014, que eram informações sigilosas. Isso é revoltante. Qualquer brasileiro minimamente sério, qualquer jornalista minimamente descente e qualquer veículo de comunicação minimamente ético teriam que cobrar da presidente essa postura lamentável. Não pode gastar dinheiro público e não informar e divulgar para onde foi.


Manifestantes pedem saída de Ricardo Teixeira na avenida Paulista
Foto: Guilherme Zocchio
Recentemente, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, recebeu uma série de acusações. Mesmo assim, ele continua impune. Por que essas acusações não surtem efeito internacionalmente, dentro da Fifa?
O Ricardo Teixeira é blindado porque ele faz parte da quadrilha da Fifa. Ele é intocável porque é sócio do Joseph Blatter [presidente da Fifa] e protegido por João Havelange, presidente de honra da Fifa e dono da máfia do futebol internacional. Havelange e Ricardo Teixeira são donos da Traffic – a empresa que detêm os direitos internacionais de venda de transmissão de futebol para veículos de comunicação do mundo inteiro. A Traffic não é do jornalista Jota Ávila. O Jota é “laranja” do Havelange e do Ricardo, a imprensa esportiva sabe disso é ignora de forma vergonhosa.

E no âmbito nacional, por que nada acontece?
Primeiro porque o povo brasileiro não tem coragem de protestar. O povo brasileiro é uma decepção no que se refere a protesto contra coisas públicas horríveis. Ninguém tem coragem de falar isso, falar isso é brigar com o povo, mas não faço média com o povo. Amo o povo porque é a maior celebridade deste país, é feliz recebendo um salário mínimo de R$ 600. Mas não vou dizer que o povo tem cultura de protesto. O Ricardo Teixeira também é intocável pela proteção da Rede Globo de Televisão. A Globo é sócia em negócios envolvendo futebol, principalmente monopólio e exclusividade de transmissões. Isso se chama ditadura da audiência.

Mas a Globo não vende direitos de transmissão para a Bandeirantes?
A Band não paga pelos direitos de transmissão. Ela é presenteada pela Rede Globo desde que, editorialmente, cumpra as mesmas regras da Globo para com o Ricardo Teixeira.

Muitas pessoas defendem que a CBF teria uma melhor gestão se as eleições fossem mais democrática, com participação popular. Você concorda com essa proposta?
Tudo isso não passa de uma fantasia neste Brasil dirigido e presidido por quem é. O PT fará com que a CBF se perpetue com esses mesmos canalhas que estão lá. Embora o ex-presidente Lula – nas eleições de 2002 – tenha prometido que tiraria o Ricardo do comando do futebol brasileiro e que abriria a caixa da CBF. Foi mentira dele. No primeiro mês de governo ele já era melhor amigo do Teixeira. Ninguém é amigo do Teixeira sem que financeiramente tenha nenhum benefício. Portanto, o PT como partido político deve ter ganhado muita grana do futebol brasileiro – da CBF. É um sonho essa história de eleição direta, do povo votando.

E qual a participação das federações, dos clubes e da Rede Globo nesse processo de permanência do Ricardo Teixeira dentro da CBF?
As federações são Ricardo Teixeira. Já nos clubes isso não acontece mais. Na última votação para escolher o presidente do Clube dos 13, a CBF e a Rede Globo tomaram uma derrota vergonhosa. Eles queriam uma vitória do Cleber Leite contra o Fábio Koff. E como isso não aconteceu, o São Paulo foi punido, o Morumbi foi punido e não será sede de abertura da Copa do Mundo. O Ricardo Teixeira, ao lado do seu amigo Andrés Sanchez – presidente do Corinthians – não quiseram. Se o país fosse sério, Andrés e Ricardo Teixeira estariam presos. É por isso que agora a Rede Globo quer tirar o Fábio Koff do comando dos 13 e ameaça acabar com o Clube e montar uma Liga Nacional para mandar mais ainda no futebol brasileiro.

Recentemente, a Rede Record entrou na disputa com a Globo para transmitir jogos do campeonato Brasileiro. Essa quebra de monopólio seria boa para o futebol?
Não existe nenhuma diferença na maneira em que Record e Rede Globo cresceram e se transformaram em império. A Globo nasceu de um escândalo chamado Time Life e a Record se transformou em império com dinheiro de fiéis. Acrescente, além do monopólio, a expressão ditadura de audiência. Mesmo não havendo diferença, também na parte editorial, é preciso reconhecer que a proposta da Record é três vezes maior. E ainda, a Record garantia que o jogo, em sua grade de programação, seria às 20h e não às 22h. Hoje, ainda temos que esperar a novela acabar para começar um jogo. Pior, esses jogos acabam meia noite ou 1h quando já não tem mais transporte público. Isso é um absurdo, um crime. Tudo ficou na mesma e seja o que Deus quiser.

Qual o papel da Rede Globo e dos veículos de comunicação no Brasil para que essas mazelas do futebol se perpetuem?
O papel da Globo é somente o dinheiro. Quanto ao papel dos demais veículos de comunicação deveria ser o jornalismo. A imprensa foi feita para servir o povo, e não se servir do povo. E o que acontece com a maior parte da imprensa, nesta questão que estamos debatendo aqui, é que a imprensa está se servindo do povo. São raras as exceções que não fazem isso, como a ESPN, o jornal o Lance. Também existem alguns jornalistas independentes, como o Juca Kfouri. Poucos veículos ousam falar de Ricardo Teixeira. O problema é que as grandes empresas brasileiras também são amigas do senhor Teixeira. E são todas calhordas quanto Ricardo Teixeira essas grandes agências de publicidade, esse monopólio de grandes empresas que só anunciam em veículos que não praticam o jornalismo esportivo independente, investigativo, sério e decente. É mais que uma máfia, é um cartel.

Muitas pessoas te classificam como um pessimista e inimigo do futebol. Você realmente gosta deste esporte?
Tem pessoas que me consideram um crítico, um louco, um do contra e um pessimista. Eu amo o futebol nas quatro linhas. Quem não vai gostar de um drible do Neymar [Santos Futebol Clube]? Uma bela jogada e um passe de calcanhar do jogador Ganso [Santos Futebol Clube] e do Lucas [São Paulo Futebol Clube]? Ninguém vai me fazer deixar de gostar, de ver e de falar bem do bom futebol. Vou defender e aplaudir jogadores e treinadores acima da média. Agora não queiram que eu dê uma entrevista e que deixe de falar em relação a essa escumalha que comanda o futebol brasileiro. Se eu não denunciasse isso eu não seria um jornalista, e sim, um picareta e assessor do Ricardo Teixeira. Mas o futebol dentro de campo é minha paixão e alegria. (Ouça o áudio desta entrevista na Radioagência NP)

Jorge Reis da Costa – conhecido como Jorge Kajuru – é jornalista esportivo, radialista e apresentador de televisão

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Outra vez campeão: Leandro Damião dá bi da Recopa ao Inter


por Alexandre Alliatti no Globo Esporte

É uma fonte que não seca, é uma rotina que não cansa, é uma história escrita sem ponto final. Ano após ano, desde 2006, o Inter conquista pelo menos um título de nível internacional. O novo integrante da lista é a Recopa Sul-Americana de 2011. Com excelente primeiro tempo de Leandro Damião, autor de dois gols, o time gaúcho bateu o Independiente por 3 a 1 e conquistou o bicampeonato.
Damião sobrou. Chegou a 34 gols na temporada e virou o grande protagonista do título. Kleber, cobrando pênalti sofrido por Jô, fechou o placar depois de o Independiente descontar. No primeiro jogo, na Argentina, o time de Avellaneda havia vencido por 2 a 1.
Assim, o Inter repete a conquista de 2007. Já são oito títulos internacionais desde 2006 - duas Libertadores, um Mundial, uma Sul-Americana, uma Copa Suruga e uma Copa Dubai completam a coleção. O título embala o Inter para o Campeonato Brasileiro. E tem Gre-Nal. Domingo, os colorados encaram seu maior rival no Olímpico.
O futebol certamente não era a preferência de Nietzsche, pensador dos mais pirados (e dos mais geniais), quando ele criou a tese do eterno retorno. Em um resumo simplista, é como se o mundo vivesse um ciclo em repeteco infinito: o passado, o presente e o futuro ocorrendo repetidas vezes, eternamente, sempre com os mesmos fatos. Se não entendeu, peça explicação a um colorado. Ele acorda, todos os dias, com a certeza de que Leandro Damião fará gol.
O Inter vive em um paradoxo de tempo e espaço. Está em eterno retorno por causa de seu camisa 9. O passado de gols dele, o presente de goleador dele, o futuro certamente de matador dele parecem se juntar a cada instante, se repetir a cada dia. Os gols de ontem são os gols de hoje e serão os gols de amanhã - um pouco diferentes uns dos outros, é bem verdade, mas sempre presentes.
Exageros à parte, não foi brincadeira o que o camisa 9 do Inter fez nos primeiros 45 minutos do jogo contra o Independiente. Ele marcou dois gols, quase deixou mais um, quase encerrou a carreira de Gabriel Milito, zagueiro com pompa de Europa, ex-jogador do Barcelona, que vai passar alguns dias se perguntando de onde saiu esse centroavante.
internacional campeão recopa (Foto: AP)Jogadores do Inter comemoram o título da Recopa, após vitória por 3 a 1 no Beira-Rio (Foto: AP)

Cinco minutos separaram os dois gols. No primeiro, aos 20, Damião passou reto por dois marcadores pela ponta direita, especialmente por Milito, avançou área adentro e bateu. De bico. O mesmo jogador que havia feito um gol de bicicleta contra o Flamengo agora marcou de bico. Belo gol.
Aos 30, aconteceu o segundo. A bola viajou até a direção onde estavam Damião e Milito. No corpo, o colorado ganhou a jogada. A bola tocou no chão, subiu e já encontrou a chuteira do centroavante. Foi uma pancada em diagonal. Golaço.
Não foi tudo. Damião deu chapéu em um marcador e saiu fazendo embaixadinhas de cabeça. O Beira-Rio soltou um grito coletivo de prazer estético. O mesmo centroavante quase fez outro. Mandou uma patada cruzada. A bola voltou a encontrar a rede, mas por fora.
Mas havia um porém, um aviso, um recado. Por duas vezes, o Independiente chegou com força no ataque. Poderia ter diminuído, levado o jogo a um placar que renderia prorrogação. O sinal ficaria mais claro no segundo tempo.
 
Susto antes do título

Parecia encaminhado o título. Só parecia. Veio o segundo tempo, e com ele, a galope, veio o susto. Com apenas três minutos do período final, a defesa colorada vazou (o que também passa um sentimento de eterno retorno: acontece sempre), e Maxi Velázquez recebeu dentro da área, acossado apenas por Elton, para mandar chute forte. Muriel não teve muito a fazer. Era o gol do Independiente.
Ficou ruim. E poderia ter ficado ainda pior. Muriel fez defesa muito difícil em pancada de Ferreyra. No rebote, Pérez arrumou o corpo para empatar, mas Kleber cortou na hora certa.
A torcida tentava apoiar. Mas era palpável a tensão no estádio. O Inter se ajeitou em campo e quase ampliou - primeiro com Índio, de cabeça, depois com Dellatorre, parado pelo goleiro Navarro. E aí veio outra má notícia. D’Alessandro sentiu fisgada muscular e teve de ser substituído.
Andrezinho entrou no lugar dele. Jô também foi a campo, na vaga de Dellatorre. O Independiente passou a dar sinais de satisfação com o resultado. E foi punido. O goleiro Navarro fez pênalti em Jô. Kleber partiu para a cobrança. E fez. Era o gol do título.
Aí foi esperar, foi deixar o tempo passar, foi contar os minutos até mais um título. Doce rotina: desde 2006, ano após ano, o Inter conquista pelo menos um troféu estrangeiro. Também é um eterno retorno...
leandro damião e kleber comemoram gol do Internacional sobre o Independiente (Foto: EFE)Heróis da noite: Damião, autor de dois gols, e Kleber, que marcou o terceiro, comemoram juntos (Foto: EFE)

domingo, 15 de maio de 2011

Virada histórica: Inter mata Grêmio em pleno Olímpico e é campeão

Do sitio do COLORADO

Pode gritar com orgulho, colorado: É campeão!!!! O Inter foi um gigante no Olímpico e conseguiu superar todas as dificuldades para conquistar a taça do Campeonato Gaúcho de 2011. O time colorado largou a atrás no placar, reagiu e marcou três gols, mas sofreu mais um nos instantes finais do segundo tempo, tendo que juntar novamente forças para decidir tudo nos pênaltis.
Com a serenidade dos campeões natos, o Inter foi eficiente nas penalidades máximas e venceu novamente, desta vez por 5 a 4. Enfim, após uma semana de muita mobilização no Beira-Rio, o Inter pôde comemorar o título na casa do rival. A taça foi erguida às 18h28min no gramado do Olímpico, para deleite da maior e melhor torcida do Rio Grande!

Jogo elétrico
O Grêmio tentou se impor desde os instantes iniciais do Gre-Nal 387, mas o time colorado foi firme nas jogadas e conteve o ímpeto do time da casa. Aos poucos, o Inter começou a apostar nos contra-ataques em velocidade. Aos 5min, após bola cruzada da esquerda, Leandro Damião cabeceou para defesa tranquila de Victor.
O jogo seguiu bastante truncado nos dez primeiro minutos, com muitas faltas. Os dois times demonstravam muito vigor em cada lance, mas sem que ninguém conseguisse criar oportunidades claras de gol. Aos 11min, Douglas cobrou escanteio com efeito e bola bateu no travessão antes de sair por trás do gol.
Grêmio larga na frente
O panorama da final ficou ainda mais complicado para o Inter aos 15min, quando Lúcio recebeu grande lançamento de Douglas e chutou na saída de Renan para fazer 1 a 0. Aos 18min, Júnior Viçosa invadiu a área e chutou para defesa salvadora de Renan, que espalmou para escanteio.
O time colorado tinha dificuldade em vencer a marcação adversária no meio-campo. Enquanto isso, o Grêmio tentava chegar ao segundo gol. Aos 23min, Douglas chutou de fora da área e a bola passou rente à trave direita.
Falcão mexe no time e reação tem início
Aos 28min, o técnico Paulo Roberto Falcão alterou o esquema, colocando Zé Roberto no lugar de Juan. O time, que havia começado o clássico no 3-6-1, voltou para o 4-4-2. Um minuto depois, Leandro Damião cabeceou para grande defesa de Victor, que se esticou todo para evitar o empate.
Na sua primeira participação, aos 31min, Zé Roberto foi à linha de fundo e cruzou rasteiro para a área, onde Damião conseguiu vencer a marcação e chutar cruzado para empatar o clássico. A bola ainda tocou na trave antes de entrar: 1 a 1. Foi o 21º gol do camisa 9 na temporada. No Gauchão, foi o 17º do artilheiro.
Aos 32min, quase a virada: Andrezinho cobrou falta e Índio desviou de cabeça ao lado do gol, com muito perigo. O Grêmio respondeu aos 34min, em um chute de Leandro que passou perto da trave esquerda. A partir de então, o jogo ficou ríspido, com muitas faltas e pouco futebol.
Andrezinho faz 2 a 1!
O Inter pressionou nos acréscimos com duas cobranças de escanteios sucessivas e chegou à virada espetacular. Aos 46min Zé Roberto alçou para a área, a zaga afastou e Andrezinho chutou da meia-lua, com categoria, no cantinho esquerdo. 2 a 1 para o Campeão de Tudo no Olímpico!!! O Inter foi para o intervalo precisando de mais um gol.
Inter luta pelo terceiro
O segundo tempo começou com o Inter pressionando. Porém, estava difícil de conseguir a conclusão. O Grêmio se fechava bem. Aos 11min, Zé Roberto cruzou da direita e Leandro Damião, da pequena área, desviou sobre o gol. Quase o terceiro. Mas o Grêmio chegou forte na jogada seguinte: Junior Viçosa desviou rente à trave esquerda de Renan. Aos 18min, Douglas cabeceou para defesa segura do goleiro colorado.
De pênalti, D’Alessandro faz 3 a 1
Aos 27min, Zé Roberto invadiu a área pela esquerda e foi derrubado por Victor. Pênalti! D’Alessandro cobrou com muita categoria, no cantinho esquerdo de Victor, que se esticou, mas não conseguiu evitar o terceiro gol colorado!!! O placar servia para o Inter ser campeão.
Borges desconta
Mas o Gre-Nal ficou dramático quando, aos 35min, Renan não conseguiu segurar um cruzamento e Borges, que havia entrado no lugar de Leandro minutos antes, descontou para o Grêmio. O placar de 3 a 2 levava a decisão para os pênaltis.
Aos 43min, Zé Robertou chutou de fora da área e Victor defendeu para escanteio. Aos 45min, Lins, substituto de Júnior Viçosa fez o giro e chutou forte para defesa de Renan. Pouco depois, Lins chutou ao lado do gol colorado, com muito perigo. Aos 47min, D’Alessandro soltou uma pancada e Victor defendeu em dois tempos. Foi o último lance do tempo normal.
Decisão nos pênaltis
Assim como foi na final da Taça Farroupilha, o Inter teve que encarar mais uma decisão por pênaltis contra o rival. Douglas abriu a série e fez 1 a 0. D’Alessandro cobrou alto, no canto esquerdo, e empatou para o Inter. Willian Magrão chutou a segunda e Renan defendeu no canto direito. Porém, Victor defendeu a cobrança de Damião, mantendo o empate. Rochemback converteu para o Grêmio. Kleber cobrou e Victor defendeu mais uma vez. Lúcio chutou no canto esquerdo e Renan buscou, evitando o gol. Oscar bateu forte no canto direito e empatou para o Inter: 2 a 2. Lins fez 3 a 2 para o Grêmio. Bolatti converteu a quinta cobrança para o time colorado: 3 a 3.
Nas cobranças alternadas, Rodolfo fez 4 a 3 para o Grêmio. Nei empatou novamente para o Inter, chutando no cantinho direito. 4 a 4. Na sequência, Adilson chutou e Renan defendeu! Zé Roberto cobrou e fez 5 a 4!!!!
INTERNACIONAL CAMPEÃO DO GAUCHÃO 2011
“O Inter é grande. É campeão. Agora eles vão jogar amistoso com o Mazembe”, provocou Bolívar.
“Foi uma vitória linda. Revertemos a desvantagem com muita luta”, afirmou Renan
Grêmio (2)(4): Victor; Mário Fernandes, Vilson, Rodolfo e Gilson (Willian Magrão); Rochemback, Adílson, Lúcio e Douglas; Leandro (Borges) e Júnior Viçosa (Lins). Técnico: Renato Portaluppi.
Internacional (3)(5): Renan; Índio, Bolívar e Juan (Zé Roberto); Nei, Bolatti, Guiñau, Andrezinho (Oscar), D'Alessandro e Kleber; Leandro Damião. Técnico: Paulo Roberto Falcão.
Gols: Lúcio (G), aos 15min do primeiro tempo, Leandro Damião (I), aos 31min do primeiro tempo, Andrezinho (I), aos 46min do segundo tempo, D’Alessandro (I), de pênalti, aos 29mim do segundo tempo, Borges (G), aos 36min do segundo tempo.
Cartões amarelos: Juan, D’Alessandro, Zé Roberto, Guiñazu, Índio (I); Vilson, Rochemback, Douglas (G).
Arbitragem: Leandro Vuaden, auxiliado por Altemir Hausman e Júlio César dos Santos.
Local: Olímpico.

terça-feira, 12 de abril de 2011

A estranha lógica do futebol

<br /><b>Crédito: </b> ARTE PEDRO LOBO SCALETSKY

Crédito: ARTE PEDRO LOBO SCALETSKY
A lógica do mundo do futebol é muito particular.
 
Juremir Machado da Silva no Correio do povo
 
Um treinador que sai muito mal de um clube, de onde foi demitido por ter sido, na opinião de torcedores e comentaristas, incompetente, pode ser contratado por outro clube como a salvação da lavoura.

Nenhuma empresa séria usaria esse método de avaliação profissional. Um executivo que leva uma empresa à falência ou a ficar muito longe de alcançar as suas metas dificilmente seria contratado para tirar outra empresa do buraco. Ou seria? O paradoxo do futebol é este: a culpa é sempre do treinador, tanto que, se os resultados não chegam, ele é demitido, mas, ao mesmo tempo, ele nunca é culpado de coisa alguma, pois, com frequência, é imediatamente contratado por outro clube, o qual aposta que, noutro contexto e com outros jogadores, tudo poderá dar certo. O culpado é prontamente absolvido. Que coisa!

Veja-se o rendimento dos principais treinadores brasileiros: quantos anos faz que Luxemburgo não ganha um título? Mesmo assim, continua recebendo uns R$ 500 mil por mês. E o Felipão? Dizem que ganha mais de R$ 1 milhão por mês. Não fatura um título desde 2002.

O futebol é talvez o único campo profissional em que nove anos de fracassos permitem novos contratos milionários e a renovação permanente da confiança em perdedores do presente que vivem de glórias do passado.

Celso Roth teve 56% de aproveitamento no Inter. Até uma porta, com o elenco do Inter, teria aproveitamento equivalente. Ganhou uma Libertadores da América em apenas quatro partidas. Qualquer outro treinador, ganhando R$ 20 mil, obteria o mesmo rendimento ou algo muito próximo.

Falcão, quanto treinou o Inter, se não me engano, ficou nos 50% de aproveitamento. O porteiro do clube alcançaria o mesmo desempenho. O que explica tão altos salários para tão baixos desempenhos? O futebol é irracional e o dinheiro é do clube, uma associação. O Inter contratou Falcão para resolver seus problemas.

Falcão não trabalha como treinador há, sei lá, 15 anos.

Como pode um profissional que não exerce sua atividade há 15 anos ser chamado para resolver uma situação de crise? Alguém chamaria um cirurgião parado há 15 anos para uma operação de alto risco? O pensamento mágico comanda o futebol. O Grêmio tem Renato, seu principal ídolo, como técnico. O Inter precisa ter Falcão. O futebol, a exemplo da vida, na frase do grande argentino Borges, gosta de leves simetrias. Não, no caso, de simetrias escancaradas.

O único técnico que pode apresentar um currículo recente com uma relação sólida entre salário e resultados é Muricy Ramalho. Ganhou quatro campeonatos brasileiros em cinco anos. Poderiam ser cinco em seis anos se o Inter não tivesse sido roubado em favor do Corinthians em 2005. Técnico existe para ser o sargento que policia a galera, jovem e rica, sedenta de sexo e emoções caras, e a motiva para vencer. Jogadores de futebol de clubes como o Inter ganham uma fortuna para empatar ou perder. A vitória custa prêmio extra. O treinador leva uma banana para escolher entre dois esquemas: 4-4-2 ou 3-5-2. É barbada. Falcão vai botar time faceiro. Pode se consagrar ou dar vexame. Ou alcançar 58% de aproveitamento. Uau!

domingo, 10 de abril de 2011

Sem geraldinos e arquibaldos



Em meio a falência de clubes, ganância de emissoras e um mercado voraz, desaparece a possibilidade do pobre torcedor de assistir ao esporte que adora

Por: Redação  da Rede Brasil Atual


Sem geraldinos e arquibaldos
Alma Ferida: A reforma do Maracanã vai encolher o estádio, que na reabertura terá ingressos mais caros. Paulo Roberto lembra saudoso, com o ingresso na mão, os tempos da popular geral, extinta em 2005. (Foto:Rodrigo Queiroz/Revista do Brasil)

Com a aparente "volta por cima" da Globo nas negociações sobre a transmissão dos campeonatos brasileiros de 2012 a 2014, as esperanças de transmissão de jogos na TV aberta em horários civilizados, para espectadores e atletas, se esvaem. Os clubes, atolados em dívidas, menosprezam a negociação coletiva. Também passam ao largo preocupações com o que o torcedor mortal terá de pagar por ingressos em estádios ou pacotes televisivos para ver seu time ou secar os demais. O esporte mais popular do país é cada dia mais impagável para a maioria da galera. O professor Flávio de Campos, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), compara a situação a uma briga oligárquica. "Essa cartolagem é muito parecida com determinadas raposas da política brasileira, e às vezes se confundem mesmo", diz.
A realização da Copa de 2014 no Brasil reforça a mudança de foco do futebol e potencializa a cobiça. Construídos ou reformados, às vezes com necessidade duvidosa, os estádios serão em tese mais bem aparelhados, terão capacidade menor e ingressos mais caros, o que evidencia essa busca pelo público de maior poder aquisitivo. "A questão da transmissão é um complemento da exclusão que vem sendo feita há anos nos estádios. Em nome da segurança, um padrão de modernidade se impõe e remove os setores populares. Como se a violência fosse um atributo desses setores, o que é uma falácia", acrescenta Campos.
No Maracanã, a geral, conhecida pelo grande número de populares fantasiados que ali acompanhavam os jogos, foi destruída em 2005 e deu lugar às cadeiras - setor nobre. Foi o fim dos geraldinos, como eram conhecidos os frequentadores. E os arquibaldos, a turma da arquibancada, também não tem vida fácil. Ambos os tipos foram cunhados pelo escritor Nelson Rodrigues, frequentador do velho Maracanã. 

Aperto

torcedor-geral_RodrigoQueirozO funcionário público Paulo Roberto Evaristo estava lá no último dia da geral, em 24 de abril de 2005, no jogo entre Fluminense e São Paulo - e até guardou o ingresso. "Estudava e trabalhava, o salário era pequeno, era a opção mais em conta. Além disso, era legal ficar mais perto do campo. A visão era ruim, mas compensava. Dava para chamar e xingar os jogadores. Pelo menos ficava a impressão de que podiam ouvir", brinca.
Na despedida, Paulo e alguns amigos foram os últimos a deixar o estádio. Aos 39 anos, realizou o sonho de muitos meninos: conseguiu entrar no campo, cobrar pênaltis imaginários e fingir que estava ligando do orelhão, como alguns jogadores costumavam comemorar seus gols, em vez de correr para diante da câmera mais próxima. Segundo ele, o ingresso custava um quarto do da arquibancada, que por sua vez era metade do preço das cadeiras.
Em 2010, o Maracanã foi fechado. A reforma mira a Copa. Na última, a capacidade caiu de 120 mil para 86 mil pessoas - que passaram a pagar mais. Em 1969, o estádio chegou a receber 180 mil torcedores. Com a reabertura, provavelmente em 2013, caberão apenas 76 mil e esperam-se preços ainda mais elevados.
Às vezes, alguém reclama. Como na partida entre Santos e Cerro Porteño, pela Taça Libertadores, em março. O time paulista aproveitou o jogo contra o rival paraguaio para cobrar R$ 100 pelo ingresso. Resultado: protestos e pouca gente no estádio.
Em Salvador, o gerente financeiro Marcus Vinícius Vilas Boas, o Kiko, torcedor do Bahia e fã de carteirinha do estádio da Fonte Nova conta que os preços não esperam reformas para subir. "Já está tudo mais caro. No Pituaçu (que vem sendo utilizado para jogos maiores), os ingressos para o campeonato baiano estão R$ 50, R$ 40 no mínimo, dependendo do jogo. Na Fonte Nova custavam R$ 10, R$ 20, R$ 30 no máximo."
O palco da Fonte Nova foi fechado em 2007, após a queda de um pedaço da arquibancada que matou sete pessoas. Kiko estava a poucos metros. "Lembro o dia da tragédia, nunca teve só 65 mil torcedores ali", diz, referindo-se ao público oficial informado. "No mínimo, uns 80 mil." O tradicional estádio foi implodido. No local, será construído um novo, com capacidade para pouco mais de 50 mil pessoas.

Elitização

Em artigo publicado em O Estado de S. Paulo no final de 2010, o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcos Alvito cita a Soccerex, feira internacional realizada no Rio com foco no futebol como negócio, na qual "especialistas" decretaram que a modalidade no Brasil terá a classe A como clientela-alvo, deixando as classes B e C para trás. "Porque as D e E há muito não sentam em uma arquibancada. Hoje os estádios viraram estúdios para um show televisivo chamado futebol", observa o antropólogo, para quem está em curso um processo de elitização perversa do esporte.
O docente foi um dos criadores, em 2010, da Associação Nacional dos Torcedores. Incipiente, mas com reivindicações como maior transparência no futebol, além de igualdade de acesso aos estádios. "Vai acabar com toda e qualquer possibilidade de a população pobre ou de classe média baixa frequentá-los. Claro que a gente aprova o conforto. O problema é transformar o estádio num grande shopping center", diz o estudante Matheus Serva, da ANT. "E tem o agravante da televisão. Quarta-feira às 10 da noite é impossível para um trabalhador assistir ao jogo."
O historiador Felipe Dias Carrilho vê na questão da TV um aprofundamento da lógica empresarial, que não chega a ser novidade, mas se torna mais visível à medida que a Copa se aproxima. "É a capitalização máxima do esporte. Nossos cartolas são os coronéis dentro do futebol." O jornalista Juca Kfouri fala em um país sui generis, em que os capitalistas não gostam de praticar o capitalismo que apregoam. "Por um lado, uma emissora (Record) capta recursos de forma 'espúria', no 'mercado da fé'. De outro, a concorrente (Globo) não demonstra interesse em seguir as regras da concorrência."
No mundo do consumo, os europeus estão muito à frente. Considerado pela revista Forbes o time mais rico do mundo, o Manchester United, da Inglaterra, acumula patrimônio de US$ 1,8 bilhão. Seu canal pago é exibido em 192 milhões de residências. O segundo na lista, o Real Madrid, da Espanha (US$ 1,3 bilhão), mostra equilíbrio nas fontes de receitas: 30% vêm da bilheteria de seu estádio, 34% do comércio de produtos e 36% de direitos da televisão - aqui, a dependência da TV supera os 50%. Em meados de março, o site do clube tinha poucos ingressos disponíveis a não sócios para um jogo do campeonato local que seria realizado três semanas depois, contra o Sporting Gijon: € 225 (R$ 530). 

Arquibancada

O executivo e consultor espanhol Esteve Calzada calcula que um fã do Real ou do rival Barcelona gastará aproximadamente € 3.000 (mais de R$ 7.000) se acompanhar seu time por toda a temporada europeia. "Em tempo de crise", lembra. Ele também prevê que, na temporada 2011-2012, o Barça desbancará o Real e se tornará o clube com maior arrecadação no mundo. O time catalão tem mais de 170 mil sócios-torcedores e mantém sempre lotado seu estádio, o Camp Nou, com capacidade para 99 mil espectadores.
No Brasil, os clubes,  endividados, as TVs e seus patrocinadores caminham para consolidar a tipificação do torcedor de "arquibancada de prédio", na definição do professor Flávio de Campos: aquele que assiste ao jogo em casa e faz barulho para perturbar o vizinho simpático ao adversário - que também não vai ao estádio.
O professor vê o país perder a oportunidade de fazer uma correção de rota. Eventos como Copa do Mundo (2014), Jogos Militares (2011), Olimpíada e Paraolimpíada (2016) deveriam ser determinantes para formular políticas de investimentos na formação de atletas. "É incrível a falta de interesse em vincular essa agenda esportiva à educação", diz. "Se equipassem as escolas públicas, essa revalorização poderia transformá-las em centros de difusão do esporte. Não seria muito difícil pensar num projeto mais interessante e criativo, em vez de gastar bilhões em estádios ultramodernos."
Autor, 30 anos atrás, do livro História Política do Futebol Brasileiro, o professor Joel Rufino dos Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), considera que a chave para essa completa mercantilização é a separação entre o esporte e o espetáculo. "Eu gostava muito de ver jogos no campo do Palmeiras, da proximidade dos jogadores. Não sei por que vão construir outro estádio. É para o espetáculo", ironiza.
"Vai-se ao campo como se vai ao teatro", confirma Juca Kfouri. O jornalista também detecta um aspecto inexorável de elitização e de transformação dos estádios em estúdios para programas televisivos. Corintiano, ele lembra quando saboreava o show da torcida. "O lugar é para sentir em cima da pedra, no degrau (da arquibancada). Se estivesse lotado, ia para o alambrado." Juca conta a "sensação paradoxal" que experimentou, no Allianz Arena, na Copa da Alemanha, em 2006. "Um lugar suntuoso, limpíssimo e quase esterilizado. Não dá para xingar o juiz. Você faria isso no Teatro Municipal?", brinca. "Cada vez mais a sensação que tenho é de que os estádios não têm alma."

Na Argentina, a transmissão dos jogos é de graça

Enquanto no Brasil quem gosta de futebol praticamente fica à mercê de um conglomerado televisivo, na vizinha Argentina o governo comprou a briga com o Clarín, principal grupo de mídia do país, e assumiu as transmissões, que passaram a ser gratuitas e exibidas pela TV pública, com o lançamento do programa Futebol para Todos. A mudança faz parte da substituição da antiga Ley de Radiodifusión pela Ley de Medios Audiovisuales.
"Um capítulo importante dessa lei era precisamente garantir o direito ao acesso ao esporte mais importante dos argentinos", afirmou a presidenta Cristina Kirchner, na assinatura do convênio entre a AFA, a associação de futebol argentina, e o Sistema Nacional de Medios Públicos (SNMP), em agosto de 2009. Segundo ela, é obrigação do Estado "garantir a todos, sobretudo àqueles que não podem pagar, o direito a ver seu esporte predileto".
Para Gustavo Bulla, diretor da Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual, órgão regulador argentino, a exclusividade de direitos para televisionamento de futebol foi um dos fatores que levaram à concentração no meio audiovisual. "Agora, aquele adolescente de 18, 19 anos está vendo pela primeira vez um jogo de futebol, porque muitas cidades, devido ao sistema a cabo, não podiam transmitir", afirmou, durante evento em Brasília no final de 2010.
O governo argentino ofereceu US$ 150 milhões por ano, até 2019, para televisionar o campeonato. O valor é aproximadamente três vezes maior que o da TV privada. O acordo foi aceito pelos clubes, todos em dificuldade financeira, e intermediado pela AFA.
No Brasil, nas negociações pelo direito de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2012 a 2014, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), vinculado ao Ministério da Justiça, até conseguiu impor um pouco de concorrência ao tema. A Globo ficou de fora do leilão elaborado pelo Clube dos 13 e implodiu o órgão ao assediar individualmente os clubes. Ofereceu bem mais do que pagou no contrato anterior a alguns dos principais times do país. A Rede TV! entrou como única concorrente e ganhou a licitação no atacado. A Record, da qual se esperava a maior oferta, nem entrou no leilão depois dos movimentos da Globo "por fora" - e, como a rival, partiu para as negociações individuais.
As dúvidas se multiplicam. Durante o programa Observatório da Imprensa, o procurador-geral do Cade, Gilvandro Araújo, afirmou que a autoridade antitruste poderá se manifestar novamente se acionada. "Isso (as discussões entre TVs e clubes) talvez vá ensejar no futuro um outro tipo de análise, não só do Cade, mas de todos os interessados nesse setor."
No campeonato inglês, os clubes negociam juntos. Na Espanha, separados, com grande parte do bolo destinada ao Barcelona e ao Real Madrid. Enquanto na Inglaterra o troféu é disputado por várias equipes, a Espanha criou "o melhor campeonato gaúcho do mundo", conforme expressão do jornalista esportivo Paulo Vinicius Coelho, em referência ao campeonato do Rio Grande do Sul, quase sempre vencido por Internacional ou Grêmio.
A questão, no Brasil, passa também pela política. Parte dos clubes é aliada de Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) há 22 anos, parceiro da Globo e candidatíssimo ao comando da Fifa, a entidade maior da modalidade mundialmente. Antes de assistir de camarote à implosão, Teixeira tentou sem sucesso emplacar na presidência do Clube dos 13 seu aliado Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo.
Entre os cotados para substituí-lo na CBF, se o mundo não acabar até lá, estão o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, companheiro de primeira hora, e até Marcelo Campos Pinto, executivo da Globo e principal articulador do atual imbróglio do futebol brasileiro - que não está livre de acabar nos tribunais.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Globo terá que explicar contratos para o CADE





Jorge Seadi no Sul21



A disputa pelos direitos de transmissão por tevê do campeonato brasileiro a partir de 2012 continua acontecendo nos bastidores, apesar de a Rede Globo falar que já acertou com 18 clubes, embora somente 11 tenham assinado com a emissora carioca. O último foi o Palmeiras, que não revelou detalhes do acerto.

Na semana passada, o Conselho de Administração dos Direitos Econômicos (CADE) notificou o Clube dos 13 e a Rede Globo para prestar explicações sobre o andamento das negociações. Do Clube dos 13, o CADE quer detalhes da concorrência em que só a Rede TV participou e da Globo quer analisar os contratos já assinados com os clubes.

Para o CADE, haveria aparentemente um item nos contratos que a Rede Globo assinou com os clubes que contraria o determinado pelo próprio CADE, com a concordância da Globo, no ano passado. A Globo terá que explicar porque assinou contratos individualmente e por todas as mídias, quando as negociações deveriam ser feitas separadamente.

Se o CADE não aceitar as explicações da Rede Globo, poderá determinar a nulidade dos contratos, além de multar a Rede Globo e os clubes. No acordo assinado no ano passado entre a Globo, o Clube dos 13 e o CADE, estava prevista a abertura de uma concorrência para a escolha da empresa que ficaria com os direitos para cada plataforma de transmissão — tv aberta, tv fechada, pay per view, internet e celular. A Globo não participou da licitação e ainda fechou contrato por todas as mídias.

O Clube dos 13 aguarda um chamado do CADE com uma definição do que vai acontecer a seguir. O presidente Fábio Koff acredita que a ação da rede Globo é ilegal e que o contrato assinado pelo Clube dos 13 com a Rede TV é o que deve ser colocado em prática.

No Rio Grande do Sul,apenas o Grêmio confirmou que assinou com a Globo. A decisão do presidente Paulo Odone provocou bate-boca na última reunião do Conselho Deliberativo, com o presidente deixando a sala intempestivamente sem dar detalhes do contrato assinado. Já o Internacional confirmou estar negociando com a Rede Globo e de também ter ouvido proposta da Rede Record. O clube não informou ainda se assinou com alguma das redes. A Globo acertou com o Grêmio por R$ 40 milhões ao ano entre 2012 a 2015, incluíndo todas as plataformas. Pagou ao Grêmio como “luvas” R$ 7 milhões, dinheiro que o Grêmio já teria recebido. A proposta para o Internacional seria a mesma. Já clubes para como o Corinthians a Globo irá pagar R$ 140 milhões por ano também pelo período de 4 anos.

Desde que o campeonato brasileiro teve os direitos de transmissão de seus jogos negociados com a televisão, a Rede Globo foi a única emissora que comprou estes direitos. Em 1997, o SBT tentou comprar os direitos, fez uma proposta maior que a da Globo, mas a emissora carioca exerceu uma cláusula que lhe dava a preferência para cobrir propostas da concorrência. E foi o que fez. Inconformado com o previlégio, Silvio Santos acionou o CADE que discutiu o assunto por longos 13 anos. No final do ano passado, em razão deste processo iniciado por Silvio Santos, o CADE, a Globo e o Clube dos 13 assinaram o acordo em que acabava com a “cláusula de preferência”.

Aproveitando a determinação do CADE pela realização de concorrência, a Rede Record entrou nas discussões preliminares anunciando que cobriria qualquer proposta. Em resposta, a emissora carioca trabalhou nos bastidores para não perder um dos melhores produtos que tem em sua grade de programação, com ótimo retorno financeiro e de audiência.

Enquanto o CADE obrigava a Globo a se preparar para uma concorrência, a CBF tentou derrubar o presidente Fábio Koff da direção do Clube dos 13. Apoiou abertamente Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo, com a ajuda de alguns clubes, dentre eles o Corinthians. Usou toda a sua “máquina” e mesmo assim perdeu a eleição. Passou, então, a trabalhar também nos bastidores em parceria com a Rede Globo. E o resultado de tudo isto é uma importate briga de bastidoresa em que clubes, Globo, e Clube dos 13 travam pelos direitos de televisão.

O campeonato deste ano não terá alterações nos direitos. A Rede Globo vai continua transmistindo em tv aberta, tendo a Band como parceira, a Sportv estará na tv fechada e o pay per view segue com a Globo. A única mudança é o do número de jogos de alguns clubes que terão transmissão por tv aberta. O esquivo São Paulo, por exemplo, terá uma grande redução do número de jogos transmitidos pela Globo e aqui em Porto Alegre, o Grêmio terá maior número de partidas transmitidas pela RBS (afiliada da Rede Globo) que o Internacional.



Com informações da Folha de S.Paulo

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Globo tenta dar golpe nas negociações do futebol: guerra à vista

Escrito por Gabriel Brito, da Redação  do Correio da Cidadania 
 
Nesta semana, nova guerra suja foi deflagrada no futebol brasileiro. Após receber uma tunda do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) no meio da testa e ter de assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), a Rede Globo perdeu seus privilégios monopólicos para adquirir os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro nos anos de 2012, 13 e 14.
 
Dessa forma, a concorrência prevista para o dia 11 de março passou a ter contornos muito mais interessantes, especialmente para os clubes, que finalmente viram uma claríssima brecha para elevarem exponencialmente seus ganhos com as milionárias transmissões televisivas. Isso porque antes a Globo tinha direito de preferência na renovação dos contratos, inclusive com acesso às propostas rivais, o que a fez tomar de vez as rédeas como sócia-proprietária do futebol nacional, em parceria com o todo poderoso Ricardo Teixeira, dono da CBF.
 
De agora em diante, por conta da determinação do CADE, a emissora terá de fazer aquilo que historicamente não está acostumada: jogar dentro de regras limpas. Obviamente, a medida acendeu as esperanças de outros canais de TV, sempre excluídos, na prática, das negociações. Record, e seu temido saco sem fundo de dinheiro, e Rede TV já declararam intenções de participar. Fora a Band, que já transmite, mas pode se livrar do jugo global, que lhe impõe o que pode ou não exibir. Na TV fechada, ESPN, Bandsports e Telefônica tentarão fazer frente à Sportv – de propriedade da Globo.
 
E neste ano há a grande novidade de se venderem os direitos de cada mídia separadamente, quando antes todas eram vendidas no mesmo pacote. Agora, TV aberta, fechada, Pay Per View, Celular, Internet e Direitos Internacionais serão negociados separadamente. O lance inicial para a TV aberta é 500 milhões de reais por ano (cifra do atual contrato), sendo que o Clube dos 13 calcula um rendimento total de 4 bilhões de reais ao final do período, na soma de todas as categorias.
 
A Globo já provou do veneno da emissora de Edir Macedo: perdeu os direitos de Londres 2012, pois neste caso não havia conchavo suficiente para que a Vênus Platinada levasse a parada por inércia. Quem deu mais levou, e pronto. No Brasil, não foi sempre assim que funcionou, devido à enorme subserviência de nossos dirigentes, sempre endividados, além de acomodados e aliados ao poderio global, que já fez diversos favores financeiros para apagar incêndios das agremiações.
 
No entanto, após anos de cobrança, o Clube dos 13, que reúne os 20 times mais influentes do país e juridicamente tem a prerrogativa de negociar o contrato de TV, após a providencial prensa do CADE decidiu adentrar o século 21 e elaborar uma licitação de verdade – simplesmente dentro das teorias do jogo capitalista. Ou seja, concorrência livre e aberta, quem der mais leva. Afinal, nossos clubes podem ser submissos e corruptos, mas precisam se resolver financeiramente.
 
Antecedentes
 
Vale lembrar que a Copa do Mundo tem produzido diversas disputas de bastidores no país, com times, estados e dirigentes se digladiando pelo melhor botim possível dos grandes eventos. Um dos casos notórios envolve o choque entre a CBF e o São Paulo FC, que objetivava ter seu Morumbi como sede da Copa, mas acabou passado pra trás por conta de antigas (e atuais) divergências com o imperador Ricardo Teixeira.
 
Assim, e amparado pela avidez por negociatas dos executivos da FIFA, a confederação inventou que o Morumbi não teria condições de sediar jogos do mundial sem uma reforma, que segundo cálculos da citada camarilha beiraria os 600 milhões de reais. O tricolor retrucou com um plano de um terço dos custos. Foi limado.
 
Com o senso de oportunismo em dia, o presidente do Corinthians (que se revela um sujeito congenitamente amoral), Andrés Sanchez, articulou com o presidente-torcedor-do-Timão Lula, a Odebrecht e os governos estadual e municipal a construção de um estádio em Itaquera, sonho da agremiação, mas que neste caso viria com o bônus de também sediar a Copa. Uma belíssima jogada, convenhamos.
 
Além disso, Sanchez se tornou aliado e fiel escudeiro de Ricardo Teixeira nos últimos tempos. Como prêmio, foi nomeado chefe da delegação da seleção brasileira na Copa de 2010. E sobre Globo e Teixeira nem é preciso falar: estão de mãos dadas desde sempre, com a emissora carioca tendo pista livre para cometer todos os desmandos que sempre se permitiu, como os detestáveis jogos às 10 da noite.
 
Fedor no ar...
 
E exatamente quando a concorrência se abriu, passaram a surgir notícias dando conta de uma suposta queda de valor de mercado do futebol, cujas audiências estariam decaindo, o que não justificaria contratos mais polpudos. E tudo tenderia a piorar caso a Record ficasse com os direitos de transmissão e recuasse o horário das partidas, pois neste caso o futebol seria inapelavelmente derrotado pelo Jornal Nacional e a novela.
 
Só faltou alguma prova para respaldar a descarada chantagem. Quer dizer, algumas bem fajutas foram mostradas, no caso, os índices de audiência dos jogos dos estaduais deste ano. Só ‘ignoram’ o fato de que a culpa é do descrédito, desorganização e decadência em que tais torneios se encontram. Mas o Brasileirão é outra história, muito diferente.
 
Com a experiência de Londres ainda viva na memória e o enquadro da autarquia do Ministério da Justiça, bateu o desespero na emissora, que iniciou um claríssimo processo de cooptação dos clubes. Diante da proximidade da decisão final, fatos estranhíssimos passaram a ocorrer em avalanche.
 
O presidente do Corinthians, sempre ele, passou a se queixar de uma falta de democracia na condução das negociações, por parte do Clube dos 13. O detalhe é que a comissão que cuida do assunto foi eleita pelo conjunto dos membros, portanto, todos deram sua anuência a essa forma de elaboração do processo de venda dos direitos.
 
Acusado de não ter assumido seu papel de vanguarda no futebol, tal como se esperava em seu surgimento, o Clube dos 13 jamais fez aquilo a que se propôs ao surgir, isto é, organizar uma liga de clubes que gerenciasse o Campeonato Brasileiro, o que só ocorreu em 1987, ano de sua fundação, quando a CBF se declarou incapaz de realizá-lo, delegando a tarefa à entidade que nascia.
 
E quando finalmente o C-13 resolve tomar uma postura mais protagonista e valorizar seu produto, o futebol, alguns de seus membros começam a sabotá-lo...
 
Golpe global
 
Segundo Ataíde Gil Guerreiro, membro da entidade e um dos responsáveis pela condução da negociação, "a Globo está se sentindo em risco. Ela está num estado de conforto e não quer risco. Ela tem todas as condições de ganhar, mas para que correr risco? Ela não quer fazer a concorrência com a lisura que nós queremos".
 
Ele ainda acrescentou que Sanchez tem se portado como "advogado da Globo", além de apontar, para não deixar dúvidas, que a emissora está querendo comprar os clubes e forçar a cisão na entidade, principalmente com os dois mais populares, Corinthians e Flamengo. Não à toa, a CBF resolveu reconhecer nessa mesma semana, após 24 anos, o título do Flamengo de 87, que sempre foi muito cristalino, mas que a oportunista entidade tinha tratado de furtar através de uma canetada da justiça comum.
 
Já Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG, foi ainda mais incisivo. "É uma baderna, tentaram avacalhar. Em princípio, o Clube dos 13 nasceu para isso (ser uma liga dos clubes), mas perdeu o trem da história. Nós temos que, primeiro, nos fortalecer como entidade de classe", declarou à ESPN Brasil. Para em seguida arrematar: "O Corinthians podia perfeitamente assumir a liderança do processo, queremos mudar a história e o patamar do C-13. O Flamengo também poderia. A avacalhação, o tumulto de não querer sentar na mesa que é revoltante".
 
E claro que a balbúrdia é patrocinada pela Globo, que muito obviamente tem agido na ilegalidade e oferecido supostas vantagens, por fora, aos clubes, como, por exemplo, empréstimos e adiantamento de cotas. Além disso, ofereceu aquilo que o presidente do Corinthians alega desejar para aumentar seus ganhos: negociações individuais, algo cada vez menos aceito no mundo do esporte. Sanchez crê que, negociando somente a parte alvinegra, poderá ganhar mais ainda, já que preside o time mais forte do país em termos de mercado.
 
Por sua vez, após ‘reaver’ o título de 87 o Flamengo resolveu aderir à dissidência, sendo seguido por Vasco, Botafogo e Fluminense, temerosos de se oporem a um rival mais poderoso que os três juntos no mercado. Além disso, Coritiba e Goiás também embarcaram e outros podem engrossar a debandada.
 
Mas a atual liderança do C-13 resolveu bater o pé e comprar a briga de vez. "O CADE está sendo estuprado, mais do que isso: o povo do futebol está sendo estuprado", declarou Kalil. "Vamos raciocinar linearmente. Estamos aqui em um jogo de dinheiro", completou, querendo dizer que não interessa quem transmitirá, e sim quem pagará mais. Sem a vitória garantida e tendo de abrir a carteira, a Globo faz de tudo pra melar o processo. "É caso de polícia, de Ministério Público", completou o dirigente atleticano.
 
Contrariando o ditado brasileiro, lei existe para ser cumprida...
 
Porém, há um grande entrave para quem quiser deixar o C-13: dívidas, pois os clubes também devem uns bons milhões à entidade. "Quem quiser pode sair. É só vir aqui, acertar as pendências e se desfiliar. Como qualquer um que pretende fechar uma conta corrente no banco", jogou na cara Fabio Koff, o presidente, que ainda chamou Sanchez de "moleque e irresponsável".
 
Diante do escárnio de Globo-CBF, repudiado pelo público, os revoltosos já amenizam o discurso, pois uma batalha judicial tem tudo pra reservar a derrota ao bloco, além do inevitável desgaste com as próprias torcidas, que podem emparedar seus dirigentes e indagar por que dificultam uma concorrência que tende a propiciar um enorme aumento das receitas de TV. "Eu quero sair dos meus 13 milhões por ano para 40. Acho que os outros não são idiotas e também querem", disparou Kalil.
 
Não seria a primeira vez que os clubes nacionais perderiam o "trem da história", mas agora, quando todo o mundo burguês exalta a exuberância da economia brasileira e o país se aproxima dos mega(bilionários)eventos, uma nova capitulação a déspotas tão conhecidos e desgastados não será facilmente engolida. Dessa vez, parece que a Globo, adotada e turbinada por uma ditadura, terá de enfrentar as autênticas regras de uma democracia capitalista.
 
Gabriel Brito é jornalista.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ótimo texto de Juremir Machado sobre o "caso ronaldinho"

Ronaldinho e o Grêmio, o preço de uma traição

Muito estranho esse caso Ronaldinho.
É puro Nelson Rodrigues.
Sabem, o cronista que tratava das fantasias mais absurdas de cada um, por exemplo, a dona de casa paquidérmica que desenhava cacetinhos na parede do banheiro?
Ronaldinho traiu o Grêmio.
É assim que pensam os gremistas. Sempre pensaram assim.
Mas Ronaldinho é gostoso.
Marido traído, o Grêmio nunca esqueceu.
A paixão se alimenta da falta.
Quando mais Ronaldinho brilhava, mais o Grêmio sofria.
E mais os colorados flauteavam.
O Grêmio nunca perdeu a esperança de apagar essa mancha, eliminar essa traição, cortar esse passado.
Finalmente parece que Ronaldinho está disposto a perdoar o Grêmio por ter traído o triciolor gaúcho.
Hiltor Mombach tem razão: o preço desse perdão é caro: 60 milhões por quatro anos.
Quase o valor que o Grêmio obterá vendendo o Olímpico.
O Grêmio poderia entregar o Olímpico diretamente para o Ronaldinho, que ali poderia instalar o Porto Alegre.
Talvez seja isso que falte para a assinatura do contrato.
Ronaldinho convenceu-se de que é um traidor.
Quer perdoar o Grêmio para se redimir.
O Grêmio está disposto a entregar sua casa para limpar sua honra.
A torcida do Grêmio zomba dos colorados: Dunga deu um chapeuzinho em Dunga.
Dunga responde: "Em mim e em toda a torcida do Grêmio".
O Grêmio quer tirar esse segundo chapeuzinho da imagem, reescrever a história, pagar o perdão.
Assis Moreira explora o tesão recolhido do Grêmio.
Mostra que muitos outros desejam Ronaldinho.
O Grêmio desespera-se, oferece mais, compromete o futuro, empenha o presente, tudo para mudar o passado.
Tudo para dizer: ele voltou, ele é nosso, sempre foi nosso, ele nos ama, sempre nos amou.
Amor tem preço.
Ronaldinho foi de graça.
Volta pelo reles valor de um estádio, o Olímpico Monumental.
Flauta ou desespero de colorado?
Certamente.
Mas também um pouco mais do que isso.
Ronaldinho quer ser absolvido.
O Grêmio quer perdoar.
Só que quem tem a força é Ronaldinho.
Impõe a lei do perdão.
Dirá, descendo do helicóptero: eu perdoo o Grêmio por ter me obrigado a traí-lo.
O Grêmio, de joelhos, beijará os pés do seu amor.
A traição já não existirá.

Fonte: Correio do Povo de 07/01/2011

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

ABU - NÃO - DA - BI

Por estar arrasado, indignado e para não escrever besteiras faço minhas as palavras de Marco Weisseimer, no seu blog RsUrgente

O preço da soberba: o Inter “preservou” tanto seu time que ele ficou em Porto Alegre


Havia algo de estranho no ar. Um certo aroma de anti-clímax. Milhares de colorados atravessaram mares e continentes para chegar aos Emirados Árabes. A confiança era grande. Muito grande. Mas havia algo de estranho no ar. Diferente do que ocorreu no Japão. Uma coisa chamou-me a atenção nos últimos dias. As entrevistas de jogadores, dirigentes e do técnico do Inter falavam do “nervosismo da estreia”, do “frio na barriga”, dos terríveis “minutos iniciais”. Não era a primeira vez que o Colorado participava de uma competição desse porte. Esses discursos pareciam dizer o contrário. Já entre a torcida o clima era de máxima confiança e esperança, razão que levou milhares de pessoas a viajar milhares de quilômetros.
No fim, o problema não foi o “frio na barriga” ou os “minutos iniciais”. Ao final do jogo, os comentaristas esgrimiam suas primeiras teses classificando a derrota do Inter para o Mazembe de “fiasco”, “vexame”. O Inter perdeu para um time ruim, repetiam em coro. O Mazembe pode até ser um time ruim. Mas, nos 90 minutos, o time ruim foi o Internacional. O Mazembe teve um goleiro que defendeu todas as bolas chutadas pelos atacantes colorados. Já o goleiro colorado não defendeu as duas que os africanos dispararam. A pontaria dos atacantes africanos funcionou. Já a do “ataque” colorado…A defesa e o ataque do Inter foram muito ruins. O time da República Democrática do Congo esbanjou força, confiança e eficiência. Não tiveram frio na barriga em nenhum momento do jogo.
Pior é ouvir, ao final do jogo, o inabalável Alecsandro dizer que fez uma boa partida no primeiro tempo e que só não fez um gol porque Tinga o atrapalhou. Aí podem ser encontradas algumas razões para a derrota. A permanência desse rapaz na equipe, após meses de repetidas atuações medíocres, é indicativo de uma certa soberba que aposta no valor de alguns supostos “medalhões”. Especialista em auto-promoção e em entrevistas sempre generosas consigo mesmo, o centroavante colorado saiu de campo repetindo o mesmo mantra de sempre: joguei bem. Imagine quando jogar mal.
Mas certamente ele não é o único responsável pela derrota. Os maiores responsáveis são os dirigentes do Inter e o técnico Celso Roth que passaram o segundo semestre repetindo que era preciso poupar o time para o Mundial. Após ganhar a Libertadores, o Inter arrastou-se pelo Campeonato Brasileiro, repetindo medíocres atuações, mais ou menos como a de hoje. Maior tempo de posse de bola e absoluta incompetência ofensiva. Toca pra cá, toca pra lá. Bola para Kleber. Chuveirinho pra área. Alecsandro sempre escondido atrás dos zagueiros, esperando uma falha da defesa. Na saída do jogo, um torcedor definiu bem esse quadro: o Inter passou seis meses sem jogar e acreditou que, num passe de mágica, voltaria a jogar bem em um jogo decisivo. Jogou exatamente o que vinha jogando.
Foi um fiasco, é verdade. Mas isso não é o principal. A derrota do Inter para o Mazembe mostrou que o futebol tem sua racionalidade própria. Na imensa maioria das vezes, vitórias e derrotas não são fruto do acaso, tem boas razões a explicá-las. O problema do Inter não foi o frio na barriga ou o nervosismo da estreia. O problema foi uma decisão equivocada de sua direção e de sua comissão técnica que desprezaram a ideia de que a qualidade no futebol tem a ver, entre outras coisas, com repetição, com a atitude de mudar o que não está funcionando. Não foi o nervosismo da estreia que derrotou o Colorado. Foi a soberba dos senhores Fernando Carvalho, Vitória Pífero e Celso Roth que acreditaram que o futebol apareceria num estalar de dedo, após meses guardado no armário, para se preservar. O Inter preservou tanto o futebol que foi campeão da Libertadores que ele acabou ficando em Porto Alegre. Agora é tarde. É enfiar a viola no saco e aguentar a flauta dos gremistas que não esperavam um Natal tão generoso. Resta o consolo (pequeno para um torcedor, é verdade) de que o futebol tem algo a nos dizer sobre a vida, seus acertos e erros. Os fiascos e os sucessos não caem do céu. Eles são cuidadosamente tecidos no dia-a-dia.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Copas na Rússia e Catar são o ápice da mercantilização do futebol

  Gabriel Brito, da Redação   do Correio da Cidadania
 
Na tarde de 2 dezembro, noite em Zurique, a FIFA elegeu as sedes das duas Copas do Mundo que serão jogadas após a edição em terras brasileiras. Para 2018, deu Rússia, que deixou para trás Inglaterra, Holanda/Bélgica e Espanha/Portugal. Quatro anos depois, a Copa irá pela primeira vez ao Oriente Médio, mais precisamente à ilha da fantasia chamada Catar, que bateu EUA, Coréia do Sul, Japão e Austrália.
 
Para os incautos, é possível ver surpresa nas escolhas, especialmente a segunda. No entanto, a eleição dos dois únicos países da concorrência ditos em desenvolvimento apenas confirma tendência que a entidade máxima do futebol inaugurou no novo século, muito bem conectada com os movimentos da economia e geopolítica globais. "Ambos possuem em comum o futebol em desenvolvimento e fortunas a serem investidas", publicou o Diário Lance.
 
Fora o abismo entre a tradição russa e catariana no esporte, o diagnóstico é preciso. As escolhas recentes de África do Sul e Brasil atestam o fato, assim como as Olimpíadas de Pequim (2008) e as Olimpíadas de Inverno em Sochi, Rússia, em 2012. Tanto FIFA como COI mostraram suas verdadeiras faces nos últimos anos, atrelando escolhas a interesses econômicos, sob justificativa de desenvolver novos pólos, o que vem sendo crescentemente desmascarado.
 
O real objetivo é a expansão de mercados, o que tem sentido teoricamente, porém, não da forma que temos visto. Além do mais, o processo de escolha foi recheado de escândalos. Uma equipe de reportagem do Sunday Times mostrou, novamente, a fragilidade ética dos membros do Comitê Executivo da FIFA. Passando-se por empresários americanos, os jornalistas insinuaram pagar propina para que dois delegados votassem na candidatura ianque, ‘acordo’ que acabou selado e prontamente divulgado ao mundo. A FIFA afastou ambos temporariamente, deu punições brandas e tocou o barco.
 
Para muitos, foi exatamente esse furo que minou a candidatura inglesa, a que dispunha de maior infra-estrutura já construída, enorme tradição e fanatismo pelo jogo e, já que a FIFA ama tanto dinheiro, trata-se do centro futebolístico mais rico do mundo - é certo que de forma mais que questionável, com ricaços se apoderando cada vez mais dos times e ofendendo tradições, mas nada incômodo para os padrões da entidade.
 
Exatamente por isso, os ingleses são os mais inconformados. Mas não são os únicos. O diário alemão Bild ironizou as escolhas: "Katarstrophe" era sua manchete, em alusão ao oásis financeiro do oriente. Portugueses e espanhóis também estão em fúria, acusando sem meias palavras que a Rússia, liderada por Putin, maior representante da postulação, comprou a vitória.
 
Essa é a atual realidade do futebol: a mercantilização do esporte vive seu auge e poderosos agentes econômicos, de diversos setores, perceberam esse excelente filão, muito atraente para seus empreendimentos e sob forte chancela oficial, dos governos/contratantes, aliados de primeira hora dos mercados e também ávidos pelos negócios que tais eventos proporcionam.
 
Para alimentar essa ciranda, até conseguiram popularizar a falácia de que uma Copa ou Olimpíada pode trazer enormes dividendos futuros para os anfitriões, impulsionando inclusive o crescimento nacional. Tal artimanha já foi desvendada por estudos de diversos economistas, aclarando que nem no melhor dos casos a economia sofre pulsações muito visíveis. Pelo contrário, a conta costuma fechar é no vermelho; o ‘capital’ moral e espiritual da população local, além da notoriedade do momento, seriam os efeitos mais verdadeiros.
 
2010 e 2014 desnudam verdadeiras intenções
 
Em alguns casos, nem isso. A África do Sul já provou o quanto esse modelo é cercado de embustes. Sua Copa custou caríssimo, a população pobre e negra foi segregada do torneio, trabalhadores locais que pretendiam capitalizar com o evento foram esmagados pela blindagem aos patrocinadores oficiais e os funcionários contratados para trabalhar no mundial foram constantemente enganados. Além de o governo ter bancando sozinho os 8 bilhões de reais que custaram a festa.
 
No Brasil, que ainda falaremos muito em outras ocasiões, a coisa já anda muito preocupante. Diversas licitações foram feitas nas coxas, as principais obras em estádios (hiper-inflacionadas desde a saída, pois pretendem atender a um modelo de estádio-shopping elitizador) já estão loteadas entre as mais famosas e insuspeitas empreiteiras e Ricardo Teixeira está envolvido em diversas falcatruas, como sempre na verdade.
 
A mesma imprensa inglesa que ‘corrompeu’ dois delegados da FIFA, neste caso através da BBC, publicou matéria em que denunciava a ISL (empresa de marketing da FIFA, falida em 2001 por inúmeras maracutaias, mas que enriqueceu muitos amigos da entidade) de pagar, durante 10 anos, propinas para dirigentes, entre eles o nosso ilustre Teixeira, que teria recebido 17 milhões de reais no período. Outros delegados sul-americanos da FIFA também aparecem. Por fim, a entidade acabou de pagar US$ 5,5 milhões para arquivar um processo de corrupção na corte de Zurique, o que mostra a grande utilidade na neutralidade deste pequeno e pacato país.
 
Além disso, o Diário Lance descobriu o golpe que o cartola máximo de nosso país pode dar com a Copa. Presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL), constituiu sociedade para administrar os lucros da Copa. De um lado a CBF, com 99,9%; de outro Teixeira, auto-incluído, com 0,01%. Note-se que ele está nos dois lados do balcão. Por fim, pequeno contrabando no texto do contrato social do COL permite ao seu presidente (Teixeira!) destinar os lucros para onde bem entender, sem respeitar qualquer proporcionalidade. Ou seja, pode simplesmente embolsar a montanha de grana que virá.
 
Isso porque na época da candidatura brasileira tal sociedade foi constituída sem fins lucrativos. Após a vitória, mudou-se seu caráter. Não é preciso dizer nada mais, até porque os demais integrantes da equipe organizadora são da mesma estirpe: filha do João Havelange, advogado do Daniel Dantas...
 
Homens de visão
 
Voltando ao ponto central, o Correio publicou matérias e artigos corroborando a noção de que tais eventos têm sido direcionados a locais com mais campo aberto para os negócios. Note-se que os dois eleitos possuem muito mais necessidade de obras de infra-estrutura que os demais, nos quais muito pouco teria de ser construído ou reformado.
 
E mais, são exatamente os dois mais frágeis em termos institucionais. Como mencionou o célebre Wikileaks, através das palavras de um diplomata americano, no melhor folhetim de fofocas da ‘alta sociedade’ de todos os tempos, a Rússia é um Estado-máfia. Pura verdade. Foi a alta burocracia do antigo regime que se apropriou das principais riquezas e meios produtivos do país, configurando uma plutocracia com negócios pelo mundo inteiro, vários com condenações internacionais.
 
Quanto ao Catar, não dá nem pra dizer que possui alguma institucionalidade. Seus ‘donos’ fazem o que querem com a renda do petróleo, criam cidades-cenários cheias de ostentação, ao passo que controlam seu povo na mão de ferro. Regime despótico como os dos vizinhos Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, que, aliás, nunca sensibilizarão a nossa mídia, ao menos enquanto não contrariarem algum interesse-chave dos EUA.
 
Dessa forma, a velha lógica de maximização dos lucros, tão em voga, toma conta do futebol. Como disse Patrick Bond, professor e economista da universidade de Kwa-Zulu Natal, na África do Sul, "o problema é que se hipoteca grande parte do orçamento público em infra-estruturas que reforçam o modelo de desenvolvimento neoliberal, em vez de se concentrarem em uma aposta social e sustentável".
 
Bom, é sabido que desde 2008 tal modelo de ‘desenvolvimento’ está completamente em xeque e, assim como outros momentos do capitalismo, essa fase será suplantada por outros processos. A chamada Era de Ouro, após a crise de 29, durou seus 40, 45 anos. A era neoliberal, inaugurada nos 80, terá seus estertores e atingirá mais ou menos a mesma duração.
 
Se os homens da FIFA têm alguma noção de mundo, e sua esperteza mostra que têm de sobra, devem estar calculando que tal modelo de luxo, modernidade e altos custos para eventos esportivos também irá se esgotar, principalmente após sucessivos golpes e frustrações nacionais com as falsas promessas. Logo, nada melhor do que radicalizar tal lógica, no que servem perfeitamente os dois países escolhidos, de modo que o canto do cisne seja o mais rentável possível.
 
Para os torcedores, ficam as lamentações de ver o evento esportivo mais festejado do mundo ser dominado pelos mesmos abutres que já nos infernizam em todas as demais esferas da vida. E mais a vergonha de ver uma paixão tão popular servir de ponte para diversas roubalheiras e enriquecimento de gente espúria, como é o caso dos homens que integram os principais cargos da FIFA, federações continentais, nacionais, estaduais...
 
"Talvez o Blatter, de 74 anos, não viva para ver sua obra concluída. Trata-se do coveiro do futebol", vaticina Mauro Cezar Pereira, da ESPN Brasil, emissora quase solitária no combate aos desmandos que já ocorrem em torno dos eventos marcados para o Brasil.
 
Busca-se dinheiro e mais nada. Não se respeita a liturgia do jogo, os estádios são cada vez mais modernos e sem alma, os anunciantes cada vez mais protagonistas. Não os conhecemos, não os queremos, muito menos os elegemos, mas essa pequena camarilha pode tudo com o esporte mais popular do mundo. A escolha de Rússia e Catar para sediar as Copas de 2018 e 2022 não surpreende. Apenas escancara que o futebol, lamentavelmente, está na mão de mafiosos.