quarta-feira, 21 de março de 2007

Internacional deve anunciar duas contratações




O Internacional tem praticamente garantidos dois reforços - o zagueiro Antônio Carlos e o lateral-esquerdo Jorge Luís -, mas corre contra o tempo para contratar também um apoiador até esta sexta-feira, dia do encerramento das inscrições de jogadores contratados fora do país.

Em Vacaria, onde o Inter aguardava o jogo da noite desta quarta-feira, contra o Glória, pelo Campeonato Gaúcho, o vice de futebol Giovanni Luigi passou a tarde no telefone. Ele recebeu as notícias, por parte de empresários, de que Antônio Carlos, Ajjacio (FRA), já desembarcara no Rio de Janeiro e que o empréstimo de Jorge Luís, do Braga (POR), já estava concretizado.

O Ajaccio, da Segunda Divisão da França, receberá 1 milhão de euros (cerca de R$ 2,7 milhões) pela cessão dos direitos de Antônio Carlos em quatro parcelas de 250 mil euros (cerca de R$ 691 mil). A maior parte do dinheiro para a contratação do zagueiro de 23 anos revelado pelo Fluminense sairá de investidores. O jogador é esperado nesta quinta-feira em Porto Alegre, e será inscrito na segunda fase da Copa Libertadores, se o Inter conseguir classificação.

A pretensão dos dirigentes de contratar um apoiador é antiga. Desde o início do ano, quando concluíram que Pinga, contratado em 2006 do Treviso (ITA), por 1,5 milhão de euros (cerca de R$ 4,1 milhões) não era o substituto que eles procuravam para Tinga. Desde então, tentaram duas vezes a contratação de Rosinei, do Corinthians, mas o Timão recusou as propostas.

terça-feira, 20 de março de 2007

Contra o pessimismo

Emir Sader

A crítica radical do mundo tem uma ampla avenida pela frente, mas isso também implica em riscos. Nunca a humanidade dispôs de tantos avanços técnicos e científicos para transformar o mundo conforme os sonhos humanistas, mas nunca se sentiu tão impotente diante de um mundo que parece funcionar por uma lógica absolutamente autônoma.

Entra governo, sai governo, as leis do mercado parecem dominar irreversivelmente o mundo, o estilo de vida norte-americano devasta espaços nunca antes alcançados – seja na China ou na periferia das grandes metrópoles do sul do mundo –, a Europa consolida uma hegemonia conservadora, parece não surgir um bloco de forças que se enfrente aos poder imperial dos EUA.

Tudo parece empurrar-nos para o pessimismo. A crise da URSS não deu lugar a um socialismo superador dos problemas desse modelo e, ao contrário, disseminou o neoliberalismo nas terras de Lênin. O capitalismo abandonou seu modelo keynesiano por um modelo de extensão inaudita da mercantilização de todos os rincões do mundo. Podemos perguntar-nos se vivemos um período de derrotas e retrocessos tão grandes como o que se viveu a partir dos anos 20, caracterizado por contra-revoluções de massas e por derrotas estratégicas dos projetos revolucionários.

Nos anos 20, diante da ascensão fulminante do fascismo e do nazismo e da consolidação do stalinismo nos partidos comunistas, Adorno e seus companheiros da Escola de Frankfurt aderiram a um pessisimo melancólico. Aprofundaram suas análises sobre as raízes da virada conservadora no mundo, dando especial destaque às tendências autoritárias na personalidade das pessoas. Wilhelm Reich concentrava essa tendência na impotência da pequena burguesia, enquanto Lênin havia apontado para a aparição e consolidação de uma aristocracia operária no seio da classe trabalhadora dos países centrais do capitalismo.

A diferença entre a crítica realista das condições concretas que a esquerda tinha de enfrentar, bloqueada melancolicamente pelo pessimismo e a responsabilidade de buscar alternativas, de decifrar os espaços de acumulação de forças que pudessem reverter, é o que diferencia os enfoque de Adorno e de Gramsci.

Este notabilizou-se pela frase “pessimismo da razão, otimismo da vontade”. Mas não se tratava apenas de agregar um estado de espírito de esperança – de “otimismo” – a uma situação sem saída, em que o bloqueio interno à esquerda – do stalinismo – e externo – dos fascismos – condenava a esquerda à imobilidade ou às visões de denúncia e de testemunha.

Assumindo-se não como intelectual revolucionário – ao estilo dos que seriam chamados de “marxistas ocidentais” –, mas com a responsabilidade de dirigente revolucionário ao estilo das gerações anteriores dele, que necessariamente envolviam a capacidade intelectual de elaboração (Nova: Ver: Anderson, Perry, “Considerações sobre o marxismo ocidental”, Boitempo Editorial, São Paulo, 2004). Responsabilidade que obrigava a captar a realidade concreta, incluindo suas contradições, essenciais para definir os elos mais fortes e mais fracos de cada campo, para poder desembocar nos espaços mais favoráveis à acumulação de forças a fim de reverter as condições desfavoráveis.

As análises que não desembocam nessa direção terão deixado de captar as contradições vivas da realidade, tendendo a se manter em visões descritivas, com os riscos do funcionalismo. Costumam destacar aspectos da realidade e absolutizá-los, ou pelo menos tirá-los de contexto e, principalmente, não dando conta da totalidade do fenômeno, com a contradição como seu motor.

A crítica, simplesmente, não remete à prática, resigna-se a uma visão externa ao objeto analisado. A crítica sempre foi, para o marxismo, para a dialética, uma forma de limpeza de campo de concepções que refletem de forma parcial ou completamente equivocada a realidade, não para deter-se aí, mas para incorporar seus elementos de verdade, negá-los nas suas inverdades e poder, assim, estar em condições de superá-las.

A crítica sem a prática superadora correspondente leva à inação, ao pessimismo, à desmobilização e, no limite, à desmoralização.
Fonte: carta maior

Agro-combustíveis versus soberania alimentar

por Sílvia Ribeiro

O Mali, que em Fevereiro de 2007 abrigou o Fórum Mundial de Soberania Alimentar "Nyéléni" , é um dos dez países mais pobres do mundo, se se medir em dinheiro. Entretanto, o país tem recursos como ouro e algodão – do qual é um dos principais produtores do continente –, mas a herança colonial e as imposições da Organização Mundial do Comércio, do FMI e do Banco Mundial afundaram a sua população na miséria. Ainda assim, o Mali continua a ser um país rico. Não por esses recursos, muito vulneráveis a mudanças tecnológicas e de mercado e sim por outros tesouros: 80 por cento da população continua a exercer quotidianamente a complexa sabedoria de cuidar e produzir, em formas diversas e locais, seus alimentos e remédios e os dos seus animais, a fibra dos seus vestidos e tecidos e os materiais para as suas habitações, apesar de climas de calor intenso e de seca e das múltiplas camadas de dominação externa.


Por essa riqueza de contrastes, o Mali foi um cenário adequado para que mais de 500 delegados de 118 países e de diversos movimentos sociais – camponeses, trabalhadores sem terra, migrantes, mulheres, pastores, pescadores artesanais, consumidores, ecologistas, indígenas – encontraram-se para avançar análises e estratégias comuns em direcção à soberania alimentar, concebida como o direito e a capacidade dos povos, a partir das suas bases, de produzir sustentavelmente e de forma diversa e adequada a suas culturas, alimentos de qualidade, suficientes e acessíveis a todos.

Apesar das dificuldades para chegar ao Mali, à debilidade ou falta de presença real de alguns movimentos importantes no tema – como os indígenas – e a contradição de fazer uma reunião global para discutir um tema que necessariamente nasce e se realiza na diversidade local, o encontro foi um marco importante, sobretudo como germe da colaboração entre movimentos, tanto para a construção como para a resistência.

Entre os movimentos ali presentes existem os conhecimentos, experiências, e em vários casos colaborações de redes locais e/ou que se enlaçam a nível internacional, em temas como a resistência contra os tratados de livre comércio, os transgenicos, a privatização de conhecimentos, sementes, terras e água, a devastação de solos, zonas pesqueiras e de pastoreio tradicional, a migração forçada e criminalizada, a imposição de normas legais para impedir que os pequenos produtores possam chegar aos mercados e outras. Nyéléni foi uma oportunidade para refazer mapas, reafirmar e fortalecer acções comuns e construir novas.

A AMEAÇA DOS AGRO-COMBUSTÍVEIS

Dentre estas últimas surgiu com força a denúncia das ameaças representadas pelos agro-combustíveis, mal chamados “biocombustíveis”. Delegados das Américas, da Ásia e da África contribuíram com seus conhecimentos para armar o quebra-cabeças desta nova armadilha, bem como a construção de uma ampla frente de resistência à mesma.

Ao contrário do que afirmam os seus promotores, como os Estados Unidos e a União Europeia, que seriam uma resposta ambientalmente amigável frente à mudança climática provocada pelos combustíveis derivados do petróleo, esta nova onda de monocultivos industriais não amenizará nenhum dos problemas existentes e criará outros novos.

Ainda que a quantidade de biodiesel ou bioetanol que se pode obter varie com o tipo de cultivo, necessitam-se enormes extensões de terra cultivável para produzi-los. Com a quantidade de cereais que se precisam para encher o reservatório de uma camioneta pode-se alimentar uma pessoa um ano inteiro. Além disso, a maior parte da energia produzida consome-se no cultivo e no processamento – em petróleo, agrotóxicos, regadio, maquinaria, transporte, refinação. Segundo as condições e o cultivo, pode inclusive dar saldo negativo. Se se incluírem na equação a destruição de ecosistemas como florestas e campos, o ou facto de que as refinarias de etanol e as plantas de processamento de celulose são uma fonte de contaminação do ambiente e da saúde dos habitantes próximos, o saldo é definitivamente negativo. Ironicamente, as indústrias argumentam que os cultivos normais não rendem os suficiente, e tentam justificar cultivos e árvores transgénicas – para produzir etanol a partir de celulose –, que acrescentariam outra gama de ameaças.

As indústrias e governos do Norte precisam que a produção seja nos países do Sul, em parte porque não dispõem de terra ou não querem usá-la para isto, e porque assumem que nesses países os problemas ambientais são obviados por governos ávidos de “investimento” estrangeiro e de promover a agricultura intensiva de exportação, em prejuízo dos sistemas locais integrais que constituíam a sua própria soberania alimentar. As instituições financeiras internacionais (Banco Mundial, Banco Inter-americano) já anunciam que “apoiarão” esta conversão, metendo na armadilha pequenos e médios produtores e aumentando as dívidas externas dos países.

Há claramente um projecto geopolítico dos Estados Unidos para diminuir sua dependência dos países petrolíferos e, além disso, um interesse próprio das empresas que estão por trás desta nova devastação agrícola: para as indústrias que controlam os agro-combustíveis (grandes distribuidores de cereais como a Cargill, ADM e Bunge, produtores de sementes transgénicas como a Syngenta, DuPont, Monsanto, Bayer, Bow e as automotoras), tudo são lucros: recebem subsídios directos ou indirectos, leis a seu favor e uma extensão significativa das terras e agricultores dedicados a produzir as matérias-primas que necessitam, ao preço que definem, e cada vez mais controlarão ao aumentar a competição entre países.

Os agro-combustíveis constituem assim um projecto de recolonização imperial, num novo assalto das indústrias transnacionais às economias camponesas e à soberania alimentar.

Fonte: Resistir.info

segunda-feira, 19 de março de 2007

Esse é ótimo....

Flora Purim in BatterflyDreams - 1973

domingo, 18 de março de 2007

Se dependesse do Abel, não sei não....

Fernandão comemora o gol
Foto: Site oficial do Inter /foto: Marcelo Campos

O jogo ficou indefinido até o final. O Juventude esteve sempre vivo e pressionou o Inter em boa parte do segundo tempo. Mas desta vez o time de Abel Braga estava compacto, as mudanças deram bom resultado. Vargas confirmou tudo o que se esperava e foi o melhor em campo. Pato de volta fez boa partida e o garoto Ji-Paraná foi muito bem. Fernandão voltou a marcar e a vitória reapareceu. Tudo passou pelo meio-campo. O Inter melhorou pela sua recomposição tática, o que fez crescer também o desempenho técnico dos jogadores. É a recuperação de um modelo vencedor, bem diferente da proposta tática de Buenos Aires. E ATENÇÃO ... os dirigentes do Inter precisam mobilizar até mesmo a CBF para liberar Vargas da seleção colombiana para que ele possa estar em campo no jogo decisivo contra o Vélez pela Libertadores no Beira-Rio.

sábado, 17 de março de 2007

sexta-feira, 16 de março de 2007

Direito de greve na mira do governo



Fernando Silva

Aceitar algum tipo de regulamentação estatal é aceitar reduzir, limitar a força da classe trabalhadora e sua capacidade de ação independente, única possibilidade de fazer frente à classe dominante, de defender seus direitos e construir condições para fazer a relação de forças mudar a seu favor, o que evidentemente não é aceito pelo Capital e o seu Estado, que tratam
sistematicamente de impor formas de coerção e tutela sobre a ação dos explorados.

Somente um governo de ex-sindicalistas pode propor restrições ao direito de greve”. Com essa inacreditável declaração, durante visita à Guiana, o presidente Lula reforçou a disposição do governo em regulamentar a greve nos serviços públicos.

Se nessa ocasião Lula estivesse sendo assessorado por algum consultor de um grande grupo capitalista, possivelmente seria aconselhado a não ser tão explícito, a evitar o desgaste com tamanha demonstração de subserviência. Até porque os verdadeiros interessados na restrição do direito de greve entendem perfeitamente o papel que ocupa um governo oriundo do movimento popular e da esquerda para manter a agenda do Capital e aprofundá-la.

Houve outras tantas constrangedoras declarações de ministros, como a do também ex-sindicalista Luiz Marinho. Preferimos nesse espaço poupar os leitores delas para irmos diretamente ao debate.

Primeiro: a regulamentação, restrição ou a proibição de greves em alguns setores (como diretamente sugeriu o ministro Paulo Bernardo) sempre foi uma exigência do Capital. Não por acaso, coube a órgãos como a Folha de São Paulo (Editorial, 6/3/2007) começar a dar nome aos bois, pedindo a cabeça dos servidores da Anvisa e do INSS.

Rigorosamente, o direito de greve já vem sendo atacado pelo Capital há vários anos através dos julgamentos de “abusividade”, multas aos sindicatos, interditos proibitórios, determinação de que um percentual da atividade não seja interrompida durante a greve.

Em oposição e em confronto a essa trincheira, a classe trabalhadora levantou as reivindicações de amplo e irrestrito direito de greve, nenhuma intervenção do Estado nos sindicatos, autonomia e liberdade de organização sindical e popular. Bandeiras históricas que ajudaram a produzir os próprios governantes que estão hoje dedicados a limitar o direito de greve... incluindo aqui a própria CUT, que, nesse debate, a pretexto de ratificar a Convenção 151 da OIT, aceita “conversar” sobre o direito de greve no setor público.

Segundo: quem é “prejudicado” durante uma greve é o lucro, é o Capital, direta ou indiretamente, mesmo quando a greve ocorre nos serviços públicos, de transporte, incluindo serviços portuários e aeroportuários. O resto é campanha cínica, pois o desmonte dos serviços públicos, dos direitos sociais, as privatizações, o corte de verbas e recursos para áreas sociais foram o que realmente importou para o Capital e o seu Estado, isso é, o essencial para a classe dominante.

Pois sabemos todos que o drama diário da população para ter acesso à saúde e educação dignas, transporte de qualidade com tarifas baratas e tantos outros serviços não tem nada a ver com a ocorrência de greves dos trabalhadores do setor público.

Terceiro: os socialistas, por princípio, devem se opor a qualquer tipo de regulamentação ou intervenção do Estado capitalista sobre direito de greve e de organização.

Aceitar algum tipo de regulamentação estatal é aceitar reduzir, limitar a força da classe trabalhadora e sua capacidade de ação independente, única possibilidade de fazer frente à classe dominante, de defender seus direitos e construir condições para fazer a relação de forças mudar a seu favor, o que evidentemente não é aceito pelo Capital e o seu Estado, que tratam sistematicamente de impor formas de coerção e tutela sobre a ação dos explorados.

São os próprios trabalhadores que devem ter o direito irrestrito de greve e total soberania para desenvolver a sua ação coletiva e o diálogo com o conjunto da população em relação à prestação dos serviços.

O governo Lula ameaça dar um passo ainda mais lamentável na ofensiva antidemocrática que vem sendo desenvolvida contra as classes trabalhadoras desde o governo Collor: ataques aos direitos sociais dos trabalhadores, criminalização dos movimentos sociais, com alvo nos sem-terra, e, agora, restrição do direito de greve nos serviços públicos.

Este novo fato reforça sobremaneira a necessidade de que uma agenda unificada dos movimentos sindical e popular combativos coloque esses temas em lugar de destaque, com uma enfática defesa do direito irrestrito de greve.

Fernando Silva, jornalista, é membro do diretório nacional do PSOL e do Conselho Editorial da revista Debate Socialista.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Tiro ao Doutor



Anna Gicelle Garcia Alaniz

Nos últimos dois anos, a cada fim de semestre, surtos de pânico acometem o corpo docente das instituições particulares de ensino superior. É que esse é o período de “tiro ao doutor”. É o momento em que as instituições demitem o ”excedente” de mão-de-obra em nome da “eficiência” e da redução de custos.

Sabemos que o MEC exige um número determinado de mestres e doutores para aprovar e reconhecer a abertura de cursos superiores nas instituições privadas. A nota que as comissões de reconhecimento atribuem aos novos cursos está diretamente relacionada com o nível de qualificação do corpo docente. O que não sabemos é por que o MEC se omite em relação ao destino desses profissionais após o reconhecimento desses cursos.

Estamos assistindo impotentes ao aviltamento da condição dos professores universitários devido ao excesso de profissionais no mercado e devido à mercantilização do ensino superior. Houve nos últimos anos uma proliferação inconsistente de instituições privadas de grandes redes, cujo único objetivo é o lucro e que se destinam a absorver estudantes de média e baixa renda, sem acesso à universidade pública. Os donos e administradores dessas instituições “desconhecem” os mais básicos princípios da pedagogia e oferecem um tipo de ensino que acreditam “até bom demais para seus alunos de segunda e terceira classe”.

Nesse contexto, os docentes têm seus direitos trabalhistas flagrantemente desrespeitados e sua liberdade de ação tolhida por estúpidas normas internas, que rebaixam a qualidade das aulas e humilham profissionais de primeira linha. E, normalmente, após o reconhecimento do curso por parte do MEC, começa uma ação sistemática de descarte dos docentes com titulação de doutor, para baratear os custos da folha de pagamento. Em seu lugar, mestres e especialistas assumem e se prestam a todo tipo de humilhações para não perder seus empregos.

Uma dessas conhecidas redes de ensino, que recentemente se espalhou pela região metropolitana de Campinas e cobriu várias cidades com seus outdoors – que são uma pequena amostra de seu marketing agressivo –, é um exemplo vívido do que estamos enfrentando. Entrando no mercado com pretensões megalômanas, essa instituição mantém um preço competitivo, penalizando seu corpo docente e a qualidade de seus cursos. O período de quatro horas/aula encerra-se às 22 horas para diminuir o adicional noturno dos docentes; a extensão letiva dos cursos diminui a cada ano, e atividades totalmente estapafúrdias são consideradas como horas/atividade para atender aos critérios elásticos do MEC; normas de “qualidade” são desculpas esfarrapadas para a padronização das aulas, retirando toda a capacidade de iniciativa dos docentes e preparando o caminho para a implantação dos sistemas de ensino a distância, que visam a total eliminação dos docentes da folha de pagamento.

Por essas e outras e devido ao seu marketing absolutamente agressivo, essa rede de ensino semeou o pânico em instituições particulares mais tradicionais, com décadas de serviços prestados à comunidade. Para se conservar no mercado, essas instituições mais antigas passaram a diminuir sistematicamente seus custos e têm procedido demissões coletivas de doutores que chegam a números assustadores, que ultrapassam a centena de profissionais por instituição. Essas demissões atingem docentes com muitos anos de serviço e conhecida reputação pedagógica, que estão sendo jogados em um mercado de trabalho quase inexistente, uma vez que os anúncios de jornais solicitando mestres e doutores visam apenas a montagem de cursos para reconhecimento pelo MEC e não uma relação empregatícia honesta e duradoura.

Uma das áreas de ensino que mais prolifera no momento é a da, assim denominada, gestão de negócios. Cursos como administração e ciências contábeis, que no passado eram apenas encontrados em escolas de comércio, adquiriram status de ensino superior apenas ao incorporar conteúdos humanísticos em suas grades curriculares. Hoje, para baratear seus custos, enganam o MEC eliminando essas matérias humanísticas e “ajustando” seu conteúdo de maneira pífia em outras matérias que deveriam ser correlatas. É o caso dos cursos de ciências contábeis que eliminam a disciplina de cultura brasileira, incorporando-a à de economia em nome desses ajustes curriculares.

O aluno oriundo da rede pública de ensino, aqui em São Paulo, já vem prejudicado por ter sido vítima da famigerada “progressão continuada”, que a mídia insiste em ignorar. Os estudantes chegam ao ensino superior com deficiências atrozes de conteúdo básico, quando não completos analfabetos funcionais. Nós, que ministramos as matérias de conteúdo humanístico, fazemos esforços sobre-humanos para suprir suas carências e conseguir que desenvolvam suas potencialidades para poder acompanhar as matérias mais técnicas.

Agora, que estamos sendo demitidos em massa, o que acontecerá com esses alunos? O Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley já chegou e não foi necessário o uso da genética. Bastaram algumas gestões do PSDB para que uma geração inteira de jovens se transforme em profissionais-gama com diplomas de terceira categoria. Assim, os ricos continuarão cada vez mais ricos e os pobres agora têm sua ignorância reconhecida e sustentada por diplomas universitários assinados e reconhecidos pelo MEC.

A prova cabal do descalabro desse sistema é o exame realizado pela OAB para admitir em sua categoria os bacharéis recém-formados. O exame da Ordem reprova a maior parte dos alunos oriundos dessas novas redes de ensino, devido à baixa qualidade dos cursos. Índices de 10 a 17 por cento de aprovação contra os mais de 60 por cento das instituições mais tradicionais falam por si sós. Se houvesse exames isentos para todas as outras categorias profissionais, o quadro grotesco que se desenharia talvez acordasse nossas autoridades.

O que já aconteceu aqui em São Paulo é irreversível. Mas e o futuro? Até quando a mídia, o MEC e os tecnocratas vomitadores de estatísticas vão fingir que está tudo bem? Quem deve ser processado e responsabilizado por toda essa esbórnia? Que país queremos?

Anna Gicelle Garcia Alaniz é doutora em história social pela USP.

Fonte: Caros Amigos

Bush, o ponto G da barbárie


O dado objetivo, o que de fato motiva a turnê de Bush, é a aposta nas assimetrias dos países da região para impor fraturas em um processo de integração que deixa no passado recente o fatalismo de “quintal”.

Purificar um lugar sagrado dos maus espíritos, após ele ter sido visitado pelo presidente Bush, é uma tarefa que não deveria ficar restrita aos sacerdotes maias que anunciaram a medida na Guatemala. As lideranças religiosas do Brasil, Colômbia, Uruguai e México também deveriam auscultar o sagrado para ver o que dizem templos e oráculos.

Quando Bush afirma que “minha viagem é para explicar o mais claramente que posso que nosso país é generoso e compassivo, que quando vemos pobreza, nós nos importamos; que quando vemos analfabetismo, nós queremos fazer algo a respeito” bem se vê que a retórica do Império ainda parte de dois pressupostos que, se no passado, lograram êxito, dificilmente encontram eco na atual América Latina: o esquecimento da história e a pronta adesão da periferia à lógica da insensatez.

O dado objetivo, o que de fato motiva a turnê de Bush, é a aposta nas assimetrias dos países da região para impor fraturas em um processo de integração que deixa no passado recente o fatalismo de “quintal”, o derrotismo histórico bradado como vantagens comparativas por nossas elites vassalas. O que está em jogo é a reiteração de uma hegemonia que não se pretende contestada por democracias soberanas. Do colosso estadunidense nada podemos esperar que não seja retrocesso, barbárie travestida de boas-intenções.

Incapazes de superar suas contradições estruturais, os Estados Unidos estão condenados a ser uma máquina permanente de destruição. Dependem do complexo industrial-militar para manter o dólar como moeda universal, mas o custo do aparato bélico está na raiz de seus dois grandes déficits. No fio da navalha, o capital se reproduz sob a forma de pulsão coletiva de morte. Abu Ghraib é a expressão contemporânea daquilo que, ao analisar os campos nazistas, Hannah Arendt chamou de produção de homens supérfluos. Meras coisas destituídas de história e identidade.

Detentos humilhados sexualmente e empilhados nus para a satisfação libidinal de jovens soldadas foram as imagens indesejáveis de uma invasão que se pretendia asséptica e espetacular. Crianças sodomizadas, prisioneiros obrigados a renegar o Islã e retirar alimentos de vasos sanitários retrataram as conseqüências precisas do receituário dos falcões militaristas e seus aliados da direita cristã. Nesse contexto, a recruta Jessica Lynch e sua improvável bravura cederam a cena para a soldada Lynndie, participante ativa do abuso de prisioneiros. O épico deu lugar ao porno-crushing da nova fase imperialista. Esboço estético em perfeita simetria com o projeto ético dos segmentos dirigentes dos Estados Unidos.

Guantámano é o não-lugar, encravado em Cuba, onde mais de 500 prisioneiros, quase todos sem qualquer acusação formal, estão desprovidos de qualquer tipo de direitos. Formam uma subcasta, não têm nome ou humanidade. São o que de mais expressivo a globalização neoliberal impôs ao ordenamento jurídico internacional: a reprodução em escala ampliada dos dálits: os intocáveis da Índia.

O Império luta por sua perpetuação hegemônica. Convenções ambientais, inspeções de armas químicas e biológicas em seu próprio território e criação de um Tribunal Penal Internacional são mecanismos de frenagem da expansão pretendida. A comunidade internacional e as resoluções de organismos multilaterais como a ONU são ecos de uma história remota. Não há porque levá-los em conta em questões estratégicas. Pouco pode deter os cruzados de Washington e seus aliados. Não há espaço para arrazoados humanistas no ideário de Cheney, Rumsfeld ou Condoleeza Rice. "César" Bush sempre fará ouvidos moucos aos protestos em escala planetária. Autonomizado da democracia, o governo americano opera com tirania de escala. Isso é o que nos reservava o “Projeto para um novo século americano", estudo elaborado pela direita acadêmica para assegurar o controle do mundo, sobrepondo seus princípios através da força econômica e militar.

O capital estadunidense tem sede (há água em abundância na antiga Mesopotâmia), precisa repor as energias (as jazidas iraquianas são estimadas em 112 bilhões de barris) e precisa pagar pouco por isso (evitando a depreciação do dólar frente ao euro). Se somarmos a esses vetores, a necessidade de defender a moeda em função do endividamento excessivo, veremos o que move discurso guerreiro. Longe de proteger o ocidente da insanidade islâmica ou levar a democracia ao mundo árabe, Moab's e Tomahawks serviram como elementos de regulação de uma economia capitalista em crise sistêmica.

Da ameaça asiática ao reordenamento do bloco europeu, a crise estrutural do capitalismo não dá muita margem de ação aos Estados Unidos. Talvez seja o caso de lembrar o filósofo húngaro István Mészáros: "Do perverso ponto de vista de realização do capital, consumo e destruição são equivalentes".

À impossibilidade de se sobrepor à pluralidade de capitais, resta ao governo americano o keynesianismo de guerra. A barbárie não é um desvio de rota ou uma falha de comando, mas o desdobramento necessário da matriz ideológica do neoliberalismo.Não será trocando republicano por democrata na presidência dos Estados Unidos que sairemos ilesos dessa aventura. Muito menos mudando os carcereiros, sob pressão da opinião pública norte-americana em período eleitoral, que cessará a sub-humanidade em qualquer ala de Abu Ghraib. A impossibilidade crescente de obter consenso junto à sociedade civil mundial não prende a serpente ao ovo. Pelo contrário, isso a deixa amedrontada e preparada para o bote. O julgamento e execução de Saddam Hussein demonstram que não há mais lugar para disfarces. O patológico é a normalidade do capitalismo pós-industrial.

Os movimentos sociais anti-sistêmicos precisam, cada vez mais, abandonar posturas meramente reativas e partir para uma ofensiva contra-hegemônica. Para tanto, é necessário resgatar a política e reunificá-la ao mundo do trabalho.

A criação de uma nova esfera pública é a única possibilidade de reversão do quadro atual. Se Forrest Gump desligar a televisão e for para as ruas protestar, estaremos salvos. Caso contrário, só resta fazer o documentário da nossa época. Sugiro a cobertura da convenção do Partido Republicano ou um seminário do Likud. Najaf e Faixa de Gaza dão belos cenários. Se Leni Riefenstahl está morta, a nova versão de o "Triunfo da Vontade" não exige grande talento. As motivações só mudaram de continente, mas a cultura de extermínio obedece aos mesmos ditames. A alternativa está dada: ou a barbárie do Império ou uma redefinição imediata do ordenamento internacional.

Que a sabedoria maia seja ouvida! Melhor que apostar num improvável “ponto G” e descobrir que Tânatos demitiu Eros da vida humana.

Fonte: agencia carta maior

Tanques cheios à custa de barrigas vazias


Documento dos movimentos sociais de seis países da América Latina sobre a expansão da cultura da cana-de-açúcar.
Via Campesina
Nós, representantes de entidades e movimentos sociais do Brasil, Bolívia, Costa Rica, Colômbia, Guatemala e República Dominicana, reunidos no seminário sobre a expansão da indústria da cana na América Latina, constatamos que:
O atual modelo de produção de bioenergia é sustentado nos mesmos elementos que sempre causaram a opressão de nossos povos: apropriação de território, de bens naturais, de força de trabalho.
Historicamente, a indústria da cana serviu de instrumento para a manutenção do colonialismo em nossos países e a estruturação das classes dominantes que controlam até hoje grandes extensões de terras, o processo industrial e a comercialização. Este setor se baseia no latifúndio, na superexploração do trabalho (inclusive no trabalho escravo) e na apropriação de recursos públicos. O setor se estruturou no monocultivo intensivo e extensivo, provocando a concentração da terra, da renda e do lucro.
A indústria da cana foi uma das principais atividades agrícolas desenvolvida nas colônias. Permitiu que setores que controlavam a produção e a comercialização conseguissem acumular capital e com isso contribuir para a estruturação do capitalismo na Europa. Na América Latina, a criação e o controle do Estado, desde o século XIX, continuaram a serviço dos interesses coloniais. Atualmente, o controle do Estado por este setor é caracterizado pelo chamado “capitalismo burocrático”. A indústria da cana definiu a estruturação política dos Estados nacionais e das economias latino-americanas.
No Brasil, a partir dos anos 1970, quando houve a chamada “crise” mundial do petróleo, a indústria da cana passa a produzir combustível, o que justificaria sua manutenção e expansão. O mesmo ocorre a partir de 2004, com o novo Pró-Álcool, que serve principalmente para beneficiar o agronegócio. O governo brasileiro passa a estimular também a produção de biodiesel, principalmente para garantir a sobrevivência e a expansão de grandes extensões de monocultivo da soja. Para legitimar essa política e camuflar seus efeitos destruidores, o governo estimula a produção diversificada de biodiesel por pequenos produtores, com o objetivo de criar o “selo social”. As monoculturas têm se expandido em áreas indígenas e em outros territórios de povos originários.
Em fevereiro de 2007, o governo estadunidense anuncia seu interesse em estabelecer uma parceria com o Brasil para a produção de biocombustíveis, caracterizada como principal “eixo simbólico” na relação entre os dois países. Essa é claramente uma face da estratégia geopolítica dos Estados Unidos para enfraquecer a influência de países como Venezuela e Bolívia na região. Também justifica a expansão de monocultivos da cana, soja e palma africana em todo o território latino-americano.
Aproveitando-se da legítima preocupação da opinião pública internacional com o aquecimento global, grandes empresas agrícolas, de biotecnologia, petroleiras e automotivas percebem que os biocombustível representam uma fonte importante de acumulação de capital.
A biomassa é apresentada falsamente como nova matriz energética, cujo princípio é a energia renovável. Sabemos que a biomassa não poderá realmente substituir os combustíveis fósseis e que tampouco é renovável.
Algumas características inerentes da indústria da cana são a destruição do meio ambiente e a superexploração do trabalho. Utiliza-se principalmente da mão-de-obra migrante. Portanto, estimula processos de migração, tornando os trabalhadores mais vulneráveis e dificultando ainda mais sua organização. O duro trabalho no corte da cana tem causado a morte de centenas de trabalhadores.
As mulheres trabalhadoras no corte da cana são ainda mais exploradas, pois recebem salários mais baixos ou, em alguns países, como na Costa Rica, não recebem seu salário diretamente. O pagamento é feito ao marido ou companheiro. É comum também a prática do trabalho infantil em toda a América Latina, assim como a exploração de jovens como principal mão-de-obra no estafante corte da cana.
Os trabalhadores não têm nenhum controle sobre a pesagem de sua produção e consequentemente de seu salário, pois são remunerados por quantidade de cana cortada e não por horas trabalhadas. Esta situação tem sérios efeitos para a saúde e causa até mesmo a morte de muitos trabalhadores por fadiga, pelo trabalho excessivo que demanda o corte de até 20 toneladas de cana por dia. A maioria das contratações é terceirizada por intermediários ou “gatos”. Isso dificulta a possibilidade de reivindicação dos direitos trabalhistas, pois não existe um contrato formal de trabalho. A figura do empregador é escondida nesse processo, que nega a própria relação de trabalho.
O Estado brasileiro estimula a utilização de terras dos assentamentos de reforma agrária e de pequenos agricultores, que atualmente são responsáveis por 70% da produção de alimentos, para produzir biocombustíveis, comprometendo a soberania alimentar.
Portanto, assumimos o compromisso de:
Ampliar e fortalecer as lutas dos movimentos sociais na América Latina e no Caribe, por meio de uma articulação entre as organizações dos trabalhadores existentes e as entidades de apoio.
Denunciar e combater o modelo agrícola baseado no monocultivo concentrador de terra e renda, destruidor do meio ambiente, responsável pelo trabalho escravo e a superexploração da mão-de-obra. A superação do atual modelo agrícola passa pela realização da Reforma Agrária ampla que elimine o latifúndio.
Fortalecer as organizações de trabalhadores rurais, assalariados e camponeses para construir um novo modelo alicerçado na agricultura camponesa e na agroecologia, com produção diversificada, priorizando o consumo interno. É preciso lutar por políticas de subsídios para a produção de alimentos. Nosso principal objetivo é garantir a soberania alimentar, pois a expansão da produção de biocombustíveis agrava a situação de fome no mundo. Não podemos manter os tanques cheios e as barrigas vazias.
São Paulo, 28 de fevereiro de 2007.