sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A hora da verdade para Teerã?

Restando pouco mais de um ano de governo, Bush já é de fato um dos piores presidentes da História dos Estados Unidos. Qualquer ação no sentido de superar esta mancha na sua história deveria dar-se nos próximos 3 a 5 meses.

Desde as eleições presidenciais que levaram Mahmud Ahmenidjad ao poder em Teerã, este país vive em um estado permanente de sobressaltos e crises em sua política interna e externa. Em política interna acentuou-se a penúria de bens, aumentou a inflação e outros bens – paradoxalmente a gasolina! – quase desapareceram. No último dia 8 de outubro de 2007 algumas centenas de estudantes da Universidade de Teerã desafiaram o esquema policial iraniano e gritaram fortes slogans contra Ahmenidjad. No plano externo as ações de enfrentamento com os Estados Unidos acentuaram, nos últimos dias, o conflito entre os dois países.

Energia Nuclear e Geopolítica Regional.
O ponto central do contencioso entre Teerã e Washington centra-se na produção e posse de armas nucleares. O Irã é signatário do Tratado Contra a Proliferação de Armas Nucleares e reafirma constantemente o seu objetivo de dotar-se de energia nuclear exclusivamente para fins pacíficos. Contudo, a natureza fechada, autoritária, do regime iraniano não permite qualquer avaliação concreta sobre o que se passa nas principais usinas nucleares do país.

Os vizinhos dos iranianos – em seus dois flancos – são regimes adversários possuidores de armas nucleares. Referimos-nos a Israel, a quem Teerã vota a maior parte de suas energias em política externa e, do outro lado da fronteira, o Paquistão, dominantemente sunita e wahabita, e um forte aliado dos Estados Unidos. Além disso, o mais importante vizinho do Norte, às margens do Mar Cáspio, é a Federação Russa. Também é notório que a frota americana estacionada no Golfo Pérsico é dotada de forte armamento nuclear. Assim, não seria Teerã o introdutor de “armas de destruição em massa” na complexa geopolítica regional. O ponto central, contudo, para os Estados Unidos seria a caracterização da política externa do Irã (i.) de rompimento do TNP, portanto o Irã transformar-se-ia em um “Out-law State” e (ii.) o caráter não confiável do regime religioso existente no país.

A primeira questão, o Irã como um “Out-law State” é complexa e não representaria, de forma alguma, um casus beli clássico. A França, em 1993, no Atol de Mururoa no Pacífico realizou vários testes nucleares de superfície, contrariando frontalmente a comunidade mundial. Outros países, como o Sudão ou Mianmar, agem de forma brutal, mesmo genocidária, contra suas populações sem mereceram uma ação armada da comunidade mundial. Em relação a ser um “regime não-confiável” não podemos deixar de esquecer que o Paquistão – uma ditadura militar comandada por Pervez Musharaf e assediada por grupos islâmicos radicais – possui varias ogivas nucleares e é um dos maiores aliados dos Estados Unidos.

Onde, em fim, reside a ameaça iraniana?

Golfo Pérsico/Ásia Central: uma geopolítica delicada:
Na verdade, a produção de armas atômicas no Irã – tecnicamente possível para fontes neutras num espaço de 3 até 5 anos – seria um mudança brutal de status estratégico para Israel. As relações com as duas outras potências nucleares da região – Rússia, Paquistão – praticamente não seriam alteradas, posto que ambos os países possuem dossiês mais complexos com outros atores regionais. Contudo, no caso de Israel a mudança seria drástica. O poder dissuasório final de Israel – fragilizado em termos demográficos e pela ausência de profundidade territorial – baseado na possibilidade de uso das armas nucleares, seria anulado pelo poder (futuro) nuclear de Teerã. Na verdade, devemos destacar isso, Teerã, e o Hamas na Faixa de Gaza, são hoje os únicos adversários em frente aberta de Israel. O apoio, municiamento e financiamento do Hizbollah, em 2006, durante a chamada “Guerra dos 34 Dias”, no Líbano, já teria quebrado aspectos centrais da estratégia militar israelense. A excelência da Inteligência israelense, bem como o seu poder dissuasório baseado numa maciça retaliação convencional – embora tenha se dado, com a destruição ampla da infra-estrutura libanesa – não foi suficiente para dobrar o Hizbollah ou alcançar seus objetivos no Líbano.

Assim, a posse de armas nucleares por Teerã acentuaria, num percepção israelense, de forma insuportável a perda de dissuasão por Israel. Devemos notar, ainda, que Teerã desenvolveu uma balística comprovadamente eficiente no raio de até 3000 quilômetros, dotando-se assim de vetores competentes para uma eventual arma nuclear.

Para outros aliados de Washington na Região Golfo Pérsico/Oriente Médio a situação não é melhor. O primeiro estado árabe sunita a se fragilizar seria a Arábia Saudita. Dominantemente sunita, mesmo wahabita, Riad possui – exatamente no Golfo e nas suas importantes regiões petrolíferas, uma vasta população xiita -, que se identifica e relaciona com outros xiitas do Golfo Pérsico. Várias das chamadas “Petro-Monarquias” do Golfo, são dominantemente xiitas, como o Bahrein. Um aumento de poder iraniano na região – que poderia ser fortalecido pela vitória xiita no Iraque ou ao menos na formação de uma República Islâmica no sul do Iraque, em torno de Basra – seria um tremendo fator de desestabilização do Reino Saudita, abrindo caminho para uma República Islâmica na Península.

Também a Turquia, aliada dos Estados Unidos e cooperante com Israel, poderia se sentir obrigada a entrar na corrida armamentista, evitando tornar-se, frente a um Irã atômico, uma potência de segunda ordem. Identicamente o Egito, em face a uma crise política e religiosa na Arábia Saudita, e dos movimentos de armamentismo na Turquia estaria na “obrigação” de buscar o diferenciador nuclear. Isto poderia desestabilizar todo o Maghreb – o norte da África árabe – e levar a Argélia na mesma direção. Nestas condições, os países europeus do Mediterrâneo – em especial Espanha, Itália e França – ver-se-iam em um impensável estado de insegurança.

Assim, o movimento iraniano em direção às armas nucleares, embora de razões claramente fincadas na geopolítica regional do Golfo Pérsico, poderia ser o estopim para um dominó nuclear de amplas dimensões e imensas conseqüências.

Dissuadindo o Irã:
Mais uma vez as potências do Conselho de Segurança da ONU não conseguem chegar a uma mínimo consenso sobre a questão. Até a eleição de Nicolas Sarkozy, em 2007, a França, Rússia e a China Popular haviam assumido uma posição contraria a qualquer ação militar contra o Irã. Já duvidosos do êxito americano no Iraque e da OTAN no Afeganistão, os três países associaram-se numa tentativa de deter uma ação unilateral dos Estados Unidos. Ao final de 2006 tal frente diplomática – aliada ao endurecimento da resistência iraquiana e ao clímax da Crise Coreana (por idênticas razões) conseguiu eficazmente manter o contencioso no plano diplomático.

De outro lado, os Estados Unidos e a Inglaterra (que no início de 2006 teve um enfrentamento direto com Teerã, pela apreensão de um barco patrulha britânico) e a França (agora com Sarkozy) deixaram claro que “todas as opções” (incluindo aí as ações militares) estão sendo estudadas para evitar que o Irã tenha armas nucleares. O Ministro francês de Relações Exteriores chegou, mesmo, a advertir sobre a possibilidade de uso máximo de força do Ocidente contra o Irã.

Assim as ações do “Grupo de Contato” europeu – França, Inglaterra e Alemanha – esgotaram-se desde 2006 e estes países passaram a uma clara posição de exigência de renúncia unilateral por parte de Teerã à posse de armas nucleares.

Para a Federação Russa qualquer ação unilateral e militar seria uma catástrofe para a região. Um grande tumulto militar e político na Região do Mar Cáspio, onde Moscou possui interesses diretos, soberanos e importantíssimos poderia abrir outra brecha de agitação islâmica em seu território. Além disso, traria os Estados Unidos – possivelmente através do uso de portos e aeroportos do Azerbaidjão (ex-república da URSS) - para dentro da região de imensas jazimentos de gás e petróleo. Por tais razões – muito mais relevantes do que o florescente comércio de armas, máquinas e equipamentos entre Moscou e Teerã – é que a Rússia insiste na “metodologia coreana de negociações”. Seria a formação de um grupo regional de contato, mais Estados Unidos, para uma negociação direta e ampla sobre todos os temas (e não só sobre arma nucleares) entre Washington e Teerã. Para Teerã seria uma vitória, uma das razões da recusa americana em aceitar a proposta russa.

Os Estados Unidos, que haviam chegado ao limiar do enfrentamento no começo de 2006, estavam por demais envolvidos na Batalha de Bagdá, buscando garantir um mínimo de segurança para alguns bairros centrais da capital iraquiana na ocasião, perdendo autonomia para uma nova frente de ação militar. Por outro lado, a Administração Bush encontrava-se sob fogo cerrado, da mídia e da oposição democrata, sendo obrigado a demitir colabores próximos da presidência (Karl Rove, Alberto Gonzáles e Donald Rumsfeld). Por fim, o dossiê coreano – com forte risco de descontrole regional e envolvimento numa guerra convencional de grande porte podendo escalar para um conflito nuclear – paralisou os homens em Washington.

Contudo, depois de agosto de 2007 Washington sentiu mais segura para deslanchar uma ação definitiva na Região Golfo Pérsico/Oriente Médio.
Assim, em 2006, o conflito que estava agendado foi adiado. Até quando?

Por que os Estados Unidos atacariam?
O Irã pratica, depois de 2006, uma extensa e intensa política externa, buscando diversificar suas relações políticas e comerciais, além de estabelecer apoios para um eventual enfrentamento na ONU com os Estados Unidos. Assim, de forma inédita, e para grande irritação de Washington, o Irã investiu fortemente na América Latina. Conduzido por outro desafeto americano, o Comandante Hugo Chavez. Ahmandinejad estabeleceu acordos com Caracas, Manágua e La Paz, além de ter fechado protocolos de cooperação com Brasília.

Toda esta movimentação, “en el pátio” estadunidense, deixa claro para Washington que as ações iranianas – ainda mais associadas a Caracas – são um forte desprestígio para a política externa americana. Além disso, e de forma central no pensamento estratégico americano, Teerã desafia as posições americanas junta aos aliados tradicionais dos Estados Unidos no Golfo/Oriente Médio. O crescimento político do Irã, depois do começo da Guerra do Iraque em 2003 e do malfadado discurso de Bush sobre o Eixo do Mal, em 2002, pode relativizar a influência americana em Riad, Ancara e Cairo. Da mesma forma, Israel ficaria fortemente isolado na região e os movimentos radicais de resistência, tais como o Hamas e o Hizbollah – pagos e armados por Teerã – teriam um papel crescente na região.

Além disso, teríamos típicas razões de política interna e mesmo de psicologia própria da Administração Bush para explicar um eventual ataque americano ao Irã. Restando pouco mais de um ano de governo, Bush já é de fato um dos piores presidentes da História dos Estados Unidos. Qualquer ação no sentido de superar esta mancha na sua história deveria dar-se nos próximos 3 a 5 meses. E, estaria aí, a chance de alterar os sinais da corrida eleitoral em curso, desbancando o favoritismo dos Democratas.

Trata-se, em suma, de um típico projeto de “rabo que abana cachorro”.

Quais os sinais evidentes da crise atual?
Nas últimas semanas os Estados Unidos se movimentaram com uma agilidade diplomática não vista nos últimos 7 anos. Vejamos:

i. O Presidente Bush garantiu o apoio e a continuidade da assistência dos Estados Unidos ao governo ditatorial de Pervez Musharaf – sob forte pressão da oposição interna - no Paquistão. Trata-se de uma base fundamental, na fronteira do Irã, para garantir a segurança de ações contra Teerã;

ii. Condoleeza Rice e Robert Gates estiveram na Arábia Saudita e Egito e assinaram acordos no valor de U$40 bilhões para a transferência de complexos sistemas de detecção adiantada de ataques aéreos ( mísseis e aviação ) além de sistemas de defesa antiaérea;

iii. Os americanos enviaram “pessoal técnico” para o Azerbaidjão – na fronteira norte do Irã, junto ao Mar Cáspio, para examinar as condições de portos e aeródromos locais;

iv. Condoleeza Rice foi em missão preparatória a Israel e a Palestina visando garantir o sucesso da Conferência de Anápolis, em novembro de 2008, entre palestinos e israelenses. Temas tabus da Questão Palestina ( saída das colônias judias, partilha de Jerusalém ) foram colocados em pauta;

v. Vladimir Putin, da Rússia, multiplicou seus esforços diplomáticos em encontros sucessivos com Angela Merkel ( Alemanha ) e Nicolas Sarkozy ( França ) em favor de uma abordagem diplomática da questão. Em seguida a tais encontros Putin foi a Teerã, onde defendeu um mundo multipolar e a excelência das ações diplomáticas.

A Guerra Americana contra o Irã
O encadeamento de tais ações apontaria para a construção de uma retaguarda diplomática e para o estabelecimento das condições estratégicas para um ataque americano ao Irã. Este ataque seria radicalmente diferente da “nova guerra altamente tecnológica” que Rumsfeld criou para o Iraque. Em vez de uma “Blitzkrieg tecnológica”, os Estados Unidos (secundados por Israel, Inglaterra e França) deslanchariam uma poderoso ataque aeronaval contra o Irã.

O ataque deveria ter o caráter preempção e manter o principio de “Espanto e Terror”, só que não seria acompanhado de qualquer ação de “boots on the ground” e deveria potencializar os ataques aéreos (partindo de bases e da marinha deslocada para o local) de forma intensa e contínua. Os primeiros ataques deveriam ser tão poderosos que a capacidade balística iraniana deveria ser anulada sem qualquer possibilidade de retaliação. O uso de armas nucleares táticas não seria assim descartado, bem ao contrário. Os Estados Unidos deveriam direcionar, simultaneamente, seus ataques para as instalações nucleares (Bushsher, Natanz, Araki, etc...) e para o sistema de defesa e resposta do Irã. Assim, as bases navais no Golfo Pérsico e as bases de mísseis distribuídas pelo interior do país deveriam se atingidas simultaneamente, cobrindo mais de 100 alvos diferentes diários e contínuos. O ataque maciço e preemptivo deveriam contar com elementos da Guerra dos Seis Dias, de Israel contra os países árabes, e da Guerra de Kossovo, usando ao máximo poder aéreo para evitar uma retaliação contra Israel, Arábia Saudita e mesmo as tropas aliadas em embasadas no Iraque.


Francisco Carlos Teixeira é professor Titular de História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Esquerda, volver... ma non troppo.

Depois de uma década de pequenos sucessos e grandes derrotas, em toda Europa social-democratas e socialistas tentam reencontrar-se com seu passado. Chegou a vez da Alemanha, onde novas lideranças prometem “corrigir o rumo” do Partido Social-Democrata (SPD, conforme a sigla alemã). Será que vai funcionar?

Os resultados pífios dos social-democratas nas recentes eleições na Suíça e na Polônia, onde decididamente não estiveram entre as figuras relevantes para as decisões, parecem ter acendido uma luz vermelha (a cor é adequada) no SPD alemão, como também já vinha ocorrendo em outros países, entre os partidos descritos como de centro-esquerda.

O SPD alemão é o partido mais antigo do país, e dos mais antigos da Europa e do mundo, com seus respeitáveis 114 anos de história. Mas passa por dificuldades gritantes. Depois da queda do muro de Berlim, em 1989, e da subseqüente dissolução da União Soviética, o Partido Social-Democrata alemão tornou-se exemplar no que toca à ventania política que levou todos os partidos do gênero, na Europa, a se moverem para a direita.

O líder desta virada na Alemanha foi Gerard Schröder, que chegou a ser primeiro ministro no começo do século XXI. Schröder, seguindo vaga mundial, fez uma série de reformas no sistema social alemão, adequando-o aos tempos de liberalismo requentado (também chamado de neo-liberalismo...) que marcaram esse momento. Basicamente isso consistia, como alhures, em desconstruir direitos trabalhistas e fazer do Estado o vigilante dessa batida em retirada e restrição do campo social.

Aparentemente, isso devia assegurar uma nova popularidade ao partido, com um sucesso eleitoral duradouro. Não foi o que aconteceu. Derrotas eleitorais em eleições provinciais levaram Schröder a antecipar as eleições gerais, e o resultado foi algo surpreendente, pois a líder da conservadora União Democrata Cristã (CDU), Ângela Merkel, tornou-se a primeira ministra quando seu partido venceu o pleito, ainda que por estreita margem.

Merkel leu corretamente o resultado, e diante de um eleitorado dividido praticamente pela metade, chamou o SPD para uma coalizão, e a cúpula deste partido aceitou o chamado. Novamente, o plano era um, mas o resultado foi outro. A aproximação com Merkel afastou ainda mais a base da cúpula do partido.

A própria Ângela Merkel surpreendeu o eleitorado e a Europa. Eleita com um discurso conservador, prometendo arrancar mais direitos sociais, Merkel fez um movimento considerado brilhante pelos analistas políticos convencionais na Alemanha. Compensou seu discurso com uma preocupação assistencialista com os idosos, os doentes e aqueles que podem ser descritos como “padecendo de fragilidade social” (mulheres em necessidade, jovens mães, por exemplo). Tendo ao lado vizinhos que brandem discursos ferozmente eurocêntricos, como Nicolas Sarkozy na França e Cristoph Blocher na Suíça (este último beirando o racismo explícito), Merkel caracterizou-se por uma fala bem mais branda com relação aos imigrantes, embora mantenha uma posição dura em relação ao Irã e ao que aqui é chamado de “extremismo islâmico”. Para completar, Merkel compreendeu rapidamente o “fator Al Gore” na cena mundial,e num país onde existem leis rígidas e amplas em relação aos direitos do consumidor, e o meio-ambiente é uma preocupação permanente e em escala mundial (nada deixa um humanista alemão com maior brilho no olhos do que falar em “Amazônia”, por exemplo), ela tornou-se uma campeã do tema.

Na reunião do G-8 (os sete países mais industrializadas do hemisfério norte mais a Rússia), em junho deste ano, realizada em Rostok, no norte da Alemanha, Merkel agitou suficientemente a questão ambiental, o efeito estufa, e temas associados, para considerar-se na imprensa que ela de fato enfrentou a indiferença a respeito sempre manifesta pelo governo Bush.

Essa ofensiva de Merkel roubou a cena aos social-democratas e até mesmo, em parte, ao Partido Verde. Para completar o cenário difícil, uma parte dos dissidentes do SPD uniu-se a uma parte dos remanescentes comunistas e fundaram um novo partido, Die Linke, literalmente A Esquerda.

Acossados pelos dissidentes, por Merkel, pelos Verdes, que atraem uma parte do eleitorado jovem e/ou também de esquerda, o SPD ameaçava soçobrar na perda completa de identidade. Entretanto um novo fator, chamado Kurt Beck, apareceu no horizonte, galvanizando o temor das numerosas bases do partido, ainda remanescentes, de que o SPD se tornasse apenas um partido conservador com umas pintas róseas, mais do que vermelhas, no passado.

Enfrentando a resistência dos spedistas que estão no governo, inclusive a do atual ministro do Trabalho, Franz Münfering, Beck conseguiu reverter algumas das posições cristalizadas no partido desde o tempo de Schröder. Recentemente o pleno do SPD decidiu abraçar a proposta de ampliar direitos sociais, como: passar o tempo de salário-desemprego pleno de 18 para 24 meses, no caso de quem tenha mais de 55 anos; aumentar a pensão dada aos trabalhadores de mais de 60 anos que continuem trabalhando; opor-se à proposta de que a idade de aposentadoria passe de 65 para 67 anos (na Alemanha o cidadão se aposenta no dia em que completa 65 anos, sem consideração de outros fatores). Fala-se até em discutir uma proposta de salário mínimo!

Será possível que isto interrompa o que vem sendo descrito na imprensa como a “hemorragia de perda de votos” que vem atingindo o partido? Não se sabe. Beck é um líder ousado, toma atitudes aqui descritas como “populistas”, freqüentando festas populares, tirando fotos com marcas de beijos na bochecha, e assim por diante. Conseguiu, é certo, galvanizar o descontentamento interno do partido. Se o fará em relação ao eleitorado, cavando espaço entre Merkel, os Verdes e a Die Linke, é outra história.

Ele tem a seu favor a percepção pessimista do eleitorado quanto a sua situação econômica, pois é grande a descrença na população de que vá ter melhorias de vida nos próximos tempos. Além disso, há certas condições de vida que estão piorando. O sistema de saúde está com problemas no país.

Recentemente há um outro fato que desperta preocupações. Outro dia minha companheira ao sair de casa de manhã cedo tropeçou (literalmente)... numa raposa. O animal se escondeu logo no jardim de uma escola próxima. O fato pitoresco na verdade é sintoma de um problema grave. As raposas estão invadindo as cidades alemãs. O que isso significa? Isso significa que os campos próximos não estão mais lhes oferecendo condições adequadas de sobrevivência. E por outro lado, isso significa que nas cidades está havendo uma proliferação de ratos. Ratos e raposas conjugados transmitem pelas fezes doenças incuráveis para os seres humanos... Bom, além de uma preocupação sócio-ambiental, isto já é tema para o flautista de Hamelin.




Formato: rmvb/P&B
Áudio: Inglês
Legendas: Português (BR)
Duração: 1:19
Tamanho: 343 MB
Dividido em 04 Partes
Servidor: Rapidshare



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Zelig
(Zelig, EUA, 1983, P&B/Cor, 79')
De: Woody Allen
Com: Woody Allen, Mia Farrow, Garrett M. Brown, Stephanie Farrow, Will Holt, Sol Lomita
Copiado de:RapaduraAzucarada - Eudesnorato


Sinopse:

Leonard Zelig (Allen) é um artista camaleão, cuja insegurança totalmente neurótica obriga a imitar - fisica e mentalmente - qualquer pessoa que esteja em sua companhia.

Fazendo tratamento com a Dra. Eudora Fletcher (Mia Farrow), Zelig cura-se lentamente, e durante o processo evolui de aberração a celebridade nacional - e até mesmo noivo de Eudora!

Mas quando as manchas do passado da personalidade múltipla de Zelig começam a aparecer (furto, bigamia e uma apendicectomia não autorizada), o camaleão humano tem que fugir novamente, e Eudora precisa revirar o mundo para encontrar - e salvar - o único homem que é todos os homens que ela já desejou!








La Jornada: O Explosivo Curdistão


As consequências para os EUA do atoleiro em que se afundam por causa da invasão do Iraque estão longe de se esgotar neste país. Provocado pela invasão do Iraque, o incremento do problema curdo — outra nação a qual é recusado o direito a um Estado — é mais um beco sem saída provocado por George Bush. Editorial do jornal La Jornada, de 22 de outubro de 2007.


Os recentes combates entre o exército turco e as forças do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) nas fronteiras turco-iraquianas constituem um novo fator explosivo numa região do mundo cheia deles, como a faixa que vai da Ásia Menor à Ásia Central, passando pelo Oriente Médio, e vêm deitar mais gasolina no fogo do drama iraquiano.


Ontem [21 de Outubro], enquanto as tropas de Washington bombardeavam a população xiita de Bagdá — com um saldo provisório de meia centena de mortos e outros tantos feridos e várias casas e escolas destruídas pelo ataque —, a artilharia de Ankara atacava povos curdos do Iraque, em resposta à humilhante derrota sofrida pelas suas tropas regulares na localidade de Colemerg, a zona do Curdistão controlada pela Turquia. Como resultado, o preço do petróleo nos mercados internacionais conhecia o enésimo aumento.


Reprimidos com extrema crueldade pelo regime encabeçado por Saddam Hussein, os curdos iraquianos apoiaram majoritariamente a invasão anglo-estadunidense de 2003 e, posteriormente, um dos mais importantes líderes dessa etnia, Jalal Talabani, foi colocado como presidente no governo títere de Bagdá, enquanto outro, Masud Barzani, preside ao regime semi-autônomo do Curdistão iraquiano no norte do país, onde estão as principais reservas petrolíferas da nação ocupada. Se é verdade que ambos reagiram com prudência e espírito conciliador aos ataques turcos, o segundo declarou que não entregará à Turquia os chefes do PKK refugiados no Iraque nem — compreende-se — os milhares de combatentes dessa organização.


A intervenção empreendida por George Bush perturbou, em suma, a correlação de forças entre o Curdistão histórico e os países que o repartiram, ao arrepio do Tratado de Sèvres (1918), em que se definia o desmantelamento do império otomano, derrotado na Primeira Guerra Mundial. Cabe recordar que a região curda estende-se do oriente da Anatólia turca até ocidente do Irão, e desde a Armênia até ao noroeste da Síria. Esse povo foi perseguido e reprimido, em diferentes momentos, pelos governos de Ancara, Bagdá, Damasco e Teerã.


O problema curdo é, por outro lado, mais um dos becos sem saída em que Washington se meteu o invasor do Iraque, pois com o desaparecimento do regime de Hussein os curdos iraquianos obtiveram uma apreciável margem de manobra para apoiar — admitam-no ou não — os seus compatriotas do Curdistão turco, o que provoca a ira do governo de Ancara, imprescindível aliado dos Estados Unidos, contra o governo fantoche de Bagdá.


A solução do problema curdo parece impossível nas atuais circunstâncias históricas, porque passa necessariamente pela constituição de um Estado para essa nação despojada; isso requereria que a Turquia, o Iraque, o Irão e a Síria fizessem as cessões territoriais simultâneas. Face à dificuldade desta possibilidade, a opção teria sido manter a reivindicação nacional num baixo nível de conflitualidade, através dum intenso trabalho diplomático do Ocidente, mas a intervenção estadunidense no Iraque deu um impulso bélico ao diferendo.


Eis aí um dos saldos do desastre das incursões militares ordenadas por Bush com o pretexto de combater “o terrorismo internacional”, ainda que com o propósito real de multiplicar os lucros do círculo imperial que o rodeia.


Tradução de José Paulo Gascão. Publicado no site O Diario.info

Fonte:Vermelho


BO prova que dirigente do MST estava marcado para morrer


O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Valmir Mota de Oliveira, o Keno, morto no último domingo (21) em um confronto com seguranças particulares, estaria marcado para morrer desde março deste ano. A Subdivisão de Cascavel registrou, no dia 28 de março, um boletim de ocorrência sobre a ameaça de morte, alertada em um telefonema anônimo, contra Keno, Celso Ribeiro Barbosa e Célia Lourenço.


De acordo com o registro da ocorrência, a pessoa fez o alerta dizendo para que tomassem cuidado porque a “UDR (União Democrática Ruralista) estava preparando uma armadilha para eles”.

A advogada da ONG Terra de Direitos, Gisele Cassano, informou que o presidente da Sociedade Rural do Oeste, Alessandro Meneghel, contratou seguranças particulares para ameaçar os sem-terra.


“Meneghel declarou à imprensa que a cada reintegração que o governo não cumprisse, os próprios ruralistas iriam retirar os sem-terra das propriedades”, afirma Gisele. Segundo ela, a NF segurança é contratada pela Syngenta, Sociedade Rural do Oeste e pelo Movimento de Produtores Rurais para fazer as reintegrações de posse.

Os sem-terra confirmam que a intenção dos seguranças ao voltar na fazenda Syngenta no domingo passado era a de matar as lideranças.

"Temos certeza de que a intenção deles era matar o Keno, a Celinha e eu. Eu não estava lá à tarde e atiraram na Isabel Maria Nascimento de Souza, achando que era a Celinha, pois são parecidas. Deu para perceber que só atiraram para matar nos líderes, nos outros deram tiros no pé e em outros membros não vitais. Se eu estivesse lá naquela hora, com certeza teria sido assassinado e Keno já era carta marcada para morrer”, contou Celso Ribeiro Barbosa, uma das vítimas da ameaça e que pertence à coordenação estadual do MST e da Via Campesina.

Segundo Barbosa, os telefonemas de alerta no início do ano foram anônimos e feitos para o número da Secretaria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, em Cascavel.

“A recepcionista atendeu as ligações da pessoa avisando que nós iríamos morrer. Achamos que as ameaças vieram mesmo da UDR, mas é complicado de dizer ao certo quem é”, disse Barbosa.

Sob tortura psicológica

Ele contou que sua casa, que fica em um assentamento a 15 quilômetros da Syngenta, em Santa Tereza do Oeste, está sendo cercada e vigiada pela empresa NF de segurança o tempo todo.

“Eles ficam rondando a casa e acendem os faróis dos veículos todas as noites para ver se não tem ninguém. Por conta disso, eu e minha família não temos ido mais lá, por medo das ameaças. Muitos vizinhos estão dizendo para a gente não ir e não vamos mesmo, por medo”, relatou.

Ele contou ainda, que vigilantes da empresa NF teriam entrado algumas vezes no assentamento que faz divisa com a fazenda da Syngenta, dando tiros para o alto e fazendo ameaças.

“Eles ameaçam as famílias assentadas com o objetivo de intimidá-las, para que não ousem mais invadir”, disse.

Violação dos direitos humanos

A advogada da ONG Terra de Direitos, Gisele Cassano, confirma a informação fornecida por Barbosa sobre as ameaças e diz que entrou no caso por causa da violação dos direitos humanos.

“Eles vêm sofrendo ameaças e em novembro do ano passado, Keno já havia sido agredido pela Sociedade Rural Oeste (SRO) durante o encerramento da Jornada da Educação na Reforma Agrária, promovida pelo MST em Cascavel”.

Segundo ela, enquanto os participantes se dirigiam à fazenda da Syngenta, para uma manifestação pacífica, dentro de um ônibus, na estrada que liga Cascavel a Foz do Iguaçu, foram parados por um bloqueio feito pela Sociedade Rural do Oeste.

Seus integrantes, liderados pelo presidente Alessandro Meneghel, aguardavam o ônibus com pedaços de pau, barras de ferro e armas de fogo, fazendo uma barreira humana.

Mesmo com o bloqueio, os trabalhadores decidiram continuar a rota a pé, mas foram violentamente atacados.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007




Formato: RMVB
Idioma: Francês
Legendas: Português
Duração: 129 min.
Tamanho: 413 MB
Dividido em: 05 Partes
Servidor: Rapidshare



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Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain

Copiado de:RapaduraAzucarada

Direção: Jean-Pierre Jeunet
Roteiro: Guillaume Laurant, Jean-Pierre Jeunet
Gênero: Comédia/Romance
Origem: Alemanha/França
Duração: 122 minutos
Tipo: Longa


Com: Audrey Tautou, Mathieu Kassovitz, Rufus, Lorella Cravotta, Serge Merlin, Jamél Debbouze, Claire Maurier, Clotilde Mollet, Isabelle Nantey, Dominique Pinon

Amélie Poulain (Tautou), uma jovem parisiense recatada e tímida, foi educada pelos pais, com poucos contactos com o mundo exterior. Com vinte e poucos anos, Amélie trabalha num pequeno café e mora num apartamento antigo, onde encontra uma caixa escondida há mais de 40 anos. Ao procurar o dono, virá a descobrir a satisfação de trazer a alegria aos outros. Numa estação de comboios depara com o hábito peculiar de um jovem (Kassovitz), que colecciona fotos tipo passe mandadas fora, frequentemente rasgadas, por utilizadores de uma máquina automática.

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CHAPAEV - O SOLDADO VERMELHO...


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quarta-feira, 24 de outubro de 2007



Direito ao silêncio

Frei Betto * Adital


Há demasiados ruídos à nossa volta. O coração sobressalta, os nervos afloram, a mente atordoa-se. É o televisor ligado quase o tempo todo, o fluxo incessante de imagens sugando-nos num carrossel de flashes. O rádio em monólogo inclemente, a música rítmica desprovida de melodia, o som alojado nos orifícios auditivos, o telefone trinando supostas urgências, o celular a invadir todos os espaços, suas musiquetas de chamada destoando em teatros, cinemas, templos, cerimônias e eventos, seus usuários nele dependurados pelas orelhas, publicitando em voz alta conversas privadas. De todos os lados sobem ruídos: da construção civil vizinha, do latido dos cães, dos carros na rua e das aeronaves que cortam o espaço, das motos estridentes, do anunciante desaforado em seu carro de som, do apito fabril disciplinando horários. Tantos ruídos causam tamanho prejuízo à saúde humana que o Exército usamericano criou, em sua sanha assassina, um arsenal de "projéteis sonoros", capazes de produzir som de 140 decibéis. Bastam 45 para impedir o sono. O rumor do tráfego na esquina de uma avenida central atinge 70 decibéis. Aos 85 produz-se uma lesão auditiva. Elevado para 120, o som provoca dor aguda nos ouvidos. Imagine-se, pois, o que significa essa tecnologia de tortura a 140 decibéis! Nosso silêncio não é quebrado apenas por ruídos auditivos. Agridem-nos também os visuais. Assim como o silêncio da zona rural ou de uma igreja nos impregna de paz, levei um choque ao visitar, anos atrás, Praga antes da queda do Muro de Berlim. Não havia outdoors. A cidade não se escondia atrás de anúncios. A poluição visual era zero, permitindo contemplar a beleza barroca da terra de Kafka. Nas cidades brasileiras, subjugadas pelo império do mercado, somos vorazmente engolidos pela proliferação de propagandas, exceto a capital paulista, agora em fase de despoluição visual por iniciativa da prefeitura. Sem silêncio, ficamos vulneráveis, expostos à voracidade do mercado, a subjetividade esgarçada, a epiderme eriçada em potencial violência. Contra esse estado de coisas, o professor Stuart Sim, da Universidade de Sunderland, na Inglaterra, acaba de lançar Manifesto pelo silêncio, contra a poluição do ruído. O autor enfatiza que a cacofonia de sons que nos envolve ameaça a saúde, provoca agressividade, hipertensão, estresse, problemas cardíacos. Todos os grandes bens infinitos da humanidade - arte, literatura, música, filosofia, tradições religiosas - exigiram, como matéria-prima, o silêncio. Sem ele perdemos a nossa capacidade de raciocinar, ouvir a voz interior, aprofundar a vida espiritual, amar além do jogo erótico meramente epidérmico. Quando um casal de noivos me procura, interessado em preparar-se para o matrimônio, costumo indagar se os dois são capazes de ficar juntos uma hora, em silêncio, sem que um se sinta incomodado. Caso contrário, duvido que estejam em condições de uma saudável vida a dois, pois o respeito ao silêncio do outro é um dos atributos da confiança amorosa. Assisti ao filme O grande silêncio, do diretor alemão P. Gröning, que nos convida a penetrar a vida de uma comunidade cartuxa nos Alpes franceses. Nenhuma palavra no decorrer de três horas de filme, exceto o canto gregoriano das liturgias monásticas e o bater do sino. Um convite à mais desafiadora viagem: ao mais profundo de si mesmo. Quem ousa, sabe que lá se desdobra um Outro que, por sua vez, espelha nossa verdadeira identidade. Viagem que tem como veículo privilegiado a meditação. Na fase inicial, é tão árduo quanto escalar montanha para quem não esta acostumado ao alpinismo. Porém, em certo momento, é como se u’a mão invisível nos elevasse, tornando a subida suave e agradável. Só então se descobre que, no imponderável do Mistério, não se sobe, se desce, mergulha-se em si mesmo para vir à tona, do outro lado de nosso ser, naquele Outro silenciosamente presente em nossas vidas e na tecitura do Universo. Aqui a palavra se cala e o silêncio se faz epifania. [Autor, em parceria com Leonardo Boff, de "Mística e Espiritualidade" (Garamond), entre outros livros].
* Frei dominicano. Escritor.

Equador avança contra os lucros das petroleiras

por jpereira

Medida anunciada pelo presidente Rafael Correa decreta que o Estado ficará com 99% dos lucros extras; hoje, recebe 50%

Medida anunciada pelo presidente Rafael Correa decreta que o Estado ficará com 99% dos lucros extras; hoje, recebe 50%


Claudia Jardim,

de Caracas (Venezuela)


Enquanto os principais países consumidores de petróleo e gás acirram a disputa para garantir o abastecimento de seu mercado, alguns governos da América Latina se impõem regras do jogo na contramão dos interesses das transnacionais e das grandes potências.


Dessa vez, foi o Equador. “Em nome da soberania nacional” – s eguindo os exemplos de Venezuela e Bolívia –, o presidente Rafael Correa determinou que o Estado deverá arrecadar 99% do lucro excedente obtido com a produção do petróleo. Antes, o percentual era dividido igualmente: 50% para o Estado; 50% para a empresa.


¡°O petróleo é de todos. Jamais voltaremos a perder nossa propriedade”, anunciou Correa, ao apresentar o decreto que estabelece um maior controle do Estado sobre os recursos petrolíferos. "O governo da Revolução Cidadã considera que é insuficiente que o Estado equatoriano receba 50% dos lucros extraordinários”, avaliou.


A proposta de assumir um maior controle dos recursos naturais faz parte de uma antiga reivindicação dos movimentos sociais equatorianos que foi capitalizada por Correa durante sua campanha eleitoral em 2006. O decreto atinge empresas como Petrobras (Brasil), Repsol-YPF (Espanha), Perenco (França), Andes Petroleum (China) e City Oriente (EUA).


Originalmente, os contratos estabeleciam um preço médio de 25 dólares por barril para um período de 20 anos, ficando o Estado excluído dos lucros extras pelo aumento da cotização do petróleo cru no mercado. Em 2006, os contratos foram modificados, dividindo em partes iguais os beneficios adicionais.


De acordo com o procurador da República do Equador, Xavier Garaicoa, as transnacionais não cumpriram com o pagamento de 50% dos lucros extras. Entre as empresas que atuam com irregularidades, está a estadunidense City Oriente. Apenas em 2006, a transnacional deixou de pagar ao Estado equatoriano cerca de 30 milhões de dólares, segundo informou Garaicoa ao canal de televisão Ecuavisa.


Com a nova medida, as transnacionais ficarão apenas com 1% dos excedentes. O governo equatoriano ainda não esclareceu qual será o preço estabelecido nos novos contratos. Até o fechamento desta edição o preço do petróleo OPEP estava estimado em 76 dólares por barril.


Nacionalismo petroleiro

A medida de Correa foi interpretada por alguns setores como um passo “radical” de parte do presidente equatoriano. A s companhias transnacionais que atuam no país foram convocadas a uma reunião para renegociar seus contratos e não compareceram. Alegaram que precisavam de mais tempo para consultar as matrizes.


Para o especialista em petróleo Carlos Mendonza, a medida equatoriana obedece a uma tendência mundial de parte dos Estados produtores de petróleo que não só tendem a assumir o controle dos recursos, como também a participar dos lucros, antes destinados exclusivamente às transnacionais. “Os países têm o direito de tirar vantagem de um recurso que lhes pertence e que, além disso, vai acabar. Trata-se de uma reivindicação nacionalista petroleiro”, avalia Mendoza.


O decreto firmado por Correa também tende a fortalecer a economia do país. Cerca de 35% dos dólares que entram no país vêm da venda do petróleo. C om a medida, cerca de 840 milhões de dólares anuais deverão ingressar diretamente para os cofres públicos.


O ministro equatoriano de Minas e Petróleo, Galo Chiriboga, explicou que os acordos devem mudar de figura jurídica. A partir de agora deixariam de ser um convênio de participação e assumiriam um caráter de prestação de serviços. Ou seja, o novo contrato proposto pelo governo equatoriano reforça que o Estado é o dono do petróleo. (Leia a cobertura completa na edição 242 do jornal Brasil de Fato)

O crime imperdoável

da dignidade


História de racismo na civilização ocidental


Eduardo Galeano


A democracia haitiana vem sendo duramente castigada. Recém-nascida nos dias de festa de 1991, foi assassinada por um golpe de Estado comandado pelo general Raoul Cedrás. Três anos mais tarde, ressuscitou. Após ter posto e deposto tantos ditadores militares, os Estados Unidos tiraram e recolocaram o presidente Jean-Bertrand Aristide, o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do país, que teve a insensata pretensão de querer um país menos injusto.

Para eliminar qualquer vestígio da participação estadunidense na ditadura sanguinária do general Cedrás, os marines retornaram ao seu país levando 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide voltou acorrentado. Deram-lhe permissão para governar, mas lhe negaram o poder. Seu sucessor, René Préval, obteve quase 90% dos votos nas últimas eleições presidenciais, mas qualquer chefe de quarta categoria do Fundo Monetário Internacional ou do Banco Mundial tem mais poder no país do que o próprio presidente.

O veto pode mais que o voto. Veto às reformas: toda vez que Préval, ou algum dos seus ministros, pede empréstimos internacionais para dar pão aos famintos, palavras aos analfabetos ou terra aos lavradores, fica sem resposta. Ou, na melhor das hipóteses, obtém uma resposta em forma de ordem: "Recita a lição". No momento em que o governo haitiano se nega a entender que precisa se desfazer dos poucos serviços públicos que ainda restam – últimos míseros refúgios para um dos povos mais abandonados do mundo –, os professores o reprovam no exame.

"INCAPAZ DE SE GOVERNAR" – No ano passado, quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Sentiram um profundo mal-estar, ficaram muito chocados ao ver tanta miséria. O embaixador da Alemanha em Porto Príncipe explicou a eles qual é o problema: "Tem gente demais neste país", disse. "A mulher haitiana sempre está a fim, e o homem haitiano sempre pode." E riu. Os deputados ficaram calados. Naquela mesma noite, um deles, Winfried Wolf, deu uma verificada nos números. E constatou que o Haiti, juntamente com El Salvador, é o país mais populoso das Américas..., tão populoso quanto a Alemanha: têm quase a mesma quantidade de habitantes por quilômetro quadrado.

Durante os dias em que esteve no Haiti, o deputado Wolf não se impressionou apenas com a miséria. Ficou também maravilhado com a beleza das pinturas populares. E chegou à conclusão de que o Haiti é superpovoado... de artistas.

Os Estados Unidos invadiram o país em 1915 e o governaram até 1934. Retiraram-se quando conseguiram realizar dois objetivos: resgatar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia a venda de plantações a estrangeiros. Na época, Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar a si mesma. Tem "uma tendência à vida selvagem e uma incapacidade física de civilizar-se".

"ESCRAVOS POR NATUREZA" – O Haiti tinha foi a pérola da Coroa francesa, a sua colônia mais rica: uma grande plantação de cana-de-açúcar, com mão-de-obra escrava. Na obra "O Espírito das leis", Montesquieu explicou, sem papas na língua: "O açúcar sairia muito caro, se na sua produção não trabalhassem os escravos. Escravos que são negros da cabeça aos pés e têm o nariz tão achatado que é quase impossível sentir pena deles. Resulta impensável que Deus, que é tão sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, em um corpo completamente negro".

Em troca, Deus havia colocado um chicote na mão do capataz. Os negros eram escravos e vadios por natureza, e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir ao patrão, e o patrão devia castigar o escravo, que não demonstrava o mínimo entusiasmo em cumprir o desígnio divino.

Karl Von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, fez um retrato do negro com precisão científica: "Vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e de costumes devassos". Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, comprovou que o negro "pode desenvolver certas habilidades humanas, como o papagaio que pronuncia algumas palavras".

LIBERDADE E SOLIDÃO – Em 1803, os negros do Haiti deram uma grande surra nas tropas de Napoleão Bonaparte, e a Europa jamais perdoou essa humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos conquistaram a independência antes, mas meio milhão de escravos continuavam a trabalhar nas suas plantações de algodão e tabaco. Jefferson, que era proprietário de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas dizia também que os negros foram, são e serão inferiores.

A bandeira dos libertados foi hasteada sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura da cana-de-açúcar e pela guerra contra a França. Um terço da população tinha morrido em combate. Então teve início o bloqueio. A nação recém-nascida foi condenada à solidão.

Nem Simón Bolívar teve a coragem de assinar o reconhecimento diplomático. Graças ao apoio do Haiti, Bolívar pudera recomeçar a luta pela independência americana, depois que a Espanha já o tinha derrotado. O Haiti enviou sete navios, muitas armas e soldados, com a única condição de que Bolívar libertasse os escravos – uma idéia que não tinha passado pela cabeça do Libertador. Bolívar assumiu o compromisso, porém, após a vitória, quando já governava a Grã Colômbia, virou as costas para quem o tinha salvo. E, quando convocou as nações americanas ao Panamá, não convidou o Haiti.

Os Estados Unidos reconheceram o Haiti só sessenta anos depois, enquanto Etienne Serres, um gênio francês em anatomia, descobria que os negros são primitivos por causa da pouca distância que separa o seu umbigo do pênis. Na época, o Haiti já padecia nas mãos de sanguinárias ditaduras militares, que destinavam os famélicos recursos do país ao pagamento da dívida francesa: a Europa tinha obrigado o Haiti a pagar uma gigantesca indenização à França, como forma de pedir perdão pelo delito da dignidade.

A história da prepotência contra o Haiti, que nos dias de hoje assume dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental.
Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio, é autor de várias obras sobre a América Latina. As veias abertas da América Latina é a mais conhecida e divulgada.
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