sábado, 20 de outubro de 2007

E continuam falando mal de CUBA...

Médicos cubanos atenderam mais de 61 mil peruanos


O trabalho dos médicos cubanos que prestam ajuda aos danificados de um terremoto no Peru foi posto em destaque na segunda-feira (15), pela mídia local, após dois meses da tragédia que deixou um saldo de cerca de 600 mortos.


Os 77 médicos e outros trabalhadores da saúde, que chegaram à cidade Pisco, situada no sul do país, poucos dias depois da catástrofe, trabalham nos hospitais de campanha Ernesto Che Guevara e Antonio Maceo, trazidos por eles e atenderam até esaa data a mais de 61 mil pacientes.


Segundo responsáveis pela brigada médica cubana, do total, 41,7% pessoas foram atendidas fora dessas instalações, num trabalho de campo que se estende pelo interior de Pisco e pelas zonas de Ica.


Nos hospitais cubanos foram realizadas mais de 500 cirurgias, 40% delas, maior, e mais de 10 mil testes de diagnósticos, como exames de laboratório, ultra-som, raios X e eletrocadiografia.


O jornal La Primera assinalou que não só atendem aos feridos em desabamentos ocasionados pelos sismo e destaca o caso de Cristian Nieves, paciente do hospital Che Guevara, ao qual chegou provienente de Sullana, no extremo norte do país.


Nieves declarou que sofreu uma fratura na tíbia e no perôneo num acidente e teve que pagar ao redor de US$2 mil a uma instituição de Lima pela cirurgia e além do mais, disseram-lhe que podiam amputar sua perna por uma quantia menor.


''Eu já tinha me resignado a perder uma perna, mas um médico falou-me do hospital instalado pelos cubanos em Pisco e vim logo'', contou.


''Não tive que pagar a operação. Salvaram minha perna e agradeço-lhes muito o que fizeram'', acrescentou.


Os cooperadores internacionalistas afirmam que estão dispostos a permanecerem no Peru o tempo que as autoridades desse país acharem necessário.


Frei Betto: "Como endireitar um esquerdista"


Ser de esquerda é, desde que essa classificação surgiu na Revolução Francesa, optar pelos pobres, indignar-se frente à exclusão social, inconformar-se com toda forma de injustiça ou, como dizia Bobbio, considerar aberração a desigualdade social.

Frei Betto


Ser de direita é tolerar injustiças, considerar os imperativos do mercado acima dos direitos humanos, encarar a pobreza como nódoa incurável, julgar que existem pessoas e povos intrinsecamente superiores a outros.


Ser esquerdista - patologia diagnosticada por Lênin como "doença infantil do comunismo" - é ficar contra o poder burguês até fazer parte dele. O esquerdista é um fundamentalista em causa própria.

Encarna todos os esquemas religiosos próprios dos fundamentalistas da fé. Enche a boca de dogmas e venera um líder. Se o líder espirra, ele aplaude; se chora, ele entristece; se muda de opinião, ele rapidinho analisa a conjuntura para tentar demonstrar que na atual correlação de forças...


O esquerdista adora as categorias acadêmicas da esquerda, mas iguala-se ao general Figueiredo num ponto: não suporta cheiro de povo. Para ele, povo é aquele substantivo abstrato que só lhe parece concreto na hora de cabalar votos. Então o esquerdista se acerca dos pobres, não preocupado com a situação deles, e sim com um único intuito: angariar votos para si e/ou sua corriola. Passadas as eleições, adeus trouxas, e até o próximo pleito!


Como o esquerdista não tem princípios, apenas interesses, nada mais fácil do que endireitá-lo. Dê-lhe um bom emprego. Não pode ser trabalho, isso que obriga o comum dos mortais a ganhar o pão com sangue, suor e lágrimas. Tem que ser um desses empregos que pagam bom salário e concedem mais direitos que exige deveres. Sobretudo se for no poder público. Pode ser também na iniciativa privada. O importante é que o esquerdista se sinta aquinhoado com um significativo aumento de sua renda pessoal.


Isso acontece quando ele é eleito ou nomeado para uma função pública ou assume cargo de chefia numa empresa particular. Imediatamente abaixa a guarda. Nem faz autocrítica. Simplesmente o cheiro do dinheiro, combinado com a função de poder, produz a imbatível alquimia capaz de virar a cabeça do mais retórico dos revolucionários.


Bom salário, função de chefia, mordomias, eis os ingredientes para inebriar o esquerdista em seu itinerário rumo à direita envergonhada - a que age como tal mas não se assume. Logo, o esquerdista muda de amizades e caprichos. Troca a cachaça pelo vinho importado, a cerveja pelo uísque escocês, o apartamento pelo condomínio fechado, as rodas de bar pelas recepções e festas suntuosas.


Se um companheiro dos velhos tempos o procura, ele despista, desconversa, delega o caso à secretária, e à boca pequena se queixa do "chato". Agora todos os seus passos são movidos, com precisão cirúrgica, rumo à escalada do poder. Adora conviver com gente importante, empresários, ricaços, latifundiários. Delicia-se com seus agrados e presentes. Sua maior desgraça seria voltar ao que era, desprovido de afagos e salamaleques, cidadão comum em luta pela sobrevivência.


Adeus ideais, utopias, sonhos! Viva o pragmatismo, a política de resultados, a cooptação, as maracutaias operadas com esperteza (embora ocorram acidentes de percurso. Neste caso, o esquerdista conta com o pronto socorro de seus pares: o silêncio obsequioso, o faz de conta de que nada houve, hoje foi você, amanhã pode ser eu...).


Lembrei-me dessa caracterização porque, dias atrás, encontrei num evento um antigo companheiro de movimentos populares, cúmplice na luta contra a ditadura. Perguntou se eu ainda mexia com essa "gente da periferia". E pontificou: "Que burrice a sua largar o governo. Lá você poderia fazer muito mais por esse povo."


Tive vontade de rir diante daquele companheiro que, outrora, faria um Che Guevara sentir-se um pequeno-burguês, tamanho o seu aguerrido fervor revolucionário. Contive-me, para não ser indelicado com aquela figura ridícula, cabelos engomados, trajes finos, sapatos de calçar anjos. Apenas respondi: "Tornei-me reacionário, fiel aos meus antigos princípios. E prefiro correr o risco de errar com os pobres do que ter a pretensão de acertar sem eles."







DEBORAH KERR

Sandro Villar*

Nos anos 50 e 60, a atriz Deborah Kerr foi uma das rainhas de Hollywood por seu talento e, principalmente, por seu enorme charme que parecia ter um quê de esnobismo. Mas, justiça seja feita, era apenas charme mesmo.

A não ser quando um diretor do porte de Clint Eastwood realiza um filme como “Cartas de Iwo Jima”, um libelo contra a guerra, hoje em dia Hollywood produz muitas bobagens cinematográficas.

E a principal atração desses filmes, verdadeiros lixos, é a violência gratuita, coisa que não se justifica. Um dos mestres desse tipo de violência é o cineasta Martin Scorsese, fascinado por tiros e assassinatos, e basta conferir o conjunto da obra do rapaz para confirmar isso.

Mas deixa isso pra lá e vamos em frente que atrás vêm os credores. O que interessa nessa narrativa é falar alguma coisa sobre Deborah Kerr, que, vítima do Mal de Parkinson, foi embora deste insensato mundo aos 86 anos.

Ela nasceu na Escócia, terra de uísque bom e do Sean Connery, o melhor James Bond do cinema. Aliás, apesar de ter ficado a serviço de Sua Majestade, com licença para matar e tudo o mais - interpretando 007 -, Sean Connery nunca engoliu essa história de a Escócia ser “controlada e dominada” pela Inglaterra. Ele é separatista de carteirinha, mas não contem isso para a Scotland Yard.

Mas do que é que eu falava mesmo? Confesso que estou mais perdido que os “infiéis” que trocaram de partido ou mais perdido que o time do Corinthians no Brasileirão. Ah, já me lembrei: o degas aqui falava da atriz Deborah Kerr e se perdeu por ter metido (epa!) a colher onde não devia. Ou onde não lhe diz respeito.

E, respeitosamente, lembro que Deborah protagonizou dezenas de filmes, entres eles três memoráveis: “O Rei e Eu”, em que contracena com Yul Brynner, “A Um Passo da Eternidade” e “Tarde Demais Para Esquecer”.

Dirigido por Fred Zinnemann, “A Um Passo da Eternidade”(1953) salvou a carreira de Frank Sinatra, que estava na Rua da Amargura, s/n. Ele está ótimo na pele do trágico soldado Maggio, protegido por Montgomery Clift, um dos dez melhores atores de todos os tempos.

Nesse filme, que mostra o ataque aéreo japonês contra a base de Pearl Harbor no Havaí, Deborah é a esposa adúltera de um oficial. Ela é amante do sargento interpretado por Burt Lancaster.

É antológica a cena em que o casal se beija na praia. Esse beijo é considerado um dos melhores do cinema, não faltaram imitações e uma paródia. No filme “O Professor Aloprado”, em que Eddie Murphy dá um show, há uma sátira desse beijo. É quando o professor obeso, mais gordo que a dívida pública brasileira, fica em cima da mocinha e, com tanto peso, ela afunda na areia na hora do pega-pra-capar. A cena é divertida.

E não é nada divertida a cena final de “Tarde Demais Para Esquecer” (1957), assinado por Leo MacCarey, o segundo melhor filme romântico (ou de amor), porque o melhor é “Suplício de Uma Saudade”. Os personagens de Deborah e Cary Grant marcam encontro no edifício Empire State Building, em Nova York.

Ela não vai porque foi atropelada. Ele só se dá conta da situação da amada ao vê-la em outra ocasião. Nessa hora, convém preparar o lenço. A música-tema desse filme inesquecível é a magnífica canção “An Affair To Remember”, sucesso do cantor Vic Damone, mas a versão com Nat King Cole também é ótima.

Deborah Kerr deixa um grande vazio. É inesquecível e, talvez, insubstituível.

DROPS (sabor anis)

O cinema é a mais importante das artes.
(camarada Lenin)

O cinema instrui e dá prazer.
(Ruy Barbosa)

No escurinho do cinema a mão é esperta e não boba.

Times da zona do rebaixamento, não se desesperem: há vagas para lanterninhas nos cinemas de São Paulo.

*Sandro Villar é jornalista e escritor, autor do livro “As 100 Melhores Crônicas de Humor de SV”, à venda na Livraria Cultura (Shopping Villa-Lobos-SP) e no site www.altabooks.com.br (21) 3278-8419/8069/8159.
sandrovillarpp@zipmail.com.br
A Previdência e a menopausa



Henrique Júdice Magalhães

No Valor Econômico de 24/09, o economista Fabio Giambiagi prega a modificação das atuais regras de aposentadoria das mulheres. A aposentadoria feminina, explica ele, seria como a menopausa: um problema do qual só agora os especialistas passaram a dar-se conta, já que, antigamente, eram poucas as que viviam até chegar a ambas.

A diferença é que, se num caso a preocupação da medicina é reduzir os transtornos sofridos pela mulher na maturidade, no outro o colunista do Valor quer aumentá-los. Giambiagi propõe um aumento de 3 anos no tempo de contribuição exigido. A aposentadoria feminina por tempo de contribuição, para ele, é “um problema fiscal” - particularmente grave na medida em que as mulheres “representam metade da população” e o número das que a recebem, hoje, “é de mais de 900 mil” .

É sabido que os ataques de Giambiagi aos direitos previdenciários têm por alvo toda a população trabalhadora, e não só metade dela. Ainda assim, seria interessante que ele explicasse por que o fato de 900 mil mulheres receberem aposentadoria por tempo de contribuição seria um problema maior que 2,8 milhões de homens fazerem o mesmo (e por um valor médio 25% mais alto: R$ 1.036,62 contra R$ 826,35, segundo dados do Ministério da Previdência referentes a 2005).

“Na época dos nossos pais” – escreve ele – , “a aposentadoria das mulheres não era um problema fiscal, porque quase não havia mulheres aposentadas”; inversamente, hoje, seria necessário restringi-la por haver mulheres nesta condição. Em síntese: não há problema em permitir que as mulheres se aposentem, desde que elas não o façam. Giambiagi vira de ponta-cabeça os critérios de abrangência, justiça e eficácia que deveriam nortear a avaliação de qualquer política pública.

O foco de seu argumento é a diferença entre as regras vigentes para homens e mulheres. Ele não discute se exigir mais de 30 anos de contribuição de uma mulher é ou não correto, mas apenas se a mulher deve se aposentar com menos tempo de contribuição do que o homem. E conclui que não porque, supostamente, as mulheres vivem mais e se aposentam mais cedo.

Para sustentar um sofisma, recorre a duas falácias. A primeira já faz quase parte do senso comum. A idéia de que “as mulheres vivem mais” baseia-se na diferença entre as expectativas de vida de ambos os sexos. A feminina é mais alta porque este indicador é calculado a partir de dados referentes à mortalidade e, entre as pessoas que morrem prematuramente por acidentes ou violência, é maior o número de homens. A condição de mulher, por si, não faz ninguém viver mais.

Na segunda, há pelo menos meia verdade. A proporção de pessoas que se aposentam entre 45 e 49 anos é maior entre as mulheres do que entre os homens. Mas as mulheres que fizeram isso em 2005 não são mais de 20 mil – e sofrem, como conseqüência, perdas da ordem de 40% do valor do benefício por causa do fator previdenciário. Se tiverem exercido, em algum momento da vida, atividades nocivas à saúde – algo bastante comum nos aposentados dessa faixa etária – , a perda é maior: o tempo de trabalho feminino nessas condições tem um acréscimo de 20%; o masculino, de 40%.

Mas aposentar-se com menos tempo de contribuição não significa necessariamente aposentar-se mais jovem. Do total das mulheres que passaram a receber este benefício em 2005, 36,9% tinham entre 50 e 54 anos – mesma faixa em que se concentra a maioria dos homens (38,3%). Na faixa etária dos 55-59 anos, estavam 32% dos homens e 22,3% das mulheres. Na dos 60-64 anos, há muitos homens e pouquíssimas mulheres, mas não porque elas se aposentem mais cedo. O que ocorre é que a mulher se aposenta por idade aos 60 anos, e o homem tem que esperar até os 65. Assim, 37,4 mil mulheres e 14,3 mil homens aposentaram-se entre os 60 e os 64 anos em 2005 – só que elas o fizeram por idade, e eles por tempo de contribuição. Por isso, principalmente, a idade média de aposentadoria por tempo de contribuição feminina é mais baixa.

O que de fato acontece é que as mulheres ocupam, em regra, uma posição mais precária no mercado de trabalho. Enquanto a taxa de desemprego masculina medida pelo IBGE em 2005 era de 7%, a feminina era de 12%. O tempo médio entre sair de um emprego e conseguir outro, medido pelo DIEESE/Seade, é expressivamente maior para elas. Nessas condições, a mulher terá, em média, em comparação com um homem da mesma idade e tendo ambos começado a trabalhar ao mesmo tempo, menor tempo de contribuição.

Se a proposta do colunista do Valor chega a parecer razoável, é porque ele passa ao largo dessa realidade e investe contra o moinho de vento da dupla jornada alegando que a maior expectativa de vida feminina a compensaria. Acontece que não é essa a razão para que se mantenha a regra atual. Primeiro, porque a dupla jornada feminina só existe nos setores sociais situados da classe média-baixa para baixo, nos quais os homens também a cumprem: além de serem submetidos a uma carga maior de horas extras, fazem bicos variados para complementar a parca remuneração. A classe média, via de regra, deixa os cuidados da casa a cargo da empregada doméstica e, nas famílias endinheiradas, as mulheres têm por costume não fazer nada nem em casa nem fora dela. Segundo, porque não seria razoável que a lei concedesse condições favoráveis a uma mulher incapaz de impor uma divisão minimamente justa de tarefas ao homem com quem vive.

A questão não é de justiça comparativa entre homens e mulheres. Nem para um lado, como quer Giambiagi, nem para o outro, como prega um certo discurso feminista que defende menos os direitos que as mulheres atualmente possuem do que a diferenciação em si. E que dispende, na defesa dessa diferenciação face ao trabalhador homem, uma energia que nunca dispendeu na defesa da mulher trabalhadora diante do capital (vide o silêncio quando FHC revogou um dos mais importantes dispositivos de proteção a ela contra o excesso de jornada: a proibição de que fizesse horas extras). A questão é fazer justiça às mulheres, simplesmente. E não é justo exigir de quem sofre mais acentuadamente os efeitos do desemprego e da informalidade um maior número de anos de contribuição.

Por outro lado, a diferenciação não é um dogma. No caso da aposentadoria por idade, o requisito etário deveria ser unificado – mas no patamar estabelecido atualmente para as mulheres. É descabido exigir que os homens trabalhem até os 65 anos na cidade e 60 na lavoura – ainda mais porque o trabalho masculino, normalmente, exige maior vigor físico. Esses limites poderiam ser reduzidos para, respectivamente, 60 e 55 anos. É esta a melhor maneira de aproximar as condições de homens e mulheres na legislação previdenciária e permitir a ambos enfrentar em situação mais humana as transformações biológicas e emocionais acarretadas pela maturidade.

Henrique Júdice Magalhães é jornalista, ex-servidor do INSS e pesquisador independente em Seguridade Social. Porto Alegre/RS - Email: henriquejm@gmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

henriquejm@gmail.com

Policiais dizem que segurança pública está à beira do colapso no RS

Manifestação em defesa de melhores condições de trabalho e melhores salários reuniu mais de mil policiais militares, nesta quarta-feira, em frente ao Palácio Piratini. Segundo eles, governo Yeda Crusius (PSDB) está levando segurança à beira do colapso.

PORTO ALEGRE - Mais de mil policiais militares saíram às ruas da capital gaúcha, nesta quarta-feira, em defesa de melhores condições de trabalho e melhores salários. A manifestação reuniu profissionais das mais variadas patentes da Brigada Militar (a PM gaúcha) em uma grande manifestação contra o governo Yeda Crusius (PSDB) que, segundo os brigadianos, está levando a segurança pública a beira do colapso no Rio Grande do Sul.

A manifestação iniciou no quartel general da Brigada Militar, no centro da capital, e terminou com um ato público em frente ao Palácio Piratini. Segundo o vice-presidente da Associação dos Oficiais da Brigada Militar, tenente coronel Jorge Antônio Penna Rey o ato teve como objetivo principal “sensibilizar o Governo do Estado para questões ligadas à categoria, e também reafirmar para a governadora Yeda, que não aceitaremos nenhum projeto que altere os Direitos atuais dos Militares Estaduais, como por exemplo o aumento do tempo de serviço, a mudança do plano de carreira e a diminuição de vagas”. “Isto não vamos nem discutir”, garantiu Penna Rey.

A manifestação foi convocada pela Associação dos Oficiais da Brigada Militar (AsofBM), pela Associação de Cabos e Soldados da Brigada Militar (ABAMF) e pela Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da Brigada Militar (ASSTBM).

Os brigadianos distribuíram um panfleto à população explicando as razões de sua manifestação. O documento afirma:

"A Segurança está em crise e vai entrar em colapso. A culpa não é nossa... mas sim da governadora Yeda e do secretário Mallmann. Gaúchos e gaúchas saibam por quê:

- salários mais baixos do Brasil
- sucateamento da frota de viaturas policiais
- falta de coletes à prova de bala para enfrentar a bandidagem
- apagão no sistema de rádio
- ameaças aos direitos dos militares estaduais
- atraso de salários
- ameaça de não pagamento do 13º salário
- tratamento desrespeitoso e arbitrário para com os brigadianos
- falta de efetivo
- não-chamamento dos concursados aprovados para a BM
- excesso de carga horária
- não-pagamento de horas-extras
- não-pagamento de direitos constitucionais (dedicação exclusiva e adicional noturno)
- não-cumprimento da lei da matriz salarial
- falta de fardamento
- não-convocação dos reservistas da BM

Por fim, os PMs pedem o apoio da sociedade: “Povo gaúcho, não deixe desmontar nossa Brigada Militar e sua segurança”.

Os protestos dos servidores públicos gaúchos contra o choque de gestão implementado pela governadora Yeda Crusius (PSDB) seguem crescendo no Estado. Na semana passada, mais de duzentos professores se acorrentaram aos portões de entrada do Palácio Piratini denunciando o desmonte da educação pública no Estado. Diversas categorias de servidores vêm se reunindo semanalmente para discutir a situação dos serviços públicos. Eles começam a preparar uma greve geral de funcionários públicos ainda este ano.




sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Futebol!

Fausto Brignol


Futebol, hoje, é coisa pra rico. Enquanto os times do interior decidem entre jogar a oitava divisão ou fechar, os grandes times ficam cada vez maiores. Igualzinho ao sistema capitalista.
Há muito, não existe mais o antigo amor à camiseta, que foi substituído pelo amor ao dinheiro. Os jogadores, quando são convocados para a seleção brasileira sentem-se como se estivessem cumprindo uma pesada obrigação. Afinal, para eles, jogar na seleção é um grande risco, porque poderão se machucar e ficar fora dos jogos dos seus respectivos times europeus, onde ganham os seus milhões. Obviamente, são completamente alienados - e querem continuar sendo. Idiotizados pela mídia extremamente complacente acreditam-se grandes estrelas.
O Dunga - quem diria! - revelou-se como o menino certinho do futebol brasileiro. Administrador de milionários, com o apelido de técnico, prepara o seu caminho para no futuro ingressar na política - deles. Para isso, já está aprendendo a vestir e a falar.
Imagino que, no vestiário, os jogadores ficam conversando sobre a cotação da Bolsa e como comprar mais e mais. O que mais eles poderiam conversar?
Isso, enquanto preparam os cabelos e a maquilagem para se apresentarem perante seus iguais da classe média alta e burguesia, porque quem tem dinheiro para pagar ingresso no Maracanâ em dia de jogo da seleção?
Enquanto isso, "a plebe rude, na cidade, dorme..."

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Diarios de Motocicleta (Walter Salles)



DIÁRIOS DE MOTOCICLETA (RMVB LEGENDADO)

ARQUIVO EM CINCO PARTES:


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Sinopse:


Ernesto Guevara (Gael García Bernal) é um jovem estudante de Medicina que decide viajar pela América do Sul com seu amigo Alberto Granado (Rodrigo de la Serna).

A viagem é realizada em uma moto, que acaba quebrando após 8 meses. Eles então passam a seguir viagem através de caronas e caminhadas, sempre conhecendo novos lugares. Porém, quando chegam ao Peru, a dupla conhece a dura realidade de mineradores e camponeses indígenas.





A dupla chega a uma colônia de leprosos, com o fim de exercer os conhecimentos de Medicina e passam a questionar a validade do progresso econômico da região, que privilegia apenas uma pequena parte da população.

Baseado nos livros "Notas de Viaje", de Ernesto "Che" Guevara e "Con El Che por America Latina", de Alberto Granado.




Elenco:

Gael García Bernal (O jovem Che Guevara)
Susana Lanteri (Tia Rosana)
Mía Maestro (Chichina Ferreyra)
Mercedes Morán (Celia de la Serna)
Jean Pierre Nohen (Ernesto Guevara Lynch)
Rodrigo de la Serna (Alberto Granado)
Gustavo Pastorini (Passageiro)
Jaime Azócar
Ulises Dumont
Facundo Espinosa




Informações Técnicas:

Título no Brasil: Diários de Motocicleta
Título Original: Diarios de Motocicleta
Idioma: Espanhol
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 128 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2004
Site Oficial: www.motorcyclediaries.net
Estúdio: Southfork Pictures / FilmFour / Tu Vais Voir Productions / Senator Film Produktion GmbH
Distribuição: Buena Vista International
Direção: Walter Salles
Roteiro: Jose Rivera, baseado nos livros de Che Guevara e Alberto Granado
Produção: Michael Nozik, Edgard Tenenbaum e Karen Tenkhoff
Fotografia: Eric Gautier
Desenho de Produção: Carlos Conti
Direção de Arte: Laurent Ott
Figurino: Beatriz de Benedetto e Marisa Urruti
Edição: Daniel Rezende
Trilha Sonora: Gustavo Santaolalla
Canção: Al Otro Lado Del Rio, de Jorge Drexler
Copiado de:RapaduraAzucarada -
Guy_Fawkes


"Acreditamos, e depois desta viagem mais firmemente que antes, que a divisão da América em nacionalidades incertas e ilusórias é completamente fictícia.

Constituímos uma só raça mestiça que, desde o México até o Estreito de Magalhães, apresenta notáveis semelhanças etnográficas.

Por isso, tentando livrar-me de toda carga de provincianismo estreito, brindo pelo Peru e pela América unida".


(Ernesto "Che" Guevara)


Noticias da Guerra

O tom de voz vai subindo entre o governo de Washington e o de Moscou. O tema é o Irã, mas por trás disto transparece que a ação da OTAN continua sendo a de cercar a Rússia, e a desta a de se defender a qualquer preço. Bem vindos sejamos nós a esta nova versão da Guerra Fria.

Decididamente a Guerra Fria está de volta, ainda que numa versão diferente da dos tempos da extinta União Soviética, come menos ideologia e mais pragmatismo, e com novos alinhamentos.

Em junho deste ano o primeiro ministro russo Vladimir Putin manifestou seu descontentamento diante da iniciativa de Washington oferecendo novas bases militares para a Polônia e a República Tcheca. Ambas as ofertas foram recebidas com entusiasmo, mas não por Moscou.

Bush declarou em Rostok que as bases tinham por objetivo cercar o Irã. Mas nas proximidades de uma coisa e da outra estão as fronteiras da Rússia e também a de algumas antigas repúblicas da finada União Soviética.

Putin ofereceu a Bush a alternativa de usar bases da Rússia, herdadas dos tempos socialistas, para criar frentes militares comuns dos EUA e da Rússia para vigiar o Irã. A proposta era o que parecia: uma alternativa para ganhar tempo, pois nada mais inverossímil do que bases comuns para os antigos inimigos na Guerra Fria.

Agora o tom subiu. Diante do reconhecimento rotundo do fracasso, ou pelo menos impasse, das intervenções do Ocidente no Afeganistão e no Iraque, e diante do também fracasso do governo norte-americano em isola-lo, o primeiro ministro iraniano Mahmoud Amadinejad sentiu-se forte o suficiente para desafiar o desafeto em sua própria casa e nos arredores: foi aos Estados Unidos e até a Bolívia, onde desenvolveu propostas de acordo em torno de questões energéticas.

Tinha razão: num salto estratégico, Putin fortaleceu-o . Visitou o Irã na segunda e na terça-feira, comprometeu-se com a construção de uma usina nuclear para o Irã no Golfo Pérsico, e declarou que a Rússia se opõe a uma intervenção militar na região, leia-se, uma invasão do Irã pelos Estados Unidos e/ou aliados. Mais: acaudilhou, nesta declaração, o Cazaquistão, o Azerbaijão (cortejado pelo OTAN para construção de bases militares) e o Turcomenistão, dando mostras para Washington de que ainda é o “capo” na região.

A resposta veio rápida: Bush deu entrevista dizendo que se o Irã conseguir armas nucleares, isso pode levar à Terceira Guerra Mundial, porque, entre outras coisas, o governo de Teerã prega a destruição do Estado de Israel. E ainda manifestou a vontade de que Putin lhe relatasse o que, afinal, aconteceu em Teerã.

Enquanto isso, em Moscou, numa espécie de “talk show” ao telefone, onde podia responder perguntas diretas pelo telefone, Putin retrucava que a Rússia retomaria a pesquisa de novas armas nucleares. Ele não especificou o que isso significava, mas aventou para a possibilidade de que elas seriam de efeitos espetaculares.

Outros fatores complicam a situação:

1. Caiu como uma bomba na Europa e nos Estados Unidos a resolução do Parlamento turco autorizando o governo de Ankara a fazer incursões armadas em território iraquiano contra os curdos. O motivo alegado é a morte de duas dezenas de soldados turcos em atentados atribuídos ao Partido dos Trabalhadores Curdos, movimento que teria base em território do norte do Iraque. A resolução é também, não há dúvida, uma resposta à decisão do Senado norte-americano classificando como genocídio o massacre de armênios em 1915, ainda durante o Império Otomano, em território turco.

2. Al Gore. O premio Nobel da paz concedido a Al Gore é uma desmoralização internacional para o governo Bush, que chegou ao poder através de uma eleição de lisura contestada graças a manipulação de votos na Flórida, estado então governado pelo irmão do presidente. O fator Al Gore desestabiliza a eleição norte-americana, mas não se sabe ainda como nem para que lado. Não se sabe se fortalece Gore contra Hillary Clinton, se fortalece os democratas como um todo, se isola Obama, etc. Porque ninguém sabe ainda o que fará Al Gore depois do prêmio. Mas uma coisa é certa: esse premio empurra mais ainda a faca no pescoço do governo Bush, já internacionalmente desmoralizado, embora ainda tenha a faca, o queijo, o prato, a toalha e a mesa a seu dispor, graças ao poderio militar de que desfruta.

De todo modo, prezada leitora, prezado leitor, se está na casa dos sessenta, como eu, bem vindo de volta à Guerra Fria, agora sob nova administração. Caso seja jovem, bem vindo ao passado: ele voltou.

Revolução sem armas



Osvaldo Russo

São vários os revolucionários – muitos deles tombados pela boca dos fuzis - que inspiram as lutas camponesas de massas no Brasil e na América Latina. É inútil a tentativa inverossímil de desacreditar e minimizar a importância histórica de líderes revolucionários da resistência popular como Ernesto Che Guevara, já que nem mesmo os seus algozes e maiores inimigos ousaram desmoralizá-lo diante da história.

Lembrando palavras de Fidel Castro, ao contrário dos tempos de Sierra Maestra, hoje a revolução depende menos da força das armas e mais da ponta do lápis ou do bico da caneta; mais do saber dos livros e menos do fogo dos canhões. A educação e a cultura são estratégicas para as transformações sociais e econômicas no mundo globalizado pela expansão do capital monopolista, mas que também se dão pela consciência humanista e ambiental, criando novas contradições para a continuidade do império capitalista mundial.

Cuba, sufocada pelo boicote dos Estados Unidos, continua dando exemplos significativos na educação e na saúde, reveladores da importância que o regime comunista cubano atribui ao ensino em todos os seus níveis. Isso e o incentivo à cultura podem garantir autonomia da população cubana em relação ao seu futuro. Não importa por quais mudanças terá que passar o país, se as bases do conhecimento e da cultura construídas são sólidas e capazes de resistir às ameaças do capitalismo belicista, desagregador e suicida.

No Brasil, a maior resistência popular à hegemonia do neoliberalismo pode ser vista no PT, mesmo com as contradições na coalizão do governo Lula, na CUT e no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cujas lutas não se restringem à defesa da reforma agrária, no sentido apenas da redistribuição massiva das terras aos trabalhadores rurais. O MST sabe que é preciso a luta para mudar o modelo agrícola baseado na hegemonia do agronegócio e na destruição do meio ambiente, sem o que não há como proteger e desenvolver a agricultura camponesa de base familiar. E sabe, igualmente, que sem acesso a educação de qualidade isso estará fora do seu alcance.

Nas homenagens ao Che, por ocasião dos 40 anos de seu assassinato em solo boliviano, estavam presentes a bandeira e a representação dos Sem Terra simbolizando a importância histórica do líder socialista para as lutas sociais no Brasil e na América Latina. Hoje, não mais pelo uso das armas, mas pela luta democrática de massas, que tem na educação, na cultura e na política as alavancas principais para a transformação da sociedade.

Durante as atividades do 5º Congresso do MST, realizado em Brasília, crianças e adolescentes sem terrinha promoveram debates e manifestações em defesa da educação de qualidade no campo. Estiveram presentes no acampamento improvisado o ministro da Educação e outras autoridades. Recentemente, no Recife, os sem terrinha foram recebidos pelo governador, a quem reivindicaram melhoria na educação do campo em Pernambuco.

Na alfabetização e na formação básica, profissional e universitária, o MST prepara os seus quadros dirigentes e a sua base social para os desafios não só do presente em relação à reforma agrária e aos acampamentos e assentamentos, mas também para enfrentar os desafios do futuro que exigem melhor formação educacional e capacidade técnica para viabilizar novo modelo de desenvolvimento sustentável, que respeite o meio ambiente e produza alimentos saudáveis para a segurança e a soberania alimentar da população.

A revolução na educação deve começar pelo ensino básico e, para isso, são necessárias outras armas – silenciosas - que resolvam os problemas do aprendizado e da evasão escolar. Essa nova revolução exige investimentos para além do Bolsa Família, do Fundeb, do piso nacional dos professores e da eliminação progressiva da DRU. É preciso investir na formação e mudar a concepção do ensino valorizando a cidadania, a solidariedade e temáticas como meio ambiente e direitos humanos, com professores motivados e escolas bem cuidadas, equipadas e em tempo integral - nas cidades e no campo.

Osvaldo Russo, estatístico e ex-chefe de gabinete do Ministério da Educação, é diretor da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra).

Che (2): Homem e Exemplo



Pietro Alarcón

Pode-se eleger uma opção política por diversas circunstâncias: pela família, pelos amigos, pela procura, consciente ou inconsciente, daquilo que outorgue sentido à vida, pela atmosfera de solidariedade política e humana que rodeia o entorno em que se desenvolve nossa existência.

As situações mais imprevisíveis e casuais podem-se apresentar, facilitando o passo do mero espectador ao de ator social e o que ao princípio pode ser apenas uma aflição momentânea converte-se em um modo de encarar a vida, uma filosofia que inspira a práxis diária.

A vida de Ernesto Guevara transcorreu na Argentina sendo testemunha de conflitos como o da Guerra Chile-Bolívia pela saída deste último ao oceano, do acompanhamento da sua família aos refugiados da Guerra Civil Espanhola, das denúncias do seu pai em reuniões e eventos políticos da perigosa infiltração do nazismo no seu país.

No entanto, os sucessos mais interessantes que podem ser levados em conta para entender a formação do comandante Che Guevara têm antecedentes nos sucessos da Bolívia, entre 1951 e 1953, e se encontram, de forma mais acentuada, na Guatemala de 1954: “ (...) He nacido en Argentina, he combatido em Cuba y he comenzado a ser revolucionario en Guatemala”, escreve em carta enviada a Guilherme Lorentzein.

Na Bolívia, Guevara assiste ao primeiro grande movimento de massas que o impressionará profundamente: a Revolução de 1952. Nela, o golpe de Estado no país é rejeitado pelos sindicatos operários e mineiros. Uma insurreição popular e armada vence o exército e surge, no bojo do processo, a COB - a Central Sindical dos Trabalhadores da Bolívia – que, convertida em poder, inicia a transformação da sociedade. Sob forte pressão, o governo proclama o sufrágio universal e a nacionalização das minas de estanho entre julho e outubro de 1952. A reforma agrária começa a ser efetivada em agosto de 1953.

Diversos fatores, que podem ser analisados em outra oportunidade, impediram o progresso das reformas na Bolívia. Saliente-se agora que o jovem Guevara observa, nitidamente, a força e invencibilidade de um povo organizado. Partindo, Ernesto Guevara dirige-se a Costa Rica, Honduras e Nicarágua. Nesses países observa e reflete sobre o panorama da exploração que por sobre homens e mulheres promovem as transnacionais, como a tristemente conhecida United Fruit Company. Opina, agitado, inquieto leitor da história da América, nos círculos de amigos, sobre a identidade que verifica entre os trabalhadores, independentemente da sua nacionalidade.

Na Guatemala, em 1953, Jacobo Arbenz promove a reforma agrária. Ernesto chega ao país e constata que as reformas promovidas são análogas às da Bolívia, que o governo caminha em sentido contrário aos interesses da United Fruit. Prontamente sente a necessidade de agir, de assumir um compromisso maior, de maneira que procura os comunistas do PGT – Partido dos Trabalhadores -, se oferece no pronto socorro médico e nas brigadas juvenis militares que defendem o movimento diante da decisão da Conferência Interamericana - que, reunida em março de 1954, autoriza, através de uma Resolução, a invasão da Guatemala, com apoio dos Estados Unidos, desde o território da vizinha Honduras.

O exílio de Arbenz e a desconfiança do governo com relação à capacidade popular de defender as conquistas diante da agressão o decepcionam. Convencido de que as reformas democráticas e sociais somente não serão anuladas se houver uma força militar ancorada no povo organizado, recorre, decidido, à procura de um suporte teórico que lhe outorgue maior consistência. Volta-se à leitura de Marx, agora não apenas com a curiosidade das primeiras aproximações à filosofia, aquelas da secundária, quando se propôs a fazer um Dicionário Filosófico, mas com o interesse em aprofundar estudos, conhecer e diagnosticar problemas, oferecer saídas coerentes, ter uma formação mais sólida.

Assim, ao jovem que procura entender as causas que originam a escassez de oportunidades, a miséria das maiorias dos latino-americanos, a dor e a fome, se soma a experiência, a convicção, o compromisso amadurecido.

Não é um mero rebelde, alguém que temerariamente se exponha ao perigo, nem um irresponsável, mas alguém que conhece como poucos a situação, e que não toma decisões precipitadas. Mas que está disposto ao trabalho, voluntarioso e animado.

Percebe que reformas democráticas requerem uma versão de sociedade que supere as modalidades de uma representação política mentirosa, de suporte fraco em um esquema de partidos onde o interesse público é um elemento formal. Tenta um desenho de Estado que supere a noção precária de elencar direitos sociais sem efetividade alguma.

Empreender os rumos do desenvolvimento sobre bases econômicas e valores diferentes dos tentados até o momento na América lhe parece apenas lógico. Descobre e ratifica seus pensamentos nas intermináveis discussões no México com Hilda Gadea, a moça intelectual que o desafia, a militante da ala esquerda do APRA Peruano que “tiene un corazón por lo menos de platino...” .

Esse era o Ernesto Guevara que, em novembro de 1955, em casa de Maria Antonia González, no México, conheceria Fidel Castro Ruz, um advogado cubano que procurava recursos para iniciar uma viagem a sua terra, com a idéia de prosseguir a luta contra a ditadura de Batista. A viagem só foi possível na noite de 24 de novembro de 1956, quando o Granma partiu de Tuxpan com oitenta e dois homens.

Na época, Guevara se considera um revolucionário, de visão continental, mas não um marxista. No entanto, as leituras de Marx o diferenciam do restante de expedicionários do Movimento 26 de Julho. Suas freqüentes análises fundadas em São Carlos (“Querida mamá...São Carlos ha hecho una nueva adquisición. Del futuro no puedo decir nada...) fazem com que seja nomeado o responsável pela biblioteca e a educação política.

Nas aulas, além do interesse em transmitir idéias, do companheirismo e da solidariedade, destaca algo singular: cada vez que se refere ou chama a atenção de alguém o faz utilizando a expressão Che, no começo ou no final da frase. Os alunos, irreverentes ainda nas mais complexas circunstâncias, o batizam de CHE. Rio Platense, Guevara não se incomoda, nem perde a seu argentinismo. Seu senso de humor é reconhecidamente diferente dos companheiros cubanos. O apelido CHE vingou e passou a imortalizá-lo.

Nesta altura, CHE está convencido de que não é possível modificar as condições de existência sem a ação humana consciente. Não somente pensa no ser humano, mas age como acha que todo ser humano deve agir. Tenta ensinar com o exemplo e manifestar sua essência de ser social não apenas como aquele que, física e cotidianamente, compartilha das idéias dos outros e vive e convive com outros, pois sua idéia é ir além. No momento, sua idéia consiste em fazer pensar a todos que, em que cada ação humana, há implícita uma referência a uma certa estrutura social que, quando não responde às expectativas dos seres humanos, deve naturalmente ser modificada.

Assim, CHE proclama comportamentalmente que o sujeito individual deve pensar coletivamente. Destarte, a ação humana é fundamental e a compreensão do modelo social e das suas limitações é imprescindível para transformá-lo. Reside, ali, nessas reflexões, o potencial teórico revolucionário de uma parte do seu pensamento, que seria conhecido mais tarde, quando da publicação de “El socialismo y el Hombre en Cuba” , em uma carta dirigida a Carlos Quijano, do Semanário Marcha de Montevideo, em março de 1965.

Na carta, CHE se debruça por sobre a essência do homem e seu papel no processo de construção de uma nova sociedade. Começa refutando, não somente do ponto de vista teórico, mas fático, o argumento de setores críticos à revolução de que nela o Estado coage o indivíduo, o anula, enquanto o Estado se engrandece, golpeia a liberdade individual.

CHE explica como a luta guerrilheira se desenvolve em dois distintos ambientes: o povo e a guerrilha e como, em ambos, a entrega do ser humano, sua atitude em favor das mudanças, deve ser exemplar. A tarefa, explica o CHE, consiste em “..encontrar la fórmula para perpetuar en la vida cotidiana esa actitud heroica...”.

Caracterizando o povo cubano, CHE expressa como este ente não é apenas a soma de elementos da mesma categoria, mas uma força que participa de todo o processo, na reforma agrária e na administração das empresas estatais, na resistência aos furacões e ao ataque a Playa Girón. E como o povo, embora reconheça o governo e suas lideranças, aquelas que interpretam suas necessidades e ganham a sua confiança com a fidelidade aos compromissos, também obriga à correção de rumo, quando estas erram. Tudo isso sem pretender dizer, como ele próprio esclarece, que o modelo seja o ideal, pois a percepção da massa implica uma interação complexa, que requer métodos específicos, onde a intuição é apenas o começo.

Claro está que o pano de fundo desse processo de unidade não pode ser a lei do valor, inerente ao capitalismo. A mercadoria tem efeitos não somente na organização da produção, mas também na consciência individual que, no capitalismo, se pauta pelo interesse material, pela rentabilidade.

Esse não pode ser o elemento central. O homem não é algo acabado. Na construção do socialismo “Las taras del pasado se trasladan al presente en la conciencia individual y hay que hacer un trabajo continuo para erradicarlas... La nueva sociedad en formación tiene que competir muy duramente con el pasado”.

Há, então, que modificar o pano de fundo, simultaneamente à base material deve ir nascendo o novo homem, moralmente comprometido com o trabalho como valor social, e não como instrumento de satisfação da necessidade individual.

Sabe-se que o capitalismo usou a força, reprimiu duramente seu passado, educou o ser humano na máxima de que seu valor depende da quantidade de bens que possua. CHE propõe um outro processo. A auto-educação é promovida porque a institucionalidade revolucionaria, conduzindo o indivíduo a uma nova atitude, a da responsabilidade como motor do desenvolvimento social. O ser humano é completamente livre na medida em que não somente tem o necessário para a sua existência, mas porque pensa, reflete, participa, vive em comunidade e observa como seu desenvolvimento não é o individual, mas social. Na medida em que seu trabalho se evidencia no desenvolvimento de todos, e não no crescimento das riquezas de alguns; na medida em que a mercadoria homem deixa de existir.

A contribuição do CHE à compreensão da necessidade de rever os valores que norteiam as nossas sociedades está ligada a suas experiências anteriores à Revolução Cubana, ao seu estudo permanente não somente da literatura marxista ou revolucionaria, mas também à leitura que recria em forma de novelas, de crônicas e contos as dificuldades dos nossos povos. E, ainda, à vivência do início do processo de edificação de um novo estilo de conduzir os negócios do Estado, onde prima o interesse público, o respeito pela vida e os valores essenciais dos seres humanos.

Nesse sentido, o pensamento do CHE se distancia de uma compreensão mecanicista da evolução dos modelos sociais. Sua idéia de construção socialista não é o resultado apenas da inevitável maturidade de contradições econômicas, mas da ação humana, da ação consciente do homem na história e, para isso, o ser humano precisa se despojar de um conjunto de prejuízos, preconceitos e fórmulas de individualismo que o isolam do conjunto.

O ser humano não é uma ilha, está indissoluvelmente ligado aos outros, e tanto mais contribui a seu crescimento e felicidade quanto mais oferece sua existência à construção do crescimento e da felicidade de todos. Por isso, nas suas palavras, há que tomar o indivíduo humano concreto em seu processo de liberação e o homem novo é pilar fundamental da construção do socialismo.

O pensamento de CHE flui em um cenário de contradições, antes e depois da Revolução Cubana, e muitas questões que lhe parecem claras antes de 1959 serão revistas depois. Contudo, essa idéia de homem novo, a compreensão de que não existem receitas preconcebidas para redefinir a América Latina e o conteúdo humanista do seu pensamento ainda permanecem, desde a minha ótica, francamente incontroversos.

Resta, ainda, o CHE militar, o que deixamos para o próximo artigo dessa série.

Pietro Alarcón, advogado, colombiano, é professor da PUC-SP.