sexta-feira, 4 de julho de 2008

Não houve resgate

por Narciso Isa Conde

O regime de Uribe é perito em iniciativas espectaculares e shows mediáticos. E para isso conta com a ajuda nada desprezível dos poderosos meios de comunicação dos EUA e da oligarquia capitalista mundial. Dia 1º de Julho deste ano o jornal El País, da Espanha, informava que:

"Bogotá autorizou a reunião dos negociadores europeus a fim de discutirem as condições para futuros encontros destinados a discutir o futuro dos sequestrado pelas FARC, segundo informaram os media colombianos. O antigo consul francês em Bogotá, Noél Sáez e o diplomata suíço Jean-Pierre Gontard partiram no princípio do passado fim de semana rumo a um ponto de encontro nas montanhas que o governo não informou e poderiam ter-se reunido já com membros do secretariado da guerrilha, o principal órgão directivo, e inclusive com o novo líder das FARC".

Por sua vez, a Agencia Popular de Notícias, da Venezuela, a 2 de Julho esclareceu o seguinte:

"Quanto as FARC, em coordenação com emissários dos governos da França e da Suíça, efectuavam a transferência dos 15 retidos em dois helicópteros, funcionários do Exército colombiano já haviam detectado e ocupado as aeronaves previsamente".

"Ainda que o governo da Colômbia tenha anunciado a operação como um resgate militar por parte do Exército colombiano, segundo a televisão francesa, a libertação de Ingrid Betancourt, junto com 10 militares colombianos, um polícia e os três mercenários estado-unidenses, teria sido resultado do desvio do helicóptero onde as FARC transferiam os 15 retidos para um ponto onde, supostamente, seriam entregues a Alfonso Cano, o qual estava a negociar com uma delegação francesa e suíça a sua libertação".

Esta claro: as FARC acederam em libertar esses retidos para serem entregues à referida delegação franco-suíça, que actuou em nome dos países europeus "Amigos da Colômbia", os quais antes já haviam intervido em favor da troca humanitária de prisioneiros.

Recordamos que, pouco antes de ser bombardeado o acampamento do comandante Raúl Reyes, este tratava de buscar a maneira de libertar Ingrid Betancourt e, para esse fim, teve contactos directos com o governo do Equador e da França.

Então Uribe e seus chefes militares, com a cumplicidade e a tecnologia do Pentágono e a ajuda de dois generais equatorianos vinculados à CIA, planearam e executaram a "operação cirúrgica" que exterminou o acampamento do comandante Reyes.

Assim, violentando a soberania territorial do Equador e provocando um massacre – completado com o remate a tiros e paus dos sobreviventes – impediu-se então a libertação de Ingrid Betancourt.

Já anteriormente, no início deste milénio, imediatamente depois da captura pelas FARC desta ex-candidata presidencial colombiana, o autor deste artigo participou em gestões para a sua liberdade e também então o senhor Álvaro Uribe interpôs uma operação militar para bloquear esse passo, quando estava a ponto de conretizar-se.

Roubo da iniciativa às FARC

Agora as circunstâncias são diferentes e Uribe e seu regime narco-para-terrorista decidiram actuar de outra maneira.

Como não podiam recusar o pedido do diplomata francês Noel Sáez e do suíço Jean Pierre Gontard, aceitaram suas gestões e autorizaram seus esforços para entrar em contacto com o Secretariado das FARC e inclusive informaram, nacional e internacionalmente, a partir do palácio presidencial.

As FARC aceitaram de boa vontade a proposta franco-suíça e dispuseram-se a trabalhar nessa direcção.

Esses quinze reféns estavam distribuído em três pontos diferentes e distantes, e por essa razão resolveram juntá-los num ponto comum da selva colombiana.

Montou-se previamente uma operação civil, em helicópteros civis, para efectuar as transferências e organizar a cerimónia de entregas dos prisioneiros, na qual aparentemente participaria a direcção das FARC e a delegação estrangeira.

Tudo estava acordado e os helicópteros civis avançaram nas direcções previstas, só que nem as FARC nem os representantes da França e da Suíça contaram com a astúcia inescrupulosa de Uribe, apesar de ser bem conhecida e comprovada. Talvez tenham pensado – e mal – que Uribe não se atreveria a tanto.

Mas nem Uribe, nem a CIA, nem o Pentágono, iam permitir que as FARC registassem esse tento; menos ainda se era relativamente fácil impedi-lo, voltando nesse ponto o jogo a seu favor.

Bons trapaceiros, magníficos jogadores, peritos no roubo... arquitectaram "intervir" nos voos dos helicópteros civis, antes de chegarem ao ponto onde se encontravam os prisioneiros.

Tomaram militarmente as duas aeronaves, disfarçaram de civis os militares e procederam para enganar os encarregados de reuni-los no seu plano humanitário.

Jogada relativamente fácil, que evidentemente não necessitou de qualquer trabalho de infiltração prévia nos grupos de custódia, por mais que os uribistas insistam na tentativa de converter essa mentira em verdade, para apresentar as FARC em suposta e falsa debandada.

Foi preciso simplesmente conhecer os helicópteros contratados em Bogotá pelos negociadores estrangeiros, precisar suas localizações e possíveis trajectórias através de um seguimento adequado.

A finalidade não podia ser derrubá-los, nem tão pouco realizar outra acção de extermínio como aquela realizada contra Raúl Reyes na fronteira com o Equador.

Depois de aceitar a gestão europeia e de propaganda, Uribe e seus colaboradores não podiam actuar dessa maneira criminosa sem pagar um enorme custo político.

A meta fundamental era impedir que as FARC concretizassem o gesto que aprovara. Impedir a entrega formal dos retidos aos intermediários europeus e capturá-los de surpresa para roubarem o show.

Esses tipos não são só ladrões de pesos, dólares e propriedades.

Roubam também iniciativas e contam com um poderoso coro mediático que propaga a sua manobra como uma grande façanha.

Não houve resgate militar de prisioneiros, porque os retidos estavam a ponto de serem entregues no decorrer de uma operação civil e ninguém das FARC tinha ordens para resistir e por em risco a vida dessa pessoas.

Houve assalto militar de dois helicópteros pilotados por civis desarmados, para então atribuir-se a vitória pela libertação daqueles que de qualquer forma – e sem o risco do choque que implicava essa operação surpresa – iam ser libertados.

Uribe e o alto comando militar colombiano interceptaram o processo e desviaram-no a seu favor. Tudo – repito – para roubar a iniciativa às FARC e "ganhar" o show.

Nada a felicitar na conduta de Uribe

Isso não merece felicitação alguma, nem a Uribe nem aos seus, a partir de uma posição francamente revolucionária ou simplesmente progressista e honesta.

Tão pouco demonstra a caducidade da luta armada como proclamam outros que provavelmente a ela terão que recorrer se as coisas continuarem como vão, se a "mãe de todas a crises" desenvolver seu poder de arrastamento, se IV Frota da Armada dos EUA continuar no seu curso agitado, se a base de Manta for transferida para a Guajira colombiana (próximo à fronteira com a Venezuela), se a "guerra climática" do Pentágono continuar a ser executada, se o separatismo de fabrico imperialista persistir em fracturar a Bolívia (primeiro) e o Equador e a Venezuela (depois), e se nossos povos se virem obrigados a desembainhar a espada de Bolívar.

Aqueles que elogiam Uribe e conciliam com ele, a partir de processos diferentes e contrapostos ao engendro que ele representa, aqueles que o consideram seu irmão e os que mantêm silêncio frente aos planos tenebrosos desse senhor e dos seus poderosos padrinhos do Norte (agora mais desordenado e mais brutal), na verdade afiam a faca para as suas gargantas: estão a dar oxigénio a uma espécie de sub-imperialismo perverso, instrumento dos falcões de Washington.

Uribe é um criminoso, não porque há poucos dias e correctamente o tenha dito o comandante Daniel Ortega, e sim porque realmente mata a granel, dentro e fora das suas fronteiras.

Conta com muitos sicários e com um tutor feroz e voraz com sede na Casa Branca.

Não é casual o amor que lhe têm Bush e McCain.

A quem não fica bem elogiá-lo é o comandante Chávez, menos ainda depois de o líder da revolução bolivariana lhe ter dito tantas verdades merecidas: mentiroso, genocida, peão do imperialismo...

Por isso, quando leio estas desnecessárias felicitações e observo da sua parte um inesperado espírito de cooperação com Uribe, resultado no meu entender da razão de Estado, da diplomacia mal compreendida e de manobras tácticas inconsistentes, fico com o coração despedaçado.

Não comandante, lhe queremos muitíssimo. Valorizamos consigo o processo anti-imperialista e pro-socialista que o senhor catalizou na Venezuela e na nossa América. Mas assim não.

E na verdade não quero pensar que a Venezuela esteja a começar a fazer marcha atrás e sim que simplesmente incorreu num mau cálculo e num erro superável. Essa é a minha esperança actual.



Eduardo Galeano cidadão do Mercosul: as palavras e a alma da América Latina



O escritor uruguaio Eduardo Galeano foi declarado hoje o primeiro Cidadão Ilustre do Mercosul, em reconhecimento à sua contribuição "à cultura, à identidade latino-americana e à integração regional". A homenagem ocorreu em Montevidéu, em um ato público que reuniu personalidades da cultura e da política latino-americana. O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, viajou a Montevidéu para participar da cerimônia. Em sua fala de agradecimento, Galeano disse que o primeiro cidadão ilustre da região foi José Artigas e fez uma menção especial a três brasileiros: Aleijadinho, Garrincha e Oscar Niemeyer. Ele disse:

Nossa região é o reino dos paradoxos.
Vejamos o caso do Brasil.
Paradoxalmente, Aleijadinho, o homem mais feio do Brasil, criou as mais altas formosuras da arte da época colonial.
Paradoxalmente, Garrincha, arruinado desde a infância pela miséria e pela poliomielite, nascido para a desdita, foi o jogador que mais alegria ofereceu em toda a história do futebol;
E paradoxalmente, Oscar Niemeyer já cumpriu cem anos de idade e é o mais novo dos arquitetos e o mais jovem dos brasileiros.


E defendeu a unidade dos povos latino-americanos:

Esta nossa região faz parte de uma América Latina organizada para o divórcio de suas partes, para o ódio mútuo e a mútua ignorância. Mas só existindo juntos seremos capazes de descobrir o que podemos ser, contra uma tradição que nos treinou para o medo, a resignação e a solidão e que a cada dia nos ensina a não gostarmos de nós mesmos, a cuspirmos no espelho, a copiar ao invés de criar.

Clique AQUI para ler a íntegra do discurso de agradecimento de Galeano, feito na manhã de hoje, em Montevidéu.
Oriente Médio: Guerra? Não. Agressão





Milton Temer

Milton Temer
Quando se discute o conflito no Oriente Médio, algumas premissas têm que ser estabelecidas.

1- Não vale invocar anti-semitismo, ou preconceito antijudaico, para evitar enfrentar qualquer crítica mais ou menos severa a decisões e atitudes de eventuais governos de Israel. Ninguém, salvo o próprio povo de Israel, pode ser responsabilizado pelo fato de a estrela de Davi, bem simbólico maior da religião judaica, ser também o símbolo mais evidente do Estado de Israel, um estado que, embora institucionalmente democrático, é deliberadamente não-laico e, o que é inimaginável, mantém legislação que legaliza a tortura a suspeitos de atos atentatórios à defesa nacional . Por conta disso, são tanques e blindados com estrelas de Davi nas bandeiras presas às suas antenas de rádio que, em “caça aos terroristas”, passam por cima de civis desarmados dentro de suas próprias casas nas cidades e vilas do território ocupado da Palestina.

2- Não estamos analisando um confronto entre dois Estados parelhos em possibilidades materiais e bélicas. Estamos, sim, diante da investida de uma das maiores máquinas militares do mundo – helicópteros Apache de última geração, caças F-16, tanques e buldozers poderosíssimos, além de reconhecida posse de armamento nuclear – contra populações civis de um território descontínuo, ocupado por uma centena de postos de controle militares (os chamados check points israelenses entre as vilas e cidades palestinas, e não somente na fronteira que separa os dois territórios nacionais).

3- É falacioso tratar, em pé-de-igualdade, como atualmente é feito através dos principais meios de comunicação mundiais – a CNN americana, com destaque – a ocupação militar israelense e os atos suicidas palestinos em cidades de Israel. Não são irmãos gêmeos, contemporâneos, de uma mesma realidade trágica. Não. A ocupação militar israelense é a geradora do caldo de cultura em que se geram os terroristas fundamentalistas, ou os jovens universitários desesperados com o absoluto desencanto existencial, em função da destruição de suas possibilidades de vida profissional e de lazer, com um mínimo de liberdade e dignidade. E cito autor israelense para reforçar meu ponto-de-vista – Ran Há Cohen, no Jewish Peace News, com endereço eletrônico conhecido: thebungle@carthlink.netEste endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. . O que diz ele no seu ensaio sobre Terrorismo vs. Ocupação , onde responde a leitores que o criticam por “ não escrever sobre terrorismo palestino contra Israel”?
    “(...) O terrorismo é o termo mais popular na cobertura da mídia no Oriente Médio, e as pessoas ainda querem que eu fale sobre isso também. Por que isso? Creio que é porque essas pessoas não querem que eu fale sobre um outro termo: ocupação. Notem com que raridade esse termo é usado quando o assunto em pauta é o conflito israelo-palestino. De fato, quando se ouve alguém dizer ‘terrorismo’ insistentemente, fique certo que ela não usará o termo ‘ocupação’”.
4- Não existe solução possível, capaz de gerar uma convivência fraterna e solidária por parte dos dois povos que têm tudo para construir as mais avançadas sociedades democráticas da região, enquanto se mantiver, por parte dos sucessivos governos de Israel – e aí incluindo os trabalhistas que antecederam os fundamentalistas Netanyahu e Sharon— a política de implantação de assentamentos artificiais de judeus ortodoxos em terras confiscadas ao Estado ou a particulares palestinos.

Acertados nessas preliminares, vamos aos fatos que pudemos viver, por conta da delegação da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, em Jerusalém, Tel Aviv, Ramalah e Jenin.

Encontro com Shimon Perez

No dia seguinte à chegada a Jerusalém, a delegação de parlamentares brasileiros já tinha um encontro com o Ministro das Relações Exteriores de Israel – Shimon Perez, personagem referencial dos social-democratas imensamente incomodados pela convivência com o governo Sharon, fundamentalista de direita.

Com experiência das agendas apertadas que o parlamentar vive em Brasília, sempre em dificuldades para receber delegações estrangeiras que constantemente visitam nosso Congresso, a disponibilidade de Perez, no bojo da crise do cerco a Arafat, do início das investidas contra Jenin e Belém, não deixou de causar uma certa perplexidade. Será que o Brasil tem tanta expressão internacional, ou Perez, afastado do Comitê de operações mais restrito do governo, não tinha tanto o que fazer? Para mim, pessoalmente, prevaleceu a segunda leitura, embora Perez não deixasse passar, pelas palavras ditas, nenhuma sensação de isolamento político. Mas a voz tênue com que tenta nos convencer que concorda com a definição das linhas de ação do governo, como se delas tivesse participado ativamente, denuncia a insegurança.

– Como o senhor, na condição de Premio Nobel da Paz, explica sua participação numa coalizão governamental em que o primeiro-ministro é criticado – à exceção, é claro, dos Estados Unidos e seus mais fiéis carregadores de bagagem – por quase todos os governos do mundo, principalmente os da União Européia, pela ocupação violenta de territórios palestinos?

– Não sinto nenhum desconforto. Não estamos atacando populações civis. Estamos apenas caçando terroristas.

– Mas como o senhor reagiria se o Partido Trabalhista inglês apoiasse um governo conservador inglês que decidisse pela invasão da Irlanda, para “caçar terroristas” do IRA?

É aí, enfim, que Perez externa suas debilidades políticas. Seus “desconfortos” ocultos...

– É claro que existem algumas diferenças com a maioria governamental. Sou a favor do reconhecimento da Cisjordânia como território palestino, mas não absolvo Arafat pela derrota nas negociações de Camp David, que permitiriam tal solução.

Mas vamos ter claro o seguinte: não há por que traçar de Perez uma imagem, por princípio, indelével. Prêmio Nobel da Paz, suas atitudes positivas têm ampla exposição mediática. Mas quem o conhece na intimidade, não o pinta da mesma forma, como deixa objetivamente transparecer a carta aberta enviada por seu amigo de 24 anos, e assessor por quatro, Gideon Levy, publicada no Ha’aretz, principal jornal israelense, em 24 de janeiro deste ano, sob o título “Diga a verdade Shimon”:
    “(...) Em 1989,quando você era Ministro da Economia no governo Shamir e a primeira Intifada, utilizei estas páginas para escrever ‘Uma carta a um ex-patrão’. Naquela época, eu lhe disse que ‘pela primeira vez em sua vida, nada lhe restava a perder – exceto a perspectiva de sumir no ar rarefeito’. Isso foi depois que você guardou silêncio face à conduta das IDFs – Forças de Defesa Israelenses – com relação à Intifada, face à continuação da ocupação e à recusa obstinada de Israel em reconhecer a OLP como representante dos palestinos. Naquela ocasião, eu acreditava que você pensava de modo diferente de Yitzhak Shamir e Yitzhak Rabin (conhecido à época como ‘quebra-ossos’), mas que você não tinha apenas coragem suficiente para se manifestar.

    “Onze anos mais tarde, em 200, escrevi-lhe uma outra carta aberta. Isso foi depois de Oslo e do assassinato de Rabin, e depois que você tinha perdido outra eleição – dessa vez, para o cargo de presidente. Na época, eu disse:”Muitos israelenses o vêm agora como uma pessoa diferente. Para eles, você representa a esperança de alguma coisa diferente”. E, agora, quando lhe escrevo outra vez, tenho de lhe dizer: você já não representa a esperança de nada”.

Encontro com Sari Nosseibek

Antes de tudo, quem é Sari Nosseibek?

Os brasileiros o conhecem por uma longa entrevista às páginas amarelas de Veja. É um professor de universidade em Jerusalém; uma referência entre os mais moderados do movimento de libertação palestino. Considera radical o comportamento dos dirigentes de seu governo, onde ocupa o cargo de Ministro para os Assuntos de Jerusalém, insinuando suas responsabilidades em não impedir a participação de jovens desarmados, nos confrontos de rua ao longo das Intifadas. E o encontro com ele, realizado no mesmo dia em que havíamos conversado com Perez, viria a propósito. Porque ninguém melhor do que Nosseibek para reforçar os argumentos de Perez quanto à classificação de Arafat como responsável pelo fracasso de Camp David.

Mas não foi o que sucedeu.

Nosseibek, o mesmo que fala de radicalismo pelo desprezo das lideranças palestinas ao espírito de negociação, não se referia certamente às discussões em Camp David, quando faz tais críticas. Sobre o acordo apadrinhado por Clinton, ele não tergiversa: “Fosse eu o negociador, e teria tomado a mesma decisão. Também teria denunciado as concessões propostas, por estarem muito abaixo do mínimo exigido para que fossem aceitas pelo nosso povo”.

E Nosseibek não se referia ao essencial. Quando Perez, na sua conversa da manhã, se lamentava de que Arafat não havia compreendido que ao não aceitar tudo o que lhe havia sido ofertado pelo governo Barak em Camp David, simplesmente omitiu o essencial, para além do bem abaixo do mínimo de devolução de territórios ocupados. O governo trabalhista de Barak-Perez, em nenhum momento, interrompeu o que hoje se constitui no mais grave empecilho para uma solução justa para os palestinos – a instalação forçada dos assentamentos artificiais que Israel implanta, por exigência do setor judaico fundamentalista, o mais ortodoxo, em áreas confiscadas ao Estado e a particulares palestinos.

São tais assentamentos que, implantados aqui e acolá, se localizam de forma a tornar quase impossível o estabelecimento de uma linha de fronteiras no momento em que houver condições concretas para a suspensão do conflito. Eles correspondem a uma espécie de contraponto dantesco ao êxodo que, desde 1948 – ano do nascimento do Estado de Israel, a partir de uma resolução da ONU – foi imposto a milhões de palestinos, que viram suas casas e terras completamente arrasadas. Da mesma forma que o retorno desses palestinos não é mais exigido no conceito de “paz justa” que se passou a utilizar nas discussões para busca de solução para a guerra , o problema gerado pela pulverização de assentamentos terá que ser solucionado a partir de seus desmontes ou, o que parece mais lógico, de transferência para as populações palestinas, até como compensação pela não restituição das terras e reconstrução de habitações destruídas dos refugiados já instalados em outros países.

Como reage o povo palestino?


Aqui Ariel Sharon, velho militante da concepção do “Grande Israel” – que nos assustou com uma entrevista no já citado Ha’aretz, em que questionava a legitimidade da Jordânia como país – invade a Esplanada das Mesquitas, cercado de guarda-costas, em ato francamente provocativo, dá o ponta-pé-inicial na série de Intifadas que vieram justificar a radicalidade da repressão militar atual.

Naquela manifestação, Sharon se cacifava junto à direita judaica, ao prenunciar o governo agressivo e ostensivamente discriminatório em relação aos palestinos, que terminou implementando. Abriu espaço para a irracionalidade que se alastrou em ambos os lados, ao colocar a disputa nos termos que interessavam aos fundamentalistas. Do lado palestino, à medida que jovens, mulheres e crianças se viam atiçados às manifestações de rua, onde pedras e estilingues eram respondidos com fogo de artilharia dos tanques, ou de eficientes metralhadoras dos inexperientes reservistas da infantaria israelense, as perdas de vidas começaram a entrar no quotidiano. A morte se banalizava, o que facilitou o crescimento dos que, do lado palestino, têm formulação doutrinária tão fundamentalista quanto a de Sharon e seus fanáticos, pelo lado judaico. Consolidaram-se os dois pólos de uma mesma visão reacionária do mundo, fundada numa visão exclusivamente religiosa, onde a vida material conta pouco. O Hamas recebia de presente as condições subjetivas para a criação dos jovens suicidas. Sharon os gerou, e deles necessita para a implantação da sua lógica exterminadora de todo o povo palestino, objetivo maior de sua concepção de estado judaico – “uma terra sem povo, para um povo sem terra”

E em alguns exemplos concretos que vivenciamos – Ramalah, Jenin e check points— , isso fica evidente. Tanto o da brutalidade dos partidários de Sharon, quanto o da coragem e solidariedade de árabes e judeus progressistas em defesa do povo palestino.Vamos cuidar de cada um, por partes.

Ramalah

Cidade que abrigava o QG de Yasser Arafat, centro governamental da Autoridade Nacional Palestina. Foi teatro de combates violentos, que destruíram bens materiais, mas não chegaram e desfigurar totalmente seu aspecto urbano extremamente simpático. Pelo menos em sua região central, onde pudemos transitar. Em ruas arborizadas, com prédios de meia altura, o contraste entre o céu azul e as paredes amarelas das pedras de Jerusalém – que caracterizam as construções locais – era reforçado pelo sol brilhante e forte, mas bastante agradável.

Ocupada, foi transformada, mais que em gueto, num verdadeiro campo de concentração. No dia em que a visitamos, parecia uma cidade fantasma. Casas com janelas fechadas, ou varandas encobertas por cortinas, eram as celas dessa verdadeira penitenciária. No centro, dos prédios mais altos confiscados pelas forças de ocupação, a bandeira de Israel definindo o ponto de concentração de franco atiradores que dali controlavam o rigor do toque de recolher, capaz de se estender por até 60 horas, nunca durando menos de dois dias para cada interrupção de poucas horas, quando os que ainda tinham algum dinheiro podiam se revitalizar nos que ainda tinham alguma mercadoria para vender.

Os militares israelenses não hostilizam a coluna de pacifistas estrangeiros que se desloca armada de bandeiras brancas, numa das mãos, e passaporte estrangeiro, na outra. Apenas controlam à distância.

O objetivo é alcançar o QG de Arafat, na ocasião vivendo uma situação de alimentação e higiene absolutamente dramática. Era o que nos informava, por telefone, Mário Lill, então participante do escudo humano de voluntários acampados no prédio, para garantir a segurança de Yasser Arafat, humilhado e ameaçado pelos tanques estacionados a poucas dezenas de metros do seu gabinete.

Dali não passamos. Soldados extremamente jovens, e extremamente tensos, transmitindo mais insegurança e descontrole do que propriamente ordem unida, não nos permitiam o abuso de tentar passar a barreira. Um deles poderia atirar, sob o pretexto de que um de nós poderia ser um homem-bomba – verdadeira fixação paranóica que lhes parece ter sido injetada.

Mesmo nessas condições adversas, algumas mulheres palestinas se aventuravam, nas portas das casas, a transmitir mensagens pelos microfones e câmeras das equipes de TV que nos acompanhavam, todos paramentados em capacetes protetores e coletes à prova de balas. E do que diziam aos borbotões vinha a tradução de algum de nossos parceiros letrado em árabe. Arafat, mergulhado em crises de liderança antes das Intifadas, passava a simbolizar a liderança unificadora de todo o povo palestino, desde que não cedesse aos invasores. Não deveria entregar os militantes palestinos que o acompanhavam na área cercada, e que os israelenses queriam capturar a qualquer preço. Se entregasse, a liderança entraria em crise novamente. Os acordos que posteriormente veio a aceitar, nesse sentido, estão na raiz do recrudescimento do movimento oposicionista à sua liderança.

Ou seja; longe do espírito de rendição, aquela ocupação gerava uma evidente indignação e ódio aos ocupantes.

Check Points

Mal recuperados dos momentos desagradáveis de Ramalah, novo símbolo da violência nos afronta – a necessidade de transpor um dos pontos de controle que, nas estradas e saídas das cidades palestinas, submetem os seus habitantes a humilhações permanentes. Uma super guarita, com um muro de concreto, tipo gelo baiano em grandes dimensões, serve de filtro que torna longuíssima e difícil a ida para o trabalho ou escola que esteja na cidade vizinha/ Um filtro conduzido pelos reservistas quase meninos, tão aterrorizadores quanto aterrorizados, separando maridos de mulheres e de filhos aos gritos de “um de cada vez”. Mais uma fonte de ódios e recalques cada vez mais dificilmente superáveis.

No hotel, o mapa da Palestina, do prosaico guia turístico de espetáculos semanais que ainda continuam a ser teimosamente editados com indiscutível qualidade editorial, espanta ver aquela centena de pontos azuis sobre o fundo amarelo dos limites territoriais palestinos. São os check points. Tão odiados quanto os assentamentos artificiais de judeus ortodoxos ao lado dos centros urbanos, maiores ou menores, da Palestina. São os símbolos visíveis, junto com a bandeira nacional onde pontifica a estrela de David, da opressão do exército de ocupação israelense.

Enquanto tais símbolos não saírem do território palestino, consolidam-se as condições para que não se encerre o ciclo de desesperados em seus ataques suicidas contra as cidades de Israel.

Jenin


Foram 50, 100 ou 500 mortos, população civil desarmada, dentro de suas casas, por conta da marcha batida dos tanques e buldozers, quebrando paredes, derrubando portas, passando por cima dos móveis das salas e quartos, sem verificar,antes , se havia ali algum velho, criança ou alguma mulher em estado de pânico?

Nunca vai se saber, porque o governo Ariel Sharon tem poderes insuperáveis. Seu governo, sob suspeita de responsabilidade em inúmeras denúncias de massacre sobre as populações civis, inexplicavelmente tem o direito de barrar a comissão investigativa de alto nível que a ONU já havia nomeado. Inexplicavelmente, não. Diferentemente de Miloscevic, Sharon é da entourage do governo Bush – o autor da máxima do “quem está comigo é do bem; quem está contra é do mal”. Está entre os que têm direito de bombardear o que bem entender sob o pretexto de “eliminar os focos de terrorismo”. Mesmo que, para isso, exerça um terrorismo mais intenso ainda – mais ou menos na lógica que permitiria ao torturado poder agir como torturador de seu algoz, por direito de vingança.

Essa leniência em relação aos abusos de Sharon é inqualificável. Sem tentar estabelecer qualquer paralelo, indiscutivelmente existiam muito menos indícios de crimes de guerra contra o já encarcerado Miloscevic do que no de Ariel Sharon. E se dúvida houvesse, o relatório da Human Rights Watch, organização não-governamental americana que, diferentemente da delegaçÃo da ONU, teve permissão para entrar em Jenin., liquida com ela. Não houve massacre, é a conclusão do que relatam, por diferença de cifras entre o que se denunciava e o que se comprovou, mas houve, indiscutivelmente, crimes de guerra – assassinato de civis inocentes, e utilização de escudos humanos palestinos para proteção dos bravos guerreiros de Israel. O governo Sharon não contesta a conclusão, e ainda tentou festejar pelo fato de a HRW, consentida por ele, se limitar à denúncia dos crimes.

Aliás, só teria dúvida sobre o que se cometeu de brutal e irracional sobre a população civil de palestina, quem não tivesse se dado ao trabalho de ver as fotos após a abertura da cidade aos órgãos de imprensa à Cruz Vermelha, até então interditados no acompanhamento dos combates, e do resgate de feridos. Se em Ramalah, primeiro ensaio, houve quem guardasse cadáveres dentro de casa por impossibilidade de buscar socorro em horas de toque de recolher, não é mentalmente saudável imaginar o que deve ter ocorrido em Jenin.

Não vimos, mas pudemos ter o sentimento do que ali ocorrera, quando participamos – em linha de frente, como vários parlamentares estrangeiros presentes – da marcha em que milhares de pessoas, caminhando por oito quilômetros até chegar às portas da cidade, forçavam a passagem de uma coluna de 30 caminhões com víveres, remédios e água para os habitantes da cidade absolutamente isolada do resto do mundo. A reação dos tanquistas e infantes não era distinta dos que cercavam o QG de Arafat em Ramalah. Gritos e impropérios, antecipando ameaças de represália imediata, caso não houvesse recuo.

E aí pudemos viver os momentos mais emocionantes da solidariedade internacional. No confronto com a barreira armada até os dentes, pacifistas das mais diversas partes do mundo comprovavam o espetáculo humanista comovente, propiciado pelos jovens que, estrela de Davi, pacífica e solidária nas mochilas, gritavam em hebraico e em árabe os slogans de mobilização solidária ao povo palestino encerrado em Jenin.

Os militares israelenses cederam, parcialmente, diante da conclusão lógica que, diante das câmeras de televisão que acompanhavam a imensa manifestação, não poderiam cometer a loucura de disparar.

Proibiram a passagem dos militantes a pé, mas autorizaram a entrada dos caminhões.

A saída; onde está a saída?


Estamos chegando ao que interessa – existe, ou não, possibilidade de solução pacífica para o conflito entre Israel e Palestina?

De pronto, a resposta não pode ser otimista.

Os fatos consumados, o redesenho das linhas de separação fronteiriça, os extensos períodos de ocupação militar israelense com todos os abusos daí conseqüentes sobre as populações civis nos levam a ter muita dificuldade de ver as partes, por moto próprio, sentadas frente a frente numa mesa de negociações.

Mais difícil ainda, porque Israel conta com o apoio, para o que der e vier, da comunidade judaica de altíssima influência econômica e eleitoral, junto às elites políticas norte-americanas. No contexto atual, isto se agrava. Não só pelo 11 de setembro, e seus desdobramentos irracionais, como pela própria linha doutrinária que orienta as decisões do governo Bush (para as quais, aliás, o 11 de setembro foi de extrema utilidade).

E pior. Porque o mundo de hoje, liquidado campo do, digamos, “socialismo real” – se assim se podia caracterizar o regime soviético –, desapareceram os contrapontos ao estabelecimento da hegemonia do grande Império ianque. Desapareceu o equilíbrio relativo na Assembléia Geral e no Conselho de Segurança da ONU. A própria OTAN – independentemente de ser instituição com ampla maioria de potências européias – se transformou numa espécie de apêndice do Departamento de Defesa americano. Principalmente pelo papel subalterno, de porta-voz dos interesses da Casa Branca, que ali é desempenhado pelo representante do governo britânico de Tony Blair, hoje no cargo de sercretário-geral.

A saída tem, então, que ser encontrada por outro caminho. E este caminho certamente passa pela União Européia, atualmente os principais parceiros econômicos de Israel – onde os ingleses não têm assento –, e de onde saem as mais concretas manifestações oficiais de indignação contra o governo Sharon.

É a União Européia, mais o conjunto de governos árabes, crescentemente pressionados por seus povos, quem pode impor aos Estados Unidos o recuo no apoio incondicional a qualquer abuso de Sharon. É daí que pode sair o caminho alternativo, traçado pela proposta recente da Liga Árabe, e aceita pelos palestinos:

a- Reconhecimento das fronteiras de 1967.

b- Retirada das tropas israelenses para os limites dessas fronteiras.

c- Envio de uma Força Internacional de Paz que garanta o estabelecimento de um equilíbrio mínimo no tabuleiro de dispositivos militares para a concretização, aí sim, de uma solução definitiva, que jogue as lembranças dos atentados suicidas, pelo lado palestino, e dos tanques e buldozers israelenses, sobre populações civis objetivamente desprotegidas, para o cenário de um passado que ninguém quererá mais ver de retorno.


Milton Temer, jornalista, é do Diretório Nacional do PSOL e presidente da Fundação Lauro Campos.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Cebrapaz e CMP organizam campanha contra a Quarta Frota


Em nota divulgada nesta quarta-feira (2), o Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz), em conjunto com o Conselho Mundial da Paz (CMP), repudiou o anúncio de recriação da Quarta Frota dos EUA. A presidente do CMP, Socorro Gomes alerta: ''o anúncio de recriação da Quarta Frota estadunidense, destinada a realizar missões navais agressivas nas regiões do Caribe, América Central e América do Sul, é uma grave ameaça à paz, à segurança e à soberania de todos os povos e nações da América Latina''.


"A América do Sul vive hoje um inédito processo de transformação política, capitaneado por forças progressistas e democráticas, que colocam como eixo central de sua estratégia de integração a questão energética, dado que a região é rica em fontes de energia, como petróleo, gás, biomassa, urânio e energia hidroelétrica. Constituir um grande anel energético aproveitando do potencial que cada país possui é um dos objetivos impulsionados no âmbito da integração regional", diz a nota.

"Diante da ameaça representada pela nova investida imperialista, o Cebrapaz lança, em conjunto com o CMP, uma campanha contra o relançamento da Quarta Frota estadunidense em águas do Atlântico", agrega o texto.

De acordo com Socorro, o que está em jogo na decisão de autoridades estadunidenses de relançar a Quarta Frota são os interesses de frear o processo de transformação política da região e disputar os recursos naturais e estratégicos dos povos destas latitudes do mundo, ferindo a soberania e buscando intimidar militarmente a região.

''O objetivo é constituir um amplo movimento contra o relançamento da Quarta Frota e em defesa da paz e da soberania dos países da região'', disse Socorro Gomes sobre a campanha a ser realizada pelo Cebrapaz em parceria com o CMP.

Mercosul repudia Quarta Frota

Com uma área de atuação que atinge 30 países e 15,6 milhões de milhas marítimas a Quarta Frota se unirá as outras divisões da Armada Estadunidense para, segundo autoridades estadunidenses, unir esforços no combate ao narcotráfico e ao terrorismo internacional.

Entretanto, ao final da Cúpula de Presidentes do Mercosul, realizada na cidade de Tucuman, Argentina, os presidentes Lula e Hugo Chavez exigiram explicações ao governo dos EUA sobre o relançamento da Quarta Frota.

Lula foi claro ao relacionar o relançamento da Quarta Frota à disputa em torno das fontes de energia.''Nós agora descobrimos petróleo em toda a costa marítima brasileira, a 300 quilômetros da nossa costa, e nós, obviamente, queremos que os Estados Unidos nos expliquem qual é a lógica desta Quarta Frota'', disse o presidente.

Durante a reunião o presidente venezuelano, Hugo Chavez, afirmou que é obrigação dos chefes de Estado da região exigir explicações dos EUA sobre a Quarta Frota. Chavez destaca que o militar nomeado é um oficial com longa experiência em área de conflitos, como o Vietnã.

Em 1943, quando foi criada, a Quarta Frota possuía a missão de combater os submarinos alemães nas águas da Atlântico Sul na Segunda Guerra Mundial. Teve suas atividades suspensas em 1950, quando se juntou à Segunda Frota, que se tornou responsável pela América Latina.Hoje a Quarta Frota é formada por esquadrões e divisões que podem operar nas chamadas zonas de ''águas azuis'' (oceanos), ''águas verdes''(litoral), ''águas marrões''( forças costeiras e litoral), e possue forças tarefas (task forces) para operações especiais.

Leia também:

- CTB repudia 4ª Frota dos EUA e apóia exigência do Brasil

Fonte: Agências de Notícias

quarta-feira, 2 de julho de 2008

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Agrava-se o perigo de um ataque contra o Irão (diretamente pelo Pentágono ou por Israel)




por Sara Flounders

Iranianas defendem o direito à energia nuclear. O Primeiro-ministro israelense Ehud Olmert foi a Washington exigir que se pare o programa nuclear iraniano "através de todos os meios possíveis". Olmert e uma delegação de políticos americanos dirigiram-se a uma plateia de elementos do American Israel Public Affairs Committee (AIPAC). Os concorrentes à presidência dos dois partidos imperialistas, bem como senadores pertencentes às principais comissões do Congresso, repetiram a mesma lenga-lenga em uníssono. Democratas e republicanos pareciam unidos ao alinhar-se para expressar o seu apoio inequívoco a Israel e, para ameaçar o Irão. Eles apresentaram o seu programa de desenvolvimento de energia nuclear, que é totalmente legal, como uma ameaça terrível para a "paz mundial".

Esta ameaça sabiamente orquestrada foi ainda mais reforçada depois do regresso de Olmert a Israel após a convenção. Passadas algumas horas depois do seu regresso, o vice-primeiro ministro, Shaul Mofaz, qualificava de "inevitável" a guerra contra o Irão. Mofaz, antigo chefe militar e antigo ministro da Defesa, foi o representante israelense num diálogo estratégico sobre o Irão com os oficiais americanos. Ele declarou que se o Irão continuar com o seu programa nuclear, Israel passará ao ataque pois não há escolha num período em que "as opções estão a desaparecer e as sanções já provaram ser ineficazes".

Os meios de comunicação internacionais desencadearam uma onda de contestação por causa destas declarações provocatórias e ameaçadoras. O preço do petróleo disparou para 138 dólares por barril, o que é sem precedentes. O primeiro-ministro Olmert atiçou ainda mais as chamas ao recusar descartar a hipótese de uma ofensiva militar contra o Irão. "Todas as opções, incluindo a militar, devem permanecer sobre a mesa", disse ele, fazendo eco das políticas de Bush.

Este episódio só reforçou a ideia de que Israel é um instrumento da política americana, quando as administrações americanas não estão em condições de agir directamente.

Por diversas vezes, Washington deu o seu pleno apoio político, económico e militar aos crimes israelenses: nos anos 60 e 70, as guerras repetidas de Israel para afastar a crescente onda do nacionalismo árabe; em 1981, quando Israel bombardeou o reactor nuclear iraquiano; nos anos 80, quando Israel levou esquadrões da morte para a América Central; quando Israel apoiou o apartheid sul-africano; quando bombardeou o Líbano em 2006 e no caso das recentes investidas contra a Síria.

O AIPAC serve o poder das grandes empresas americanas

O AIPAC transformou-se num poderoso lobby porque sempre seguiu uma linha política propícia aos interesses financeiros da secção mais poderosa das grandes empresas americanas – as indústrias militares e petrolíferas. O AIPAC opera em regime de tandem com estas. Frequentemente, os gigantes da indústria militar americana recorreram aos serviços do AIPAC para influenciar a política mesmo no interior dos Estados Unidos. O grupo sionista foi uma das principais forças de uma constelação de instituições que incitaram os Estados Unidos a invadir o Iraque e o Afeganistão.

Israel está totalmente ligado ao Pentágono e depende dele em todos os aspectos. Durante 60 anos, milhares de dólares de ajuda americana foram para Israel – geralmente para comprar sistemas de armamento americano, aviões a jacto, tanques, etc. Esta situação, por sua vez, alimenta e justifica novas aquisições de armamento por parte dos regimes árabes dependentes dos Estados Unidos.

Empresas como Lockheed Martin, General Electric Co., Northrop Grumman e Boeing estão mais do que dispostas a dar milhões de dólares aos lobbyistas militares e ao AIPAC. Por sua vez, estes oferecem generosas doações aos políticos, republicanos e democratas, para que eles garantam contratos de milhares de milhões de dólares em armamento e para que mobilizem os espíritos em favor de ofensivas militares, do desenvolvimento de mais bases americanas no estrangeiro e de guerras intermináveis.

A divisão no seio da classe dominante americana

Confrontados com o desaire da ocupação do Iraque e do Afeganistão, assiste-se a uma profunda divisão no seio dos círculos dirigentes americanos, inclusive entre a elite do Pentágono, quanto ao fundamento de um ataque contra o Irão e ao modo de o encetar. Esta oposição não se baseia em preocupações humanitárias com o povo iraniano, nem com as tropas ou os trabalhadores americanos. Não, a questão é mais prosaica, e assenta no receio de uma explosão política na região.

A indecisão e as rivalidades crescentes estão na ordem do dia. Os dois últimos anos foram marcados por fugas de informação, por revelações extensas e detalhadas de Seymour Hersh na revista New Yorker e por demissões de altos funcionários civis e militares. O almirante William J. Fallon, chefe do comando central americano para o Médio Oriente, a Ásia do Sul e a Ásia Central, foi forçado a demitir-se depois de a revista Esquire ter exposto as suas profundas reservas quanto a um possível ataque contra o Irão.

Há cerca de um ano atrás, um jornal londrino anunciava que alguns dos altos responsáveis militares do Pentágono estavam preparados para se demitirem no caso de a Casa Branca ordenar ataques militares contra o Irão. ( Sunday Times, 25/Fevereiro/2007)

O ímpeto de guerra contra o Irão foi adiado quando, em Dezembro passado, veio a público um relatório dos Serviços Nacionais de Informação americanos no qual se defendia que o Irão não dispunha de armas nucleares nem desenvolvia nenhum programa nuclear há mais de cinco anos, pelo menos.

O abalo mais recente nas altas instâncias traduziu-se nas demissões forçadas do secretário da Força Aérea Michael Wayne e do Chefe de Estado-maior, general Michael Mosley, alegadamente devido a uma "série de falhas" na manipulação de armas nucleares americanas por parte da Força Aérea. Conta-se que quatro componentes cruciais de armas nucleares terão sido enviadas "por engano" para Taiwan. Para além disso, diz-se também que um bombardeiro B-52 armado "por engano" com seis mísseis de cruzeiro constituídos por ogivas nucleares terá atravessado os Estados Unidos. Estes dois enganos já eram conhecidos há mais de um ano. Será que o abalo tem alguma ligação com o esclarecimento sobre o Irão?

Relatórios dizendo que a administração Bush prevê lançar um ataque aéreo contra o Irão nos próximos dois meses foram também apresentados, no dia 28 de Maio, no Asia Times On-Line.

De acordo com o artigo, dois importantes senadores americanos falaram sobre o ataque: Dianne Feinstein, democrata da Califórnia, e Richard Lugar, republicano de Indiana, têm a intenção de tornar pública a sua oposição a estes planos. No entanto, o editorial destinado a sair no New York Times ainda se faz esperar.

Entretanto, o antigo ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Joschka Fischer escreveu no quotidiano israelense Haaretz do dia 1 de Junho que Bush e Olmert parecem ter a intenção de pôr um termo ao programa nuclear iraniano "mais através de meios militares do que diplomáticos". Fischer teme que o Médio Oriente embarque num novo e perigoso conflito militar.

O direito do Irão à energia nuclear

O enviado do Irão às Nações Unidas, Mohammad Khazaee, apresentou um protesto junto do secretário-geral Ban Ki-moon e do Conselho de Segurança a propósito das ameaças israelenses. Khazaee insiste no facto de uma ameaça tão perigosa contra um Estado soberano e membro das Nações Unidas constituir uma violação das leis internacionais e de ir contra os princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas, carecendo assim de uma resposta resoluta e clara, particularmente da parte do Conselho de Segurança.

O Irão tem o direito, em conformidade com o direito internacional, de desenvolver um programa de energia nuclear. Ele é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear. A Agência Internacional de Energia Atómica já inspeccionou diversas vezes as instalações nucleares do Irão.

Israel, todavia, nunca assinou o tratado de não proliferação, e recusou o mínimo controlo sobre o seu bem conhecido programa de armamento nuclear que engloba mais de 200 ogivas nucleares.

O governo americano desenvolveu uma nova geração de armas nucleares tácticas que violam igualmente os acordos e tratados que visam limitar e restringir as armas nucleares.

Actualmente, a classe dirigente americana compreende, num estado de pânico crescente, que é incapaz de controlar os acontecimentos. São os acontecimentos que a controlam – desde a crise económica que se agrava e escapa a toda e qualquer solução até a uma guerra na qual a vitória será impossível. Tudo isto torna estes predadores planetários tendencialmente mais desesperados, sujeitos a divisões e dispostos a aventuras militares ainda mais precipitadas.

A única verdadeira oposição ao perigo crescente de uma nova guerra virá dos cidadãos comuns e não do mundo político. Espera-se que tais forças, numa escala mundial, comecem a preocupar-se seriamente com esta propensão para a guerra e a mobilizar-se.
11/Junho/2008
O original encontra-se em http://www.workers.org/2008/world/iran_0619/
A versão em francês em www.michelcollon.info/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

domingo, 29 de junho de 2008

O jornalismo hoje

Blog do Bourdoukan

Um homem passeia tranqüilamente por um parque

em Nova York quando de repente vê um pitt bull
raivoso a ponto de atacar a uma aterrorizada
menininha de 7 anos.

Os curiosos olham de longe, mas - mortos de medo -
não fazem nada.

O homem não titubeia e se lança sobre o cachorro,
toma-lhe a garganta e o mata. Um policial que viu
o ocorrido se aproxima, maravilhado, dizendo-lhe:
-O senhor é um herói. Amanhã todos poderão ler
na primeira página dos jornais: "Valente nova-iorquino
salva a vida de uma menininha”.

O homem responde:
-Obrigado, mas eu não sou de Nova York.

-Bom, diz o policial, então dirão: "Valente americano
salva a vida de uma menininha”.

-Mas é que eu não sou americano, insiste o homem.
-Bom isso é o de menos. De onde é o senhor?
-Sou árabe - responde o valente.

No dia seguinte os jornais publicam:

Terrorista árabe massacra de maneira selvagem
um cachorro americano de pura raça, em plena luz
do dia e em frente de uma menininha de 7 anos que
chorava aterrorizada".

Noam Chomsky: EUA insistem na atitude de Estado fora da lei


Os assuntos internacionais são, em grande medida, como os assuntos da máfia: um padrinho não pode tolerar a desobediência, nem sequer a de um pequeno lojista que se recuse a pagar pela proteção, porque a maçã podre poderia fazer apodrecer o barril inteiro. A comparação é de Noam Chomsky, ao analisar a política externa dos EUA, em entrevista ao ensaísta Wajahat Ali.

Por Wajahat Ali*



“Neste momento, estou completamente sobrecarregado por demandas, mas realmente gostaria de realizar esta entrevista, só que não sei quando poderá ser”, respondeu Noam Chomsky - 79 anos, prolífico autor, lingüista, acadêmico e ativista – na primeira de muitas mensagens trocadas ao longo de seis meses. É o mais citado e, provavelmente, o mais controverso intelectual vivo, segundo Global Intellectuals Poll. Embora os meios de comunicação dominantes lhe neguem espaço, o New York Times garante que Chomsky continue sendo um dos intelectuais vivos mais influentes e mais solicitados por estudantes, universidades, ativistas, simpósios acadêmicos e, inclusive, por líderes mundiais, como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Meu primeiro encontro com este ativista, acadêmico, polemista e de má reputação para alguns remonta ao ano 2002, quando fui moderador em uma sessão de perguntas e respostas na qual ele participou, celebrada no meu antigo programa na Universidade da Califórnia (Berkeley). (O encontro seria, posteriormente, incluído no livro Power and Terror: Post 9-11 Talks and Interviews). Antes do programa, tivemos uma longa conversa de uma hora e fiquei impressionado com sua inesgotável memória, sua falta de afetação e o brilhante resumo de dados, nomes e datas que ele utilizou em resposta às minhas intermináveis perguntas. Quando perguntei qual era sua faceta dominante, se acadêmico ou ativista, respondeu que nenhuma das duas de modo exclusivo, e disse que a dissidência sempre tem sido parte dele, desde o primeiro artigo que escreveu, aos dez anos de idade, no qual condenava o triunfo do fascismo durante a Guerra Civil espanhola. Apesar de que a arrogância de muitos intelectuais e acadêmicos só é superada por sua própria insegurança, o que dá como resultado um elitismo frio e egoísta, sempre vi em Chomsky alguém generoso, adaptável e disposto a compartilhar seu tempo e seus conhecimentos.

Assim, não foi surpresa que, depois de seis meses de mensagens eletrônicas, o professor Chomsky pudesse dispor de um pouco de tempo para responder minhas perguntas, segundo suas próprias palavras. Nesta entrevista exclusiva, Chomsky discute acerca da ameaça do Irã, dos paralelismos e diferenças entre Vietnã e Iraque, dos meios de comunicação nos Estados Unidos, de seus críticos e detratores, Paquistão e a negação do título de professor para Norman Finkelstein.

Veja abaixo a entrevista.

Em 1969 o senhor publicou seu primeiro trabalho político de importância, American Power and the New Mandarins (O poder norte-americano e os novos mandarins) uma acerada crítica à intervenção dos Estados Unidos no Vietnã e no Sudeste asiático. Como sabe, muitos estabelecem paralelos entre a atual guerra do Iraque e a do Vietnã. Outros, é claro, rejeitam esta comparação. O senhor, como pessoa com grande experiência no estudo de ambos os momentos, tão significativos historicamente, considera que esse paralelismo é prematuro e ousado? Ou acredita que podem ser estabelecidas semelhanças importantes entre ambas as guerras no que se refere à intervenção norte-americana?

Chomsky: A primeira semelhança guarda relação com o modo de considerar as guerras nos Estados Unidos e no Ocidente em geral. Marginais a parte, as opiniões oscilam entre o que se conhece como falcões e pombas. Em ambos os casos, os falcões garantiam que uma intervenção maior dos Estados Unidos poderia levar à vitória. As pombas, também nos dois casos, participam da opinião expressa por Barack Obama sobre o Iraque (trata-se de uma gafe estratégica, que está saindo cara demais para nós) ou pelo destacado historiador de centro-esquerda e assessor de Kennedy, Arthur Schlesinger, em 1966, quando o Vietnã já aparecia como uma aventura custosa demais para os Estados Unidos. Schlesinger afirmou na época: todos rezamos para que os falcões tenham razão e que um número maior de tropas nos traga a vitória. E, se no fim, resultar que temos razão – dizia – todos elogiaremos a sabedoria e a liderança do governo norte-americano, que conseguiu uma vitória deixando para atrás esse trágico país destripado e devastado pelas bombas, queimado pelo napalm e desertificado pela defoliação química, um país de ruína e escombros, com seu tecido político e institucional totalmente destruído.

Mas Schlesinger não acreditava que a escalada teria sucesso, e sim, pelo contrário, que poderia nos custar caro demais, o que parecia indicar a necessidade de pensar novamente toda a estratégia. A posição das pombas em relação ao Iraque é bastante parecida. Se, por exemplo, o general Petraeus pudesse conseguir algo parecido ao que Putin conseguiu na Chechênia, seria elevado aos altares, com o aplauso das pombas progressistas.

É quase inconcebível, dentro dos rumos estabelecidos da cultura intelectual ocidental, a possibilidade de se fazer uma crítica da guerra baseada em questões de princípio, ou seja, o tipo de crítica que fazemos, reflexiva e adequadamente, quando algum país inimigo comete uma agressão: por exemplo, quando a Rússia invadiu a Checoslováquia, o Afeganistão ou a Chechênia. Não criticamos estas ações por razões de custo, erro, por terem sido uma grande gafe ou por estancamento. Em vez disso, condenamos essas ações como horrendos crimes de guerra, tanto se elas são bem-sucedidas quanto se não.

Em si mesmas, as guerras do Vietnã e do Iraque, contudo, são muito diferentes por seus motivos e caráter. O Vietnã não tinha, por si mesmo, nenhum valor para os Estados Unidos, embora o presidente Eisenhower tenha tentado conseguir apoio para a sua violação dos acordos de paz de Genebra recorrendo aos recursos, de estanho e borracha disponíveis naquele país. Se o Vietnã tivesse desaparecido do mapa, afundado no mar, isso não teria significado grande coisa para os planejadores norte-americanos. O Iraque é uma coisa totalmente diferente. Tem, provavelmente, as segundas maiores reservas petrolíferas do mundo, com a particularidade extra de que são de fácil extração. E, além disso, está exatamente no centro geográfico mundial dos maiores recursos energéticos mundiais, facilmente exploráveis.

No caso do Vietnã, a preocupação consistia em que um desenvolvimento independente e bem-sucedido desse país podia ser um vírus que poderia estender o contágio para outros, se aceitarmos a retórica de Henry Kissinger em relação ao socialismo democrático no Chile. Este raciocínio tem sido o motivo primordial de intervenção militar e de subversão em todo o mundo a partir da II Guerra Mundial, é a versão racional da teoria do dominó. O contágio consiste em que outros que sofrem dos mesmos males possam ver em um desenvolvimento independente e exitoso um modelo, e possam tentar seguir por esta mesma via, o que provocaria a erosão do sistema de dominação. Por isso, até o mais pequeno e débil país representa uma ameaça extrema à ordem.

Os assuntos internacionais são, em grande medida, como os assuntos da máfia: um Padrinho não pode tolerar a desobediência, nem sequer a de um pequeno lojista que se recuse a pagar pela proteção, porque a maçã podre poderia fazer apodrecer o barril inteiro, na terminologia dos planejadores norte-americanos: aqui, a podridão consiste em um desenvolvimento independente exitoso, à margem do controle norte-americano. Temia-se que o Vietnã pudesse infectar seus vizinhos, como a Indonésia, com seus ricos recursos. E que o Japão – que o destacado historiador da Ásia John Dower chamava de superdominó– pudesse acomodar-se a uma Ásia Oriental independente, transformando-se, com isso, em seu centro industrial e tecnológico, tornando realidade a nova ordem que o Japão fascista havia tentado construir pela força durante a II Guerra Mundial. Os Estados Unidos não estavam dispostos a perder a fase do Pacífico da II Guerra Mundial apenas poucos anos depois.

Quando se teme que o contágio possa se estender é preciso destruir o vírus e inocular aqueles que poderiam se infectar. E esta operação foi feita. O Vietnã sofreu uma quase total destruição (assim como toda a Indochina, quando os EUA estenderam sua guerra para o Laos e a Camboja). No fim de 1960, era evidente que nunca poderia ser modelo para ninguém e que a mera sobrevivência seria obra da providência. E a região foi inoculada por meio da imposição de tiranos assassinos: Suharto na Indonésia, Marcos nas Filipinas, etc. O golpe militar de Suharto, em 1965, foi particularmente importante, e foi descrito com toda precisão: o New York Times afirmou que se tratava de um “assassinato massivo horripilante” –e também como “um raio de luz na Ásia”–, em momentos em que o exército do ditador assassinava um número estimado em um milhão de pessoas, em sua maior parte camponeses sem terras; destruía o único partido político popular de massas do país, um partido dos pobres, como foi descrito pelo especialista australiano Harold Crouch, e abria a porta dos ricos recursos do país para sua exploração pelas corporações ocidentais. A euforia nem sequer foi dissimulada. Retrospectivamente, o assessor de segurança nacional de Kennedy e Johnson, McGeorge Bundy, afirmou que os Estados Unidos poderiam ter posto fim à guerra do Vietnã em 1965, depois desta grande vitória da liberdade e da justiça.

Os Estados Unidos conseguiram uma significativa vitória na Indochina, apesar de não terem conseguido seu objetivo máximo: instalar um Estado satélite. Por conseguinte, para a consciência imperial a guerra do Vietnã foi um desastre.

Como já disse, o Iraque é outra coisa. É valioso demais para ser destruído. É fundamental que permaneça sob o controle dos EUA, na medida de tudo o que for possível, em forma de Estado satélite obediente que abrigue importantes bases militares norte-americanas. Sempre foi evidente que este era o objetivo primordial da invasão, mas agora isso não precisa sequer ser discutido. Estes planos foram explicitados pelo governo Bush com sua declaração de novembro de 2007 e por afirmações posteriores, acompanhadas da descarada exigência de que as grandes corporações norte-americanas do petróleo tenham acesso privilegiado às enormes reservas de cru do Iraque.

Parece que o público norte-americano finalmente descobriu, depois de 60 anos, a existência do Paquistão. O general Musharraf é sincero quando afirma querer reconstituir a democracia em seu país? Concretamente, por que os Estados Unidos confiam em Musharraf mais do que em outros rivais potenciais, como Bhutto e Zardari, do PPP, Nawaaz Sharif, etc., em sua guerra contra o terrorismo e sua busca e captura de Bin Laden?

Chomsky: Não devemos perder tempo valorando as intenções de Musharraf de reconstituir a democracia. Os Estados Unidos apoiaram-no tanto tempo quanto possível, do mesmo modo que apoiaram outros tiranos, como Zia ul-Haq. A escolha de um determinado aliado é feita seguindo um critério muito simples: trata-se de buscar o satélite mais leal, aquele que mais nos garanta que vai obedecer ordens. Apesar de alguma exceção ocasional, a uniformidade é impressionante.

Recentemente, um relatório dos serviços secretos dos EUA afirmava que o Irã tinha finalizado com sucesso um programa de armas nucleares há quatro anos. O Irã afirma que, na verdade, nunca teve um programa deste tipo. Contudo, o presidente Bush, o presidente israelense Olmert e altos cargos de Washington garantem que o Irã continua sendo uma grande ameaça e que persegue a obtenção de armas nucleares. São sustentáveis estas opiniões dos EUA e Israel? E se não são, qual é a razão da retórica de enfrentamento com o Irã, e de que modo favorece a política exterior dos EUA na região do Oriente Próximo?

Chomsky: Estas afirmações deveriam ser avaliadas pela Agência Internacional de Energia Atômica. Eu, é claro, não tenho nenhum conhecimento especial. Não seria tão surpreendente que descobrissem que o Irã tem algum tipo de programa de armas nucleares, junto, talvez, com planos de emergência. As razões foram expostas por um dos mais importantes historiadores de Israel, Martin van Creveld, quando disse que o Irã estaria completamente louco se não desenvolvesse uma arma de dissuasão nuclear nas atuais circunstâncias: com as forças hostis de uma superpotência violenta em duas de suas fronteiras e uma potência regional hostil (Israel) que dispõe de centenas de armas nucleares clamando por uma mudança de regime no Irã. Contudo, as provas disponíveis indicam que se esse país já teve um programa assim, ele foi encerrado há alguns anos.

Da perspectiva norte-americana, o Irã cometeu um grave crime em 1979. Como é sabido, em 1953, os Estados Unidos e o Reino Unido desmantelaram a democracia parlamentar iraniana e instalaram um brutal tirano, o Xá, que foi um baluarte do controle norte-americano na rica região petrolífera até 1979, quando foi deposto após um levantamento popular. Tratava-se de um caso bastante parecido ao da derrocada do ditador Batista em Cuba, em 1959, e de outros atos de desafio exitoso aos princípios de Washington, segundo o termo cunhado em seus documentos internos. O Padrinho não pode tolerar um desafio exitoso. É uma ameaça grande demais ao que chamam de estabilidade, ou seja, à obediência aos senhores.

A independência iraniana não é um problema menor. Ameaça o controle norte-americano de um dos butins mais valiosos do mundo, o petróleo do Oriente Próximo. Como conseqüência, desde 1979 os Estados Unidos têm sido duramente hostis com o Irã. Washington respaldou o feroz e mortífero ataque de Sadam Hussein contra o Irã e, inclusive, uma vez terminada a guerra continuou apoiando esse aliado até o ponto de convidar engenheiros nucleares iraquianos para receberem formação avançada para o desenvolvimento de armas nucleares, em 1989. Mais tarde, promulgou graves sanções contra o Irã, ao mesmo tempo que lançava freqüentes ameaças de atacar esse país e derrocar seu governo.

E assim até hoje. Atualmente, 15 de junho de 2008, a agência de notícias Reuters informa o seguinte: “Os analistas estimam que se forem oferecidas ao Irã garantias de segurança –uma idéia lançada pela Rússia– seria possível sair do ponto morto atual, considerando que estas garantias constituem o objetivo fundamental do Irã, dada a política de Bush de mudança de regime referente a esse país. Mas os Estados Unidos afirmaram, no mês passado, que as grandes potências não tinham planos de compromisso em matéria de segurança com Teerã.”

Em poucas palavras, os EUA insistem em manter sua atitude de Estado fora da lei, rejeitando os princípios fundamentais do Direito Internacional, entre outros a Carta das Nações Unidas, que proíbe o uso da força nos assuntos internacionais. Bush conta com o apoio dos dois principais candidatos presidenciais de 2008 e com o das elites dos EUA e da Europa, ainda que não com o da opinião pública norte-americana, que apóia com grande margem a diplomacia e opõe-se às ameaças de guerra. Mas a opinião pública é, em grande medida, irrelevante na hora de elaborar as políticas, e não apenas neste caso.

A classe política, em toda sua amplitude e com raras exceções, está comprometida com a manutenção do controle norte-americano dos principais recursos energéticos do mundo, e com o castigo dos desafios exitosos. Por conseguinte, os EUA têm feito grandes esforços para mobilizar uma aliança contra o Irã entre os Estados sunitas da região, embora sem muito sucesso. As duas viagens de Bush para a Arábia Saudita, no início de 2008, foram, neste sentido, fracassos sem paliativos.

A imprensa saudita, normalmente muito comedida com os visitantes importantes, condenou as políticas propostas por Bush e pela secretária de Estado, Condoleezza Rice, como “não uma diplomacia em busca da paz, mas uma loucura em busca da guerra.” As monarquias do Golfo Pérsico não são amigas do Irã, mas aparentemente preferem acomodar-se e não entrar em confronto, o que constitui um duro golpe para as políticas norte-americanas. Washington está diante de problemas similares no Iraque e no Líbano. Em um segundo plano, existe uma preocupação mais profunda: que os países produtores de energia da região possam voltar-se para o Leste e, inclusive, que sigam o exemplo do Irã de estabelecer vínculos com a Organização de Cooperação de Shanghai (1), na qual a Índia, Paquistão e Irã participam como observadores, participação que foi negada a Washington.

O conflito entre sunitas e xiitas tem se agravado sensivelmente nestes últimos anos, especialmente no Iraque, devido à crescente insurgência e à guerra civil desatada pela queda de Sadam Hussein e o vazio de poder que seguiu. O senhor acha que esse conflito sunita-xiita pode se estender para todo o Oriente Próximo. Em caso afirmativo, como isso ocorreria, especialmente em países como Iraque, Irã e Líbano e em relação à guerra contra o terrorismo? Vamos testemunhar mais atos terroristas, mais extremismo e mais antiamericanismo, ou será que este “divide e vencerás” pode ajudar as forças norte-americanas e as políticas estrangeiras a pacificarem a região?

Chomsky: Segundo estudos sobre a opinião pública iraquiana, realizados pelo Pentágono, os conflitos sectários do Iraque não foram causados “pela queda de Sadam Hussein e o vazio de poder que seguiu”, senão pela agressão norte-americana. Se você me permite citar o resumo, publicado pelo Washington Post, dos documentos do Pentágono publicados em dezembro de 2007, ele afirma: “Iraquianos de todos os grupos sectários e étnicos acreditam que a invasão militar norte-americana é a raiz primordial das violentas diferenças entre eles e consideram que a saída das forças de ocupação é fundamental para a reconciliação nacional.”

Como eu já disse, os Estados Unidos não tiveram muito sucesso em sua inspiração de um conflito regional entre sunitas e xiitas, mesmo que as tensões entre eles sejam bem reais e inquietantes. A invasão do Iraque potencializou os atos de terrorismo muito mais do que teria sido possível pensar de antemão, ao ponto de que algumas estimativas, como as realizadas pelos especialistas em terrorismo Peter Bergen e Paul Cruickshank após a análise de cifras semi-oficiais, chegam a considerar que se multiplicaram por sete. O que vai acontecer a seguir depende, em larga medida, de quais sejam as políticas norte-americanas, apesar de que também há muitos fatores internos próprios desta complexa região.

No dia 20 de setembro de 2006, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, promoveu seu livro Hegemony or Survival: America's Quest for Global Dominance (2) na Assembléia Geral das Nações Unidas, e elogiou o senhor por demostrar que o maior perigo para a paz mundial, nestes momentos, são os Estados Unidos. Imediatamente, houve um grande alvoroço nos meios de comunicação. O senhor, por sua vez, recusou os pedidos de entrevistas porque, na sua opinião, os entrevistadores nem sequer haviam se incomodado em ler o livro e discutir seu conteúdo e estavam, em vez disso, à procura de sensacionalismo. Existe nos meios de comunicação norte-americanos um lugar para o jornalismo informativo e educativo e para a informação contrastada que não esteja tingida de sensacionalismo ou retórica promocional? O surgimento da Internet –os blogs, YouTube, os webzines, etc.– permite contrabalançar o que o senhor tem chamado de fabricação do consenso, consistente em que organismos poderosos, como as grandes corporações e o governo norte-americano, forneçam à mídia e ao público informação preparada, propaganda e meias-verdades adequadas?

Chomsky: Se eu tivesse que me limitar a um único jornal, escolheria o New York Times, apesar de já ter escrito centenas de páginas nas quais documento em detalhe suas falsas representações, distorções e cruciais omissões à serviço do poder. E faria essa escolha por sua importância e recursos superiores aos demais. Aprende-se muito com uma leitura atenta e crítica dos meios de comunicação dominantes, apesar de que existem outras fontes também valiosas. A Internet permite ter acesso a uma grande variedade de informação, opinião e interpretação. Mas, como qualquer outra fonte, é útil só com a condição de que seja utilizada de um modo discriminado e reflexivo. Os melhores biólogos não são aqueles que leram mais publicações técnicas de seu âmbito, mas aqueles que dispõem de um marco de compreensão que lhes permite selecionar o que pode ser significativo, mesmo que de resto um determinado documento tenha pouco valor. Este mesmo tipo de discernimento é necessário no estudo dos assuntos humanos.

Seus críticos –e há muitos deles– afirmam que sua retórica e ideologia parece um disco riscado: uma interminável ladainha e um monte de ataques repetitivos à política exterior norte-americana e às suas ações militares. Como o senhor responde aos críticos que afirmam que sua descrição da política exterior dos EUA é simplista e cínica? Os Estados Unidos são, realmente, um império do mal? Não existem casos em que a intervenção norte-americana ou a ajuda desse país tenha respondido a critérios altruístas, seguindo os ideais da Constituição?

Chomsky: Este tipo de crítica de que você fala tem sido feita aos dissidentes de quase todas as sociedades na história da Humanidade, ou seja, não se deve dar a mínima para elas. Se os críticos têm argumentos e provas, vou estudá-los com prazer, neste âmbito assim como em qualquer outro. Quando o único que há são crises de birra do tipo que você menciona, podemos descartá-las como novos exemplos daquilo que o criador da teoria das relações internacionais realistas, Hans Morgenthau, chamou “nossa conformista obediência àqueles que têm o poder”, referindo-se aos intelectuais norte-americanos –e aos ocidentais em geral–, apesar das eventuais excepções. Eu não respondo a estas acusações de que descrevo os Estados Unidos como um império do mal, porque esta acusação é uma montagem infantil feita por apologistas desesperados do poder estatal.

De fato, costumo insistir em que os Estados Unidos são como qualquer outro sistema de poder. É verdade que esta afirmação é intolerável para nossos nacionalistas, que insistem no excepcionalismo dos EUA, assim como é para os líderes políticos e as classes intelectuais em outros Estados poderosos, passados e presentes, com muita freqüência. Quanto ao caráter genuinamente altruísta das nossas intervenções, é difícil encontrar exemplos no passado, tal como a pesquisa histórica demonstra, mesmo que, é claro, cada intervenção seja apresentada como altruísta por parte de seus perpetradores, por mais monstruosas que sejam. A imagem é mais ambígua no que se refere à ajuda, mas não muito diferente quando observamos em detalhe, e se ajusta também a um universal histórico, como eu tenho dito.

Na sua opinião, o veto que a Universidade DePaul impôs à nomeação do professor Norman Finkelstein, devido à sua mordaz crítica e refutação do livro de Alan Dershowitz, ''Case for Israel'' é indicativa do clima de probidade e integridade intelectual nos Estados Unidos? Será que é um aviso aos acadêmicos e intelectuais que não se ajustam às consignas e questionam abertamente a ideologia que defendem os poderosos grupos de interesses e os lobbies? Ou será que é só um incidente isolado, que não tem outras implicações em relação ao ambiente intelectual pós 11 de setembro?

Chomsky: O comportamento da Universidade DePaul ao rejeitar a recomendação dos professores para a nomeação de Finkelstein foi, sem dúvida, deplorável, mas este caso não pode ser generalizado. Tem características específicas, especialmente o papel do desesperado e fanático professor da Faculdade de Direito de Harvard, Alan Dershowitz. Finkelstein demonstrou com impecável rigor acadêmico que Dershowitz é um difamador, um mentiroso e um vulgar apologista dos crimes do Estado que defende. Em um primeiro momento, Dershowitz removeu céu e terra para impedir a publicação do escrito de Finkelstein; após fracassar nisso, lançou uma cruzada histérica para tentar suprimir seu conteúdo. Não é um idiota e sabe que não pode responder em termos de fatos e argumentos, ou seja que recorreu àquilo que é habitual nele: uma seqüência de ataques e insultos e uma extraordinária campanha de intimidação, à qual, finalmente, sucumbiu a direção da Universidade, aparentemente por temor a uma eventual mobilização de seus patrocinadores.

Esta depravada atuação tem sido analisada com muito detalhe em publicações apropriadas, como Chronicle of Higher Education , e não vou me estender mais aqui.

É verdade que há iniciativas importantes para impedir um debate honesto e independente dos assuntos do Oriente Próximo, especialmente os relativos a Israel. Não obstante, este é um caso especial, que não tem nenhuma relação com o ambiente intelectual posterior ao 11 de setembro.

* Wajahat Ali é cidadão paquistanês e norte-americano, muçulmano, autor teatral, ensaísta, humorista e advogado, cuja obra The Domestic Crusaders (Os cruzados do interior) é a primeira obra teatral que trata dos muçulmanos norte-americanos no período posterior ao 11 de Setembro.

Notas:

(1) A Organização de Cooperação de Shanghai (OCS) é um organismo intergovernamental fundado em 14 de Junho de 2001 pela R.P. da China, Rússia, Kazaquistão, Kirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão, dedicado a assuntos de cooperação econômica, cultural e de segurança. (N. do T.)

(2) Hegemonia ou sobrevivência : Estats Units a la recerca do domini global, Editorial Empuries, 2004 (em catalão); Hegemonia ou sobrevivência: a estratégia imperialista dos Estados Unidos, Edições B, 2005 (em espanhol).

Tradução para o espanhol para Rebelión por S. Seguí
Tradução para o português: Naila Freitas/Verso Tradutores

sábado, 28 de junho de 2008

A luta continua....


Chapa da situação vence eleições do Cpers


A subcomissão eleitoral da eleição do 17º Núcleo do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (17º Cpers)
teve muito trabalho para a contagem manual dos mil e 11 votos feitos nas cidades de Bagé, Pinheiro Machado, Candiota, Hulha Negra, Aceguá, Dom Pedrito, Caçapava e Lavras do Sul.
O resultado da eleição que definiu a nova diretoria do Centro só foi conhecido por volta das 3h de sexta-feira, depois de um dia inteiro de apuração.
Com uma margem apertada, a chapa vencedora foi a 1 “Sindicato é para lutar”, encabeçada por Ana Lúcia Cabral, que era a atual presidente e deve liderar o sindicato por mais três anos. A chapa 1 teve 366 votos, contra 344 da chapa 2 “Educação já!”, liderada por Antônia Marlise Barreira e 270 da chapa 3 “Coerência e compromisso com a categoria”, de Delcimar Delabary Vieira. A votação ocorreu na última quarta-feira, durante todo o dia.
Ana Lúcia começou sua vida de sindicalista no movimento estudantil, no Diretório Acadêmico da faculdade, em Santa Maria. Também já fez parte da diretoria do Sindicato dos Professores e Funcionários de Estabelecimentos de Ensino Municipal (Sinprofem). A professora atua no Estado há 17 anos e há 19 no município.

As propostas da chapa vencedora

Chapa 1
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Sindicato é pra lutar – A categoria em primeiro lugar
Diretora: Ana Lúcia Cabral (atual diretora)
Vice-diretora: Odelcina Saldanha
Propostas:
- Manter as mobilizações que fizeram da sede de Bagé referência no Estado
- Manter a discussão sobre a desfiliação da Cut
- Fazer respeitar a gestão democrática, em questões como o plano de carreira da classe
- Defesa dos direitos, sem aceitar retrocessos, como as eleições para diretor e a permanência do 13º salário
- Manter as conquistas deste triênio, como realização de cursos e seminários, fazendo com que o próprio profissional conheça seus direitos
- Ampliar a participação da comunidade escolar
- Buscar a perícia local, para que trabalhadores doentes não tenham gastos com a viagem a Porto Alegre para realizar os procedimentos
- Reajuste salarial
- Respeito às decisões da categoria

Clara Becker











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