quinta-feira, 24 de abril de 2008

Stroszek

Bruno Stroszek é o personagem principal deste filme, realizado por Werner Herzog em 1977. Bruno sofre de atrasos psico-intelectuais e é liberto de uma cadeia, onde tinha sido encarcerado devido às zaragatas que frequentemente arranjava, dado o seu estado mental. Nesse momento conhece Eva, uma prostituta, por quem imediatamente se apaixona, e Scheitz um velho delirante e castiço, seu vizinho. Bruno é, de certa forma, uma personagem carente e sensível. É músico nas horas vagas e toca deambolando pelas ruas. Não tem noção das coisas mais elementares, é nayf e deixa-se enganar com uma facilidade tremenda por quem quer que seja. Bruno, Scheitz e Eva viajam para os Estados Unidos em busca do sonho Americano e não tardam a encontrar uma realidade bem diferente da que esperavam. Encontram a América real, fria, desumanizada. Fonte


Gênero: Drama
Diretor: Werner Herzog
Duração: 115 minutos
Ano de Lançamento: 1977
País de Origem: Alemanha
Idioma do Áudio: Alemão / Inglês
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0075276

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 811 Kbps
Áudio Codec: Divx (wma)
Áudio Bitrate: 128
Resolução: 640x384
Formato de Tela: Widescreen
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 697 Mb
Legendas: Em anexo


Bruno S. (Der Bruno Stroszek)
Eva Mattes (Eva)
Clemens Scheitz (Scheitz)
Wilhelm von Homburg (Cafetão)
Burkhard Driest (Cafetão)
Clayton Szalpinski (Mecânico)
Ely Rodriguez (Mecânico)
Alfred Edel (Dretor da Prisão)
Scott McKain (Scott)
Mais detalhes

- O filme foi escrito em quatro dias e especificamente para o ator Bruno S., sendo filmado em Berlim e em duas cidades no estado norte-americano de Wisconsin.
- Muitos dos personagens, com exceção dos três principais: Bruno Stroszek (Bruno S.), Eva (Eva Mattes) e Scheitz (Clemens Scheitz), foram encenados por não-atores.
- Foi o último filme que Ian Curtis, vocalista do Joy Division, viu antes de se suicidar

Vejo Stroszek como um filme, de certa maneira, neo-realista. Com efeito, Herzog capta a realidade no seu estado mais miserável e crú. Bruno Stroszek está para Herzog como Edmund para Rosselini ou Antonio para De Sica. Este filme é uma crítica ao mundo dos números, ao mundo em que o dinheiro se torna necessário e o bom coração um peso. Uma crítica à América do sonho sonhado, que a realidade destrói e torna pretérito. Estamos habituados a ver os grandes realizadores fazerem enormes exigências aos actores. Veja-se, a título exemplificativo, Polanski e Adrien Brody, ou Von Trier e Bjork. Pega-se num argumento com o cunho pessoal do "auteur" e o actor tem que se enquadrar na personagem previamente delineada. Aliás, é isso que vulgarmente distingue um actor de um amador, a capacidade de ser muitos eu's, de representar, de fingir, de ser o que não se é. Fonte

não esqueça de fazer o registro no makingoff antes de baixar o filme, é gratuito.

Download abaixo:

Arquivo anexado Stroszek.1977.Werner.Herzog.DVDRip.XviD.ENG.freakyflicks.torrent filme
Arquivo anexado Stroszek.1977.Werner.Herzog.DVDRip.XviD.ENG.freakyflicks.sub.rar legendas


Festa de título no Gigante

Torcida enlouquece com classificação histórica do Inter
Agência
Andrezinho e Fernandão comemoram gol do Internacional sobre o Paraná

Ainda faltam seis jogos para o Inter conquistar a Copa do Brasil e garantir o retorno à Libertadores em 2009, ano de seu centenário, mas o clima nesta quarta-feira, entre os torcedores, foi de campeão. Orgulhosa pela vitória heróica de 5 a 1 sobre o Paraná, os colorados fizeram uma festa impressionante.

Assim que o árbitro encerrou a partida, o Beira-Rio explodiu em euforia. O técnico Abel Braga, emocionado, foi ao vestiário com as mãos para cima, aplaudindo a galera.

- Essa vitória tem toda a participação deles - afirma.

Fernandão, no meio do gramado, chamou os jogadores. Juntos, eles foram até a mureta que separa o campo da torcida para fazer um agradecimento coletivo à torcida, que não parou de cantar um único segundo.

- Resgatamos aqueles grandes momentos que havíamos vivido. E vamos viver muitos outros ainda - comenta o capitão.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A vitória de Lugo e seus reflexos no Brasil



Altamiro Borges - adital


Num clima de euforia, dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas centrais de Assunção na noite deste domingo (20) para comemorar o anúncio oficial, divulgado pelo Tribunal Superior de Justiça Eleitoral (TSJE), da vitória do ex-bispo católico Fernando Lugo no pleito presidencial do Paraguai. A festa popular, carregada de esperança, marca uma virada histórica neste sofrido país, encerrando seis décadas de domínio do direitista Partido Colorado, e confirma a inédita guinada à esquerda do tabuleiro político na América Latina - tão temida pelo imperialismo estadunidense e pelas forças oligárquicas da região e incompreendida por alguns setores esquerdistas sectários.

Segundo várias agências de notícias, a multidão em êxtase ocupou a frente do comitê da Aliança Patriótica para a Mudança quando a apuração apontou a ampliação da vantagem de Lugo sobre a colorada Blanca Ovelar. Ninguém parecia acreditar no resultado, já que pairavam dúvidas sobre o risco de fraudes eleitorais. Cauteloso, o novo presidente anunciou: "Quando a Justiça ratificar o resultado, estaremos abertos para construir a integração real do continente". O dia do candidato foi emblemático do seu perfil progressista, de adepto da Teologia da Libertação. Ele foi votar, às 7h12, de braços dados com a argentina Hebe de Bonafini, legendária líder das Mães da Praça de Maio. Depois, ao lado do amigo brasileiro Frei Betto, Lugo rezou na paróquia São João Batista.

Intrigas da mídia venal

A vitória do "bispo dos pobres", como ele é chamado por seu trabalho junto aos sem-terra de San Pedro, uma das regiões mais miseráveis do país, enche de esperanças o povo paraguaio, reforça o processo de integração progressista do continente e desperta preocupação no Brasil. Envenenado pela mídia hegemônica, há quem tema a eclosão de conflitos com a nação vizinha em função da energia hidrelétrica de Itaipu e da presença de milhares de fazendeiros brasileiros na agricultura paraguaia. De fato, estes temas foram centrais na campanha eleitoral, com todos os candidatos - e não apenas Lugo - defendendo mudanças, principalmente nas cláusulas do Tratado de Itaipu.

Mas o que realmente pode mudar nas relações entre Brasil e Paraguai? Quais serão os reflexos da histórica vitória de Fernando Lugo? Para entender melhor o que está em jogo, sem se contaminar com as intrigas da mídia venal, torna-se indispensável a leitura do livro recém-lançado "O direito do Paraguai à soberania", organizado por Gustavo Codas (Editora Expressão Popular). Ele reúne três artigos que ajudam a explicar o surpreendente apoio ao teólogo da libertação, as propostas da sua organização eleitoral, batizada em guarani de Tekojoja (que significa "viver entre iguais") e as reais polêmicas em torno do inflamável Tratado de Itaipu - o foco principal da obra.

Dívidas do capitalismo brasileiro

Já na abertura, o paraguaio Gustavo Codas, que se exilou no Brasil durante a ditadura de Alfredo Strossner e milita na CUT, explícita que a vitória de Lugo deve, de fato, afetar a agenda externa brasileira. "O país sofre uma pesada herança da qual o Brasil é, em grande parte, responsável. O Paraguai foi castigado, primeiro, pelas conseqüências duradouras da guerra de extermínio que Brasil, Argentina e Uruguai lhe fizeram nos anos de 1864-1870, e, na segunda metade do século 20, pelo fortalecimento de um modelo capitalista mafioso vinculado à burguesia brasileira em todo tipo de negócios ilícitos - narcotráfico, lavagem de dinheiro, contrabando, etc.".

Para ele, três temas deverão pautar uma nova relação, mais justa e soberana, entre os dois países. "Primeiro, a renegociação do Tratado de Itaipu. Segundo, os resultados da invasão de boa parte do território oriental paraguaio por latifundiários brasileiros produtores de soja (iniciado nos anos 70). Terceiro, a integração ao Mercosul com uma verdadeira compensação das assimetrias deste pequeno e pobre país em relação aos dois maiores sócios deste projeto - Brasil e Argentina". O livro, como explica Codas, tem como objetivo reforçar na esquerda brasileira "o compromisso com um internacionalismo que, para além dos discursos de solidariedade, deve ser transformar em passos concretos reparando as dívidas deixadas pelo capitalismo brasileiro no Paraguai".

O programa do Movimento Tekojoja

Neste rumo, os três textos dão importante contribuição ao debate. O primeiro, de Richard Gott, membro honorário do Instituto de Estudo das Américas da Universidade de Londres, apresenta detalhada biografia do "bispo vermelho do Paraguai". O segundo traz o resumo do programa do Movimento Popular Tekojoja, que está centrado na luta pela "revolução agrária", na estratégica "soberania energética", na "planificação pró-ativa do desenvolvimento nacional", no "trabalho produtivo e digno para todos", na "universalização da seguridade social", na "integração regional solidária", entre outros itens. É um programa reformista, desenvolvimentista, mas que se inspira nos "princípios libertários que alentaram a luta patriótica do nosso povo e nos ideais socialistas".

O texto mais longo, instigante e de interesse imediato para os brasileiros é do engenheiro Ricardo Canese, um dos principais assessores do novo presidente. Ele trata da "recuperação da soberania hidrelétrica do Paraguai". Com inúmeros dados técnicos, o autor argumenta que a capacidade de produção de energia do seu país é o único fator que pode destravar o desenvolvimento e garantir maior justiça social. Para ele, a vitória de Lugo reascenderá este debate estratégico, abandonado pela oligarquia paraguaia que "trocou de forma perversa a soberania hidrelétrica por concessões e apoios políticos fornecidos pelas elites dominantes dos nossos vizinhos mais poderosos", a exemplo do que ocorreu com o canal da Panamá e com as reservas de gás e petróleo da Bolívia.

Os tratados de Itaipu e Yacyretá

Apesar de posições estranhas, como a que renega as experiências socialistas, a que reforça a tese do subimperialismo - "sofremos mais a conseqüência de depender das submetrópoles (Brasília e Buenos Aires) que do próprio império" - e a que afirma que não há alternativas ao capitalismo, Canese apresenta dados sólidos sobre o "roubo" da energia hidrelétrica do Paraguai. Revela que os preços fixados pelo Tratado de Itaipu estão bem abaixo do mercado, que os juros da obra são escorchantes e eternizam a dívida externa e que as regras de comercialização são draconianas. O Paraguai consome apenas 12% da energia gerada em Itaipu, mas é obrigado a vender o restante para o Brasil. Acordo similar foi feito com a Argentina na exploração da energia de Yacyretá,

Canese estima que o país perca US$ 3,645 bilhões ao ano em decorrência destes tratados lesivos. Para ele, a renegociação dos acordos com o Brasil e a Argentina é o único caminho para a nação poder alavancar o desenvolvimento e investir em programas sociais que superem a brutal miséria do país. "O Paraguai é um país hidrelétrico. É o único país da região com genuínos excedentes... Com um PIB da ordem de US$ 7,5 bilhões, possui uma riqueza hidrelétrica que vale 50% do seu PIB. Consequentemente, não há nada mais importante do que recuperar a soberania sobre essa valiosa riqueza natural". As propostas que formula, que serviram de base ao programa de Lugo, não pregam o rompimento dos acordos - como insinua a mídia. Mas procuram garantir preços justos, redução dos juros e novas regras. Defendem nada mais do que a soberania do Paraguai.


[Autor livro recém-lançado "Sindicalismo, resistência e alternativas" (Editora Anita Garibaldi)].


* Jornalista, editor da revista Debate Sindical

terça-feira, 22 de abril de 2008

Zé Renato - Luz e Mistério (1984)




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Uribe e os direitos humanos


Laerte Braga


Toda a pressão do líder terrorista George Bush não conseguiu ainda vencer a resistência dos senadores norte-americanos na tentativa de aprovar o projeto que estabelece relações de livre comércio com a nova colônia dos EUA na América do Sul, a Colômbia.



Um documento com assinatura de 62 senadores exige explicações sobre os assassinatos de dirigentes da marcha de 600 mil colombianos contra Uribe, em Bogotá e nas principais cidades da Colômbia e que, segundo o narcotraficante designado governador geral foi organizada pelas FARCs.



Esse tipo de notícia não aparece por aqui, pois a GLOBO decretou guerra à Venezuela e o general William Bonner deve considerar que o mundo de Homer Simpson que se ajoelha diariamente diante do altar/tevê para vê-lo descer dos céus com sua espada/notícias de arcanjo da mentira, não deve saber desses fatos ímpios.



Em 12 de abril Yolanda Pulécio, mãe da ex-senadora Ingrid Betancourt, em intervenção no encontro de intelectuais em Caracas, agradeceu ao presidente Chávez “por todo lo que ha hecho para lograr la liberación de los retenidos. Lamentándolo mucho, mi hija Ingrid no ha podido ser liberada, pero me siento confiada con el trabajo que usted realiza para conseguir esa liberación”.



A julgar pelo noticiário divulgado pelo governo terrorista do tráfico em Bogotá, a essa altura do campeonato Ingrid Betancourt deveria estar morta. Leishmaniose, greve de fome, hepatite B e malária, é muita teimosia em viver.



O que o general Bonner não revela em seu comunicado diário que chama de JORNAL NACIONAL é que a senadora Piedad Córdoba, principal adversária do narcotráfico na Colômbia em criticas ao presidente Uribe mostrou o desejo dos colombianos de viver em paz, com negociações, o fim da guerra civil e que uma eventual candidatura de Ingrid Betancourt colocaria em xeque os “negócios” de Uribe e sua reeleição.



Arrancada a fórceps, num terceiro mandato, no golpe controlado por Washington.



Fujimori está preso no Peru? Habemus Fujimori na Colômbia.



O governador geral da província colombiana na América do Sul Álvaro Uribe através dos esquadrões da morte já eliminou seis organizadores da marcha pela paz e um sem número de prisões indiscriminadas lotam as cadeias de Bogotá e Medelin, na tentativa de afastar qualquer obstáculo ao controle efetivo do país tanto pelos Estados Unidos, como pelo tráfico.



A fala de um general brasileiro que o reconhecimento de nações indígenas coloca a soberania da Amazônia em risco, mostra mais uma vez, o absoluto desconhecimento dos militares brasileiros, mesmo aqueles que se pretendem nacionalistas, da realidade que nos cerca. A Amazônia está sob controle do SIVAM (Sistema de Monitoramento Aéreo) realizado por militares norte-americanos com subalternos brasileiros.



A região é usada para vôos de abastecimento militar para a Colômbia, levantamento e mapeamento das riquezas minerais através de informações de satélites e um antigo líder do governo FHC, atualmente ministro de Lula, afirma que as FARCs serão recebidas a bala. Já os americanos que controlam a região não. Ou pelo menos outro tipo de bala. Falo de Nelson Jobim, sobrevivente por profissão.



Registre-se que o SIVAM foi iniciado também no governo FHC e o general nacionalista falou na FIESP, centro dos interesses internacionais sobre o Brasil. É o nacionalismo de cabeça para baixo.



Como em 1964, Colocaram na cabeça dos militares que seriam eles os responsáveis pela democracia, a ordem, a transformação do Brasil em grande potência e usaram-nos como polícia cruel e sanguinária de uma ditadura brutal e violenta nascida em Washington.



Não são as terras indígenas que irão transformar o Brasil em colônia, mas as políticas equivocadas de PAC. Os entendimentos supostamente nacionalistas de generais monitorados por uma ideologia estranha aos interesses nacionais, empresas como a VALE, a ARACRUZ e o arremate, em 2010 com a eventual eleição de mais um funcionário qualificado dos EUA, o que finge ser governador de São Paulo, José Serra.



Quando acordamos estaremos todos no tronco.



A mãe de Ingrid Betancourt em sua singeleza de mãe percebeu tudo isso.

> Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

Ilustração: Táia Rocha

O Homem Dos Olhos De Vidro
Num grande círculo que recebia o sol.

(para Santin)

Foi lá na Fazenda Klabin, em 2004, que me lembro de tê-lo visto a primeira vez: a ocupação acontecera sem incidentes, e olha que era uma baita ocupação - 500 famílias e o maior latifúndio do Estado de Santa Catarina, totalmente devastado dos pinheiros que tivera um dia.
Fôramos para lá sem saber para aonde iríamos, como é de costume; soubéramos que iríamos meia hora antes de sair de casa, e aí existe aquele ritual de botar roupas escuras para ficar-se menos visível caso a polícia ou as milícias do patrão venham a atirar na gente, botar na bolsa uma garrafa d’água e algo de comer, pois nunca se sabe até onde se vai e quando se volta, e depois há que se esperar em algum ponto combinado, para que venham instruções para o telefone celular de alguém, e então se segue até o ponto seguinte e se aguarda novas instruções, e assim a noite segue. Quase já na área que continuava desconhecida, silenciosos e imóveis na escuridão de um pátio, víamos intensa movimentação de carros de polícia: alguém desconfiara de alguma coisa, alguém dera algum alerta, e então os cuidados tinham que ser redobrados para se evitar incidentes. No comando de toda a operação, o Homem dos Olhos de Vidro, que eu ainda não conhecia, mas que conhecia muito bem as rotas e os perigos, e que tinha tudo pronto para que não houvesse erros. E entre duas passagens dos carros de polícia, saímos quase que pé ante pé, e nos incorporamos, não muito distante, numa estradinha lateral, às quase 500 famílias que já estavam indo, pois havia famílias para a frente e famílias para trás, e a nós coube seguir uma kombi lotada de criancinhas que eram como libélulas batendo as asas na sua algazarra, e éramos seguidos por um caminhãozão carregando uma lona na sua carroceria – numa freada que houve, numa parada que não se sabia para que (mas decerto prevista pelo homem que tinha aqueles olhos), aquela lona se mexeu e de debaixo dela espiaram dezenas, muitas dezenas de pares de olhos de homens que estavam dispostos a qualquer coisa para defender aquelas criancinhas e a terra que decerto viria.

Meio magicamente, a polícia não nos viu, e atravessamos a BR[1] como seres invisíveis, e entramos naquele latifúndio totalmente abandonado, creio que pelas quatro horas da manhã. Já era grande o número de pessoas que lá estava; como num carreiro de formigas, não paravam de chegar outras, de todas as formas possíveis, em todos os veículos possíveis, e acho que não teve quem não engoliu um soluço ao ver o caminhão de carregar gado, de repente, entrar pelo caminho que vinha da rodovia, e dele saltarem as muitas dezenas de homens dispostos a tudo para garantir o pedacinho de chão para a sua família, neste país de tantas terras abandonadas.

E nos dispersamos a olhar aqui e ali, a ajudar aqui e ali, e fazia frio nos campos de alta altitude, e então, em algum momento, o sol começou a nascer por detrás do leste, e então houve a grande reunião de todos os que ali estavam, um grande círculo que como que recebia o sol, e numa lombadinha do campo devastado estava o Homem dos Olhos de Vidro, e foi ali que o conheci. Muita outra gente estava ali, gente de muitos lados, os que vieram para ficar e os que vieram para apoiar, e neste se incluíam os representantes de bispos, e de autoridades municipais daquela cidade que morria pelo abandono da fazenda, e tanta gente, tanta gente unida por seríssimos sonhos que o pessoal que acredita na Veja[2] dificilmente um dia conseguirá entender, e uma coisa a se pensar neste momento é se há mais gente que crê na Veja ou mais gente que crê na idéia de que um mundo melhor é possível. Como não há estatísticas, fica difícil definir tal coisa, mas eu cá, depois de muito andar por aí, tenho minhas dúvidas sobre onde está a maioria...

Voltemos ao Homem dos Olhos de Vidro, no entanto. Seus antepassados tinham sido gerados numa Europa de muita gente de olhos claros, a mesma Europa que gerara os Sem-Terra que haviam chegado à América sob o nome de Imigrantes – era de lá que os olhos transparentes daquele homem tinham vindo, e naquela manhã em que o sol nascia sobre o campo que comportaria muito mais que as 500 famílias que estavam ali, devia fazer muitas noites que ele não dormia, pois seus olhos de vidro estavam vermelhos de tanta falta de sono – não fora nada fácil, com certeza, organizar para que aquela imensa ocupação do imenso latifúndio arrasado acontecesse sem nenhum incidente, mas agora a ocupação estava feita e era o momento ritualístico da posse da terra, e deu-se voz a cada um dos que estavam ali, a cada liderança e a cada representação, e o Homem dos Olhos de Vidro Vermelho a tudo acompanhou e regeu fitando diretamente o sol que subia no céu e que devia provocar muita dor naqueles olhos tão claros – e eu admirei visceralmente a força daquele homem, a força que se expressava na transparência vermelha daqueles olhos que pareciam cristal.

Nunca mais esqueci a força daquela homem, a força que se expressava tão firmemente naquele nascer do sol, na transparência vermelha dos seus olhos de vidro. Desde então, eu o tenho encontrado diversas vezes por aí, sempre nos melhores momentos. Descobri, no entanto, que há outros homens, e também outras mulheres, com olhos de outras cores, com a mesma capacidade de liderança e de organização, e a minha esperança cresceu. Há muita coisa para acontecer, por aí tudo. Um mundo melhor é possível, sim, e é isto que deixa apavorado de medo o pessoal que acredita na Veja.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Brasil na rota da turbulência





Fernando Silva

A elevação da taxa de juros anunciada pelo Banco Central e a explosão dos preços dos alimentos e do petróleo são acontecimentos que podem colocar o Brasil mais rapidamente próximo de um cenário de turbulência econômica e social.

O aumento dos juros deve-se à intocável ortodoxia neoliberal que rege a política econômica do governo Lula. Ortodoxia que não aceita que qualquer fundamento ameace a "estabilidade" da remuneração ao capital financeiro. Cresceu a economia e cresceu o consumo? Pode isso gerar um aumento da inflação que fure as metas estabelecidas pelo Banco Central para atender aos ditames do Consenso de Washington? Na dúvida, aumentam-se os juros e estrangula-se ainda mais o Orçamento para gastos sociais.

O efeito imediato é um aumento de R$ 295 milhões de reais da dívida pública. Nem pensar em mexer nas metas de superávit primário — a porcentagem da riqueza nacional reservada pelos governantes para pagar os juros da dívida, que bateu R$ 109 bilhões entre fevereiro 2007 e fevereiro de 2008. Esse dinheiro é diretamente "extorquido" do Orçamento da União. Do ponto de vista da economia real, segundo admite o próprio presidente do Ipea, Marcio Pochmann, o aumento dos juros já terá impactos visíveis no segundo semestre deste ano.

A bolha das commodities

A explosão dos preços dos alimentos tem na sua raiz o aumento da demanda (procura) mundial por alimentos, insumos e energia após um ciclo de cinco anos de crescimento contínuo, especialmente em países superpopulosos como China e Índia. Mas é cada vez mais relevante a percepção de que estamos em meio a uma "bolha" (supervalorização) no mercado das commodities (os produtos minerais, pecuários e agrícolas com preços mundialmente negociados). Esta nova bolha ainda está em fase de expansão. A alta do petróleo, do ouro e dos alimentos atrai novas montanhas de recursos de investidores, ávidos por lucros rápidos após o desastre dos títulos imobiliários norte-americanos.

É por esse caminho que o Brasil pode estar entrando ainda mais abruptamente num furacão. A opção do governo por colocar o país na vanguarda da exportação de commodities e na produção de agro-combustíveis pode contribuir decisivamente para uma maior dependência e vulnerabilidade do país diante da explosão dos preços dos produtos agrícolas.

O Brasil já é o maior importador mundial de trigo. Recomenda-se a leitura do artigo de Ariovaldo Umbelino de Oliveira, publicado na Folha de S. Paulo de 17 de abril, com novos dados da redução da área de plantio de alimentos no país, em função da agressiva expansão da indústria do etanol.

Pode, portanto, atender pelo nome de crise alimentar a nova tempestade mundial que se avizinha e que, ainda que precedida de uma inquietante calmaria no Brasil, já tem explosões evidentes pelo mundo, como nos recentes protestos massivos no Haiti da população faminta e espoliada, vítima agora dessa alta incontrolável dos alimentos. Protestos, aliás, tratados a bala pelas tropas da ONU, comandadas e constituídas principalmente pelas forças armadas desse autêntico governo brasileiro do agronegócio.

Escolhas conscientes

Esta situação não é produto apenas do cenário internacional. É um insulto à inteligência do cidadão que o presidente Lula venha a público enganar a população criticando o aumento dos juros, e que parceiros seus de governo, como o PCdoB, façam programas de TV para dizer que o governo Lula melhorou o país e que o problema é a "turma que quer aumentar os juros".

Quem nomeia presidente do Banco Central é o presidente da República. Ou seja, quem entregou o controle da economia para o mercado financeiro foi o governo Lula. Quem optou por não tocar nos fundamentos de uma política neoliberal no país, em manter o superávit primário, o endividamento público, foi o governo Lula. Ninguém mais.

E também é o caso da opção pelo agronegócio, em completo detrimento da política de reforma agrária e da preservação da segurança alimentar do país.

Jornada de lutas e de denúncia

As jornadas de luta do MST em abril, em particular as ações desta semana, tiveram o grande mérito de colocar ainda mais holofotes sobre esse problema.

Enquanto BNDES, Petrobras e Banco do Brasil dão empréstimos e investimentos polpudos para o negócio do etanol, o governo federal rompe, ano após ano, um simples acordo de construir seis mil casas para trabalhadores sem-terra assentados. Este fato simboliza a opção deste governo pelo estrangulamento da reforma agrária em troca do agronegócio capitalista, cada vez mais concentrador de propriedade e de terra.

Vai estar na agenda dos movimentos sociais da classe trabalhadora e da esquerda socialista a denúncia e a constituição de formas de luta unitárias, para começarmos a nos preparar para enfrentar essa turbulência que está a caminho e que pode penalizar sobremaneira os mais pobres.

Fernando Silva, jornalista, membro do conselho editorial da revista Debate Socialista e membro do Diretório Nacional do PSOL.

Hermeto e Sivuca 5 - Tico-Tico no Fubá

Jackie McLean - Hipnosis (1967) with Grachan Moncur

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Jackie McLean - Hipnosis (1967) with Grachan Moncur
MP3 / 192kbps / RS.com: 57mb


Personagens:
Grachan Moncur III (tb)
Jackie McLean (as)
Lamont Johnson (p)
Scott Holt (b)
Billy Higgins (d)

Gravado no Rudy Van gelder Studio, em Englewwood, Nova Jersey, em 03 de fevereiro de 1967.

Faixas:
1. Hipnosis
2. Slow Poke
3. The Breakout
4. Back Home
5. The Reason Why

PARAGUAI: VITÓRIA ESMAGADORA DO EX-BISPO FERNANDO LUGO LEVA MILHARES A CELEBRAR EM ASSUNÇÃO

Luiz Carlos Azenha

SÃO PAULO - A candidata do Partido Colorado, Blanca Ovelar, acaba de admitir a derrota em Assunção. Quando ela discursava, a Justiça Eleitoral do país vizinho já tinha contado os votos de mais de 80% das seções eleitorais. O ex-bispo Fernando Lugo, da Aliança Patriótica para a Mudança, tinha vantagem de cerca de 10%, quando as pesquisas de boca-de-urna indicavam que Lugo venceria por margem de 5%.

"O resultado é irreversível", afirmou Ovelar ao reconhecer a derrota. A vitória do ex-bispo foi mais ampla do que a mais otimista das previsões: Lugo obteve cerca de 40% dos votos, contra 30% do Partido Colorado. De acordo com a candidata, o partido terá a maior bancada no Congresso e o maior número de governos de departamentos. A ex-ministra da Educação não mencionou o atual presidente Nicanor Duarte Frutos no discurso. Eram 22:44 em São Paulo quando a Justiça Eleitoral paraguaia confirmou a vitória de Lugo, com comparecimento de 65% dos eleitores.

Com a vitória de Lugo, o Paraguai terá a primeira transição democrática entre dois partidos, depois de 61 anos de poder contínuo do Partido Colorado. Quando o resultado final ainda era incerto, o ex-bispo Fernando Lugo pediu a Deus uma benção aos paraguaios, prometeu acabar com o clientelismo político no país e, se dirigindo especificamente aos governos de outros países, disse que quer promover uma verdadeira integração regional e mundial.

Mais de 50 mil pessoas se reuniram no centro de Assunção para festejar a vitória do ex-bispo, um seguidor da Teologia da Libertação que ganhou com o apoio de uma ampla coalizão, que inclui do tradicional Partido Liberal ao Partido Tekojoja, ligado aos movimentos sociais.

Apesar da riqueza, que torna o Paraguai um dos principais "consumidores" de jipes importados per capita, o país tem mais de 2 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, um milhão delas na indigência.

Foi a conclusão de uma jornada política extraordinária. A Aliança que levou Fernando Lugo à vitória foi formada em 27 de agosto de 2007, portanto há menos de oito meses. Lugo foi suspenso pelo Vaticano por insistir em sua candidatura.

Ele fez campanha em torno de alguns temas: promover programas sociais para combater a pobreza e reduzir o número de paraguaios que procuram o "exílio econômico" especialmente na Argentina e na Espanha; enfrentar os latifundiários da soja, que promovem a destruição ambiental, especialmente nos departamentos que fazem frontreira com o Brasil; e conquistar o que definiu como "soberania energética", renegociando o tratado que define a parceria entre Brasil e Paraguai na usina hidrelétrica de Itaipu.

Ricardo Canese será um dos principais assessores de Lugo, que só assume o poder em agosto. Canese é autor do livro recém-lançado em português, “O Direito do Paraguai à Soberania”.

Reproduzo abaixo uma entrevista feita com ele pela agência Carta Maior:

Carta MaiorO Paraguai de hoje é resultado de um processo histórico que permitiu um único partido se manter no poder por várias décadas. O que a atual eleição tem de diferente?

Ricardo Canese – A ditadura do Partido Colorado e de setores conservadores paraguaios durou 35 anos. Tentamos muitas vezes desalojar Strossner, mas não conseguimos. Muitos tivemos que ir ao exílio, outros foram perseguidos ou morreram. Foi toda uma larga luta que não conseguimos vencer. Quando finalmente o povo estava talvez preparado para terminar com a ditadura, ela mesma se adiantou e garantiu um auto-golpe.

Na década de 80, sai o Strossner, entra um parente que mantém o stronismo sem ele. Seguiu a mesma máfia que utilizou o Partido Colorado, que é um partido tradicional e que tem raízes populares, apesar de oligárquico. Como todo partido tradicional, este também manipulou o povo. Desde 1989, todas as eleições foram fraudadas. E isso não somos nós que estamos dizendo, eles mesmos dizem isso. O senador Juan Carlos Galaverna disse que na primeira eleição de 1993 ele mesmo fez fraudes. Ele reconhece.

Carta MaiorAs atuais eleições também serão fraudadas?

Ricardo Canese – Agora, isso vai acontecer de novo. Só que desta vez há uma real possibilidade de mudança, porque este modelo está desgastado. Em 2008, o Produto Interno Bruto per capita do Paraguai é inferior ao de 1981, ou seja, de 27 anos atrás. Por isso toda gente vai à Espanha e à Argentina, aqui a miséria se concentrou, se tornou mais grave. As pessoas abandonaram o campo e a pobreza na cidade é muito mais extrema. É todo um modelo que foi incapaz de resolver os problemas econômicos, sociais e institucionais. São um grupo mafioso e, para eles, as instituições não servem para nada.

Os empresários que entram em articulação com os grupos mafiosos estão sujeitos a esses grupos, e isso também não é nenhuma garantia. Esse é um modelo inviável. E aí que surge a figura de Fernando Lugo. As pessoas queriam algo novo, é uma demanda social. E também porque as pessoas sempre identificaram a cúpula dos partidos de oposição como parte do problema, e não parte da solução.

Carta MaiorE a aliança entre Aliança Patriótica para a Mudança, de Lugo, com o Partido Liberal?

Ricardo Canese – O Partido Liberal só está apoiando Lugo porque suas bases o obrigaram. Vamos deixar isso claro, inclusive porque está claro para o Movimento Tekojoja. A cúpula liberal teve que apoiar Fernando Lugo, ou todas suas bases ficariam com ele. Essa foi a situação real. Como são políticos e realistas, e não querem perder as bases, bueno, resolveram apoiar Fernando Lugo. O que aconteceu aqui foi uma rebelião popular democrática, onde o fenômeno Lugo é a rebelião das bases. Muitos colorados o apóiam também. O setor colorado não amarrado, porque é necessário que se entenda que aí há muito funcionalismo público, por exemplo. Organizações populares que estão pressionadas e dependentes das ações do governo.

Carta MaiorE como a candidatura de Fernando Lugo representa todos estes setores?

Ricardo Canese – É fundamental a presença de Lugo porque ela levanta o debate social e institucional, o debate da renovação dos partidos políticos. Trata-se justamente de um elemento inovador. E vamos entrar no principal aspecto que é o social. No Paraguai, a esquerda nunca teve peso. De alguma maneira, os movimentos populares tinham, mas não politicamente. As pessoas aqui parecem ter uma orientação de esquerda, mas na hora de votar, votam na direita. Isso se rompe agora e permite que a esquerda tenha peso nesta eleição. O Tekojoja é o maior grupo de esquerda, junto com outros grupos que formam uma espécie de bloco. É a primeira vez que isso acontece na história do Paraguai.

Carta MaiorA questão da soberania energética é crucial para o Paraguai. Como este debate acontece aqui e como pretendem levá-lo ao Brasil?

Ricardo Canese – Já temos esse processo um pouco encaminhado. Nós discutimos o tema da soberania hidroelétrica desde a década de 70, quando se firmou o tratado de Itaipu. Outras coisas tomaram força faz alguns anos. Eu fui ao Fórum de São Paulo, creio que em 2002, e fizemos essa discussão com o pessoal do Jubileu Sul. Quando Lugo ainda era bispo, lançamos uma campanha de recuperação da soberania hidroelétrica.

Depois, o Tekojoja relançou essa campanha. Já temos um caminho percorrido, por isso Itaipu entrou no debate político. Inclusive isso obrigou os outros candidatos a se definirem. Alguns mudaram de postura. Lino Oviedo dizia que seria um embaixador verde-amarelo, que não queria incomodar o Brasil. Esse senhor faz uma confusão mental entre o Brasil e seus amigos empresários na fronteira. Agora começou a dizer que temos que renegociar a situação. Tirou fotos ao lado do Lula e botou Lugo ao lado de Hugo Chávez e Evo Morales. Na realidade, é divertido.

Respeitamos muito Evo e Chávez, mas até por uma questão de tempo, decidimos ir visitar Lula e Cristina Kirchner durante essa campanha e não fomos visitar os outros dois presidentes. Estivemos com Lula faz dez dias, mais ou menos, e já vemos avanços importantes. Lula garantiu uma mesa de diálogo e vamos discutir esta questão com o Brasil no mais alto nível.

Aqui, o mais forte é que o povo vai se mobilizar. Se o Lugo ganhar neste domingo vai haver uma mobilização pela recuperação da soberania hidroelétrica. Possivelmente, vamos estabelecer um referendo, que não nos garante nenhum direito, mas que demonstra a vontade do povo sobre essa questão. As pessoas vão ver que é factível que se recupere a soberania hidroelétrica. Isso vai ser um feito. Nós temos muita confiança de chegar a um acordo aceitável para ambas as partes com Lula.

Carta Maior – Para onde o capital proveniente de Itaipu seria revertido? É possível resumir os três pontos mais nevrálgicos da sociedade paraguaia?

Ricardo Canese – Toda a questão social, de direitos humanos, ou seja, educação, saúde, habitação e saneamento. Segundo, obras públicas que melhorem a infra-estrutura e criem postos de trabalho. Nós temos como proposta fundamental trabalho digno. Eu acho que o Estado tem que intervir fortemente nos problemas do nosso país como a falta de emprego.

E aqui não são obras desnecessárias, há obras fundamentais, de transporte e saneamento que demandam um grande investimento e que vão potencializar o turismo, a produção e, ao mesmo tempo, vão gerar emprego. E terceiro, criar um fundo para potencializar a produção. E quando falamos nisso, queremos dizer reforma agrária. E não é somente a terra, mas sim a assistência técnica, o crédito, a comercialização. Criar bases de industrialização. Acreditamos muito em cooperativas manejadas pelos próprios campesinos. Seriam estes três eixos principais: direitos sociais, infra-estrutura e produção.

Carta Maior – E como o governo pretende tratar a questão dos “brasiguaios”?

Ricardo Canese – Esse é um tema que conversamos também com o Partido dos Trabalhadores (PT). Quando estivemos com o Fernando Lugo no Brasil falamos com Lula e com o PT. Precisamos tratar de vários temas, o tema da energia, dos brasiguaios e o tema de Ciudad del Leste. Quanto aos brasiguaios, tem que haver uma solução em respeito aos diretos sociais dos trabalhadores das plantações. E sobre a destruição do meio ambiente. Nós queremos que se cumpra a lei. E isso não somente com os brasiguaios, ou seja, há latifundiários paraguaios também. Se você desflorestou, tem que reflorestar com espécies nativas, não com outra coisa. O cuidado com os cursos de água também é fundamental. E, depois, vamos ver se deixamos a lei mais estrita ainda.

Outro ponto grave é o uso de veneno, que às vezes chega ate a casa do campesino. Vamos buscar que os produtores de soja diversifiquem a produção e criem boas oportunidades de emprego para a população circundante. Acreditamos que se possa ir pacificando a área, porque as tensões são preocupantes.