domingo, 21 de setembro de 2008

O presente infindável



Frei Betto

No século XX, a arte cinematográfica introduziu um novo conceito de tempo. Não mais o conceito linear, histórico, que perpassa a Bíblia e, também, as obras de Aleijadinho ou Sagarana, de Guimarães Rosa. No filme, predomina a simultaneidade. Suprimem-se as barreiras entre tempo e espaço. O tempo adquire caráter espacial, e o espaço, temporal. No cinema, o olhar da câmara e do espectador passa, com toda a liberdade, do presente para o passado e, deste, para o futuro. Não há continuidade ininterrupta.

A TV, cujo advento ocorreu no fim da década de 1930, leva isso ao seu paroxismo. Frente à simultaneidade de tempos distintos, a única âncora é o aqui-e-agora do (tele)espectador. Não há durabilidade nem direção irreversível. A linha de fundo da historicidade - na qual se apóiam o relato bíblico e os paradigmas da modernidade, incluindo um de seus frutos diletos, a psicanálise - dilui-se no coquetel de eventos onde todos os tempos se fundem. Dercy Gonçalves está morta e, sobre sua tumba, os clipes a exibem viva, interpretando sua personagem irreverente e desbocada.

Aos poucos o horizonte histórico se apaga como as luzes de um palco após o espetáculo. A utopia sai de cena, o que permite aos filósofos da desgraça vaticinarem: "A história acabou". Ao contrário do que adverte Coélet, no Eclesiastes, não há mais tempo para construir e tempo para destruir; tempo para amar e tempo para odiar; tempo para fazer a guerra e tempo para estabelecer a paz. O tempo é agora. E nele se sobrepõem construção e destruição, amor e ódio, guerra e paz.

A felicidade, que em si resulta de um projeto temporal, reduz-se então ao mero prazer instantâneo, epidérmico, derivado, de preferência, da dilatação do ego (poder, riqueza, fama etc.) e dos "toques" sensitivos (ótico, epidérmico, gustativo etc.). A utopia é privatizada. Resume-se ao êxito pessoal. A vida já não se move por ideais nem se justifica pela nobreza das causas abraçadas. Basta ter acesso ao consumo que propicia valor e conforto: uma boa posição social, a casa na praia ou na montanha, o carro de luxo, o kit eletrônico de comunicações (telefone celular, computador etc.), as viagens de lazer. Uma ilha de prosperidade e paz imune às tribulações circundantes de um mundo movido à violência. O Céu na Terra - prometem a publicidade, o turismo, o novo equipamento eletrônico, o banco, o cartão de crédito etc.

Nem a fé escapa à subtração da temporalidade. O Reino de Deus deixa de situar-se "lá na frente" para ser esperado "lá em cima". Mero consolo subjetivo, a fé reduz-se à esperança de salvação individual.

Graças às novas tecnologias de comunicação, agora o tempo está confinado ao caráter subjetivo. Experimentá-lo é ter uma consciência tópica do presente. Se na Idade Média o sobrenatural banhava a atmosfera que se respirava e, no Iluminismo, a esperança de futuro justificava a fé no progresso, agora importa o presente imediato. Busca-se, avidamente, a sua perenização. Somos todos eternamente jovens, cultuamos o corpo como quem sorve o elixir da juventude. Morreremos todos saudáveis e esbeltos...

Pulverizam-se os projetos nesse tempo cíclico, onde no mesmo rio corre sempre a mesma água. Outrora, havia namoro, noivado e casamento. Agora, fica-se. Após anos de casado, pode-se voltar ao tempo de namoro e, de novo, ao de casado.

A destemporalização da existência alia-se à desculpabilização da consciência. Uma mesma pessoa vive diferentes experiências sem se perguntar por princípios éticos, políticos ou ideológicos. Não há pastores e bispos corruptos e utopias que resultaram em opressão? A TV não mostra o honesto de ontem pilhado na vigarice de hoje? O bandido não faz gestos humanitários? Onde a fronteira entre o bem e o mal, o certo e o errado, o passado e o futuro?

"Tudo que é sólido se desmancha no ar" irrespirável dessa pós-modernidade, cuja temporalidade fragmenta-se em cortes e dissolvências, close-ups e flash-backs, muitas nostalgias (vide a bossa nova) e poucas utopias.

Se há algo de positivo nessa simultaneidade, nesse aqui-e-agora, é a busca da interioridade. Do tempo místico como tempo absoluto. Tempo síntese/supressão de todos os tempos. Eis que irrompe a eternidade - eterna idade. Pura fruição. Onde a vida é terna.

Nas artes, música e poesia se aproximam, de modo exemplar, dessa simultaneidade que volatiliza o tempo, imprimindo-lhe caráter atemporal. Na música, nossos ouvidos captam apenas a articulação de umas poucas notas. No entanto, perdura na emoção a lembrança de todas as notas que já soaram antes. Em si, a melodia é inatingível, assim como o poema, uma sucessão rítmica de sílabas e palavras sutis. O que existe é a ressonância da nota e da palavra em nossa subjetividade. Então, a seqüência se instaura em nós. Não é o tempo fatiado em passado, presente e futuro. É o presente infindável. O tempo infinito. Como no amor, em que o cotidiano é apenas a marcação ordinária de uma inspiração extraordinária.

Frei Betto é escritor, autor de "A obra do Artista – uma visão holística do Universo" (Ática), entre outros livros.

Um (quase) desabafo do Azenha...

NA INTERNET, UM LEITOR VALE MAIS DO QUE 100 EDITORES

Luiz carlos Azenha

Estou passando mal de tanto ler e ouvir besteiras a respeito da crise econômica nos Estados Unidos.

Na CNN Internacional duas jornalistas (?) comemoravam a recuperação da bolsa de Nova York como se tivessem acabado de assistir a um filme com final feliz.

Nenhum contexto, nenhuma informação relevante além do óbvio.

Eu sei que o papel da mídia corporativa é o de disseminar propaganda como se fosse informação.

Eu sei que o nível de formação crítica dos jornalistas despencou mais que a Bovespa no início da semana.

Eu sei que o Jornalismo a serviço do crime organizado está colocando em risco uma das ferramentas mais importantes para o exercício de minha profissão, que é o sigilo de fonte.

Ainda assim eu fico surpreso com a absoluta incapacidade de 99% da mídia, inclusive de comentaristas experimentados, de dizer algo ou dar espaço a alguém que diga algo que fuja do óbvio e do convencional.

Será que o mercado financeiro chantageou os governos? Será que os grandes bancos poderiam ter se juntado aos governos para oferecer soluções? Ou eles deram no pé e deixaram a conta pendurada com os contribuintes?

São perguntas para as quais não se vê respostas na cobertura midiática.

Ainda bem que temos a internet. A lucidez, nessa hora, parece ficar por conta dos "amadores", como o N. Ramos, de Plano, no Texas, que deixou uma mensagem altamente recomendada por outros leitores do New York Times. Ele escreveu:

Esse Nenhum Banqueiro Deixado para Trás (piada com o programa governamental Nenhuma Criança Deixada para Trás) nada fará pela família média, que terá salários estagnados e menos renda disponível depois de pagar os custos mais altos de energia, alimentação, saúde e educação. Quem vai me salvar? Tenho dois filhos que vão se formar no ensino médio e nos perguntamos onde vamos conseguir dinheiro para pagar a faculdade. Empregos? Não conseguem encontrar. Nossos pequenos investimentos sumiram. Os Estados Unidos não têm dinheiro para a infraestrutura decadente, educação, saúde, mas encontraram dinheiro para salvar os bancos? Onde eles encontraram dinheiro se nossa dívida nacional está perto de U$ 15 trilhões !!! Nós, contribuintes, estamos sendo roubados e o futuro de nossas crianças destruído... Estamos a caminho de ser um país do terceiro mundo.

Não vi um artigo sequer, até agora, que lidasse com as preocupações do leitor cujo texto acabo de reproduzir. É espantoso constatar que o Jornalismo perdeu completamente a relação com os interesses do cidadão comum

Será que os jornalistas -- ou pelo menos os jornalistas que opinam -- perderam o contato com a realidade das pessoas comuns? Será que perderam a capacidade de empatia com os leitores, ouvintes e telespectadores?

Não sei exatamente o que é, mas tem alguma coisa muito errada aí.

Homenagem aos gauchos colorados...

mais socialismo na rede....

Seja Bem-vindo ao Projeto Democratização da Leitura e Filmes!

O PDL é uma das maiores referências de biblioteca virtual livre em língua portuguesa da internet, com um acervo alimentado por centenas de colaboradores em todo o mundo e uma história de 5 anos de existência. Todo os e-books são produzidos e geridos pelos próprios usuários, que fazem do site um grande centro de troca de novidades e discussões relacionadas à área. O acesso é livre e independe de registro ou qualquer forma de pagamento.


Ateus.net - Sitio que disponibiliza uma variedade de literatura e afins de autores (nem sempre) ateus...

DominioPublico.gov - Sitio do Ministério da Educação com literatura somente brasileira...mas em grande quantidade....

ElogioDoRevolucionario - Sitio com sinopses de filmes(ótimos) que direciona para o makingoff onde poderão ser compartilhados, muito bem organizados por temáticas...facilitando o encontro do que se busca....possui um fórum interessante nesse endereço





sábado, 20 de setembro de 2008

21 de setembro, Dia Internacional contra a Monocultura de Árvores...


Montanhas de papel. Crescente Injustiça from WRM on Vimeo.

Produzido pelo Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)

Os riscos para a saúde do plástico das garrafas

Cientistas britânicos analisaram as concentrações de bisfenol A na urina de 1455 adultos americanos, descobrindo que os maiores níveis deste químico estavam ligados a um aumento de 39% no risco de desenvolver diabetes, problemas cardíacos e anormalidades nas enzimas hepáticas.


Autoridades dos EUA mantêm confiança neste químico

O bisfenol A (BPA), um químico usado no fabrico de muitas embalagens, garrafas de plástico e latas de comida, pode estar ligado ao aumento da prevalência de problemas cardíacos, de diabetes e de anormalidades nas enzimas hepáticas. Esta é a conclusão de um estudo publicado esta semana no Journal of the American Medical Association (JAMA), mas as autoridades dos EUA mantêm a confiança neste composto, detectado no corpo de 90% dos americanos.

"Confiamos nos estudos que analisámos para dizer que a margem de segurança é adequada", disse Laura Tarantino, da Food and Drug Administration (FDA), o organismo encarregado de regulamentar que produtos podem ou não ser usados nos EUA. "Não recomendamos a ninguém que mude os seus hábitos ou mude a forma como usa estes produtos porque, neste momento, não temos provas que sugiram a necessidade de o fazerem", acrescentou. As autoridades europeias tinham chegado à mesma conclusão em Julho.

Os cientistas da Universidade de Exter, no Reino Unido, analisaram as concentrações de BPA na urina de 1455 adultos norte-americanos. Os resultados mostram que os maiores níveis de concentração estavam ligados a um aumento de 39% no risco de desenvolver diabetes e problemas cardíacos. Quando o grupo era dividido em quatro, segundo os níveis de BPA, verificava-se que aquele com a taxa mais elevada tinha um risco três vezes maior de doenças cardiovasculares que os que apresentavam menos concentração do químico. No caso da diabetes, o risco era 2,4 vezes superior.

O BPA é utilizado na produção de plástico policarbonato, um material transparente e resistente ao impacto. Mais de dois milhões de toneladas métricas deste químico, que imita a forma como o estrogéneo actua no corpo humano, foram fabricadas em 2003, havendo anualmente um aumento de seis a dez por cento na procura.

Apesar de reconhecer não haver problemas com esta substância, Tarantino deixou algumas sugestões para os consumidores que queiram limitar as quantidades de BPA que ingerem: evitem aquecer a comida nas embalagens de plástico, uma vez que o calor ajuda a libertar esta substância.

Mas a FDA é acusada, por parte de cientistas e grupos de protecção dos consumidores, de ignorar estudos feitos em animais. Alguns mostram que este químico, mesmo em doses reduzidas, pode provocar alterações no cérebro dos fetos e recém-nascidos, na próstata, nas glândulas mamárias e modificar a idade de puberdade das fêmeas.

Fonte:Ecoblogue

Brand Upon The Brain!


Brand Upon The Brain!
(Brand Upon The Brain!)
Brand.Upon.the.Brain.2006.DVDRip.XviD-VoMiT

Créditos:

makingoff - seu saraiva

Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.

Sinopse:


O jovem personagem Guy Maddin é marcado pela convivência com a mãe protetora e tirânica e o pai cientista, que trabalha secretamente no porão. Guy passa seus dias pouco estimulantes numa misteriosa ilha, acompanhado da irmã adolescente. Seus amigos são crianças abandonadas que vivem num orfanato. Depois que os pais, que recentemente adotaram algumas delas, começam a perceber feridas nas cabeças de seus filhos, chegam à ilha os detetives mirins Wendy e Chance Hale. Enquanto a investigação avança, os garotos são guiados para as mais sombrias regiões da revelação e da opressão. A busca perde perigosamente o controle quando terríveis segredos da família de Guy são revelados. Fonte.


Informações sobre o filme e release:

Gênero: Drama / Fantasia / Ficção
Diretor: Guy Maddin
Duração: 98 minutos
Ano de Lançamento: 2006
País de Origem: EUA / Canadá
Idioma do Áudio: Inglês
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0443455/

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 867 Kbps
Áudio Codec: MPEG-1 Layer 3
Áudio Bitrate: 126
Resolução: 544x304
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 17.982 FPS
Tamanho: 716 Mb
Legendas: Em anexo


Elenco:

Gretchen Krich (Mother)
Sullivan Brown (Young Guy Maddin)
Maya Lawson (Sis)
Katherine E. Scharhon (Chance Hale / Wendy Hale)
Todd Moore (Father)
Andrew Loviska (Savage Tom)
Kellan Larson (Neddie)
Erik Steffen Maahs (Older Guy Maddin)
Cathleen O'Malley (Young Mother)
Clayton Corzatte (Old Father)
Susan Corzatte (Old Mother)
Megan Murphy (Murderous Sister)
Annette Toutonghi (Murderous Sister)
David Lobo (Oarsman)
Eric Lobo (Oarsman)

Premiações e curiosidades:

*Participou da Seleção Oficial dos Festivais de Berlim, Toronto e Nova Iorque.

*Na 31ª Mostra de Cinema de São Paulo, o filme ganhou uma exibição multimídia, com música e narração ao vivo, com a voz de Marília Gabriela.

*Trata-se de um 'filme-espetáculo', onde em várias apresentações, contou com música e narração ao vivo.

Crítica:

O cineasta canadense Guy Maddin criou para uma linguagem particular, uma assinatura própria, extraída do próprio passado do cinema, do fascínio dos filmes mudos, especialmente do expressionismo alemão. Para dar um brilho especial ao seu novo filme “Brand Upon the Brain!”, a seção Fórum do 57º Festival de Berlim preparou um evento especial, com projeção no palco do Deutsche Oper Berlin, a Ópera de Berlim, com a Orquestra Volkswagen (com 34 músicos), direção musical do maestro Jason Staczek, mais três sonoplastas de um estúdio de som norte-americano (Foley Artists), e a eletrizante narração da atriz e diretora italiana Isabella Rossellini.

O espetáculo era aguardado como o principal acontecimento do festival. A previsão se confirmou no último dia 15 de fevereiro com a Ópera de Berlim lotada e uma estrondosa ovação a Guy Maddin. O cineasta canadense teve retrospectiva completa de sua obra na 28ª Mostra Internacional de Cinema. “Brand Upon the Brain!” recria com paixão toda linguagem de urgência de um filme mudo expressionista, um terror sofisticado e cheio de maneirismos.

O fascínio pelo passado está também na história original do filme. Um menino que se chama Guy como o diretor, vive prisioneiro em uma ilha com um farol. É uma ilha que isola muitas outras crianças órfãs.

Guy Maddin reinventa uma linguagem e segue único na recriação de um gênero que nos brinda com toda a atmosfera e as riquezas de expressão que explodiram com o próprio nascimento do cinema. Como se não bastassem todos os restauros de antigos filmes mudos que anualmente fazem a alegria dos cinéfilos, temos também Guy Maddin com o seu atrevido cinema que lança ainda mais luz sobre esta fascinante e assombrosa magia. Não por acaso, todos os seus personagens em “Brand Upon the Brain!” são afetados pelos enigmas do passado. Decifrá-los irá significar liberdade. Guy Maddin e seus personagens alcançam esta plenitude decodificando a rica linguagem do cinema dos pioneiros. Fonte.

Downloads abaixo:

Arquivo anexado Brand.Upon.the.Brain.2006.DVDRip.XviD_VoMiT.3831723.TPB.torrent
Arquivo anexado legenda.rar

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Bolivia...

Assistam esse vídeo, que não é mostrado pelo PIG brasileira(globo e afilhadas, e demais estações abertas). Em espanhol mas com imagens de campesinos que sobreviveram ao massacre executado por paramilitares fascistas e sicários peruanos e brasileiros, contratados pelo governador Leopoldo Fernandez.


O papel de bom, à custa de quem?



O líder da Revolução cubana, Fidel Castro, afirmou que a crise econômica que atinge os Estados Unidos – e como conseqüência os demais povos do mundo – não tem resposta definitiva; no entanto, ele diz que o mesmo não se pode dizer sobre os desastres naturais que atingiram a Ilha e todas as tentativas de colocar um preço sob a dignidade dos cubanos.


Num artigo intitulado “O papel de bom, à custa de quem?”, divulgado nesta quinta-feira (17), Fidel Castro destaca que quando o governo dos Estados Unidos ofereceu hipocritamente US$ 100 mil como ajuda frente à catástrofe ocasionada pelo furacão Gustav, com prévia inspeção no local para comprovar os estragos, foi-lhe respondido que Cuba não poderia aceitar doação alguma do país que a bloqueia.


Leia abaixo a íntegra do novo artigo, reproduzido pela Agência Prensa Latina:


O papel de bom, à custa de quem?


Quando o governo dos Estados Unidos ofereceu hipocritamente US$ 100 mil como ajuda frente à catástrofe ocasionada pelo furacão Gustav com prévia inspeção no local para comprovar os estragos, foi-lhe respondido que Cuba não poderia aceitar doação alguma do país que a bloqueia; que os estragos já tinham sido calculados e o que reclamávamos era que não fosse proibida a exportação dos materiais indispensáveis e os créditos associados às operações comerciais.


Alguns no Norte se esgoelaram gritando que a rejeição de Cuba era inconcebível.


Quando o Ike poucos dias depois açoitou o país desde Punta de Maisí ao Cabo de San Antonio, os vizinhos do Norte foram um pouco mais hábeis. Amenizaram a linguagem. Falaram de aviões prontos para partir com produtos no valor de US$ 5 milhões; que não teriam a necessidade de serem avaliados, porque já o haviam feito por seus próprios meios, que não podem ser outros que os de espiar o nosso país. Desta vez sim, pensaram, que poriam a Revolução em aperto; se atreveriam a recusar a oferta, buscariam problemas com a população? Talvez pensaram que ninguém havia visto as imagens divulgadas pela televisão dos Estados Unidos quando as forças de ocupação da ONU distribuíam alimentos no Haiti à população faminta que os disputava através de uma cerca de arame farpado, dando lugar inclusive a crianças feridas.


A fome nesse país é fruto do saque histórico e sem piedade dos povos. Ali mesmo, em Gonaïve, nossos médicos arriscavam sua vida assistindo à população dessa cidade, bem como o fazem em quase cem por cento dos municípios dessa nação. Essa cooperação prossegue ali como em dezenas de nações do mundo, apesar dos furacões. À nova e astuta nota foi respondido categoricamente que: “nosso país não pode aceitar uma doação do governo que nos bloqueia, ainda que está disposto a comprar os materiais indispensáveis que as empresas norte-americanas exportam aos mercados, e solicita a autorização para o fornecimento dos mesmos, bem como dos créditos que são normais em todas as operações comerciais''.


“Se o governo dos Estados Unidos não o deseja fazer definitivamente, o de Cuba solicita que ao menos o autorize durante os próximos seis meses, especialmente se levam em conta os estragos ocasionados pelos furacões Gustav e Ike, e que ainda faltam os meses mais perigosos da temporada ciclônica”.


Não foi feita com arrogância, porque não é o estilo de Cuba. Na própria nota pode-se apreciar como se expressava com modéstia a idéia de que para nós bastava que a proibição fosse suspendida por um limitado período de tempo.


O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Carlos Gutiérrez, descartou na sexta-feira (12) que o bloqueio fosse levantado de forma temporária.


É óbvio que o governo desse poderoso país não pode compreender que a dignidade de um povo não tem preço. A onda de solidariedade com Cuba, que abarca países grandes e pequenos, com recursos e até sem recursos, desapareceria no dia em que Cuba deixasse de ser digna. Equivocam-se rotundamente os que em nosso país se desagradem por isso. Se em vez de cinco milhões fosse um bilhão, encontrariam a mesma resposta. O dano em milhares de vidas, sofrimentos e mais de US$ 200 bilhões que custaram o bloqueio e as agressões ianques, não podem ser pagas com nada.


No relatório oficial parcial foi explicado ao povo que em menos de dez dias o país havia sido afetado em mais de US$ 5 bilhões. Mas também foi explicado que essas cifras eram a preços históricos e convencionais, que nada tinham que ver com a realidade. Não deve ser esquecida nunca a explicação bem clara de que “os cálculos das perdas em moradias são sobre a base de preços históricos e convencionais, e não os valores reais a preços internacionais. Basta assinalar que para dispor de uma moradia duradoura que resista aos mais fortes ventos, requer-se um elemento indispensável que escasseia muito: a força de trabalho. Esta é igualmente necessária para um conserto temporário como para uma construção duradoura. Dita força tem que ser repartida em todos os demais centros de produção e serviços, alguns significativamente afetados, pelo o que o valor real de uma moradia no mundo e a amortização do investimento correspondente é muitas vezes maior.”


O golpe da natureza foi contundente, mas também é alentador saber que não haverá trégua nem descanso em nossa luta.


A crise econômica que atinge os Estados Unidos, e como conseqüência os demais povos do mundo, não tem resposta definitiva; no entanto, sim a têm os desastres naturais em nosso país e toda tentativa de pôr preço a nossa dignidade.


Fidel Castro Ruz
16 de setembro de 2008

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma guerra que começou há muito tempo


Os conflitos que a Bolívia enfrenta hoje são uma nova etapa de uma antiga guerra. A história do país é uma história de massacres de indígenas, camponeses e trabalhadores, desde os tempos coloniais até hoje. A diferença, hoje, é que a oligarquia boliviana está sendo governada por um "índio", algo inaceitável para ela. Clique AQUI para ler o artigo do economista boliviano Ramiro Lizondo Diaz, professor da Universidade Autônoma de Barcelona.