sábado, 29 de novembro de 2008

América Latina está deixando de ser quintal dos EUA

Uma das principais mudanças na ordem mundial está sendo vivida agora na América Latina, diz Noam Chomsky, em entrevista. Para ele, a região está começando a superar seus problemas internos e sua subordinação em relação aos EUA. O linguista e pensador americano acredita que a crise atual traz oportunidades de mudanças reais na ordem mundial. ''Até onde essa mudança pode chegar, isso depende daquilo que estamos dispostos a empreender''.


Pelo desmonte da mitologia


A Agencia de Prensa Alternativa Humanista “Sur” (Apah), da Bolívia, entrevistou Noam Chomsky sobre o desenrolar da crise econômica atual. Reproduzimos, aqui, a entrevista, onde Chomsky defende a necessidade de desmontar algumas mitologias relacionadas à crise, destaca o novo papel que a América Latina vem desempenhando no mundo e aponta a abertura de uma janela de oportunidades para mudanças na atual ordem político-econômica global.


Apah: Como explicar que, apesar de muita gente ter visto a crise se aproximando, aqueles que estavam na liderança dos governos e das economias não se mostraram preparados para enfrentá-la?

Noam Chomsky: As bases para a crise eram previsíveis. Um fator constitutivo da liberalização financeira é que haverá crises freqüentes e profundas. De fato, desde que a liberalização financeira foi instituída há cerca de 35 anos, estabeleceu-se uma tendência a incrementar a regularidades crises, e crises cada vez mais profundas. As razões são intrínsecas e entendidas: têm a ver fundamentalmente com as bem conhecidas ineficiências dos mercados. Assim, por exemplo, se você e eu fazemos uma transação, digamos que me vende um automóvel, podemos fazer um bom negócio para nós mesmos, mas não consideramos o efeito sobre os outros.
Se eu compro um automóvel, aumenta o uso da gasolina, aumenta a contaminação, o congestionamento, etc. Mas não levamos em conta esses efeitos. Isto é o que os economistas chamam de externalidades, que não são consideradas nos cálculos do mercado.


Estas externalidades podem ser enormes. No caso das instituições financeiras, são particularmente grandes. A tarefa de uma instituição financeira é assumir riscos. Se é uma instituição financeira bem administrada, digamos, a Goldman Sachs, ela considerará os riscos para si própria, mas a expressão crucial aqui é “para si própria”. Não leva em conta os riscos sistêmicos, os riscos para o conjunto do sistema se a Goldman Sachs tiver uma perda substancial.


Isso significa que esses riscos são subestimados. Assume-se mais riscos do que se deveria tomar em um sistema eficiente que leva em conta todas as implicações. Assim, esta fixação errônea de preços se integra simplesmente como parte do sistema do mercado e da liberalização das finanças.


Como conseqüência dessa subestimação de riscos, estes passam a ser mais freqüentes e quando há fracassos, os custos são mais altos que o esperado. As crises passam a ser mais freqüentes e mais graves à medida que o alcance e o volume das transações financeiras aumentam. Tudo isso se amplifica ainda mais pelo fanatismo dos fundamentalistas do mercado que desmontaram o aparato regulador e permitiram a criação de instrumentos financeiros exóticos e opacos.


É um tipo de fundamentalismo irracional porque fica claro que o enfraquecimento de mecanismos regulatórios em um sistema de mercado incorpora um risco de crise desastrosa. Trata-se de atos sem sentido, salvo para o interesse no curto prazo dos senhores da economia e da sociedade. As corporações financeiras podem, e conseguiram, colher enormes lucros no curto prazo ao empreender ações extremamente aventuradas, incluindo especialmente a desregulação, que trazem dano à economia em geral, mas não para elas, ao menos no curto prazo que é o que orienta o seu planejamento.


Não se podia prever o momento exato de uma crise severa, nem se podia prever o alcance exato da crise, mas era óbvio que ela viria. De fato, ocorreram crises sérias e repetidas durante este período de desregulação crescente. Só que até agora não tinham golpeado tão duramente o centro da riqueza e do poder, mas sim, sobretudo, os países do chamado terceiro mundo.


Vejamos o caso dos Estados Unidos. É um país rico, mas para uma maioria substancial da população, os últimos trinta anos provavelmente figuram entre os piores da história econômica norte-americana. Neste período, não ocorreram crises massivas, grandes guerras, depressões, etc. No entanto, os salários reais permaneceram praticamente estancados para a maioria durante trinta anos.
Para a economia internacional, o efeito da liberalização financeira foi bastante daninho. Líamos na imprensa que os últimos trinta anos, os do neoliberalismo, mostraram o maior decréscimo da pobreza na história do mundo, um enorme crescimento, etc. Há algo de verdade nisso, mas o que falta dizer é que a diminuição da pobreza e o crescimento ocorreram em países que não seguiram as regras neoliberais, como ocorreu no leste asiático. E os países que observaram tais regras sofreram gravemente, como ocorreu na América Latina.

Apah: Joseph Stiglitz escreveu recentemente que esta última crise marca o fim do neoliberalismo. Chávez, durante uma coletiva de imprensa, disse que a crise poderia ser o final do capitalismo. Qual dos dois está mais próximo da verdade?

Chomsky: Em primeiro lugar, devemos ter claro que o capitalismo não pode terminar porque nunca começou. O sistema no qual vivemos deve ser chamado de capitalismo de Estado, não simplesmente capitalismo. No caso dos Estados Unidos, a economia se apóia muito fortemente no setor estatal. No momento, há muita angústia sobre a socialização da economia, mas isso é uma grande brincadeira. A economia avançada de alta tecnologia e similares sempre dependeu amplamente do setor dinâmico da economia estatal. É o caso da informática, da internet, da aviação, da biotecnologia, quase tudo o que está à vista.


O Massachusetts Institute of Technology (MIT), de onde estou falando, é uma espécie de funil no qual o setor público despeja o dinheiro e de onde sai a tecnologia do futuro, que será entregue ao poder privado para que saquem os lucros. Então, temos um sistema de socialização dos custos e riscos e privatização dos lucros. Isso não ocorre somente no sistema financeiro, mas em toda economia avançada.
De modo que, para o sistema financeiro, provavelmente o resultado será mais ou menos o descrito por Stiglitz. É o final de uma certa era da liberalização financeira conduzida pelo fundamentalismo de mercado. O jornal Wall Street Journal lamenta que Wall Street, tal como a conhecemos, tenha desaparecido com a derrocada da banca de investimentos.


Alguns passos serão dados na direção da regulação. Isso é certo. No entanto, as propostas que estão sendo formuladas, por mais extensas e severas que sejam, não mudam a estrutura das instituições básicas subjacentes. Não há nenhuma ameaça ao capitalismo de Estado. Suas instituições fundamentais seguirão sendo as mesmas, talvez, inclusive, sem grandes sacudidas. Elas podem ser reacomodadas de várias maneiras. Alguns conglomerados podem absorver outros, alguns podem ser semi-nacionalizados tibiamente, sem que isso afete fortemente o monopólio privado da tomada de decisões.


No entanto, do jeito que vão as coisas, as relações de propriedade e a distribuição de poder e riqueza não mudarão significativamente, embora a era do neoliberalismo, vigente há uns trinta e cinco anos, seguramente será modificada de maneira significativa. Diga-se de passagem, ninguém sabe o quão grave essa crise poderá se tornar. Cada dia traz novas surpresas. Alguns economistas estão prevendo uma verdadeira catástrofe. Outros pensam que ela pode ser consertada, com um transtorno modesto e uma recessão, que provavelmente será pior na Europa do que nos Estados Unidos. Mas ninguém sabe ao certo.

Apah: Na sua avaliação, veremos algo parecido com a depressão, com pessoas sem trabalho fazendo grandes filas para conseguir alimentos, nos Estados Unidos e na Europa? E, se isso ocorrer, veremos uma grande guerra para repor as economias em pé, uma terapia de choque ou algo tipo?

Chomsky: Não acredito que a situação seja comparável com o período da grande depressão, ainda que haja algumas semelhanças com essa época. Os anos 20 também foram um período de especulação selvagem e de uma enorme expansão de crédito e empréstimos, com a criação de uma enorme concentração de riqueza em um setor muito pequeno da população e a destruição do movimento sindical. Deste ponto de vista, há semelhanças com o período atual. Mas também há muitas diferenças. Existe um aparato muito mais estável de controle e regulação, resultante do New Deal, e ainda que tenha se enfraquecido, boa parte dele permanece intacto.


Além disso, há a compreensão de que os tipos de políticas, vistas como extremamente radicais no período do New Deal, hoje são mais ou menos normais. Assim, por exemplo, no recente debate presidencial dos EUA, John McCain, o candidato da direita, propôs medidas tomadas do New Deal para enfrentar a crise da habitação. Então, há a compreensão de que o governo deve assumir um papel importante na gestão da economia e, de fato, os setores avançados da economia já vivem essa experiência há cerca de 50 anos.


Muito do que se lê sobre isso é pura mitologia. Por exemplo, lemos que a crença apaixonada de Reagan no milagre dos mercados agora está sendo atacada. Atribuiu-se ao ex-presidente o papel de Grande Sacerdote da fé nos mercados. De fato, Reagan foi o presidente mais protecionista da história econômica estadunidense do pós-guerra. Ele aumentou as barreiras protecionistas mais que todos os seus precursores juntos. Convocou o Pentágono a desenvolver projetos para treinar administradores norte-americanos nos métodos avançados de produção japoneses. Ele também operou um dos maiores salvamentos bancários da história norte-americana e conformou um conglomerado baseado no Estado para tratar de revitalizar a indústria de semi-condutores. De fato, ele acreditava em um governo poderoso, de intervenção radical na economia. Quando digo “Reagan” refiro-me a sua administração. O que ele acreditava sobre tudo isso, se é que acreditou em algo, realmente não sabemos e isso não é muito importante.


Há muita mitologia que precisamos desmontar, incluindo aí o que diz a respeito do grande crescimento e da redução da pobreza. Nos próprios Estados Unidos, quando se aplicaram as regras neoliberais, os resultados foram bastante daninhos para a maioria da população. Olhando para além da mitologia, podemos perceber que uma economia capitalista de Estado que, particularmente desde a Segunda Guerra Mundial, dependeu muito fortemente do setor estatal, agora está voltando a depender do Estado para o manejo do sistema financeiro que está desmoronando. Por enquanto, não há sinais de que se produzirá algo parecido com o que ocorreu em 1929.

Apah: Então, você não considera que estamos nos encaminhando para uma mudança na ordem mundial?


Chomsky: Bom, há mudanças muito significativas na ordem mundial e esta crise talvez contribua para isso. Mas elas estão aí há algum tempo. Uma das principais mudanças na ordem mundial está sendo vivida agora na América Latina. Costuma-se dizer que a América Latina é o quintal dos EUA e que, há muito tempo, é uma região controlada pelos EUA. Mas isso está mudando. Em meados de setembro tivemos uma ilustração dramática disso.


No dia 15 de setembro, ocorreu uma reunião da Unasul, a União das Nações Sul-americanas, da qual participaram todos os governos sul-americanos, incluindo a Colômbia, atual favorito dos EUA na região. A reunião foi realizada em Santiago, Chile, outro favorito dos EUA. Dela, saiu uma declaração muito contundente de apoio a Evo Morales, da Bolívia, e de rechaço aos setores quase-secessionistas deste país, que contam com o apoio dos Estados Unidos.


Há uma luta muito significativa na Bolívia. As elites estão se mobilizando pela autonomia e mesmo pela secessão, gerando fortes níveis de violência com a evidente concordância dos EUA. Mas as repúblicas sul-americanas assumiram uma postura firme, em apoio ao governo democrático. A declaração foi lida pela presidente Bachelet, do Chile, uma favorita do Ocidente. Evo Morales respondeu agradecendo aos presidentes pelo apoio e assinalou, corretamente, que esta era a primeira vez em 500 anos que a América Latina havia tomado seu destino em suas próprias mãos, sem a interferência da Europa nem, sobretudo, dos EUA.

Esse é um símbolo de mudança muito significativo que está em curso, às vezes chamado de “maré rosada”. Foi tão importante que não foi reportado pela imprensa dos EUA. Há uma frase aqui, outra ali, que registra que algo aconteceu, mas suprimiram totalmente o conteúdo e a importância do que ocorreu.

Isso é parte de um processo de longo prazo, no qual a América do Sul está começando a superar seus enormes problemas internos e também sua subordinação ao Ocidente, principalmente em relação aos Estados Unidos. A América do Sul também está diversificando suas relações com o mundo. O Brasil tem relações cada vez maiores com a África do Sul, a Índia e, particularmente, a China, país cada vez mais envolvido com investimentos e intercâmbios com países latino-americanos. São processos extremamente importantes, que agora estão começando a chegar também na América Central. Honduras, por exemplo, era a clássica república bananeira. Serviu de base para as guerras do terror perpetradas por Reagan na região e subordinou-se totalmente aos EUA. Mas Honduras somou-se recentemente a ALBA, a Alternativa Bolivariana para os Povos da América, proposta pela Venezuela. É um pequeno passo, mas não deixa de ser muito significativos.

Apah: Você acha que estas tendências na América do Sul, como Alba, Unasul e os grandes acontecimentos na Venezuela, Bolívia e outros países, podem ser afetados por uma crise econômica da dimensão desta que estamos enfrentando agora?

Chomsky: Bem, esses países serão afetados pela crise mas, no momento, não tanto como estão sendo a Europa e os Estados Unidos. Se olhamos o caso da Bolsa no Brasil, ela caiu muito rapidamente, mas os bancos brasileiros não estão quebrando. Do mesmo modo, na Ásia, as bolsas estão declinando agudamente, mas os governos não estão assumindo o controle dos bancos, como ocorre na Inglaterra, Estados Unidos e boa parte da Europa. Essas regiões, América do Sul e Ásia, de alguma maneira conseguiram se separar das calamidades dos mercados financeiros. O que desatou a crise atual foram os empréstimos subprime para ativos construídos sobre areia, e estes, claro, estão em mãos de estadunidenses e de bancos europeus. O fato de possuir ativos tóxicos baseados em hipotecas os envolveu muito rapidamente nestes acontecimentos. Além disso, os europeus têm suas próprias crises de habitação, particularmente a Inglaterra e a Espanha.


A Ásia e a América Latina ficaram muito menos expostas por terem mantido estratégias de crédito mais cautelosas, particularmente a partir do descalabro neoliberal de 1997-1998. Um grande banco japonês, Mitsubishi UFG, acaba de comprar uma parte substancial do Morgan Stanley, nos EUA. Então, não parece, até agora, que a Ásia e a América Latina serão afetadas tão gravemente como Estados Unidos e Europa.

Apah: Você acredita que há uma grande diferença entre Obama e McCain no que diz respeito a temas como o Tratado de Livre Comércio e o Plano Colômbia? Na Colômbia, pode-se sentir que o presidente e seus apoiadores estão assustados frente à eleição de Obama. Sei que você tem a sensação que Obama é como uma folha em branco, mas pensa que ela fará alguma diferença?

Chomsky: Com efeito, Obama tem se apresentado mais ou menos como uma folha em branco. Mas não há motivo para que o governo colombiano se assuste com sua eleição. O Plano Colômbia é uma política de Clinton e há muitas razões para supor que Obama será outro Clinton. Ele é bastante impreciso, a propósito. Mesmo quando explicita políticas, elas se parecem muito a políticas centristas, como Clinton, que modelou o Plano Colômbia e militarizou o conflito.

Apah: Tenho, às vezes, a sensação de que os períodos de Bush se deram em um contexto de mudança da ordem mundial, tratando de manter o poder com o uso da força, e que, em troca, Obama pode representar a cara boa para renegociar a ordem mundial. Qual sua opinião sobre isso?

Chomsky: É importante lembrar que o espectro político nos EUA é bastante estreito. É uma sociedade controlada pelas empresas, basicamente, é um Estado de partido único, com duas facções, democratas e republicanos. As facções têm algumas diferenças e estas, às vezes, são significativas. Mas o espectro é bastante estreito. A administração Bush, porém, se situava bastante além do final do espectro, com nacionalistas radicais extremos, crentes extremos no poder do Estado, na violência no exterior e em um alto gasto governamental. De fato, estavam tão fora do espectro que foram criticados duramente inclusive por parte do poder, desde os primeiros tempos.
Seja quem for que assuma o mandato, é provável que desloque o tabuleiro político para o centro do espectro. Obama talvez faça isso em maior medida. Diria que, no caso de Obama, haverá algo como um renascimento dos anos Clinton, adaptado certamente às novas circunstâncias.


Apah: Agora que estamos chegando ao fim da globalização neoliberal, existe a possibilidade de algo realmente novo, uma globalização boa?


Chomsky: Penso que as perspectivas hoje estão muito melhores do que estavam antes. O poder está extraordinariamente concentrado, mas há mudanças a medida que a economia internacional torna-se mais diversificada e complexa. O Sul está se tornando mais independente. Mas, se olhamos para os EUA, mesmo com todo o dano causado por Bush, segue sendo a maior economia homogênea, com o maior mercado interno, a força militar mais forte e tecnologicamente mais avançada, com gastos anuais comparáveis aos do resto do mundo combinados e com um arquipélago de bases militares espalhadas pelo mundo. Estas são fontes de continuidade, mesmo que a ordem neoliberal esteja sofrendo uma erosão dentro dos EUA, na Europa e internacionalmente, com um crescimento da oposição a ela. Então, há oportunidades para uma mudança real. Até onde essa mudança pode chegar, isso depende da gente e daquilo que estamos dispostos a empreender.

Texto extraído de Carta Maior: http://www.cartamaior.com.br


Zeca Baleiro e Raimundo Fagner

IMPERDÍVEL.....

PINK FLOYD: LIVE AT KQED STUDIOS - 1970

Tamanho : 192 MB
Duração: 59:05
Formato: RMVB (VHS-RIP)
Servidor: Rapidshare (Dividido em 2 partes)




O Vídeo traz imagens de uma apresentação para TV, logo após o lançamento do álbum "Atom Heart Mother".
Concerto filmado em San Francisco, em 29 de abril de 1970

Set List

Atom Heart Mother
Cymbaline
Granchester Meadows
Green Is The Colour
Careful With That Axe Eugene
Set The Controls For The Heart Of The Sun



Screenshots


Clique nas imagens para ver em tamanho real



Cymbaline


Ps. O vídeo é achado em torrent pelo nome: Pink Floyd Atom Heart Mother Live In San Francisco 1970

Créditos: F.A.R.R.A. - escarlath

Yeda transforma o Piratini num museu


A tardia vindita maragata

Vejam o simbolismo das coisas. Hoje, na coluna de Rosane de Oliveira, jornalista e abelhinha, em ZH, há um comentário sobre o tratamento que a governadora Yeda Crusius (PSDB) dá ao Palácio Piratini. Dona Yeda despacha no Centro Administrativo e aproveita o Piratini somente para efemérides e pequenas liturgias do poder.

Não sei se isso é consciente ou inconsciente, mas o fato é que esse “novo jeito de despachar” ilustra bem a forma como a direita liberal encara a administração pública. Está sendo dito, subliminarmente, que o Estado republicano é – ou deve ser – uma peça de museu.

Assim, o Piratini, construído pelos vitoriosos da revolução burguesa de 1893, os chimangos positivistas-castilhistas-borgistas, fica obsoletizado pelo advento do ultra-pragmatismo neoliberal tucano. É uma forma simbólica de fazer a vindita maragata, agora travestida no yedismo vende-pátria.

Por fim, é também significativo que no topo do Piratini se faça um ameno estar para os fins das tardes quentes de Porto Alegre, mesmo que os guarda-sóis ainda tragam estampadoa a logomarca do banco regional fundado por Getúlio Vargas – o filho mais generoso e republicano do castilhismo sul-rio-grandense. Mas, sobre isso, a obtusidade da governadora Yeda sequer suspeita.

O Piratini está de porta aberta, sim, mas vazio de significado e poder.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

RECUO COM DIGNIDADE...

Greve do magistério: Fim do 1º roud Hupper: comam brioches...


Nesta sexta-feira, os professores estaduais devem encerrar a greve iniciada no último dia 14. Foram duas semanas de uma paralisação arriscada porque, afinal, os grevistas sabiam da dificuldade em obter o apoio da sociedade para uma paralisação em final de ano letivo. Mas o entendimento foi de que não havia alternativa. Ou demonstravam à governadora Yeda que são capazes de mobilizar milhares de professores quando direitos fundamentais são postos em risco, ou veriam estes direitos escorrerem pelo ralo.

Oportuno lembrar que tanto o Piso Nacional como o Plano de Carreira são conquistas históricas dos professores que só foram alcançadas depois de muita luta, o que passa, necessariamente, por inúmeras greves. E eram estas as conquistas que estavam em jogo com o projeto que Yeda mandou para a Assembléia Legislativa. O detalhe sórdido da história é que, autoritária como sempre, a governadora exigiu que sua proposta fosse votada em regime de urgência.
Alguma coisa precisava ser feita. A reação era imperativa. Talvez os professores tenham errado na tática, já que em se tratando de um governo com Yeda, Coronel Mendes e Mariza Abreu, a intransigência era previsível. Talvez devessem ter feito quase tudo o que fizeram - manifestações fortes, busca de apoio no Legislativo e em outras categorias do funcionalismo, ocupado espaços de mídia – menos a greve. Resta saber se, assim, teriam conseguido o compromisso dos parlamentares de não votar o projeto antes do final do ano e o recuo de Yeda que, pressionada, retirou o regime de urgência da proposta. Quem poderia garantir?

Na dúvida, os professores avançaram. E realizaram o maior ato público do ano em frente ao Palácio Piratini (e este, diga-se, foi mais um ano em que não houve semana sem um protesto na Praça da Matriz). Só que Yeda, belicosa por natureza, havia se preparado para a guerra com um decreto que lhe autoriza cortar o ponto e o salário e ainda impedir a progressão na carreira dos professores grevistas. Ora, Yeda dirige o Estado como se ele fosse uma butique; age não como governante, mas como empresária sem consciência social. Assim, pouco importa se o empregado/professor ganha mal, se a greve foi o último recurso, se o corte do salário vai deixar gente com fome, se a carreira foi prejudicada. Para a patroa/governadora, o que importa é fazer valer sua autoridade. Sem levar em conta a tradição de negociação que o CPERS e os governos cultivaram ao longo da história e nem mesmo o fato, relevantíssimo, de que os professores iriam recuperar todos os dias parados, Yeda deu a ordem: - Cortem-lhes o ponto!

Ameaçados, castigados, prejudicados e sem dinheiro, os professores devem voltar às aulas na próxima segunda-feira. Eles, que têm uma história de lutas, sabem que uma guerra não se ganha numa batalha e que o recuo, por vezes, é garantia de vida. Mortos, afinal, não guerreiam. Quando a greve for encerrada, muito provavelmente Yeda e sua arrogância devem considerar o desdobramento como uma derrota dos professores. É muito provável que, tendo transformado a política num ringue, Yeda sinta que ganhou o round. Para os professores, contudo, o fato de ela ter recuado na urgência, o compromisso dos deputados de só analisar o tema no ano que vem e ainda a união de PT, PCdoB, PDT e DEM para tentar, através de um Decreto Legislativo, anular o corte do ponto, foram são vitórias incontestáveis.

Indignada com o decreto da governadora, uma professora estadual que conversava hoje à tarde com deputados na Assembléia, adaptou uma passagem do Mercador de Veneza de Shakespeare: "Eu não esperava mesmo um gesto de Yeda em direção ao acordo. O perdão, aliás, é uma virtude dos deuses; só homens (e mulheres) de muita grandeza podem ter atitudes dignas de deuses. Não é, definitivamente, o caso de Yeda. Ela não compreende que um governante nada ganha quando golpeia o funcionalismo, que não pode haver vitória quando o resultado da disputa é um professor com fome. E, além do mais, março vem aí. A governadora tem que se dar conta de que o gongo ainda não soou." (Maneco)

Santana - The Best of Santana 1998

http://i30.tinypic.com/2zsw3nr.jpg


1. Jingo
2. Evil Ways
3. Black Magic Woman/Gypsy Queen
4. Oye Como Va
5. Samba Pa Ti
6. She's Not There
7. No One To Depend On
8. Open Invitation
9. Hold On
10. Bella
11. Winning
12. All I Ever Wanted
13. Dance Sister Dance
14. Europa
15. Everybody's Everything
16. Soul Sacrifice



Professores fazem novo protesto no Piratini

Cerca de 3 mil professores participaram de um ato de protesto, hoje à tarde, em frente ao Palácio Piratini, contra a postura da governadora Yeda Crusius (PSDB) que se recusa a conversar com a categoria em greve. A presidente do CPERS/Sindicato, Rejane de Oliveira, entregou um ofício com um novo pedido de audiência com a governadora. Repetindo o que ocorreu na manifestação anterior, a Brigada Militar colocou brigadianas para fazer policiamento do palácio durante o ato. Contando com o apoio de integrantes do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), que ocuparam ontem um prédio abandonado no centro de Porto Alegre, os professores foram para a rua usando nariz de palhaço e um caixão com a foto de Yeda. “Não tem dinheiro para a Educação, mas tem dinheiro para comprar mansão”, foi uma das frases repetidas pelos servidores. Até o final da tarde, não havia nenhum indicativo de que Yeda, hoje em Brasília, aceitaria conversar com os professores.

Fotos: Kiko Machacredirtos:

Créditos:

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Exemplo de Cidadania...


A ex-catadora de papel Vanilda de Jesus Pereira, que cursou só até a 6ª série do ensino fundamental, coordena a Biblioteca Comunitária Graça Rios, localizada na entrada da favela Paquetá, em Belo Horizonte (MG). A biblioteca tem um acervo de cerca de 22 mil livros. "Nada foi planejado. Fui fazendo o que era possível", diz Vanilda. O projeto foi um dos 15 finalistas do Prêmio Vivaleitura 2008, uma iniciativa do Ministério da Educação, do Ministério da Cultura e da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI). A premiação ocorreu em São Paulo. Na biblioteca que, funciona num galpão, também são dadas aulas de reforço escolar para as crianças mais novas e de preparação para os jovens que vão prestar vestibular. O local funciona ainda como uma espécie de creche. Diariamente, umas 30 crianças são deixadas de manhã pelas mães, que retornam no final do dia para buscá-las. O projeto conta com a ajuda de voluntários e o apoio de diversas empresas locais, além de eventos promovidos para arrecadar fundos. Filha de pais analfabetos, Vanilda conta que sempre gostou de ler, mas não tinha acesso a livros. Aos 14 anos, quando trabalhava como babá para uma família, a patroa a demitiu após ver que ela lia um livro sem autorização. O título da obra? "A Escrava Isaura". "Fiquei chateada, mas aquela situação foi um empurrão para mim." Vanilda, então, comprou, claro, "A Escrava Isaura" e "Éramos Seis". "Eu comprei porque queria terminar de ler o livro!" E não parou mais. No final dos anos 80, ela passou a ajudar crianças da região onde morava com o dever de casa. "Muita gente passou a fazer doações. E o acervo foi crescendo." Solteira e mãe de seis filhos, a coordenadora Vanilda diz, simplesmente, que faz a sua parte. "Se a gente for esperar pelo outro, as coisas nunca acontecem", afirma. "Se você não consegue sair do lugar, mas consegue dar um empurrão para que outro consiga sair, então já está valendo a pena", finaliza Vanilda. A Biblioteca Graça Rios fica localizada na rua Glauber Rocha, 334, Paquetá, Belo Horizonte, Minas Gerais. O leitor se desejar pode falar com a Vanilda pelo telefone é (31) 3498-1547.

Créditos: BlogMafiaDoLixo

O ESTADÃO publica, ZERO HORA, NÃO, porque será?????

Mais uma vez se constata o comprometimento da "grande midia" do RS(leia-se RBS) com os "predadores" de nosso planeta. Depois de terem sido expulsos da europa por desencadearem transtornos irrecuperáveis ao meio ambiente, vieram para América do Sul, na continuação de suas ações criminosas, com enormes plantações de eucaliptos e devastação ambiental de impacto profundo, a Aracruz celulose, que banca a midia escrita da RBS com seus papéis, por ganância e irresponsabilidade teve um prejuizo enorme com aplicações financeiras insanas de seus dirigentes. O bom nessa estória é que com esse prejuizo em torno de 2bi de dólares, a empresa deixou de lado suas ações terroristas contra o meio ambiente, não mais fechando contrato com a votorantin, na região de Bage e Aceguá, onde seriam plantados 150mil hectares de eucaliptos. A parte ruim é a constatação de proteção descarada, nas publicações de jornais, feita principalmente pelo jornaleco ZERO HORA.Leia, abaixo, reportagem feita pelo Estadão.

''Aracruz sabia das operações com derivativos''

Irany Tereza


As operações da Aracruz com derivativos cambiais - que resultaram em perdas superiores a US$ 2 bilhões para a empresa - foram detalhadamente acompanhadas pelos acionistas controladores da empresa. Foi o que afirmou ontem o ex-diretor financeiro da empresa, Isac Zagury, afastado do cargo depois que o prejuízo veio a público, há dois meses. O executivo, com 30 anos de experiência no mercado, teve sérios problemas de saúde depois do caso, entrou em depressão, ficou dez dias internado e agora decidiu dedicar-se integralmente à sua defesa.

Em decisão tomada anteontem em assembléia, os acionistas da Aracruz decidiram processar judicialmente Zagury pelos prejuízos, que chegam a US$ 2,13 bilhões. A empresa, que estava entrando em um novo ciclo de investimentos, suspendeu uma reestruturação acionária em curso, uma vultosa obra de ampliação de uma de suas fábricas, no Rio Grande do Sul, e se prepara para um resultado ruim em 2008, ano que despontava como uma grande guinada para o grupo.

Rompendo o silêncio que se havia imposto há dois meses, Zagury recebeu a Agência Estado ontem em seu apartamento, em São Conrado, no Rio, para dar a sua versão da história. Abatido, mas tranqüilo, ele afirma que enviava relatórios "praticamente diários" sobre os contratos ao Comitê Financeiro da empresa, formado por representantes de todos os controladores (Safra, família Lorentzen e Votorantim Celulose e Papel). Do final de 2004 a junho de 2008, a Aracruz ganhou, segundo os cálculos de Zagury, US$ 350 milhões com operações de hedge (proteção) cambial na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).

De abril a agosto, os ganhos com derivativos cambiais bancários foram de US$ 50 milhões. E ele nega que os limites de exposição tenham sido extrapolados. "Todos nós tínhamos a interpretação de que estávamos dentro do limite. Quando surgiu o episódio do Lehman Brothers e o dólar passou de R$ 1,60 para mais de R$ 2, alguém tinha de ser culpado...", disse o executivo.

Segundo Zagury, a Aracruz chegou a operar com 12 bancos diferentes em contratos que foram oferecidos a partir de janeiro deste ano, chamados "sell target foward". Esses contratos são operações de derivativos cambiais com prazo mais longo, em torno de 12 meses, enquanto as operações na BM&F são mensais. Para os contratos bancários, porém, há limite de ganhos, a partir do qual a operação é encerrada e outro contrato tem de ser assinado. Para perdas, no entanto, não há limite estabelecido. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Por que a demora na apresentação da sua versão dos fatos?

Primeiro, porque não havia nenhuma manifestação da empresa contra mim. Mas, agora, diante de uma ação que está sendo movida, tenho obrigação de dar a minha versão dos fatos, de me defender. A Aracruz exporta 99% de sua produção. E os custos são 80%, 85% em reais. Teoricamente, é a empresa que mais tem de se preocupar com o câmbio no Brasil.

O hedge é decidido pelos acionistas?

Entrei para a Aracruz em junho de 2003 e a recomendação que me foi feita foi: "Olha, se preocupa com hedge. Estamos entrando numa fase de apreciação da moeda." Em 2002, o dólar havia chegado a quase R$ 4. Quando o Lula entrou, mostrou um trabalho correto, os preços das commodities coincidentemente também começaram a subir no mercado internacional, houve um ingresso líquido de recursos para o Brasil, o balanço de pagamentos melhorou muito. O real foi caindo até chegar, em agosto, a R$ 1,56. Imagina o que isso significa para uma empresa que tem toda a sua receita em dólar e custos em reais. Tínhamos por obrigação, por imperativo de gestão, fazer o hedge. O que eu perdia no custo, ganhava na BM&F. Do final de 2004 até junho de 2008, ganhamos cerca de US$ 350 milhões na BM&F. Conseguíamos compensar a perda com o câmbio com ganho financeiro.

A Aracruz fazia hedge puro e simples?

Até bem pouco tempo, operávamos com venda de dólar na BM&F. Este ano, os bancos passaram a oferecer um produto diferente, chamado sell target foward. Na BM&F é preciso rolar os contratos mês a mês. Os bancos ofereceram um produto com venda de câmbio em prazo mais longo. Isso convinha às empresas. Já que eu tinha um fluxo de exportação, prefixava meu câmbio e me protegia. E sempre numa curva ascendente, o que para nós, como exportadores, era interessante. É um produto que já veio de outros países. A Aracruz não foi a primeira a fazer isso. Quando começamos a fazer, já havia várias empresas grandes fazendo.

Quantas?

Acredito que umas 400 empresas, dos mais variados tamanhos, estavam fazendo. Falou-se muito na Aracruz, na Sadia e na Votorantim. Mas, com 20 bancos operando nisso, não iriam fazer isso para três empresas. Somente um desses bancos declarou que chegou a fazer isso para 300 empresas. Essas três foram as mais faladas talvez porque sejam maiores, com mais visibilidade, e porque foram mais transparentes ao divulgar essas coisas. Ninguém gosta de dizer que perdeu. Mas, na realidade, todas perderam e não foi culpa de ninguém. Não foi culpa do diretor da Aracruz, do presidente da VCP, do diretor da Sadia. O que aconteceu foi um fato imprevisível.

Não é possível apontar um culpado?

O que aconteceu não foi culpa de ninguém. Foi a maior crise mundial que já aconteceu nas finanças mundiais, mais do que a crise de 1929. Há um grande início de recessão econômica. Isso criou também uma crise de confiança que secou as linhas de crédito para o Brasil. Pela primeira vez se viu uma escassez de crédito internacional para o Brasil das linhas de ACC (Antecipação de Contrato de Câmbio), o capital de giro do exportador, que nunca faltou na história do Brasil. Empresas grandes, maiores que a Aracruz, não conseguiam crédito nem para 30 dias.

A diferença dos instrumentos de derivativos na BM&F e nos bancos era o prazo?

Era. O banco te oferecia a possibilidade de um prazo mais longo, em vez de ficar todo o mês rodando na BM&F. As empresas acharam interessante. A própria Aracruz, de abril a agosto, chegou a ganhar US$ 50 milhões só nessa operação. Eram operações com nocaute, quer dizer, quando se ganhava um "x", a operação terminava. Tinha limite de ganho e a operação era interrompida. Era possível contratar a operação por 12 meses e ela durar apenas dois meses. Se você estava pré-vendido a R$ 1,80 e o dólar chegasse a R$ 1,60, a operação morria e você ganhava uns tantos milhões.

Tinha limite de ganho, mas não de perda?

Essa era a questão. Mas, para isso, o banco te dava um "upside" enorme. Se o câmbio estava a R$ 1,56, ele te dava RS 1,90 no primeiro mês. Então, você tinha uma chance enorme de ganhar. Até agosto, praticamente todo mundo ganhou. O que aconteceu é o que se chama em Direito de teoria da imprevisibilidade. Um fato extra, totalmente fora de controle dos agentes econômicos, uma crise internacional sem precedentes, que modificou totalmente o câmbio. E, aí, ninguém tem controle sobre isso. Não é culpa de X, Y ou Z. Não foi a Aracruz que perdeu, foram 300 que perderam. Isso vai ficar claro quando divulgarem o balanço no final do ano.

Não há limite para esse tipo de operação nas empresas?

Tem um limite, mas essa operação era mais complexa. Quando você atua na BM&F, sabe exatamente o seu limite. Nessa operação, com nocaute, com possibilidade de fechar a operação no segundo mês, você nunca sabia a sua exposição certa. A gente fazia uma média em relação à previsão de ter nocaute para chegar dentro do limite do que seria aceitável. Tecnicamente, considerando a complexidade do produto e a freqüência que esse produto dá nocaute, a empresa operou dentro do limite, embora o próprio fato relevante dê como justificativa ter ficado acima do limite.

Quem sabia dessas operações?

Além do Conselho de Administração e da diretoria, há seis comitês técnicos que assessoram o conselho. Um deles é o Comitê Financeiro, que supervisionava o trabalho do diretor-financeiro, principalmente em relação a essas operações. Quando eu assinava um contrato desses, passava por uma análise até de advogados. O Conselho de Administração não se envolvia diretamente. O Conselho é responsável por formular as políticas. Os comitês eram responsáveis por acompanhar a execução dessas políticas junto à diretoria.

Os acionistas dizem que não tinham conhecimento.

Eles tinham conhecimento, porque o Comitê Financeiro tinha um representante de cada acionista controlador. E a diretoria encaminhava periodicamente para esse comitê os resultados dessas operações, as posições, as informações que eles queriam. Havia relatórios quase diários. O Conselho se reúne somente a cada três meses. Mas, como eles têm representantes em todos os comitês, as informações ficam disponíveis. Se alguém do comitê achasse que o limite estava estourado, poderia ter falado: "Interrompe a operação, cancela, pára." Mas, eles tinham a mesma interpretação que a gente, que o limite não estava estourado. Essa operação foi feita em abril e só foi interrompida em setembro. A auditoria independente feita em junho também poderia ter visto que havia estourado, porque o volume de operações não se alterou muito de junho a setembro. Mas todos nós tínhamos a interpretação que estávamos dentro do limite. Quando surgiu o episódio do Lehman Brothers e o dólar passou de R$ 1,60 para mais de R$ 2, alguém tinha de ser culpado...

E o senhor foi o bode expiatório?

Porque o diretor-financeiro é sempre o alvo de qualquer coisa dentro de uma empresa. Mas, estou com consciência supertranqüila. Tudo o que foi feito foi de boa-fé, pelo interesse da empresa. A empresa fazia operações de hedge desde 2004 sempre com sucesso, eles elogiavam. Agora, quando deu errado, por causa de uma maxidesvalorização... Com relação à ação que decidiram ontem (segunda-feira) estou tranqüilo. Ninguém pode me acusar de irregularidade. Porque escolheram só a mim, aí só perguntando a eles.

Perguntas de um operário letrado

Bertoldt Brecht

Quem construiu a Tebas das Sete Portas?
Nos livros constam nomes de reis.
Foram eles que carregaram as rochas?
E a Babilônia destruída tantas vezes?
Quem a reconstruiu de novo, de novo e de novo?
Quais as casas de Lima dourada
abrigavam os pedreiros?
Na noite em que se terminou a muralha da China
para onde foram os operários da construção?
A eterna Roma está cheia de arcos de triunfo.
Quem os construiu?
Sobre quem triunfavam os césares?
A tão decantada Bizâncio era feita só de palácios?
Mesmo na legendária Atlântida
os moribundos chamavam pelos seus escravos
na noite em que o mar os engolia.

O jovem Alexandre conquistou a índia.

Ele sozinho?
César bateu os gauleses.
Não tinha ao menos um cozinheiro consigo?
Quando a “Invencível Armada” naufragou, dizem que Felipe da Espanha chorou
Só ele chorou?
Frederico II ganhou a guerra dos Sete Anos.
Quem mais ganhou a guerra?

Cada página uma vitória.
Quem preparava os banquetes da vitória?
De dez em dez anos um grande homem.
Quem paga as suas despesas?

Tantas histórias.
Tantas perguntas.