terça-feira, 2 de dezembro de 2008

EM PORTUGAL O MAGISTÉRIO TAMBÉM SE MOBILIZA....

Em noticia publicada pelo sitio www.esquerda.net, dá-nos conta de que em Portugal o magistério e os trabalhadores em Educação também se mobilizam para trancar mudanças impetradas pelo governo federal de desqualificar a escola pública. Muito semelhante com o que ocorre hoje no estado do Rio Grande do Sul.

Professores: greve nacional deve ser a maior de sempre



Deixem-nos ser professores. Foto de Paulete Matos
Os professores fazem amanhã uma greve nacional sob o lema "Vamos avaliar o Ministério de Educação fechando as escolas". A expectativa é que seja a maior e mais participada greve de professores de sempre. Sindicatos e movimentos divulgaram apelos para que a greve seja activa, e inúmeras concentrações estão a ser convocadas para a frente das escolas e para praças públicas.

Segundo a Fenprof, já são mais de 370 as escolas/agrupamentos que suspenderam o processo de avaliação de desempenho que o governo quer impor. As simplificações de última hora anunciadas pelo governo não tiveram qualquer efeito na mobilização docente, com os professores a argumentar que o processo está errado no seu todo e que só a suspensão da sua aplicação poderá permitir o reinício das negociações.

Para a Fenprof, o ME e o governo "não souberam interpretar, como deveriam, as evidências da indignação dos professores, como não souberam ou não quiseram escutar as suas propostas. Hoje o conflito está muito mais agravado e obriga o governo a criar condições para que se construa uma solução de consenso que tenha, como pressuposto, a suspensão do modelo de avaliação. A greve de 3 de Dezembro será um grande momento de protesto e confirmação das posições dos professores."

Após a greve, nos dias 4 e 5, os sindicatos organizam uma vigília dia e noite em frente ao Ministério da Educação. E no dia 6, os movimentos organizam em Leiria um encontro das escolas em luta.

Governos desesperados injetam dinheiro às cegas no mercado

Noticia veiculada no Diário Gauche


Nada garante que a medida será bem sucedida




O governo Bush, os países europeus e o Japão, principalmente, adotaram a tática meio cega de empanturrar os mercados com muita moeda líquida. Um empirismo desesperado para ver se estanca a corrida inabalável para o fundo do poço, cuja fundura ninguém sabe qual é.

Hoje, o Japão está injetando mais 32 bilhões de dólares para ver como a coisa fica. Uma temeridade. Trinta e dois bilhões de dólares de papel pintado, emitido pelos banqueiros norte-americanos, sem qualquer lastro na economia produtiva e criadora de riqueza. Papel de boa qualidade, com tinta de boa qualidade, nada mais que isso.

Dinheiro é o equivalente geral, a representação de valor por excelência. Nas hipertrofias do neoliberalismo, o dinheiro ascende à condição de mercadoria central e privilegiada do sistema, desbancando a mercadoria-trabalho, aviltada pelo crescente exército industrial de reserva, pelas mecanizações e tecnologias do trabalho-morto, etc.

Todas as demais mercadorias quiseram "imitar" a capacidade de valorização do dinheiro. Mas o papel-pintado é somente "a vida do que está morto [força de trabalho alienada na mercadoria, e esta transformada em moeda] se movendo em si mesma", na genial e primorosa síntese de Hegel.

Dias atrás, eu vi um dado que é estarrecedor: os Estados Unidos estão comprometendo em consumo cerca de 350% do seu PIB, hoje. Isso explica parcialmente o buraco no qual se meteram. Entre as décadas de 1950 e 1980, portanto, no período que precedeu a hipertrofia financeira, o comprometimento em consumo jamais passou de 180% do PIB. [Somente a título de curiosidade, hoje, o Brasil compromete em consumo cerca de 70% do PIB. Comércio de milhares de bugigangas, de automóveis de luxo a bolachinha recheada cancerígena, tudo embalado no papel-celofane dos juros para pagar os “sócios” da banca.]

A crise atual é como um trem-bala que viaja a 400 km por hora e breca bruscamente para velocidades bem menores, alguns vagões ficarão desgovernados e sairão dos trilhos rumo ao abismo, outros, muito poucos, conseguirão manter a linha, mas em deslocamento reduzido e sem saber que rumo tomar. Atulhar dinheiro nisso pode ser um erro do tamanho dos recursos que estão sendo injetados.

Coisas da vida.

O CONDOR SEGUE VOANDO



Por Elaine Tavares - jornalista


Martin Almada não consegue passar despercebido, ainda que esteja no meio de uma multidão. Brilha nele um sorriso que tem um quê de menino, uma inocência, uma coisa pura, que sobressai e impressiona. Sabe-se lá de onde esse homem, que já viveu tanta dor, tira tamanha doçura. O certo é que ela ali está e se derrama, mesmo quando ele conta das horas mais amargas, da prisão, da tortura e da morte da primeira mulher.

O dono desta ternura abissal é paraguaio, nascido no ano de 1937, em Puerto Sastre, região do Chaco, e é referência mundial na luta pelos Direitos Humanos, tanto que, em 2002, foi o vencedor do prêmio Nobel da Paz Alternativo, oferecido pelo parlamento sueco. Foi ele quem encontrou os documentos que trouxeram à luz toda a podridão e o terror da Operação Condor, responsável pela morte de milhares de pessoas em toda a América Latina, no que as ditaduras militares chamavam de luta contra a subversão. Hoje, ele segue sua luta incansável para colocar na cadeia cada um dos que levaram a cabo a operação, e mantém firme a conduta de defensor dos ativistas populares que enfrentam a prisão ou o desaparecimento, pois como bem assinala: o condor segue voando.

Quando a América Latina foi tomada pelas ditaduras militares nos anos 60, Martin Almada era apenas um jovem professor que dirigia um colégio. Não tinha nenhuma compreensão do que era a luta de classes e tudo o que fazia era repetir os ensinamentos de cunho eurocêntrico que havia recebido. Até que um dia todo o seu mundo desmanchou-se no ar. Por acaso, encontrou um livro do educador brasileiro Paulo Freire e desde aí sua existência mudou radicalmente. Aplicar a idéia freiriana de transformação foi seu primeiro pecado durante a ditadura de Alfredo Stroessner. Depois, envolveu-se na luta social, dirigindo o sindicato dos professores. Naquele período teve ainda a ousadia de propor uma cooperativa de construção de casas, viabilizando o sonho de moradia própria dos educadores paraguaios. Era seu segundo pecado, mas ele nem sonhava que aquilo estaria voltando os olhares da repressão para sua pessoa.

Tempos depois partiu para a cidade de La Plata, na Argentina, onde faria seu doutorado discutindo educação e dependência. Já estava totalmente alfabetizado nas lutas sociais que pululavam no continente e tinha clareza de que a educação, tal como se aplicava, só beneficiava a classe dominante e que, esta, estava a serviço do subdesenvolvimento e da dependência. E foram essas idéias que chamaram a atenção do poder. Assim, tão logo colocou os pés no Paraguai, em 1974, retornando do doutorado, Martin foi seqüestrado de sua casa e preso, sendo submetido a um tribunal militar. Seu trabalho produzido na Argentina foi considerado pela ditadura como terrorismo intelectual, e aí começou seu calvário.

Seguindo o manual da malfadada Escola das Américas, os policias paraguaios iniciaram um período de violentas torturas. Por 10 dias seguidos, um coronel chileno e um chefe policial argentino infligiram os mais torpes sofrimentos ao educador. No mesmo período, a mulher de Martin - Celestina - também foi presa, e a tortura a que a submetiam era a de escutar, pelo telefone, as torturas sofridas pelo marido. Passados 90 dias da prisão de Martin, os torturadores cometeram mais uma vileza. Mandaram para a casa do professor, endereçada à sua mulher, que já estava livre, a roupa ensangüentada do marido, seguida de um telefonema: Venha buscar o cadáver. Golpeada pela dor, Celestina não resistiu e teve um infarto fulminante. Morreu sem saber que aquilo era só mais um momento de tortura. Essa morte marcou minha vida pra sempre. Até hoje meus filhos me culpam por isso.

A morte de Celestina levou Martin a uma greve de fome e em todo país começou um movimento - liderado pela igreja - pela sua libertação. Finalmente, em 1978, o professor, chamado de terrorista intelectual saiu da cadeia, exilado para o Panamá, onde o presidente era Omar Torrijo, um militar progressista. Lá, conhecido por sua conduta transformadora na educação, caiu nas graças do presidente que o convidou para assumir um cargo em Paris. E foi na França que Martin Almada viveu por mais de 15 anos, tendo sido inclusive consultor da UNESCO para assuntos de educação. Foi um período difícil, longe da minha terra e convivendo com o ódio surdo dos filhos, pois, haviam repetido os militares, incessantemente, que eu havia matado minha mulher. Esta é uma chaga que ainda não foi cicatrizada. Hoje os filhos conseguem perceber melhor tudo que aconteceu, mas ainda não conseguimos superar, diz, com os olhos marejados. O silêncio que se segue dá testemunho do tamanho da dor.

Há uma vontade férrea por trás do sorriso doce de Martin Almada. Ele nunca perdoou a ditadura de Stroessner por todo o terror que infligiu ao povo do Paraguai. Para além da sua tragédia pessoal, Martin não deu descanso aos que comandaram a tortura e a morte de milhares de outros homens e mulheres. Assim, tão logo pode voltar para o país, depois da morte do ditador, ele iniciou a cruzada que o levaria a descoberta de toda a documentação da Operação Condor, responsável pelo assassinato de mais de 100 mil pessoas na América Latina.

De volta ao Paraguai a primeira ação de Martin foi entrar na Justiça para saber os motivos de sua prisão, que tanta dor trouxe a ele e aos seus. Queria que o Estado respondesse o que vinha a ser um terrorista intelectual. Surpreso, descobriu que, para a polícia, ele nunca havia sido preso. Não havia arquivo algum que comprovasse. Ele não sossegou, insistiu na busca dos documentos. Impossível não existirem. Em algum lugar estariam. Um telefonema anônimo informou: Estão fora do país. Esse monstro é maior do que pensas. Martin continuou brigando na Justiça até que, em 22 de dezembro de 1992, encontrou. Eram milhares de documentos que comprovavam os convênios do terror que estabeleciam os países entre si. As ditaduras do Chile, da Argentina e até do Brasil celebravam contratos que garantiam préstimos na chamada luta anticomunista. No que ficou conhecido como Operação Condor só na Argentina milhares de pessoas foram jogadas, com vida, no mar - mais de 100 mil pessoas entre estudantes, intelectuais, dirigentes sindicais, camponeses e lideranças indígenas foram assassinadas. Praticamente toda a classe pensante da América latina foi eliminada com essa operação, orientada pelos Estados Unidos e levada a cabo pelos governos ditatoriais.

Hoje, Martin Almada atua como advogado no pequeno Paraguai. Ali, apesar de ter se acabado a ditadura, a luta dos empobrecidos segue dura e toda a reivindicação por direitos é criminalizada. No Paraguai estão em luta os povos originários, os camponeses sem-terra, os desempregados. Eu sempre pensei que a educação mudaria o mundo, mas, aqui no Paraguai, vejo que, hoje, ser advogado é mais importante do que ser professor. Os pobres são largados a própria sorte na mão da Justiça, não têm ninguém por eles. Então, decidi que tinha de atuar por eles. Por sua luta pelos Direitos Humanos foi condecorado pelo governo Francês,Argentina, premiado no Brasil e recebeu o Nobel Alternativo no Parlamento Sueco. 2002-.

Marcado pela dor, mas sem jamais se deixar vencer por ela, Martin segue a vida, defendendo os empobrecidos nas lutas judiciais e denunciando as arbitrariedades que se cometem, todos os dias, contra os que lutam por vida digna. Vigilante, ele mantém os olhos e a mente fixos nas asas do Condor. Não aquele, bicho, que embeleza o céu dos Andes, mas a lúgubre operação de assassinatos e desaparições que ainda segue sendo praticada nas entranhas de toda a América Latina.

Existe vida no Jornalismo
Blog da Elaine: www.eteia.blogspot.com
América Latina Livre - www.iela.ufsc.br
Desacato - www.desacato.info
Pobres & Nojentas - www.pobresenojentas.blogspot.com

PELA VIDA, PELA PAZ/ TORTURA NUNCA MAIS

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O VELHO E O MAR - Curta/Animação

The Oldman and The Sea, Aleksandr Petrov




Formatos: rmvb e avi
Áudio: Inglês
Legendas rmbv: Português/BR (embutidas)
Legendas avi: Português/BR (Separadas)
Duração: 19 min.
Tamanho rmvb: 83 MB/Arquivo único
Tamanho avi: 374 MB/05 Partes
Servidor: Rapidshare



RMVB:

http://rapidshare.com/files/143997252/TOATS99_FORUM_FARRA_up_by_Eudes.rmvb


AVI:

http://rapidshare.com/files/144031547/TOATS99_FORUM_FARRA_up_by_Eudes.part1.rar
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http://rapidshare.com/files/144041578/TOATS99_FORUM_FARRA_up_by_Eudes.part4.rar
http://rapidshare.com/files/144041952/TOATS99_FORUM_FARRA_up_by_Eudes.part5.rar


Senha para descompactação: http://farra.clickforuns.net



Sinopse: Este, curta metragem, é baseado no livro de Ernest Hemingway e acabou ganhando o Oscar no ano de 2000.

A obra exigiu árduo trabalho, por parte de Alexander Petrov -mais de 2 anos em que o pintor preparou manualmente mais de 29 mil frames (em vidros pintados) para finalização do filme.

Petrov é realmente incrível, utilizando uma técnica muito artesanal para criar suas obras, como o é a pintura sobre o vidro, ele ‘abusa’ e simplesmente usa os próprios dedos como pincel.

Enfim, um trabalho de uma precisão e generosidade ímpar, com dignidade e respeito expostas em vívidas cores, em reconhecimento e em dedicação para levar às telas uma obra magistral numa forma única, artisticamente una.

Créditos: F.A.R.R.A. - Eudes Honorato

Fonte: http://nabangue.wordpress.com/


Elenco de Vozes:

Gordon Pinsent
Kevin Duhaney


Screen Shots:












mais uma pérola da IEDA - tucana insana - CRUZIOS

governadora se diz escravizada



Pura realidade ou mera fantasia?

Sabe-se por experiência empírica que a governadora Yeda Rorato Crusius (PSDB) não é dada a explicar nada. Ora por simplória, ora por malícia a governadora não dá conseqüência ao que faz ou que diz. Comprou uma casa de valor expressivo, dias antes de assumir a chefia do Executivo estadual, e – passados dois anos, praticamente – ainda não quis ou não conseguiu convencer ninguém sobre a lisura daquela aquisição imobiliária.

Horácio, o escritor e poeta romano, diria que a governadora está sub judice moral da sociedade sul-rio-grandense, no que se refere ao tema da casa própria.

Esse é apenas um tema que se soma aos tantos que se empilham na pasta de assuntos pendentes do governo tucano no Rio Grande do Sul. Seria cansativo nomear o longo rol neste que se quer ameno blog.

Ontem, entretanto, a governadora, certamente, achando que a lista é pequena, ou que a paciência pública seja infinita, juntou mais uma sentença incompleta ao seu repertório de absurdidades. Na entrevista ao jornal ZH dominical, a governadora afirmou, de passagem, que “foi muito escravizada nestes dois anos”. Mais não disse, porque mais não lhe foi perguntado (os profissionais da RBS são "ótimos").

“Escravizada” é o particípio do verbo escravizar. Verbo conjugado no particípio assume característica de adjetivo, ou seja, empresta qualidade à ação. Logo, a governadora está se autoqualificando como uma escrava, uma mulher em cativeiro, oprimida moral ou espiritual de alguém ou de algo. Mas o verbo escravizar é transitivo, exige complemento para que consiga exprimir a ação de forma completa. Quem escraviza? Quem se submete à condição de escrava? Quem se submete à opressão física ou moral é a governadora, mas quem a está submetendo? Que agente público ou privado exerce dominação física/moral/espiritual sobre a senhora Yeda Rorato Crusius?

A se confirmar a revelação da governadora, temos uma dirigente pública que está sofrendo constrangimento de origem desconhecida, mas que necessita complementar melhor a sua natureza para que, sobre os seus atos, não paire nenhuma ilegitimidade (ou ilegalidade) decorrente da sua condição (manifesta) de escrava.

Se as explicações devidas não surgirem, estaremos livres para concluir que essa história de escrava é apenas uma fantasia marota que escapuliu dos sonhos desejosos da governadora guasca.

A midia de esgoto se manifesta...

O mesmo fato, duas notícias


A prisão, hoje, de quatro torcedores gremistas suspeitos de envolvimento no episódio que deixou outros dois torcedores feridos à bala, em uma briga no dia 16 de novembro, foi noticiada diferentemente pelo Lancepress! e pela Zero Hora Online. A diferença: ZH não mencionou o fato de que um dos presos é filho do secretário extraordinário de Irrigação do Governo do Estado, Rogério Ortiz, conforme informou o Lancepress!:
"Filho de secretário é preso por tiros em torcedores"

"Bruno Ortiz, filho do secretário extraordinário de Irrigação do Governo do Estado, Rogério Ortiz, foi um dos quatro presos hoje em uma operação contra torcedores gremistas suspeitos de envolvimento em uma briga no último dia 16. Na ocasião, dois homens foram baleados após um jogo do Grêmio pelo Campeonato Brasileiro. As prisões ocorreram nas cidades de Porto Alegre, Canoas e Esteio. Ortiz, que também é conselheiro do clube, faria parte de uma facção da torcida organizada Geral, o Grupo de Ataque Surpresa (GAS), que combateria negros e homossexuais. Os policiais arrombaram nesta manhã a sala da torcida no Estádio Olímpico porque, apesar de o local pertencer ao clube, os dirigentes não tinham a chave da porta(...)". (Lancepress!)

ZH Online noticiou assim:

Polícia prende envolvidos em briga de torcidas do Grêmio

"A Polícia Civil deflagrou na manhã desta sexta-feira a Operação Contra-ataque, tendo como alvo suspeitos de envolvimento na briga entre as torcidas Máfia e Geral do Grêmio, ocorrida após o jogo contra o Coritiba, no Estádio Olímpico, em 16 de novembro. No confronto, Lucas Balardin, 19 anos, e Marçal Santos, 30, acabaram baleados. Dos nove mandados de prisão preventiva, quatro resultaram em prisões. Cinco pessoas estavam foragidas. Foram cumpridos ainda 15 mandados de busca e apreensão em Porto Alegre, Canoas e Esteio. O único preso que havia sido identificado é o torcedor Bruno Ortiz, 23, encontrado em casa no bairro Cavalhada. Ele é suspeito de ser um dos responsáveis por incitar a torcida Geral no conflito contra a Máfia (...)".

Manifesto pelo Equador...

Manifesto pelo Equador e pela constituição de uma rede mundial contra a dívida externa

A América Latina e o Caribe continuam a pagar tributos coloniais. As dívidas externas, contraídas em condições ilegítimas, enganosas, ilegais ou corruptas minam a soberania dos povos e obrigam-nos a entregar todas as suas riquezas. Dívidas odiosas contraídas pelas ditaduras, feitas para subjugar e reprimir, combinam-se com dívidas expansivas que paradoxalmente quanto mais se pagam mais crescem. As dívidas não foram contraídas pelos povos e sim contra eles.

Os navios canhoneiros dos poderosos que impunham os empréstimos, ansiosos por converterem-se em credores para poderem manter condições de controle e saqueio sobre os territórios da América Latina e do Caribe, após as guerras de Independência, reaparecem hoje sob as figuras da IV Frota, do Plano Colômbia, da Iniciativa Mérida e dos Comandos Sul e Norte, mas encobertas por trás de subtis mecanismos financeiros.

Dívidas contraídas desta maneira são ilegítimas e já foram pagas várias vezes. Obrigam a privilegiar a obtenção de divisas e a adiar eternamente a busca do bem estar dos povos. Justificam e propiciam a impunidade e a corrupção.

Em 20 de Novembro de 2008 o Equador, depois de realizar uma exaustiva auditoria do caso, desconheceu o seu compromisso com uma avultada e lesiva dívida ilegítima. Exercendo a sua soberania e o seu direito a auto-governar-se, num acto da maior transcendência, propôs-se julgar os responsáveis por contrair-la e usá-la em nome do povo.

Perante a crise financeira e a recessão económica provocada pela voracidade das corporações transnacionais, que agora querem fazê-la pagar aos nossos povos, é indispensável estender a nível mundial a recusa definitiva do pagamento da dívida externa.

Nós intelectuais, artistas e lutadores sociais, comprometidos com a democracia, a liberdade e os processos de emancipação dos povos do mundo, apoiamos a decisão do governo equatoriano de não se responsabilizar por uma dívida que não lhe cabe e nos tornamos promotores da criação de uma rede mundial contra a dívida externa, ilegítima e os tributos coloniais, em coordenação com todas as iniciativas existentes contra o pagamento da dívida.

Basta de tributos coloniais. Queremos e lutaremos por um Equador e uma América Latina livres e soberanos.

Pablo González Casanova, José Luis Ceceña, José Francisco Gallardo, Raúl Álvarez Garín, Felix Hernández Gamundi, Carlos Walter Porto Gonçalves, Ana Esther Ceceña, Gilberto López y Rivas, Carlos Fazio, Héctor Díaz Polanco, Magdalena Gómez, Jorge Turner, Federico Alvarez, Angel Guerra, Maricarmen Montes, Enrique Rajchenberg, Darío Salinas, Beatriz Stolowicz, Edur Velasco, María Guerra, Daniel Inclán, Nayar López, Rebeca Peralta, Walter Martínez, Amarela Varela, David Barrios, Rodrigo Yedra, Carolina Oropeza

Enviar adesões a:
Ana Esther Ceceña, anacecena@gmail.com
Instituto de Investigaciones Económicas, UNAM
Observatorio Latinoamericano de Geopolítica
(52 55) 5623 0100 extensión 42418
www.geopolitica.ws

O original encontra-se em http://www.geopolitica.ws/leer.php/145


Este manifesto encontra-se em http://resistir.info/ .

domingo, 30 de novembro de 2008

Quinteto da Paraíba - Armorial & Piazzolla (1999)





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Do LeMondeDiplomatique-Brasil

A opção pelo não-mercantil

A expansão dos serviços públicos gratuitos pode ser uma grande saída, num momento de recessão generalizada e desemprego. Mas para tanto, é preciso vencer preconceitos e demonstrar que a economia não-mercantil não depende da produção de mercadorias. Neste debate teórico, enfrentaremos os liberais e... os marxistas ortodoxos

Jean-Marie Harribey

Em meio a uma crise financeira de enorme gravidade, a ofensiva contra os serviços públicos, a proteção social e o direito trabalhista prossegue sem tréguas. Espaços que até agora não haviam sido contaminados pela lei da rentabilidade e pela obsessão com o lucro [1] estão sendo duramente pressionados. É o caso da esfera não-mercantil – aquela que produz serviços que não estão à venda no mercado, mas cuja remuneração é paga coletivamente, por meio de impostos e cotizações sociais. Ou arriscam-se a entrar em estado crítico, esmagados pelo peso das privatizações, da diminuição do número de funcionários públicos e da redução dos impostos pagos pelo capital e os mais ricos.

Há dez anos, a primeira palavra de ordem do movimento contra a globalização liberal foi “o mundo não é uma mercadoria”. A mensagem dizia, na verdade, que “ele não deve ser transformado numa mercadoria”. Ora, todos os serviços não-mercantis — até mesmo a educação pública e o acesso universal aos tratamentos médicos — estão ameaçados desde que o capitalismo começou a reduzir o raio de ação desses setores, ampliando o da acumulação privada. Infelizmente, não existe hoje nenhuma teoria capaz de fazer frente a esse tipo de disfarce ideológico do discurso econômico liberal. Até a teoria marxista tradicional, a priori pouco suspeita de complacência, permanece agarrada ao dogma segundo o qual os serviços não-mercantis são financiados pela cobrança de tributos sobre a mais valia produzida no setor capitalista. Em conseqüência disso, os trabalhadores desses serviços são declarados improdutivos, [2] e toda tentativa de teorizar o não-mercantilismo encontra uma barreira intransponível, uma vez que a “não-mercadoria” dependeria da existência da mercadoria.

O que está em jogo aqui é a necessidade de forjar uma ferramenta conceitual alternativa. Em primeiro lugar, será preciso passar por uma desconstrução sistemática da visão habitual, compartilhada tanto pelos liberais quanto pela ampla maioria dos pensadores que se dizem marxistas. Ainda que a análise da mercadoria empreendida por Karl Marx no começo de O Capital forneça instrumentos para uma crítica da mercantilização do mundo, o marxismo tradicional deixou abandonado aquilo que poderia constitui uma proteção contra ela.

Trata-se, portanto, de elaborar uma economia política crítica, cujo objetivo é teorizar sobre a esfera não-mercantil — que deve pouco a pouco se ampliar, à medida que trabalho for levando vantagem na correlação de forças com o capital. A primeira etapa consiste em mostrar que, longe de enfraquecer a economia, a produção não-mercantil tem como efeito valorizar a produção mercantil.

Keynes já demonstrou que a intervenção do Estado tem efeito multiplicador. Mas é preciso desfazer o mito segundo o qual a atividade não-mercantil depende da cobrança de impostos sobre a produção de mercadorias

A teoria keynesiana já havia apontado que, numa situação de carência de emprego e redução do consumo, a intervenção do Estado desencadeia um efeito multiplicador mais intenso quando a renda per capita é baixa [3]. Quanto mais a renda é reduzida, mais a proporção do que é gasto com o consumo adquire importância. Trygve Haavelmo [4] acrescentou que essa intervenção é benéfica mesmo se a despesa pública suplementar for efetuada no quadro de um orçamento equilibrado [5]. Mas ainda não conseguimos derrubar a idéia segundo a qual o financiamento de uma atividade não-mercantil proviria da cobrança de impostos sobre o fruto da atividade mercantil.

Para alcançarmos esse objetivo, vamos lançar mão de uma hipótese hoje irreal, mas que vale pela lógica que confere a um raciocínio “no limite”, numa perspectiva dinâmica. Suponhamos que a esfera não-mercantil se amplie progressivamente e que o pagamento dos bens e serviços nela produzidos seja socializado por meio dos impostos. Se a participação dessa esfera na produção total tendesse a aproximar-se do máximo de 100%, seria impossível considerar que o seu financiamento pudesse ser garantido pelas contribuições tributárias da esfera mercantil — que estaria em vias de desaparecer. Com isso, a tese segundo a qual uma atividade em crescimento é financiada por outra atividade em fase de regressão relativa é logicamente refutada.

Dito isso, é preciso generalizar esse resultado e dele concluirmos que são vazias todas as teses que fazem da produção mercantil, em determinado momento e dentro da continuidade do tempo, a fonte da produção não-mercantil. Da mesma maneira, isso permite compreender a notável fraqueza da concepção que prevaleceu na União Soviética, cujo sistema econômico incorporou na atividade produtiva apenas o produto material, por considerar que os serviços não faziam parte da produção.

Na verdade, não existe o caráter produtivo do trabalho em si. Este se define apenas em função das relações sociais existentes. Diante disso, é preciso recuperar conceitos antigos, mas ainda pertinentes, baseados numa dupla distinção. Em primeiro lugar, aquela estabelecida por Aristóteles entre o valor de uso (a capacidade de satisfazer a uma necessidade) e o valor de troca (a capacidade de permitir a acumulação). O primeiro representa uma riqueza que não pode ser reduzida à produzida pelo segundo [6]. Em segundo lugar, temos a distinção, feita por Marx, entre o processo de trabalho em geral e o processo de trabalho capitalista — ou seja, entre o trabalho produtor de valores de uso e o trabalho produtor de valor mercantil e de mais-valia para o capital.

Da mesma forma que os salários pagos serão gastos depois, na compra dos bens mercantis, o pagamento do imposto expressa, após os serviços coletivos terem sido produzidos, o acordo da população com as despesas e seus resultados

Em todas as sociedades capitalistas contemporâneas, estão combinadas entre si três formas de implementação das capacidades produtivas. A primeira, dominante, diz respeito ao trabalho assalariado que resulta numa produção de valor mercantil, destinada a engordar o capital. A segunda é a do trabalho assalariado nas administrações, uma atividade que produz valores de uso monetários, ainda que a sua finalidade não seja mercantil (educação e saúde públicas, por exemplo). Por fim, existe a terceira forma de atividade humana, situada na esfera doméstica ou no campo associativo, cujo produto é não-monetário. A idéia aqui defendida é de que as duas últimas formas não nascem da riqueza gerada pela primeira [7].

Vale, portanto, retornarmos a Marx, mas também a Keynes, generalizando seu conceito de antecipação. As empresas privadas resolvem produzir quando identificam as demandas de mercados com necessidades solváveis para suas mercadorias. Elas efetuam então investimentos e põem salários em circulação. A venda no mercado valida essa antecipação, enquanto baixas vendas a punem.

Quanto às administrações públicas, antecipando a existência de necessidades coletivas, elas efetuam investimentos públicos e também contratam. A validação é então efetuada em função de um benefício econômico esperado (ex ante), como resultado de uma decisão coletiva, e se confunde com a antecipação.

Nos dois casos, a injeção de moeda sob forma de salários e de investimentos privados e públicos põe a máquina econômica para funcionar e engendra a produção — de bens privados mercantis e de bens públicos não-mercantis.

Da mesma forma que os salários pagos serão gastos depois, na compra dos bens mercantis, o pagamento do imposto expressa, após os serviços coletivos terem sido produzidos, o acordo da população para que sejam garantidas de maneira perene a educação, a segurança, a justiça e as tarefas de administração pública. A antecipação de serviços não-mercantis e a sua produção pelos trabalhadores das administrações públicas antecedem, portanto, logicamente seu “pagamento” de pelos usuários.

O contribuinte não “financia” nem a escola nem o hospital — da mesma forma que o comprador de um automóvel não “financia” as linhas de montagem. O financiamento é anterior à produção, quer esta seja mercantil ou não-mercantil

A expressão “os impostos financiam as despesas públicas” é enganadora. A ambigüidade provém da confusão entre as noções de financiamento e de pagamento.

A produção capitalista é financiada pelos adiantamentos de capital em investimentos e salários, adiantamentos esses cujo cresciento no plano macroeconômico é permitido pela criação monetária; e são os consumidores que pagam.

Qual será o papel do imposto, em relação à produção não-mercantil? Ele constitui seu pagamento socializado. O contribuinte não “financia” nem a escola nem o hospital — da mesma forma que o comprador de um automóvel não “financia”, de maneira alguma, as linhas de montagem de automóveis. Isso porque o financiamento é anterior à produção, quer esta seja mercantil ou não-mercantil. O pagamento, por sua vez, é posterior.

Por fim, a atividade produtiva suplementar engendra uma renda suplementar e, portanto, uma poupança suplementar, que irá alimentar o investimento suplementar — tanto privado como público —, que desencadeia mais atividade.

Se a economia capitalista é uma economia monetária, seria possível extrair tributos de uma base que ainda não teria sido produzida e, mais ainda, deveria resultar do produto desses tributos? Já que isso é logicamente impossível, torna-se necessário inverter o raciocínio: a produção não-mercantil, e os dividendos monetários que a ela correspondem, antecedem os tributos. E, no que vem a ser o ponto crucial, que reduz o discurso liberal ao arcaico, isso nos leva à conclusão de que os trabalhadores dos serviços não-mercantis produzem a renda que os remunera.

São os trabalhadores do setor capitalista – e não os consumidores – que criam o valor monetário. E são os trabalhadores do setor não-mercantil – e não os contribuintes – que criam o valor monetário dos serviços não-mercantis

É verdade que o pagamento do imposto – da mesma forma que as compras privadas dos consumidores – faz com que o ciclo produtivo possa se reproduzir sucessivamente. Contudo, existem dois pontos falhos na ideologia liberal. Em primeiro lugar, são os trabalhadores do setor capitalista – e não os consumidores – que criam o valor monetário, do qual os capitalistas embolsam uma parte. E são os trabalhadores do setor não-mercantil – e não os contribuintes – que criam o valor monetário dos serviços não-mercantis. Em segundo lugar, o financiamento designa o impulso monetário necessário para a produção capitalista e para a produção não-mercantil. Em decorrência disso, o impulso monetário deve ser diferenciado do pagamento.

Portanto, diferentemente do que reza a opinião dominante, os serviços públicos não são fornecidos a partir do recolhimento de algum tributo sobre algo preexistente. O seu valor monetário e não-mercantil não é nem drenado, nem desviado. Ele é produzido. Conseqüentemente, dizer que o investimento público concorre com o investimento privado não faz sentido. Da mesma forma, afirmar que os salários dos funcionários públicos são pagos por meio da retenção de tributos sobre a renda gerada pela atividade privada é tão inconsistente quanto afirmar que os salários do setor privado são pagos por meio da retenção de um imposto sobre os ganhos dos consumidores. Isso equivaleria a ignorar que a economia é um circuito cujos dois atos fundadores são a decisão privada de investir para produzir bens e serviços mercantis e a decisão pública de investir para produzir serviços não-mercantis.

Em outras palavras, a arrecadação tributária incide sobre um PIB (Produto Interno Bruto) que já foi acrescido do fruto da atividade não-mercantil. Uma vez que o imposto não subtrai dinheiro da riqueza preexistente, mas cobra o preço socializado de uma riqueza suplementar, não há mais como satisfazer-se com a consideração trivial da “retenção” sobre o produto mercantil (conforme reza a linguagem liberal), ou sobre a mais-valia capitalista (segundo a linguagem marxista). O trabalho e os recursos materiais empenhados numa determinada atividade deixam de estar disponíveis para outra. Mas não há razão alguma para supor que o trabalho empenhado na primeira mantenha a segunda.

As necessidades humanas são satisfeitas por valores de uso materiais ou imateriais — produzidos ou na esfera do capital ou no âmbito da coletividade. O fato de que certos valores de uso não possam ser obtidos senão por meio da mediação do capital, de modo algum implica que o mercantil engendre o não-mercantil. Nem que o valor monetário não-mercantil seja quantitativamente incluso no valor monetário mercantil, o que é obrigatório na visão tradicional.

A riqueza não-mercantil é duplamente socializada: ela utiliza capacidades produtivas em benefício de todos e reparte socialmente o ônus do pagamento. Por tais motivos, é tão condenada pelo modo de ver burguês e especialmente pelo senso comum neoliberal

A esse respeito, o fato de alguns cálculos econométricos entenderem as despesas públicas como atos de consumo não deve iludir ninguém. De um lado, estamos analisando a despesa pública livre de infra-estruturas, de equipamentos e de despesas de consumo intermediárias. Ou seja, a despesa medida em função dos salários pagos, e que constitui, portanto, a contrapartida de uma nova produção de valores de uso. De outro lado, não há razão alguma para considerar de maneira diferente o adiantamento de salários pelas empresas privadas e o efetuado pelas administrações públicas. Nos dois casos, trata-se de uma “despesa” do empregador. Toda produção implica despesas – é uma trivialidade dizer isso –, e todo discurso que se esquecesse disso seria inconseqüente. O que importa é distinguir as formas de produção que permitem um trabalho produtor de mais-valia para o capital (validado pelo mercado) daquelas que permitem um trabalho produtor de valores de uso (cuja validação se deve a uma escolha coletiva democrática).

A riqueza não-mercantil, portanto, não é fruto de uma arrecadação financeira sobre a atividade mercantil, mas sim um “valor adicional” proveniente de uma decisão pública de utilizar forças de trabalho e equipamentos disponíveis ou subtraídos ao lucro. Ela é socializada em dois aspectos: pela decisão de utilizar coletivamente capacidades produtivas e de repartir socialmente o encargo do pagamento. Ou seja, um mecanismo insuportável para o modo de ver burguês, e mais particularmente para o senso comum neoliberal.

A elucidação do enigma da produção não-mercantil participa da redefinição da riqueza e do valor, o que é indispensável para deter o processo de mercantilização da sociedade. A teoria liberal confunde riqueza com valor. E as teorias hostis ao capitalismo não devem permanecer obcecadas pelo fato de que esse sistema tende a reduzir todo valor àquele destinado ao capital. Nesse plano específico, um reexame crítico das categorias utilizadas tradicionalmente pela economia política e pelo marxismo é indispensável para a elaboração de uma economia política da desmercantilização.

Em resumo, trata-se de se livrar do liberalismo econômico e de certas interpretações do marxismo para retornar aos fundamentos de Marx, que definia o “valor” como “o caráter social do trabalho, na medida em que o trabalho existe como emprego de força de trabalho ‘social’” [8]. O reconhecimento de que o trabalho efetuado para atender a necessidades sociais fora da esfera da mercadoria é parte do controle que a sociedade exerce sobre aquilo que vem a ser o seu bem-estar — ou seja, a “verdadeira” riqueza [9]. E, por gerar tão valiosa contribuição, a riqueza socializada não é menos riqueza do que a riqueza privada, pelo contrário.



[1] “Nós precisamos redobrar esforços em prosseguir as reformas”, repetiu o governo francês depois do discurso de Nicolas Sarkozy em Toulon, em 25 de setembro de 2008.

[2] Até mesmo André Gorz, apesar de ser um crítico em relação ao marxismo tradicional, concorda com essa visão. Ecologica, Paris, Galilée, 2008.

[3] É a parte de um aumento de renda que é consumida.

[4] Economista norueguês, Prêmio Nobel de economia em 1989. Para saber mais, consultar a Wikipedia (em inglês) ou a Fundação Nobel(em inglês)

[5] Trygve Haavelmo, “Multipliers effects of a balanced budget”, Econometrica, vol. 13, outubro de 1945.

[6] Aristóteles, A Política, Tradução do grego, introdução e notas de Mário da Gama KURY. 3ª ed. Brasília: UNB, 1997. 317p. ISBN: 85230001109. Uma versão da mesma obra pode ser baixada (grátis) na internet Para uma análise esclarecedora dessas questões, ver Le Petit Alter, Dictionnaire altermondialiste, Paris, Mille et une nuits, 2006.

[7] O fato de os ganhos de produtividade serem geralmente mais reduzidos nos serviços, mercantis ou não, não deve ser confundido com o caráter produtivo em si. Essa é precisamente a confusão que Gorz comete implicitamente, op. cit.

[8] Karl Marx, “Notas críticas sobre o Tratado de Economia Política de Adolph Wagner” (1880). Este e outros textos de Marx são tema do artigo "Marx tardio: notas introdutórias", de Pedro Leão da Costa Neto, publicado em Crítica Marxista, edição 17 (2003). O artigo pode ser baixado (em pdf) aqui.

[9] Concordo plenamente com o título do último capítulo do livro de Gorz, op. cit., “Riqueza sem valor, valor sem riqueza”. Para uma abordagem complementar, ler Jean-Marie Harribey, L’économie économe, Paris, L’Harmattan, 1997.

sábado, 29 de novembro de 2008

A Classe Média Enrustida que carregamos


Por Raul Fitipaldi. Brasil

www.desacato.info

Os acontecimentos que me acompanham desde que sai do PT em 2002, e antes, os que motivaram essa saída vieram à minha memória em várias ocasiões esta semana. Mencionarei apenas três delas. A primeira é fruto da leitura minuciosa de todos os artigos que nossos companheiros da Venezuela têm escrito sobre os resultados da eleição regional acontecida no domingo 23. A segunda é fruto da leitura do belíssimo artigo da companheira Elaine Tavares, titulado Jornalismo é Conhecimento e libertação (Pobres & Nojentas Teórica No 1 P 7). Finalmente, a terceira é de ordem pessoal e, portanto, ficará guardada nos seus dados (nem que dizer dos detalhes) e mudou substancialmente minha rotina diária.

Primeiramente, por que estas três questões, aparentemente sem nexo me lembraram minhas últimas andadas no PT? Porque em 2002 o PT já estava definitivamente carcomido pelo cancro oportunista da classe média enrustida nele, discursando pela classe trabalhadora, repintando o vermelho da bandeira em tons branquelos, pálidos de sem-vergonhas. Porque a retórica humilhante do assistencialismo e o boçalismo já formavam parte do cardápio diário do partido. Porque, em definitivo, a classe média representada pelo burguês pequeno-pequeno tinha se empossado definitivamente e com ares de gloriosa determinação uniformista desde a direita mais radical, então representada pela Unidade na Luta, até a esquerda reformista que então se chamava, quase de forma eufemística, Articulação de Esquerda. O resto era o resto, talvez excetuando a neurótica fábula da classe média típica instalada na Democracia Socialista, redundante como o seu próprio nome.

Afirmei desde então um sentimento nada recomendável que me acompanha desde a infância como “doença incurável”, repugnância pela forma como a classe média repta e se instala encostada no poder institucional (para defender o status quo) fazendo o discurso por esquerda e aumentando a poupança por direita. Sinto repugnância por essa classe média que bebe dos ricos e come dos pobres. Que me desculpem meus amigos que a ela pertencem e não tem se locupletado nos determinismos obseqüentes de sua classe.

No belo artigo da Elaine Tavares há um trecho titulado Os Pecados do Jornalismo praticado Nos Sindicatos. Ele discorre sobre os paradoxos de uma discurseira sindical que execra a “mídia como instrumento da burguesia” (...) “ao mesmo tempo, esperam que essa mesma mídia dê generosos espaços para suas lutas” diz Elaine. Eu gostaria de avaliar isso desde o ponto de vista do status social e econômico obtido por boa parte das direções sindicais, em muitos casos tornada em cara mobília dos sindicatos, que envelhece dentro deles como madeira e cupim. A fonte informativa dos sindicatos, me parece, e observo que Elaine toca com justeza esse assunto, em geral não tem mais o trabalhador como assunto e sim o dirigente liberado. O jornalismo chapa-branca que promove o dirigente famoso, o presidente, o secretário geral e não o trabalhador na sua planta de afazer. De novo a classe média, através dos modos perfumados, bem vestidos, de carrinho e motorista, está enrustida no coração da organização que deveria nos levar aos pobres à mobilização, à luta de classes capaz de derrotar a miséria que nos impõe o sócio rico, cujas migalhas alimenta o cerne intelectual e estético da classe divisória. Todo presidente ou dirigente “poderoso” de um sindicato (salvo numerosas exceções –ainda bem que numerosas embora em extinção) prefere aparecer no Diário Catarinense do Império Sirotsky e, como não pode, transforma seu jornal de categoria num espelho ridículo da sua imagem adquirida de classe média aburguesada.

Do último caso não darei conta nem nome aos bois, saiba me desculpar o leitor. Porém, mesmo sendo uma experiência da vida privada consta das tinturas oriundas dessa classe maluca que se assenta numa contradição histórica desde sua artesanal existência de cortesã palaciana do pré-capitalismo até essa coisinha apêndice do imperialismo do capital. O fato oculto remete à constante procura da nova certeza, do estímulo novo, da nova partitura que nos faça bailar ao compasso da música sem ficar à margem, da “vida intensamente vivida” e outros chavões, certa e alegre. Aconteceu sem e com a “culpa cristã” dos protagonistas sonegados e em questão. A doença, a fome e a dor, que foi reservada aos pobres mais claramente desde Malthus (séculos 18/19) para sua diminuição como espécie, é um fantasma que persegue à classe média. Chorar pouco para não alagar, rir o suficiente para não enrugar, comer o necessário para ser apetecível, e espirrar pedindo perdão. A classe média sempre estará com sua atitude e aptidão recebendo o benefício dos ricos e despejando uma parte importante dos lucros na culpa que arroja em cima dos pobres. E embora pareça contraditório (homenagem suplementar à dialética) a classe média é o objetivo primordial dos pobres sem consciência de classe, sem desejos reais, práticas verdadeiras de transformação (fora do discurso oral e escrito). Às vezes parece que para a classe média a vida dos pobres é como a morte, os desabamentos e os acidentes, só acontece com os outros, e alguns pobres desejam sentir e viver assim. Porém...

... ESSA CLASSE MÉDIA que me veio à tona esta semana, desde que sai do PT em 2002, até que li no ônibus o belo capítulo da Elaine Tavares, e finalmente até o desfecho peculiar que virou minha rotina diária, está em franca extinção. A concentração de capital dos ricos, e dos mais ricos, e dos mais-mais ricos dos ricos, a fará vir a conviver conosco, aqui abaixo. Lembro-me dos anos 80, quando morava em Buenos Aires, e num conjunto habitacional de pobres e desempregados, chamado Villa Lugano, havia uma faixa enorme de lado a lado da entrada que rezava os dizeres BEM-VINDA CLASSE MÉDIA! E ela virá conosco, sem dúvida, não por que o deseje, apenas porque assim o determina o patrão, mas, cuidado, sempre pode ser a quinta coluna da luta final contra o capitalismo. E, sempre também, quando cometa os erros que lhe são proverbiais, culpará aos ricos e nos passará a fatura aos pobres.

Assumo as dores de quem seriamente emergiu da classe media para exercer a defesa dos pobres e excluídos na Venezuela e o faz com afinco e clareza incomparáveis (nossa boa Carola Chávez), e tomo para mim seus Gritos Digitais que Desacato publicou esta semana. Apelo aos governantes que pretendem encarnar nossos desejos de transformação (Chávez, Evo, Correa, Ortega) que não façam mais esse discurso de GOVERNAR PARA TODOS. O que há é que governar é para as maiorias pobres e excluídas, que os RICOS JÁ TÊM GOVERNOS HÁ SÉCULOS E A CLASSE MÉDIA É SUA CAMAREIRA ENRUSTIDA.