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sábado, 19 de maio de 2012

Discografia Antonio Nobrega










07 - Antonio Nobrega - Nove de Frevereiro 02 - 2006

Antonio Carlos Nóbrega nasceu em Recife, em 02 de maio de 1952 é um dos nossos melhores artistas sem sombra de duvidas.
Filho de médico, estudou no Colégio Marista do Recife. Aos 12 anos ingressou na Escola de Belas Artes do Recife. Foi aluno do violinista catalão Luís Soler e estudou canto lírico com Arlinda Rocha.
Com sua formação clássica, começou sua carreira na Orquestra de Câmara da Paraíba em João Pessoa, onde atuou até o final dos anos 60. Na mesma época participava da Orquestra Sinfônica do Recife, onde fazia também apresentações como solista.
Como contraponto à sua formação erudita, Antonio Nóbrega participava de um conjunto de música popular com suas irmãs.
 
"Só que a música popular que eu compunha e tocava era a das rádios e da televisão: Beatles, Jovem Guarda, a nascente MPB, Caetano Veloso, Edu Lobo". dizia ele.
 
Em 1971 Ariano Suassuna procurava um violinista para formar o Quinteto Armorial e, após ver Antônio Nóbrega tocando um concerto de Bach, lhe fez o convite que mudaria completamente sua carreira musical.
Antônio Nóbrega, que até essa ocasião tinha pouco conhecimento da cultura popular, passou a manter contato intenso com todas suas expressões como os brincantes de caboclinho, de cavalo-marinho e tantos outros, que passou a conhecer e pesquisar.
Nóbrega revelou-se um fenômeno, ao conseguir unir a arte popular com a sofisticação. É, literalmente, um homem dos sete instrumentos, capaz de cantar, dançar, tocar bateria, rabeca, violão etc. Realizou espetáculos memoráveis em teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo, com destaques para Figural (1990) e Brincante (1992). Figural é um espetáculo em que Nóbrega, sozinho no palco, muda de roupa e de máscaras para fazer uma das mais ricas demonstrações da cultura popular brasileira e mundial.
Terminou em 12 de novembro de 2006 a temporada paulistana do espetáculo 9 de Frevereiro, e, em seguida, iniciou a temporada carioca. Este espetáculo, cujo nome é uma alusão ao carnaval pernambucano e um trocadilho com frevo, explora várias formas de se tocar frevo: com uma orquestra de sopro, com um regional, com violino e percussão etc. Também há várias das formas de se dançar frevo: com apenas um dançarino (Nóbrega) em passos estilizados de dança moderna, com vários dançarinos em passos de frevo, com e sem sombrinha e até o público todo, em ciranda de frevo. Como não poderia faltar em um espetáculo enciclopédico sobre o frevo, há pelo menos dois momentos didáticos: em um a orquestra explica várias modalidades e costumes do frevo, e Antonio Nóbrega ensina uma pessoa da platéia a dançar frevo.
Como sempre, Nóbrega é praticamente desconhecido na televisão do Brasil. Apesar disso, seus espetáculos são extremamente concorridos.

domingo, 29 de abril de 2012

Musica das buenas

Jamelão – Aqui Mora O Ritmo (1962)

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Créditos: UmQueTenha














Elenco do Teatro da PUC de São Paulo – Morte e Vida Severina (1966)

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Beth Carvalho – Coração Feliz (1984)

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terça-feira, 24 de abril de 2012

Raul vive!!! Veja, e ouça, e viva Raul!!!

Ravel no blog ARQUIVOS CRITICOS

Me desculpe quem chegou a conclusão diferente, porventura até oposta, mas de minha parte estou convencido de que o documentário Raul: o início, o fim e o meio é uma obra-prima. Não um filme “perfeito”, bem entendido – mesmo porque um filme sobre Raul não poderia ser isso (ou melhor, cultivar a ilusão de ser isso) sem ser absolutamente infiel e desrespeitoso a seu “objeto” –, mas um filme de uma grandeza inamovível, na força (não importa se “única”) com que traz à tona a grandeza e a força – mas também os dramas e contradições – do próprio Raul.
Algo como a aura de um milagre cerca esse filme, como cercou, em seus auges intermitentes (mas constantes), a vida e “o trabalho”, ou seja, o ser em curso de Raul. Em primeiro lugar, é claro, pela mera “presença” de Raul no filme, em registros tão vivos e intensos que tornam essas aspas quase ofensivas. Quando, quase no início, Raul surge em estado de graça, cantando “Loteria da Babilônia” e declamando o manifesto da Sociedade Alternativa, a energia e a vitalidade (eu quase escrevia luminosidade) que emanam de seu corpo, sua voz e suas palavras contêm algo que não se pode chamar senão de divino. São cenas que já circulam na internet, mas mesmo os fãs que as conhecem, e que sabem o que foi Raul, provavelmente se assombrarão com a imponência e altissonância dessas imagens, como que devolvidas à grandeza de seu instante-evento na ampliação da tela e do som da sala de cinema.
E, cá entre nós, esse episódio fantástico e já tão comentado da mosca na sopa de Paulo Coelho (sopa de Coelho é maldade...), a aguadíssima sopa que Mr. Paul Rabbit tentava nos fazer engolir no momento em que uma vivíssima (e, como ele mesmo parece sugerir inconscientemente, quiçá brasileiríssima) mosca surgisse na cena, e, como que premiando nosso espanto, se tornasse tão incômoda a ponto de silenciar o Coelho e fazê-lo tentar eliminá-la com uma patada[1]; ou essa cena verdadeiramente incrível é uma prova de que uma espécie de chiste divino cerca a própria existência – e até ex-existência – do artista de gênio ou é (sabe-se lá!) fruto de um tremendo embuste, de um “planejamento” cujo imprevisível resultado, de qualquer forma, não poderia ser mais feliz. Se não for o caso, é claro, de uma transmigração meio à Quincas Borba, de um episódio, digamos, budista-tropical em plenos Alpes suíços, em pleno castelo medievalista de um dos escritores católicos mais vendidos do mundo...

E o que dizer da beleza quase transcendente do testemunho de Vivian Seixas, entrevistada pela própria mãe, Kika, e vertendo lágrimas de saudades pelo pai mas também de felicidade plena de se sentir filha dele, e 
poder falar dele?


Vivian Seixas
A força e a genialidade de Raul se espraiam de tal forma pelo filme de Walter Carvalho – sobretudo no início – que mesmo um Pedro Bial se deixa contaminar por ela, quando registra o privilégio de ter sido sua testemunha no auge de sua explosão. Mas se essa genialidade pode animar um farsante nato (ou inato) como Bial, ela também pode preocupar outro – vide a invectiva de Paulo Coelho de que não se fale do “mito” Raul (que, no entanto, afirmava: “não sou nenhuma ficção”) –, e ainda constranger um talentoso mas Veloso Caetano, cujos olhos, ou muito me engano, deixam ler, em algum momento, a velada confissão de que aquele artista ao qual finalmente alguém resolveu fazer justiça pública é maior do que ele.
Mas também pelos testemunhos propriamente documentais que colhe e registra o documentário de Carvalho é um grande filme. Por exemplo, o testemunho de críticos e produtores musicais a respeito da novidade, qualidade e centralidade de Raul – e não de outros baianos – na contracultura musical brasileira. Não que se trate de um trabalho exaustivo nesse sentido: muito ainda há a ser esclarecido, por exemplo, a respeito das parcerias e amizades de Raul, incluindo aí sua fase realmente mais problemática, a das farras com Oscar Rasmussem. Mas o pouco que Carvalho fez – sobretudo, é claro, no que diz respeito à mais famosa dessas parcerias –, além da própria visibilidade que ele deu a certos fatos, a certos pingos que há muito demandavam ser colocados nos is, já constitui um ato de justiça à memória e à obra, para sempre vivas e indomáveis, de Raul.
O maluco e o malandro, digo, “mago”

"Ó, pousou aqui, ó."
Ninguém em sã consciência pode negar a importância de Paulo Coelho na trajetória artística e pessoal (que são uma coisa só) de Raul, mas o êxito posterior do “mago escritor” parece ter confundido um pouco as coisas a esse respeito, levando muita gente a pensar que era ele o responsável pelas “super letras” (encontrei isso num blog) dos primeiros discos solo do parceiro. É grandemente constrangido, com uma humildade um tanto envergonhada (mas, enfim, corajosa), que Rabbit admite que foi Raul quem o ensinou a fazer letras de música. Que foi Raul, na prática, quem compôs Gita, ou seja, que deu acabamento ao Bhagavad-Gita do qual Coelho deve ter feito um resumão (que, no filme, ele chama de “poesia”); assim como compôs “Metamorfose Ambulante”, que dom Paulete assevera que gostaria de ter feito com Raul, meio que sabendo que isso teria feito mais diferença para si mesmo que para a canção, pois ele seria o que sempre foi: um coadjuvante na “relação” com Raul, alguém que este literalmente levava consigo, e não o contrário. Exatamente, aliás, como em “Super-heróis”: “Chamei dom Paulo Coelho e saímos lado a lado...”.

Mas não vou me deter muito nesse terreno delicado, talvez uma dessas histórias que, não fossem certos impedimentos, seriam mais bonitas – mas também mais dolorosas – do que foram. Também não sou partidário da tese da “perda” de Raul por Coelho, o que o filme também deixa perceber que é mais uma falácia que este sustenta implicitamente, quase se vangloriando dela. Coelho pode ter conferido – para o bem e para o mal – mais “substância underground” ao parceiro, mas quando Carvalho registra, por exemplo, a presença de Edy Star no trajeto inicial de Raul (apesar da ausência quase total, e imperdoável, de Sérgio Sampaio, que Edy apenas menciona), obriga o espectador a saber que essa substância já circulava nele; em suma, que antes da Sociedade Alternativa, Raul já havia “fundado” – e, ao lado de Star, Sampaio e Miriam Batucada, honrado com 
esse impagável “manifesto” sonoro – a Sociedade da Grã Ordem Kavernista.
Os kavernosíssimos Kavernistas
A importância de Paulo Coelho (mas também, anote-se, de Marcelo Motta) na vida e na obra de Raul foi ter lhe dado densidade – uma “densidade mística” que desde cedo foi também humana –, mas como parte de uma busca do próprio Raul (que foi quem o procurou, como fica muito bem registrado). O salto da circense Grã Ordem (a rigor, pouco mais que um Mutantes mais precário e “baianizado”) para o protéico – e magnífico – Krig-Ha-Bandolo! de alguma reflete esse processo. Ainda assim, como se diz, é lindo perceber que o momento de maior grandeza do “bruxo”, e que afinal o redime no filme de Carvalho, foi aquele em que, engolindo corajosamente o constrangimento, ele admite que “o maior parceiro de Raul foi ele mesmo”.

O que serve pra reafirmar que boa parte das obras-primas de Raul – por exemplo, “Ouro de tolo”, “Metamorfose ambulante”, "O trem das 7", "S.O.S.", "Para Nóia" e "É fim do mês" (pra ficar apenas nos três primeiros discos) – são de autoria mais ou menos exclusiva de Raul. Digo mais ou menos porque também é verdade que o próprio Raul praticou suas malandragens autorais: para ele, como atesta outro parceiro importante, Cláudio Roberto, os empréstimos tomados a canções estrangeiras eram casos de justiça social. Só faltou assinalar que, a despeito de assassinatos como o de “You really got me” (que, por outro lado, já pertence patrimônio universal do rock) por um estrambótico “Dá-lhe que dá”, quase todos os “plágios” de Raul foram na verdade recriações musicais extremamente bem-sucedidas, repletas de originalidade. Ou alguém vai reduzir o valor, por exemplo, de “Ave Maria da Rua” só porque seu arranjo é uma imitatio de “Bridge under troubled water”?
Os dois diabos

Uma das maiores virtudes do filme de Carvalho é abordar a relação de Raul com o misticismo de forma clara e, sem trocadilho, desmistificadora. Fica claro, em primeiro lugar, que Raul nunca foi submisso a quaisquer seitas ou ideias esotéricas, como, aliás, de qualquer tipo. É outro episódio engraçado envolvendo dom Paulete: o thelêmico Euclydes Lacerda, ao lado do idem Toninho Buda, antes ou depois de revelar que o catolicíssimo Coelho não havia pedido desfiliação da Ordo Templi Orientis (o que, depois, causa profundo incômodo no mesmo), confirma que era Mr. Rabbit, na dupla, o principal receptáculo da doutrina, sendo aliás bastante obediente a ela... "Raul não", Euclydes completa, com um sorriso finíssimo. Vale também o testemunho de Caetano, que, visitado por Raulzito em sua fase mais “alternativa”, não conseguia evitar a postura irônica, o que, ele assevera, despertava o instinto irônico do próprio Raul...
Toninho Buda

Mas também é importante o esclarecimento – e não há palavra melhor – a respeito do conteúdo do esoterismo de Raul. O gesto fundamental, nesse caso, pertence a Toninho Buda, que, devidamente caracterizado, lembra distinção, em "Rock do diabo", entre o diabo dos toques e o do exorcista, o demônio grego e o católico, para afirmar o disparate que é a redução de um ao outro, assim como a da imagem de Lúcifer enquanto iluminado à figura chifruda e ridícula da iconografia católica. E Euclydes ainda lembra que “faz o que tu queres” não quer dizer simplesmente “faz o que quiseres”, deixando implícito que aquele “tu” remete a uma vontade interior autêntica e profunda.
Não que isso tenha valido o tempo todo para o próprio Raul. O fato, porém, é que todo o filme de Carvalho – e mesmo nos momentos mais dolorosos –, transpira o panteísmo raulseixista, ou aquilo que de bom grado eu chamaria seu egoísmo-panteísmo. Aliás, não sei se eu devo ficar muito grato ou muito puto com Carvalho, pois tenho a impressão de que seu filme diz, indireta mas suficientemente, tudo o que eu gostaria de dizer sobre Raul, e que eu arrolaria sob sua divisa, a meu ver, mais importante: "O amor de todos os mortais".
As mulheres

Um mérito indiscutível de Carvalho foi ter conseguido colher entrevistas de todas as ex-mulheres mais ou menos oficiais de Raul – à exceção da primeira delas, a sempre esquiva Edith Wisner, mas mesmo nesse caso as cenas e fotos (sobretudo do casamento), de uma beleza tão tocante quanto a da própria Edith, de alguma forma suprem a lacuna. Ou melhor, não suprem, mas é até melhor que seja assim, tudo apenas tocado, em se tratando da que foi, provavelmente, a relação mais “romântica” de Raul.
Edith e Raul
Nos outros casos, principalmente de Kika e Gloria Vaquer, fica o testemunho do quão apaixonante foi Raul, o que transpira na orgulhosa reivindicação dessas mulheres belas e fortes de terem sido amadas por ele; e também, no caso de Gloria, no abatimento, ainda presente mas não reduzido à mágoa, de ter sido preterida em algum momento. A certa altura, aliás, Gloria explica o fato de Raul ter tido amantes como um fato relacionado à cultura brasileira, na qual a fidelidade conjugal geraria a suspeita de homossexualismo – o que naturalmente faz pouca justiça à filosofia libertária do próprio Raul, esta sim, à qual ele nunca deixou de ser fiel.
Por outro lado, é pena que Carvalho não tenha chegado a explorar um dos aspectos mais interessantes das relações amorosas de Raul, que é sua imbricação com o trabalho artístico, por meio de parcerias em obras-primas como as delicadíssimas “Sunseed” e “Mata virgem” e a enfezadíssima "Pagando brabo", a primeira com Gloria Vaquer e as outras duas com Tânia Menna Barreto (ambas do excelente Mata virgem), ou as, digamos, transcendentais "DDI (Discagem Direta Interplanetária)", "O segredo da luz" e "Nuit", todas  e várias outras  com Kika Seixas; a última, com um "toque" especial de Schopenhauer.

“E quão longa é a noite...”

Outro registro importante: a declaração de, salvo engano, Gloria Vaquer de que foi o álcool e a cocaína, não a maconha, que esvaíram as forças – e a beleza – do Maluco Beleza. É chocante, aliás, a percepção de como foi abrupto o início da decadência de Raul, cujo primeiro sintoma inequívoco, no filme, é justamente um registro de “Maluco Beleza”, realizado, provavelmente, em estado de semiembriaguez. É comovente ver Raul, a certa altura, tentando interpolar um pequeno discurso sobre si mesmo no meio da canção e obrigando-se a calar, ao perceber que a pausa da letra não era suficiente. É comovente ver as fotos e imagens do ídolo combalido, com os olhos mortiços e o rosto inchado, em contraste com as performances vigorosas de poucos anos antes.
Mas é comovente constatar, também, que esse vigor nunca arrefeceu totalmente, e nesse sentido as imagens dos derradeiros shows com Marcelo Nova já redimem, por si sós, o que quer que eles possam ter significado de ruim em termos de saúde para Raul. O fato fundamental a esse respeito é muito simples, e perceptível no filme: Marcelo proporcionou a Raul a chance de continuar vivo e ativo, além de produzir com ele sua última obra-prima discográfica, não menos irregular mas não menos vigorosa que a maioria delas, a caudalosa A panela do diabo.
Marcelo e Raul, + ou novos
Só pra terminar

Eu já disse, e repito, que Raul: o início, o fim e o meio não é filme "perfeito" – eis aí, aliás, uma bela e espúria palavra. Pelo contrário, é um filme tão irregular quanto foi a vida e a obra de Raul, e não poderia ser diferente, se Carvalho decide ser fiel à vida de Raul, não só a seus fatos mas, principalmente, seu espírito. É um tipo de “respeito pelo objeto” nos obriga a assistir e até nos saturar com cenas mais ou menos ridículas – mas sempre, também, seu quê de poesia. Como, por exemplo, Carvalho poderia ser fiel ao espírito de Raul se não concedesse o espaço reivindicado por seus amigos de infância, com suas demandas de publicidade ou suas “performances” tão risíveis quanto, às vezes, admiráveis? É verdade que às vezes o excesso de edição incrementa (ou até determina) o kitsch da situação[2], mas nem o kitsck – e, claro, o brega – era estranho a Raul nem Carvalho se furta ao outro lado, digo, um dos outros lados de Raul, a acidez irônica, permitindo-se, por exemplo, acentuar o ranço autoritário de um desses tipos impagáveis que encarrega-se, ele mesmo, de mandar cortar a cena – o que é impagavelmente mantido na edição.
Trazer à tona o espírito de Raul significa ouvir seus espíritos, os que emergiram dele e os que o rondaram, os que se comunicaram com ele, incluindo aí aqueles de onde ele adveio (por exemplo, Élvis, Gonzaga etc.). Ouvi-los e respeitá-los, menos, porém, no sentido de uma atitude formal ou servil que no de atender ao que eles demandam – de responder-lhes, de dialogar com eles. Às vezes, talvez, de formas meio abusivas, como me parece ser pelo menos um caso: o da inclusão da mensagem que uma das filhas de Raul lê pela internet recusando-se a conceder entrevista sobre o pai – inclusão algo birrenta e perfeitamente desnecessária, mesmo porque a moça acabou concedendo a entrevista, que aliás tinha acabado de ser mostrada. Se também uma pequena baixeza como essa pode ser tributada ao “espírito de Raul” (por exemplo, em “Você roubou meu videocassete”), este seria um caso, talvez, em que o diretor poderia evitar esse “contágio”...
Mas são detalhes, embora detalhes importantes, como tudo o que diz respeito a Raul para seus fãs inesgotáveis. Pois Raul é eterno, e sempre vai haver um maluco para gritar, em alguma “cover night” de rock inglês: TOCA RAUL!!! Sempre vai haver uma criança que, distraída ou atentamente, ouvirá Raul e se encantará, no mesmo instante e para sempre, com sua verve, seu ritmo e seu canto.

[1] Não fica claro se ele conseguiu, o que aliás é bem possível: acertar na mosca, como mostra outra cena (também, aliás, algo impressionante), é uma especialidade de Coelho. Mas é claro que, a despeito disso, Carvalho não deixaria de dar a última palavra a Raul: “Porque cê mata uma e vem outra em meu lugar!”.

[2] Numa cena, um dos amigos – o, digamos, mais “maluco beleza” – de Raul canta “Blue suede shoes”, em cenas intercaladas com as de um registro ao vivo de Élvis, cenas que – é o pior de tudo – se fundem no fim.

domingo, 25 de março de 2012

(Elis Regina-Saudade do Brasil (1980)

Elis Regina-Saudade do Brasil (1980)
Release não informado
Créditos: Makingoff
Poster
Sinopse
Em 1980, Elis Regina apresentou no Canecão no Rio de Janeiro, o show Saudade do Brasil, do disco homônimo, lançado em Abril de 80. Trata-se de um show grandioso, com arranjos geniais do mestre César Camargo Mariano, com uma banda fantástica incluindo o grande guitarrista Natan Marques.
O show foi dirigido por Ademar Guerra, e o show mistura de forma sensacional um grupo de dançarinos e cantores de grande talento que faziam coreografias elaboradíssimas no decorrer do show, juntamente com a Elis cantando que em alguns momentos arrisca uns passos junto com a turma.
Trata-se de um show grandioso, com momentos áureos, como a versão de "Aquarela do Brasil" do genial Ary Barroso, misturada com cantos indígenas, criando um efeito glorioso. Além de um repertório fantástico, incluindo "Redescobrir" do genial Gonzaguinha, "Alô Alô Marciano" da sua amiga-irmã a grande Rita Lee, numa versão que a Rita pirou(um pouco mais) quando ouviu.
Enfim, um registro cinematográfico de um show histórico e grandioso, um show que nos traz profunda "Saudade do Brasil".
 
Quem não tiver acesso ao MKO solicite torrent pelo email do blog
Screenshots


Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Elis Regina
César Camargo Mariano
Nathan Marques
E grandes artistas
Gênero: Documentário/Musical
Diretor: Ademar Guerra
Duração: 54 minutos
Ano de Lançamento: 1980
País de Origem: Brasil
Idioma do Áudio: Português
Qualidade de Vídeo: TV Rip
Vídeo Codec: XVID
Vídeo Bitrate: 1234 Kbps
Áudio Codec: MPEG-1 Layer 3
Áudio Bitrate: 102 Kbps
Resolução: 352 x 272
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Tamanho: 516 MB Mb
Legendas: Sem Legenda
  

domingo, 4 de março de 2012

Louis Armstrong – Gold collection (Remastered-2007)







  Gênero Jazz / Soul / Blues
135 MB


01. Louis Armstrong – What A Wonderful World
02. Louis Armstrong – Cabaret
03. Louis Armstrong – Dream A Little Dream Of Me
04. Louis Armstrong – Mame
05. Louis Armstrong & Duke Ellington – Solitude
06. Louis Armstrong – Hello Dolly
07. Louis Armstrong – You Go To My Head
08. Louis Armstrong – I Gotta Right To Sing The Blues
09. Louis Armstrong & Ella Fitzgerald – A Fine Romance
10. Louis Armstrong – Georgia On My Mind
11. Louis Armstrong – When You’re Smiling (The Whole World Smiles With You)
12. Louis Armstrong – On The Sunny Side Of The Street
13. Louis Armstrong – Mack The Knife
14. Louis Armstrong – Rockin’ Chair
15. Louis Armstrong – Basin Street Blues
16. Louis Armstrong – Someday (You’ll Be Sorry)
17. Louis Armstrong – It Takes Two To Tango
18. Louis Armstrong – A Kiss To Build A Dream On



01. Louis Armstrong & Bing Crosby – Gone Fishin’
02. Louis Armstrong & Louis Jordan – (I’ll Be Glad When You’re Dead) You Rascal You
03. Louis Armstrong – La Vie En Rose
04. Louis Armstrong & Billie Holiday – My Sweet Hunk O’ Trash
05. Louis Armstrong – Blueberry Hill
06. Louis Armstrong – (What Did I Do To Be So) Black And Blue
07. Louis Armstrong – Do You Know What It Means To Miss New Orleans
08. Louis Armstrong – I Wonder
09. Louis Armstrong – When It’s Sleepy Time Down South
10. Louis Armstrong – I’m Confessin’ (That I Love You)
11. Louis Armstrong – Ain’t Misbehavin’
12. Louis Armstrong – When The Saints Go Marching In
13. Louis Armstrong – Struttin’ With Some Barbeque
14. Louis Armstrong – Swing That Music
15. Louis Armstrong – Old Man Mose
16. Louis Armstrong – I’m In The Mood For Love
17. Louis Armstrong – St. Louis Blues
18. Louis Armstrong – Lazy River
19. Louis Armstrong – West End Blues
20. Louis Armstrong – Potato Head Blues
21. Louis Armstrong – Wild Man Blues
22. Louis Armstrong – Heebie Jeebies

sábado, 3 de março de 2012

The Guitar Trío - 1996



http://img151.imageshack.us/img151/8159/front348.jpg

1. "La Estiba" (Paco de Lucía) – 5:51
2. "Beyond the Mirage" (Al Di Meola) – 6:10
3. "Midsummer Night" (John McLaughlin) – 4:36
4. "Manha de Carnaval" (Luiz Bonfá/Antônio Maria) – 6:11
5. "Letter from India" (John McLaughlin) – 3:54
6. "Espiritu" (Al Di Meola) – 5:30
7. "Le Monastère dans les Montagnes" (John McLaughlin) – 6:15
8. "Azzura" (Al Di Meola) – 7:58
9. "Cardeosa" (Paco de Lucía) – 6:36


http://img153.imageshack.us/img153/8409/dimeolamclaughlindeluci.jpg
 
Al Di Meola – guitarra (tracks 1-4,6-9), percussão (6)
Paco de Lucía – guitarra (1-3,5,7-9)
John McLaughlin – guitarra (1-5,7-9)


sexta-feira, 2 de março de 2012

Canções libertárias: Los Hermanos, de Atahualpa Yupanqui



Yo tengo tantos hermanos  /  Eu tenho tantos irmãos
que no los puedo contar.  /  que não os posso contar.
En el valle, la montaña,  /  No vale, na montanha
en la pampa y en el mar.  /  na planície e no mar.
Cada cual con sus trabajos,  /  Cada qual com seus trabalhos
con sus sueños, cada cual.  /  Com seus sonhos, cada qual.
Con la esperanza adelante,  /  Com a esperança adiante
con los recuerdos detrás.  /  Com as recordações para trás.
Yo tengo tantos hermanos  /  Eu tenho tantos irmãos
que no los puedo contar.  /  que não os posso contar.
Gente de mano caliente  /  Gente de mão quente
por eso de la amistad,  / por isso da amizade
Con uno lloro, pa llorarlo,  /  Com um choro pra chorá-lo
con un rezo pa rezar.  /  Com uma reza para rezar
Con un horizonte abierto  /  Com um horizonte aberto
que siempre está más allá.  /  Que sempre está mais além
Y esa fuerza pa buscarlo  /  E essa força pra buscá-lo
con tesón y voluntad.  / Com determinação e vontade
Cuando parece más cerca  /  Quando parece mais perto
es cuando se aleja más.  /  é quando se afasta mais.
Yo tengo tantos hermanos  /  Eu tenho tantos irmãos
que no los puedo contar.  /  que não os posso contar.
Y así seguimos andando  /  E assim seguimos andando
curtidos de soledad.  /  curtidos de solidão
Nos perdemos por el mundo,  /  Nos perdemos pelo mundo
nos volvemos a encontrar.  /  voltamos a nos encontrar
Y así nos reconocemos  /  E assim nos reconhecemos
por el lejano mirar,  /  pelo olhar distante
por la copla que mordemos,  /  pelo dístico que mordemos
semilla de inmensidad.  /  semente da imensidão
Y así seguimos andando  /  E assim seguimos andando
curtidos de soledad.  /  curtidos de solidão
Y en nosotros nuestros muertos  /  E em nós nossos mortos
pa que nadie quede atrás.  /  Pra que ninguém fique pra trás
Yo tengo tantos hermanos  /  Eu tenho tantos irmãos
que no los puedo contar.  /  que não os posso contar.
y una novia muy hermosa  /  e uma namorada muito bela
que se llama ¡Libertad!  /  que se chama Liberdade!

Créditos:  Douglas Ciriaco

Narciso Pires: ‘o agronegócio se transformou em um dos grandes e maiores beneficiários do governo’


CPT-MS
Comissão Pastoral da Terra - MS
Adital

A Banda Humanos Vermelhos estará no Tribunal Popular da Terra em MS

Narciso Pires
Uma inédita experiência que conjuga a militância política, defesa ativa dos direitos humanos e difusão da cultura da paz, com a expressão musical, define à Banda Humanos Vermelhos de Curitiba/PR-Brasil. Ela surge do Grupo Tortura Nunca Mais/PR fundada em 1995 por militantes da época da ditadura militar; que a sua vez da inicio à Sociedade DHPAZ/Paraná. Através dessas organizações desenvolvem em universidades do todo o Estado do Paraná oficinas e palestras musicais com o projeto chamado "Resistir é Preciso”. O resgate da memória histórica na luta contra a ditadura militar e as lutas atuais de resistência democrática no Brasil são as principais bandeiras que apresentam mediante o projeto. A Banda Humanos Vermelhos é o principal instrumento dessas organizações em suas atividades políticos-culturais de conscientização. A Comissão Pastoral da Terra-Regional Mato Grosso do Sul (CPT/MS), como integrante da Comissão Pró Tribunal Popular da Terra em Mato Grosso do Sul (TPT/MS) entrevistou o Narciso Pires, presidente da ONG Tortura Nunca Mais/PR, compositor e vocalista da Banda Humanos Vermelhos.

A seguir a entrevista:

CPT/MS - Como e quando surge a Banda Humanos Vermelhos?
Narciso Pires - A Banda Humanos vermelhos foi organizada em 2010 com militantes de direitos humanos comprometidos com a luta por uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna.

-Vocês formam um grupo musical, porém politicamente comprometido com a transformação da sociedade capitalista. Atualmente como convergem na teoria e na prática esses dois aspectos de vosso modo de atuação pública?
Nossa prática é de estimular a organização da sociedade. Nossos projetos sempre são de organização de Centro Culturais de Direitos Humanos com o objetivo de fomentar espaços de protagonismo cultural e político. Nossa percepção é de que as mudanças em nosso mundo somente serão possíveis com a ampla participação de nosso povo. É um processo lento de amadurecimento e de construção de consciências comprometidas com caminhos que contemplem a todos. Para tanto, a permanente denúncia do sistema de exclusão permeia o nosso trabalho. Com uma nova linguagem, pautada pelos direitos humanos indivisíveis, interdependentes e multiculturais, procuramos contribuir com o despertar dessas consciências. Somos, portanto, também um grupo político. Nossas músicas ressaltam esse propósito. Nosso trabalho visa atingir os corações e as mentes das pessoas.

- O Grupo Tortura Nunca Mais/Paraná-Sociedade DHPAZ/PR tem desenvolvido suas atividades com que orientação ou línea de ação?

Tanto uma como outra organização tem os mesmos propósitos. A banda é um instrumento dessas organizações. Trabalhamos sempre articulados com outras organizações da sociedade. A ideia da RESISTÊNCIA permanente ao sistema é o fio condutor de nossa atuação. O nosso entendimento é que as violações dos direitos humanos em seu espectro mais amplo (políticos, civis, econômicos, sociais, culturais e ambientais) tem a mesma raiz: O SISTEMA DE EXCLUSÃO E A SOCIEDADE DE CLASSES. O advento de um mundo novo só pode ser conquistado através da consciência, do amadurecimento e da vontade da maioria.

- Se registram diferentes tipos de violência contra os povos da terra por conta da defesa de parte do Governo e do Estado brasileiro de programas que interessam o agronegócio, os agrotóxicos, os transgênicos, o latifúndio, etc. Enquanto Grupo de direitos humanos como enxergam essa violência institucional e direta contra os que lutam por reforma agrária e seus territórios tradicionais no Brasil?

A questão da terra sempre foi um divisor de águas no Brasil. A colonização através dos latifúndios, a escravidão negra para servir principalmente ao latifúndio e a proclamação da república, através de um golpe militar, apoiado pelos poderosos senhores da terra insatisfeitos com a abolição da escravatura, bem como o estímulo migratório na República Velha para atender mais uma vez esses interesses, atraindo com mentiras os imigrantes e explorando-os em condições de quase escravidão. O golpe militar de 64, consequência direta da proposta do governo Jango de realizar as reformas de base em nosso país, dentre elas, a principal, a reforma agrária, dão a dimensão histórica do problema da terra. Após 9 anos de governo de esquerda, cujos integrantes principais sempre propuseram a reforma agrária e até a presente data não se realizando, nos faz perceber o quanto, ainda, são poderosos esses senhores de terra. Tão poderosos que o agronegócio se transformou em um dos grandes e maiores beneficiários desse governo, a ponto de mudar o Código Florestal para beneficiá-los e ampliar a devastação da Amazônia conforme os seus interesses. É nesse contexto que se mantém o conflito agrário. Falamos em governo (executivo), mas o parlamento e o judiciário compõem o quadro conservador que impede qualquer mudança significativa. Acreditamos, portanto, em decorrência dessa avaliação que a reforma agrária somente acontecerá, bem como colocar fim à violência no campo, com a prisão e a condenação de jagunços assassinos e os seus mandantes. E quando o nosso povo perceber que essas questões são de seu interesse imediato e que o seu posicionamento franco e a aberto é que fará a diferença, construindo finalmente um país mais justo e igualitário, pondo fim, por consequência na profunda exclusão humana no campo e na cidade

- Em que consiste a palestra musical: "Pela terra, pela vida, resistir é preciso”?

A palestra musical aborda toda essa problemática da terra, da violência, do desenvolvimento que contemple a todos, a construção de uma sociedade mais plural, mais igualitária e fraterna. Trabalha 13 músicas relacionadas com essas questões, mais a abordagem falada, sempre apontando para a necessidade do povo se organizar para mudar a nossa dura realidade, construindo coletivamente esse novo mundo. Ela aborda desde a reforma agrária, a questão indígena, a violência no campo, a migração forçada do campo e pequenas cidades para as médias e grandes, os bolsões de miséria formados no entorno dessas cidades e principalmente na necessidade de se organizar para o protagonismo transformador.

- Estamos aguardando com muito otimismo vossa apresentação e participação ativa e solidária com os movimentos populares de Mato Grosso do Sul, especificamente em Campo Grande. Qual é a vossa opinião sobre a atualidade do Tribunal Popular da Terra em nosso Estado?

Acreditamos que o TRIBUNAL POPULAR DA TERRA pode ser um importante instrumento de denúncia do quadro de exclusão existente, principalmente no campo, da violência e da ausência da vontade política governamental (os três poderes) para a realização de uma reforma agrária que torne esse país mais igual e de espaço de denúncia da violação dos direitos humanos dos trabalhadores rurais e dos povos indígenas.

- Finalmente, como definem o estilo musical da Banda Humanos Vermelhos? Quais são as suas características?

Nosso estilo musical é variado e seria difícil defini-lo. Nossa música é de conteúdo social e procura levar sempre uma mensagem engajada com a luta pela construção de um mundo mais igualitário, mais justo e mais fraterno. Somos militantes de direitos humanos e percebemos no viés cultural, em particular a música, um importante mecanismo de comunicação capaz de atingir o coração e as mentes das pessoas. Estamos convencidos que precisamos incorporar no dia a dia o compromisso permanente com a luta de transformação do mundo.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Música Country: os acordes do novo conservadorismo norte-americano


A música country, nascida nos estados do sul, espalha seu sotaque fora de moda, evocando um cowboy mal-ajambrado, e conquista o universo cultural de todos os Estados Unidos. Não é por outra razão que dois dos três álbuns mais vendidos de 2010 foram de artistas country
por Sylvie Laurent no DIPLOMATIQUE BRASIL
As articulações republicanas para definir um candidato às eleições de 2012 não conseguiram ocultar o fato de que o presidente atual também está engajado em uma campanha de sedução, destinada sobretudo a convencer aqueles que não votaram nele em 2008.
Com essa motivação, no dia 21 de novembro de 2011, o casal Obama organizou um festival de música country na Casa Branca, rebatizada para a ocasião de “Casa do Povo”, com a presença de estrelas como James Taylor, Lyle Lovett e Dierks Bentley. Nesse evento, o presidente revelou ter aprendido, ao longo dos encontros com seus concidadãos, a também apreciar essa música “que lhe é tão cara”.
Não faltou elegância a essa iniciativa. Ocorre que essa forma privilegiada da cultura popular da América branca, habitualmente desprezada pela fina flor de Washington, é identificada como um espaço simbólico da direita: ódio ao Estado, desconfiança em relação às minorias e denúncia das elites urbanas. É sem dúvida uma iniciativa em que o presidente Barack Obama se aventura em terras mais dominadas pelo movimento Tea Party do que pelos democratas – sobretudo negros e diplomados de Harvard.
Esse estilo de música é identificado com a afirmação de velhos ressentimentos de homens brancos apegados às suas raízes, reencontrando um americanismo que acreditavam desviado e corrompido, em um patriotismo exacerbado que tem uma longa história. Obama compreendeu perfeitamente que esse estilo musical não seria capaz de ser privilégio do partido republicano; ao contrário, ele se identifica mais com as caricaturas de “rednecks”.1 A música country, nascida nos estados do sul, espalha seu sotaque fora de moda, evocando um cowboy mal-ajambrado, e conquista o universo cultural de todos os Estados Unidos.
Não é por outra razão que dois dos três álbuns mais vendidos de 2010 foram de artistas country: atrás do cantor de rap Eminem, encontra-se Need you now, do grupo Lady Antebellum, seguido por Taylor Swift e seu álbum Speak now. Os dois totalizaram cerca de 6 milhões de álbuns vendidos.
Desde o início de sua carreira, Taylor Swift já teria vendido mais de 20 milhões de discos. No cinema, o gênero ganhou igualmente títulos de nobreza depois que o filme biográfico do cantor Johnny Cash, Walk the line [no Brasil, Johnny e June], ganhou um Oscar em 2005. Quatro anos depois, o filme Crazy heart [Coração louco], que narra as errâncias de um ex-cantor country alcoólatra e solitário, foi adulado pela crítica, enquanto Country strong [Onde o amor está], de 2010, atingiu um vasto público. É ainda mais significativo que, em abril de 2011, uma das maiores estrelas de rhythm and blues (R&B) do país, a cantora negra Rihanna, tenha sido convidada para o Country Music Awards – considerado até então o máximo do mau gosto –, testemunhando o atual “momento” country dos Estados Unidos.
A música country tem suas raízes em um mundo rural norte-americano isolado onde, no início do século XX, alguns produtores experientes descobriram as old time songs [canções de antigamente], que supostamente encarnavam a verdadeira alma do país. Se as primeiras gravações datam do início dos anos 1920, alguns historiadores e etnomusicólogos remontam sua existência à Guerra de Independência.2 As baladas e cantos folclóricos com instrumentação típica (guitarra, banjo, voz) e palavras melancólicas seduziram sobretudo o coração dos Estados Unidos rural, em particular depois da Grande Depressão.
Se os negros oprimidos têm o blues, as comunidades rurais das montanhas ou das planícies têm a música country, às vezes chamada hillbilly blues: o “blues dos caipiras”, que expressa o ideal pastoral dos pioneiros, a visão mítica de um sul branco, popular, preservado das corrupções do mundo e que apela a um nacionalismo jacksoniano ultrapassado.3
Após a dolorosa derrota de 1865, a nostalgia impregnada de amargura de um sul vencido constituiu o pano de fundo do que se tornaria a música country: a trilha sonora de um patriotismo norte-americano contrariado. Ela foi frequentemente brandida como uma arma e um escudo diante da ameaça de diluição da identidade nacional, conceito hipócrita na medida em que existe, na realidade, uma variedade infinita no seio do próprio gênero musical.
 
A modernidade texana
Não sem ironia, o Texa s, ao produzir cantores com aparência de maus rapazes, introduziu a modernidade na tradição. Mas é a minoria mais conservadora que influencia os espíritos. Em 1969, o legendário título “Okie from Muskogee”, do cantor Merle Haggard,representou uma declaração de ódio a esses hippies de cabelos compridos que, nos campiou nas cidades do norte, levavam, segundo ele, o país à ruína. Haggard, ex-detento e porta-voz dos trabalhadores explorados, poderia ter se tornado um novo Woody Guthrie, cantor folk e bardo socialista da consciência proletária, mas foi tragado por uma época em que os valores morais eram a ordem, a nação e a identidade.
Richard Nixon, ao afirmar em 1974 que essa música do povo “tornava os Estados Unidos melhores”, embrulhou o gênero na bandeira estrelada. Desde então, a música country seduz o país inteiro, mas é fora dos Estados Unidos que ela vende mais. Ronald Reagan afirmou em 1983: “trata-se de uma das raras formas de arte puramente norte-americana, de alma patriótica”.
No entanto, entre os cantores que usavam o chapéu Stetson de cowboy, os mais célebres ficaram longe desse lugar-comum: uns contrários à Guerra do Vietnã ou a favor da legalização das drogas, outros ardentes feministas ou críticos do monopólio de Nashville (Tennessee) sobre a produção country. Mas o marketing hábil das produtoras, ao colocar o gênero na moda introduzindo o rock em seu repertório, garantiu que as rádios divulgassem antes de tudo as mensagens de patriotismo dos “verdadeiros” norte-americanos, as dos pequenos hipócritas esquecidos.
 O Texas se tornou a terra de predileção do gênero.4 Bush coroou seu direitismo ao declarar que se tratava de sua música preferida: a retórica da autenticidade e da “solidariedade cultural” se afirmou ainda mais.
Após o 11 de Setembro, os produtores viram na recuperação de símbolos e fetiches do americanismo uma oportunidade para a comercialização de títulos idôneos. Em uníssono com um presidente belicoso, o célebre Toby Keith cantou “Courtesy of the red, white and blue”, prometendo se vingar daqueles que haviam ousado atacar os Estados Unidos.
Em 2003, a estrela de 25 milhões de álbuns vendidos era acompanhada por Willie Nelson ao cantar, em “Beer for my horses”, que os Estados Unidos do povo deviam eles mesmos fazer justiça, como no tempo em que, ao modo texano, enforcavam os representantes das forças do mal. Apesar de algumas reações preocupadas diante dessa nostalgia ambígua, o título permaneceu seis semanas no topo das vendas, tornando-se um dos maiores sucessos de Toby Keith, a ponto de ser adaptado para o cinema em 2008, com o cantor no papel principal.
A confusão entre patriotismo e nacionalismo, entre apologia dos valores perdidos do homem comum e a exaltação ideológica é desconcertante.
Em março de 2003, Nathalie Maine, cantora do grupo The Dixie Chicks, declarou, em um show na Inglaterra, ter “vergonha” de partilhar as origens texanas com o presidente Bush.5 Poucos dias depois, as Dixie Chicks foram objeto de violentos ataques na mídia; todas as estações de rádio boicotaram suas músicas. Certamente, o auditório tradicional havia ficado irritado com uma declaração feita fora do território nacional e julgada ainda mais inconveniente por exacerbar um contexto já elétrico. Mas esse banimento brutal não teve nada de espontâneo. Sabe-se hoje que o toque de rendição foi essencialmente orquestrado pela Clear Channel Radio, uma empresa fundada no Texas e proprietária de 1.250 estações, preocupada com as repercussões políticas de tais discursos.
Outros no mundo da música country criticaram a Guerra do Iraque, incluindo artistas de primeiro plano, como Roseanne Cash, Sheryl Crow, o próprio Merle Haggard e Steve Earle. Este último, fazendo eco às canções de contestação dos anos 1970, cantarolava em 2004, em “Rich man’s war”: “Bobby tinha uma águia e uma bandeira tatuadas no braço/ Vermelho, branco e azul até a raiz dos cabelos quando aterrissou em Kandahar/ Deixou uma linda mulher e uma filhinha/ E também uma pilha de faturas a pagar para ir salvar o mundo/ Fez um ano agora e ele ainda está lá/ Perseguindo fantasmas no ar seco/ Enquanto em casa pegaram seu carro/ Mais um rapaz sem dinheiro enviado para a guerra do homem rico/ Quando aprenderemos?”.
 
Música e política
Na campanha presidencial de 2008, os cantores country que expressaram publicamente seu apoio a um dos candidatos estavam longe de se alinhar do lado republicano. Mas Toby Keith, o cantor de modos violentos diante dos inimigos dos Estados Unidos, que havia defendido Bush contra as Dixie Chicks, chegou até a expressar sua simpatia por Obama. Os próprios cowboys também estavam cansados desse patriotismo que não os protegeu do desencantamento, tantas vezes conjurado nas canções populares.
A Fox News não deixou de convidar os mais conservadores e os mais fanfarrões entre eles. Crazy heart e Country strong são filmes de anti-heróis, de estrelas que buscam uma redenção diante de uma bandeira desgastada. E o Tea Party mobilizou muitos cantores country em seus encontros. Partilham com eles muitos pontos em comum. Assim como os fabricantes de hits de Nashville partem da música tradicional para definir sua estratégia comercial, essas reuniões heteróclitas buscam estabelecer uma identidade para colocar em cena grupos de interesse poderosos. Nesses dois casos, observa-se um discurso sobre uma consciência de classe que, não chegando a ser dita, assume a máscara da identidade cultural. Teabaggers e countrymen celebram o mito norte-americano de uma sociedade sem classes, mas só existem paradoxalmente no relato vitimizado de uma classe desprezada.
Em um artigo de 2010, o universitário Angelo Codevilla analisou o abismo assustador das desigualdades sociais nos Estados Unidos. Ele opõe uma overclass (superclasse), que teria ultrapassado os enraizamentos partidários, a uma classe popular, que ele chama de country class, desconsiderada pela elite e abandonada pelos grandes partidos políticos. Provavelmente é essa country class que se consola com os sotaques da música country.
Alguns artistas revelam a natureza socioeconômica da exclusão, como o cantor John Rich, fervoroso apoiador do candidato republicano às eleições presidenciais de 2008, John McCain, que hoje denuncia os responsáveis por Wall Street. Os maiores sucessos vêm de artistas livres dos sinais de ostentação da “tradição”. É o caso do grupo Lady Antebellum, que amplia sua audiência para bem além do público habitual, apesar de seu patrimônio evocado, por não fazer a menor alusão política ou identificação regional.
Taylor Swift, cantora de Nashville, foi indicada a artista do ano no American Music Awards de 2011. Ela só canta histórias sentimentais, trata do amor e de belas paisagens. Quando, por ocasião de uma cerimônia de premiação, em 2009, ela foi criticada no palco pelo cantor de rap Kanye West, que contestou a legitimidade de seu troféu, o próprio Obama se sentiu obrigado a condenar o gesto. Vulnerável e sem arrogância, a cantora de música country é agora o rosto inocente e consensual de um país que dizem profundo, que abriga milhões de cidadãos arrastados pela crise econômica e pela arrogância dos poderosos, e que encontram, ao escutar uma música popular e populista com temas nostálgicos, uma razão para celebrar seu americanismo.
Sylvie Laurent
Autora de Poor white trash: la pauvreté odieuse du blanc américain [Poor White Trash: a pobreza odiosa do branco norte-americano], Presses l’Université Paris-Sorbonne, Paris, 2011.


Ilustração: Daniel Kondo
1 Termo pejorativo que designa os brancos que moram no campo, em particular nos estados do sul, representados como pessoas rudes, alcoólatras e atrasadas.
2 James Edward Akenson, Country music goes to war [A música vai à guerra], University Press of Kentucky, Lexington, 2005.
3 Forma de nacionalismo intransigente, derivada do nome de Andrew Jackson, sétimo presidente norte-americano (1829-1837).
4 Aaron A. Fox, Real country: music and language in working-class culture (Country/País real: música e linguagem na cultura da classe trabalhadora], Duke University Press, Durham, 1994.
5 Ler Jessie Emkic, “Une chasse aux sorcières contre les Dixie Chicks” [Caça às bruxas contra as Dixie Chicks], Le Monde diplomatique, mar. 2008.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Elis Regina representa síntese da MPB, mostra estudo


Por Bruno Yutaka Saito | Valor Econômico


SÃO PAULO – Era comum encontrar pelos muros de cidades brasileiras a pichação “Elis Vive”. A morte da cantora, então no auge, aos 36 anos, em 19 de janeiro de 1982, fora tão inesperada, que deixou fãs inconformados. Trinta anos depois, Elis vive como referência incontornável para quem faz, pensa ou ouve música brasileira. Na celebração da data, CDs com shows na íntegra, a nova edição de uma biografia e um estudo lançam novas luzes sobre a cantora.
Folhapress  A cantora Elis Regina em foto de 1975
A música de Elis é, antes de mais nada, um dos principais símbolos da chamada MPB (Música Popular Brasileira). Ainda que rejeitada por muitos artistas, a sigla “MPB” representa inegavelmente um gênero estabelecido, quase um sinônimo para a “música de qualidade feita no país”. Segundo a historiadora Rafaela Lunardi, a cantora foi fundamental para o estabelecimento do gênero _a tese foi defendida na dissertação de mestrado “Em Busca do ‘Falso Brilhante’. Performance e Projeto Autoral na Trajetória de Elis Regina (Brasil, 1965-1976)”, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
“Na década de 1960, Elis foi uma espécie de porta-estandarte na defesa da música popular brasileira, contribuindo para a formação do rótulo MPB, de características comerciais e ideológicas a um só tempo, pois, do ponto de vista estritamente musicológico, não era possível enquadrar o samba, a bossa nova, o baião, a marcha e, na década de 1970, o pop, o rock e o soul”, afirma Rafaela. “Elis foi uma artista que vivenciou todas as etapas do processo de legitimação da MPB nas décadas de 1960 e 1970, passando por todas as fases e dialogando com as diversas demandas do mercado de música no Brasil.”
Augusto/Folhapress   
No show "Trem Azul", em 1975
Nascida em Porto Alegre (RS), Elis começou a carreira na rádio, ainda criança, e transitou por diversos gêneros durante a carreira. Ao lançar o primeiro disco, “Viva a Brotolândia” (1961), era vista como um novo nome do nascente rock, ao estilo de Celly Campelo. Mas o grande público só tomou conhecimento da cantora quando ela participou dos populares festivais de música daquela década, o que lhe rendeu o convite para apresentar, ao lado de Jair Rodrigues, o programa de televisão “O Fino da Bossa”, em 1965, na TV Record.
Elis, antes de mais nada, conquistou o público por questões artísticas. Aliada à voz potente estava sua capacidade de revelar então novos compositores, como Ivan Lins, Belchior e Milton Nascimento. Mas a figura pública de Elis também fascinava. Seu apelido, “Pimentinha”, indicava tanto uma performance explosiva no palco quanto um temperamento forte. Participou, por exemplo, da (hoje surreal) passeata contra a guitarra elétrica, ao lado de Gilberto Gil, em 1967, em plena ditadura militar. Sua posição em relação ao regime também foi alvo de muitas especulações no período. Por ter cantado na Olimpíada do Exército, em 1972, sofreu perseguição por parte do semanário “O Pasquim”, de Henfil. Mas Elis não era colaboradora, como mostrou tempos depois, ao fazer shows de arrecadação de dinheiro para o fundo de greve do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Em sua voz, “O Bêbado e o Equilibrista” foi uma espécie de hino da abertura política.
Folha Imagem   
A cantora durante apresentação em 1967

Nesse ponto, a historiadora Rafaela Lunardi e a autora da biografia “Furacão Elis”, Regina Echeverria, divergem. “A Elis relembrada hoje é a Elis do final de sua vida e carreira, uma artista ligada às questões sociopolíticas de seu tempo, a Elis que atuou artisticamente na oposição ao regime militar”, afirma Rafaela. Já Regina tem outra visão: “Ela não foi um símbolo político da época. Tinha o Chico Buarque, o Caetano Veloso, que eram mais engajados. Ela era uma intérprete. A sorte é que ela gravou o hino da anistia, em 1979. O papel dela foi cantar os novos compositores, e não cavar trincheiras”.
Rafaela lembra que a cantora “não possuía uma formação política e/ou universitária que pudesse compará-la intelectualmente a Nara Leão, Chico Buarque ou Edu Lobo, jovens artistas típicos do altamente elitista meio universitário brasileiro da época”. No entanto, essa formação não teria impedido que Elis fosse engajada politicamente. Para a historiadora, a cantora ajudou a “formatar a ideia de ‘moderna MPB’, interpretando ‘canções de protesto’ e atuando na luta em defesa da música nacional”. “Tal resistência apareceu em sua arte ao defender a música popular brasileira contra a invasão estrangeira, numa estratégia nacionalista de luta contra o ‘imperialismo’, liderada pelas esquerdas, sobretudo na década de 1960, e nos setores mais estritamente políticos a partir de ‘Falso Brilhante’, em 1976, quando, segundo seus próprios depoimentos, tornou-se uma artista engajada.”
Para Regina Echeverria, Elis poderia ter extrapolado as fronteiras brasileiras, caso cantasse em inglês. “Mas ela dizia que seu lugar era aqui”, conta a escritora, que lança uma terceira edição, revisada e com novas entrevistas, de “Furacão Elis” (a primeira foi em 1985; a segunda, em 2007). Se Elis não buscou uma carreira no exterior, dentro do Brasil a cantora nunca foi tímida ao buscar o público. Muitos críticos na época acusavam a cantora de ser excessivamente comercial, pela sua resposta positiva às demandas do mercado fonográfico.
As posturas da cantora eram reflexo direto da espontaneidade e honestidade, acredita Regina. Muitas vezes foi incompreendida. “Ela tinha fama de Pimentinha, de brigar muito, mas ela falava: “Peraí, você acha que tenho sangue de barata? Pisa no meu pé e não vou reagir? Não é normal?”. Ela assumia o que falava. No Brasil é difícil as pessoas assumirem o que pensam”, diz a escritora e jornalista.
Shows
Nas celebrações da data, dois lançamentos retomam shows da cantora. No dia 27, sai pela Warner o CD duplo “Um Dia”. São duas apresentações de Elis no Festival de Jazz de Montreux realizados em 20 de julho de 1979. Já havia uma versão anterior do CD, mas com apenas nove músicas. Desta vez, os shows aparecem na íntegra –são 27 faixas no total, incluindo músicas como de “Triste” (Antonio Carlos Jobim) e “Corrida de Jangada” (Edu Lobo). E, pela Universal, “Transversal do Tempo”, traz na íntegra show realizado em abril de 1978, no Rio. Na época, a apresentação divulgava o disco “Elis” (1977).