terça-feira, 12 de agosto de 2008

Professores gaúchos paralisam sexta-feira em defesa do piso salarial nacional do magistério


Professores e funcionários das escolas estaduais do Rio Grande do Sul paralisarão suas atividades por 24 horas na sexta-feira (15) e realizarão um ato em Porto Alegre, em defesa da implementação do Piso Salarial Nacional do Magistério. A concentração inicia às 13 horas em frente ao CPERS/Sindicato (Avenida Alberto Bins, 480). Uma hora depois, professores e funcionários caminharão até o Palácio Piratini. Segundo o CPERS, a suspensão do trabalho por um dia é uma resposta dos trabalhadores em educação contra a articulação do governo estadual contra itens do piso nacional do magistério sancionado no último dia 16 de junho. Professores das redes municipais de ensino também deverão participar da manifestação organizada pelo CPERS. O Conselho Geral do sindicato também aprovou a realização de audiências públicas nas Câmaras de Vereadores para avaliar a repercussão do piso. As audiências serão organizadas pelos 42 núcleos do sindicato distribuídos pelo estado.

Darwish, poeta Palestino


Morre Darwish, poeta da Palestina

(Al-Jazeera, 9/8/2008, em http://english.aljazeera.net/news/middleeast/2008/08/200889171240520492.html

Mahmoud Darwish morreu durante cirurgia cardíaca, no Hospital Memorial Hermann, no Texas. Ann Brimberry, porta-voz do hospital, informou aos jornalistas da rede Al Jazeera, que Darwish morreu às 13h35pm (18h35 GMT).

Siham Daoud, poeta e amiga de Darwish, 67, informou que o poeta deixara instruções expressas para não ser ressuscitado, caso a cirurgia não fosse bem-sucedida. Contou que Darwish chegara há 10 dias aos EUA para a cirurgia, e que já passara por duas operações cardíacas anteriores.
Conhecido em todo o mundo por seu empenho a favor da independência da Palestina, com longa experiência de exilado e de militante político, Darwish era crítico incansável da política de Israel e da ocupação da Palestina.


Muitos de seus poemas foram musicados - o mais conhecido destes é "Rita, aves da Galiléia" e "Sonho com o pão de minha mãe", que se tornaram hinos de resistência para pelo menos duas gerações de árabes.

"Ele manifestava a pulsação dos palestinenses, em bela poesia. Era um espelho da sociedade palestinense", disse Ali Qleibo, antropólogo palestinense, e conferencista de Estudos Culturais da Universidade Al Quds, em Jerusalém.

Ano passado, Darwish declamou um poema de protesto contra a luta entre os grupos Hamás e Fatah. Para ele, esta disputa seria "suicídio em público, pelas ruas."

Darwish nasceu na vila de Barweh, na Galiléia, uma das vilas que foi arrasada na guerra de 1948, para o estabelecimento do Estado de Israel. Alistou-se no Partido Comunista de Israel logo depois do ginásio, e começou a publicar versos em publicações políticas de esquerda.

Foi preso (prisão doméstica e depois foi encarcerado) por atividades políticas; depois de libertado trabalhou como editor do jornal Ittihad, que deixou, em 1971, para estudar na União Soviética.

Originalmente membro da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), Darwish desligou-se em 1993, em protesto contra os acordos de paz assinados por Arafat, com o governo de Israel.
Como jornalista, trabalhou no jornal al-Ahram no Cairo; mais tarde, foi diretor do Centro de Pesquisa Palestinense.


Em 2000, Yossi Sarid, ministro da Educação de Israel, sugeriu que se incluíssem alguns dos poemas de Darwish no currículo escolar das escolas secundárias israelenses. Ehud Barak, primeiro-ministro, impediu que o projeto fosse levado adiante, dizendo que Israel ainda não estaria preparada para a divulgação de tais idéias pelo sistema escolar.

Em 2001, Darwish recebeu o Prêmio Lannan, por sua luta pela liberdade cultural.
Leaves of Olives foi publicado em 1964; Darwish tinha 22 anos. Desde então, já se publicaram mais de vinte volumes de sua poesia.

O povo boliviano disse SIM!!!

Evo fica!

Ontem, às 20h30 min o presidente Evo Morales, acompanhado de seu vice, Álvaro Linera, falou ao povo que se aglomerava na Praça Murillo, desde o balcão do Palácio Queimado. Comemorou com as gentes a continuidade do seu mandato, respaldado por maioria massiva da população boliviana, mais de 63%. Em meio a bandeiras da Bolívia e do Tahuantinsuyo, os bolivianos saudaram o presidente que prometou dar seguimento ao projeto de mudanças e de nacionalizações iniciado com seu governo. "Vamos seguir com as nacionalizações e manter a Bolívia unida", insistiu.

Os resultados finais só serão conhecidos na quinta feira, mas os primeiros números de boca de urna ratificam nos seus cargos o Presidente Evo Morales e o seu vice com 63% de votos a favor, segundo cálculos que publicou a TV Bolívia em um boletim informativo.

De manter-se esta tendência a dupla Morales-Linera teria obtido mais de sete pontos percentuais dos 53,7% que precisavam, já que esta foi a votação na eleição presidencial de dezembro de 2005.

Nos resultados de boca de urna da revogatória dos prefeitos, José Luis Paredes, prefeito opositor de La Paz (oeste), foi revogado por um 60% dos votos pelo Não, contra um 40% dos sufrágios pelo Sim.

Manfred Reyes, prefeito opositor de Cochabamba (centro), foi revogado do seu cargo, por uma votação do 40% pelo Sim contra um 60% pelo Não.

Mários Cóssio, prefeito de Tarija (sul) obteve um 65% de votos pelo Sim, contra um 35% de votos pelo Não na consulta popular, que o ratificam no cargo.

Mário Virreira, prefeito de Potosí (sul), obteve 77% pelo Sim, e 33% pelo Não, o qual o ratifica no mandato como governante deste departamento.

Ernesto Suárez, prefeito de Beni (norte), obteve 72% por cento pelo Sim, e 28% pelo Não, o qual ratifica no seu mandato como governante deste departamento.

Leopoldo Fernández, prefeito de Pando (norte), obteve um 59% dos votos pelo Sim contra um 41% pelo Não, também ratificado em seu cargo.

Ruben Costas, prefeito de Santa Cruz (leste), foi ratificado em seu cargo, por uma votação do 79% pelo Sim, contra um 21% pelo Não.

Alberto Aguilar, prefeito de Oruro (sul-oeste), do oficialista partido Movimento al Socialismo (MAS), obteve um 42% dos votos pelo Sim contra um 50% pelo Não, o qual revoga seu mandato.


Santana - 1983 e 1985



1983 - Havana Moon

01. Watch Your Step

02. Lightnin'

03. Why Do You Love

04. Mudbone

05. One With You

06. Ecuador List

07. Tales Of Kilimanjaro

08. Havana Moon

09. Daughter Of The Night

10. They All Went To Mexico

11. Vereda Tropical


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1985 - Beyond Appearences

1.Breaking Out
2.Written in Sand
3.Brotherhood
4.Spirit
5.Right Now
6.Who Loves You
7.I'm the One Who Loves You
8.Say It Again
9.Two Points of View
10.How Long
11.Touchdown Raiders

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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Zeca Baleiro - Vô Imbolá (1999)




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Jogar fora não existe




Danilo Pretti Di Giorgi

Ouvi recentemente o economista Hugo Penteado, dono de um excelente blog, questionando a idéia de "jogar algo fora". Ele lembrou como temos o estranho costume de olhar o planeta como uma grande lata de lixo onde podemos descartar tudo. O "fora" na verdade não existe, se considerararmos que estamos todos "dentro" da Terra e que daqui não podemos sair, apesar dos delírios tecnológicos tão apreciados pelos que defendem a manutenção e até mesmo a ampliação dos níveis de produção e consumo atuais. Muito daquilo que produzimos e transformamos a partir dos recursos retirados do planeta vai continuar nos acompanhando na nossa caminhada.

Aquela garrafinha de PET - uma maravilha da engenharia que teria perfeitas condições materiais de continuar sendo reutilizada por muitos anos - não vai "desaparecer" dentro da lata de lixo depois de consumido seu conteúdo. Vai continuar presente, num lixão, testemunhando como nós a passagem do tempo, e por um período de tempo muito mais longo do que a duração de nossa vida.

Para quem consegue compreender a idéia da Terra como "nossa casa", é apenas uma questão de escala a diferença entre nossos lares e o planeta. Afora a questão do tamanho, não há maiores diferenças. O terreno onde está construída a casa onde moramos é limitado. É a mesma coisa com a nossa casa-planeta, o único lugar conhecido onde nossa espécie tem condições de sobreviver.

Mesmo assim, apenas uma minoria parece estar realmente preocupada com as conseqüências ambientais da sociedade do consumo, que a cada ano produz uma quantidade de lixo maior, sem nenhum tipo de cuidado de larga escala com o seu tratamento. É inacreditável que ainda se discuta a responsabilidade das indústrias sobre os resíduos dos produtos que fabricam. É incrível que se fale tão pouco em redução da produção e do consumo quando sabemos que nossos resíduos não desaparecem simplesmente quando o caminhão do lixo passa pela rua onde moramos. Na realidade o lixo desaparece apenas de nossas vistas.

É desesperador, por exemplo, se dar conta de que a maior parte da população mundial sequer tem conhecimento dos perigos ambientais representados pelo descarte inadequado de pilhas e baterias e que por isso milhares delas continuam se encaminhando diariamente aos lixões. Pior ainda é testemunhar que aqueles que têm acesso a essa informação e que têm sob sua responsabilidade a gestão pública não se dedicam a criar mecanismos sérios e efetivos para impedir que pilhas, baterias e outras fontes de venenos continuem contaminando irreversivelmente a terra e a água. Por que cuidamos tão bem das nossas casas e tão mal do nosso planeta?

É difícil responder a essa pergunta, mas não é preciso ser nenhum gênio para perceber que estamos cegos, de cara na lama. Esse chafurdar, porém, se disfarça bem porque acontece ao mesmo tempo em que estamos envoltos numa aura de "modernidade" (no sentido besta do termo), cada vez com acesso mais facilitado a aparelhos eletrônicos de desenho futurista, cheios de luzinhas que fazem muita gente acreditar que o máximo da sutileza e da capacidade criadora humana está nas linhas arrojadas ou no acabamento interno de um automóvel de "alto padrão" ou numa ampla cobertura localizada em "área nobre" da cidade, montada com o que há de melhor na indústria da decoração de interiores.

Os que não vivem essa realidade, ou seja, quase todos, se alimentam do sonho de um dia vir a vivê-la ou da chance de ter acesso a pelo menos alguns desses ícones do consumo. Transformamos-nos de cidadãos em consumidores. E com isso vamos consumindo o que resta do planeta, como cupins roendo lentamente as estruturas de um castelo que um dia virá abaixo.

Danilo Pretti Di Giorgi é jornalista.

E-mail: digiorgi@gmail.com

domingo, 10 de agosto de 2008

DriverMax 4.4 + Serial






Descrição: O DriverMax é uma ferramenta inteligente e muito fácil de ser usada. Funciona como se fosse uma espécie de backup, ele faz uma cópia dos seus drivers atuais e coloca em uma outra pasta, podendo assim, fazer uma reinstalação e tudo voltar a funcionar perfeitamente.
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Créditos:Marquevis

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Clássico de Bernardo Bertolucci



A Morte
(La Commare Secca)

Sinopse:

A morte (La commare secca, Bernardo Bertolucci, Itália, 1962)


À margem do rio Tibre, na periferia de Roma, é encontrado um corpo de uma prostituta assassinada. A polícia faz vários interrogatórios com uma série de suspeitos para tentar desvendar o caso. O policial, cujo rosto não aparece, sabe que cada um deles passara pelo parque Paolino, o último lugar que a prostituta se encontrava com vida. Cada um conta como foi seu dia até chegar ao parque na noite do assassinato. Primeiro um assaltante relata a sua história, depois um ex-condenado, um soldado, o homem dos chinelos de madeira e Pipito, um jovem carente da periferia. As histórias acontecem em flashbacks e são intercaladas com a prostituta acordando no fim da tarde com um temporal. Todos os relatos são divididos em antes e depois do temporal, que serve para marcar o início da noite. No final, a polícia descobre que um homossexual foi testemunha do assassinato e essa testemunha reconhece o assassino e ele é preso.



Informações sobre o Filme e o Release:

Gênero: Drama / Mistério
Diretor: Bernardo Bertolucci
Duração: 88 minutos
Ano de Lançamento: 1962
País de Origem: Itália
Idioma do Áudio: Italiano
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0055858/

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: XVID
Vídeo Bitrate: 943 Kbps
Áudio Codec: MP3
Áudio Bitrate: 94
Resolução: 592 x 352
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 700 Mb
Legendas: Em anexo


Premiações:

Ao atingir a maioridade, o cineasta italiano Bernardo Bertolucci ganhou a chance de dirigir seu primeiro longa-metragem com roteiro do mentor Pier Paolo Pasolini (1922-1975), amigo de seu pai, o grande poeta Atillio Bertolucci (1911-2000). A Morte (La Commare Secca,1962), que está sendo lançado pela Versátil Home Vídeo, é uma estréia desconcertante. Bertolucci, assistente de direção de Pasolini em Desajuste Social (Accatone, 1961), também lançado no Brasil pela Versátil, aproveitou bem essa experiência e retratou o submundo romano segundo o espírito pasoliniano, embora com um discurso surpreendentemente maduro para um garoto de 21 anos.

O argumento original de Pasolini elege a história da investigação do assassinato de uma prostituta num parque romano. Os suspeitos são cinco párias presentes na noite do crime: um cafetão, dois garotos prontos a extorquir dinheiro de um homossexual, um pequeno ladrão que surpreende casais em pleno ato sexual e um soldado sulista e provinciano flanando pela cidade grande. Desnecessário dizer que nenhum deles assume ter visto o crime, embora sejam todos potenciais criminosos. Essa é justamente a tese de Pasolini: não existem inocentes numa cidade que empurra seus deserdados para as margens. No centro, um corpo sem vida. Na periferia, apenas almas mortas.

O fascínio que exerciam sobre Pasolini os “ragazzi di vita”, ou seja, os vadios de Roma, não é dividido por Bertolucci, a despeito de sua compaixão pelos desajustados. Bertolucci, filho pródigo de grandes proprietários de terra na província, aponta o dedo para esses cinco suspeitos e não livra nenhum da culpa. Mesmo que o rufião Bustelli (Alfredo Leggi) não tenha cometido o crime, é um perverso delinqüente que explora miseráveis locatários de sua amante mais velha, igualmente usada. Vagabundo por vocação, Bustelli não difere muito do larápio que rouba casais ou dos dois meninos que seguem o homossexual atrás de dinheiro. O pequeno ladrão de Bertolucci, aliás, é parente não muito distante do marginal de Mamma Roma, que Pasolini rodava simultaneamente ao filme de seu pupilo.

Bertolucci, um cinéfilo desde os 15 anos, certamente conhecia o projeto do mestre, embora insista em afirmar até hoje que ignorava o clássico filme de Kurosawa, Rashomon (1950), ao iniciar as filmagens de La Commare Secca. Sua obra de estréia guarda impressionante semelhança com o filme japonês, sobre um estupro e um assassinato relatados segundo quatro diferentes pontos de vista. Não que isso diminua a importância e o impacto de La Commare Secca. Ao contrário. Uma comparação entre os dois explica como o Oriente se distancia do Ocidente em questões éticas. Se Kurosawa fala de uma verdade subjetiva impossível de virar objetiva, Bertolucci, ainda marcado pelo ímpeto juvenil, deixa-se seduzir ocasionalmente pelo cinismo de seus jovens marginais e sucumbe a uma solução legal provisória, ao localizar o autor do crime.

Evidentemente, trata-se de uma solução fácil, uma concessão, talvez sugerida pelo produtor Antonio Cervi, que teria preferido Pasolini na direção. Isso não compromete o resultado final de La Commare Secca, econômico na compacta montagem de Nino Baragli e na interpretação neo-realista de atores anônimos. Bem diferente do filme seguinte de Bertolucci, A Estratégia da Aranha - este mais próximo de uma alegoria política godardiana (ou glaube-rochiana)-, seu primeiro filme anuncia um esteta que valoriza cenas intimistas, aparentemente fora do contexto da história. A dança entre as duas adolescentes ante a recusa dos tímidos pretendentes é apenas um exemplo, repetido anos mais tarde numa seqüência antológica de O Conformista, em que Stefania Sandrelli dança com a bela Dominique Sanda.

Muitos anos antes de a Itália se curvar ao ideal da comunidade européia e ficar com vergonha de seus dialetos, abraçando um cosmopolitismo falso, Bertolucci já falava desses acanhados e inocentes provincianos, jovens moldados pela cultura de seus pais, aparentemente impermeáveis a modismos alienígenas. Eles parecem imunes a ideologias, mas, em verdade, são as primeiras vítimas da opressão econômica que se rendem a forças políticas reacionárias como o fascismo, quando obrigados a resistir às tensões do sistema.

O testemunho verbal dos suspeitos, repleto de mentiras, contrapõe-se ao flashback em que Bertolucci refaz o itinerário verdadeiro dos cinco investigados . Sua câmera passeia pelo escuro parque romano como se seguisse os passos de mortos sociais condenados ao Hades. Logo no prólogo, o corpo da prostituta assassinada (Wanda Rocci) justifica os sonetos blasfemos e obscenos escritos em dialeto romano por Giuseppe Giocchino Belli, poeta do século 19. Parece um corpo destituído de alma, como se a alienação do físico da prostituta acontecesse também numa dimensão espiritual.

Até o título original, La Commare Secca, diz respeito a essa personificação da morte como uma entidade viva de fundamental influência sobre a evolução humana. Se a Morte é uma figura simbólica no clássico filme de Bergman, O Sétimo Selo, jogando com um cavaleiro já condenado antes do primeiro lance, ela assume, no filme de Bertolucci, o papel de guardiã das chaves do inferno, como no clássico poema de Milton, O Paraíso Perdido. Ela não é a libertadora, mas o espectro que ronda a periferia romana. É ela que prevalece na imagem final da ‘comare secca’ gravada para sempre na pedra, lembrando que a figura imaginada na Idade Média como representação da morte (um esqueleto com robe) pode ser mais assustadora que o anjo caído criado pelo Senhor no primeiro dia.

Bertolucci já realizou outros 22 filmes desde La Commare Secca. Conheceu o sucesso com O Último Tango em Paris (1972), ganhou nove Oscars com O Último Imperador (1987) e tentou voltar à velha forma com Os Sonhadores (1983), seu balanço da geração 68. Mas jamais teve tanta liberdade como em La Commare Secca. É outro bom motivo para revisitar seu marco zero.

Crítica:

O filme conta a história do assassinato de uma prostituta não muito jovem através de inúmeros flashbacks que ocorrem nos depoimentos dos suspeitos, ao estilo de Rashomon, de Akira Kurosawa (Bertolucci afirma que não tinha visto o filme do japonês antes de filmar A morte). Vemos como um jovem assaltante foi parar no último lugar em que a prostituta fora vista com vida, e não só ele, mas todos os outros personagens suspeitos do assassinato. Aos 21 anos de idade, Bertolucci teve o desafio de filmar essa história, de Pier Paolo Pasolini – Bertolucci trabalhou como assistente de produção no bem sucedido Acattone, dirigido por Pasolini -, e fazer com que esse seu primeiro filme fosse parecido com os próprios filmes de seu mentor de cinema. Entretanto, ele tinha que unir essa tentativa de fazer um filme “pasoliniano” com o seu estilo próprio, que estava surgindo. Será que Bertolucci conseguiu?

Tendo muita liberdade criativa para dirigir o filme, Bertolucci optou por fazer muitos movimentos de câmera. Mesmo em momentos em que não há deslocamento de personagens a câmera se movimenta. De acordo com o diretor, ele quis mostrar que nunca estamos parados seja fisicamente ou psicologicamente, estamos em constante modificação e evolução, logo os movimentos de câmera aproximariam o espectador dos personagens em suas dúvidas, mentiras, tristezas e, é claro, movimentação física. Ele conseguiu esse efeito; entretanto, nem sempre os movimentos de travelling, panorâmica e zoom funcionam. Não é raro o momento em que a imagem fica embaralhada e confusa, beirando a tosquice. Além disso, em outros momentos a câmera treme muito, fica instável, parecendo um filme amador. Todavia, o dinamismo do dia dos suspeitos foi alcançado e, com isso, Bertolucci conseguiu mostrar seu estilo, diferenciando-se muito do estilo frontal-religioso do seu mentor Pasolini.

Bertolucci disse que quis mostrar, com o filme, o passar do tempo, o decorrer do dia de cada personagem e como suas vidas eram, chegando a dar muito mais importância a isso do que à solução assassinato em si. As cenas dos jovens Francolicchio e Pipito com duas moças são o principal exemplo disso: os jovens passando fome, as conversas despreocupadas, a célebre dança das duas moças quando os garotos estão com vergonha e, é claro, do ápice do flashback deles, quando eles vão atrás de um homossexual só para conseguirem dinheiro. Com isso, o diretor fez uma admirável crítica social. Ele mostrou como os jovens que estavam à margem da sociedade romana do início da década de 60 sofriam, e como essa sociedade estava se corrompendo aos poucos. E através dos outros personagens vemos que toda a periferia de Roma estava infectada com essa perda de valores (o cafetão bon-vivant; o soldado solitário, desabrigado e desesperado; o ladrão). O filme mostra inclusive, nas cenas em locações externas (o Coliseu, por exemplo) pessoas reais interagindo com personagens, dando até mesmo um aspecto documental do caráter do povo.

Sendo poeta, Bertolucci quis fazer não um simples filme narrativo, mas um filme lírico. Desde a seqüência de abertura do filme, em que vemos papel voando por áreas desoladas da periferia de Roma e o corpo da prostituta, à seqüência final, em que o assassino é capturado em um baile, percebe-se esse lirismo de Bertolucci. Um lirismo pessimista quanto ao futuro da gente humilde italiana. Essa “aura” que Bertolucci pôs em seu filme também pode ser vista na cena em que a prostituta acorda com um temporal, temporal esse que acontece no crepúsculo do dia e marca o início da noite, o início do fim. As intercalações dos flashbacks com os trechos dessa cena dão certo retorno no tempo, onde ele estaria parado, a calmaria, preparando-se para o grande acontecimento. A certa quebra de ritmo que ocorre funciona muito bem e só adiciona ao espírito poético do filme, a montagem ficou, portanto, muito boa, pois conseguiu transmitir o que o diretor pensou, tornando o lirismo imaginado por Bertolucci mais tangível ainda. O espectador consegue sentir o impacto daquela morte e como a sociedade está corroída e, na visão pessimista do diretor, sem uma solução aparente. Aspecto que também é ressaltado pela bela música de Piero Piccioni e Carlo Rostichelli, que tem uma melodia bonita, mas depressiva.

A morte, com todo o seu lirismo, sua crítica social e movimentos de câmera ousados e planos-seqüência interessantes, conseguiu, por isso, dar início à carreira do brilhante diretor Bernardo Bertolucci. O filme pode não ter sido um sucesso nas críticas italianas, que acharam o filme “pasoliniano” demais, mas a crítica internacional aclamou o filme, dizendo que era uma obra fantástica e que entraria para a história do cinema italiano. A crítica internacional estava corretíssima, e A morte é um filme que se tornou indispensável para quem quer entender e estudar o diretor italiano e a sociedade da época.


Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.

Créditos: Makingoff - Santoro


Downloads abaixo:

Arquivo anexado La_Commare_Secca.avi.torrent filme
Arquivo anexado commare.secca.la._1962_.pob.1cd._3307780_.zip legendas






sábado, 9 de agosto de 2008

O que é, afinal, a autonomia?



Elaine Tavares - jornalista


A Bolívia está de novo a arder. Há dias de um referendo histórico, a direita e a ultra esquerda se unem em uma série de protestos, o que mostra quão difícil é fazer mudanças radicais na vida das gentes. A grande questão que divide os bolivianos hoje é a da autonomia. Com a decisão da nova Constituição de estabelecer a autonomia para as comunidades indígenas, a elite branca das regiões mais ricas do país decidiu que também quer autonomia. Mas, afinal, o que diferencia uma autonomia (a dos povos originários) da que quer a elite branca? Talvez esse seja o nó que precisa ser compreendido e que quase ninguém explica.

Sem qualquer sombra de dúvida, o pano de fundo de toda essa guerra passa pela questão étnica, mas não só no que diz respeito ao aspecto cultural, folclórico. O problema é, fundamentalmente, político e econômico. Pois então vamos trilhar os caminhos da história para chegarmos até os conflitos de hoje.

Desde a invasão espanhola que os povos originários, vencidos, foram relegados a condição de gente de segunda classe. Por terem uma organização da vida completamente diferente da que foi trazida e imposta pelos invasores, sempre foram tachados de preguiçosos, inúteis, sub-raça, etc... Mesmo entre parte daqueles que se dizem seus defensores este mito subsiste e não é à toa que as idéias que hegemonizam as políticas indigenistas ou são integracionistas ou de isolamento tutelado.

O mexicano Hector Diaz-Polanco, num livro bastante revelador chamado “La cuestión étnico-nacional” dá uma visão clara destas correntes que hoje disputam as mentes e os corações das nações. A primeira delas é a da integração. Nesta, a idéia que vigora é a da completa irrelevância do modo de vida dos povos originários. Sua organização política, econômica e produtiva é considerada primitiva, atrasada, sem chance de vingar no mundo capitalista. Então, a melhor saída é a integração. Os originários adentram ao mundo branco, capitalista, e podem disputar um lugar ao sol na senda do progresso. Nada mais que a mesma lógica colonial na qual o que é diferente precisa ser eliminado. Já a outra corrente busca o isolamento dos povos em mundos idealizados e tutelados. O modo de vida dos povos autóctones é visto como algo a ser preservado e a ênfase fica calcada na questão cultural. Garante-se reservas protegidas pelo Estado e ali, os povos originários podem ser o que são, sem se contaminar pelo mundo capitalista.

Na verdade, tanto uma como a outra desconsidera e reduz o mundo originário. Uma como negação e a outra como idealização. As gentes autóctones, por mais segregadas que estejam em reservas protegidas, estão definitivamente mergulhados no mundo real, multi-étnico e multi-cultural do agora. A América Latina é hoje um espaço mestiço, misturado, de brancos, negros, originários, amarelos e azuis, regidos pelo sistema capitalista. Todas estas etnias reivindicam o direito de serem livres e autônomas, de construírem por si mesmas, neste espaço geográfico comum, em comunhão, a vida mesma. Pois é aí que entra o debate sobre autonomia.

A autonomia dos povos autóctones

Desde os anos 70 que a América Latina vem apresentando um movimento profundo das etnias subjugadas ao longo destes 500 anos. Encontros, congresso, debates e rodas de conversas foram se produzindo nas entranhas do continente envolvendo os povos originários e suas demandas. Eles saiam das sombras e passavam a reivindicar autonomia. O grande divisor de águas, foi, sem dúvida, o levante zapatista no México em 1994, fato que impulsionou toda uma retomada das lutas autóctones. Quando alguns autores vaticinavam o fim de todas as utopias, os chiapanecos, armados, tomavam cidades e lançavam seu grito: “Ya basta!”

Mas, então, o que é essa autonomia reivindicada pelos povos originários? Até onde ela ameaça realmente a idéia de Estado-nação? Até que ponto significa a balcanização do continente? Bom, no que diz respeito à maioria destes povos em luta, em nenhum sentido. A proposta dos zapatistas não é de destruir o México, ou separar-se do estado. É garantir ao seu povo, que conspira de uma outra forma de organizar a vida, o direito de fazê-la. É, na verdade, uma proposta que se contrapõe ao modo de produção capitalista e que busca a construção de outras experiências. É, principalmente, a tentativa de destruição desta forma de vida – o capitalismo - em que para que um viva outro precise morrer. A autonomia reivindicada pelos povos originários é a que lhes garanta o direito de organizar a vida do jeito que acreditam ser melhor, o que não significa retomar de forma acrítica o passado, mas de preservar aquilo que do passado pode ser preservado e avançar ainda mais no processo de construção de um mundo bom de viver, no qual possam estar em harmonia e igualdade de direitos com as demais etnias.

Por que então, esta proposta de autonomia é diferente da que quer a elite branca de Santa Cruz? Por que esta não reivindica separação. Esta quer o direito de autodeterminação que está em todos os documentos internacionais, que é o centro da doutrina Truman, que é o que cada nação reivindica para si. Porque os povos originários são aquilo que Lênin chamaria de “nações oprimidas”, ou seja, não têm direito a vida política e econômica dos seus países, são tutelados. E os ricos de Santa Cruz, desde quando não têm direitos? Desde quando são oprimidos? Pois nunca passaram por isso. Sempre foram os que mandaram na Bolívia e agora não querem saber de dividir o poder num espaço pluri-nacional.

É aí que parte da esquerda também se equivoca, ao unir suas forças contra a idéia do estado pluri-nacional, contra a autonomia dos povos originários. É quando mostra sua faceta racista, incapaz de perceber que as gentes autóctones também estão colocadas na condição de classe oprimida, portanto, parceiras na luta contra o capital. Este deveria ser o trabalho da verdadeira esquerda: juntar forças, estabelecer parcerias, unificar as lutas. Ao atuar na direção da garantia da autodeterminação e autonomia dos povos originários os trabalhadores organizados poderiam aumentar suas fileiras com aqueles que hoje estão fazendo as lutas mais esganiçadas na defesa dos recursos naturais e pela soberania dos povos. Exceto alguns grupos absolutamente minoritários, os povos originários de todo o continente não têm entre suas consignas a idéia de separação. O que querem é o direito de atuar politicamente no país e de garantir sua especificidade no jeito de organizar a vida.

É mais do que óbvio que isso constitui um problema para os governantes e para a maioria da população que está incluída no modo de produção capitalista. Mas este é o desafio a vencer. Estas são as batalhas para serem travadas agora. As de construção de um outro tipo de nação, capaz de garantir verdadeiramente direitos iguais a todos e não apenas a alguns, como tem sido. Conviver com a diferença, respeitar o outro e fundamentalmente fundar um novo modo de viver, esta é a proposta. Um modo de viver construído “desde abajo”, por aqueles que sempre estiveram à margem, excluídos da vida digna. Um modo de viver que não seja a inclusão no sistema que aí está, mas que permita o desalojamento de todas estas verdades cristalizadas de que o capitalismo é o melhor dos mundos. Neste mundo novo, anti-capitalista e anti-sistêmicos os autonomistas de Santa Cruz não querem viver. Por isso querem outra nação, por isso querem se separar. Eles não cabem no mundo novo. Mas a Bolívia é mais do que a elite predadora e vai ter de superar seus desafios.

É certo também que o governo de Evo Morales tem lá seus problemas e muitos são seus erros e equívocos, mas o que não dá para negar é que se está tentando revolver a velha forma de vida. E na comunhão com a maioria oprimida. Esse é um bônus que não dá para descartar. Os trabalhadores explorados, os informais, os mineiros, os brancos pobres, os amarelos, os azuis, todos aqueles que conformam a classe trabalhadora da Bolívia deveriam aceitar esse desafio. E fazer história, construindo um jeito novo de viver.

Art Blakey's Jazz Messengers - Ugetsu - 1963

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01.One By One
02.Ugetsu
03.Time Off
04.Ping-Pong
05.I Didn't Know What Time It Was
06.On The Ginza
07.Eva
08.The High Priest
09The Theme


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