terça-feira, 3 de junho de 2008

O coração de Abel


DANIEL RICCI ARAÚJO

Abel não está indo embora do Inter porque tira Nilmar, inventa escalações ou submete a equipe a hierarquias que a essa altura já são inadmissíveis. Não. Abel está indo embora simplesmente porque nada, na vida, é para sempre. Nem mesmo nosso ex-comandante e seu tremendo coração podem driblar os ponteiros do relógio.

Casamentos terminam. Amizades soçobram. As vidas das pessoas podem entrar em modo de espera, em “standby”, ou do nada darem uma guinada às alturas, tudo conforme o tique-taque dos ponteiros ou o escoar da areia das ampolas. O mundo é assim mesmo. Na vida do Inter, Abel foi um furacão vitorioso de iniciativa, discursos emocionantes e vontade de vencer. Nas circunstâncias do Inter atual, isso bastou, e a história foi indelével e maravilhosamente escrita assim.

Tempo, tempo, tempo. Nele e por ele, a verdade de ontem é a mentira de hoje, a meta de outrora é a acomodação da atualidade. O Inter, por exemplo, esse Inter que Abel ajudou a dar forma está agora encharcado de glória. Indignação, filas no Portão 8, discursos revolucionários, reuniões de Conselho Deliberativo que mais pareciam o prenúncio da Terceira Guerra Mundial, tudo isso acabou. Abel foi o porta-voz de uma nova era, de um momento que tem muito de sua assinatura e vontade de vencer. E por isso estamos todos calmos, empanturrados e felizes. Mas o tempo passa. Nada é para sempre.

Somos, no momento, vítimas. Sim, vítimas. De um casamento feliz, de um relacionamento que foi perfeito e que nos deu o título capaz de fazer qualquer torcedor de futebol tocar o céu com as mãos. De momentos inspirados, quase religiosos, de êxtase puro e emoção inacabável. Mas até o matrimônio mais feliz cessa. Passa. Abatuma. Inter e Abel, na melhor das hipóteses, precisam dar um longo tempo tempo. Foram escalações erradas demais, preterições baseadas num fisiologismo evidente demais, frases de efeito demais - e as frases de efeito, quando cessam as vitórias, viram a forca do orador.

O maior - mas não o melhor - técnico da história do Inter vai merecidamente embora para enriquecer na Arábia. Abel foi menos treinador do que o imaginário coletivo que a torcida idealiza, mas bem mais do que a tropa de seus críticos ferozes pensa. Eu vejo em Abel um planejador eficiente de jogos decisivos, um estrategista sem controle mas com ímpeto e gana, e coração, muito coração, que se traduz em uma vontade de vencer tão necessária para um time quanto a correnteza é para um rio. Se as opiniões não se encontram, rendamo-nos ao razoável: ninguém vence tanto por mera casualidade.

A memorável, antológica e histórica palestra antes do jogo com o Barcelona, gravada para o futuro e realizada por ele numa naturalidade que faria corar um Napoleão será a marca registrada de Abel, o técnico-torcedor. Sobre ele talvez mais do que qualquer outro, as futuras gerações perguntarão com curiosidade e orgulho. E nós gostaremos muito de responder, porque Abel é o tipo de homem que suscita essas histórias capazes de marcar e inspirar as pessoas.

Muitos afirmavam que o maior defeito de Abel era essa sua intempestividade, esse élan vital e necessário, essa vontade de abarcar o Inter com seus braços e levá-lo para casa. Ao fim e ao cabo, como o profeta Ezequiel, Abel foi quase perfeito em seus caminhos. Noves fora as estripulias e erros cometidos, não há como discutir: o maior momento da história colorada acabou sendo protagonizado por um treinador que, antes de ser profissional, é um homem capaz de matar ou morrer pelo Inter. Abel não foi perfeito, mas o destino foi. Sinceramente? Não sei se poderíamos pedir mais do que isso.

Vencer é bom, mas fazer isso no meio dos nossos, de colorados para colorados, é ainda melhor. Os detratores de nosso treinador dirão que lhe falta autoridade, tática, vontade de mudar e, talvez, até um pouco de simplicidade. Mas uma coisa não poderão negar.

Digam qualquer coisa de Abel Braga, menos que ele não tem um imenso coração.

Belchior - Antologia Lírica (1999)




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Esculpir o Espaço

Um filme de Jatir Eitó

"Em dezembro de 2003, um grupo de artistas de diferentes áreas foi à Ocupação Prestes Maia na intenção de integrar seu trabalho com os moradores do Movimento Sem Teto do Centro, os quais habitam esse edifício. Essa integração criou uma interessante e curiosa atmosfera que inspirou esse filme-poema, cujo foco é os sonhos das pessoas que ocupam o edifício".






Em Busca da Sabedoria Ecológica
Há sinais inequívocos de que a Terra não agüenta mais.

Por Leonardo Boff.

O paradigma civilizatório globalizado assentado sobre a guerra contra Gaia e contra a natureza está levando todo o sistema da vida a um grande impasse. Há sinais inequívocos de que a Terra não agüenta mais esta sistemática exploração de seus recursos e a ofensa continuada da dignidade de seus filhos e filhas, os seres humanos, excluídos e condenados, aos milhões, a morrer de fome. Mas precisamos estar conscientes de que esta guerra não será ganha por nós mas por Gaia. Como observava Eric Hobsbawm na última página de seu conhecido livro A era dos extremos (1994): “O futuro não pode ser a continuação do passado; nosso mundo corre o risco de explosão e implosão; tem de mudar; a alternativa para uma mudança da sociedade é a escuridão”.

Como evitar esta escuridão que pode significar a derrocada de nosso tipo de civilização e eventualmente o Armagedon da espécie humana? É imperioso revisitarmos outras civilizações que nos podem inspirar sabedoria ecológica. Há muitas. Escolho a civilização maya, pelo simples fato de que tive a oportunidade no mês de março deste ano de freqüentar durante 20 dias as regiões da América Central habitadas ainda hoje pelos sobreviventes daquele extraordinário ensaio civilizatório e dialogado longamente com seus sábios, sacerdotes e xamãs. Daquela riqueza imensa quero ressaltar apenas dois pontos centrais que são grandes ausências em nosso modo de habitar o mundo: a cosmovisão harmônica com todos os seres e sua fascinante antropologia centrada no coração.

A sabedoria maya vem da mais alta ancestralidade e é conservada pelos avós e pelos pais. Como não passaram pela circuncisão da cultura moderna, guardam com fidelidade as antigas tradições e os ensinamentos, consignados também em escritos como no Popol-Vuh e nos Livros de Chilam Balam. A intuição básica de sua cosmovisão se aproxima muito à da moderna cosmologia e física quântica. O universo é construído e mantido por energias cósmicas pelo Criador e Formador de tudo. O que existe na natureza nasceu do encontro de amor entre o Coração do Céu com o Coração da Terra. A mãe Terra é um ser vivo que vibra, sente, intui, trabalha, engendra e alimenta a todos os seus filhos e filhas. A dualidade de base entre formação-desintegração (nós diríamos entre caos e cosmos) confere dinamismo a todo o processo universal. O bem estar humano consiste em estar permanentemente sincronizado com esse processo e cultivar um profundo respeito diante de cada ser. Então ele se sente parte consubstancial da Mãe Terra e desfruta de toda sua beleza e proteção. A própria morte não é inimiga: é um envolver-se mais radicalmente com o Universo.

Os seres humanos são vistos como “os filhos e filhas esclarecidos, os averiguadores e buscadores da existência”. Para chegar a sua plenitude o ser humano passa por três etapas, verdadeiro processo de individuação. Ele poderá ser “gente de barro”: pode falar mas não tem consistência face às águas pois se dissolve. Desenvolve-se mais e pode ser “gente de madeira”; tem entendimento, mas não alma que sente porque é rígido e inflexível. Por fim alcança a fase de “gente de milho”: este “conhece o que está perto e o que está longe”. Mas sua característica é ter coração. Por isso “sente perfeitamente, percebe o Universo, a Fonte da vida” e pulsa ao ritmo do Coração do Céu e do Coração da Terra.

A essência do humano está no coração, naquilo que viemos dizendo há anos, na razão cordial e na inteligência sensível. É dando centralidade a elas que se mostram pelo cuidado e pelo respeito que podemos nos salvar.

Billy Cobham - The Art of Three (2001)

http://i306.photobucket.com/albums/nn266/photoapo/Covers/BC_TheArt-fr.jpg

Billy Cobham - The Art of Three (2001)
mp3@320Kbps 167MB covers In & Out Records Total time: 73:50


Faixas:
1. Stella By Starlight (Ned Washington/Victor Young) 10:43
2. Autumn Leaves (Joseph Kosma/Johnny Mercer/Jacques Prévert) 10:00
3. New Waltz (Ron Carter) 6:55
4. Bouncing With Bud (Bud Powell) 7:02
5. 'Round Midnight (Bernie Hanighen/Thelonious Monk/Cootie Williams) 7:56
6. And Then Again (Kenny Barron) 11:25
7. I Thought About You (Johnny Mercer/James Van Heusen) 10:26
8. Someday My Prince Will Come (Larry Morey/Frank Churchill) 9:19

Músicos:
Billy Cobham (Drums)
Ron Carter (Double Bass)
Kenny Barron (Piano)

Downloads abaixo:

http://www.filefactory.com/file/bfc63e/ (direto)
http://rapidshare.com/files/119711955/theat_a.rar (parte 1)
http://rapidshare.com/files/119716320/theat_b.rar(parte 2)

A descarada política da Globo com suas novelas


Vermelho - Redação

O Brasil assistiu, dia 31, ao último capítulo da novela ''Duas Caras''. Se houve novidade na trama, assinada por Aguinaldo Silva, ela ficou por conta do abuso nas referências a personalidades e fatos da vida política nacional, e pela ridicularização dos movimentos sociais, misturando realidade e ficção com clara intenção de construir um discurso ideológico conservador.

Essa politização explícita já estava presente desde os primeiros capítulos, quando o autor declarou que o personagem Ferraço (Dalton Vigh), o vilão da trama, foi inspirado na vida do ex-ministro José Dirceu. A referência provocou uma carta indignada da ex-esposa de Dirceu, Clara Becker, acusando o novelista de fazer uma comparação caluniosa para alimentar divergências políticas. Chegou também ao cúmulo de atacar os concorrentes da TV Record colocando, na trama, um grupo de evangélicos que, raivosos, atacou uma mulher grávida acusando-a de promíscua.


Além do embate com os evangélicos, colocou em cena, de forma desfavorável e mistificadora, ''fatos do cotidiano'', como as CPIs, tapiocas, dossiês, cartões corporativos, política de cotas, racismo, educação privada x ensino público, protagonismo político da elite, entre outros temas colhidos pelo autor no noticiário da imprensa conservadora, da qual a novela é uma espécie de outra face da moeda, como ferramenta para formar opinião - no caso, opinião conservadora, alienada.


Ao abusar da politização, a novela global rompeu a barreira delicada que separa o aceitável do inaceitável no uso da concessão pública dos meios de comunicação. Não se discute o direito da emissora retratar assuntos políticos e polêmicas nacionais em seus programas, mas sim se é ético e justo usar um programa de tamanha audiência para atacar adversários políticos e construir discursos favoráveis ou contrários a propostas e idéias em disputa na sociedade.

As regras do jogo democrático pressupõem condições equilibradas para a luta de idéias. Os meios de comunicação sempre foram apontados com um fator de desequilíbrio nesta disputa pois, concentrados na mão de grandes empresários, costumam jogar no campo da direita. Para controlar a manipulação, há uma série de regras para regular o conteúdo das emissoras, especialmente em período eleitoral. Mas elas estão concentradas basicamente no conteúdo jornalístico. Quando a manipulação salta da pauta jornalística para o roteiro da novela (que é uma obra de 'ficção''), o desequilíbrio piora pois a propaganda política disfarçada feita através dela é menos suscetível a processos legais.

Assim, protegida pelo chamado “manto sagrado da liberdade de expressão artística”, as novelas da Globo são um verdadeiro paralelo desregulado ao jornalismo televisivo da emissora para construir discursos favoráveis ao pensamento único neoliberal. E contrários às idéias avançadas historicamente defendidas pela esquerda, como a política de cotas, a liberalização do aborto, a descriminalização da droga, a proibição da pena de morte, a valorização dos movimentos sociais (claramente atacados e ridicularizados pela novela global), a defesa dos direitos humanos etc.



segunda-feira, 2 de junho de 2008

FORUM MUNDIAL DE EDUCAÇÃO...

Carta de Santa Maria

FÓRUM MUNDIAL DE EDUCAÇÃO SANTA MARIA-RS/BRASIL EDUCAÇÃO: ECONOMIA SOLIDÁRIA E ÉTICA PLANETÁRIA

Nós, participantes do Fórum Mundial de Educação, realizado em Santa Maria (RS-Brasil), de 28 a 31 de maio de 2008, motivados pelo tema – Educação: Economia Solidária e Ética Planetária, reafirmamos nesta CARTA, princípios e proposições, frutos dos debates e discussões que desenvolvemos neste Fórum. Somos 35 mil participantes, mulheres e homens, trabalhadores e trabalhadoras, estudantes, entidades sindicais, movimentos sociais, governos, organizações não-governamentais, igrejas, universidades e escolas vindos de 15 países: Brasil, Uruguai, Paraguai, Chile, Colômbia, Bolívia, Alemanha, França, Suécia, Peru, Estados Unidos, China, Portugal, Coréia do Norte e Argentina; 130 empreendimentos solidários participantes da Mostra Mundial de Economia Solidária; 84 jovens organizados no Acampamento da Juventude; 1.500 pessoas envolvidas no Fórum Gerações em Movimento e 515 voluntários.

As atividades foram organizadas em três eixos temáticos: Educação e Economia Solidária; Educação, Inclusão e Cultura Emancipatória; Educação e Ética Planetária, integrando três grandes conferências; 31 debates temáticos; 355 apresentações de pôsteres de trabalhos; 14 atividades simultâneas; 98 atividades culturais e 110 atividades autogestionadas.

As relações sociais capitalistas, atualmente materializadas através da globalização neoliberal, têm se mostrado incapazes de promover condições de vida digna para a maioria da população mundial. Fundamentadas na propriedade privada dos meios de produção, na exploração do trabalho dos povos, na divisão da sociedade em classes e na degradação do meio ambiente, têm tido, entre suas conseqüências fundamentais, a prática da guerra como meio para a solução de problemas, o individualismo, a xenofobia, a homofobia e a perseguição às minorias e a mercantilização da vida.

Na educação, em especial, tais relações têm submetido as experiências educacionais aos interesses do mercado, em um processo de reconversão material e cultural. Neste sentido, a educação tem sido utilizada como instrumento de reprodução das desigualdades sociais, conformando as consciências, justificando relações sociais desumanizantes através de uma cultura do egoísmo, da competição e de pedagogias que tomam os seres humanos como objetos e não como sujeitos.

Considerando a construção de um outro mundo possível, de uma globalização alternativa - não como algo inevitável, mas como uma possibilidade histórica -, nós assumimos como signatários da Carta de Princípios do Fórum Social Mundial. As relações sociais existentes e as possibilidades de construção de estratégias potencializam um aperfeiçoamento de lutas sociais dos trabalhadores e trabalhadoras e experiências educacionais, que têm apontado relações de novo tipo, pautadas em novas relações sociais de produção, comprometidas com a justiça, com a igualdade, a democracia e a solidariedade.

Afirmamos como compromisso, educar para outro mundo possível, a partir dos seguintes princípios e proposições:

PRINCÍPIOS:

• economia solidária, não apenas como alternativa à falta de trabalho e renda, mas, também, como um agente de desenvolvimento que promova a centralidade da pessoa humana, a sustentabilidade ambiental, a justiça social, a cidadania e a valorização da diversidade cultural, articuladas às atividades econômicas;

• solidariedade;

• soberania e segurança alimentar dos povos;

• construção de redes de cooperação e autogestão no processo produtivo;

• produção, comércio justo e consumo consciente e ético;

• territorialidade, como espaço de construção de uma globalização contra-hegemônica ao atual projeto global de desenvolvimento;

• universalização dos bens da humanidade: ar, água, terra e sementes;

• relação dialética entre educação e economia solidária;

• educação popular concebida como processo de construção coletiva de conhecimento;

• valorização da cultura e saberes populares;

• educação que possibilite relações de igualdade, diversidade étnica, respeito às diferenças e à livre orientação sexual;

• combate à divisão sexual do trabalho e à linguagem sexista;

• radicalização da democracia;

• radicalização das lutas por políticas públicas para a saúde e educação;

• formação permanente e integral como estratégia para o desenvolvimento humano;

• educação como um bem público, coletivo e de responsabilidade do Estado;

• educação humanizadora e para a paz;

• educação inclusiva que reduza os preconceitos sociais, buscando a participação de todos e todas nas práticas excludentes;

• educação para cidadania participativa;

• educação para uma consciência sócio-ambiental;

• justiça cognitiva;

• ecoalfabetizacao e eco-pedagogia;

• educação para participação na gestão da cidade;

• cidade como tema gerador para a construção de uma cidade educadora;

• democratização da mobilidade urbana com centralidade na pessoa;

• nova lógica social e simbólica para utilização da informática na educação;

• inclusão digital das pessoas e não dos instrumentos;

• educação para justiça fiscal;

• acesso ao lazer como uma conquista e um direito da classe trabalhadora;

• educação patrimonial como responsabilidade do poder público, das instituições educativas, dos meios de comunicação e da sociedade;

• promoção da justiça patrimonial;

• democratização dos meios de comunicação;

• integração e comprometimento das diferentes gerações com atitudes éticas e humanas;

• defesa da ética planetária como uma política do bem comum universal.

PROPOSIÇÕES:

• fortalecer políticas públicas que incentivem espaços de formação para os trabalhadores e trabalhadoras da economia solidária e criem oportunidades de geração de trabalho e renda, como maneira de atender às necessidades dos explorados e oprimidos;

• formar empreendimentos nos princípios de economia solidária como: autogestão, cooperativismo, associativismo, respeito ao meio ambiente, solidariedade e trabalho organizado em redes e cadeias produtivas;

• agregar valor aos produtos da economia solidária;

• efetivar a construção do marco regulatório legal para empreendimentos de economia solidária;

• fortalecer o processo autogestionário de empresas solidárias;

• criar ações que fortaleçam as incubadoras tecnológicas e cooperativas populares (ITCPs);

• construir e socializar tecnologias adequadas ao processo de trabalho à economia solidária;

• criar redes de produção, socialização e sistematização dos conhecimentos produzidos nos empreendimentos solidários;

• priorizar o ensino, a pesquisa e a extensão como instrumentos de aproximação entre o movimento da economia solidária e às universidades.

• promover justiça cognitiva através do fomento de debate em escolas e universidades, de autores e autoras que proponham uma educação libertadora e emancipatória dos povos excluídos;

• ampliar o debate nos espaços educativos sobre a livre orientação e violência sexual;

• ressignificar valores para a vivência da cidadania;

• estimular a construção de políticas públicas que se inscrevam no âmbito da diversidade, que contemplem escolas bilingües para surdos enquanto espaços de construção de conhecimento para essa comunidade, ambiente lingüístico de desenvolvimento e expansão da LIBRAS;

• estimular programas educativos que transformem a mentalidade de competição para a construção de uma cultura de cooperação;

• construir uma nova cultura do trabalho que seja materializada no dia-a-dia da produção;

• estimular a criação de projetos educacionais que englobem a gestão democrática da cidade;

• articular a relação tempo-espaço-lazer como parte dos processos educativos;

• promover a participação popular na construção de espaços de lazer;

• inserir a Educação Patrimonial e Fiscal como tema transversal nos currículos do ensino fundamental, médio e técnico, bem como na formação de educadores e educadoras;

• contemplar, nas legislações municipais de uso e ocupação dos solos a educação patrimonial;

• construir modelos de comunicação alternativa, como rádios, televisões e jornais comunitários;

• gerar ações conjuntas envolvendo o reaproveitamento de materiais, musicalidade, ludicidade e sensibilização para qualidade de vida sustentável. Por fim, queremos reafirmar, como pessoas comprometidas com a educação popular, libertadora e inclusiva, a dignidade do nosso trabalho e sua importância na construção de um mundo justo, fraterno, igualitário, plural e solidário, comprometendo-nos a continuar nossa luta, com todas e todos, os que são sensíveis à causa da Educação, da Soberania e da Justiça Social, tudo fazendo para honrar e fortalecer sonhos, anseios, esperanças e necessidades dos que, junto conosco, com seus saberes, políticas e práticas, constroem um OUTRO MUNDO QUE É POSSÍVEL.

Santa Maria, 31 de maio de 2008.

Sindicalismo de resultados


CartaCapital


A Força Sindical não nasceu do sonho e das lutas de um grupo de operários. É, antes de mais nada e sobretudo, resultado da articulação do empresariado paulista. Cevada no peleguismo, tinha a função de se contrapor, com seu “sindicalismo de resultados”, à crescente influência da “inconfiável” Central Única dos Trabalhadores. Mas, como Fernando Collor de Mello, feito presidente da República em 1989 para impedir a vitória de Leonel Brizola ou do Sapo Barbudo, a Força saiu do controle. Sua deformação deriva da soma da tacanhez das elites econômicas de São Paulo com a tendência do Estado brasileiro de tutelar os movimentos sociais, exacerbada nesses anos de Lula no poder.

Servir de engrenagem ao capital deixou de ser interessante há alguns anos para os dirigentes da central. Descobriu-se algo mais rentável, seguro e de futuro promissor: a manipulação das verbas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e a criação de ONGs alimentadas com dinheiro público. O fortalecimento, inclusive financeiro, da Força Sindical impulsionou a carreira política de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, principal liderança nacional da entidade e deputado federal pelo PDT. E tem sido a causa de sua desgraça. Gravações interceptadas, documentos apreendidos e depoimentos tomados pela Polícia Federal, no rastro da Operação Santa Tereza, apontam Paulinho como um dos chefes de um esquema que mistura desvios de empréstimos do BNDES, lastreados pelo FAT, e uma rede de prostituição. Coisa de filme B.

O deputado nega as acusações, se diz vítima de “armação política” e promete pedir reparação judicial por eventuais danos morais. A cada dia, sua situação fica, porém, mais complicada. O corregedor-geral da Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira (PR-PE), deu a entender que recomendará a cassação do parlamentar, por não ter dúvidas a respeito das acusações que pesam contra o colega. Na quarta-feira 28, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, solicitou ao Supremo Tribunal Federal autorização para investigar Paulinho (como deputado, ele tem foro privilegiado).

As acusações envolvem assessores próximos do parlamentar e até sua mulher, Elza de Fátima Costa Pereira, ex-secretária da presidência da Força Sindical e que, após o casamento, tornou-se responsável pelo projeto Meu Guri. A ONG é acusada de receber dinheiro do esquema, que facilitava empréstimos com prefeituras e empresas no estado de São Paulo a partir de projetos fajutos. A PF afirma ter identificado, até o momento, repasses de cerca de 150 mil reais da quadrilha para Paulinho e Elza em apenas uma das operações de empréstimo. Um dos cabeças do esquema, João Pedro de Moura, ex-assessor do deputado, mudou sua versão da história e tem inocentado o ex-chefe. “Coloquei para o grupo todo que tinha de pagar o Paulinho, mas, na verdade, esse dinheiro era para mim, para poder melhorar minha participação nos honorários”, declarou Moura no último depoimento à PF.

Ainda que as acusações revelem muito do caráter peculiar da administração da Força Sindical, que mais se parece com uma empresa privada cujo acionista majoritário é o deputado Paulinho, a situação deveria servir de reflexão aos movimentos sindicais brasileiros. Fundamental no processo que desaguou no fim da ditadura e na campanha pelas Diretas Já, o sindicalismo tornou-se quase irrelevante no Brasil de Lula. Quando muito, aparece algum dirigente para reclamar da alta dos juros ou de alguma medida econômica pontual, à moda dos barões da Fiesp. Nem os trabalhadores formais, muito menos os informais, podem se sentir hoje representados pelas organizações sindicais, justamente em um momento de profunda transformação da economia nacional.

Enquanto correm atrás da própria sobrevivência, no lobby pela manutenção do imposto sindical, e comemoram o ciclo de melhora dos níveis de emprego e renda, cuja duração ainda é incerta, os sindicatos parecem trancafiados em uma espécie de autismo social. Entre a tibieza e a malandragem.

domingo, 1 de junho de 2008

sábado, 31 de maio de 2008

IGNACIO RAMONET

Mídia, o aparato ideológico da globalização

Por Henrique Costa

Reproduzido do Observatório do Direito à Comunicação

"O mais difícil de perceber não é a informação distorcida, mas a informação oculta". Em torno dessa e de outras idéias o jornalista, escritor e teórico da comunicação Ignacio Ramonet apresentou, na noite de segunda-feira (26/05) no Instituto Cervantes, em São Paulo, a palestra "Informação, poder e democracia", como parte do ciclo "Pensar Iberoamérica" do instituto espanhol. Com a mediação do sociólogo Emir Sader, o tom foi não apenas de denúncia da grande imprensa, mas também uma reflexão sobre a indústria cultural e as possibilidades de uma imprensa alternativa.

Membro do conselho editorial do Le Monde Diplomatique – um dos exemplos mais bem-sucedidos de imprensa alternativa no mundo – e diretor do jornal até recentemente, Ramonet foi descrito por Sader como um "intelectual da esfera pública". De fato, as inúmeras atividades deste galego que foi aluno de Roland Barthes comprovam sua vocação para o ativismo público, como a fundação das ONGs internacionais ATTAC e Media Watch Global e como um dos fomentadores do Fórum Social Mundial.

O evento no Instituto Cervantes serviu fundamentalmente para reafirmar suas posições para um público restrito, mas, em geral, pouco familiarizado com o debate sobre democratização da comunicação. Inclusive porque, em uma de suas primeiras afirmações, Ramonet diria que "muitos militantes de esquerda que tomaram consciência da luta contra o neoliberalismo não tomaram a consciência da necessidade de democratizar os meios de comunicação de massa". Ou seja, é evidente para ele que qualquer transformação social depende da desconcentração dos meios de comunicação das mãos de poucos afortunados que os usam para seus fins particulares. No entanto, os obstáculos para isso são imensos.

Emir Sader colocou em pauta um outro ponto grave na cobertura jornalística, que diz respeito à impossibilidade de negar ou mentir sobre pontos inegavelmente positivos, como, por exemplo, os ganhos sociais do regime cubano ou os avanços da nova constituição boliviana. A saída, considera, é simplesmente omitir. "Como não tem como falar mal, não falam. E essa omissão é gravíssima", afirmou Sader.

Kane e Murdoch

Ramonet listou uma série de exemplos que colocam em destaque o cinema blockbuster americano, para traduzir a idéia de que a estratégia de distração pode ser muito mais eficaz para o status quo. Na cultura de massas se reconhece o direito à distração, ou seja, a possibilidade de assistir a um filme desarmado, sem ressalvas. E é justamente nessas ocasiões que as idéias dominantes penetram com mais facilidade, diferentemente do que aconteceria se assistíssemos a um filme "político".

Dentro desse esquema, a dominação cultural é tão importante quanto a militar. A idéia exposta tanto por Ramonet quanto por Sader de que a guerra imperialista hoje se faz tanto pela via militar quanto pela cultural acusa que é justamente através dos meios de comunicação que se produz os consensos e legitimações. "Em vários processos de dominação, a violência é usada numa primeira fase, mas a guerra não pode durar tanto. A segunda fase é justamente conquistar mentes", afirmou Ramonet. A última investida, conta, é oferecer a idéia de que globalização financeira é igual à modernidade. "Os meios de comunicação têm a função de ser o aparato ideológico da globalização."

Muito distante disso está o conceito verdadeiramente francês de que a imprensa se constituiria em um "quarto poder". Poder este que, diferentemente do que se compreende nos tempos atuais, seria o responsável por fiscalizar os três poderes de Montesquieu, lembra Ramonet. Curiosamente, assume o jornalista, a concentração cada vez maior dos meios de comunicação tem, inclusive, deixado obsoletos os grandes arquétipos da mídia tradicional. O Cidadão Kane, de Orson Welles, nada mais era do que um magnata do final do século 19 estabelecido em seu próprio país e eivado de alguma ética. "Comparem Kane com Rupert Murdoch!", enfatiza Ramonet, citando o bilionário dono de canais de TV, jornais, revistas e todos os tipos de mídias nos cinco continentes, algumas delas acusadas de dar suporte, por exemplo, a já comprovada farsa da invasão do Iraque pelo governo norte-americano.

Observatórios de mídia

A questão é que a imprensa trocou a cidadania pelo espetáculo. Para o jornalista, a lógica em que atuam as grandes empresas de mídia não mais diz respeito ao velho esquema de vender informação ao público, mas sim vender público aos anunciantes, citando o exemplo dos jornais gratuitos. "Há uma tendência de baixar o nível para atingir uma faixa maior de público. Além de tudo, se você vai dar a informação de graça, não vai querer gastar muito para produzi-la". Isso mesmo que, de modo geral, o nível educacional melhore e essa contradição fique ainda mais evidente.

A globalização é uma máquina de frustração, esclarece Ramonet. Mas contra a hegemonia do pensamento único, é possível a constituição de uma imprensa alternativa viável? "Muito difícil", diz ele, justamente pelo que dizia há pouco. Essa mídia estaria disposta a baixar sua qualidade para atingir o grande público? O jornalista, no entanto, vê boas perspectivas quando se fala nos observatórios de mídia e acredita que o Brasil está bem servido nesse quesito. Além disso, se entusiasma com as TVs públicas, desde que se entenda que elas não podem ser governamentais. "Não se pode ter medo da democracia".