sexta-feira, 7 de março de 2008

Beto Guedes - A Página do Relâmpago Elétrico (1977)




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Brasil, 1968 (1): o assalto ao Céu, a descida ao Inferno





Mário Maestri

Os inícios dos anos 1960 haviam sido contraditórios para as lutas sociais no mundo. Em 1964, sob a orientação colaboracionista do Partido Comunista, o movimento popular brasileiro fora derrotado sem lutar. Em 1965-66, a mesma política facilitara o massacre de um milhão e meio de comunistas e a consolidação da ditadura na Indonésia. O assassinato do líder marroquino socialista Ben Barka, na França, em outubro de 1965, e a deposição de Ben Bella, por Boumedienne, na Argélia, em junho do mesmo ano, registravam também os limites da luta pela emancipação social, sob a direção de classes burguesas nacionais tidas como progressistas.

A década iniciara-se também sob signos auspiciosos. Nas barbas do gigante imperialista, em 1959, a partir da Sierra Maestra, um grupo de jovens revolucionários galvanizara a população da pequena ilha e vergara a ditadura odiada. Dois anos mais tarde, a revolução cubana assumia caráter claramente socialista. Em abril de 1961, o fiasco da invasão imperialista da baía dos Porcos aumentara a humilhação estadunidense. Sobretudo na Indochina, avançava incessantemente a luta armada das forças populares vietnamitas, apesar dos ingentes recursos militares empregados pelos EUA.

A derrota brasileira

A derrota no Brasil pesara fortemente sobre a conjuntura mundial. No início da década de 1960, amplos setores populares e médios haviam aderido às propostas de difusas reformas de base que, prometia-se, resgatariam os marginais das cidades e dos campos e relançariam o industrialismo, que modernizara relativamente nas três décadas anteriores a anacrônica estrutura rural da nação. Em 1964, o projeto nacional-reformista fora abortado violentamente. Em nome das classes proprietárias do país, os militares impuseram a ditadura, reprimindo duramente o movimento popular. A derrota fora ainda mais frustrante porque ocorrera sem qualquer resistência, precisamente quando muitos se julgavam a um passo da vitória.

Os grandes líderes populistas — Jango, Brizola e Arraes — abandonaram o país sem resistirem. Brizola propusera, inutilmente, oposição de última hora, rejeitada terminantemente pelo presidente João Goulart, seu cunhado. O Partido Comunista Brasileiro, a grande organização da esquerda, de orientação pró-soviética, mantivera até o triste fim do governo constitucional seu atrelamento ao populismo nacionalista, emperrando a organização autônoma dos trabalhadores. Após o golpe de 1964, o Partidão reafirmou sem qualquer autocrítica sua política colaboracionista.

Porém, no Brasil, a euforia dos vencedores seria curta. Através do mundo, a crise capitalista mundial, que se insinuaria nas principais economias mundiais em 1967, pela primeira vez após longos anos de crescimento ininterrupto, exigia que trabalhadores e assalariados apertassem os cintos, para que o grande capital tirasse suas castanhas do fogo. Desde abril de 1964, os militares brasileiros intervieram nos sindicatos; parlamentares populares tiveram os direitos políticos cassados; militares democratas foram reformados; conquistas sociais foram confiscadas; a renda da classe média e dos trabalhadores despencou devido à violenta política recessiva ditada pelo grande capital ao governo subserviente do ditador Castelo Branco (1964-67).

O desemprego aumentava. A inflação crescia. As classes médias passavam desiludidas para a oposição, após haverem marchado em março de 1964 com Deus, pela pátria e pela família, convocadas pelo imperialismo, pela Igreja e pelos partidos de direita, preparando a intervenção militar que salvaria o país da "ditadura sindicalista". Políticos anti-populares, ou que haviam apoiado o golpe, como Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek, marginalizados do poder, uniram-se a João Goulart em uma efêmera "Frente Ampla", em fins de 1966, ao compreender que os militares pretendiam eternizar-se no poder.

Poder Negro

A situação internacional era tensa e dinâmica. Após o fiasco dos regimes árabes conservadores, com destaque para o Egito, a Síria e a Jordânia, na Guerra dos Seis Dias contra Israel, de inícios de junho 1967, a guerrilha palestina assumia a luta anti-sionista em lugar das direções conservadoras desmoralizadas. Com a crise econômica chegando aos EUA, em boa parte devido aos gastos de guerra, que antes haviam apenas garantido lucros ao grande capital, o movimento pacifista estadunidense questionava duramente a intervenção no Vietnã e os valores do american way of life. O imperialismo yankee era golpeado no próprio ventre. Malcolm X fora assassinado em fevereiro de 1965, em Nova York, mas o black power fortalecia-se e os bairros negros ardiam sob o fogo do ódio da população humilhada. Os hispano-estadunidenses e as próprias populações ameríndias levantavam também a cabeça. No Vietnã, em 30 de janeiro 1968, morreriam os sonhos de vitória militar, com a ofensiva do Ano Ted, durante a qual os vietcongs atacaram mais de trinta cidades sul-vietnamitas e a própria embaixada norte americana, em Saigon. Entretanto, a classe operária estadunidense mantinha-se imóvel sob a hegemonia do grande capital.

De 31 de julho a 10 de agosto de 1967, produzia-se em Havana, Cuba, o primeiro encontro internacional da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS). Após teorizar sumária e superficialmente a experiência vivida na ilha, a direção cubana propunha claramente a generalização incondicional da luta guerrilheira rural. "Criar um, dois, mil Vietnãs". Ainda que de forma confusa e voluntarista, a OLAS rompia o monopólio político soviético, que defendia, na América Latina e através do mundo, a colaboração e subordinação do movimento popular às burguesias nacionais, apresentadas como progressistas. A presença de Carlos Marighella no encontro da OLAS, noticiada amplamente, ao ser conhecida no Brasil levou à expulsão do conhecido militante comunista do PCB. A captura e morte de Guevara, em 8 de outubro de 1967, na selva boliviana, foi vista com um duro percalço no longo caminho a ser trilhado, e não como resultado das inconseqüências da proposta de início da luta armada por pequenos grupos à margem das lutas e da consciência reais dos trabalhadores.

No Brasil, como na França, na Itália, na Alemanha Federal, no Japão, no México e em tantas outras regiões do mundo, 1968 abrir-se-ia sob o signo da resistência já explícita. A crise econômica de 1967 levara a que o movimento operário brasileiro, lutando contra o arrocho salarial, se recuperasse, minimamente, dos golpes sofridos. Em 16 de abril, mil e duzentos operários da siderúrgica Belgo-Mineira cruzavam os braços em Contagem, Minas Gerais. Logo, dezesseis mil trabalhadores encontravam-se em greve. O movimento encerrou-se no início do mês seguinte, com um abono salarial de 10%. No 1° de maio de 1968, outra importante vitória. O governador Abreu Sodré e sua comitiva, convidados por sindicalistas pelegos e do PCB para subir ao palanque da praça da Sé, foram vaiados, escorraçados e obrigados a refugiar-se na catedral paulistana. Os participantes do comício queimaram o palanque e partiram em passeata. No mês seguinte, eclodiram breves paralisações nas montadoras de São Bernardo.

Paris brûle-t-il?

Em maio, fortíssimos ventos europeus avivavam o braseiro nacional. A cidade de Paris, e a seguir a França, foi convulsionada pelo estudantado universitário enragé. Muito logo, o movimento operário iniciou dura e longa greve geral. O governo De Gaulle recuou, a ordem burguesa tremeu, falou-se em governo popular, antes que o Partido Comunista Francês canalizasse a mobilização da rua e as ocupações de fábrica para a luta institucional, enterrando-as sob um estrondoso fracasso eleitoral. O maio francês galvanizou o mundo, colocando quase nas sombras as lutas estudantis e operárias igualmente muito duras na Itália e na própria Alemanha Federal, avivada neste último país pelo atentado ao líder estudantil Rudi Dutschke, em 11 de abril de 1968. No mesmo mês era assassinado Martin Luther King, em Memphis, Tennessee. Na França, lutara-se contra o autoritarismo, contra a discriminação, contra os privilégios, pelo socialismo operário e democrático. Uma geração de líderes de vinte anos conquistava a juventude do mundo com seu radicalismo, inconformismo, desprendimento, coerência. Daniel Cohn-Bendit, Alain Krivine, Jacques Sauvageot etc.

A vitória cubana impusera o princípio de que a revolução se iniciaria pela ação exemplar de alguns guerrilheiros. Em 1967, o foquismo seria teorizado em "Revolução na revolução?", pelo jovem francês Regis Debrey, intelectual de rápida vocação guerrilheira de pouco sucesso. Se o foco não pudesse ser lançado no campo, seria iniciado na cidade. Desde janeiro de 1967, o ativismo dos Guardas Vermelhas contra a restauração capitalista, hoje plenamente vitoriosa, prestigiava o maoísmo, sobretudo entre os jovens católicos radicalizados. A ação das organizações trotskistas na França propagandeou o marxismo-revolucionário, o anti-stalinismo, o anti-burocrático, tornando a seguir Ernest Mandel figura pública mundial.

Fragilizado pela derrota de 1964, o PCB explodia em uma constelação de grupos radicalizados. Jovens chegados em boa parte da Juventude Universitária Católica (JUC) e da Juventude Operária Católica (JOC) aderiam à luta anti-imperialista e anti-capitalista. Então, o Brasil conhece uma multiplicidade de pequenas organizações revolucionárias (ALN, PCBR, AP, POLOP, VAR-Palmares, POC, Fração Bolchevique-Trotskista, MRT etc.) com algumas centenas de militantes, mais comumente de 17 a 25 anos, e abrangência em geral regional. A juventude universitária e secundarista abraçava a luta política, cultural e ideológica, com destemor, magnanimidade e impaciência. Saía às ruas pichando – literalmente, pois, na época, não havia o spray – "Mais verbas e menos canhões"; "Um, dois, mil Vietnãs", "O povo unido derruba a ditadura"; "Viva a aliança operário-estudantil". Conscientes que não há prática sem teoria, os jovens militantes liam sem cessar, sobretudo história, economia, sociologia — A revolução russa, de Trotsky; O diário na Bolívia, de Guevara; Os três Profetas, de Isaac Deutscher; A revolução brasileira, de Caio Prado Júnior; O livro vermelho, de Mao; os Poemas do Cárcere, de Ho Chi Minh.

Em 1968, por primeira vez no Brasil, a Civilização Brasileira publicava O capital, de Kark Marx. Militantes imberbes devoravam os grossos volumes, de fio a pavio, página por página, sem compreenderem muito. Estudavam-se e debatiam-se os mínimos detalhes da revolução russa, chinesa e cubana, ainda que fosse bem menor o interesse sobre a história do Brasil, sobretudo do período anterior a 1930, durante o qual as categorias da sociologia do capitalismo não eram plenamente funcionais. Pelo país afora, discutia-se e polemizava-se duramente. O futuro estava ao alcance da mão. Abraçavam-se as nuvens, em um assalto aos céus.

Mário Maestri é doutor em História pela UCL, Bélgica. É professor do curso e do programa de Pós-Graduação em História da UPF. Esteve preso, em 1968, quando estudante, e viveu, como refugiado, no Chile e na Bélgica, de 1971 a 1977. E-mail: maestri@via-rs.netEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email


Encontro com Milton Santos ou: O Mundo Global visto do lado de cá

A partir de uma entrevista feita com o intelectual Milton Santos em 4 de janeiro de 2001 é discutido o tema da globalização e seus efeitos nos países e cidades do planeta.


Créditos: Makingoff - Tuk

Gênero:
Documentário
Diretor: Silvio Tendler
Duração: 89 minutos
Ano de Lançamento: 2006
País de Origem: Brasil
Idioma do Áudio: Português
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: DivX
Vídeo Bitrate: 163 Kbps
Áudio Codec: LameMP3
Áudio Bitrate: 1280 Kbps
Resolução: 720X480
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 29.970 FPS
Tamanho: 855 Mb
Legendas: Sem Legenda

Ganhou o Candango de Melhor Filme - Júri Popular, no Festival de Brasília 2006.
O diretor Sílvio Tendler conheceu Milton Santos em 1995, enquanto dirigia Josué de Castro - Cidadão do Mundo.

- A entrevista gravada com Milton Santos foi a última audiovisual por ele concedida. Em junho do mesmo ano ele faleceu, devido a um câncer.

O festival de Brasília existe há 39 anos e sua principal marca é a da ousadia. Tem como amálgama a paixão do seu público que reage movido pela emoção sem preconceitos. Foi o caso do festival que se encerrou esta semana

Primeiro preconceito: documentário não é cinema. O júri oficial descartou os filmes documentários da premiação para melhor filme. O público que gosta de cinema votou em dois documentários (curta e longa metragem) para melhor filme.

Segundo preconceito: coisa séria enche e cansa. O júri popular votou em dois filmes "papo cabeça".

O curta de Anna Azevedo, O Homem-Livro, trata de um pedreiro que, numa modesta casa de subúrbio do Rio de Janeiro constrói uma biblioteca. A modéstia pára por aí. O pedreiro já tem um acervo de 42 mil livros que ocupam todos os espaços de sua casa. Ao vivo, durante uma entrevista a que assistia pela televisão, pede ao arquiteto Oscar Niemeyer que lhe ajude a construir uma biblioteca. O arquiteto aceita.

A força do personagem contagia a platéia que ovaciona o filme. No meio da torrente de obras tecnicamente bem realizadas desprovidas de conteúdo, o filme destaca-se, juntamente com outras três ou quatro honrosas exceções, por sua simplicidade e singeleza técnicas que evidenciam a força do personagem.

Melhor longa metragem, o público votou no meu "Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá". Difícil argumentar em causa própria mas, também não desperdiçaria o espaço e a ocasião para partilhar minhas emoções. Fiz, o que chamo, um panfleto necessário sobre a globalização. Nestes tempos de consumo voraz apresentei um diagnóstico do processo civilizatório que, segundo o escritor uruguaio Eduardo Galeano, um dos entrevistados no filme, "está consumindo o planeta". O filme discute ainda ética, justiça e democracia. Foi isso que o público quis. E votou.

Acredito no cinema político e no seu potencial transformador. Se não acreditasse não estaria hoje trabalhando com comunicação, não estaria agora varando a madrugada escrevendo este artigo... Não acredito na neutralidade da informação. Não sou objetivo, tenho objetivos com minha arte engajada. O mais nobre deles é de tentar ajudar a construir um mundo melhor, mais solidário. Por isso fiz Milton Santos, uma parceria com este filósofo e geógrafo que proporciona um outro olhar sobre o mundo e apresenta alternativas a este que aí está. Proponho através da ótica cinematográfica ajudar a construir uma outra ética para a humanidade. Ë ver para crer. O público de Brasília viu e aplaudiu. O cinema pode ser, como diz o professor Milton Santos, outra coisa.

Silvio Tendler é cineasta, autor dos filmes Os Anos JK - Uma Trajetória Política (1980); Jango (1984); Castro Alves - Retrato do Poeta (1990) e Glauber, o filme, labirinto do Brasil (2001).

Download abaixo:

Arquivo anexado Milton_Santos.avi.torrent ( 17.29KB )


RECESSÃO AMERICANA TERÁ GRAVE IMPACTO NA AMÉRICA LATINA, MAS NO BRASIL SERÁ MENOR

Luiz Carlos Azenha

O CEPR, Center for Economic and Policy Research, de Washington, é dedicado a estudar a relação política e econômica entre os Estados Unidos e a América Latina. Em estudo recém-divulgado, assinado por Mark Weisbrot, John Schmitt e Luis Sandoval, avalia o impacto econômico de uma recessão americana na região.

Vocês sabem que os Estados Unidos importam tudo. Do suco de laranja brasileiro a brinquedos eletrônicos chineses. O déficit comercial americano bateu em 5.8% do PIB em 2006. "Deficits dessa magnitude levaram a um grande crescimento da dívida externa dos Estados Unidos", dizem os autores, lembrando que ela chegou a U$ 2,9 trilhões no final de 2006, ou 19,7% do PIB.

Eles argumentam que a situação é insustentável. E acreditam que, a partir da redução do crescimento americano - ou mesmo de uma recessão - o déficit comercial americano será ajustado, caindo de 5.2% do PIB em 2007 para 3% em 2010.

"Alguns países são mais dependentes do mercado americano do que outros. Por exemplo, 77% das exportações do México vão para o mercado americano e essas exportações representaram cerca de 21% do PIB em 2007. Outros países onde as exportações para os Estados Unidos constituem uma parcela significativa do PIB incluem Honduras (37%), Nicarágua (26%), Canadá (23%) e vários outros países da América Central e do Caribe", diz o texto.

Já na América do Sul, as exportações para o mercado americano representam "apenas" 2.9% do PIB do Brasil e 1.6% do PIB da Argentina. "As exportações da Venezuela para os Estados Unidos representam 15% do PIB, mas 95% disso é petróleo. Nos cálculos que seguem consideramos que as exportações de petróleo, gás e produtos relacionados não cairão por causa da redução do crescimento econômico dos Estados Unidos. Isso reduz o efeito da crise americana no Canadá, Colômbia, Equador e Venezuela."

Os economistas projetaram dois cenários. Um considera um pequeno ajuste no déficit comercial dos Estados Unidos. Outro, um ajuste profundo.

A redução do PIB brasileiro por conta disso, segundo o estudo, ficaria entre 0.2 e 0.4% do PIB.

A do Canadá ficaria entre 2.8 e 4% do PIB.

A do México ficaria entre 2.9 e 4.1% do PIB.

A da Venezuela ficaria entre 0.1 e 0.2% do PIB.

A de Honduras ficaria entre 5.9 e 8.3% do PIB.

A da Bolívia entre 0.3 e 0.5%.

A da Colômbia entre 0.4 e 0.5%.

A do Equador entre 0.6 e 0.8%.

A do Chile entre 0.9 e 1.2%.

"Os países que vão sofrer mais como resultado da redução de importações americanas são aqueles com os quais os Estados Unidos fizeram tratados de 'livre comércio' em décadas recentes, inclusive o NAFTA entre EUA, Canadá e México, o Tratado de Livre Comércio da América Central com a República Dominicana e o CAFTA, que inclui Estados Unidos, Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Nicarágua, Honduras e a República Dominicana", diz o estudo.

Os autores não consideraram outros efeitos da redução da atividade econômica nos Estados Unidos, como nas remessas de dinheiro. Menos atividade econômica, menos emprego, queda das remessas.

As remessas representam 31% do PIB do Haiti, 17% na Nicarágua, 16% em El Salvador, 16% na Jamaica e 11% na Guatemala. Nem todo o dinheiro vem dos Estados Unidos, mas com certeza é a maior fatia.

A partir do estudo podemos tirar várias conclusões.

Existe justificativa para que países da região, especialmente os exportadores de energia, procurem outros mercados e façam parcerias com o Irã, a Rússia, a China e a Índia. Não há nada de revolucionário nisso, apesar do que dizem o governo Bush e a TV Globo. É uma questão de sobrevivência econômica.

Países como a Nicarágua, por exemplo, vão ficar mais dependentes de quem pode lhes facilitar a vida - Hugo Chávez e os bilhões que ele controla com o barril de petróleo a 100 dólares.

Vem aí uma crise econômica grave, com efeitos na segurança pública e na política, em países importantes como o México - onde já assistimos à militarização do governo para combater a imigração ilegal e os movimentos sociais. O México já desloca tropas para segurar, na fronteira com a Guatemala, o fluxo de imigrantes ilegais da América Central que estão a caminho dos Estados Unidos.

Teremos desespero econômico em países como Honduras, Guatemala e Haiti - os militares brasileiros que se preparem para uma explosão política de fundo social no Haiti. A Guatemala, de governo novo, está de olho em reforçar os laços econômicos especialmente com o Brasil.

Os imigrantes servirão de bode expiatório para problemas econômicos estruturais e dependência excessiva do mercado americano. Já acontece na Costa Rica, onde o "problema" são os imigrantes que chegam da Nicarágua; e na República Dominicana, onde a "culpa" é de quem vem do Haiti.

Podemos esperar maior imigração entre países da América Latina, com as consequências econômicas e políticas resultantes disso.

Como a soberania política está intimamente ligada à soberania econômica, assistiremos à ascensão relativa de países com recursos naturais - Venezuela, Equador, Bolívia, Colômbia e Brasil.

É uma oportunidade de ouro para que o Brasil faça avançar seus interesses econômicos e políticos até o México.

A paz verdadeira na América Latina, com a eliminação política - e não militar - das FARC faz todo sentido para a integração econômica, especialmente na América do Sul.

Quem seria o maior ganhador de um mercado continental e da integração física através de estradas, ferrovias, ligações aéreas e trocas de mercadorias?

Que tal o Brasil?

Qual é a maior dificuldade para que isso aconteça?

Seria a instabilidade política?

A quem interessa desmobilizar as FARC de forma pacífica, através de um acordo político?

A quem interessa evitar a partilha da Bolívia, através de uma saída diplomática?

A quem interessa mandar bala nas FARC?

A quem interessa partilhar a Bolívia?

Eu gostaria de ouvir as respostas. Mas sem a papagaiada do Ali Kamel e congêneres.


quinta-feira, 6 de março de 2008

Bezerra da Silva - Justiça Social (1987)

Album clássico de Bezerra. Destaque para São Murungar.

Créditos:SomBarato
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Faixas:
01 Fofoqueiro é a imagem do cão (Romildo - Édson Show - Wilsinho Saravá)
02 Partideiro indigesto (Adelzonilton - Nilo Dias - Crioulo Doido)
03 São murungar (Jayminho)
04 O Dr. está na sua capturação (Moacyr da Silva - Ubiracy de Oliveira)
05 Meu pai é general de umbanda (Regina do Bezerra - Jorge Garcia - Miltinho)
06 Justiça social (Duda - Marujo)
07 Na hora da dura (Beto Pernada - Simões)
08 Ilha Grande (J.Laureano)
09 A semente (Roxinho - Tião Miranda - Felipão - Walmir da Purificação)
10 As favelas que não exaltei (Pedro Butina - Wilson Medeiros - Bezerra da Silva)
11 Preconceito de cor (Naval - G.Martins)
12 Um comédia nas paradas (Pinga - Dunga do Corôa - Baez)



Aos doutrinados pela mídia corporativa: Perguntas que não querem calar




Quando você se assume como sendo de "esquerda", isto significa, ao menos no meu caso, que você luta pelo paz, pelo humanismo, pela justiça social, pelos direitos iguais, pelo fim da exploração do homem pelo homem, pelo respeito às leis (desde que justas e igualitárias), pelo fim do racismo, do preconceito, da homofobia, do chauvinismo machista, do fanatismo (religioso e ideológico), entre outras coisas.

E daí, obviamente, você vai se alinhar a outras pessoas que também lutam pela mesma coisa ou que, pelo menos, lutam pelo maior número possível de itens da sua lista particular. Nem sempre todos os esquerdistas lutam exatamente pelos mesmos ideais ou concordam sobre qual é a melhor forma de conquistá-los. Mas, em linhas gerais, existe um consenso de que quem é de esquerda é progressista e libertário.

A partir do momento que você assume publicamente essa posição, começa imediatamente a ser "questionado" pelos doutrinados pela mídia corporativa de direita, que busca o lucro acima de tudo e de todos e está alinhada sempre ao que há de mais reacionário, conservador e intolerante. Essas pessoas, em sua raiva cega e sem sentido, não percebem o quanto são incoerentes e obtusas.

Mas agora é a minha vez de questionar esse pessoal com algumas perguntas básicas. Vamos ver se algum deles se manifesta. Se bem que eu duvido muito, afinal, nunca encontrei alguém que tenha coragem de se assumir como sendo de direita...

1) Por que vocês vivem indignados com o regime socialista de Cuba e sua suposta "falta de liberdade", mas não dirigem sua raiva a regimes muito mais selvagens e totalitários que o cubano, como os da Arábia Saudita ou do Kuwait, por exemplo? Será que é porque a mídia que vocês consomem nunca contou que esses países são governados por verdadeiros "faraós" que dominam a população com mão de ferro e praticam os piores tipos de perseguição política? Será que é porque esses países são aliados de primeira linha dos EUA, cuja doutrina imperialista dita o que a mídia corporativa mundial deve ou não divulgar, condenar, denunciar ou esconder?

2) Por que vocês estrebucham em feridas quando lembram das execuções cometidas pelo regime cubano contra criminosos julgados e condenados juridicamente, mas não soltam um pio em relação às execuções cometidas até hoje nos EUA da mesma forma? Bush Jr., por exemplo, foi o rei das execuções quando governou o Texas. Ele pode e o Fidel não pode? Por que essa indignação seletiva?

3) Por que todos vocês chamam Hugo Chávez de "ditador" mesmo sabendo que ele foi ELEITO por voto democrático pela maioria absoluta de seu país por nada menos que três vezes, sendo aprovado inclusive em um plebiscito no meio do primeiro mandato? Será que é porque Chávez é contra o imperialismo dos EUA e luta pra proteger os interesses da nação dele, ao contrário do que faziam os governantes antes dele, que vendiam a preço de banana as reservas do país e deixavam a maioria da população na maior miséria?

4) Por que vocês não chamam de ditador Pervez Musharraf, que chegou ao poder no Paquistão depois de um golpe militar em 1999 e massacra e prende qualquer pessoa que ouse ir contra seu governo? Será que é porque Musharraf é favorável às políticas imperialistas dos EUA e deixa seu país ser usado como base pelo exército estadunidense?

5) Por que vocês têm ódio da FARC, que é uma guerrilha que realmente usa de práticas condenáveis como o sequestro, mas adoram o Álvaro Uribe, que era aliado de narcotraficantes como Pablo Escobar, tem a seu serviço milícias para-militares que assassinam sindicalistas e serve com capacho de Bush Jr. para usar a Colômbia como quintal de seus interesses nada nobres na região?

6) Por que vocês têm orgasmos toda vez que algum petista ou esquerdista é linchado publicamente pela mídia, sem qualquer prova ou direito de resposta, mas ficam revoltados quando o mesmo acontece com algum parente ou amigo de vocês?

7) Vocês protestam o tempo todo contra a suposta "falta de liberdade" em Cuba, mas se amanhã rolar um novo golpe militar no Brasil e Lula for derrubado, não vão vibrar quando derem a ordem de "prender e arrebentar" essa corja de petistas, lulistas e esquerdistas em geral? Em 1964 foi assim. Os mesmos que xingavam a revolução cubana e a dita falta de democracia deles, batiam palmas para os milicos na rua, para as prisões, torturas, perseguições políticas, assassinatos e desaparecimento dos corpos, não é mesmo?

8) Vocês dizem que em Cuba o povo não pode pegar um avião e ir para a Europa. Poder, eles podem, só que lá ninguém tem dinheiro para fazer isso. Já aqui no Brasil, terra da liberdade, qualquer um pode ir para a Europa a hora que quiser, certo? Ah, não pode? Por que será, hein?

9) Ok, confesso que eu não tenho medo de dizer que admiro pessoas como Che Guevara, Ghandi, Olga Benário, Fidel, Lennon, Chomsky, Ramonet, Lenin, Marighella, Lamarca, Mino Carta, Vladmir Herzog e muitas outras figuras que, sim, são controversas, mas ao menos lutaram e lutam por um mundo mais justo e igualitário. E vocês? Têm coragem mesmo de se alinhar a gente como delegado Fleury, coronel Ubiratan, Mussolini, Hitler, Jorge Bornhausen, ACM, Garrastazu Médici, Pinochet, Bush Jr., Geisel, Carlos Lacerda, Uribe e outros figurões da extrema-direita, que faziam e fazem seu serviço covarde e sujo em nome da manutenção dos privilégios de meia-dúzia de podres de rico?

Bom, eu poderia fazer muitas outras perguntas, mas vou parar por aqui.
Vamos ver se alguém se manifesta de forma coerente, sem apelar para os velhos clichés do anti-esquerdismo midiático de sempre...
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E ainda falam mal de CUBA....

Medidas imigratórias espanholas são incompatíveis, diz governo brasileiro.


Turistas relataram maus-tratos e afirmaram terem sido discriminados no país europeu. O Ministério das Relações Exteriores informou nesta quinta-feira que o governo está inconformado com a situação de brasileiros na Espanha. O secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, convocou o embaixador da Espanha em Brasília para manifestar que as medidas adotadas pelas autoridades imigratórias espanholas "são incompatíveis com o bom nível do relacionamento entre os dois países".

Trinta cidadãos do Brasil foram barrados no país europeu na manhã de ontem. Eles deram depoimentos sobre maus-tratos e afirmaram terem sido discriminados. Em nota, a pasta acrescentou que está examinando a adoção de medidas apropriadas, "tendo em conta, inclusive, o princípio da reciprocidade", isto é, barrar espanhóis no Brasil.

O chanceler Celso Amorim, que participa de reunião do Grupo dos 8, na República Dominicana, tomou conhecimento hoje do caso. Ele recebeu a notícia do incidente "com profundo desagrado". Há poucas semana, segundo o Itamaraty, o ministro teria manifestado ao chanceler espanhol a insatisfação do governo brasileiro com essas medidas restritivas.


Resolução da OEA diz que Colômbia violou soberania do Equador


Depois de 14 horas de conversações, o Conselho Permanente da OEA (Organização dos Estados Americanos) em Washington aprovou por aclamação nesta quinta-feira uma resolução sobre a crise provocada pela incursão militar da Colômbia. Mesmo sem condenar explicitamente o governo colombiano de Álvaro Uribe, o texto afirma que "o fato ocorrido constitui uma violação da soberania e da integridade territorial e de princípios do direito internacional".


A estimativa de 14 horas de negociação foi do embaixador do Panamá na OEA, Arístides Royo. Ao final, a nota contém tudo que o Equador solicitava, exceto a condenação formal da ação colombiana: o reconhecimento de que sua soberania foi violada; a criação de uma comissão da OEA para investigar a invasão; e a convocação de uma reunião ao nível de ministros de Relações Exteriores dos 34 países-membros, marcada para o dia 17, para ouvir o relatório da comissão e pronunciar-se sobre ele.


A ministra: "Nunca mais, sob nenhum pretexto"...


Mesmo a condenação ficou implícita na citação, por duas vezes, do trecho da Carta da OEA que afirma: "O território de um Estado é inviolável, não pode ser objeto de ocupação militar nem de outras medidas de força tomadas por outro Estado, direta ou indiretamente, qualquer que seja o motivo, mesmo de maneira temporária".


A chanceler equatoriana, María Isabel Salvador, que foi a Washington acompanhar a reunião, avaliou que neste episódio a OEA "superou uma prova histórica, já que ratificou a sua razão de ser". Para María Isabel, a o texto aprovado "garante que nunca mais, sob nenhum pretexto, um país atente contra a inviolabilidade do território de outro Estado".


"Sentimo-nos orgulhosos e seguros de conviver em um entorno continental onde as normas de direito regem as nossas relações", agregou a ministra.


Jorge Valero, que representa na OEA a Venezuela – país que se somou enfaticamente aos protestos do Equador – também se declarou satisfeito. "A Venezuela fica contente com este acordo, porque foi inspirado na paz, e a Venezuela aposta na paz", declarou. "O importante deste debate é que a OEA se declarou de alguma forma, não se manteve em silêncio ante a violação absolutamente clara, comprovada, da soberania e integridade territorial de um país soberano como é o Equador", disse Valero.


Uribe isolou-se no continente


O representante da Colômbia na OEA, Camilo Ospina, defendeu na reunião a tese de que "não somos agressores". No entanto, viu-se em dificuldades para advogar a causa do governo Álvaro Uribe, num fórum onde só contava com a simpatia de uma única delegação, a dos Estados Unidos. Ospina chegou a bater boca com o representante da Nicarágua – país com quem a Colômbia mantém um litígio de fronteiras –, a quem chamou de "oportunista" recebendo como resposta uma exigência de "respeito".


O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, classificou o documento como "uma mostra de paz e entendimento", mas registrou que a crise está longe de ter se encerrado. Insulza deve chegar nesta quinta-feira a Santo Domingo, para a cúpula do Grupo do Rio, onde são esperados os presidentes do Equador, Rafael Correa, e da Colômbia, Álvaro Uribe. Na sexta-feira viajará aos dois países, com outros quatro diplomatas que compõem a comissão encarregada de investigar os fatos.


A íntegra da resolução


Veja a íntegra da resolução votada no Conselho da OEA:


"O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos, levando em conta:


Que a Organização dos Estados Americanos OEA) tem plena competência para conhecer os fatos e acontecimentos que põem em risco a paz e segurança hemisféricas;


Que entre os propósitos da OEA constam, entre outros, o respeito à personalidade, soberania e independência dos Estados, assim como o fiel cumprimento das obrigações emanadas dos tratados e outras fontes de direito internacional;


Que o artigo 15 da Carta da Organização dos Estados Americanos estabelece que "o direito que o Estado possui de proteger e desenvolver sua existência não o autoriza a executar atos injustos contra outros Estados";


Que o artigo 19 da Carta prescreve que "nenhum Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir, direta ou indiretamente, e seja qual for o motivo, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro. O princípio acima exclui não somente a força armada, mas também outra forma de ingerência ou tendência atentatória à personalidade do Estado, dos elementos políticos, econômicos e culturais que o constituem";


Que o artigo 21 da Carta enfatiza que "o território de um Estado é inviolável, não pode ser objeto de ocupação militar nem de outras medidas de força tomadas por outro Estado, direta ou indiretamente, qualquer que seja o motivo, mesmo de maneira temporária";


Que a Carta da Organização dos Estados Americanos, em seu artigo 28, expressa que "toda agressão de um Estado contra a integridade ou inviolabilidade do território ou contra sua soberania ou a independência política de um Estado americano será considerada como um ato de agressão contra os demais Estados americanos";


Que a Carta da Organização dos Estados Americanos reafirma o princípio de que "as controvérsias de caráter internacional que surjam entre dois ou mais Estados americanos devem ser resolvidas por meio de procedimentos pacíficos"; e


Que "afiançar a paz e a segurança do continente" e "assegurar a solução pacífica de controvérsias que surjam entre os Estados-membros" figuram entre os propósitos essenciais da Carta da OEA.


Considerando:


Que na madrugada do sábado, 1º de março de 2008, forças militares e efetivos da polícia da Colômbia incursionaram em território do Equador, na província de Sucumbíos, sem consentimento expresso do governo do Equador, para realizar uma operação contra membros de um grupo irregular das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que se encontrava clandestinamente acampado no setor fronteiriço equatoriano;


Que o fato ocorrido constitui uma violação da soberania e da integridade territorial e de princípios do direito internacional;


Que sete fato produziu uma grave crise entre estes dois países, provocando a ruptura de relações entre ambos os Estados e uma grave tensão na região;


Que, de acordo com o artigo 84 da Carta, é função da OEA zelar pela manutenção de relações de amizade entre os Estados-membros, utilizando os procedimentos que esta mesma Carta assinala; e


Que este caso preenche os requisitos para a convocação de uma Reunião de Consulta dos Ministros de Relações Exteriores, à luz dos artigos 61 e seguintes da Carta da OEA.


Resolve:


1. Reafirmar o princípio de que o território de um Estado é inviolável, não pode ser objeto de ocupação militar nem de outras medidas de força tomadas por outro Estado, direta ou indiretamente, qualquer que seja o motivo, mesmo de maneira temporária.


2. Constituir uma comissão encabeçada pelo secretário-geral e integrada por quatro embaixadores designados por este, que visite ambos os países, percorrendo os lugares que as partes lhe indiquem, leve o informe correspondente à Reunião de Consulta dos Ministros de Relações Exteriores e proponha fórmulas de aproximação entre ambas as nações.


3. Convocar, ao amparo do disposto nos artigos 61, 62 e 63 da Carta da OEA, uma Reunião de Consulta dos Ministros de Relações Exteriores, para segunda-feira, 17 de março de 2008, na sede da OEA, com o fim de examinar os fatos e formular as recomendações pertinentes."


Da redação, www.vermelho.org.br





Kid Ory's Creole Jazz Band - The Legendary Crescent Recording Sessions - (1944 - 45)






01 creole song
02 get out of here
03 blues for jimmie noone
04 south
05 panama
06 under the bamboo tree
07 careless love
08 do what ory say
09 maryland, my maryland
10 down home rag
11 1919 rag
12 oh! didn't he ramble
13 ory's creole trombone
14 weary blues
15 maple leaf rag
16 original dixieland one-step
Créditos:LooloBlog


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Colômbia: Israel sul-americano?


por jpereira — BrasilDeFato

Contribuidores: Beto Almeida

Para os EUA, seria uma “ducha fria” um abandono da escalada militarista e uma opção negociada, conforme sustentam VEN, EQU, BRA, ARG, SUI, CUB e FRA
Para os EUA, seria uma “ducha fria” um abandono da escalada militarista e uma opção negociada, conforme sustentam VEN, EQU, BRA, ARG, SUI, CUB e FRA


Beto Almeida


Muitas conclusões podem ser extraídas a partir da violação da soberania nacional do Equador pelo Exército da Colômbia, interrompendo de modo sangrento os entendimentos com as Farcs para a liberação de outros detidos, entre eles a ex-candidata presidencial Ingrid Bettancourt. Como se trata de uma cidadã franco-colombiana e há especial interesse do governo da França em sua libertação, a ação cirúrgica militar colombiana – que matou 17 guerrilheiros das Farc, entre eles o Comandante Raul Reyes, conhecido por sua característica de exímio negociador político – também deve ser entendida como um alerta ao governo de Sarkosy para que não se meta em negociações que contrariem a linha estadunidense de militarização da região amazônica.


Também deve ser considerado que os mísseis estavam apontados para eliminar a perspectiva de abrir um caminho de negociação para este conflito, especialmente pela representatividade e interlocução que Raul Reyes possuía no mundo político internacional. Se compararmos com o que ocorreu na África do Sul, com Mandela saindo da prisão e conduzindo o movimento que liderava, o CNA, da luta armada para a vitória eleitoral; ou no da OLP, em que Arafat saiu do exílio e da semi-clandestinidade para eleger-se como Autoridade Nacional Palestina (ainda que a questão palestina não tenha sido plenamente resolvida), revela-se que há uma pressão estadunidense sobre o governo de Uribe para não transigir na linha militarista. Para os EUA, que recentemente aprovaram o novo Orçamento nacional destinando quase metade dos recursos (1,5 trilhão de dólares) para a indústria militar, seria uma “ducha fria” qualquer abandono da escalada militarista e uma opção negociada, conforme vem sendo sustentada por governos como da Venezuela, Equador, Brasil, Argentina, Suíça, Cuba e França.


Ou seja, a ação procura sepultar a linha de distensão política, que é uma das bandeiras carregadas na caravana da Integração Latino-americana. A indústria bélica aplaude, calcula seus lucros e a humanidade, seus cadáveres. Para uma economia estadunidense em crise, um dólar em decadência acelerada e o barril do petróleo superando 104 dólares, nada melhor para o império que encontrar outro pretexto para novos desembarque de tropas, sobretudo numa Amazônia rica em petróleo, nióbio,silício, urânio, biodiversidade, água, ouro, bauxita etc.


Um maior envolvimento militar estadunidense, expandindo o Plano Colômbia, revela o realismo e a objetividade que cercam muitos dos documentos estratégicos dos militares brasileiros, nos quais realçam a vulnerabilidade da Amazônia Brasileira, destacam a perigosa obsolescência dos equipamentos da Defesa Brasileira e, de quebra, lembram que todos os orçamentos militares de todos os países do mundo, somados, não alcançam o orçamento do Pentágono.


Aliás, muitos dos políticos brasileiros que foram responsáveis pela destruição neoliberal dos equipamentos de defesa, como parte da demolição do estado, agora querem ver no presidente Chávez o protagonista de uma suposta “carreira armamentista”, quando os números apontam a Colômbia e o Chile como os dois países mais bem armados da América do Sul. Destaque-se afirmação das autoridades da Marinha do Brasil de que as plataformas marítimas da Petrobrás estão vulneráveis a ataques terroristas e do Comando da Aeronáutica revelando que 63 por de suas aeronaves não voam.


A visita de uma alta patente militar do Comando Sul dos EUA à Bogotá às vésperas da operação militar em território equatoriano, bem como a existência de uma base militar estadunidense no solo da Colômbia a cerca de 900 km do ataque – de onde pode ter partido a operação – também chamam poderosamente a atenção pelas características da ação. Uma operação muito semelhante àquelas utilizadas por israelenses para a eliminação de lideranças palestinas, provavelmente contando também com o uso de satélites, serve de advertência para uma linha de acontecimentos encadeados que apontam para a transformação da Colômbia num Israel da América do Sul, travando a integração econômico-social, a cooperação regional, e desviando energia político-social e recursos humanos do combate à miséria e ao subdesenvolvimento para a esfera militar. Onde estão situadas as principais indústrias militares no mundo?


Beto Almeida é jornalista e membro do Conselho Editorial do jornal Brasil de Fato