domingo, 19 de agosto de 2007

Kosovo

A exortação do presidente dos EUA à independência unilateral do Kosovo pode incendiar de novo os Bálcãs e faz lembrar a responsabilidade das potências ocidentais pelas guerras civis na região

Ignacio Ramonet

Há oito anos sem solução, a espinhosa questão do Kosovo instala-se, outra vez, no centro da política internacional. O presidente dos Estados Unidos George W. Bush alarmou as chancelarias declarando, sem dúvida aquecido por um acolhimento triunfal em Tirana (Albânia), em 10 de junho passado, que era necessário saber dizer basta “quando as negociações se prolongam em demasiado”. De acordo com Bush, Kosovo deve declarar unilateralmente sua independência, e Washington a reconhecerá sem esperar o veredito do Conselho de Segurança da ONU [1].

Questiona-se porque cinqüenta anos não foram suficientes para criar um Estado independente na Palestina (com as trágicas e conhecidas conseqüências), e porque, em contrapartida, é necessário solucionar a questão do Kosovo o mais rapidamente possível.

Bálcãs, onde as potências ocidentais também são culpadas

Nos Bálcãs, precipitação diplomática pode ser sinônimo de catástrofe. Vale lembrar a pressa da Alemanha e do Vaticano em reconhecer, em 1991, a secessão da Croácia, que favoreceu o desmembramento da ex-Iugoslávia e o desencadeamento da Guerra Servo-Croata, seguido pela Guerra da Bósnia-Herzegovina. Sem minimizar o papel nefasto do ex-presidente Slobodan Milosevic e dos extremistas partidários da Grande Sérvia, é necessário admitir que as potências européias têm responsabilidade em tais conflitos, os mais mortíferos do Velho Continente desde a II Guerra Mundial.

A precipitação favoreceu, também, a Guerra do Kosovo, em 1999, quando potências européias e os Estados Unidos recusaram-se a prosseguir as negociações com Belgrado [2] e rejeitaram o debate no Conselho de Segurança. Em seguida, sem o apoio da ONU, utilizaram-se da Organização do Tratado do Atlântico do Norte (Otan) para bombardear a Sérvia durante vários meses e forçar suas forças a deixarem o Kosovo.

Em junho de 1999, a resolução 1244 da ONU pôs fim à ofensiva, e colocou Kosovo sob administração das Nações Unidas, enquanto uma força da Otan, o KFOR (constituída de 17 mil homens) garantia a defesa. A resolução 1244 reconheceu a vinculação do Kosovo à Sérvia. O que é decisivo, pois o princípio adotado pelas potências implicadas nas recentes guerras dos Bálcãs sempre foi o de respeitar as fronteiras internas da antiga República Socialista Federal da Iugoslávia. Em nome desse princípio, os projetos da Grande Croácia e da Grande Sérvia, que ameaçavam desmontar a Bósnia-Herzegovina, foram recusados e combatidos. É nesse alicerce, sustentado também pela Rússia, entre outros países, que a Sérvia se apóia, hoje, para recusar o plano proposto pelo mediador internacional Martti Ahtisaari.

Os riscos de uma uma independência não-negociada

A independência será, talvez, a solução inevitável para o Kosovo, em vista dos enormes obstáculos à sua manutenção no âmbito administrativo da Sérvia. Mas tal caminho pode ser encarado apenas em estreita e prolongada harmonia com Belgrado, preocupada com a proteção da minoria sérvia que reside na região.

Uma independência precipitada como pede o presidente Bush, não negociada no âmbito da ONU, poderia provocar a constituição, em curto prazo, de uma Grande Albânia, que relançaria automaticamente os irredentismos croata e sérvio, às custas da Bósnia-Herzegovina. Sem falar do precedente internacional explosivo que isso constituiria para múltiplas entidades tentadas a proclamar — elas também unilateralmente — sua independência. A saber: Palestina (em relação a Israel), Saara Ocidental (ao Marrocos), Transdniestria (à Moldávia), Curdistão (à Turquia), Tchetchnia (à Rússia), Abakhazia (à Geórgia), Nagorno-Karabakh (ao Azerbaijão), Taiwan (à China), ou mesmo na própria Europa, o País Basco e a Catalunha (à Espanha e França), para citar apenas esses casos. Bush está pronto para garantir tais independências como declara querer fazer para o Kosovo?

Temos diante dos olhos os incríveis estragos causados no Oriente Médio pelas iniciativas irresponsáveis do atual presidente dos Estados Unidos. Sua pesada incursão agora, num teatro tão explosivo como o dos Bálcãs — um dos mais perigosos do mundo — consterna e espanta.

Tradução: Marcelo de Valécio
marlivre@gmail.com

A dança dos vampiros

Ao desdenhar tão brutalmente o Piauí o presidente da Philips, Paulo Zottolo, cometeu um ato falho. Por isso mesmo suas palavras devem ser levadas a sério. E o preconceito que elas mostraram é da mesma natureza daquele contra o presidente Lula.

No excelente filme de Roman Polanski, “A dança dos vampiros” (1967, com ele próprio e Sharon Tate), há uma cena em que os tão implacáveis quanto desajeitados caçadores dos dráculas contracenam com os próprios num baile. É uma cena inesquecível: alguns são mortos que dançam para parecer que estão vivos, outros são vivos que dançam para parecer que são mortos.

A verdade vem à tona quando, inadvertidamente, os caçadores e Sharon Tate passam diante de um espelho. Os vampiros, como se sabe, não têm imagem no espelho. A verdadeira imagem denuncia as mútuas fraudes, e naturalmente os caçadores se vêem implacavelmente caçados, e por aí se vai a comédia macabra.

A cena lembra o que aconteceu com as declarações do presidente da Philips, Paulo Zottolo, um dos animadores do movimento “Cansei”, desdenhando o estado do Piauí. É evidente que o sr. Zottolo cometeu um ato falho, isto é, um “ato involuntário”, no sentido de que não media então as conseqüências de seu gesto. Mas por isso mesmo deve ser levado a sério. Aquilo, por assim dizer, lhe saiu “pela boca afora”. Pode ser até que ele estivesse, como se diz juridicamente, “tomado de forte emoção”.

Que emoção? A do seu movimento, sem dúvida, a das raízes profundas do movimento “Cansei”. E que são, na verdade verdadeira, toda a coleção de preconceitos contra o povo brasileiro, por parte das auto-proclamadas “elites”, ou “élites”, como se dizia antigamente num pseudo-francês grotesco e macarrônico. Elites? Elite, convenhamos, é José Mindlin, é Antonio Candido, é Machado de Assis, é Lima Barreto, é Milton Santos, Raimundo Faoro, é Carvalho Pinto para citar alguém do campo conservador. Quem se auto-proclama “élite”, assim como quem se auto-proclama “formador de opinião” não merece ser levado muito a sério não.

O movimento “Cansei” tem na origem o entalhe do forte preconceito de que nossos problemas vêm de sermos obrigados a conviver com um “zé povinho” ou “zé povão”, sobretudo no que toca à escolha de governantes. Por extensão, é o mesmo preconceito que periodicamente se alevanta contra o presidente que, por duas vezes, esse “zé povinho” ou “zé povão” escolheu, em 2002 e 2006.

Agora o preconceito contra o presidente, que bate sempre na tecla da sua “ignorância”, do seu “despreparo”, envereda pelas suas declarações de que a crise econômica nas bolsas do mundo inteiro não deva nos afetar tanto. Tal declaração, assim de bandeja, só pode ter raiz no fato de que o presidente “não sabe” ou “não quer saber das coisas”. E é evidente que as declarações sobre o preconceito mal conseguem disfarçar a expectativa vampiresca de que sim, algo dê errado, que a vida do povão despenque de novo no buraco de onde mal e mal começa a sair, para que então a popularidade do presidente caia também e o Palácio do Planalto volte a cair nos braços de quem espelhe a imagem dessa “élite”, ou, quem sabe, o seu vazio de imagem, já que nem como burguesa consegue se ver, preferindo, num ato falho histórico, se ver para sempre no alpendre da casa grande, a contemplar os cafèzais.

De qualquer modo, pode-se dizer que a frase de Zottolo se transformou no epitáfio do “Cansei”.

Presidente da Phillips "cansou" da existência do Piauí

Em entrevista ao Valor Econômico, Paulo Zottolo, um dos líderes do movimento Cansei diz que "não se pode pensar que o país é um Piauí" e que "se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado". Governador Wellington Dias protesta e senadores atacam executivo: "Tolo, ignorante, imbecil, megalomaníaco".

O presidente da Phillips do Brasil, Paulo Zottolo, cansou também da existência do Estado do Piauí. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o executivo disse que, ao apoiar o movimento Cansei, desejava remexer no “marasmo cívico” do Brasil, e exemplificou: “Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado”. A colunista Mônica Bérgamo, da Folha de São Paulo, informou que o governador do Piauí, Wellington Dias (PT) encaminhará ao presidente Lula e ao Congresso Nacional um ofício para que o governo e o parlamento se posicionem a respeito das declarações do executivo.

Em nota enviada a Mônica Bérgamo, Dias afirmou:

“Tenho certeza de que o capitalismo afasta o homem do ser humano. Que Deus dê a ele a oportunidade de conhecer o Piauí e os homens e mulheres que aqui vivem. Para se ter uma idéia, o Piauí tem 80% de suas florestas nativas preservadas e produz oxigênio para o Brasil e para o mundo. O Piauí, segundo estudos em andamento, tem uma das maiores bacias de gás e petróleo do país. É do Piauí a melhor escola do Brasil, eleita dois anos consecutivos pelo Enem. O Piauí tem a melhor produtividade de soja, mel e algodão do país. Por coincidência, um piauiense, José Horácio de Freitas, foi diretor financeiro da Philips. Por ele e por todos os cidadãos piauienses deveríamos ter respeito. E faço a ele o convite para vir conhecer o Piauí”.

“É um tolo, arrogante e imbecil”, diz Mão Santa

Os senadores do Piauí reagiram duramente às declarações de Zottolo. No plenário do Senado, Mão Santa (PMDB) disparou: “É um tolo, um arrogante tolo, porque tem uns dólares da Philips, ignorante da nossa história. Ó tolo, ó ignorante, imbecil mesmo. Nunca vi. É tolo. O nome dele é tolo”. E acrescentou: “Hoje é o aniversário, ó tolo, ó ignorante, ó imbecil, de Teresina. Teresina, tolo, ignorante, imbecil da Philips. Você está cansado? Nós não nos cansamos, não. Nós somos da luta”.

Indignado, Mão Santa prosseguiu: “Ali, está Rui Barbosa, ó tolo, ó ignorante, da Philips, cansado! Rui Barbosa, olhe lá, veja nos resultados eleitorais, ele só venceu em Teresina, mostrando uma clarividência. Ó tolo, ó ignorante, ó imbecil e cansado da Philips".

Simpático ao movimento Cansei, o senador Heráclito Fortes (DEM), também atacou as declarações do presidente da Phillips: “Para comandar uma campanha dessa natureza, como o Cansei, é preciso, no mínimo, ter equilíbrio e respeitar os Estados da Federação, porque também cansei de arrogância e de prepotência".

Fortes criticou o ataque preconceituoso do executivo e, na mesma linha de Mão Santa, afirmou: “Só me resta chegar à conclusão de que, além de tolo, Zottolo é megalomaníaco”


Corpo, Alma e Sociedade
:: Flávio Gikovate ::

Nossa trajetória, como espécie ímpar, passa pelo crescimento e diferenciação do cérebro e de todo o sistema nervoso, o que permitiu uma maior e melhor utilização do “equipamento” assim disponível. Talvez a mais formidável seja a possibilidade de constituição da linguagem. Ela depende do aprimoramento de inúmeras áreas cerebrais, muitas delas com localização mais bem conhecida na atualidade.

É forte minha convicção de que a aquisição da linguagem corresponde a um divisor de águas entre duas circunstâncias completamente diferentes. Nossa espécie viveu, ao longo de dezenas de milhares de anos, sem ter conseguido sistematizar e transferir às gerações seguintes um sistema de sinais que denominassem objetos, ações e sensações. Penso que estiveram, mais que tudo, às voltas com seus impulsos instintivos e com a resolução de suas necessidades de sobrevivência. Formavam, como os outros mamíferos, arcos reflexos condicionados e os respeitavam. Reagiam aos desejos sexuais, às situações agressivas e a algumas regras de sobrevivência que tivessem aprendido a respeitar. Nesse domínio, tudo são suposições e não sou qualificado para ir mais adiante nos detalhes.

Avançando nos milênios, e continuando no plano das conjecturas, imagino que em algum momento fomos capazes de dar uso efetivo ao “equipamento” que já possuíamos há muito mais tempo. Símbolos sonoros - e depois também registrados sob a forma de desenhos, nossa primeira escrita - puderam ser associados fixamente aos atos e a determinados objetos com suas propriedades. Refiro-me ao fato de que o mesmo símbolo passava a ter o mesmo significado para todos os membros de um determinado grupo. Sendo assim, puderam ser transferidos de uma geração à outra, o que permitiu, talvez pela primeira vez, a sistemática e rápida acumulação de experiências e conhecimento. Nos meus devaneios imagino que essa deve ter sido a primeira grande revolução “tecnológica”, em tudo similar à que estamos vivendo atualmente.

É difícil imaginar o quanto a aquisição da linguagem deve ter influenciado a vida de cada pessoa e também a forma como viviam socialmente. Algum tipo de vida em grupo era anterior à aquisição da linguagem, já que ela dependia de que os mesmos símbolos fossem usados por várias pessoas com igual significado. Chamamos os símbolos de palavras. Elas passavam a substituir, na mente de cada um, o objeto ou situação à que se referia, assim como os números vieram a substituir a quantidade de objetos. De uma hora para outra, passamos a correlacionar as palavras entre si sem termos que nos ater diretamente aos fatos, assim como os matemáticos podem inventar correlações entre números que já quase não tem nada a ver com as quantidades a que inicialmente se referiam. Surge a possibilidade de construirmos pensamentos, ou seja, conjunto de frases constituídas por palavras que, um dia, foram “apenas” símbolos indicativos de objetos, sensações ou situações.

Tenho que me empenhar para não me perder e não me confundir enquanto escrevo essas linhas, de modo que suponho que o leitor não se encontrará em situação muito diferente. É como se estivéssemos assistindo a um curso de matemática ou mesmo de informática! Não vamos nos envolver demais nesta seara. O fato é que somos capazes - e isso sabemos por vivência pessoal - de utilizar nosso cérebro de forma a construir pensamentos, imaginar situações que não estamos vendo, refletir sobre o que nossos órgãos dos sentidos nos informam. Nos sonhos “vemos” o que não existe, já que estamos com os olhos fechados; sabemos distinguir o que vemos do que imaginamos, mesmo quando ambos nos chegam sob a forma de imagens. Somos sensíveis a determinados sons que, em nós, determinam emoções especiais, e assim por diante. O mais importante de tudo isso é que somos conscientes de nossa condição. Sabemos que, como os outros animais, somos mortais. Vivemos sabendo que, um dia, iremos morrer e nosso corpo irá ser reintegrado à terra.

O aspecto mais interessante de nossa condição é que não vivenciamos toda essa gama de pensamentos e sensações como se elas estivessem em relação com o nosso corpo, em especial com o cérebro. Quando pensamos, imaginamos ou conversamos, não temos a sensação de que nosso cérebro está em atividade, de que determinadas reações químicas no interior dos neurônios são responsáveis por nossos sorrisos ou lágrimas. Não é assim que nos percebemos. Temos a nítida impressão de que nossa atividade intelectual - ou seja, as correlações que fazemos entre palavras, frases, conceitos etc.- e nossas emoções são totalmente independentes do corpo. Temos a impressão, portanto, de que somos duplos, constituídos de duas entidades: a que possui um corpo e uma outra, imaterial, que foi chamada de alma. Nossa alma contém nossos pensamentos, sensações e também valores, algo que construímos a partir do uso autônomo das nossas funções psíquicas. Nossa alma, por vezes, olha para nosso corpo e não o reconhece como nosso! É comum que isso aconteça quando envelhecemos e nos assustamos com nossa imagem refletida inesperadamente em alguma superfície espelhada.

As dores físicas, registradas na alma, nos lembram que as entidades não estão tão separadas assim. Acontece o mesmo quando nos percebemos tomados por impulsos corpóreos, tais como o desejo sexual, a fome, a sede, reações agressivas etc. Eles chegam à consciência - palavra que corresponde, assim como mente, a sinônimo do que estou chamando de alma - e, por vezes, não são muito bem recebidos. É como se nossa alma tivesse que “suportar” uns tantos desaforos do nosso corpo. É como se nossa alma, superior, tivesse que conviver com os mesquinhos anseios corpóreos.

Ao mesmo tempo temos que aceitar que a alma não é capaz de subjugar totalmente o corpo, o que determina uma inexorável tensão interna, um conflito entre partes. A alma constrói um conjunto de valores que nem sempre levam em conta as reais peculiaridades do corpo. Tal sistema de valores parece ter sido elaborado em função de uma idéia de que, através dos pensamentos e da ação da mente, seríamos capazes de transcender totalmente nossa condição mamífera e mortal, muitas vezes percebida como algo quase intolerável.

O corpo também costuma ter suas “queixas” em relação à alma. Costuma sentir como exagerados e desnecessários os freios derivados do sistema de valores constituídos pela alma. A realização de determinados desejos naturais acaba por determinar uma ofensa ao código mental, de modo a provocar um conflito íntimo que pode até mesmo determinar efeitos nocivos à saúde corpórea. Se a pessoa age de acordo com o desejo do corpo, a alma reclama e determina sentimentos de vergonha ou culpa. Se o corpo é privado de agir, pode adoecer. E assim vamos tentando equilibrar nossa dualidade e suas conseqüências.

O anseio de transcendência, de que essa parte imaterial, sentida como superior, que habita nosso corpo seja capaz de sobreviver à nossa morte física, deve ter influído na construção da hipótese da imortalidade da alma. Não tenho a menor intenção de opinar a respeito desse tema. Gostaria de reafirmar o ponto de vista no qual estou me baseando: independentemente de sua origem e de seu caráter mortal ou imortal, vivenciamos em nossa subjetividade a presença da alma, qual seja, um conjunto de pensamentos, sensações e valores que não nos parecem vinculados ao corpo. Não desconheço o fato de que alterações orgânicas cerebrais de todos os tipos podem interferir em nosso estado psíquico, especialmente na disposição, humor, assim como provocar distúrbios senso-perceptivos e de cognição mais ou menos graves. Não desprezo nada disso. Apenas registro que, do ponto de vista da psicologia normal e de como vivemos o cotidiano, a alma parece destacada do corpo. Além disso, nem sempre somos competentes para perceber a influência, que efetivamente sofremos, das nossas condições corpóreas, especialmente aquelas relacionadas com a química cerebral.

Não há mais a menor dúvida de que alterações metabólicas cerebrais podem interferir dramaticamente na forma como pensamos, sentimos e agimos.

Ou seja, a alma está sim sujeita às condições do cérebro -- assim como de todo o corpo. Acontece que a recíproca também é verdadeira: muitos dos nossos pensamentos desastrosos, relativos a medo ou a maus presságios, determinam imediatamente as reações físicas correspondentes. Nosso corpo reage aos nossos pensamentos da mesma forma que reage aos fatos que a eles corresponderiam. As reações corpóreas não distinguem entre realidade e imaginação!



Flávio Gikovate é médico psicoterapeuta, pioneiro da terapia sexual no Brasil.

Conheça o Instituto de Psicoterapia de São Paulo.

Estréia no dia 5 de Agosto na Rádio CBN (Brasil)

O programa "No Divã do Gikovate" irá ao ar todos os domingos das 21h às 22h, respondendo questões formuladas pelo telefone e por e-mail gikovate@cbn.com.br

Email: instituto@flaviogikovate.com.br
História Revolucionária - Simon Bolívar


24 de julho de 1783 nasce em Caracas a principal personalidade histórica da Venezuela, líder maior na luta independentista contra domínio espanhol na América. Bolívar constrói uma verdadeira epopéia para conquistar a libertação dos povos explorados pelos espanhóis. Aclamado Libertador (1813} em Caracas após vitoriosa campanha em Nova Granada.
A Batalha de Ayacucho em 1824 pôs fim ao domínio espanhol nas Américas. Bolívar sonhava fazer uma verdadeira revolução social. Por iniciativa sua a escravatura foi abolida na Venezuela em 1816, Bolívar advogou veementemente a restituição das terras aos povos indígenas e ainda decretou o monopólio das riquezas do subsolo.
Esse e outros projetos de Bolívar foram solapados pela desunião oriunda dos interesses mesquinhos das oligarquias internas e pela influência externa das potências européias e dos EUA que puseram em prática a velha máxima de “dividir para governar”. Depois de um processo de desestabilização que foi de levantes militares a tentativas de assassinato, Bolívar foi expulso de seu país. Deprimido e doente, ainda teve que amargar a triste notícia do assassinato de seu mais fiel amigo e eficiente comandante militar, o Marechal António José de Sucre. Em 1830 morre o Libertador de tuberculose e de desgosto.
Bolívar disse: Tenho mil vezes mais fé no povo do que nos deputados (...) Jamais um Congresso
salvou uma república (...) Não conheço outra opção saudável que não seja a de devolver ao povo a sua soberania primitiva, para que refaça o pacto social.

Próceres da América Latina - http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=31704262

Fato histórico

Quando os espanhóis chegaram no século XVI, a Bolívia, rica em depósitos de prata, foi incorporada ao vicereino do Peru, e mais tarde ao de La Plata. A luta pela independência começou em 1809, mas permaneceu parte da Espanha até 1825, quando foi libertada por Simón Bolívar, a quem o país deve o seu nome. Tem como capitais LA PAZ ( Admnistrativa ) e SUCRE ( Constitucional judicial ), data da independencia 6 agosto de 1825, maior cidade SANTA CRUZ DE LA SIERRA, governo presidencialista.
Juan Evo Morales Ayma é o atual presidente da Bolívia e líder do movimento esquerdista boliviano cocalero, Morales é um admirador da ativista indígena guatemalteca Rigoberta Menchú e de Fidel Castro, este último pela oposição à política norte-americana. Morales propõe que o problema da cocaína seja resolvido do lado do consumo, que patrimonio cultural dos povos andinos e parte inseparavel da cultura boliviana e não uma simples regulação de uma convenção estrangeira. Nas eleições presidenciais de Dezembro de 2005 Morales conseguiu sair como vencedor ao obter 53,74% dos votos, frente a 28,59% de seu principal opositor, Jorge Quiroga. Pela primeira vez na Bolívia um indígena sobe ao poder mediante o voto popular por uma margem considerável sobre o segundo postulante.
"O pior inimigo da humanidade é o capitalismo. Isso é o que provoca levantes como o nosso, uma rebelião contra o sistema, contra o modelo neoliberal, que é a representação de um capitalismo selvagem.
Se o mundo inteiro não tomar conhecimento dessa realidade, que os estados nacionais não estão provendo nem mesmo o mínimo para a saúde, educação e o desenvolvimento, então a cada dia direitos humanos fundamentais estão sendo violados."
( Evo Morales )

sábado, 18 de agosto de 2007

A critica é atualíssima.....

Vênus(globo) perde o laquê

Paulo Henrique Amorim

A tecnologia e a concorrência ameaçam o império da Rede Globo

O Boni está feliz da vida e trabalha na rua Lopes Quintas, Jardim Botânico, Rio. É onde fica a Vênus Platinada. Continua a trabalhar, porque a Globo não mudou nada, depois que ele deixou o comando da empresa. Na Globo, não existe “DB”, depois do Boni. A Globo continua na era do Boni.

Nas finanças, a Globo está ótima. Levantou a concordata de 2002, quando deu o calote numa dívida de 1,1 bilhão de dólares. A Globo acreditou em FHC e achou que o real valia um dólar. Endividou-se em dólares e...

(Interessante que, à exceção de CartaCapital, não me lembro de outro órgão de imprensa que noticiasse a concordata da Globo.)

Em abril deste ano, a Globo lançou perpetual bonds no mercado financeiro internacional no valor de 325 milhões de dólares, com juros de 9,375% ao ano. O lançamento era de 250 milhões de dólares, mas a procura foi tanta que a oferta teve de crescer 30%.

A recuperação financeira deve explicar a “nova independência” da Globo, exposta de forma exuberante na eleição de 2006, quando o Jornal Nacional levou a eleição para o segundo turno, como demonstrou, nesta CartaCapital, reportagem exemplar de Raimundo Rodrigues Pereira.

Porém, nem tudo são rosas.

O ano de 2006 demonstrou também que a Globo passou a enfrentar um ambiente político e empresarial mais hostil.


Vejamos:

• Pela primeira vez, desde que se tornou a Vênus Platinada, nos anos militares, a Globo passou a enfrentar, em 2006, um concorrente que tem grana. A Record.

• Pela primeira vez, a Globo enfrenta um concorrente que entrou de sola no filé mignon da tevê brasileira: o mercado de novelas, onde está 25% do faturamento da Globo. O concorrente é a Record.

• A Globo é como aquele campeão peso pesado, que ganhou peso, só enfrentava sparrings e há 15 anos luta do mesmo jeito. E por isso é vulnerável, nesse combate contra um jovem que tem grana no bolso.

• A Globo não tem mais tempo de “go global”. A certa altura, ela tentou ir para a Itália, mas, como me disse, um dia, Bettino Craxi, antes de uma entrevista em Nova York: “Mas, como? Eles resolveram enfrentar o Silvio (Berlusconi), logo o Silvio?” E a Globo deu com os burros n’água.

A Globo deveria ter sido uma forte vendedora no mercado de novelas e jornalismo nos países de língua portuguesa e espanhola fora do Brasil, sobretudo nos Estados Unidos.

Oitenta por cento das receitas da Globo saem da publicidade. A participação da televisão no bolo publicitário brasileiro (um total estimado de 18 bilhões de reais, em 2006) está em 60% há dez anos.

Ou seja, o Brasil ficou pequeno para a Globo. Porque, com os custos fixos que tem – por exemplo, ela tem 475 contratos de exclusividade, de longo prazo, com artistas e pessoal ligado à produção de conteúdo* – a Globo teria de amortizar uma parte disso no exterior.

Porém, a Globo ficou imprensada na província, entre as palmeiras do Jardim Botânico e o Sumaré, e não viu a banda passar. Quem viu foram os mexicanos, os venezuelanos, colombianos e os americanos.

Hoje, a Globo não é mais a primeira em audiência no público que fala português fora do Brasil. É a Record Internacional. Uma vez, sugeri a Walter Zagari, diretor-comercial da Record, o slogan: “No mundo já somos os primeiros. Só falta o Brasil”. A sugestão não foi aceita...

• A Globo também não tem mais como impedir o crescimento de concorrentes no próprio mercado de televisão. Por exemplo, ao longo de 16 anos, a Globo conseguiu conter o crescimento do mercado de tevê por assinatura. Ela sentou em cima do mercado, tomou conta dele e não deixou que competisse com a tevê aberta – ou seja, com a Rede Globo.

Não queria que a tevê por assinatura canibalizasse a Rede Globo.

O Brasil é o país ideal para a tevê por assinatura, por causa da alta urbanização. Com um buraco no chão, você atingiria uma infinidade de domicílios. (É só ver a penetração da tevê por assinatura em Buenos Aires.)

A hegemonia da Globo fez com que, 16 anos depois, a penetração da tevê por assinatura no Brasil fosse de 8% do mercado. A vítima foi a produção independente no Brasil. Não é à toa que o cinema brasileiro é o que é; a dramaturgia brasileira é o que é...

Por causa desse trancamento da produção independente – e da cumplicidade dos governantes brasileiros –, é possível à Globo produzir, ela própria, 88% do conteúdo do horário nobre.

É bom lembrar que, em Hollywood, 50% dos empregos são de pessoas que trabalham em produções independentes para as emissoras de tevê: seriados, soap-operas, sit-coms etc.

Com a eleição de 2006, porém, isso (a cumplicidade dos governantes) pode mudar.

O ambiente político mudou. A Globo não depende mais do governo como dependia antes. E dependeria muito, se o BNDES tivesse conseguido concluir, no governo FHC, uma operação de salvamento da Globo por conta de “um futuro aumento de capital”. Era um negócio tão bom que Roberto Civita, em entrevista que meu deu, quando eu trabalhava na TV Cultura, proclamou: “Assim, eu também quero”.

Aliás, ao inaugurar o Projac, FHC disse: “Eu tenho orgulho da Globo. Eu tenho orgulho do Brasil”. Nessa ordem.

O ministro José Dirceu bem que tentou, no programa Roda Viva, ao comparar a Globo à Varig, arrumar uma grana para a Globo. Mas não conseguiu. A Globo foi à luta e resolveu a reestruturação de sua dívida no mercado financeiro internacional.

Melhor para ela e melhor para o Brasil.

Porque o governo Lula também não deve nada à Globo. Ao contrário: o golpe do segundo turno ficou atravessado na garganta do governo.

  • Também o ambiente institucional, regulatório, se tornou mais escorregadio para a Globo.

Até agora, a Globo conseguiu, como demonstra o professor Murilo Ramos, da Universidade de Brasília, fazer com que o setor de radiodifusão fosse “o mais irregulado” do Brasil. Vale o que a Globo quer. Ou queria.

A começar pelo fato de o ministro das Comunicações não mandar mais. Pela primeira vez na Nova República, que começou com Antonio Carlos Magalhães no Ministério das Comunicações, o atual ministro das Comunicações, Hélio Costa (que, como eu, chefiou o escritório da Globo em Nova York), não manda sozinho no pedaço.

Quem manda mesmo é a chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Foi ela quem decidiu que o sistema da tevê digital seria o japonês. Se foi por causa da Globo, tenho as minhas dúvidas...

É exatamente esse ambiente “irregulado” que agora pode se virar contra a Globo. No saco de gatos que a Globo montou nem ela manda mais.

Como é que a Globo vai evitar que a Telefônica tenha uma tevê por assinatura?

E a Brasil Telecom, que fatura num trimestre o que a Globo fatura no ano? (Aliás, é bom lembrar que tenho – com muito orgulho – um site no iG, empresa controlada pela Brasil Telecom). E se a Brasil Telecom comprar uma tevê por assinatura?

A Globo vai cobrir os céus do Brasil e desligar o transponder?

Vejam que situação interessante, que me relatou um amigo que entende disso mais do que eu.

John Malone, da Liberty Media, e Rupert Murdoch, da News Corp, decidiram que um vai sair da empresa do outro. Malone vende a Murdoch as ações que tem na News Corp. E Murdoch vende a Malone as ações que tem na Liberty Media – e sai da DirecTV.

Malone fica com a DirecTV. Só que Malone não gosta de investir fora dos Estados Unidos. E pode querer vender a DirecTV, que opera na América Latina, a uma tele que opere no Brasil. Como é que fica? A Globo vai impedir que o John Malone, que mora na Califórnia, venda a DirecTV à Telefônica, que fica em Madri? Nem com a ajuda do Ricardo Teixeira e da Fifa.

E aqui entramos no interessante capítulo das novas mídias e da democratização da mídia. A assim chamada “mídia convencional” nunca mais será a mesma.

A internet já é mais lida que os jornais, no Brasil.

Não é preciso dizer que a receita publicitária dos jornais e revistas está em queda.

Revistas: tinham 8,8% do total do mercado publicitário em 1996, e está em 8,6% este ano.

A dos jornais desabou (o que explica, em parte, a fúria antigovernista deles): era de 25,6% em 1996, e passou para 15,7% do bolo publicitário em 2006. Queda de 10% em dez anos.

Ou seja, é mais promissor produzir aço em Pittsburgh, automóveis em Detroit e chapéu-coco em Londres do que produzir jornais no Brasil.

Outro dia, num seminário na Cásper Líbero, imaginei a primeira cerimônia luddista do século XXI: João Roberto Marinho, Roberto Civita, Otavio Frias Filho e Ruy Mesquita, no salão nobre da Fiesp, debaixo do busto do Conde Matarazzo, fazem uma fogueira para queimar os computadores de cem dólares do Nicholas Negroponte.

É porque a democratização da mídia vai se dar na Casas Bahia.

O governo Lula levou o computador à classe C. Com a “MP do Bem”, o acesso ao crédito (especialmente ao crédito consignado) e a massificação do cartão de crédito, inclusive na classe C, o consumo de computador começa a se democratizar.

As vendas de computador vão subir 47% em 2006. Serão vendidos 9 milhões de unidades. Metade disso foi consumida pelas classes C e D. Só o “computador para todos”, que o governo lançou por 1.400 reais, vendeu 380 mil unidades nos nove primeiros meses do ano.

Computador significa internet. O brasileiro fica 20h30 por mês na internet, 37 milhões de brasileiros acessam a internet. São os campeões do mundo. O comércio eletrônico vai bater o recorde em 2006.

Vamos falar agora de outro formato de computador: o celular.

No mesmo seminário na Cásper Líbero, Caio Túlio Costa, presidente do iG, lembrou que a derrota de Aznar e a eleição de Zapatero, na Espanha, em 2004, devem muito à infinidade de SMS que desmentiram a versão da tevê estatal de que o atentado ao metrô de Madri era obra do ETA, e não da Al-Qaeda, como depois se comprovou.

Além de mandar mensagens com a rapidez de um torpedo, o celular passou a baixar e-mails e dar acesso à internet, lembra o relatório de dezembro de 2006 da ITU, a International Telecommunication Union:

“Um em cada três seres humanos no planeta tem celular. E cada vez mais os celulares estarão equipados com câmeras digitais e capacidade para tocar música. Ou seja, o celular começa a se parecer mais com um computador do que com um telefone.”

No Brasil, a penetração do celular foi espantosa: hoje, há 100 milhões de celulares no País. E 60% dos donos de celular enviam e recebem mensagens de texto, torpedos. Com a massificação do celular, a democratização do “computador no celular” de que fala o relatório da ITU será um passo.

Como é que a Globo quer impedir a democratização da mídia? Através da treva tecnológica?

Esteve em tramitação no Congresso uma PEC do senador Maguito Vilela (PMDB-GO), que pretendia exatamente isso: devolver o Brasil à Idade da Pedra. Ou seja, que “o provimento de conteúdo” – em todas as mídias, inclusive no celular – só possa ser feito de acordo com a lei atual de radiodifusão – aquela que interessa à Globo. A nacionalização completa do conteúdo, de preferência por nacionais do Jardim Botânico, quer dizer, do Projac.

(Corre também de forma acelerada um projeto de lei do deputado Luiz Piahylino, não reeleito, com substitutivo de Nelson Marquezelli – PTB-SP –, com a mesma inspiração tenebrosa.)

Eu imaginei submeter, humildemente, ao senador Evandro Guimarães, ou melhor, Maguito Vilela as seguintes perguntas:

• Se a minha sogra argentina tirar uma foto do Pão de Açúcar com o celular e enviar por e-mail para a minha filha que está em Fortaleza, pode?

• Se o meu sobrinho baixar o último disco do Bob Dylan no iPod, ele pode ouvir sentado no McDonald’s da avenida Henrique Schaumann? Ou tem de ser no Habib’s?

• Se um turista tailandês usar uma camereta e filmar um engarrafamento na Marginal do Tietê, postar no YouTube e eu assistir no meu notebook quando estiver em Caruaru, pode?

• O senhor não vai deixar entrar no Brasil a Internet Protocol Television (IPTV), que na Coréia do Sul e em Hong Kong é uma brincadeira de criança? Ou seja, assistir à tevê, na telinha do celular, pode?

• O Mino Carta, em Gênova, pode fazer um post em seu blog, no iG, sobre a excelência do vinho espanhol? Ou só pode se for sobre o Miolo?

• Jamais teremos a digital wallet, a carteira digital, que a Nippon Telegraph and Telephone começou a distribuir no Japão? É um celular com as características de um cartão de crédito. Você compra o que quiser... com o celular. Pode, senador?

• Ou é melhor transferir o iG para Ciudad del Leste e começar a postar as minhas enquetes e os meus vídeos de lá. Senador, o senhor pretende construir um Muro da Treva, na Ponte da Amizade, com o logo da Globo, em cima, todo iluminado de azul?


Mídia, Guerra e Narcoparamilitarismo

As declarações de Nordier Giraldo, narcoparamilitar, demonstram que os meios de comunicação em poder da oligarquia se converteram em prostitutas que servem ao melhor apostador. El Tiempo e a guerra. A Revista Semana e o narcoparamilitarismo. O povo tem que construir seus próprios meios de comunicaçãao, escreve Allende La Paz.


Allende La Paz, ANNCOL

A primeira vítima da guerra é a verdade, é um axioma de Perogrullo. Tem sido sempre assim ao longo da história, muito mais agora com o mundo ‘globalizado’ onde se interconectam em questão de frações de segundo lugares tão distantes como Iraque e Colômbia, para dar dois exemplos.
Os meios de comunicação em poder da oligarquia justificam a guerra antecipada do estado contra o povo colombiano. A têm como indispensável para sanar as diferenças políticas e ideológicas entre os colombianos, quer dizer, entre a oligarquia que maneja as molas do poder e o povo que carece de tudo menos de ganas de viver. Além disso a guerra os enriquece.

El Tiempo e a guerra.

Enrique Santos Calderon: “… A um inimigo não convencional não se pode enfrentar com métodos convencionais. Há que colocar-se como ele. Não dar a cara, golpear no escuro…”


El Tiempo é talvez o mais claro expoente do papel que jogam os meios de comunicação burgueses na guerra. Utilizando diversas manobras trata de desinformar aos colombianos ao invés de cumprir a verdadeira função jornalística. Na guerra que avança a oligarquia colombiana e o império estunidense a verdade é a primeira vítima, como em toda guerra. E El Tiempo aplica com gosto – despudoradamente diz Antonio caballero – este principio. Recorre a todos os ardis conhecidos e por criar, aos existentes e aos imaginários.
Ivan Cepeda e Claudia Girón analizaram acertada e precisamente o movimento do diário dos Santos em exposição apresentada no Seminário ‘A memória frente aos crimes de lesa humanidade’, r4ealizado em Bogotá em homenagem a Manuel Cepeda vargas, nos dias 9 e 10 de agosto de 1995. Dizem eles:
Continuando, vamos assinalar cinco casos concretos tomados do periódico El Tiempo, nos quais ficam evidentes alguns aspectos da manipulação ideológica da informação:
I. Sátira, Demonização e Deformação da Oposição Política Legal.
A caracterização da oposição legal como parte do inimigo interno, é um mecanismo que se observa com freqüência nas páginas de El Tiempo. A legitimidade política de reconhecidas figuras da vida nacional e de numerosas instituições é posta em dúvida mediante diversos tratamentos da mensagem. Com este propósito se utilizam, por exemplo, a caricatura, a calúnia, a adjetivação em termos tendenciosos, o silencio e a minimização dos acontecimentos.

Caso nº 1:

Na edição de 19 de fevereiro de 1993 em El Tiempo, na página 5-A, aparece a caricatura titulada El Alquimista, na qual se ridiculariza e difama ao Dr. Alfredo Vasquez Carrizosa, Presidente do Comitê Permanente dos Direitos Humanos. Nesta chacota se satiriza a proposta de o Doutor Alfredo Vasquez candidatar-se ao Prêmio Nobel da Paz.
II. Insinuação de Advertência Explícita sobre o Extermínio dos Representantes da Oposição Política Legal.
O jornal El Tiempo, reiteradamente insinua, sugere ou adverte explicitamente, que pelas ações dos movimentos guerrilheiros, os representantes da oposição legal podem ser objeto de ações de extermínio; insinuação e advertência que gera um clima de tensão e ameaça permanente.

Caso nº 2

Segundo Enrique Santos Calderón: “… A um inimigo não convencional não se pode enfrentar com métodos convencionais. Há que colocar-se como ele. Não dar a cara, golpear no escuro…” (citado no Tribunal Permanente de los Pueblos: p. 497). No entanto, ao reportar o magnicídio contra Manuel Cepeda Vargas, na seção Coisas do Dia, sob o significativo título de Olho por Olho (El Tiempo, 11 de agosto 1994, pág. 4 A), se afirma que este diário nunca esteve de acordo com a retaliação que expressa o princípio da Lei de Talião. Que reza: “Olho por olho, dente por dente”.
III. Linguagem subliminar sobre o extermínio da Oposição Política Legal e da Violação dos Direitos Humanos.
Como complemento da manipulação direta e explícita do tema mencionado, este meio de informação faz uso de sofisticados mecanismos de caráter subliminar, que sob diferentes modalidades, nas que se destacam elementos de contraste formal e estrutural (a cor, a imagem, o tamanho, a dimensão e o aproveitamento espacial, a linguagem, etc.), gera manipulação psíquica a partir do impacto visual, o que se traduz em efeito de apropriação inconsciente por parte do leitor. Esta manipulação psíquica por um lado, dificulta ao receptor codificar e elaborar as mensagens, assimilando de forma separada os elementos que compõe a imagem, ao mesmo tempo em que conforma a estrutura total da mensagem desejada no inconsciente. A combinação de elementos totalmente contraditórios em um mesmo contexto, é uma das formas da manipulação subliminar.

Caso nº. 3

Na edição de 11 de fevereiro de 1993, de El Tiempo, na página 1-A, aparecem, uma ao lado da outra, duas noticias: A primeira “Carro-bomba: 16 mortos” e a segunda: “Carnaval sem o mico ao ombro”. Na primeira notícia se anuncia a morte de 16 pessoas como saldo do atentado contra a União Sindical Operária, perpetrado em Barrancabermeja. Na segunda, se dá conta do início do Carnaval de Barranquilla, fato que se ressalta com os rostos sorridentes das rainhas e a figura grotesca de um homem fantasiado de símio. O contraste entre a tragédia que afeta a uma organização sindical e a população em geral, e a alegria que transmite a outra noticia, é na realidade uma vulgarização que descontextualiza o fato violento e desvia a atenção do observador. A contradição se constitui em Isolante Emocional, em um inibidor da sensibilidade a partir do efeito grotesco que se produz.
Outros elementos, mais refinados e sutis, buscam impactar de forma integral o observador, a partir de uma estrutura formal compacta que envolve um nível de coerência ideológica mais complexo.

Caso nº 4

Na edição de abril de 1993 de El Tiempo, aparece no centro da página 4-A, uma fotografia na qual um homem limpa com um jato de água uma parede na qual estão pregados grandes cartazes com a legenda “Partido Comunista”. O título da fotografia é: “Eureca: Limpeza”. Assim mesmo na edição de 31 de dezembro de 1994, na página judicial aparece a noticia: “Vinculam irmão de ‘Rambo’ ao assassinato do Senador Manuel Cepeda Vargas”. Ocupando dois terços da mesma página, pode-se observar em primeiro plano e colorido, um aviso publicitário de reciclagem de desperdícios, com um grande título que diz: “Lixo”. Nestas mensagens subliminares, a eliminação física dos setores de oposição se insinua disfarçadamete como uma modalidade de Limpeza Social em nosso país, estabelecendo-se a impunidade e o esquecimento como formas de reciclagem da História.
IV. Normalização Subliminar da Corrupção Política.
As mensagens subliminares são utilizadas como mecanismo psicológico não só para justificar ou legitimar o extermínio da oposição política, como também para normalizar e naturalizar frente à opinião pública, aspectos da realidade colombiana como a corrupção da classe política e seus dirigentes.

Caso nº 5

No dia 16 de abril de 1993, na página 6-A, página dedicada às noticias políticas, se apresenta o aviso publicitário de uma telenovela, que cobre a metade da página. No dito aviso aparece um personagem fazendo um discurso, e a seu lado a seguinte mensagem: “Este é um político honrado que busca o bem comum, e é bem comum que sempre tire vantagem”. No resto da página aparecem noticias sobre a realidade política nacional e a fotografia de um conhecido dirigente. O aviso publicitário, que satiriza a corrupção administrativa através da frivolidade do personagem da telenovela, localizado ao lado da informação real sobre a atualidade política do país, apresenta este fenômeno como algo aceitável e culturalmente assimilado.
Apesar de haver sido enunciada esta tese em 1995 ainda hoje conservam enorme vigência. Vejamos o publicado em 11 de abril de 2007 que nos mostra que a tergiversação e a insânia são intrínsecas ao pensamento dos donos do que hoje se converteu na casa editorial El Tiempo, um enorme monopólio da comunicação que cresceu mamando dos dinheiros provenientes da guerra. Diz El Tiempo:
Guerrilha das FARC teria infiltrado polícia de Costa Rica para tráfico de armas.
Segundo o vice ministro de Segurança Pública do país, Rafael Gutierrez, cinco agentes foram detidos durante a localização de um carregamento de fusís, metralhadoras e 30 mil balas para Colômbia.
Gutiérrez disse a um correspondente do diário El Universal do México em Costa Rica que procederá uma limpeza no interior da corporação policial para erradicar os possíveis nexos com o grupo armado colombiano.
Segundo o ministério, o carregamento de armas ia ser transladado por terra para o Panamá, quando foi interceptado. Isso permitiu que identificassem a formação da célula ilegal, de cuja operação resultaram detidos os cinco policiais e três pessoas cujas nacionalidades não foram informadas.
Costa Rica erradicou em 1948 seu Exército para atribuir todos os poderes militares à Polícia Nacional.
O caso atual seria o segundo incidente deste tipo nesse país. Depois de em junho de 2006 uma rede de narcotraficantes colombianos, costarriquenhos e panamenhos, teriam subornado policiais em um caso de homicídio de um colombiano vinculado ao tráfico de drogas, assinala o diário mexicano em sua versão digital.
Apesar do que foi dito, não há nenhuma evidência que prove que o contrabando de armas haja sido realizado por membros das FARC, nem sequer que seu destino fosse esta organização insurgente armada. De onde se alimenta El Tiempo? De outro meio? E quem nutre esse meio? Supostamente os meios costarriquenhos.
Sabemos que ali em Costa Rica, agentes das agências dos EEUU pagam a jornalistas costarriquenhos para que qualquer interceptação de cocaína ou de armas se impute às FARC sem nenhuma prova. Como se pode ver não são mais que boatos, que uma vez levados a rodar são reproduzidos pelos diferentes países e são convertidos desta maneira em verdade. É o mesmo estratagema usado no Iraque e em todo o mundo.
É à sombra da guerra que EL Tiempo se converteu em casa editorial e hoje se dirige a converter-se em monopólio, alçado logicamente pelo regime narcoparamilitar que paga os favores recebidos e os declara isentos de imposto e contratos por 9 bilhões de pesos. Sempre me tenho perguntado: É ou não é uma forma de vender-se?
Revista Semana e narcoparamilitarismo
63 milhões recebeu a Revista Semana por publicar uma reportagem do señor Hernán Giraldo.
Hoje leio em El Heraldo – um diário local – que o sobrinho do capo narcoparamilitar Hernan Giraldo, que arrasaram Santa Maria e Magdalena em sua ‘confissão’ ante a prefeitura disse segundo o diário: “Se referiu a uma publicação da Revista Semana da edição de 02 de fevereiro de 2006, intitulada “O Senhor da Serra”.
…De acordo com Giraldo Giraldo, o semanário teria recebido 63 milhões para que enviasse algum de seus jornalistas à Serra Nevada e publicasse um artigo sobre o ‘Patrão’.
…O dinheiro foi enviado com José Gévez Albarracin (aliás o ‘grisalho’) em 30 de janeiro de 2006, antes da desmobilização. Se buscava que os meios de comunicação saquessem algo favorável porque se falava mal do senhor (Giraldo Serna)”.
Isso não é nada estranho. É a prostituição do nobre exercício do jornalismo. A Revista Semana – parte da casa editorial El Tiempo – atua permanentemente como porta-voz das forças militares e já vemos como se lucra ao realizar ‘reportagens’ para mostrar o poder dos grupos narcoparamilitares.
Este lucro, além de imoral e antiético, é criminoso. As vítimas produzidas pela turba assassina do capo narcoparamilitar Hernán Giraldo, são testemunhas de guerra que este ‘senhor’ como lhe chamam na Revista Semana, investiu – e investe – contra vítimas inocentes, inertes e desarmadas.
Também vemos que os diretores da Semana saem refutando as afirmações do narcoparamilitar Giraldo Giraldo, mas é extremamente gritante que nenhum dos meios em poder da oligraquia, nem sequer a mesma revista, haja feito uma reportagem a nível nacional destas ‘confissões’ de Giraldo. Informção oportuna, verídica?
Uma informação verídica
Da esquerda temos sempre denunciado o papel dos meios de comunicação jogam nas políticas dos estados e especialmente nos países onde se praticam guerras do estado contra o povo, no que se tem chamado acertadamente de Terrorismo de Estado. Esses meios se convertem em incitadores (atores) e beneficiários, ao tempo da guerra, transpassando todos os princípios éticos e desprezando os valores morais.
Por esta razão o povo deve construir seus próprios e , neste mundo globalizado, oportunos, rápidos e verdadeiros meios de comunicação, que lhe brinde informação objetiva ao povo e neutralize os propósitos midiáticos dos meios burgueses.
Devemos recordar o que nosso libertador Simon Bolívar dizia:
Em moral como em política há regras que não se devem transpassar, pois sua violação costuma custar caro.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Midiatrix Revelations

A CIA e seu rastro de sangue na América Latina





Waldir Rampinelli - Prof. no Dpto.História UFSC/ Pesquisador no IELA

Os documentos que tornam público as atuações da Agência Central de Inteligência (CIA) na América Latina se limitam a tratar de alguns casos pontuais, quando na realidade o trabalho desta instituição abrangeu estratégias terroristas muito mais amplas contra povos, governos, nações e Estados.

Criada no início da Guerra Fria para espionar e abortar as ações soviéticas, assim como controlar e reverter os governos nacional-populistas do Terceiro Mundo, a CIA completa sessenta anos de existência com uma folha de serviços prestados que incluem chantagens emocionais, seqüestros, torturas, assassinatos, intervenções militares e golpes de Estado.

Na América Latina, o primeiro grande êxito da CIA foi a derrubada do governo reformista de Jacobo Arbenz Guzmán na Guatemala, em 1954. O então presidente Arbenz, empenhado em desenvolver um capitalismo autônomo e independente para “tirar seu povo de um atraso secular”, sofreu todo tipo de pressão dos Estados Unidos. A CIA comandou abertamente a invasão armada a este país centro-americano, utilizando territórios de países vizinhos e aviões estadunidenses para espalhar o terror na população guatemalteca. Uma vez derrotada esta experiência democrática, Washington instalou uma série de ditadores militares no poder, que de 1954 a 1985 utilizaram praticamente todos os métodos fascistas, para dizimar as populações indígenas que exigiam a volta ao regime democrático. Cerca de 70 a 80 mil pessoas foram assassinadas neste período, cometendo-se um verdadeiro genocídio. Apenas entre 1966 e 1981 realizaram-se 30 mil atos de seqüestro, torturas e assassinatos, segundo a Anistia Internacional (Veja-se o livro dos estadunidenses Stephen Schlesinger e Stephen Kinzer, Fruta Amarga – A CIA na Guatemala, Editora Século XXI, México, 1982).

Contra Cuba, a CIA planejou, treinou e dirigiu a invasão de Praia Girón, em abril de 1961. Ao sofrer ali sua primeira grande derrota, ela foi totalmente reestruturada por John Kennedy para torná-la mais eficiente, desagradando a muitos de seus dirigentes. Daí sua participação no próprio assassinato do presidente estadunidense. A partir de Johnson, passando por todos os demais mandatários da Casa Branca, a CIA vem lançando mão de todas as estratégias para liquidar a Revolução Cubana, como as incontáveis tentativas de assassinato de seus líderes; a explosão de aviões e navios; o incêndio dos canaviais, bem como o desenvolvimento de bactérias para inviabilizar esta cultura; o metralhamento de cidades com o objetivo de gerar pânico; o apoio à entrada clandestina de contra-revolucionários na ilha e a tentativa fracassada de criar uma guerrilha pró-imperialista nas montanhas cubanas do Escambray; o incitamento à rebelião por meio de ondas de rádio e televisão; o estímulo à fuga em massa para tentar desmoralizar o regime socialista; e a cooptação da altos funcionários do Estado cubano para desacreditar os avanços da Revolução. Obviamente que todas estas operações têm um preço muito alto: a perda de vidas humanas.

Preocupado com o mau exemplo dado por Cuba, Kennedy criou a Aliança para o Progresso, que além dos programas de ação cívico-militar, buscava neutralizar as causas econômicas e sociais que originavam as revoluções no subcontinente. Para isso seria necessário por fim a algumas ditaduras personalistas, que além de se opor à melhorias econômicas de suas populações, criavam condições objetivas de revoltas populares. Como Rafael Trujillo detestava qualquer tipo de democracia formal, e o exemplo cubano poderia chegar à República Dominicana, a CIA participou de seu assassinato, em maio de 1961, prevalecendo a tese de que, após tantos serviços prestados a Washington, “os Estados Unidos - dizia Kissenger - não têm amigos, mas tão-somente interesses”.

Em 1964, a CIA envolveu-se ativamente no golpe de Estado contra João Goulart, no Brasil. O embaixador estadunidense Lincoln Gordon e o adido militar Vernon Walters, utilizando-se de alguns governadores, de empresários, da Igreja Católica, da imprensa e dos partidos reacionários determinaram aos militares a tarefa da tomada do poder. Uma vez dado o golpe, a Casa Branca exigiu do governo Castelo Branco o pagamento dos trabalhos prestados pela CIA, ao quais consistiam em uma abertura total da economia aos interesses dos Estados Unidos (como o fim da Lei de Remessas de Lucros), um alinhamento político ao Departamento de Estado (como o apoio político e militar à invasão da República Dominicana em 1965) e uma estratégia intervencionista do Brasil nos países latino-americanos para reverter os governos nacionalistas (como a “Operação Trinta Horas” destinada a invadir o Uruguai caso o governo daquele país não derrotasse os grupos de esquerda que faziam balançar o governo de Pacheco Areco). Daí a criação da Operação Condor para destruir e aniquilar qualquer foco de oposição que impedisse o processo de acumulação das empresas estadunidenses no cone sul; o golpe de Estado contra o presidente Torres na Bolívia, em 1971; e a ajuda da diplomacia militar paralela na queda de Allende no Chile, em 1973.

Neste último caso, a CIA tentou impedir que Allende ganhasse as eleições; logo após procurou inviabilizar sua ratificação pelo Congresso; e, finalmente, depois de fracassar em ambos os planos, lançou mão dos preparativos do mecanismo do golpe de Estado. Uma vez morto Allende, a CIA exigiu dos militares chilenos o extermínio de muitos de seus opositores numa verdadeira operação limpeza. O informe sobre o Chile, apresentado pelo Comitê Seleto de Inteligência do Senado dos Estados Unidos, em 1975, revelou todas as artimanhas e falcatruas da CIA naquele país. Inclusive o dinheiro aplicado na queda de Allende: 8 milhões de dólares.

Em 1981, morreram em um acidente aéreo dois presidentes latino-americanos: Jaime Roldós, do Equador e Omar Torrijos, do Panamá. O primeiro defendia uma política de direitos humanos e de liberdades fundamentais como “uma obrigação internacional à qual estão sujeitos os Estados”, ao passo que o segundo arrancou dos Estados Unidos a assinatura dos tratados canaleiros, dizendo que não queria “entrar para a história e sim na Zona do Canal”. Todas as evidências mostram que a CIA se encarregou de eliminar a ambos.

Na Nicarágua sandinista, a CIA desempenhou um papel importante, quer na organização e treinamento do exército dos “contras” que operava desde a vizinha Honduras, que nas minas colocadas no porto Sandino, quer nas explosões de tanques petrolíferos no porto de Corinto. Em janeiro de 1984, ela chegou a minar todos os portos nicaragüenses do Pacífico e do Atlântico. Deste modo, o governo nicaragüense foi obrigado a gastar 50% de seu orçamento na defesa do país, sendo que em 1985 chegou a 65%. Além do mais, o tão comentado Manual de Guerra Psicológica da CIA recomendava explicitamente os assassinatos de funcionários sandinistas.

A CIA, portanto, tem uma história marcada pelo uso do terrorismo de Estado na América Latina. Além dos países citados, ela atuou nos demais acarretando sempre as mesmas conseqüências: a morte, a destruição e a submissão de suas economias aos interesses de Washington. “O matrimônio do comunismo com o nacionalismo na América Latina”, afirma o Documento de Santa Fé II, “representa já o maior perigo para a região e para os interesses dos Estados Unidos”. Por isso, a CIA combateu a ambos.

A Guerra Fria acabou. No entanto a CIA continuou sua trajetória de intervenções, agora centrada nos países do Terceiro Mundo. Além dos serviços de inteligência, sua função é a de manter, por parte dos Estados Unidos, a expropriação do plus produto dos países da América Latina. O ano de 2007 é, portanto, o sexagenário das bodas de sangue da Agência Central de Inteligência. A história da CIA é uma história de morte, de terror e de apropriação do excedente econômico dos países da América Latina.

Estresse



O termo estresse denota o estado gerado pela percepção de estímulos que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, disparam um processo de adaptação caracterizado, entre outras alterações, pelo aumento de secreção de adrenalina produzindo diversas manifestações sistêmicas, com distúrbios fisiológico e psicológico. O termo estressor por sua vez define o evento ou estímulo que provoca ou conduz ao estresse.

Em 1936 o fisiologista canadense Hans Selye introduziu o termo "stress" no campo da saúde para designar a resposta geral e inespecífica do organismo a um estressor ou a uma situação estressante. Posteriormente, o termo passou a ser utilizado tanto para designar esta resposta do organismo como a situação que desencadeia os efeitos desta.

A resposta ao estresse é resultado da interação entre as características da pessoa e as demandas do meio, ou seja, as discrepâncias entre o meio externo e interno e a percepção do indivíduo quanto a sua capacidade de resposta. Esta resposta ao estressor compreende aspectos cognitivos, comportamentais e fisiológicos, visando a propiciar uma melhor percepção da situação e de suas demandas, assim como um processamento mais rápido da informação disponível, possibilitando uma busca de soluções, selecionando condutas adequadas e preparando o organismo para agir de maneira rápida e vigorosa.

A sobreposição destes três níveis (fisiológico, cognitivo e comportamental) é eficaz até certo limite, o qual uma vez ultrapassado, poderá desencadear um efeito desorganizador.
Assim, diferentes situações estressoras ocorrem ao longo dos anos, e as respostas a elas variam entre os indivíduos na sua forma de apresentação, podendo ocorrer manifestações psicopatológicas diversas como sintomas inespecíficos de depressão ou ansiedade, ou transtornos psiquiátricos definidos, como por exemplo o Transtorno de Estresse Pós-Traumático.

Regina Margis