segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Um Capitalismo Produtivo e Sensato?


A hiper-concorrência entre capitais.


Por Ernesto Herrera. Uruguai

“Os economistas que pretendem explicar pela especulação

as repetidas sacudidas da indústria e o comércio,

se assemelham a essa escola perimida da Biologia

que considerava á febre como causa de todas as doenças.”

(Karl Marx, artigo publicado no New York Tribune, 15 de dezembro de 1857)

O colapso financeiro dos últimos meses volta a mostrar a realidade cruel do capitalismo. Cada vez se faz mais evidente a faceta de um sistema que se funda sobre a produção e reprodução das desigualdades sociais em uma escala jamais conhecida na história. Bastaria com registrar que enquanto no último ano as Bolsas queimaram na fogueira especulativa 14,3 bilhões de dólares (um patrimônio equivalente ao Produto Bruto dos Estados Unidos), e o salvamento estatal aos banqueiros nos países imperialistas consome quantidades indecifráveis de dinheiro, a miséria social se expande pelos “países subdesenvolvidos”.

Esses mesmos países – agora batizados como “mercados emergentes” – foram alvo do endividamento externo, as “reestruturações” capitalistas e os “planos de ajuste” das instituições financeiras internacionais. Os serviços públicos de saúde foram desmantelados/privatizados, e a fome adquire uma dimensão massiva. Segundo a ONU, alcançaria 1 bilhão de dólares para reduzir a metade das vítimas do paludismo. De acordo com a FAO (agência da ONU para a alimentação), o mundo tem recursos suficientes para alimentar a 24 bilhões! de pessoas, porém, mais de um bilhão dos 6 bilhões de habitantes do planeta, estão famintos.

Em poucas semanas, o esbanjamento obsceno do capitalismo engoliu muito mais do que as somas necessárias para arrancar da miséria mais atroz uma boa parte da humanidade.

Na vertigem que produz a debacle, aparecem novos e velhos tópicos: a idéia de uma economia capitalista real oposta a uma esfera financeira inteiramente virtual.

A característica principal do capitalismo contemporâneo, não reside por uma oposição entre um capital produtivo e um capital financeiro, senão na hiper-concorrência entre capitais o qual conduz à financeirização.Esta interpretação nos leva diretamente a observar a correlação entre desocupação e a financeirização como um fio que tece as condições de exploração. Em tal sentido, não se pode separar a tendência autônoma das finanças do funcionamento “normal” do “bom capitalismo produtivo. O capital financeiro joga um papel decisivo na apropriação do “valor agregado” (exploração da força de trabalho): a partir do momento em que a taxa de lucro aumenta graças ao retrocesso salarial ser reproduzir as ocasiões de acumulação rentável, as finanças entram a jogar um papel funcional na reprodução capitalista. De outro modo: os ganhos patronais que não se investem para gerar novos investimentos produtivos e novos empregos, são distribuídos sob a forma de ganâncias nos mercados financeiros. Para assegurar ou multiplicar a rentabilidade dos capitais.

Em todo caso, o que tem feito o capital financeiro é lhe dar asas à exploração para assim, mantê-la melhor. Se a essa exploração, dentro do capitalismo, se lhe cortam as asas, não por isso desaparecerá a exploração capitalista em lugar nenhum. Quem pense pelos demais que o que estão fazendo hoje os governos dos EUA e a União Européia tem que ver com um autêntico controle democrático do capital financeiro se equivoca. Mais se equivoca ainda quem considere que estamos ante o fim da versão neoliberal do capitalismo ou ante a derrota das receitas do Consenso de Washington. É importante distinguir entre o aspecto teórico ou ideológico da crise e o componente prático. Se analisarmos a trajetória do neoliberalismo, encontraremos que as intervenções estatais, sob distintos formatos, foram recorrentes. Todas elas em favor dos patrões.

Uma violenta ofensiva contra os trabalhadores

Alguns acreditam na recessão como um fato. Outros, os menos pessimistas, a anunciam para 2009. De todas formas coincidem em um dado: a recessão alcançará os países que, no seu conjunto, representam o 65% do PIB mundial. Nem sequer a “locomotiva” chinesa escapará deste verdadeiro tsunami econômico.

É na profundidade desta crise capitalista, que todos os programas de “austeridade” e de ataque aos direitos sociais vão reforçar-se. A crise entra fundo em mar aberto e chocará contra o ingresso dos assalariados e os aposentados, com um crescimento massivo da desocupação, a pobreza, a miséria social. As multimilionárias somas afetadas aos diferentes planos de salvamento financeiro nas potências centrais (ou para “prevenir” os impactos da crise internacional, como já o faz, por exemplo, o governo Lula), terão como contrapartida a redução do “gasto público” (investimentos públicos, salários, seguridade social, saúde, educação, etc.)

Reduzir-se-ão ainda mais as “cargas sociais”, ou seja, a parte do salário indireto (salário social) que cumpre uma função central na reprodução da força de trabalho sob a forma de prestações sociais. Isto se acompanhará de isenções tributárias e subvenções aos empresários para baixar o “o custo do trabalho” e recuperar a “rentabilidade” (taxa de lucro) empresarial.

E, muito em breve, poderemos resumir os fatores que, segundo Marx, permitem essa recuperação da taxa de ganância capitalista: a) aumento do grau de exploração do trabalho; b) redução do salário por debaixo do seu valor (sobre-exploração); c) barateamento dos elementos que constituem o capital constante (máquinas, matérias primas, edifícios); d) incremento do desemprego (exército industrial de reserva) e subemprego (precarização); e) conquistas comerciais no mercado mundial; f) aumento do capital-ações, ou seja, capital fictício.

A imoralidade da exploração

Com uma manifesta incapacidade da esquerda e do sindicalismo de atacar o coração do sistema (ou seja, a apropriação privada do trabalho social), os fantasmas gerados pelo regime do capital como o do “capitalismo financeiro impiedoso” e o do especulador “imoral, ávido e corrupto”, seguirão integrando os temas das plataformas “reivindicativas” do sindicalismo burocrático e os discursos do “progressismo”. Todos falam da morte dos paradigmas neoliberais e a volta ao Estado “regulador”.

O fim do capitalismo (e sua fase neoliberal) como sabemos, ainda está longe de nós. Para acabar com eles é necessário ir até a raiz, onde descobriremos que o que os faz viver é a possibilidade de que existam em nome da liberdade, a expropriação de direitos e a compra-venda da força de trabalho. Marx e Engels sustentavam que o comunismo, além de pressupor a ditadura do proletariado, isto é a “conquista da democracia”, implicava a “supressão do trabalho”. Levando em conta que “trabalho” é para Marx utilização da mercancia-força de trabalho no processo de produção, supressão do trabalho não quer dizer, evidentemente, fim da produção, senão da existência da força de trabalho como mercancia. Algo que vai muito além de somar-se ao coral dos que clamam contra a “imoralidade” dos “mercados financeiros” e um retorno ao “Estado keynesiano”, pois implica elevar-se também contra a imoralidade da exploração e da propriedade privada. Uma imoralidade (capitalista, burguesa), que gera destruição permanente das condições de vida dos trabalhadores e suas famílias.

É divertido ver como os fanáticos liberais e os “progressistas” reconvertidos se juntam para propor um “capitalismo sensato”, “responsável”, “produtivo, “humano”, “auto-regulado”. Mas, a ideologia do “livre mercado”, da restrição orçamentária, da contenção salarial, da flexibilização laboral, das privatizações, longe de agonizar se apresta a dar uma nova arranhada aos trabalhadores e oprimidos, para cobrar assim as faturas da presente crise.

Ernesto Herrera é membro do Coletivo Militante.

Versão em português: Raul Fitipaldi, de América Latina Palavra Viva.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Do blog do Mino Carta...

Ignorância ou hipocrisia?

Mino Carta

O Ato Institucional nº 5 desabou sobre o Brasil faz 40 anos, o aniversário cai neste dia 13 de dezembro. Com ele, a ditadura tirou a máscara? Foi ato de pura formalidade, as premissas já estavam fincadas, como estacas inabaláveis.

Somos imbatíveis neste jogo das aparências, nós, do privilégio. E também somos bandeirolas ao vento da conveniência contingente. Até ontem lia e ouvia da mídia nativa que o regime de exceção de 21 anos resultou de uma revolução. Agora fala-se em ditadura militar. Permito-me ainda contestar o adjetivo militar.

Leio entre atônito e perplexo o suplemento de O Estado de S. Paulo sobre a edição do AI-5. O título de abertura informa a platéia que o edito assassinou a liberdade. E já não fora assassinada no dia 1º de abril de 1964, quando o golpe derrubou o presidente democrática e constitucionalmente eleito? E que esperar, a partir de então, daquele gesto de inaudita prepotência, invocado pelos inesgotáveis donos do poder e sua mídia, e praticado por seus gendarmes, convocados para executar o serviço sujo?

Diz o Estadão no seu suplemento que a sociedade brasileira apoiou o golpe. Que sociedade, caras-pálidas? Agrada-me, entre parênteses, usar o lugar-comum, tão apropriado, no entanto, para acentuar a palidez dos rostos privilegiados. Sim, a sociedade dos clubes faustosos, dos bairros elegantes, das redações abastadas, e do seu time aspirante, sequioso de ascensão. Enfim, dos democratas da democracia sem povo.

O golpe, é do conhecimento até do mundo mineral, foi invocado e estimulado para interromper a subversão em marcha, esta que espero em vão até hoje, com a inestimável colaboração da CIA e do embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon. Agora me pergunto: as manifestações midiáticas na comemoração do AI-5 são fruto de ingenuidade ou de desfaçatez, da ignorância ou da hipocrisia?

Algo está certo na apresentação do Estadão. A afirmação de que não houve outro diário atingido pela censura nascida do AI-5, como Palas Athena dos joelhos de Zeus. Justo lembrete, no mesmo momento em que os jornalões não hesitam em falar em ditadura fardada e anos de chumbo. Tamanha capacidade de vestir a roupa nova é de comover, ou estarrecer, como preferirem.

Nada de surpresas. Cabe, porém, estabelecer outras diferenças, a bem do futuro. O qual será melhor se a memória for preservada. A da censura e da feroz perseguição política e da tortura, crimes contra a democracia e a humanidade, praticados em conseqüência do golpe de 1964 e do golpe dentro do golpe de 1968.

A censura deu-se em três diferentes patamares, é verdade factual. O Estadão, que no seu suplemento se atribui o papel de líder na resistência à censura, contou de fato com concessões que outros não tiveram. Foi censurado na redação, foi autorizado a preencher espaços cortados com versos de Camões (e receitas de bolo no caso do Jornal da Tarde) e ficou livre dos censores no dia do seu centenário, dia 4 de janeiro de 1975, no quadro de evidente homenagem da ditadura a uma casa que na origem militara integralmente ao seu lado.

A censura no Estadão foi o desfecho de uma briga em família, a mesma que acabou por cassar Carlos Lacerda, favorito da família Mesquita à sucessão presidencial. Acima dos militares havia quem não concordasse com isso, e os rebeldes foram punidos, embora, lá pelas tantas, pudessem ser recebidos de volta como filhos pródigos.

Outro patamar para Veja, que eu então dirigia, primeiro censurada na redação por militares, depois por policiais civis e finalmente, de abril de 1974 a abril de 1976, obrigada a remeter diariamente o material para as dependências da Polícia Federal em São Paulo e, aos sábados, para o domicílio dos censores. Por algumas edições, não mais que seis, colocamos em lugar dos espaços cortados gravuras de gárgulas medievais. Os titulares das tesouras enfim entenderam, e os diabinhos foram proibidos.

No pior dos patamares ficou a imprensa alternativa, apresentada como nanica por quem se supõe gigantesco, e que eu chamaria de “tendência”. Sem exclusão do Pasquim e de O São Paulo, jornal da Cúria Metropolitana de São Paulo, ré por ser a casa de dom Paulo Evaristo Arns. Tinham estes desafetos que remeter o material para a sede central da PF, em Brasília, os semanários toda terça-feira.

O primeiro a ser liberado foi o Estadão. A censura só deixou os demais entre abril de 1976 e meados do ano seguinte. Ao celebrar seu centenário, o jornal da família Mesquita trouxe um suplemento bem mais volumoso do que aquele referido acima. Contava a sua história desde o começo e dedicava largo capítulo ao renascimento depois da encampação sofrida durante o Estado Novo.

Foi então que se deu a primeira reforma importante de um jornal brasileiro, iniciada sob a influência decisiva de meu pai Giannino em 1948 e assumida nos anos 50 por Claudio Abramo. No suplemento de 4 de janeiro de 1975 falava-se de um certo cavalheiro muito bem-educado de sobrenome Carta que andava pela redação sem propósitos melhor especificados. Quanto a Claudio Abramo, era simplesmente ignorado.

Não foi aquele um dia sem censura, conquanto faltassem os censores da ditadura. Se um marciano surgisse subitamente em cena, não conheceria toda a história. Assim como hoje, o mesmo marciano não saberia, a basear seu conhecimento na exclusiva leitura do Estadão, como de fato se deu a censura e qual foi o papel desde as preliminares do golpe de 1964.

Receio que no Brasil atual haja espaço para inúmeros marcianos, e não somente entre os leitores do Estadão. Dedico este texto ao planeta Marte.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Do blog culturajazzeafins...

Créditos: Rogerio

Um grande amigo acaba de voltar de Nova Iorque e me trouxe essa preciosidade, um álbum independente do lendário e misterioso baterista de jazz Abdul Zahir Batin, que mudou seu nome por questões religiosas e sumiu de cena depois da gravação desse CD. Seu verdadeiro nome de batismo é Michael Shepherd, ele já tocou com gente de peso como Archie Sheep e Wynton Marsalis. Esse álbum foi gravado em 1986, no famoso show no Jazz Cultural Theatre em NY, com sua banda The Notorious Ensemble, sendo seu único registro como lider, pois apesar de ser um excelente músico, e ter tocado com feras do jazz, acabou ficando a parte dos grandes selos de jazz, mas que pela paixão que tem pela música e pelo jazz, continua até hoje na ativa. Meu amigo comprou o álbum das mãos do próprio Abdul (Foto), muito simpático, ele é figura carimbada das noites nos clubes de jazz da cidade, vendendo seu CD e contando histórias do jazz, como a do dia em que ele teve o prazer de tocar ao lado de Miles Davis em uma jam session. Belo achado, o som do sexteto é demais e esse álbum virou lenda, cultuado até hoje pelo underground do jazz nova-iorquino. Na foto abaixo, Armando Salmito e Abdul Zahir Batin.








Músicos:
Abdul Zahir Batin - Bateria
Bobby Watson - Sax Alto
Cecil Bridgewater - Trompete
Robin Eubanks - Trombone
John Hicks - Piano
Curtis Lundy - Baixo
Faixas:
1. Libre Ahora (I)
2. Mind Wine
3. Grand Ummi
4. Classic Medley
5. Libre Ahora (II)
6. 369 in the Dunya

Do sitio Vida Vegetariana...

Doenças e crise financeira mundial derrubam exportações de carnes; é hora de se tornar vegetariano

A gente não se cansa de dizer, mas nunca é demais repetir: a melhor opção de alimentação é o vegetarianismo! Isso se comprova com os recentes focos de contaminação bovina detectados em países europeus, o que faz com que haja sacrifício de animais e queda nas exportações.

Na semana passada foram detectadas contaminações na carne suína da Irlanda. A contaminação é assustadora: segundo divulgou o jornal português Diário Digital, foram encontradas de 80 a 200 vezes a quantidade máxima de toxinas permitidas. Vale lembrar que Portugal é um dos maiores importadores de carne da Irlanda.

Na terça-feira (09.12), o pânico aumentou pois governo da Irlanda detectou novos focos de dioxinas no país, desta vez em bovinos. Foram encontradas de duas a três vezes a quantidade máxima de toxinas permitidas em rebanhos de dez fazendas.

Um comunicado do Ministério da Agricultura da Irlanda informou que serão divulgados nos próximos dias laudos informando a União Européia se é segura a comercialização das carnes suína e bovina.


AÇÕES INTERNACIONAIS
Diante do problema com as carnes da Irlanda, diversos países já se manifestaram. O Ministério da Agricultura de Portugal recolheu dos mercados 6 das 30 toneladas de carne importada, que serão levadas para análise sob suspeita de contaminação.

Já a França pede aos seus mercados que retirem de comercialização a carne suína proveniente da Irlanda. A diretora geral adjunta da Alimentação da França, Monique Eloi, disse ontem que o alerta para retirada da carne de origem irlandesa poderia afetar "milhares de toneladas" de diversos produtos fabricados na Irlanda ou importados do país.

Segundo informações do jornal Irish Times, cerca de 20 países que importam carne suína da Irlanda recolheram dos mercados os produtos em seus países, com medo de que esta carne possa estar contaminada.


CRISE FINANCEIRA
A crise financeira que atinge todos os países também afeta a exportação de frangos brasileiros. Países importadores preferiram rever as quantidades de frango compradas do Brasil. Desde 2006 nunca se registrou vendas tão baixas no setor.

Na semana passada, em Brasília, a União Brasileira de Avicultura informou, durante entrevista coletiva, que o setor começou a diminuir o alojamento das aves. Essa redução pode chegar a 10% no final do ano. “Isso para ajustar a produção em relação à demanda, tanto do mercado interno, como do mercado externo”, afirmou o presidente da União Brasileira da Avicultura, Ariel Mendes.


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Créditos: www.vidavegetariana.com

Do blog do Andre Lux...

Por que a Classe Média é tão burra?

Andre Lux


Vira e mexe essas perguntas vêm à tona em discussões entre amigos: qual o problema com o pessoal da classe média, por que são tão burros e insistem em apoiar políticos que só querem tomar o poder para beneficiar meia dúzia de amigos bem nascidos e seus familiares inescrupulosos?

Um parêntese: esse tipo de político, que disfarça cinicamente suas verdadeiras intenções mesquinhas com um discurso moralista e conservador, está melhor representado hoje no Brasil em partidos como o PSDB e o DEMo (ex-PFL). Mas isso pode mudar a qualquer hora...

Para mim, a resposta é óbvia: a turma da Classe Média não tem "consciência de classe". Não precisa ler as obras do Marx para enteder o que isso quer dizer. É fácil. Converse com uma pessoa pobre, à beira da miséria. Ela sabe que é pobre, não tem ilusões sobre a sua condição social. Pode ser que não faça nada para mudar isso e passe seu tempo dentro de uma igreja, onde é invariavalmente ensinada a se conformar com sua situação com frases do tipo "a pobreza é sua cruz e vai te garantir um lugar nos céus", ou vendo novelas da Globo. Porém, essa pessoa tem consciência de classe.

A mesma coisa vale para os podres de rico. E aqui estou falando dos Antônio Ermírios, dos Daniel Dantas da vida, sujeitos que tem mansões (no Brasil e no exterior), fazendas, iates, helicópteros, aviões carros importados, ilhas, etc, etc - ou seja, um tipo de gente que pobres mortais como eu e você só vemos no cinema ou na capa da revista Exame. Esses caras têm cosciência de classe, podem ter certeza! É só ver como adoram ver os outros (pobres e remediados) seguindo as Leis e os códigos morais que seus lacaios inventam e disseminam para controlá-los, ao mesmo tempo que infringem todos eles...

E é no meio disso que se encontra a tal Classe Média, que no Brasil se subdivide em três tipos:

1) Classe Média Alta - sabe aqueles tipinhos que trabalham como escravos num alto cargo de multinacional para manter uma casa de dois andares num condomínio fechado, três carros de luxo na garagem, um apê no Guaruja, paga alta mesada para aos filhos e centenas de plásticas à esposa perua(para não encherem o saco) - e ainda assim se acha membro da "raça superior" só porque, um dia na festa de fim de ano, o dono da empresa deu um tapinha nas costas dele? Pois é, o próprio...

2) Classe Média Média - tem um nível de vida razoável, algum conforto, um apêzinho de três quartos na periferia, carrinho popular zero (com prestações a perder de vista), educa os filhos em colégios elitizados e vive no limite do cheque especial para manter isso. É o tipo que trabalha hoje para pagar as contas amanhã. Esse tipo eu conheço bem, pois fui criado como um deles pelo menos até os meus 18 anos (saiba como consegui obter, às duras penas, minha "consciência de classe" lendo meus relatos "Eu Também Já Fui Papagaio da Direita" e "Como Comecei a Ver e Sentir a Matrix")

3) Classe Média Baixa - resumidamente, são aqueles que trabalham hoje para pagar as contas de ontem, mas mesmo assim ainda são capazes de morar numa casinha bonitinha, ter um carrrinho mais ou menos novo e dar um mínimo de conforto e educação aos filhos (de preferência em escolas estaduais gratuitas).

Então, entre os pobres que mal conseguem se manter vivos e os podres de ricos que acham divertido pagar R$ 7.000 num sapato na Daslu, estão os pobres coitados da Classe Média. Espremidos entre a miséria total e a riqueza absoluta, vivem sonhando que um dia vão "chegar lá" no topo da pirâmide e virar um "chapa" do Antônio Ermírio. E para isso, deliram, basta trabalharem bastante, serem bonzinhos, não questionarem as regras e, acima de tudo, defenderem os interesses daqueles chiques e famosos - afinal de contas, são seus próprios interesses já que um dia eles mesmo poderão também estar lá em cima comprando suas ilhas particulares, não é mesmo?

Essa foi, na minha opinião singela, a grande "sacada" dos podres de ricos: convencer os boçais da Classe Média, por meio de seus aparatos midiáticos (cinema, televisão, jornais, revistas, etc) de que eles estão mesmo bem mais próximos do topo da pirâmide do que da base e que para chegar lá em cima não é difícil, basta ter esforço e dedicação... É aquela velha piada do cara sentando em cima do trabalhador com uma cenoura na ponta de uma vara de pescar - o de baixo vai sair correndo para tentar pegar a cenoura, enquanto carrega o outro nas costas sem nunca coseguir alcançar seu "prêmio".

Se a turma da Classe Média tivésse a mínima consciência de classe, estaria sempre ao lado dos pobres e miseráveis lutando por melhor distribuição de renda, respeito aos direitos humanos e por Justiça social. E não faria isso por altruísmo ou caridade, mas sim por necessidade, para garantir sua própria sobrevivência e um futuro melhor para seus filhos.

O motivo para isso é óbvio, não? Quanto menos pobreza e injustiças existirem no mundo e quanto menor for o abismo que separa as classes sociais, menos chance de perder tudo e viver na miséria as pessoas vão ter. Assim, ao invés de ficarem agarrados desesperadamente ao pouco que tem - e por isso serem presa fácil do discurso cínico dos "conservadores" - a Classe Média vai poder viver em paz, sem medo do amanhã e sem ódio dos que ousam ter consciência de classe e lutam por um mundo melhor para todos.

Créditos: Andre Lux

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

“Antes eco-chato que eco-burro”


“Tudo o que acontece à Terra – acontece aos filhos da Terra. O homem não teceu a teia da vida – ele é meramente um fio dela. O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo”.
Chefe Seatlle

Por todo o estado o clima é de desolação. No vale do Itajaí as famílias contabilizam mortos e estragos. Nunca se viu tanta destruição. Mas, ao contrário do que a televisão tem dito, toda a tragédia não se deve exclusivamente às chuvas que caíram muito mais do que o normal nesta época do ano. Há que buscar as causas humanas, as omissões e ações indevidas. Nos espaços do saber as vozes se levantam indignadas: tudo isso já havia sido anunciado no início da década de 80, quando Blumenau ficou sob as águas. Muitos estudos foram feitos, precauções forma anunciadas e nada se cumpriu. Além disso, a destruição sistemática da floresta amazônica acaba tendo implicações viscerais com o que aconteceu em Santa Catarina e o que ainda pode ocorrer em outros lugares do país.
Segundo estudos divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, a floresta que toma conta do norte do Brasil é a responsável pela precipitação de chuvas no país e em toda América Latina, assim, o que acontece com ela afeta a todos, indiscriminadamente. Por isso é que os gritos de movimentos ambientalistas contra a destruição - que segue a passos largos via madeireiros, plantadores de soja, criadores de gado, etc... - não devem ser considerados como “histerias” de eco-chatos. As chuvas em Santa Catarina e a seca no Rio Grande e Argentina são exemplos do que a devastação da floresta pode causar. Documento divulgado por professores de várias universidades do Estado de Santa Catarina alerta para esta questão e insiste: não foi apenas o fenômeno atmosférico de precipitações que acontece nos meses do final do ano. É certo que este foi atípico. Em todo o mês de novembro caiu 1.001,7 milímetros, o equivalente a seis meses de precipitação e no final de semana fatídico teve-se a metade disso. Mas há mais coisas a se dizer.

Uma fala de Blumenau

Passado o pior momento, começam agora as tentativas de explicação. Em Blumenau, entre os estudiosos do meio ambiente, ferve uma grande indignação. É que já se fala na contratação de técnicos de São Paulo e até da Alemanha para realizar levantamentos sobre as áreas atingidas. É como isso já não existisse há 30 anos e como se ali, na boa e velha FURB, não houvesse gente capacitada para dar respostas. Tanto tem que os professores ligados ao Centro de Operações do Sistema de Alerta da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí Açu, o CEOPS, já haviam alertado as autoridades sobre a enchente. “Receberam como resposta que não estava chovendo em Rio do Sul, daí não haver perigo. Talvez porque ninguém esperasse que fosse chover tanto”, diz Rudi Ricardo Laps, professor da FURB na área da ecologia e também integrante da Acaprena – Associação Catarinense de Preservação da Natureza, uma das mais antigas do país.
É Rudi quem lembra o trabalho realizado por um professor da FURB e outro do Paraná há 30 anos, bem antes da última grande enchente. No levantamento feito estão muito bem demarcadas as áreas que deviam ser reservadas para a preservação e que jamais poderiam ser parceladas. Dentre estas áreas, muitas são as que ficaram sob as águas e tiveram deslizamentos, como a rua José Reuter, por exemplo, na qual morreram sete pessoas. O trabalho também mapeia o sul da cidade como uma região de córregos, importante manancial de água, que deveria ter sido protegido. Também orienta a prefeitura sobre a instabilidade geológica da região, apontando como inadequado o crescimento da cidade para aquela direção. O estudo feito acabou gerando um decreto municipal, o 1567, de 05 de julho de 1980, que normatizava a ocupação.
Mas, apesar de ser lei, este decreto acabou sendo reiteradas vezes maculado. Rudi conta de um loteamento feito numa região de morro, com declividade acima de 30 graus, portanto fora das normas de segurança, de propriedade de Adelino Batista. Na época, a Acaprena se manifestou contra o parcelamento da terra, entrou com ação, mas não conseguiu vencer. Adelino vendeu o morro a um vereador da cidade, Arlindo de Franceschi (PSDB) e ele deu seguimento ao loteamento. “Essa região foi agora devastada, assim como também o jardim Marabá, que igualmente deveria continuar sendo uma Área de Preservação Permanente. Na época todos foram coniventes, juízes, vereadores, autoridades e todos tinham ciência de que a região sul tinha que ter sido preservada. E não se trata de só salvar os bichos e plantas, como dizem os que nos criticam, mas de salvar as pessoas, como ficou provado agora.”

Os ricos subiram o morro


Outro problema candente no espaço de Blumenau foi a ocupação desenfreada dos morros pela classe média. Ocorre que a enchente de 1983 deixou uma marca profunda nos moradores do centro da cidade. Naqueles dias a água subiu 16 metros e a cidade ficou praticamente submersa. O medo de que isso fosse se repetir levou as pessoas que tinham condição a comprar terra nos morros. A lógica era simples. Se a água tinha invadido a baixada, nos morros não subiria. Então, esta região da cidade passou a ser ocupada. O solo que já era geologicamente frágil ficou mexido e não resistiu às condições anômalas de chuva do mês de novembro e do fatídico fim de semana de 8/9. “Foi incrível, mas a gente podia ver as piscinas caindo dos morros junto com as casas. Uma cena terrível”, diz Rudi.
O morro do Baú, tremendamente atingido pelos deslizamentos também é um exemplo concreto do que pode fazer uma ação anti-preservacionista. Apesar de ser uma Área de Preservação Permanente, o morro do Baú foi, nos últimos anos, seguidamente violentado sem que nada fosse feito para impedir. Durante esse processo de invasão, de retirada ilegal de madeira, de surrupio do palmito (importante cobertura natural da região), as entidades de luta ambiental fizeram denúncias, gritaram, espernearam. Mas, eram ridicularizados como os “eco-chatos”, os que queriam travar o progresso. Não foram ouvidos. Agora, os mesmos políticos que fizeram vistas grossas a estas denúncias aparecem como “os comovidos”, oferecendo cestas básicas aos desabrigados. No mínimo, fariseus.

O código


Não bastasse todo o descaso com os estudos e denúncias feitas por ambientalistas e pesquisadores agora o governo de Luis Henrique da Silveira pretende aprovar, em caráter emergencial, um novo Código Ambiental, que foi totalmente alterado sem levar em conta as sugestões dadas pelas entidades durante o processo participativo de construção do documento. “Não é à toa que Luis Henrique recebeu o Prêmio Porco da Federação das Entidades Ambientalistas Catarinenses e é chamado de o exterminador do futuro, porque ele está destruindo a educação, a cultura e o ambiente”, dispara Rudi Laps. Segundo ele, o documento que tramita na Assembléia tem problemas seríssimos como a diminuição das Áreas de Preservação Permanentes nas margens de rios e nos topos dos morros. “Existe uma lei federal que estabelece os 30 graus de declive, a metragem das margens dos rios que não podem ser tocadas. O Itajaí Açu, por exemplo, teria que ter intocados até 100 metros das margens. Mas quem fiscaliza? Quem aceita isso? Só que esta é uma lei federal e o Código em debate pretende burlar essa lei”.
Outro problema apontado no código é o fato de ele condicionar a implementação de novas unidades de conservação estaduais à Assembléia Legislativa. Conforme Rudi, sendo assim, novas áreas não deverão criadas, pois todos sabem muito bem os interesses que são defendidos pelos deputados e como tudo isso pode virar uma batalha de barganhas e corrupção. “Eles também poderão revisar a lei de proteção à Serra do Tabuleiro o que pode trazer a tragédia para Florianópolis. Afinal, se aquela área for degradas, a capital pode ficar sem água”.
O professor da FURB conta que um dia antes da chuva torrencial que detonou a tragédia ele estava na estrada em uma viagem de estudos com os alunos e puderam notar, no caminho entre a cidade de Torres e Blumenau qual era a situação dos rios diante da chuva que caia. “Nós fomos observando os rios e todos eles estavam açoriados, lodosos, barrentos. Já o rio Massiambu, que descia do alto da Serra do Tabuleiro estava limpo. Foi impressionante porque a aula prática acabou perfeita. Os alunos puderam ver o que pode significar um lugar preservado”. A mesma relação Rudi faz com o Parque Nacional da Serra do Itajaí, outro espaço de preservação que, diante de toda a tragédia que se abateu sobre a região, permaneceu intacto. A lição está aí, estourando na cara. Só não vê quem não quer ou é mal intencionado.

O futuro

Para os ambientalistas e pesquisadores de Blumenau o amanhã segue sendo muito conhecido. Não há necessidade de o prefeito trazer gente de fora da cidade para fazer estudos.. O poder público sabe muito bem quais são as áreas de solo instável e, conforme o professor, nenhum solo instável torna-se estável em 30 anos. Aqueles espaços onde aconteceram os deslizamentos seguem sendo de risco. “O que se pode fazer é, isto sim, um estudo para ver se surgiram novas áreas de instabilidade geológica”.
O fato é que ninguém pode dizer que não foi avisado da tragédia. Na semana anterior às grandes chuvas, o conhecido ambientalista blumenauense Lauro Eduardo Bacca, um dos fundadores da Acaprena, escreveu um artigo no jornal comentando o primeiro deslizamento de terra que havia ocorrido no morro Coripós. “A desgraça está anunciada”, disse ele, profético. E foi o que aconteceu. Na semana seguinte, as regiões já apontadas no plano diretor da cidade como não parceláveis, vieram abaixo. Portanto, avisos não faltaram.
Mas, o fato é que toda esta discussão acaba não chegando ao povo, às gentes simples que compram terras em loteamentos ilegais ou em espaços degradados, passíveis da desgraça. Até porque a mídia, cortesão do poder, raramente dá espaço para as denúncias dos ambientalistas. E, as pessoas, na verdade, não têm muita escolha. Diante da transformação da terra em mercadoria, só podem fincar suas casas onde o bolso alcança. Então, tampouco se pode reputar a culpa aos pobres que se metem em lugares de risco. Para eles não há alternativas. Os que devem ser cobrados e punidos são os que se apropriam das terras e as loteiam, sabendo de todos os riscos. No geral, estes, não são pobres. São os mesmos especuladores de sempre, basta seguir o rastro nos cartórios da cidade. Muitos deles têm sobrenomes chiques, são políticos, autoridades, enfim...
Agora, as cidades iniciam seu processo de reconstrução. Doações chegam de todos os lugares deste Brasil solidário e, no mais das vezes, escapam do controle. Muito do dinheiro doado pode não chegar e o que chegar sabe-se lá para o quê será usado. Além disso, no caso de Blumenau, o poder público terá de tomar medidas drásticas como a retirada gradual de todas as famílias que vivem nestas áreas impróprias - o que significa praticamente todo o sul da cidade - cerca de quatro mil pessoas. Isso requer uma mudança radical e cara. Mas, segundo os estudiosos é absolutamente necessária. “Os solos da parte sul precisam ser preservados, são frágeis. A cidade só pode crescer para o norte onde os solos são um pouco melhores”, insiste Rudi Laps.
Além disso, a cidade precisa investir em fiscalização. Não basta ter leis que regulamentem a ocupação do solo. Há que estar atento, ter controle. A Fatma, que é um órgão ambiental do Estado, está sucateada, faltam trabalhadores. Na cidade de Blumenau o efetivo da Polícia Ambiental é de apenas oito homens. Isso tem de mudar. Ou as pessoas entendem de uma vez por todas que suas vidas têm ligações viscerais com a vida do planeta, ou momentos trágicos como estes que viveu o Estado se repetirão. E esta não é uma receita apenas dos chamados eco-chatos - que de chatos não têm nada – é também preocupação de profissionais como os engenheiros, arquitetos, biólogos, enfim, todos os que, de uma maneira ou de outra, estudam estas questões. “Antes ser um eco-chato do que um eco-burro”, diz o ambientalista Lauro Bacca. Mais do que nunca, ele tem razão.
E, no brutal mundo capitalista, enquanto as famílias que perderam gentes e bens - por conta da vileza dos especuladores de plantão que burlaram todas as leis - tentam encontrar um caminho para seguir vivendo, as municipalidades iniciam a chamada “reconstrução”, muitas vezes se valendo de empresas já especialmente preparadas para os “desastres”. Em casos assim, de tragédias anunciadas e guerras sem razão, também já se tem muito claro que são os que sairão ganhando. Neste sistema do capital tem um tipo de gente que nunca perde.

A midia de esgoto e o poder.....

Roberto Marinho e a ditadura:

uma contribuição a 'O Globo'


No momento em que O Globo dá início à série de reportagens sobre a contribuição civil à ditadura, aguardo ansiosamente que apareçam os nomes dos donos da Organização e dos editores no período.

Por Gilson Caroni Filho*, na Carta Maior



Como diz a jornalista Marinilda Carvalho, ex-editora do Observatório da Imprensa, "vou esperar para ver a fotografia do Dotô Roberto bem grande na primeira página! Afinal, Roberto Marinho foi um dos maiores colaboradores! Sua TV e seu jornal prestaram inestimáveis serviços aos nossos gorilas, tanto financeiros quanto midiáticos!”.

Assim, como forma de contribuir com a pesquisa do jornal, ofereço minha modesta ajuda republicando, na Carta Maior, artigo que escrevi para o Observatório, em agosto de 2003, em meio às homenagens póstumas prestadas ao empresário . Creio que será de alguma valia para os que se interessam por um empreendimento que objetiva recontar a história, ocultando o papel desempenhado nela. Eis o texto, revisado em alguns pontos, em nome da atualização.

Epifania editorial

Terra revolvida, consciências entorpecidas e biografia reinventada. É próprio do rito agir sobre a realidade intervindo na representação que as pessoas fazem dela. A isso se chama eficácia simbólica. Capacidade de reescrever a história, muitas vezes ao preço de falsificá-la com a anuência de seus, outrora, críticos severos. Esmaecidos os princípios e calados os dissensos, os poderosos nunca morrem sós. Levam com eles o silêncio dos que se diziam inocentes.

Homenagens póstumas tanto mais revelam quanto maior a absolvição pretendida. Os panegíricos pedem mais que um minuto de silêncio. Solicitam, com maior ou menor intensidade, a troca de sinais e a inversão de discursos. A fabricação do consenso precisa que a razão adormeça e as contradições se esfumem. A memória deve se reinventar para dar seu "fiel" testemunho ao novo sentido que as estruturas de poder solicitam.

A morte do presidente das Organizações Globo, o jornalista e empresário Roberto Marinho, produziu manifestações de pesar por demais emblemáticas para serem ignoradas. De antigos aliados a opositores ferrenhos ouvimos e/ou lemos declarações entusiásticas sobre o cidadão, o companheiro e o empreendedor. Não pretendo, ao longo desse pequeno artigo, analisar as intenções que moveram os gestos. Seria tão inútil quanto presunçoso.

Mas se alguma lição há que se extrair desse episódio, ela não poderá ignorar um ponto fulcral: ao morrer, Roberto Marinho mostrou os acertos das apostas que fez em vida. E isso, per si, explicaria sua longevidade como figura central do cenário político brasileiro.

Apostou no poder das estruturas oligárquicas e acertou na mosca. Jogou todas as fichas em forças sociais que perpetuariam o atraso e raspou a mesa. Foi, em nome da expansão de seu império, parceiro de regimes que suprimiram liberdades civis e acentuaram a exclusão social.

Desde jovem soube, como bom jogador de pôquer, que parcela expressiva da intelectualidade que lhe criticava era facilmente cooptável. A retórica cidadã não resistiria a pequenos favores. Não precisou ler Gramsci para ter perfeita noção do que significa transformismo. E, como senhor do cassino, foi avalista de diversas transições pelo alto, de modernizações conservadoras e desconstruções de projetos nacionais. Por tudo isso, foi um vencedor.

Em texto laudatório, o jornal O Globo, na edição de 8 de agosto, registra sua trajetória política:

"Foi o seu modo de exercer o poder. Ficou com Getúlio Vargas em 1930, contra os comunistas em 1935, contra os integralistas logo depois, contra Getúlio quando da redemocratização ao fim da guerra. Em 1964, apoiou o movimento militar, em sua opinião o caminho para preservar as "instituições democráticas ameaçadas pela radicalização ideológica" dos últimos meses do governo Jango. Foi um gesto de fidelidade aos ‘tenentes e bacharéis’, ao lado de quem estava desde 1930".

Ora, esse curto relato anula as intenções dos que pretendem descrevê-lo como "liberal por temperamento", "democrata por natureza" e "empreendedor por vocação".

Deu sustentação simbólica a distintos blocos de poder em troca do atendimento de suas demandas empresariais. A inegável capacidade de se antecipar ao momento histórico é o que explica o parágrafo acima. Reconheceu com sagacidade o caráter conservador do tenentismo e a ele aderiu quando percebeu a revolução passiva que se delineava.

Independentemente de algum desentendimento com censores, não negou ao Estado Novo o apoio de seu veículo. Rompeu com Getúlio e apoiou o golpe de 45, quando pressentiu que, ao caudilho, não restava outra opção a não ser ampliar a institucionalidade a setores até então excluídos. Décadas depois, conspirou contra a legalidade e se tornou o esteio simbólico da ditadura militar, implantada em 64.

Exaltando as virtudes de um modelo econômico calcado no excessivo endividamento externo, fez ouvidos moucos aos gritos dos torturados nos porões. Como principal capitão da indústria editorial, legitimou a censura e pouco, ou quase nada, falou sobre o extermínio de opositores de um regime do qual era parte constitutiva.

Se houve uma ou outra escaramuça pouco importa, o certo é que o "democrata por natureza" assistiu impávido à supressão de liberdades civis e ao desfiguramento das instituições republicanas. Deixou claro, ao contrário do que supõem as consciências ingênuas, que não existe simbiose entre democracia e grande imprensa.

O "liberal por temperamento" sempre contou com as benesses estatais para isenções de impostos, favorecimentos fiscais, cambiais e fornecimento de papel. E o "empreendedor por vocação" soube jogar com a conivência dos poderes instituídos, para dar vazão à sua chama de "empresário "schumpeteriano".

A associação, ao arrepio de dispositivos constitucionais, com o Grupo Time-Life já faz parte da história da televisão brasileira. E é apenas uma pequena amostra de como se constrói um monopólio. De como se moderniza a mídia ao custo da concentração da informação. Nesse ponto, qualquer analogia com a estrutura fundiária não só é permitida, como desejável.

Retorno que assusta

Esgotado o ciclo militar, o "democrata por natureza" manteve-se na linha de frente dos interesses das classes dominantes. Censurando as manifestações por eleições diretas, celebrando o Colégio Eleitoral que acabaria por levar Sarney ao poder e, no curso de adesão ao projeto neoliberal, apoiando Collor (defenestrado por um acordo intra-elites) e Fernando Henrique.

Roberto Marinho sabia que os movimentos sociais dependem das representações construídas a seu respeito na mídia. Não poupou esforços para sua demonização. O movimento sindical do fim dos anos 70 e o MST, mais recentemente, eram manifestações indesejáveis. Deveriam ser apresentados como disfunções que precisam ser exterminadas para o desejável funcionamento da ordem. Nesse ponto, o restante da mídia lhe seguiu como modelo.

Como sabemos a cultura política de uma formação social — conjunto de significados e valores que constrói o sentido de comunidade política — também resulta da interpretação midiática sobre fatos e comportamentos. Se é assim, não há como olvidar que a contribuição do agora festejado "companheiro-jornalista-empresário" para a prática política brasileira foi deplorável. Sua conivência, em tempos distintos, com a tortura, a exclusão e o patrimonialismo é, em grande parte, responsável por nosso atraso político-institucional.

Por tudo isso soam estranhas declarações como as que abaixo reproduzo:

Antonio Palocci, na época, ministro da Fazenda: "Foi o doutor Roberto Marinho fundamental na construção da democracia brasileira e no fortalecimento e estabilidade do sistema democrático nacional. O Brasil perde, mas devemos aplaudir o exemplo dado por ele."

Miro Teixeira, ex-ministro das Comunicações: "Do amigo ficará a saudade. Do brasileiro o exemplo e a história".

José Genoino, então presidente nacional do PT: "Doutor Roberto é um homem que faz parte da História do Brasil. Viveu os momentos mais importantes do país. Teve uma vida longa e frutífera. E agora descansa em paz."

Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça: "Roberto Marinho marca uma época de renovação e consolidação do jornalismo e da grande imprensa brasileira."

Pela estatura moral dos atores, não acho cabível falar em transformismo. Mas, por força da eficácia simbólica citada no início do artigo, julgo não ser improcedente afirmar que, vivo, Roberto Marinho foi corretamente associado ao reacionarismo de nossas elites. Morto, retorna como epifania democrática. E, convenhamos, isso assusta.”

Alguma dúvida que, passados cinco anos, continua assustando?

* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro e colunista da Carta Maior


quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Yusef Lateef - Jazz Mood (1957)

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Yusef Lateef foi um dos pioneiros, senão o precursor, da inclusão de instrumentos e sons orientais dentro do Jazz. Saxtenorista e flautista Yusef Lateef foi o primeiro a abrir o Jazz para as novas sonoridades da World Music ainda no início da década de 60.

A inquietude de Lateef é conhecida: tocou em big bands (se revelando, inclusive, na big band de Dizzy Gillespie), foi um dos saxtenoristas de grande brilho no bebop e hard bop na década de 50 e 60. Se converteu ao islãmismo na década de 50 e, já apartir da década de 60, começou a mostrar interesse por novas sonoridades, novas filosofias, bem como pelo uso de instrumentos orientais de sopro e de diversas flautas asiáticas: rahab, shanai, arghul, koto, dentre outros.

Lateef foi ainda o músico que incluiu o fagote e oboé dentro do Jazz e foi um do mais exímios flautistas. Este disco mostra o leque de sonoridades explorado por ele e comprova a inquietude de Yusef Lateef de trabalhar essas sonoridades exóticas dentro da sua música que, apesar de ter sido direcionada para vários estilos do além-jazz, não aderiu ao abstracionismo da vanguarda e prezou sempre por se manter com um alto nível de elaboração.


Yusef Lateef - Jazz Mood (1957)
MP3 / 320kbps / RS.com: 79mb / Cover


Genero: Jazz / hard bop
Data: 09 de abril de 1957
Tempo: 38:00
Local: Savoy


Músicos:
Yusef Lateef - flauta, tenor sax, scraper, argol
Curtis Fuller - trombone
Hugh Lawson - piano
Ernie Farrow - baixo
Louis Hayes - drums
Doug Watkins - percussão

Faixas:
1. Metaphor (Lateef) 8:08
2. Yusef's Mood (Lateef) 8:35
3. The Beginning (Lateef) 4:12
4. Morning (Lateef) 10:38
5. Blues In Space (Lateef) 7:07


quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Do Patria Latina...

Governo do Equador pede ajuda ao Irã para ativar sua indústria petroquímica


Teerã (Prensa Latina) O presidente equatoriano, Rafael Correa, pediu ao Irã assistência para ativar a indústria petroquímica de seu país e fechou hoje sua visita oficial com um oferecimento para acolher em Quito uma possível reunião da OPEP.
Correa, cuja estância na nação persa concluiu nesta terça-feira, se declarou surpreendido e maravilhado pelo rápido desenvolvimento tecnológico iraniano na construção do complexo Pars do Sul, situado na zona econômica especial de Asaluyeh.
"Pedimos ao Irã pôr em marcha nossa unidade de produção de adubo a base de uréia e ative a indústria petroquímica equatoriana", expressou o estadista depois de percorrer na segunda-feira essas instalações situadas na beira do Golfo Pérsico.
Ao destacar a assinatura de acordos para a prospecção de reservas de gás, o governante do Equador disse que "nos alegraríamos se as autoridades iranianas nos ajudassem no setor da energia".
A delegação equatoriana conheceu pormenores da zona econômica do sul do Irã, em particular fases de desenvolvimento de Asaluyeh e Pars do Sul, bem como a petroquímica Nuri.
O presidente, quem já foi despedido oficialmente por seu par iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, comentou os avatares da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) pelo preço atual do pretróleo que –disse- "é artificial, como o foi o de 140 dólares o barril".
"Se o problema não se resolve na próxima reunião da OPEP (prevista para 17 de dezembro na Argélia), Equador decidiu convocar a uma Cúpula de chefes de Estado para deter a queda dos preços", sublinhou Correa citado pela agência oficial IRNA.
Enquanto, a ministra equatoriana de Relações Exteriores, María Isabel Salvador, expressou solidariedade com a República Islâmica ao afirmar que seu programa nuclear é pacífico e recusar as pressões exercidas por potências ocidentais, em particular os Estados Unidos.
Valorizou que Teerã não desviou a essência de suas atividades nesse terreno, as quais o Organismo Internacional da Energia Atômica inspecionou e verificou "uma e outra vez".
"Achamos que o Irã ganhará finalmente a confiança do OIEA, bem como a comunidade internacional se convencerá da natureza pacífica de seu programa nuclear", ressaltou a chanceler.
Durante a visita de Correa e sua comitiva os governos iraniano e equatoriano subscreveram 12 acordos ou memorandos de entendimento nos setores político, diplomata, industrial, bancário, petroleiro, cimenteiro, energético, minerador, farmacéutico e educacional.

Texto: Prensa Latina

Do Correio da Cidadania...

Submersa na globalização, América Latina mostra-se cada dia menos blindada à crise




Eduardo Gudynas

Muitos governos da América Latina insistiram que seus países estavam blindados perante a crise global. Expressando grande otimismo, em lugares como México, Argentina, Chile, Peru e Colômbia, repetia-se que as economias nacionais continuariam crescendo, enquanto a crise se restringiria aos países ricos. Porém, com o passar das semanas, é evidente que o descalabro financeiro afeta a América Latina e as idéias da blindagem estão sendo derrubadas.

Aquele otimismo se baseava em conceber que as economias latino-americanas poderiam descolar-se da crise global graças a fatores como as importantes reservas monetárias em vários países, acreditando que se manteriam as exportações a países como a China, a quem se considerava a salvo da crise financeira.

Assim como o presidente Lula minimizava a gravidade da crise durante setembro e outubro, outros presidentes, como Felipe Calderón do México ou Alan Garcia do Peru, também sustentavam que tais problemas não chegariam a seus países, e que, se isso acontecesse, de toda maneira contavam com ferramentas para enfrentá-los (ver entrevista com Reinaldo Gonçalves no Correio da Cidadania em 02/10). Alguns davam um passo a mais, como Cristina Fernandez de Kirchner, da Argentina, quando, em sua visita às Nações Unidas, assegurou que em seu país não se necessitavam correções; eram os outros que deveriam mudar.

Essa tese do descolamento ou a ilusão da blindagem se desfez em quase todos os casos. Rebaixaram-se as projeções de crescimento econômico da região a menos de 3% em 2009. As bolsas caíram não só em São Paulo, mas também no México, Buenos Aires e Santiago. As moedas nacionais se desvalorizaram frente ao dólar, enquanto em vários países se registra um aumento na fuga de capitais (na Argentina foram mais de 16,3 bilhões de dólares entre janeiro e setembro de 2008). Da mesma maneira que no Brasil algumas fábricas reduziram ou suspenderam sua produção, Argentina e México também o fizeram. A crise também chegou à China, onde a redução de suas expectativas de crescimento, as limitações do crédito e as reformas na produção agropecuária indicam que sua demanda por commodities sul-americanas se reduzirá.

Alguns governos seguem negando tais evidências. Um caso extremo, possivelmente, é representado pelo presidente peruano Alan Garcia, que considera seu país um paraíso econômico e diz que aqueles que criticam seus planos econômicos ou advertem sobre a transnacionalização de sua economia "deveriam ser colocados em uma balsa e lançados ao mar, para que assim desapareçam" (O Comércio, 20 de novembro de 2008).

O presidente do México, Calderón, afirma que seu país conta com os recursos para superar qualquer crise. Porém, o Banco do México acaba de reconhecer uma redução na atividade econômica, num contexto marcado pela queda do peso ao seu mínimo histórico, um desabamento do crédito interno (com altas porcentagens de inadimplência), perdas nas exportações e aumento do desemprego. A situação deste país se faz mais complicada por conta da íntima dependência que mantém com a economia dos EUA. A evidência histórica indica que qualquer queda no produto industrial estadunidense imediatamente arrasta todo o PIB mexicano. Espera-se um crescimento de menos de 1% para o país asteca em 2009.

A queda das remessas que os migrantes enviam dos EUA e da Europa será outro golpe adicional para o México, mas também para os países centro-americanos e algumas nações andinas (especialmente o Equador).

A crise internacional, ademais, pode se somar aos problemas domésticos de cada país. Por exemplo, na Colômbia, com a queda das chamadas pirâmides, empresas de especulação financeira que desembocaram em golpes em escalas massivas. Na Argentina, as contradições internas geram medidas com muitos pontos de interrogação. Enquanto o valor de seus principais produtos, como a soja, caiu dramaticamente e as exportações de produtos manufaturados se ressentem do momento, as contas públicas estão seriamente ameaçadas. A Argentina tampouco dispõe de acesso a créditos internacionais, como conseqüências do default (suspensão de pagamentos da dívida).

Dentro desse contexto, o governo de Cristina Fernandez nacionalizou os fundos privados de pensão. A medida tem um componente positivo ao recuperar o controle do Estado sobre a previdência social. Ao mesmo tempo, o governo ganha o acesso a uma carteira de cerca de 30 bilhões de dólares e ingressos mensais de 300 milhões de dólares, sob muitas dúvidas a respeito da efetividade dos mecanismos de controle e transparência. Muitos temem que o dinheiro não seja usado nas aposentadorias, mas sim para equilibrar as contas estatais e para a campanha legislativa de 2009.

Na semana passada, o governo argentino voltou a surpreender com mais medidas: benefícios para repatriar os capitais do exterior sem investigar a origem dos fundos, extinção de dívidas e até uma reorganização do gabinete, com a criação do Ministério da Produção. Mais uma vez há interrogações: por exemplo, ao não se requerer uma análise da origem dos capitais repatriados, desaparecerão muitas causas judiciais por questões como fraudes fiscais, além de não faltarem advertências de que isso abre as portas para a lavagem de dinheiro. Apesar de todas essas medidas, as estimativas indicam que a economia argentina crescerá menos de 1% em 2009 ou se estancará.

A queda nos preços dos produtos de exportação e o fechamento de muitos mercados golpeiam em todos os países. Isso se observa em rubros como a mineração, na qual no Peru se suspendem empreendimentos e fecham-se pequenas cooperativas e empresas mineradoras, enquanto que na agricultura e pecuária se espera uma contração na Argentina e no Uruguai. A restrição ao crédito internacional é palpável e os papéis de países latino-americanos perdem valor nos mercados internacionais. Os bancos centrais de México, Chile e Argentina devem utilizar suas reservas para segurar a queda da cotação de suas moedas.

Mesmo no Chile, onde o governo central conta com um fundo anti-cíclico nutrido pelas exportações de cobre, são evidentes os problemas. O nível de endividamento interno é alto, os preços de sua principal exportação (cobre) despencaram e o déficit de conta corrente aumentará de 1% em 2008 para estimados 2,7% em 2009. O sistema de previdência social está quebrando devido ao fato de os investimentos dos fundos de pensão privados terem sofrido perdas de ao menos 27% no ano, especialmente pelas aplicações realizadas no exterior.

Os governos de esquerda também brincaram com a otimista idéia da blindagem e hoje sofrem com esses problemas. A queda do preço do petróleo para 50 dólares é um duro golpe nas reformas de Hugo Chávez na Venezuela, assim como no seu esquema de cooperação internacional. As exportações de Equador e Bolívia sofrem um problema similar, o que gera muitas restrições econômicas para o próximo ano.

Essa breve revisão da situação latino-americana mostra que o ano de 2009 será muito complicado e não existe uma blindagem perfeita. A América Latina encontra-se muito mais submersa na globalização econômica do que alguns estavam dispostos a admitir e os passados êxitos econômicos eram mais dependentes do boom das matérias primas que de novas medidas de ministros da economia.

Apesar disso, parecem abundar mais as receitas que negam a necessidade de mudanças substanciais do que novas e audazes medidas a fim de se avançar rumo a outras estratégias de desenvolvimento. Lançar ao mar dentro de balsas quem advertir sobre tais problemas, como apregoa o presidente peruano Alan Garcia, apenas alimenta o desencanto cidadão com a política. Porém, essa falta de novas idéias é uma enorme oportunidade para que a sociedade civil possa renovar o debate sobre o desenvolvimento.

Eduardo Gudynas é analista de informação no D3E (Desenvolvimento, Economia, Ecologia e Eqüidade), centro de investigações dos assuntos latino-americanos sediado em Montevidéu.

Traduzido por Gabriel Brito.