quarta-feira, 6 de junho de 2007

Industria farmacêutica...do crime

Retratos de um "apartheid" médico

Para acelerar a liberação de drogas ultra-lucrativas, as corporações farmacêuticas recorrem cada vez mais a cobaias humanas dos países pobres. Milhões de pessoas submtem-se, por migalhas, a testes sem supervisão, sem padrões éticos e que muitas vezes as privam de medicamentos essenciais

Sonia Shah

A indústria multinacional farmacêutica gasta quase 40 bilhões de dólares por ano para desenvolver novos medicamentos. Para isso, mobiliza uma crescente parcela dos cientistas mais experientes do mundo e a mais sofisticada tecnologia médica.

Com tal investimento maciço poderia se esperar um aumento do número de medicamentos de impacto dirigidos para os flagelados da humanidade. No entanto, esse ano, só a malária atingirá 500 milhões de pessoas no mundo, e matará cerca de três milhões. Os remédios mais modernos de que os médicos dispõem para tratá-los são anti-diluvianos: um medicamento chinês de mil anos, que substitui uma droga desenvolvida há mais de 50 anos [1].

A indústria famacêutica não desprezou as partes do mundo assoladas por doenças como a malária. Pelo contrário: nunca antes os fabricantes de remédios deram tanta atenção aos pobres do mundo. Os grandes laboratórios estão realizando milhares de ensaios clínicos nos países em desenvolvimento — Bulgária, Zâmbia, Brasil e Índia, por exemplo. Aninhado contra as favelas enegrecidas de fuligem em Mumbai ergue-se o reluzente prédio branco da Novartis, onde os pesquisadores franzem as sobrancelhas na busca de novas drogas. Ao redor das que se espalham cercando a Cidade do Cabo, ficam os cintilantes laboratórios de teste da Boehringer Ingelheim. Recentemente, a Pfizer, a Glaxosmithline (GSK) e a Astrazeneca instalaram centros globais de testes clínicos na Índia. Ano passado, a GSK realizou mais da metade dos seus testes de drogas novas fora dos mercados ocidentais, escolhendo em particular países de “baixo custo” para os testes “deslocalizados” [2].

As empresas não estão lá para curar os males dos doentes pobres que fazem fila em suas reluzentes clínicas de pesquisa. Os fabricantes de drogas foram aos países em desenvolvimento para fazer experimentos com as multidões de doentes miseráveis. Utilizam-se deles para produzir os remédios destinados às pessoas cada vez mais saudáveis em outros lugares, em particular ocidentais ricos que sofrem os desgastes da idade, como doenças cardíacas, artrite, hipertensão e osteoporose. Essa tendência — desenvolver drogas para os ricos globais testando-as nos pobres globais — além de não ser um investimento de recursos científicos preciosos, ameaça os direitos humanos e a saúde pública global.

Num mercado de bilhões, 100 mil "voluntários" para cada droga

Os Estados Unidos são o maior mercado de remédios do mundo. O norte-americano médio leva para casa dez receitas médicas por ano. Desde 2000, a indústria farmacêutica cresceu 15% por ano, triplicando o lançamento de drogas experimentais entre 1970 e 1990. Isto se deve, em grande parte, a mudanças nos regulamentos dos EUA sobre remédios. Em 1984, a agência norte-americana de medicamentos e alimentação (Food and Drug Administration, FDA) estendeu as patentes dos fabricantes para novas drogas; em 1992, começou a aceitar pagamentos de fabricantes em troca do exame e liberação mais rápida de suas drogas novas e, em 1997, suprimiu as regras que baniam anúncios de televisão para os remédios novos. Essa mudança bastou para trazer uma grande transformação na indústria. Pela primeira vez, permitiu-se aos fabricantes de remédios dirigir as propagandas mais atraentes dos remédios novos diretamente a um grande número de consumidores, sem a mediação cética de um médico.

Há muito dinheiro a ganhar vendendo remédios para norte-americanos: a indústria de medicamentos é uma das mais lucrativas do mundo. O problema é que quanto mais apreciam remédios, menos pessoas estão dispostas a se inscrever nos testes clínicos exigidos para desenvolver os novos. Cada droga nova exige cerca de quatro mil voluntários para os testes clínicos, o que por sua vez significa que 100 mil pessoas têm de ser atraídas para os ensaios iniciais. Por que tantos? Porque não é fácil desenvolver novos remédios para doenças do coração, artrite, hipertensão e outras condições crônicas não contagiosas.

Apesar do máximo esforço da indústria, a maioria das novas drogas destinadas a tratar dessas doenças tem eficácia apenas marginal. Algumas são similares a uma pílula de placebo. “Você sempre tem que batalhar para encontrar uma diferença” entre os pacientes tratados e não-tratados, diz um pesquisador clínico veterano. Não é preciso testar muitos pacientes para provar a eficácia, por exemplo, da insulina para pessoas em coma diabético, porque o efeito da droga é muito visível. Mas provar que drogas de baixa ação, como antialérgicos, medicamentos para o coração ou pílulas antiinflamatórias têm uma eficácia real exige um grande número de pessoas testadas.

A necessidade da indústria encontrar voluntários para experimentos é imensa. Entretanto, pouco mais de um em vinte norte-americanos estão dispostos a participar de testes clínicos. A razão é óbvia. Por que se expor a compostos experimentais, não testados, quando o leque de alternativas comprovadas está ao alcance das mãos?

Quanto mais doenças e "eventos", mais fáceis e rápidos os testes

Para resolver o problema, os fabricantes das drogas fazem testes para comparar o efeito dos seus remédios novos com o de um placebo. Basta provar à FDA que um medicamento novo funciona melhor do que nenhum. É um padrão simples que dá um resultado mais claro em menos tempo. O único problema com os testes de placebo é que exigem um número suficiente de pessoas que queiram participar de um experimento em que podem não receber tratamento algum – uma tarefa cada vez mais impossível, especialmente no Ocidente mergulhado em remédios.

Como resultado, 80% dos testes clínicos da indústria farmacêutica falham em cumprir os prazos de recrutamento. Para cada dia de atraso no desenvolvimento de uma droga, as companhias perdem cerca de um milhão de dólares em vendas, enquanto seus concorrentes ganham mercado.

Se as pessoas nos países em desenvolvimento estivessem sofrendo apenas de malária e doença do sono, é claro que não interessaria fazer testes nesses lugares. Mesmo que cada doente de malária tivesse um dólar para gastar com remédios – o que não acontece – esse mercado não seria grande o bastante para deslocar pesquisadores da indústria para laboratórios. Um mercado de 200 milhões de dólares, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) [3], é o mínimo necessário para despertar o interesse da indústria.

Não importa. Atualmente, além de malária e tuberculose, as pessoas dos países em desenvolvimento sofrem das doenças nas quais os fabricantes de drogas dos mercados ocidentais estão mais interessados. De acordo com a OMS, 80% das mortes por doenças crônicas não contagiosas, como males cardíacos e diabetes, agora ocorrem nos países em desenvolvimento. Há mais diabetes tipo II na Índia do que em qualquer outro lugar do mundo. Em alguns lugares da África, uma em cada cinco pessoas sofre de diabetes e 20 milhões de africanos padecem de hipertensão [4].

África do Sul: "um país ótimo para a AIDS"...

De acordo com a OMS, as implicações desse fenômeno para a saúde pública “são inquietantes e já estão aparecendo”. Por serem pobres e sofrerem incômodos de saúde mais prementes, poucos pacientes são tratados. Inevitavelmente, sofrem mais complicações do que os pacientes bem tratados do Ocidente. Isto oferece uma oportunidade para os testes industriais. Para provar que um remédio para o coração funciona, por exemplo, é preciso mostrar que quem não toma esse remédio sofre mais “eventos” — sejam ataques cardíacos ou mortes — do que quem toma o remédio. Os testes nos países pobres podem completar-se muito mais depressa. Como observou um executivo de uma companhia de testes clínicos, durante uma conferência sobre a adequação dos países pobres para testes clínicos: “se não houver eventos suficientes, você nunca vai terminar seu teste”.

Outro executivo de companhia de testes clínicos afirmou: “A África do Sul é um país ótimo [para AIDS]”, por causa do grande número de pacientes infectados pelo HIV ainda não tratados com drogas anti-virais. Com freqüência os fabricantes de drogas ficam frustrados em suas tentativas de provar que as novas drogas funcionam nos corpos impregnados de medicamentos dos ocidentais testados. Há tantas drogas em seus organismos que é cada vez mais difícil observar o efeito do composto experimental. Assim, os pacientes-virgens – pessoas doentes pobres demais para obter tratamento médico – são altamente valorizados nos testes clínicos.

Mas o grande atrativo para a localização dos testes em países mais pobres é a rapidez. Na indústria farmacêutica de hoje, onde os fabricantes de remédios manobram para ser os primeiros do mercado com a última insulina aspirada ou o novíssimo anti-depressivo, a velocidade é essencial. Nos países ocidentais, recrutar um número suficiente de voluntários para testes pode levar meses e até anos. Nos países em desenvolvimento, o recrutamento é rápido. Na África do Sul, a Quintiles alistou três mil pacientes para testar uma vacina experimental em nove dias. Em doze dias, recrutou 1.388 crianças para outro teste. Além do mais, no Ocidente, de 40 a 60% dos inscritos são instáveis e acabam largando os testes clínicos, incomodados por efeitos colaterais desagradáveis ou pelo inconveniente de se deslocar até a clínica. Em lugares como a Índia, as companhias de testes clínicos dizem que conservam 99,5% dos voluntários inscritos [5].

Não é fácil para os fabricantes de drogas ocidentais levarem seu negócio de testes clínicos para os países pobres. Muitas vezes, eles precisam traduzir documentos, equipar clínicas e hospitais sem recursos, treinar os médicos locais e lidar com uma burocracia estrangeira e freqüentemente corrupta. Mas, apesar desses desafios, para a maior parte dos grandes fabricantes de drogas, realizar os experimentos em países em desenvolvimento tornou-se uma necessidade. Empresas que oferecem consultoria sobre como realizar testes nesses países floresceram, tornando-se uma indústria secundária.

Grandes empresas de testes multiplicam filiais no Sul do planeta

As companhias de testes clínicos (também chamadas organizações de contratos de pesquisa, ou CROs) como a Quintiles e a Covance ostentam escritórios e consultórios por toda parte dos países em desenvolvimento. A Quintiles tem clínicas no Chile, México, Brasil, Bulgária, Estônia, Romênia, Croácia, Letônia, África do Sul, Índia, Malásia, Filipinas e Tailândia. A Covance alardeia que pode fazer testes em 25 mil centros médicos, em uma dezena de países. A imprensa comercial da indústria dos testes clínicos exalta-se com entusiásticos artigos como “Sucesso com testes na Polônia” e “Oportunidades de um bilhão de dólares em pesquisa clínica na Índia”. “Descubra a Rússia”, diz uma manchete de uma revista de propaganda, que lembra estranhamente a exuberância de um guia turístico, “para fazer pesquisa clínica”. “Vá esquiar onde existe neve”, recomenda outro anúncio de uma companhia que vende serviços de testes clínicos em países pobres. “E vá fazer testes clínicos onde existem doentes”.

E então, qual é o problema? Os testes clínicos oferecem por toda a parte melhor tratamento do que as clínicas regulares, que fazem os pacientes esperar o dia inteiro em seus consultórios quase vazios. Os pacientes pobres poderiam considerar-se com sorte por participar de testes clínicos – e a alegria com que eles acorrem sugere que sabem disso. Ainda por cima, as clínicas e hospitais nos países pobres têm acesso a tecnologia avançada e freqüentemente capitalizam-se com o novo equipamento que os fabricantes de drogas trazem para que realizem os testes. “Recebemos alguns equipamentos”, lembra um pesquisador clínico da Índia, “e eles não os pediram de volta”.

Ser uma cobaia humana pode ser um papel que os ocidentais não querem mais fazer, mas isso não quer dizer que não é um bom negócio para os pobres. Por que não mandar os testes para lá, do mesmo jeito que mandamos as fábricas tóxicas e as sweatshops? [6] É melhor do que nada. “Disseram [que eu] estava levando vantagem!”, queixou-se um pesquisador industrial criticado por fazer testes em países pobres. “Mas sem o teste, aquelas crianças morreriam!” Na incansável análise custo-benefício tão popular nos Estados Unidos, exportar desagradáveis testes clínicos para países pobres faz sentido. “Acho que em geral é bom para as pessoas participar de testes clínicos”, diz o diretor médico da FDA, Robert Temple. “Metade das pessoas recebe medicamentos ativos e melhor tratamento”, diz ele. “A outra metade...[recebe] melhor tratamento”.

Entretanto, oferecer o corpo à ciência não é o mesmo que dar um dia de trabalho numa fábrica. Mesmo o emprego superexplorado no sweatshop, seja como for, oferece benefícios palpáveis ao indivíduo, ainda que magros: trabalho, um pequeno contracheque. O teste clínico não garante nada. Na escala da comunidade, os pesquisadores podem equilibrar os riscos e benefícios. Mas não há garantia de que um voluntário será mais beneficiado do que prejudicado num experimento (O fato de que existe uma incerteza, naturalmente, é parte da razão pela qual uma experiência é realizada).

"Eles têm mais disposição para ser cobaias"

O pré-requisito absoluto à procura ética sobre os seres humanos – como está codificado em inúmeros documentos, inclusive na Declaração de Helsinki [7], da Associação Médica Mundial e no Código de Nuremberg [8] – pressupõe que os recrutados para a pesquisa sejam informados e consintam voluntariamente. A condição de voluntário significa que a pessoa pode entrar ou sair: não pode haver coerção, ainda que sutil — seja sob a forma de um pacote de compensações excessivamente generoso ou do acesso a cuidados médicos de outro modo inatingíveis, para influenciar indevidamente a decisão potencial do voluntário de expor-se a um teste experimental (Quando ativistas contra a AIDS pediram que os pesquisadores garantissem tratamento por toda a vida para os voluntários que fossem infectados durante o teste de alguma vacinas, os pesquisadores argumentaram que tal exigência violaria o princípio do consentimento voluntário. O negócio ficaria bom demais: até gente não infectada poderia inscrever-se só para conseguir remédio de graça).

E ainda assim, um crescente conjunto de evidências sugere que os voluntários em países em desenvolvimento não consentem espontaneamente em ser testados. Especialistas em bioética rastreiam o número de pessoas que se recusam a participar ou que desistem dos testes como uma espécie de indicador a posteriori. Nessas duas ocasiões, mostram que entendem que sua participação nos testes é voluntária. As taxas de recusa e desistência nos testes ocidentais podem atingir 40% ou mais. Mas, quando a Comissão Consultiva Nacional de Bioética da França realizou um estudo anônimo com os pesquisadores clínicos atuantes nos países em desenvolvimento, 45% deles disseram que os voluntários nunca se recusavam a participar dos testes.

A grande velocidade de recrutamento nestes testes – três mil voluntários para um teste de vacina, em nove dias, ou mil e trezentas crianças para um teste, em 12 dias – sugere, do mesmo modo, que não há desistências ou recusas. Eram muito poucos, se é que havia, os que diziam “não”. [9]

Num estudo sobre a qualidade do consentimento de voluntários alistados em testes de prevenção contra o HIV, na África do Sul, mais de 80% dos voluntários disseram que não sabiam que podiam desistir do teste se quisessem. Resultados similares foram obtidos num teste em Bangladesh [10]. Essa prova de coerção seria motivo para realizar poucos testes nessa população, mas está sendo usada para realizar mais testes. O fato de que os potenciais recrutados não dizem "não" é um aspecto vendável para as companhias de testes clínicos em atividade nos países em desenvolvimento. De acordo com um artigo no Applied Clinical Trials, os voluntários russos “não faltam às consultas, tomam todas as pílulas necessárias e só muito raramente voltam atrás. Os russos fazem o que os médicos mandam. Que fenômeno!”. Uma história de Centro de Vigilância sobre Testes, na China notou, do mesmo modo, que “os chineses não estão completamente emancipados como nos EUA. Eles têm mais disposição para serem cobaias”.

Agências de supervisão fecham os olhos para testes em países pobres

A supervisão européia e norte-americana destes testes é mínima. Quando um fabricante de drogas decide lançar uma experiência clínica nos Estados Unidos ou na Europa, primeiro precisa alertar as autoridades reguladoras e enviar todos os dados pré-clínicos – dados de laboratório e de testes com animais, junto com planos detalhados de como planeja usar a droga experimentalmente em seres humanos. Dados de testes no exterior são aceitos pelas autoridades reguladoras norte-americanas e européias, mas nenhuma exige que os fabricantes de drogas alerte-as antes de iniciarem os experimentos no exterior. Para esses testes, a única exigência é que a Declaração de Helsinki ou regras locais que por acaso garantam mais proteção sejam observadas. Se falharem – e 90% das drogas que entram nos testes clínicos falham em obter a aprovação regulatória – e não forem usados para apoiar o lançamento no mercado, então não há de fato controle norte-americano ou europeu sobre os experimentos. Sem descrição em parte alguma, os testes que fracassam nos países pobres simplesmente desaparecem sem deixar traços.

Nesse caso, a Declaração de Helsinki é suficiente? Poderia ser. O principal mecanismo de força da Declaração de Helsinki está nos comitês independentes – comitês de ética – que devem aprovar e supervisionar testes clínicos para assegurar que os direitos dos voluntários sejam protegidos. Seria ótimo se a infraestrutura ética e regulatória nesses países estivesse à altura da tarefa. Mas há provas indicando que em pelo menos alguns desses países, provavelmente não é assim. A Índia é um exemplo.

Funcionários do governo na Índia estão interessados na expansão dos testes clínicos, pois vêem uma possibilidade de lucro. Vários funcionários dizem que esperam expandir testes patrocinados pela indústria - de U$ 70 milhões para U$ 1 bilhão por ano. Eles instituíram várias mudanças em suas regras para facilitar os testes clínicos. As drogas experimentais não precisam demonstrar nenhum “valor especial” para a Índia, como antes. E as companhias que investem em pesquisa e desenvolvimento gozam de isenções de impostos por 10 anos [11]. A indústria dos testes clínicos é vista como um bom negócio para a Índia. De acordo com o Economic Times, o principal jornal de negócios do país, “as oportunidades são grandes, as multinacionais estáo ávidas, as companhias da Índia estão querendo. Temos as competências, as pessoas e temos uma vantagem que a China não tem e provavelmente nunca terá. O melhor é que esse é um tipo de deslocalização contra a qual os trabalhadores americanos não estão inclinados a protestar.”

O conflito de interesses dos reguladores do governo indiano não é insuperável. Uma possível abordagem seria aumentar a supervisão sobre os voluntários de testes. Mas, ao contrário, em quase todas as áreas de prática e pesquisa médica da Índia existe uma clara lacuna de regulamentos.

Índia, o laboratório ideal: não há código de ética médica

O ensino médico é pouco regulamentado. Escolas de Medicina foram flagradas contratando professores falsos para tapear inspetores, vendendo matrículas e leiloando títulos. Uma vez diplomados, os médicos, na Índia, não precisam demonstrar competência.

A prática clínica é insuficientemente normatizada. A Associação Médica Indiana não adota código de ética algum, de modo que quando três quartos dos médicos em Surat fugiram da cidade, durante um surto de peste – que poderia ser tratada por antibióticos se houvesse médicos para receitá-los –, as autoridades médicas nacionais ficaram em silêncio.

O mercado farmacêutico é notoriamente sub-regulamentado. Há cerca de 70 mil marcas de remédios disponíveis, com apenas 600 inspetores. Em um estudo, descobriram-se cerca de 70 combinações de remédios ineficazes ou perigosas no mercado (continuam a ser vendidas sob mais de mil marcas diferentes). Vendem-se remédios para indicações mal definidas como “queda intelectual”, “desajuste social” e “deterioração do comportamento”. Uma pesquisa de uma revista, em 2003, descobriu que um em cada quatro dos remédios que estavam disponíveis eram falsos ou abaixo dos padrões. Numa batida em 2003, na cidade de Patna, sete entre nove farmácias estavam operando sem licença. Pelo país afora, receitas de remédios são rotineiramente conseguidas por cima do balcão [12].

No entanto, de acordo com o conhecido perito em drogas Chandra Gulhati, editor do Monthly Index of Medical Specialties in Índia, “mesmo que uma companhia faltosa seja apanhada com a boca na botija em atividades ilegais, é liberada, por razões melhor conhecidas pelos reguladores, com uma ligeira advertência”.

De acordo com o principal bioeticista do país, Amar Jesani, “não há cultura ética na profissão” na Índia. Foram necessárias três décadas, após a primeira formulação da idéia do consentimento informado – durante o julgamento dos médicos nazistas em Nuremberg nos anos 1940 –, para que os Estados Unidos lhe dessem força de lei. Levou mais duas décadas para que a instituição da pesquisa médica dos EUA incorporasse os novos padrões em seu licenciamento, ensino e práticas clínicas. Esse processo tinha que ser iniciado em países como a Índia, onde em 2003, nenhuma escola de Medicina dava cursos de ética médica. Para supervisionar testes clínicos patrocinados pela indústria, comitês de ética são devidamente organizados, mas de acordo com o ativista da saúde Sandhya Srinivasan, eles não funcionam para proteger voluntários e sim para “possibilitar a divulgação”.

Esterilizações involuntárias, doentes de lepra sem tratamento

Não é surpreendente que tenha havido uma série de escândalos na pesquisa e prática médica por todo o país. Nos anos 1970, a quinacrina, remédio contra a malária, foi distribuído para milhares de mulheres sem instrução, provocando-lhes a esterilização permanente. A droga tinha sido desaprovada para esse uso e muitas das mulheres disseram, posteriormente, que tinham sido enganadas para tomá-la. Nos anos 1980, um anticoncepcional injetável — já retirado do mercado — foi testado em aldeãs que declararam que “não faziam idéia de que estavam participando de um teste”. Num experimento com a lepra, patrocinado pelo governo em 1991-1999, voluntários disseram que não sabiam que o teste era com placebo.

No fim dos anos 1990, pesquisadores do governo realizaram tratamento de 1100 mulheres analfabetas com lesões pré-cancerosas nas vértebras cervicais para estudar a progressão da doença. Mais tarde, descobriu-se que as pessoas não tinham sido informadas e não tinham dado consentimento. Em 2001, um pesquisador da Johns Hopkins foi apanhado testando uma droga anti-câncer experimental em pacientes com câncer no estado indiano do Kerala, antes da droga ter sido experimentada em animais. Em 2003, um remédio experimental contra câncer foi administrado em mais de 400 mulheres que procuravam aumentar sua fertilidade. A droga era tóxica para os embriões [13].

Países ocidentais também tiveram suas próprias histórias de transgressões, e entre as mais infames delas está o estudo sobre a sífilis do Serviço de Saúde Pública norte-americano de Tuskegee. O tratamento para a sífilis foi negado a dezenas de negros pobres do Alabama rural. O estudo sobre sífilis, quando exposto, levou às primeiras proteções legais a pessoas estudadas em pesquisas nos Estados Unidos, em 1974. Nenhum dos escândalos de pesquisas na Índia, por mais que tenham sido publicizados na imprensa, levou a qualquer proteção legal para os voluntários. Esses fatos não são novidade para os reguladores do FDA, que demonstram uma grande confiança na habilidade dos voluntários em se auto-proteger, oferecendo ou retirando seu próprio consentimento informado voluntário.

Uma prática que solapa a legitimidade da medicina ocidental

Contudo, testes clínicos realizados de forma não-ética fazem mais do que minar os direitos humanos: solapam a legitimidade da medicina ocidental, de modo mais geral. A crise de confiança entre muitas pessoas no mundo em desenvolvimento e a medicina estilo ocidental aprofunda-se diariamente. O espectro de uma explosão de testes clínicos secretos pouco controlados inflama tais reações. Muitos fabricantes de drogas e pesquisadores clínicos concordam que a coerção e a falta de informação são problemas óbvios, mas alegam que as grandes esperanças com a pesquisa biomédica compensam os riscos e sustentam que, se a regulamentação for exagerada, os testes clínicos e o ritmo da inovação médica vão se reduzir e mais pessoas vão morrer.

Esse argumento é fraco, mas comum e poderoso. Pode ser verdade que a qualidade do atendimento nos testes clínicos seja freqüentemente superior ao tratamento normal e que os médicos encarregados dos ensaios tenham acesso à mais recente tecnologia, instrumentos e recursos que eles podem destinar ao cuidado dos pacientes. Esses são benefícios concretos dos testes clínicos. Mas os dados em si não podem significam automaticamente progresso da medicina (qualquer um que tenha visto as mais modernas vacinas apodrecendo em almoxarifados tropicais pode confirmar). O progresso da medicina requer a implementação da pesquisa, não apenas testes, e isso exige que governos, programas de saúde, pacientes e muitos outros atores tenham de fato algo a ver com os dados.

Devíamos exigir que os voluntários pelo menos tivessem acesso aos métodos comprovados nos seus testes, não apenas num futuro hipotético, mas aqui e agora. Com excessiva freqüência, novas drogas desenvolvidas com experimentos em habitantes dos países pobres não são licenciadas para uso nesses países, têm preços proibitivos, ou não são utilizáveis porque a droga não é importante de um ponto de vista clínico. Precisaríamos exigir, também, alguma forma de confirmação ou validação para que o consentimento informado fosse de fato informado e voluntário.

Tais medidas poderiam acabar com alguns testes. Mas como disse o bioético Jonathan Moreno, seria parte do preço que pagamos para reconhecer que há uma diferença entre um rato de laboratório – que não precisa ser consultado se quer participar de um experimento [14] – e um ser humano.

Tradução: Betty Almeida
betty_blues_@hotmail.com


[1] Sonia perfect predator,” Orion magazine, November/December 2006

[2] Ler Jean-Philippe Chippaux, “As vítimas da Big Pharma”, Le Monde Diplomatique-Brasil, junho de 2005.

[3] A OMS foi criada em sete de abril de 1948, com o objetivo de que todos os povos atinjam o mais alto grau de saúde, definida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença (N.T.).

[4] A chamada “transição nutricional” que originou novos padrões de doenças foi detalhada por completo em: Benjamin Caballero e Barry M. Popkin eds., The Nutrition Transition: Diet and Disease in the Developing World (Londres: Academic Press, 2002)

[5] A rapidez com que as listas são completadas e o grande número de inscritos são informados em sitesî das Organizações de Contratos de Pesquisa (CRO). Ver, por exemplo www.quintiles.com e, também, “Lifting India’s Barriers to Clinical Trials,” CenterWatch, agosto de 2003.

[6] Sweatshops, no original. Em 1850, os suadouros eram fábricas de roupas populares com péssimas condições e salários para os trabalhadores. Hoje, são estabelecimentos que não respeitam direitos dos trabalhadores, empregam trabalho infantil ou escravo e cometem violações graves de leis trabalhistas (N.T.).

[7] A primeira Declaração de Helsinki, que regula a pesquisa médica com seres humanos, data de 1964 e já foi atualizada em 1975, 1983, 1989 e 1996. A Associação Médica Mundial estabelece o compromisso do médico com as seguintes palavras: "A Saúde do meu paciente será minha primeira consideração". Na versão de 1996, a declaração recomenda o respeito ao bem-estar dos animais utilizados e à integridade do meio ambiente (N.T.).

[8] O Código de Nuremberg, criado em 1947, durante os julgamentos de médicos nazistas que faziam experimentos com seres humanos em campos de concentração, impõe o consentimento dos seres humanos para participar de testes e pesquisas médicas (N.T.)

[9] Ver National Bioethics Advisory Commission, Ethical and Policy Issues in International Research: Clinical Trials in Developing Countries, abril de 2001.

[10] Quarraisha Abdul Karim et al, “Informed consent for HIV testing in a South African hospital: is it truly informed and truly voluntary?” American Journal of Public Health, 1º de abril de 1998, 637-40; e Niels Lynoe et al, “Obtaining informed consent in Bangladesh,” New England Journal of Medicine, 8 de fevereiro de 2001, 460-61

[11] Ken Getz, da consultoria de testes clínicos Center Watch, disse que foi recebido na Índia, como se fosse um chefe de estado. Ver também Narayan Kulkarni, “The trials leader,” Biospectrum, 10 de junho de 2003.

[12] Chandra Gulhati, editor da Monthly Index of Medical Specialties in India, descreve em detalhe as transgressões da indústria farmacêutica indiana. Ver, por exemplo, Chandra Gulhati, “Irrational fixed-dose combinations: a sordid story of profits before patients,” Indian Journal of Medical Ethics, janeiro/março de 2003. Ver também Arindam Mukherjee, “Pills that kill,” Outlook, 22 de setembro de 2003, 52; e Daniel Pearl e Steve Stecklow, “Drug firms’ incentives fuel abuse by pharmacists,” Indian Express, 17 de agosto de 2001.

[13] Ver Alix M. Freedman, “Population bomb: two Americans export chemical sterilizations to the Third World,” Wall Street Journal, 8 de junho de 1998, A1; Sanjay Kumar, “Sterilization by quinacrine comes under fire in India,” The Lancet, 17 de maio de 1997; Laxmi Murthy, “Contraceptive research: need for a paradigm shift,” One India, One People, julho de 2001; M.D. Gupte e D.K. Sampath, “Ethical issues considered in Tamil Nadu leprosy vaccine trial,” Indian Journal of Medical Ethics, janeiro/março de 2000; Amit Sen Gulpta, “Research on hire,” Indian Journal of Medical Ethics, outubro/dezembro de 2001; e Ganapati Mudur, “Johns Hopkins admits scientist used Indian patients as guinea pigs,” BMJ, 24 de novembro de 2001, 1204.

[14] Ver Libertar os animais, reumanizar a vida, Le Monde Diplomatique-Brasil. E, também, o Manifesto pela Libertação dos Animais, na edição de setembro do LMD, síntese das teorias do professor americano Garry Francione sobre a abolição da exploração animal (N.T.).

Noticias da Bolivia...

Presidente boliviano em favor da unidade nacional

O presidente boliviano, Evo Morales, destacou a responsabilidade de seu governo com a defesa da unidade nacional e mostrou-se partidário das autonomias, mas para uma maior integração.

Num encontro com as autoridades do departamento de Santa Cruz, no leste do país, o presidente instou a não confundir o regime autônomo com independência ou divisão do país.

Explicou que corresponde à Assembléia Constituinte a redação da futura Carta Magna e a concepção do novo Estado, que inclui a delimitação geográfica e administrativa dos departamentos.

“As autonomias são uma reivindicação histórica dos povos indígenas que há anos apostam pela autodeterminação”, disse.

Nesse sentido, o chefe de Estado ratificou a decisão do Executivo de defender e respeitar a Constituição.

Evo Morales presidiu as deliberações com as instituições dessa localidade, nomeadamente com o governador, Rubén Costas.

Nestas deliberações criticou várias medidas de protesto de alguns setores que tentam desestabilizar o país, referindo-se à greve de 24 horas iniciada na terça-feira, 5, por representantes do Poder Judiciário.

O presidente boliviano salientou que muitas vezes as decisões dos tribunais favorecem pessoas ricas e não cidadãos de poucos recursos.

Morales também participou da inauguração das obras de construção da estrada Aguaíces-San Pedro-Colonia Piraí, um centro de diagnóstico integral doado por Cuba e uma emissora de rádio comunitária.



E ainda se dizem "democráticos"....que piada!

INVASÕES ESTADUNIDENSES PELO MUNDO
Alberto da Silva Jones


1846 - 1848 - MÉXICO - Por causa da anexação, pelos EUA, da República do Texas.

1890 - ARGENTINA - Tropas americanas desembarcam em Buenos Aires para defender interesses econômicos americanos.

1891 - CHILE - Fuzileiros Navais esmagam forças rebeldes nacionalistas.

1891 - HAITI - Tropas americanas debelam a revolta de operários negros na ilha de Navassa, reclamada pelos EUA.

1893 - HAWAI - Marinha enviada para suprimir o reinado independente anexar o Hawaí aos EUA.

1894 - NICARÁGUA - Tropas ocupam Bluefields, cidade do mar do Caribe, durante um mês.

1894 - 1895 - CHINA - Marinha, Exército e Fuzileiros desembarcam no país durante a guerra sino-japonesa.

1894 - 1896 - CORÉIA - Tropas permanecem em Seul durante a guerra.

1895 - PANAMÁ - Tropas desembarcam no porto de Corinto, província Colombiana.

1898 - 1900 - CHINA - Tropas dos Estados Unidos ocupam a China durante a Rebelião Boxer.

1898 - 1910 - FILIPINAS - As Filipinas lutam pela independência do país, dominado pelos EUA (Massacres realizados por tropas americanas em Balangica, Samar, Filipinas - 27/09/1901 - e Bud Bagsak, Sulu, Filipinas - 11/15/1913) - 600.000 filipinos mortos.

1898 - 1902 - CUBA - Tropas sitiaram Cuba durante a guerra hispano-americana.

1898 - Presente - PORTO RICO - Tropas sitiaram Porto Rico na guerra hispano-americana, hoje 'Estado Livre Associado' dos Estados Unidos.

1898 - ILHA DE GUAM - Marinha americana desembarca na ilha e a mantêm como base naval até hoje.

1898 - ESPANHA - Guerra Hispano-Americana - Desencadeada pela misteriosa explosão do encouraçado Maine, em 15 de fevereiro, na Baía de Havana. Esta guerra marca o surgimento dos EUA como potência capitalista e militar mundial.

1898 - NICARÁGUA - Fuzileiros Navais invadem o porto de San Juan del Sur.

1899 - ILHA DE SAMOA - Tropas desembarcam e invadem a Ilha em conseqüência de conflito pela sucessão do trono de Samoa.

1899 - NICARÁGUA - Tropas desembarcam no porto de Bluefields e invadem a Nicarágua (2ª vez).

1901 - 1914 - PANAMÁ - Marinha apóia a revolução quando o Panamá reclamou independência da Colômbia; tropas americanas ocupam o canal em 1901, quando teve início sua construção.

1903 - HONDURAS - Fuzileiros Navais americanos desembarcam em Honduras e intervêm na revolução do povo hondurenho.

1903 - 1904 - REPÚBLICA DOMINICANA - Tropas norte americanas atacaram e invadiram o território dominicano para proteger interesses do capital americano durante a revolução.

1904 - 1905 - CORÉIA - Fuzileiros Navais dos Estados Unidos desembarcaram no território coreano durante a guerra russo-japonesa.

1906 - 1909 - CUBA -Tropas dos Estados Unidos invadem Cuba e lutam contra o povo cubano durante período de eleições.

1907 - NICARÁGUA - Tropas americanas invadem e impõem a criação de um protetorado, sobre o território livre da Nicarágua.

1907 - HONDURAS - Fuzileiros Navais americanos desembarcam e ocupam Honduras durante a guerra de Honduras com a Nicarágua.

1908 - PANAMÁ - Fuzileiros Navais dos Estados Unidos invadem o Panamá durante período de eleições.

1910 - NICARÁGUA - Fuzileiros navais norte americanos desembarcam e invadem pela 3ª vez Bluefields e Corinto, na Nicarágua.

1911 - HONDURAS - Tropas americanas enviadas para proteger interesses americanos durante a guerra civil, invadem Honduras.

1911 - 1941 - CHINA - Forças do exército e marinha dos Estados Unidos invadem mais uma vez a China durante período de lutas internas repetidas.

1912 - CUBA - Tropas americanas invadem Cuba com a desculpa de proteger interesses americanos em Havana.

1912 - PANAMÁ - Fuzileiros navais americanos invadem novamente o Panamá e ocupam o país durante eleições presidenciais.

1912 - HONDURAS - Tropas norte americanas mais uma vez invadem Honduras para proteger interesses do capital americano.

1912 - 1933 - NICARÁGUA - Tropas dos Estados Unidos com a desculpa de combater guerrilheiros invadem e ocupam o país durante 20 anos.

1913 - MÉXICO - Fuzileiros da Marinha americana invadem o México com a desculpa de evacuar cidadãos americanos durante a revolução.

1913 - MÉXICO - Durante a Revolução mexicana, os Estados Unidos bloqueiam as fronteiras mexicanas em apoio aos revolucionários.

1914 - 1918 - PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL - Os EUA entram no conflito em 6 de abril de 1917 declarando guerra à Alemanha. As perdas americanas chegaram a 114 mil homens.

1914 - REPÚBLICA DOMINICANA - Fuzileiros navais da Marinha dos Estados invadem o solo dominicano e interferem na revolução do povo dominicano em Santo Domingo.

1914 - 1918 - MÉXICO - Marinha e exército dos Estados Unidos invadem o território mexicano e interferem na luta contra nacionalistas.

1915 - 1934 - HAITI- Tropas americanas desembarcam no Haiti, em 28 de julho, e transformam o país numa colônia americana, permanecendo lá durante 19 anos.

1916 - 1924 - REPÚBLICA DOMINICANA - Os EUA invadem e estabelecem um governo militar na República Dominicana, em 29 de novembro, ocupando o país durante 8 anos.

1917 - 1933 - CUBA - Tropas americanas desembarcam em Cuba, e transformam o país num protetorado econômico americano, permanecendo essa ocupação por 16 anos.

1918 - 1922 - RÚSSIA - Marinha e tropas americana enviadas para combater a revolução Bolchevista. O Exército realizou cinco desembarques, sendo derrotado pelos russos em todos eles.

1919 - HONDURAS - Fuzileiros norte americanos desembarcam e invadem mais uma vez o país durante eleições, colocando no poder um governo a seu serviço.

1918 - IUGOSLÁVIA - Tropas dos Estados Unidos invadem a Iugoslávia e intervêm ao lado da Itália contra os sérvios na Dalmácia.

1920 - GUATEMALA - Tropas americanas invadem e ocupam o país durante greve operária do povo da Guatemala.

1922 - TURQUIA - Tropas norte americanas invadem e combatem nacionalistas turcos em Smirna.

1922 - 1927 - CHINA - Marinha e Exército americanos mais uma vez invadem a China durante revolta nacionalista.

1924 - 1925 - HONDURAS - Tropas dos Estados Unidos desembarcam e invadem Honduras duas vezes durante eleição nacional.

1925 - PANAMÁ - Tropas americanas invadem o Panamá para debelar greve geral dos trabalhadores panamenhos.

1927 - 1934 - CHINA - Mil fuzileiros americanos desembarcam na China durante a guerra civil local e permanecem durante 7 anos, ocupando o território chinês.

1932 - EL SALVADOR - Navios de Guerra dos Estados Unidos são deslocados durante a revolução das Forças do Movimento de Libertação Nacional - FMLN - comandadas por Marti.

1939 - 1945 - SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - Os EUA declaram guerra ao Japão em 8 de dezembro de 1941 e depois a Alemanha e Itália, invadindo o Norte da África, a Ásia e a Europa, culminando com o lançamento das bombas atômicas sobre as cidades desmilitarizadas de Iroschima e Nagasaki.

1946 - IRÃ - Marinha americana ameaça usar artefatos nucleares contra tropas soviéticas caso as mesmas não abandonem a fronteira norte do Irã.

1946 - IUGOSLÁVIA - Presença da marinha americana ameaçando invadir a zona costeira da Iugoslávia em resposta a um avião espião dos Estados Unidos abatido pelos soviéticos.

1947 - 1949 - GRÉCIA - Operação de invasão de Comandos dos EUA garantem vitória da extrema direita nas "eleições" do povo grego.

1947 - VENEZUELA - Em um acordo feito com militares locais, os EUA invadem e derrubam o presidente eleito Rómulo Gallegos, como castigo por ter aumentado o preço do petróleo exportado, colocando um ditador no poder.

1948 - 1949 - CHINA - Fuzileiros americanos invadem pela ultima vez o território chinês para evacuar cidadãos americanos antes da vitória comunista.

1950 - PORTO RICO - Comandos militares dos Estados Unidos ajudam a esmagar a revolução pela independência de Porto Rico, em Ponce.

1951 - 1953 - CORÉIA - Início do conflito entre a República Democrática da Coréia (Norte) e República da Coréia (Sul), na qual cerca de 3 milhões de pessoas morreram. Os Estados Unidos são um dos principais protagonistas da invasão usando como pano de fundo a recém criada Nações Unidas, ao lado dos sul-coreanos. A guerra termina em julho de 1953 sem vencedores e com dois estados polarizados: comunistas ao norte e um governo pró-americano no sul. Os EUA perderam 33 mil homens e mantém até hoje base militar e aero-naval na Coréia do Sul.

1954 - GUATEMALA - Comandos americanos, sob controle da CIA, derrubam o presidente Arbenz, democraticamente eleito, e impõem uma ditadura militar no país. Jacobo Arbenz havia nacionalizado a empresa United Fruit e impulsionado a Reforma Agrária.

1956 - EGITO - O presidente Nasser nacionaliza o canal de Suez. Tropas americanas se envolvem durante os combates no Canal de Suez sustentados pela Sexta Frota dos EUA. As forças egípcias obrigam a coalizão franco-israelense-britânica, a retirar-se do canal.

1958 - LÍBANO - Forças da Marinha americana invadem apóiam o exército de ocupação do Líbano durante sua guerra civil.

1958 - PANAMÁ - Tropas dos Estados Unidos invadem e combatem manifestantes nacionalistas panamenhos.

1961 - 1975 - VIETNÃ. Aliados aos sul-vietnamitas, o governo americano invade o Vietnã e tenta impedir, sem sucesso, a formação de um estado comunista, unindo o sul e o norte do país. Inicialmente a participação americana se restringe a ajuda econômica e militar (conselheiros e material bélico). Em agosto de 1964, o congresso americano autoriza o presidente a lançar os EUA em guerra. Os Estados Unidos deixam de ser simples consultores do exército do Vietnã do Sul e entram num conflito traumático, que afetaria toda a política militar dali para frente. A morte de quase 60 mil jovens americanos e a humilhação imposta pela derrota do Sul em 1975, dois anos depois da retirada dos Estados Unidos, moldaram a estratégia futura de evitar guerras que impusessem um custo muito alto de vidas americanas e nas quais houvesse inimigos difíceis de derrotar de forma convencional, como os vietcongues e suas táticas de guerrilhas.

1962 - LAOS - Militares americanos invadem e ocupam o Laos durante guerra civil contra guerrilhas do Pathet Lao.

1964 - PANAMÁ - Militares americanos invadiram mais uma vez o Panamá e mataram 20 estudantes, ao reprimirem a manifestação em que os jovens queriam trocar, na zona do canal, a bandeira americana pela bandeira e seu país.

1965 - 1966 - REPÚBLICA DOMINICANA - Trinta mil fuzileiros e pára-quedistas norte americanos desembarcaram na capital do país São Domingo para impedir a nacionalistas panamenhos de chegarem ao poder. A CIA conduz Joaquín Balaguer à presidência, consumando um golpe de estado que depôs o presidente eleito Juan Bosch. O país já fora ocupado pelos americanos de 1916 a 1924.

1966 - 1967 - GUATEMALA - Boinas Verdes e marines americanos invadem o país para combater movimento revolucionário contrario aos interesses econômicos do capital americano.

1969 - 1975 - CAMBOJA - Militares americanos enviados depois que a Guerra do Vietnã invadem e ocupam o Camboja.

1971 - 1975 - LAOS - EUA dirigem a invasão sul-vietnaita bombardeando o território do vizinho Laos, justificando que o país apoiava o povo vietnamita em sua luta contra a invasão americana.

1975 - CAMBOJA - 28 marines americanos são mortos na tentativa de resgatar a tripulação do petroleiro estadunidense Mayaquez.

1980 - IRÃ - Na inauguração do estado islâmico formado pelo Aiatolá Khomeini, estudantes que haviam participado da Revolução Islâmica do Irã ocuparam a embaixada americana em Teerã e fizeram 60 reféns. O governo americano preparou uma operação militar surpresa para executar o resgate, frustrada por tempestades de areia e falhas em equipamentos. Em meio à frustrada operação, oito militares americanos morreram no choque entre um helicóptero e um avião. Os reféns só seriam libertados um ano depois do seqüestro, o que enfraqueceu o então presidente Jimmy Carter e elegeu Ronald Reagan, que conseguiu aprovar o maior orçamento militar em época de paz até então.

1982 - 1984 - LÍBANO - Os Estados Unidos invadiram o Líbano e se envolveram nos conflitos do Líbano logo após a invasão do país por Israel - e acabaram envolvidos na guerra civil que dividiu o país. Em 1980, os americanos supervisionaram a retirada da Organização pela Libertação da Palestina de Beirute. Na segunda intervenção, 1.800 soldados integraram uma força conjunta de vários países, que deveriam restaurar a ordem após o massacre de refugiados palestinos por libaneses aliados a Israel. O custo para os americanos foi a morte 241 fuzileiros navais, quando os libaneses explodiram um carro bomba perto de um quartel das forças americanas.

1983 - 1984 - ILHA DE GRANADA - Após um bloqueio econômico de 4 anos a CIA coordena esforços que resultam no assassinato do 1º Ministro Maurice Bishop. Seguindo a política de intervenção externa de Ronald Reagan, os Estados Unidos invadiram a ilha caribenha de Granada alegando prestar proteção a 600 estudantes americanos que estavam no país, as tropas eliminaram a influência de Cuba e da União Soviética sobre a política da ilha.

1983 - 1989 - HONDURAS - Tropas americanas enviadas para construir bases em regiões próximas à fronteira, invadem o Honduras.

1986 - BOLÍVIA - Exército americano invade o território boliviano na justificativa de auxiliar tropas bolivianas em incursões nas áreas de cocaína.

1989 - ILHAS VIRGENS - Tropas americanas desembarcam e invadem as ilhas durante revolta do povo do país contra o governo pró-americano.

1989 - PANAMÁ - Batizada de Operação Causa Justa, a intervenção americana no Panamá foi provavelmente a maior batida policial de todos os tempos: 27 mil soldados ocuparam a ilha para prender o presidente panamenho, Manuel Noriega, antigo ditador aliado do governo americano. Os Estados Unidos justificaram a operação como sendo fundamental para proteger o Canal do Panamá, defender 35 mil americanos que viviam no país, promover a democracia e interromper o tráfico de drogas, que teria em Noriega seu líder na América Central. O ex-presidente cumpre prisão perpétua nos Estados Unidos.

1990 - LIBÉRIA - Tropas americanas invadem a Libéria justificando a evacuação estrangeiros durante guerra civil.

1990 - 1991 - IRAQUE - Após a invasão do Iraque ao Kuwait, em 2 de agosto de 1990, os Estados Unidos com o apoio de seus aliados da Otan, decidem impor um embargo econômico ao país, seguido de uma coalizão anti-Iraque (reunindo além dos países europeus membros da Otan, o Egito e outros países árabes) que ganhou o título de "Operação Tempestade no Deserto". As hostilidades começaram em 16 de janeiro de 1991, um dia depois do fim do prazo dado ao Iraque para retirar tropas do Kuwait. Para expulsar as forças iraquianas do Kuwait, o então presidente George Bush destacou mais de 500 mil soldados americanos para a Guerra do Golfo. 1990 - 1991 - ARÁBIA SAUDITA - Tropas americanas destacadas para ocupar a Arábia Saudita que era base militar na guerra contra Iraque.

1992 - 1994 - SOMÁLIA - Tropas americanas, num total de 25 mil soldados, invadem a Somália como parte de uma missão da ONU para distribuir mantimentos para a população esfomeada. Em dezembro, forças militares norte-americanas (comando Delta e Rangers) chegam a Somália para intervir numa guerra entre as facções do então presidente Ali Mahdi Muhammad e tropas do general rebelde Farah Aidib. Sofrem uma fragorosa derrota militar nas ruas da capital do país.

1993 - IRAQUE -No início do governo Clinton, é lançado um ataque contra instalações militares iraquianas, em retaliação a um suposto atentado, não concretizado, contra o ex-presidente Bush, em visita ao Kuwait.

1994 - 1999 - HAITI - Enviadas pelo presidente Bill Clinton, tropas americanas ocuparam o Haiti na justificativa de devolver o poder ao presidente eleito Jean-Betrand Aristide, derrubado por um golpe mas o que a operação visava era evitar que o conflito interno provocasse uma onda de refugiados haitianos nos Estados Unidos.

1996 - 1997 - ZAIRE (EX REPÚBLICA DO CONGO) - Fuzileiros Navais americanos são enviados para invadir a área dos campos de refugiados Hutus onde a revolução congolesa se iniciou. Marines evacuam civis.

1997 - LIBÉRIA - Tropas dos Estados Unidos invadem a Libéria justificando a necessidade de evacuar estrangeiros durante guerra civil sob fogo dos rebeldes.

1997 - ALBÂNIA - Tropas americanas invadem a Albânia para evacuar estrangeiros.

2000 - COLÔMBIA - Marines e "assessores especiais" dos EUA iniciam o Plano Colômbia, que inclui o bombardeamento da floresta com um fungo transgênico fusarium axyporum (o "gás verde").

2001 - AFEGANISTÃO - Os EUA bombardeiam várias cidades afegãs, em resposta ao ataque terrorista ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Invadem depois o Afeganistão onde estão até hoje.

2003 - IRAQUE - Sob a alegação de Saddam Hussein esconder armas de destruição e financiar terroristas, os EUA iniciam intensos ataques ao Iraque. É batizada pelos EUA de "Operação Liberdade do Iraque" e por Saddam de "A Última Batalha", a guerra começa com o apoio apenas da Grã-Bretanha, sem o endosso da ONU e sob protestos de manifestantes e de governos no mundo inteiro. As forças invasoras americanas até hoje estão no território iraquiano, onde a violência aumentou mais do que nunca.

Na América Latina, África e Ásia, os Estados Unidas invadiam países ou para depor governos democraticamente eleitos pelo povo, ou para dar apoio a ditaduras criadas e montadas pelos Estados Unidos, tudo em nome da "democracia".

(*) Alberto da Silva Jones é professor da UFSC.

Folha de São Paulo, sempre mal intencionada...

A mídia dos pilantras,
pulhas e paquidermes



A Folha de S. Paulo enviou um agente a Israel para escrever sobre os 40 anos da invasão e ocupação da Palestina pelas tropas sionistas. O enviado baseou seu trabalho no jornal Yediot Ahronot, espécie de Noticias Populares em sua pior fase. Transcreve a manchete do jornal "Síria se prepara para confronto no verão". Em seguida acrescenta - a Síria estaria se preparando “para uma guerra com Israel”e “Israel estaria se preparando para o pior”. Ou seja, induz o leitor a crer que a Síria é uma nação belicista e Israel, ao se preparar para o pior, seria uma nação pacifista, pronta a se defender. Se esse paquiderme se desse ao trabalho - não diria conhecer História, porque isso seria exigir muito, mas pelo menos consultasse os arquivos - veria que Israel sempre foi o agressor. Mas o paquiderme não para aí. Talvez por entender que os leitores da FSP são idiotas, relatou que “um membro da inteligência israelense teria lhe confidenciado que todos os planos de Israel para a guerra seriam na verdade “ planos defensivos”.Ou seja, mais uma vez Israel não pretende atacar,mas se defender. E o paquiderme, não satisfeito em conduzir a entrevista com o objetivo de acusar os sírios prossegue, agora citando um oficial: "Nossa percepção é a de que (o ditador sírio, Bashar) Assad poderia iniciar uma guerra limitada, não com o objetivo de recuperar o Golã, mas para obter um ganho estratégico ou fortalecer sua imagem no mundo árabe". Sentiram a barbaridade? O oficial israelense diz "Nossa percepção é a de que Assad”. Isso mesmo, o oficial diz apenas Assad, mas o pulha acrescenta por sua própria conta, entre parêntesis, o ditador Bashar. E o oficial fala em recuperar o Golã, território sírio ocupado por Israel. Subliminarmente o oficial israelense deixa claro que Ássad teria todo o direito de lutar para recuperar um território que lhe pertence. E provoca dizendo que ele não vai conseguir isso.
Ao terminar a leitura da matéria, fica na memória do leitor que os belicistas sírios vão invadir Israel a qualquer momento, por isso Israel teria todo o direito de atacar primeiro para se defender. É esse o tipo de jornalismo que a mídia brasileira pratica hoje. O dramático é que tem gente que ainda paga para ler esse lixo.
Và ser pulha assim na barão de Limeira.
Fonte:Blog do Bourdoukan

terça-feira, 5 de junho de 2007

Grande Som!!!!!!

VA - Guitares Jazz 2CD (2007)



CD-1
1. James Blood Ulmer - On & on (3:55)
2. Wes Montgomery - The Joker (3:25)
3. John Scofield - Boozer (5:23)
4. Jerry Garcia & Howard Wales - South Side Strut (5:38)
5. Django Reinhardt - Fleche D'or (2:58)
6. George Benson - The Cooker (4:15)
7. Kenny Burrell - My Favorite Things (3:28)
8. Karl Ratzer - Centerfold (4:11)
9. Andre Ceccarelli & John Mc Laughlin - Tones For Elvin (7:35)
10. Philip Catherine - Janet (7:44)
11. Birelli Lagrene - Its Alright With Me (4:15)
12. Knut Vaernes - Super Duper (3:40)
13. Barney Kessel - Foggy Day (3:08)
14. Charlie Christian - Solo Flight (2:48)
15. Luis Salinas - Latin Bebop (2:55)
16. Barthelemy - Lidos (4:59)
17. Corea, Dejohnette, Metheny, Vitous, Konitz & Braxton - All Blues Live (6:11)

CD-2
1. Frederic Belinsky - Le Grand Blond Avec Une Chaussure Noire (2:55)
2. Sylvain Luc & Birelli Lagrene - Isn't She Lovely (3:59)
3. Rodolphe Raffalli - Les Copains D'abord (4:29)
4. Jean Charles Capon, Christian Escolde, Pierre Boussaguet - Indifference (4:15)
5. John Mc Laughlin - Goodbye Pork Pie Hat (3:15)
6. Ry Cooder - Paris Tewas (2:52)
7. Tchavolo Schmitt - What A Difference A Day Make (5:37)
8. Boulou, Elios Ferre & Alain J.Marie - Ornithology (6:54)
9. Django Reinhardt - Si Tu Savais (2:42)
10. Ferenc Snetberger - Childhood (5:07)
11. Dorado Schmitt - Samba Dorado (3:28)
12. Romane - Destinee (3:41)
13. Sylvain Luc - Light My Fire (3:35)
14. Andrea Terrano - Morning Music (3:27)
15. Alexandre Lagoya & Claude Bolling - Africaine (4:22)
16. Raoul Bjorkenheim & Nicky Skopelitis - Sacrament (5:20)
17. Baden Powell, Phillipe & Benjamin Legrand - Berimbau Bidonville (8:59)

CLique aqui e baixe a parte 1 deste CD
CLique aqui e baixe a parte 2 deste CD
CLique aqui e baixe a parte 3 deste CD

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A manipulaçao da mídia é globalizada!!!

A liberdade de expressão como desculpa


Raúl Zibechi

À medida que escorre o magma informativo provocado pela não-renovação da concessão da RCTV, constata-se que as opiniões da mídia e de numerosos “analistas” do sul mostram o que verdadeiramente são: repetidores das idéias difundidas pelos think tanks do norte. Por isso, convém ir por partes para ver quem põe as idéias e quem se faz de distraído, como se a liberdade de expressão não tivesse uma larga e triste história que, neste continente pelo menos, inclui um amplo leque de violações: desde jornalistas desaparecidos até o pertinente gotejo de demissões nos meios de comunicação.

Quem traz as idéias

As usinas de pensamento conservadoras norte-americanas e européias são as que estão por trás de boa parte dos argumentos que agora expõem os jornalistas e os políticos da direita latino-americana. Até agora, eram os centros de estudo nos Estados Unidos quem mais influenciava na região. Isso, porém, parece estar mudando. Um bom exemplo é a espanhola FAES (Fundação de Análises e Estudos Sociais), de onde o ex-presidente José Maria Aznar – que se indentifica com o franquismo, como demonstrado por seu partido nos últimos meses – influi nos partidos de direita da América Latina. “Uma agenda de liberdade” é o nome do último informe destinado à região, apresentado no final de maio em Buenos Aires e São Paulo. O documento define os problemas deste continente: o “populismo revolucionário”, o “neoestatismo”, o “indigenismo racista” e o “militarismo nacionalista”.

O informe de Aznar sustenta que os partidos de direita de nosso continente (liberais, democrata-cristãos e conservadores) devem perseguir o objetivo comum de derrotar democraticamente o projeto do “socialismo do século XXI”. Além disso, defende que os Estados Unidos tenham uma presença mais ativa na América Latina. O quão democrático é o caminho que Aznar propõe é revelado por seus contatos locais.

Na Argentina, apresentou o documento que, junto com o analista Rosendo Fraga, apoiou a ditadura militar que provocou o maior genocídio da história desse país. No Brasil, o fez junto com Jorge Bornhausen, dirigente do Partido Democrata (ex-PFL), o mais próximo da ditadura militar dos anos 60. Estas são as amizades de Aznar que qualificam o governo de Chávez como “sinistro” e “totalitário”.

Além destas figuras, interessa observar como os meios de comunicação reproduzem as análises que emitem essas usinas de pensamento conservador. Um dos veículos mais influentes do continente é o diário argentino La Nación, partidário de todas as cruzadas antipopulares e fiel representante dos interesses das multinacionais. No domingo, dia 27, publicou uma matéria em seis colunas intitulada “A imprensa da América do Sul na mira”. A jornalista se detém no que considera como “uma guerra entre a imprensa e o governo” e o faz repassando a situação em dez países do subcontinente: Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Uruguai e Venezuela. Deixa de lado os três países em que, tudo indica, a liberdade de imprensa não está ameaçada: Colômbia, Paraguai e Peru. Em suma, optou pelos governos que, com maior ou menor ênfase, adotam o modelo neoliberal.

Chama a atenção a dureza com a presidente chilena Michelle Bachelet. Baseada numa “fonte” que preferiu “manter o anonimato”, a jornalista conclui que “a presidente tem uma obsessão por filtrar notícias” atribuída à sua “mentalidade mais ideológica” em relação a seu antecessor Ricardo Lagos, fato pelo qual “muitos canais de informação foram fechados”. Fala, inclusive, de alguns correspondentes estrangeiros que se queixaram de “maltrato oficial” devido a seu escasso contato com os veículos.

Luiz Inácio Lula da Silva tampouco está livre de críticas. É acusado de que seu vínculo com a imprensa “nunca foi intenso”, que “evita o contato com os meios de comunicação quando pode” e que, “diferentemente de Bachelet, Lula levou a hermeticidade um passo além”. E que criticou a imprensa por publicar “somente notícias ruins”. Nas críticas do La Nación, Tabaré Vázquez ocupa o terceiro lugar. “Seu governo acusa os meios de comunicação de 'conspirações e complôs' e o mandatário chegou a distribuir, em 2006, uma lista negra de veículos que acusa de integrar a 'oposição'”.

Citando um informe de março passado feito pelos empresários da imprensa (da Sociedade Interamericana de Imprensa), sustenta que existe “hostilidade contra a liberdade de imprensa e contra a imprensa independente”. Com Néstor Kirchner La Nación é implacável, sendo “autoritário” o adjetivo mais suave que lhe é imposto.

Os principais alvos são os governos mais duros com Washington e com os organismos financeiros internacionais. Segundo o diário argentino, Chávez abriu o caminho da “proibição da liberdade de expressão” que tanto Evo Morales como Rafael Correa estaão começando a percorrer. A tese que sustenta essas afirmações é interessante: como os partidos políticos estão se esvaziando e já não são representativos, os meios de comunicação assumem o papel de encabeçar a crítica e, por esses motivos, são castigados por esses governos. A conclusão vem quase no começo do artigo: “desconfiados e suspeitos, os governos regionais adotam, cada vez mais, a estratégia de enfrentar a imprensa”. Dito de outro modo: agora que os neoliberais não controlam nem estados e nem contam com partidos com apoio massivo à sua disposição, não têm outra saída que não se apoiarem nos meios de comunicação para fazerem prevalecer os seus interesses.

Paradigma

O jornalista espanhol David Carracedo acaba de publicar um exaustivo informe no qual mostra que, nos últimos anos, 293 meios de comunicação foram fechados por revogação ou por não-renovação de suas concessões: 77 emissoras de televisão e 159 rádios em 21 países. Só na Colômbia, 76 rádios comunitárias foram fechadas. Em março deste ano, a TeleAsturias, da Espanha, teve sua transmissão revogada por motivos técnicos. O informe não inclui o fechamento da Radio Panamericana do Uruguai, naquele que foi o maior atentado contra a liberdade de expressão desde o retorno do regime eleitoral no país em 1985.

Em 26 de agosto de 1994, uma resolução do governo Luis Alberto Lacalle fechou por 48 horas as rádios Panamericana e Centenario por transmitirem os sucessos do Hospital Filtro de 24 de agosto. Nesse dia, houve uma manifestação contra a extradição de diversos cidadãos bascos detidos nesse hospital, acusados de pertencer ao ETA. A demonstração resultou em um grande confronto com os policiais que terminou com a morte de um manifestante e dezenas de feridos. No mesmo dia que foi decretado o fechamento das emissoras, uma outra resolução revogava a autorização outorgada à Panamericana.

Os partidos Colorado e Nacional deram respaldo ao Executivo. A associação dos proprietários dos meios de comunicação, ANDEBU, teve séras dificuldades para chegar a um acordo interno que lhes permitiria um pronunciamento público. Depois de duas semanas do fechamento da Panamericana, a ANDEBU expressou “sua preocupação com os procedimentos do Poder Executivo”. Mas não deixou de manifestar, no mesmo comunicado, sua “preocupação com o conteúdo das transimssões da Rádio Panamericana”, que havia convocado o povo à manifestação pró-bascos, “por ser contrária aos princípios que regem a conduta da radiodifusão uruguaia”. Uma declaração que contrasta fortemente com a não-renovação da concessão da RCTV, que foi definida como “uma gravíssima agressão à liberdade de expressão”.

O ex-presidente Julio María Sanguinetti disse esses dias que “a Venezuela está entrando em um teritório muito preocupante de deterioração da democracia” e assegurou que o caso da RCTV significa um “colapso da liberdade”. Os nacionalistas, que eram governo em 1994 quando a Panamericana foi fechada, asseguraram que a decisão de Chávez é “uma violação aos direitos humanos” e o presidente do partido, Jorge Larrañaga, declarou que “é um ataque à liberdade de imprensa, um atentado contra as liberdades públicas, o que prova que o regime do senhor Chávez é péssimo do ponto de vista democrático”.

O contraste entre os acontecimentos de 1994 no Uruguai e as atividades atuais da direita a respeito da RCTV demonstram que a tão proclamada liberdade de expressão é apenas uma desculpa para atacar e derrubar governos que buscam sair do modelo neoliberal. E que, órfãos de apoio popular, só o podem fazer provocando situações de grande instabilidade que criam condições para golpes de Estado. É a estratégia desenhada por Aznar, fiel amigo de Bush, Blair e Sarkozy.

Raúl Zibechi é jornalista uruguaio.

Fonte: Correio da cidadania

Midia manipuladora....

Chávez, o Senado e a mídia






Altamiro Borges

A mídia hegemônica nativa está fazendo um enorme escarcéu com o desabafo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que acusou o Senado Federal de ser “papagaio” dos interesses dos EUA por este ter aprovado resolução contra o fim da concessão pública à RCTV – os dois únicos votos contrários à moção foram dos senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE) e José Nery (PSOL-PA). De todas as formas, tenta jogar o governo e a sociedade brasileira contra o processo revolucionário bolivariano. Defensora descarada do tratado neocolonial da Alca, derrotada nas ruas e nas urnas, ela usa todos os ardis para implodir o rico processo em curso de integração latino-americana. A mídia privada, partidária de golpes fascistas no passado, como em 64, e no presente, como na abjeta manipulação nas eleições presidenciais de 2006, agora tenta pousar de “democrata” e “nacionalista”.

O presidente Lula, que inicialmente até resistiu à pressão midiática para que se opusesse ao fim da concessão da RCTV, acabou caindo na armadilha. Antes, insistiu acertadamente em declarar que “o Brasil não tem nada a ver com a concessão, que é um problema da legislação venezuelana”. Já quando o Senado emitiu sua nota, o governo preferiu não criticar a interferência desta casa legislativa na decisão soberana do país-irmão. Mas, diante da reação do presidente venezuelano e da feroz campanha da mídia, o presidente Lula acabou cedendo e “expressou o seu repúdio a manifestações que coloquem em questão a independência, a dignidade e os princípios democráticos que norteiam nossas instituições”. Era o que a mídia desejava para fazer alarde sobre o “racha” entre Chávez e Lula.

Interferência indevida e inoportuna

A ofensiva da mídia é ardilosa! Em dezenas de manchetes, editoriais e notícias, acusa o governo venezuelano de ter se metido nos assuntos internos do Brasil ao criticar uma resolução do Senado. Mas ela nada fala sobre a própria resolução desta casa legislativa, que parece ter adotado uma tática diversionista para abafar recentes escândalos. O Senado brasileiro pode se imiscuir nos assuntos internos de um país irmão; já o presidente Chávez, que vive nova fase de tensão e golpismo, não pode se irritar contra uma resolução indevida e inoportuna. Na prática, o que o presidente venezuelano afirmou não está tão distante da pura verdade. “O congresso brasileiro deveria se preocupar com os problemas do Brasil. Mas ele é dominando por partidos da direita, que não querem a entrada da Venezuela no Mercosul. O Congresso está agora subordinado aos interesses de Washington”, cutucou.

A áspera resposta decorreu do requerimento aprovado no Senado que solicita a devolução da concessão à RCTV. A proposta foi apresentada pelo senador Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB. Na seqüência, ela foi defendida pelo senador José Sarney que, apesar do seu papel no processo de redemocratização do país, não é o político mais indicado para chiar contra “atentados à liberdade de imprensa” – já que mantém um “latifúndio da mídia” no Maranhão.

Acuados pela mídia e preocupados com sua “imagem” nas telinhas, até parlamentares do PT, como o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e o senador outsider Eduardo Suplicy defenderam a resolução do Senado. Neste caso, o ex-presidente do PT, José Dirceu, que já sentiu na pele que não adianta ceder às seduções dos “donos da mídia”, adotou uma posição bem mais equilibrada. Em seu blog, ele criticou “excessos retóricos” de Chávez, mas argumentou que também “estiveram errados nossos senadores ao aprovar moção que representa interferência nos negócios internos da Venezuela. Cada senador, individualmente, pode expressar sua opinião a respeito do tema, mas a instituição Senado não deveria se manifestar a respeito da atitude legal tomada pelo governo venezuelano”.

Mercosul e autopreservação corporativa

A direita nativa e sua mídia tentam amplificar o incidente, que deveria ser tratado pelas vias diplomáticas, com dois objetivos nítidos. O primeiro, como autênticos “papagaios” das ambições imperialistas dos EUA, é o de implodir o rico processo de integração latino-americana. “Foi uma agressão o que Chávez disse. Agora fica mais difícil a inclusão da Venezuela no Mercosul”, esbravejou o tucano Eduardo Azeredo. Já o direitista Heráclito Fortes, senador do DEM (ex-PFL, também batizado de Demo), sugeriu “que as empresas brasileiras deixem a Venezuela em apoio à RCTV”. Os colunistas bem pagos da mídia hegemônica já concentram as suas atenções na próxima reunião do Parlamento do Mercosul, marcada para 25 de junho, e farão forte alarde para isolar e excluir o país-irmão do bloco regional e para dar “irrestrito apoio” à emissora golpista.

O segundo objetivo é o da autopreservação corporativa. A direita está preocupada com a irradiação da experiência venezuelana e com o futuro da mídia. Teme que os novos governos da região, oriundos das lutas sociais, apliquem sua Constituição nos capítulos que afirmam que a concessão de emissoras de rádio e televisão é pública, uma prerrogativa do Estado, e que deve ser reavaliada periodicamente – o prazo da concessão da TV Globo, por exemplo, encerra-se em outubro próximo. O deputado Rodrigo Maia, presidente do DEM, não esconde o temor. “Este é o último e triste capítulo da novela do autoritarismo na Venezuela. Só nos resta torcer para que o enredo não se repita no Brasil, por meio da TV pública que o Lula se empenha em criar”. Mais explícito impossível!

Manipulação grosseira da Folha

Para fazer vingar estes dois objetivos, a manipulação da mídia brasileira é descarada. Basta ver as duas edições do jornal Folha de SãoPaulo deste final de semana. No sábado, uma manchete espalhafatosa e mentirosa: “Venezuela impede protesto da oposição”. Abaixo, a foto de três jovens loiras, tipicamente de classe média (o que representa menos de 10% da população venezuelana), com mordaças na boca e caras de choro. Um verdadeiro contra-senso: se o governo proíbe protestos, de onde saiu a foto das jovens à frente de uma reduzida passeata? Já no domingo, a marcha favorável ao fim da concessão da RCTV, com centenas de milhares de participantes e bem mais popular e mestiça, não mereceu a manchete da Folha, mas somente uma foto jocosa de duas meninas seminuas na passeata pró-Chávez, com o visível intento de desqualificar a manifestação. Uma aberração jornalística!

No seu editorial de sábado, o jornal da famiglia Frias ainda exige do governo Lula uma posição mais dura. “Lula fez o que lhe cabia ao defender a ‘independência’ e os ‘princípios democráticos’ das instituições brasileiras, além de cobrar explicações do embaixador venezuelano. Mas perdeu a chance de posicionar-se contra o fechamento da RCTV”. O cinismo da Folha e de outros meios privados é chocante. Como ironiza o sociólogo Emir Sader, “que moral eles têm para falar de democracia e de pluralismo nos meios de comunicação?”.

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “Venezuela: originalidade e ousadia” (Editora Anita Garibaldi, 3ª edição).