sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Mensagem do sub-comandante Marcos...

“NÃO FAÇAMOS DE NOSSA FORÇA UMA FRAQUEZA”.


Hermann Bellinghausen. La Jornada,

San Cristóbal de las Casas, Chiapas.“Queremos dizer-lhes, pedir, que não façamos de nossa força uma fraqueza. O ser tantos e tão diferentes nos permitirá sobreviver à catástrofe que se aproxima e levantar algo novo. Queremos lhes pedir que este novo seja também diferente”. Foi com estas palavras que, ontem à noite, o Subcomandante Marcos resumiu a mensagem principal da delegação zapatista no encerramento do primeiro Festival da Digna Raiva.

“Vocês e nós temos visto e ouvido esta raiva acumulada”, afirmou perante os participantes que abarrotavam as salas da Universidade da Terra até a última sessão do evento.

“Não nos preocupa quem, ou como, ou com que vai se dirigir esta raiva. Não nos preocupa a velocidade do sonho. Temos aprendido a confiar nas pessoas. Não precisam de quem as dirija. Criam suas próprias estruturas para lutar a triunfar. Tomam em suas mãos seus próprios destinos, e o fazem melhor do que os governos impostos de fora”.

Por outro lado, “preocupa-nos o rumo e o destino”, disse. E que “o mundo que a nossa raiva vai parir se pareça com aquele no qual hoje sofremos”. Admitiu que o “EZLN teve a tentação da hegemonia e da homogeneidade”. Mas “os povos nos ensinaram que há muitos mundos e que o respeito mútuo é possível e necessário”. Na Outra Campanha “não nos propusemos a organizar e a dirigir o México inteiro”.

Ao tomar um conceito do pensador Jean Robert, declarou: “Reconhecemos nossos limites, nossas possibilidades, nossa ‘proporcionalidade’”. Pronunciou-se a favor “de fazer um trato entre nossas respectivas proporcionalidades, e que o país que sair disso, o mundo que se conseguir seja formado pelos sonhos de todos e de cada um dos espoliados”.

Na primeira parte de sua exposição, com o título “Alguns mortos dignos e raivosos”, Marcos respondeu, sem mencionar seus nomes, a questionamentos de Jesusa Rodríguez e Liliana Felipe publicados nesta segunda-feira no La Jornada: “Duas pessoas a quem queremos e respeitamos, talvez a seu pesar, nos perguntam de que serve ao movimento zapatista que Marcos desqualifique o movimento lopezobradorista. Que faço isso sempre que compareço na mídia, entre outras coisas, para insultar AMLO [Andrés Manoel López Obrador]. Bom, não estou na mídia, esse período já passou faz muito tempo”, assegurou, mas sim “ouvindo pessoas que lutam e pensam em vários cantos do planeta”.

Usou o tempo para explicar como o CCRI-CG do EZLN organiza o seu trabalho. Descreveu que os povos zapatistas integram regiões. Cada uma delas “tem uma estrutura organizativa, agora paralela à da autoridade autônoma” onde há “um comando coletivo organizativo”. Não militar, enfatizou.

Tzotziles, tzeltales, tojolabales, choles, zoques, mames e mestiços, “têm seus próprio problemas e ‘maneiras’ de enfrentá-los e resolvê-los”. O EZLN é “ponte de enlace entre as regiões”. Além disso, “cabe-lhe” representá-las diante do mundo externo.

Assim, “apesar de comandante de Los Altos, Hortênsia não fala com você sobre Los Altos, por sua voz fala a voz do EZLN”. O mesmo acontece com “qualquer um” do CCRI-CG. “Quando Marcos ou qualquer um de nós fala em público” não o faz “a título pessoal”.

Lembrou que em 2006, durante a caravana da Outra Campanha e “os dias mais detestáveis” da repressão em Atenco, “gritou-se contra nós e fomos agredido em atos públicos e reuniões por parte do movimento lopezobradorista. Se resistimos a 500 anos de tentativas de dominação e aniquilamento, 25 nas montanhas, 15 de assédio militar, não vemos porque não poderíamos resistir aos gritos histéricos, às calúnias, às mentiras, às desqualificações e aos vetos jornalísticos do ‘lopezobradorismo’”.

Os partidos políticos, disse, “podem dizer uma coisa e fazer o contrário”. Isso pode ser constatado “em qualquer lugar onde têm o poder”, pois “seu critério de congruência é outro. Para eles é a quantidade que podem mobilizar, sem se importar com os métodos”. Por outro lado, “nós pensamos que cada um deve tornar-se responsável do que diz e faz”. O EZLN “tem se responsabilizado sempre, e coloca a vida nisso”.

Convidou a que “nos digam quem entre nossos ‘aliados’ são perseguidores, discriminadores e assassinos de indígenas. Nós já lhes dissemos quem entre seus dirigentes e ‘aliados’ o são. Aqueles que perseguem, hostilizam e cortam a água a nossos companheiros zapatistas de Zinacantán pertencem à CND lopezobradorista”. Asseverou que “dentro e fora” de seu território “são simpatizantes de AMLO; claro, além do governo federal, estadual, municipal, dos meios de comunicação (agora todos), do exército, da polícia estadual, da AFI, do CISEN, da CIA e demais amigos que os acompanham”.

Marcos questionou de que serviu ao lopezobradorismo “aliar-se com os Nuñez, Montreal, Muñoz Ledo, Sabines, Albores, Kanter, Iruegas, os ex-funcionários indígenas de Fox e os que votaram contra os acordos de San Andrés”. Onde são governo “desalojam, expropriam, reprimem, exploram, discriminam, cortejam o poderoso e entregam riquezas naturais ao estrangeiro”.

De que serve ao movimento lopezobradorista, pergunta, “não ver nem ouvir os mortos que são de sua responsabilidade. Podem dizer que isso não é AMLO”. Apesar disso, afirmou, “um dirigente deve assumir a responsabilidade pelo que dizem e fazem ele e o seu movimento. E os integrantes de um movimento também”.

Xangai - Mutirão da Vida (1998)




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Créditos: UmQueTenha
Comédia do poder



Breno Raigorodsky - correio da cidadania

A "Comédia do Poder" do Claude Chabrol, foi a última besteira que fiz no ano de 2008.

"Pare com isso, Breno" uma voz interna me dizia, "pare de alimentar idiossincrasias, o ano novo está chegando", insistia, enquanto eu chafurdava nas prateleiras da videolocadora no dia 30 de dezembro. "Dê-lhe mais uma oportunidade, ele era da turma do Truffau e do Godard, no Cahiers du Cinema, rodou 55 filmes em 50 anos de cinema...".

No verso da caixinha do vídeo vinha escrito que o filme relatava uma história real, de uma juíza francesa que tentou pegar um crime de Estado, onde a petrolífera ELF e o governo francês se envolvem nas maiores falcatruas com governos africanos. Dizia também que o filme tinha sido indicado para o Urso de Ouro do Festival de Berlim, além de ter como protagonista a ótima Isabelle Huppert, atual presidente do júri do Festival de Cannes 2009.

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Tudo bem, vamos lá, se dei tantas oportunidades ao Eric Rhomer, com seu amadorismo assumido, porque não uma nova chance para o verborrágico Chabrol?

Assistido o filme, faço minhas as palavras de um tal de Alexandre de São Paulo, que escreveu para o Guia da Semana na época: "O tema ou o enredo seria maravilhoso... Se fosse conduzido de alguma outra forma; nesse caso foi exposto de forma muito artificial. O filme abordou o assunto de um modo muito superficial e sem emoção; não há investigação, suspense, dinamismo, nada; os fatos já vêm mastigados e apenas são jogados na tela. Por incrível que pareça, a única expectativa que fica no ar é saber se a juíza teria ou não um romance com o sobrinho. Quando o filme acabou fiquei sem ação na poltrona; não queria acreditar que havia acabado; depois de alguns minutos comecei a sentir uma decepção. Um filme muito fraco!".

O cara pegou um tema de esquerda e achou que bastava pronunciar uma série de frases feitas para que o filme se sustentasse?! Que nada, o filme não tem estrutura, seus personagens são construídos de qualquer jeito, a vida pessoal da juíza sugere um drama pessoal que não se aprofunda nem é levado a sério. No fim não consegue cumprir a função de todo filme ideológico, que é o de denunciar de modo a convencer os adversários daquela determinada tese. Fala apenas para quem se satisfaz com meia dúzia de refrões progressistas e genéricos, uma chatice.

É o inverso do que um cara como o Bertolucci conseguiu, num filme como "O Último Imperador". Cenário político em movimento, dramas sociais e psicológicos bem colocados, personagens bem construídos, fazendo – a partir de uma produção hollywoodiana – um filme que convence até quem jamais pensou no que é discutido, ou seja, a possibilidade de uma pessoa mudar seus hábitos, superar a sua formação, a partir de um exemplo extremo – um imperador criado para ser o representante de Deus na terra, transformado em humilde jardineiro, feliz(?) com sua nova vida, no mínimo apto a conviver com as questões que a sobrevivência coloca.

É o inverso do que tantos outros diretores conseguiram desde que o cinema de denúncia e reflexão política existe como arma de propaganda, para o bem e para o mal. Pois todos sabemos o quanto o cinema serviu para – por exemplo – demonizar "inimigos da pátria", especialmente em época de guerra, quando os japoneses nos filmes da década de 1940 pareciam sempre assassinos histéricos e os inimigos do James Bond pareciam sempre saídos diretamente do inferno.

Para o lado progressista, temos uma história longa de filmes bem sucedidos, principalmente fora dos EUA. Filmes como os italianos da década de 1970, tendo em primeiro lugar o filme de Eli Petri com o Gian Maria Volonté no papel principal; Batalha de Argel, do Gilo Pontecorvo; a Classe Operária Vai ao Paraíso e tantos outros mostraram vários caminhos para fazer do cinema um modo de expressão da arte engajada.

Se esta era a intenção do francês Chabrol, não chegou lá.

Breno Raigorodsky é filósofo pela USP, publicitário e professor de enogastronomia. "Ou seja, um sujeito sem foco", como se define.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Forum Social Mundial-2009-Belém do Pará

O Fórum Social Mundial e a crise da globalização

O fracasso do fundamentalismo de mercado amplia as tentações autoritárias e xenófobas — mas também abre novas oportunidades. Distribuição de renda, nova geopolítica internacional e regulação pública das finanças e reinvenção da democracia estão na agenda. Só será possível avançar propondo alternativas

Gustave Massiah - LeMonde-BR

O Fórum Social Mundial (FSM) de Belém abre um novo ciclo do movimento altermundialista. O FSM acontecerá na Amazônia, no coração da questão ecológica planetária, e deverá colocar a grande questão sobre as contradições entre a crise ecológica e a crise social. Será marcado ainda pelo novo movimento social a favor da cidadania na América Latina, pela aliança dos povos indígenas, das mulheres, dos operários, dos camponeses e dos sem-terra, da economia social e solidária.

Esse movimento cívico construiu novas relações entre o social e o político que desembocaram nos novos regimes e renovaram a compreensão do imperativo democrático.

Ele modificou a evolução do continente, mostrando a importância das grandes regiões na globalização e diante da crise de hegemonia dos Estados Unidos. O movimento altermundialista deverá também responder à nova situação mundial nascida da crise escancarada da fase neoliberal da globalização capitalista.

O movimento altermundialista em seus diferentes significados é portador de uma nova esperança nascida da recusa da fatalidade. É esse o sentido da afirmação “um outro mundo é possível”. Não vivemos nem “o fim da História” nem “o choque de civilizações”.

Ao longo dos fóruns, uma orientação estratégica se consolidou: a do acesso aos direitos fundamentais para todos. Trata-se da construção de uma alternativa à lógica dominante, ao ajustamento de todas as sociedades ao mercado mundial

A estratégia desse movimento se organiza em torno da convergência dos movimentos sociais e pela cidadania que enfatizam a solidariedade, as liberdades e a paz. No espaço do FSM, eles comparam suas lutas, práticas, reflexões e propostas. E constroem também uma nova cultura política, fundada na diversidade, nas atividades autogeridas, na partilha, na “horizontalidade” em vez da hierarquia.

Ao longo dos fóruns, uma orientação estratégica se consolidou: a do acesso aos direitos fundamentais para todos. Trata-se da construção de uma alternativa à lógica dominante, ao ajustamento de todas as sociedades ao mercado mundial por meio da regulação pelo mercado mundial de capitais.

À evidência imposta, que presume que a única forma aceitável de organização de uma sociedade é a regulação pelo mercado, podemos opor a proposta de organizar as sociedades e o mundo a partir do acesso para todos aos direitos fundamentais. Essa orientação comum ganha sentido com a convergência dos movimentos e se traduz por uma nova cultura da transformação que se lê na evolução de cada um dos movimentos.

Os debates em curso no movimento enfatizam a questão estratégica. Ela põe em relevo o problema do poder, que remete ao debate sobre o Estado, e atravessa a questão dos partidos e do modelo de transformação social, assim como dos caminhos do desenvolvimento.

O movimento altermundialista não se resume aos Fóruns Sociais, mas o processo dos fóruns ocupa de fato uma posição especial.

O movimento altermundialista não deixa de expandir e de se aprofundar. Com a expansão geográfica, social, temática, viu sua força aumentar consideravelmente em menos de dez anos. No entanto, nada está ganho, mesmo que a crise em muitos aspectos confirme várias de suas análises e justifique seu chamado à resistência.

Do ponto de vista ideológico, a crise do neoliberalismo está fortemente ligada ao aumento da força do altermundialismo, que evidenciou as contradições internas ao sistema. Mas vários cenários são possíveis a médio prazo

O movimento altermundialista é histórico e prolonga e renova os três movimentos históricos precedentes: o da descolonização – o altermundialismo modificou em profundidade as representações norte-sul em proveito de um projeto mundial comum; o das lutas operárias – desse ponto de vista, está comprometido com a mudança rumo a um movimento social e pela cidadania mundial; e o das lutas pela democracia a partir dos anos 1960-1970 – é um movimento pela renovação do imperativo democrático após a implosão dos Estados soviéticos em 1989 e as regressões representadas pelas ideologias e doutrinas de segurança/militaristas/disciplinares/paranóicas. A descolonização, as lutas sociais, o imperativo democrático e as liberdades constituem a cultura de referência histórica do movimento altermundialista.

O movimento altermundialista se vê diante da crise da globalização capitalista em sua fase neoliberal. Essa crise não é uma surpresa para o movimento; ela estava prevista e era anunciada há muito tempo.

Três grandes questões determinam a evolução da situação em escala mundial e marcam os diferentes níveis de transformação social (mundial, por região, nacional e local): a crise ecológica mundial, que se tornou patente, a crise do neoliberalismo e a crise geopolítica com o fim da hegemonia dos Estados Unidos.

A crise de hegemonia norte-americana aprofunda-se rapidamente. A evolução das grandes regiões se diferencia: as respostas de cada uma à crise de hegemonia norte-americana são muito diferentes. A luta contra a pretensa guerra entre civilizações e contra a tão real guerra sem-fim constitui uma das prioridades do movimento altermundialista.

A fase neoliberal parece ofegante. A nova crise financeira é particularmente grave. Não é a primeira crise financeira deste período (outras ocorreram no México, Brasil, Argentina etc.) nem é suficiente para sozinha caracterizar o esgotamento do neoliberalismo.

A consequência das diferentes crises é mais singular. A crise financeira aumenta as incertezas a respeito dos rearranjos monetários. A crise imobiliária nos Estados Unidos revela o papel que o superendividamento exerce, bem como suas limitações como motor do crescimento. A crise energética e a climática revelam os limites do ecossistema planetário. A crise alimentar, de gravidade excepcional, pode pôr em xeque os equilíbrios mais fundamentais.

O aprofundamento das desigualdades e das discriminações, em cada sociedade e entre os países, atinge um nível crítico e repercute na intensificação dos conflitos e das guerras e na crise de valores.

Os riscos de guerra são também uma saída clássica para as grandes crises. Não esqueçamos que o mundo já está em guerra e que cerca de 1 bilhão de pessoas vivem em regiões em guerra. Os conflitos são permanentes e a desestabilização é sistemática

As instituições responsáveis pela regulação do sistema econômico internacional (FMI, Banco Mundial, OMC) perderam a legitimidade. O G8 se reuniu para resolver os problemas do planeta. Mesmo remodelado como G20, com alguns países de peso a mais, não tem legitimidade para fazê-lo. Somente as Nações Unidas e sua Assembleia Geral, apesar de suas limitações, podem falar em nome de todos. O G20 não tem solução porque ele é o problema, na medida em que são esses países que têm a maior parte da responsabilidade pela crise atual. Para os povos e as sociedades, é hora de se fazer ouvir.

A incerteza pesa sobre o tempo e os horizontes da crise. É provável que um novo ciclo caracterize os 25 ou 40 próximos anos. A crise do neoliberalismo, do ponto de vista ideológico, está fortemente ligada ao aumento da força do altermundialismo, que evidenciou as contradições internas ao sistema. No entanto, a crise do neoliberalismo não significa seu desaparecimento irremediável. Além do mais, o movimento altermundialista não é único movimento antissistema. Outros movimentos de reintegração também podem contestar a corrente dominante. Vários cenários são possíveis a médio prazo, com numerosas variantes: um neoliberalismo reconfortado, uma dominante neoconservadora, uma variante neokeynesiana. Uma saída altermundialista é bem pouco provável a curto prazo, pois as condições políticas não foram ainda preenchidas; mas uma maior força do movimento altermundialista pesará sobre as escolhas possíveis.

É nos próximos cinco a dez anos que a nova racionalidade econômica se formalizará, assim como o neoliberalismo se impôs, a partir de tendências existentes, entre 1979 e 1985. Fica então a discussão sobre a sequência desse ciclo no futuro.

Immanuel Wallerstein trabalha com a hipótese de um retorno do ciclo secular, e mesmo multissecular, colocando para os próximos 30 ou 40 anos a questão histórica sobre a superação do capitalismo e criando assim uma nova perspectiva para o altermundialismo.

O ideograma chinês que representa a palavra “crise”, muito antigo e venerável, associa dois signos, contraditórios como é de esperar de toda boa dialética: o dos perigos e o das oportunidades.

O primeiro perigo se relaciona à pobreza e permite entrever profundas contradições por vir. A saída da crise consiste em fazer com que os pobres e, sobretudo, os discriminados e os colonizados paguem por ela. Trata-se também de espremer as camadas intermediárias. E, caso isso não funcione, fazer com que certas classes ricas também paguem a conta.

Para que tais políticas sejam “aceitas”, será preciso muita repressão, muita criminalização dos movimentos sociais, punição da solidariedade, propagação da ideologia da segurança, instrumentalização do terrorismo, que explora o medo para espalhar mecanismos de segurança e de disciplina, muita agitação racista, islamofóbica e nacionalista, muita criação de bodes expiatórios, exploração de migrantes e de ciganos.

Para além dos perigos, quatro oportunidades foram abertas pela crise. Já é possível falar em nova regulação pública, redistribuição de riquezas, menor desequilíbrio entre Norte e Sul e reinvenção da democracia

Essa evolução fará com que certas regiões rumem para regimes autoritários e repressivos, e mesmo para fascismos e populismos de contornos fascistas. Os riscos de guerra são também uma saída clássica para as grandes crises. Não esqueçamos que o mundo já está em guerra e que cerca de 1 bilhão de pessoas vivem em regiões em guerra. Os conflitos são permanentes e a desestabilização é sistemática.

As formas de guerra mudaram com a militarização das sociedades, o apartheid global, a guerra dos fortes contra os fracos, a banalização da tortura.

Pode-se lutar contra esses perigos pela resistência, pelas alianças e pelas coalizões em favor das liberdades, da democracia e da paz.

Para além dos perigos, que são mais conhecidos, quatro oportunidades foram abertas pela crise.

1. A derrota ideológica do neoliberalismo favorece a ascensão em termos de força das políticas de regulação pública.

2. A redistribuição das riquezas traz novamente a possibilidade de retorno ao mercado interno, à estabilidade de salários e à garantia das rendas e da proteção social, a uma nova ampliação dos serviços públicos.

3. O reequilíbrio entre norte e sul abre uma nova fase da descolonização e uma nova geopolítica do mundo. E é acompanhado por uma nova urbanização e por ondas migratórias que são as novas formas de povoamento do planeta.

4. A crise do modelo político de representação torna incontornável a ampliação da democracia social e o reforço da democracia representativa pela democracia participativa.

Entre 30 e 50 países emergentes – dos quais os três mais dinâmicos são Brasil, Índia e China – trazem a potencialidade de defender em conjunto seus pontos de vista e interesses. Não se trata de um mundo multipolar, mas da possibilidade de um novo sistema geopolítico internacional. As consequências poderiam ser consideráveis, notadamente para os termos de troca internacional e para as características das migrações.

Existem duas condições para essa evolução, que não se realizará sem algumas confusões. A primeira é que os países emergentes sejam capazes de mudar seu modelo de crescimento privilegiando o mercado interno e o consumo das camadas populares e classes médias, em detrimento das exportações. Essa desconexão é possível. A segunda é que os países emergentes construam alianças com os países do sul.

A primeira fase da descolonização fracassou, em grande parte, quando os países produtores de petróleo, após o choque de 1977, permitiram a divisão entre os países do sul. Essa condição permitiu ao G7, apoiado pelo FMI e pelo Banco Mundial, impor os ajustes estruturais.

Uma experiência neokeynesiana poderia se traduzir em reabilitação dos sistemas de proteção social e estabilidade salarial. Os pisos salariais, progressivamente elevados, seriam motor do crescimento. Mas há duas condições para tanto

A redistribuição de riquezas, necessária em razão da lógica do neoliberalismo e de seus excessos, abre espaço para uma tentação neokeynesiana. Ela consolida a tendência a reabilitar o mercado interno em escala nacional e estimula a integração regional.

Essa tentação neokeynesiana poderia se traduzir em uma reabilitação dos sistemas de proteção social e de uma estabilidade salarial. Os pisos salariais e sua progressão reencontrariam seu papel como motor do crescimento, no lugar do superendividamento que a crise dos subprimes revelou. O acesso universal a direitos, do qual os Objetivos de Desenvolvimento para o Milênio são um pálido sucedâneo, conquistaria de novo sua importância na agenda mundial. Existem duas condições para que se realize essa hipótese (que não deve ser confundida com a ideia de um simples retorno ao modelo keynesiano de antes do neoliberalismo).

A primeira é a necessidade de dar uma resposta aos limites ecológicos que tornam perigoso um prolongamento do produtivismo. A contradição entre o ecológico e o social tornou-se determinante, e sua superação é primordial. A segunda é a necessidade de uma regulação aberta em escala mundial, em comparação com a regulação nacional preconizada pelo sistema de Bretton Woods dos anos 1960.

O maior poder da regulação pública completará a derrota ideológica do neoliberalismo. O neoliberalismo permanece predominante, mas a ideologia neoliberal sofreu uma derrota lancinante, cuja recuperação será difícil. As nacionalizações ditas temporárias, até que se saia da crise, dificilmente poderão ser revertidas.

Os fundos soberanos já tinham aberto a via das intervenções inesperadas dos Estados em escala global. A análise e o questionamento das privatizações, até então pedidas sem qualquer sucesso, reservarão certamente algumas surpresas. A nova racionalidade dificilmente poderá continuar a submeter completamente a regulação aos mercados e a confundir o privado com os capitais e seus mercados.

Se o capitalismo não é eterno, a questão de sua superação pode ser atualizada. E poderíamos começar desde já a reivindicar e a construir um outro mundo possível

O retorno da regulação pública poderia tomar outro aspecto, distinto da estatização clássica, e combinar socialização e controle democrático. As diferentes formas de propriedade social e coletiva poderiam encontrar uma nova legitimidade. As nacionalizações poderiam adaptar-se à construção de novos blocos e comunidades regionais. A renovação dos modelos de poder e de representação deveria estar no centro das recomposições econômicas e sociais. É provável que a reconstrução do elo social encontre novas alternativas às formas jurídicas da democracia imposta de cima para baixo.

A democracia continuaria como uma referência, mas as determinantes poderiam mudar. Os sistemas institucionais e eleitorais dificilmente poderiam ser considerados como independentes das situações sociais.

As reivindicações poderiam dar maior relevo às liberdades individuais e coletivas e às respectivas garantias. O acesso aos direitos individuais e coletivos para todos poderia fundar uma democracia social sem a qual a democracia política perderia muito de seus atrativos.

As formas de articulação entre a democracia participativa e a democracia representativa, e sua ligação primordial com a democracia social, poderiam progredir e se diversificar.

Outros desdobramentos, já iniciados, deverão ganhar mais importância. As coletividades locais expandirão seu papel como poderes e instituições locais.

A aliança estratégica entre as coletividades locais e os movimentos associativos estará na base dos territórios e do reconhecimento da cidadania a migrantes.

Evidenciando o potencial trazido pelas resistências e pelas práticas atuais, o altermundialismo oferece uma perspectiva à saída da crise atual em seus diferentes aspectos.

Ele permite fundar, contra os conservadorismos autoritários e repressivos, coalizões pelas liberdades e pela democracia. Dá condições para o combate da possível aliança entre neoliberais e neokeynesianos, ao provocar as resistências e as reivindicações pela modernização social. Permite pressionar o neokeynesianismo até seus limites. E permite o esboço das alternativas que caracterizarão um outro mundo possível.

Mas é preciso ir além. Afinal, se o capitalismo não é eterno, a questão de sua superação pode ser atualizada. E poderíamos começar desde já a reivindicar e a construir um outro mundo possível.


MST, a luta continua...

25 anos de luta: partidos, artistas e lideranças saúdam MST


É grande a lista de mensagens divulgadas na página do MST em saudação aos 25 anos do movimento. Entre as mais diversas personalidades, figuram presidentes dos partidos PCdoB, PT, PSTU, PSol, PPS, PCB, entre outros. Também os artistas Eduardo Galeano, Augusto Boal, Leci Brandão, Lucélia Santos, Osmar Prado e Paulo Betti enviaram textos de estímulo e reconhecimento ao movimento fundado entre 20 e 22 de janeiro de 1984.


Conheça abaixo algumas das mensagens enviadas ao MST:

A questão agrária no Brasil — onde se apresenta um forte predomínio do monopólio da terra, de grandes áreas improdutivas e com a presença de gigantescas empresas monopolistas nacionais e estrangeiras — sobre os quais se desenvolveu o capitalismo no campo, é muito importante o papel que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, nestes seus 25 anos de atividade desenvolveu e desenvolve, no sentido da mobilização dos que na terra queiram trabalhar. Ao lado dessa ação permanente, o MST também se destaca no caminho da unificação dos movimentos sociais no país e em toda a América Latina, pela soberania nacional, pela Reforma Agrária por uma verdadeira alternativa civilizacional avançada em nossa terra.

Renato Rabelo, presidente do Partido Comunista do Brasil

O MST desempenhou um papel de grande relevância nesses 25 anos, ao chamar a atenção para a questão da reforma agrária e organizar a luta pelo acesso à terra. Com os movimentos populares em geral, participou ativamente da reconstrução da democracia brasileira, tarefa ainda em curso que exige sempre a unidade na diversidade daqueles que lutam por um país justo e democrático. Parabéns pelos 25 anos.

Ricardo Berzoini – presidente do PT

O MST é o mais profundo e, por isso, o mais importante movimento social brasileiro. Apoiá-lo em todas as suas frentes de luta é lutar pela transformação de nosso país em uma sociedade menos perversa e menos excludentes. Este é o dever de todo socialista e de todo democrata.

Roberto Amaral é escritor, vice-presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro e ex-Ministro da Ciência e Tecnologia

O MST é o movimento social mais importante do Brasil. Se a reforma agrária está lenta, estaria praticamente parada se não fosse o MST. Valorizamos as formas de luta e a maneira de o MST se organizar, necessárias, diante da intolerância e da agressividade dos latifundiários, protegidos pelo estado burguês. O MST, de uns anos para cá, deu um grande salto de qualidade, quando passou a participar das lutas democráticas, populares e antimperialistas e por um mundo sem explorados.

Ivan Martins Pinheiro - secretário geral do PCB

O aniversário do MST marca uma data histórica para a luta de todos os movimentos sociais. Foram 25 anos de enfrentamento, de coragem e de combatividade, mantendo acesa a chama da organização dos trabalhadores. Desde sua origem, o movimento trava batalhas na construção de um Brasil mais justo e, neste percurso, conquistou o reconhecimento dos campesinos como sujeitos históricos, assim como transformou a luta pela reforma agrária numa luta nacional, que deve ser inserida num programa democrático e popular para o nosso país. Que o exemplo do MST siga vivo, inspirando cada um de nós na defesa do socialismo."

Ivan Valente - Deputado Federal PSOL/SP

O MST completa 25 anos de vida e de luta como um dos movimentos sociais mais importantes do nosso país. Foi o movimento que colocou e mantém a luta pela reforma agrária na agenda do país, dentro de uma perspectiva transformadora da sociedade brasileira. Isso não é pouco. E não é outra a razão pela qual o movimento tem sido vitima de tanta perseguição do latifúndio e dos governos. Mas é também a razão pela qual o MST é um parceiro privilegiado de todos e todas que, neste país, lutam pelo fim da exploração e da opressão que afligem a vida da classe trabalhadora. Parabéns ao MST pelos 25 anos de vida e de luta. Vida longa ao MST!

José Maria de Almeida - Coordenação Nacional da Conlutas e do PSTU

Para nós que defendemos o socialismo, a reforma agrária é uma necessidade. Poderia ser uma necessidade, também, para os que defendem o capitalismo. Mas o capitalismo no Brasil se desenvolveu de maneira dependente, altamente concentrada e politicamente conservadora. Para este tipo de capitalismo, a reforma agrária é um problema, não uma solução. No Brasil, a reforma agrária ou será uma conquista da luta dos trabalhadores e de toda a esquerda, ou não será. É por isto que o MST é tão importante, uma organização que deve ser apoiada, defendida e protegida pelo conjunto da esquerda brasileira. Só não digo "vida longa ao MST", porque espero que antes cedo do que tarde consigamos viabilizar seu principal objetivo histórico, que é a reforma agrária no Brasil.

Valter Pomar, secretário de relações internacionais do PT

Eu suplico aos deuses e aos demônios que protejam o Movimento Sem Terra e a toda sua linda gente que comete a loucura de querer trabalhar, neste mundo onde o trabalho merece castigo. (yo suplico a los dioses y a los diablos que protejan al movimiento sin tierra, y a toda su linda gente que comete la locura de querer trabajar, en este mundo donde el trabajo merece castigo).

Eduardo Galeano – escritor

O MST é a mais democrática organização social que o Brasil tem ou que já teve. Não esquece as necessidades individuais de cada um dos seus integrantes como costumam fazer as organizações políticas e é capaz de conjugá-las com as necessidades mais amplas da luta pela terra. Não só da luta pela terra, mas da luta pela emancipação do Brasil. Não só do Brasil como nação, mas dos brasileiros como gente.

Augusto Boal - diretor artístico do Centro do Teatro do Oprimido do Rio de Janeiro

Eu tenho muito prazer em poder parabenizar o MST pela passagem dos seus 25 anos de existência e afirmar que me sinto privilegiada por ter participado de um CD realizado pelo MST em que eu cantei uma música falando sobre a importância da educação e da liberdade. E quero dizer também que a contribuição do Movimento Sem Terra é importantíssima. A contribuição e conscientização que o MST deu para o brasileiro para que isso acontecesse foi fundamental, porque o MST nunca deixou de estar presente nas principais lutas sociais do nosso país, da nossa nação. Por isso, eu me sinto orgulhosa de ter podido participar de vários eventos do movimento sem-terra e dizer que espero que continuem com essa luta, com essa consciência política e que nunca se deixem ser submetidos por oligarquias, por classes dominantes de forma alguma. Se chegamos onde chegamos, o MST também é responsável por isso. Parabéns a todos vocês!

Leci Brandão - sambista

Eu gostaria de parabenizar o MST pelos 25 anos da sua atividade e dizer que esse movimentos tem sido muito importante pro Brasil na questão agrária e na questão social e eu espero que vocês tenham muita saúde, muita paz e muitas realizações nesse ano de 2009.

Lucélia Santos - atriz

Tenho uma grande simpatia e admiração pelo MST. É necessário que haja um movimento organizado de defesa de interesses populares. Evidentemente, o MST visa fundamentalmente a questão da reforma agrária no país, necessária doa a quem doer. É necessário que se reveja a questão agrária no país, até porque a própria colonização portuguesa e a maneira como se distribuiu terras nesse país, desde a colonização, é absurda. É necessário esses movimentos e, paralelamente a isso, o MST estendeu a sua rede para ensino, escolas, como a Escola Florestan Fernandes, de formação cultural e de dar apoio às pessoas que não têm acesso a educação como deveria ser. É um movimento de coragem e de resistência, que a imprensa de um modo geral conservadora sataniza. E chegar como movimento organizado a 25 anos de existência não deixa de ser um grande ato de heroísmo, uma grande vitória.

Osmar Prado - ator

Quero cumprimentar o MST nesta data em que ele comemora os seus 25 anos. Acho que o MST é uma das coisas mais importantes que aconteceram na história recente do Brasil. Acho que o MST teve, tem e terá uma função muito importante na democratização e na distribuição da terra no Brasil. Desejo vida longa ao MST! Desejo muita sorte em seus projetos, muita luta e melhorias para o povo brasileiro que virão através da luta do MST! Um abraço à todos. Parabéns MST pelos seus 25 anos. Parabéns pela importante luta que desenvolve no Brasil e boa sorte.

Paulo Betti - ator

Leia também:
- Encontro Nacional do MST discute efeitos da crise no Brasil


MST

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A midia de esgoto se articula para 2010...

Operação-Serra e a demissão de Nassif

A demissão do jornalista Luis Nassif da TV Cultura de São Paulo é um fato grave. Mostra a total falta de independência de uma emissora que deveria ser pública e que hoje serve abertamente ao projeto presidencial de Serra. O governador tucano conta hoje com o apoio ostensivo da maioria das emissoras privadas e dos jornalões e revistas do país.

É bom ficar esperto. Está em curso uma ardilosa orquestração na mídia de blindagem do tucano José Serra, governador de São Paulo e candidato do bloco neoliberal-conservador à sucessão do presidente Lula em 2010. A mais nova vítima da “operação-Serra” é o jornalista Luis Nassif, que teve seu contrato de trabalho suspenso na semana passada pela TV Cultura, emissora controlada pelo governo de São Paulo. Numa entrevista exclusiva à jornalista Priscila Lobregatte, do Portal Vermelho, Nassif não vacilou em fazer o alerta: “2010 já começou, este é o ponto”.

O abrupto rompimento do seu contrato não teve qualquer explicação. E nem podia. Afinal, por suas posições críticas e independentes, ele é um dos mais respeitados colunista da mídia, já tendo recebido vários prêmios. No último prêmio Comunique-se, ele foi um dos três jornalistas da TV Cultura indicados para a categoria televisão. O motivo, então, não foi profissional. Nassif insinua que sua demissão se deve à proximidade da sucessão presidencial. “A maluquice das eleições de 2006 voltou antecipadamente”, afirma, referindo-se à brutal manipulação no pleito passado.

Silenciando as opiniões críticas

Ele lembra que recentemente criticou a publicidade da Sabesp, empresa paulista de água. “Como pode uma empresa com atuação estadual patrocinar eventos de televisão no Brasil inteiro?”. Este e outros comentários críticos, atestando que a campanha presidencial de Serra é ostensiva e usa recursos públicos, devem ter irritado o truculento governador. Para Nassif, há indícios de que a ordem para sua demissão veio de cima. “O Paulo Markun [presidente da Fundação Anchieta, a mantenedora da TV Cultura] não tomaria sozinho essa decisão... Se em dezembro ele acertava ampliar minha participação, é evidente que a mudança de orientação se deve a outros fatos”.

A suspensão do contrato de Nassif é um fato grave. Mostra a total falta de independência de uma emissora que deveria ser pública e que hoje serve abertamente ao projeto presidencial de Serra. Mas não é um fato isolado. Além de manietar a TV Cultura, o governador tucano conta hoje com o apoio ostensivo da maioria das emissoras privadas e dos jornalões e revistas do país, fechando o cerco midiático para sua campanha. Está em curso uma operação de limpeza nas redações para aplainar a sua decolagem eleitoral, evitando críticas a sua administração e bajulando o tucano.

Demissão na CBN e clima de medo

Em outubro passado, a Rede Globo demitiu o jornalista Sidney Rezende da rádio CBN. Segundo Rodrigo Viana, que deixou a emissora por discordar das suas manipulações na sucessão de 2006, “Sidney era tido por colegas e ouvintes como jornalista que exercia a sua independência... Na sua demissão se percebem os preparativos para a cobertura das eleições de 2010. O ‘moto-serra’ dos tucanos vai passar sobre várias cabeças do jornalismo global. Na CBN, conheço um outro âncora (não darei nome porque ele me pediu sigilo) que teve a sua cabeça pedida pelo governador”.

Após estranhar outro facão recente, de Luiz Carlos Braga da sucursal de Brasília, Rodrigo afirma que o clima na Rede Globo “lembra muito a operação-2006. Há dois anos, às vésperas da eleição presidencial, ela se livrou do comentarista Franklin Martins porque este não fechava com a linha oficial de ‘sentar a pancada’ em Lula e dar uma ‘mãozinha’ aos tucanos. Depois, foram limados outros jornalistas que se indispuseram com a emissora na cobertura das eleições (entre eles, eu, Luiz Carlos Azenha, Carlos Dornelles e o editor de política Marco Aurélio Mello)”.

A generosidade da mídia privada

Rodrigo Viana, que há muito tempo trabalha em veículos privados, garante que presidenciável tucano conta com o total apoio dos barões da mídia. Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da TV Globo – também apelidado por quem o conhece bem de Ratzinger ou “senhor das trevas” –, não permite que saia uma linha sobre o atual governador paulista sem o seu aval prévio. A mesma rigorosa orientação é imposta pela famíglia Frias, que mantém sólidas e sinistras relações com o tucano-mor desde os tempos em que este foi editorialista da Folha de S.Paulo.

Este conluio explica a generosidade da mídia hegemônica até nos casos mais chocantes – como na “guerra das polícias” no ano passado, quando ela simplesmente isentou o governador paulista de qualquer culpa, ou na desastrosa operação policial do seqüestro e morte de Eloá Pimentel, em Santo André. Ainda segundo Rodrigo Viana, que conhece os bastidores da mídia, “a ordem era proteger o governador. Conversei com três colegas que trabalham na TV Globo de São Paulo e que pedem anonimato. A orientação aos editores era botar no ar trechos imensos da entrevista chapa-branca com o Serra”, na qual ele culpou as centrais sindicais pela greve na Polícia Civil.

Coberturas parciais e manipuladas

A “operação-Serra” também fica patente na forma como a mídia trata as obras do governo Lula, sempre tão vigilante, e na total omissão diante dos descalabros da administração paulista. Na semana passada, Folha e Estadão fizeram rasgados elogios às obras do Rodoanel, sem publicar uma crítica ao seu monumental atraso e altos custos. Já as TVs nada falaram sobre a interrupção da concessão das rodovias Ayrton Senna e Marechal Rondon devido às falcatruas nas licitações, ou da suspensão, pelo TCE, das obras na Marginal do Tietê porque o edital estava irregular.

Também é impressionante a bondade da mídia venal diante das graves denúncias do Ministério Público, que investiga quatro contratos no valor de R$ 1 bilhão da Siemens com o governo paulista para construção de três linhas do Metrô. Há suspeitas de superfaturamento e de que a multinacional alemã teria subornado políticos do PSDB. As apurações começaram no rastro de outro inquérito, o que investiga a multinacional francesa Alstom, que teria dado propina para obter contratos com estatais paulistas nos últimos 14 anos de reinado tucano em São Paulo.

Censura chega ao ciberespaço

Sem trabalho na TV Cultura, Luiz Nassif afirma que agora se dedicará ao seu blog, apostando na internet como arma de democratização da informação. Mas também neste campo a fúria de Serra já se faz sentir. Recentemente, a Justiça mandou tirar do ar o blog “Flit paralisante”, postado pelo delegado da polícia civil Roberto Conde Guerra. O delegado é famoso por suas críticas à política de segurança do tucanato, sendo fonte alternativa de jornalistas. Durante a greve da categoria, ele usou seu blog para convocar protestos e teve 130 mil acessos. Agora, foi censurado pelo “moto-serra”. A mídia, que sempre ataca o “autoritarismo” do governo Lula, não alardeou esta censura.

A demissão de Nassif até agora não indignou os jornalistas – alguns que tiveram papel de relevo na luta contra a ditadura e que hoje parecem dóceis serviçais das empresas, preocupados apenas com suas carreiras. Também não houve reação das entidades da categoria – o que é lamentável. Paulo Henrique Amorin, outra vítima de perseguição dos “amigos de Serra” quando foi retirado do ar, sem aviso prévio, do Portal IG, protestou solitariamente. “A TV Cultura de Serrágio (vem do pedágio mais alto do Brasil) não agüentava a independência de Nassif”, escreveu no seu blog.


Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e organizador do livro “Para entender e combater a Alca” (Editora Anita Garibaldi, 2002).

The Beatles - The Garage Tapes(1962)


01 - If I Fell
02 - Dont Bother Me
03 - Mc Cartney Instrumentals
04 - Please Mr Postman
05 - It Wont Be Long
06 - Love Me Do
07 - Tammy Tell Me True
08 - The Bible Bit
09 - Raga

Créditos: diego-beatles



Enquanto isso na India...

muçulmanos contra os atentados

A maioria das comunidades e lideranças islâmicas do país tem se mobilizado para acabar com o terrorismo. Mas o verdadeiro perigo vem da miséria e do sentimento de injustiça: praticamente todos os 154 milhões de muçulmanos que vivem na Índia continuam à margem do tão exaltado milagre econômico

Wendy Kristianasen

Cerca de uma semana após os atentados em Mumbai, o Partido do Congresso, que dirige a coalizão governamental na Índia, ganhou as eleições parciais em três dos cinco estados onde o pleito se realizava, entre eles o da capital. Uma vitória que ninguém esperava.

Depois de quatro anos no poder, o partido governista parecia fragilizado pela crise financeira e ridicularizado pelos acontecimentos sangrentos de novembro. No entanto, em 8 de dezembro ele superou o partido nacionalista hindu, Bharatiya Janata Party (BJP), em um dos estados mais turísticos da Índia, o Rajastão. O BJP tinha centrado sua campanha nas fraquezas do poder central em relação ao terrorismo e aos muçulmanos.

“O partido nacionalista hindu comprou uma página inteira de propaganda nos jornais, com a palavra ‘terrorismo’ em letras enormes, cercada de manchas de sangue e o slogan ‘Votar no BJP é votar na segurança’”, diz Javed Anand, escritor e militante muçulmano. “Isso não funcionou. Muita gente, incluindo nós, muçulmanos, está inquieta. Os eleitores elegeram a eficácia – o famoso pão com manteiga.”

De fato, os votos parecem ter sido pautados por questões locais, como os preços dos produtos alimentícios, o abastecimento de água e a falta de empregos. Isso também explica o sucesso do Bahujan Samaj Party (BSP), partido dos dalit (sem casta, ou “intocáveis”) que, em Nova Délhi, passou de 5% em 2003 para 14% em 15 de dezembro passado. O BSP foi fundado pela carismática Kumari Mayawati, que se tornou primeira-ministra do estado de Uttar Pradesh após ter conseguido uma aliança inédita entre dalit, hindus das classes superiores e muçulmanos.

Ninguém pode dizer se esses resultados se repetirão nas eleições gerais de 2009. A constatação de que o BJP esgotou sua margem de manobras é bastante acertada. E as comunidades muçulmanas continuam inquietas, em mobilização permanente.

Em 7 de dezembro, dez dias após os atentados de Mumbai, mulahs, muftis e muçulmanos comuns participaram, na cidade, de um ato silencioso em memória das vítimas, organizado par Javed Anand e seu grupo, Muslims for Secular Democracy. Eles também manifestaram sua indignação contra o “desmoronamento de todo o sistema de governança”, e condenaram a “totalidade das organizações implicadas nos assassinatos em massa”, o que inclui a Al-Qaeda, os talebãs, os movimentos paquistaneses em geral, principalmente Lashkar-e-Taiba, e alguns grupos indianos locais. “Não em nosso nome” [1], clamavam. Outros atos foram organizados em Bangalore, Ahmedabad, Indore, Hyderabad e Nova Délhi. As autoridades religiosas, por sua vez, recusaram-se a enterrar os novos kamikazes em um cemitério muçulmano, argumentando que não eram verdadeiros crentes.

É possível sentir o crescimento da “islamofobia”. Por isso, o renomado centro de estudos islâmicos Darul Uloom emitiu uma fatwa contra os atentados

Os atentados de Mumbai chamaram a atenção do mundo inteiro porque mataram ocidentais, ainda que a grande maioria das 163 vítimas seja indiana. Mas eles foram apenas os últimos de uma série. Em 2008, explosões fizeram mais de 200 mortos e cerca de mil feridos, principalmente em Assam, foco de um poderoso movimento separatista. Também foram alvos: Nova Délhi (em 13 e 30 de setembro de 2008, com 19 pessoas assassinadas); Malegaon [2] (29 de setembro, cinco mortos); Ahmedabad (26 de julho, 49 mortos); Bangalore (25 de julho, dois mortos); e Jaipur (13 de maio, 63 mortos). As suspeitas recaem mais sobre grupos locais, o Indian Mujahideen e o Students Islamic Movement of India (SIMI), hoje ilegal, do que sobre o Paquistão, o suspeito tradicional.

A mídia atiçou o clima de histeria: na ausência de provas, todas as “informações confidenciais” vindas da polícia ou dos serviços secretos foram tomadas como verdade. Personalidades muçulmanas e membros da intelligentsia laica, tradicionalmente de esquerda, admitiram sua inquietude frente às prisões de centenas de muçulmanos e aos relatórios sobre “confissões” extorquidas sob tortura. Mais perturbador ainda para a comunidade muçulmana é que os principais suspeitos não são barbudos saídos das escolas corânicas, mas pessoas que receberam uma educação laica moderna.

“Nossos dirigentes são desonestos, há uma crise de legitimidade”, explica Obaid Siddiqui, muçulmano, professor especialista em mídias da Universidade Jamia Millia Islamia de Nova Délhi. “Além do mais, na Índia, não há consenso político sobre questões cruciais, como o terrorismo.”

Mas é possível sentir o crescimento de uma “islamofobia” devastadora. Por isso, o centro de estudos islâmicos Darul Uloom de Deoband (Uttar Pradesh) emitiu, em fevereiro de 2008, uma fatwa (advertência religiosa) [3] contra o terrorismo, e organizou, no dia 31 de maio, uma conferência reunindo as principais organizações muçulmanas em favor da medida.

Na comunidade muçulmana, o nome de Deoband inspira medo e respeito. A maioria dos sunitas indianos, majoritários no país, segue seu ensinamento, como muitos no Paquistão e no Ocidente.

O seminário Darul Uloom conta com cerca de 3.500 estudantes, que ali permanecem durante 13 anos. Cerca de 800 candidatos são selecionados anualmente, entre 10 mil postulantes. O ensino é gratuito. Adil Siddiqui, diretor de relações públicas, navega em um labirinto de prédios até as cozinhas, abertas, onde se mói o trigo. “Os agricultores da região nos amam muito e dão trigo aos meninos”, assegura. Os estudantes propagam os ensinamentos de Darul Uloom em toda a Índia, graças à vasta rede de escolas que fundaram.

Segundo Adil Siddiqui, o seminário foi equivocadamente acusado de manter relações com Osama bin Laden e os talebãs após 11 de setembro de 2001. Fundada em 1866, a escola, ao contrário, é respeitada por suas posições moderadas. Seus mentores tiveram um papel preponderante durante a Revolta dos Cipaios, em 1857, contra o Império Britânico [4]. E o seminário sempre defendeu a democracia laica na Índia.

Os muftis tomaram outras medidas para afirmar sua recusa à violência. Incentivado pela Jamiat Ulema-e-Hind (JUH), uma organização ligada à Deoband que conta com 10 milhões de filiados, um “trem da paz” embarcou, no dia 2 de novembro de 2008, mais de 6 mil muftis para Hyderabad, onde era organizada uma conferência contra o terrorismo. Uma nova fatwa proibindo a violência em nome do Islã foi ratificada por 100 mil pessoas na sessão de encerramento. O maulana Mahmood Madani, chefe do JUH e membro da Câmara Alta do Parlamento Indiano (Rajya Sabha), chamou a atenção para o papel da “integração nacional, necessária para enfrentar a alienação”. Antes, ele já havia reconhecido que o JUH deveria redobrar seus esforços para atingir a juventude descontente e fazê-la compreender que “o terrorismo não pode ser a jihad”.

Se a influência dos maulanas de Deoband é preponderante nos meios religiosos e entre as populações menos favorecidas, ela é quase nula entre os jovens. Muitos muçulmanos reclamam que os muftis não têm agido o suficiente para favorecer as reformas da Personal Law – código do estatuto pessoal que permite que a lei islâmica seja aplicada para todas as questões ligadas aos assuntos familiares como divórcio, casamento e herança [5]. Muitas mulheres reivindicam mudanças, pois os procedimentos de separação, por exemplo, quase sempre dependem unilateralmente dos homens [6].

Existem ainda duas outras esferas de influência, frequentemente ligadas ao extremismo: o Tablighi Jamaat e o Jamaat-e-Islami Hind (JIH). Suspeito de extremismo no exterior, o primeiro se apresenta, na Índia, como uma influência puramente religiosa, desinteressada da política. O segundo, que constitui o ramo indiano do movimento islamita radical fundado por Abul Ala Maududi em 26 de agosto de 1941, no Paquistão, não tem mais de 25 mil filiados, mas tem grande presença na mídia e prestígio considerável entre os islamitas.

Nos últimos tempos, o grupo moderou seu discurso. Em outubro, redigiu sua própria declaração contra a violência e, um mês mais tarde, enviou duas caravanas da paz por todo o país para “lutar contra o terrorismo”.

Mas o verdadeiro perigo vem da miséria e do sentimento de injustiça, largamente difundido na comunidade islâmica. De fato, a maioria dos 154 milhões de muçulmanos – 13,4% da população total, a principal minoria do país – continua à margem do tão exaltado “milagre indiano”. De acordo com relatório do comitê presidido pelo ministro da Justiça, Rajendra Sachar [7], as populações muçulmanas “continuam atrás na maioria dos indicadores de desenvolvimento humano”. Comandado pelo próprio governo, o estudo data de novembro de 2006 e, até agora, nenhuma de suas recomendações foi aplicada.

Segundo esses dados oficiais, os muçulmanos muito pobres seriam bem mais pobres que os hindus pobres. Eles se situariam no nível ou até mesmo abaixo dos dalit. Essa miséria é flagrante na favela muçulmana de Golibar, no leste de Mumbai, onde a população vive em habitações minúsculas e improvisadas, cujo primeiro patamar só é acessível por uma escada. Ainda assim, encontram-se aí associações de locatários, postos improvisados que oferecem vacinas – inclusive contra tifóide e hepatite B – e cursos gratuitos de inglês. Mesmo com parcos benefícios, seus moradores permanecerem acolhedores aos visitantes, contrariamente aos de Mahim West. Nesse bairro, um pouco mais longe e próximo do santuário de Baba MakhdooIci, a pobreza é constante e a juventude, hostil.

Os islâmicos são também os que têm menos educação, de acordo com as conclusões do comitê de Sachar. Um quarto da população entre 6 e 14 anos nunca foi ou abandonou a escola. A taxa de alfabetização da comunidade é de 59%, contra 65% em nível nacional, e apenas 4% de seus membros estão nas melhores universidades. Além disso, eles detêm somente 5% dos postos governamentais.

Muitos exercem profissões de artesãos, mas a globalização tem prejudicado cada vez mais suas atividades. Quando conseguem ascender socialmente, é graças a alguns “dons” particulares, como os de Yusuf Pathan, jogador de críquete da equipe nacional, filho de um mulah. Ou ainda Sania Mirza, única jogadora de tênis indiana a participar de um torneio de Grand Slam.

Essa percepção é confirmada Humera Ahmed, diretora dos serviços postais da cidade, uma muçulmana crítica com seus correligionários: ela acha os hindus tolerantes e os islâmicos excludentes, “não apenas em sua religião, mas também em seu modo de vida”. Mas não deixa de reconhecer que estes últimos sofrem discriminação: “Teoricamente eu não poderia viver no imóvel em que estou há 25 anos, pois ele pertence a proprietários hindus. Entretanto, meu estatuto social e o fato de que vivo em uma cidade cosmopolita me permitem escapar à ‘bolha’ comunitária.”

Jornalista hindu em Nova Délhi, Shoma Chaudhury resume perfeitamente o problema: “Nossas comunidades sempre viveram em guetos, mas elas estão presentes em todos os domínios da vida pública. As pessoas vivem separadamente – mas lado a lado. Esse equilíbrio hoje está ameaçado”. A família Siddiqui ilustra essa evolução. Ela morava no bairro muçulmano mais conhecido de Délhi, Jamia Nagar, que reúne todas as classes sociais. O que antes não passava de um povoado, desenvolveu-se após a abertura da célebre Universidade Jamia Millia, nos anos 1930. Próximo a belas casas em estilo colonial e a apartamentos confortáveis, abre-se um labirinto de ruelas sujas que abrigam uma grande população de desafortunados. Obaid Siddiqui se sentiu à vontade ali durante muito tempo. Mas tudo ficou mais complicado quando se casou com uma mulher sikh praticante. E a situação piorou após o nascimento de sua filha, criada de acordo com os princípios da esposa.

Os 34 anos que se seguiram à independência tiveram inúmeros episódios violentos e traumáticos, como os assassinatos de Indira e Mahatma Gandhi

Então, apesar das duas horas de deslocamento nos engarrafamentos e da forte poluição, a família mudou para uma cidadesatélite onde é possível viver anonimamente. “Temos um motorista e nos acostumamos a fazer o trajeto todos os dias”, explicam eles. Sua casa fica em Vaishali, próxima de Ghaziabad e a alguns quilômetros da fronteira de Uttar Pradesh. Na vizinhança, há muitos restaurantes da Pizza Hut e algumas unidades do McDonald’s. Durante o Diwali (o ano novo indiano), com uma auréola de guirlandas de flores, luzes e música, a cidade fervilha de compradores. Ainda que as pessoas pensem duas vezes antes de comprar por ali, tão vivas estão as lembranças dos ataques que sacudiram o país todo ao longo de 2008. Bem protegido atrás de cercas elétricas, o imóvel dos Siddiqui é chique: possui piscina e sala de ginástica. Apenas duas famílias entre 75 são muçulmanas.

Como explicar o mal-estar atual? Certamente ódios profundos perduram entre aqueles que viveram, em 1947, o trauma da divisão do território, a independência e a transferência de populações inteiras [8]. Desde os anos 1920, com a subida do Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), a direita hindu começou a promover a noção de rashtra (nação) hindu, cujo passado glorioso teria sido interrompido sob o reino mongol. Mas foi a partir dos anos 1980 que a política nacionalista do Bharatiya Janata Party (BJP) e de seus aliados passou a marginalizar a comunidade muçulmana.

Para Shoma Chaudhury, “as pessoas veem a separação entre hindus e muçulmanos como uma falha civilizatória. Durante um tempo, os pais fundadores [Mohandas Karamchand Gandhi e Jawarlal Nehru] contiveram isso recorrendo à nobre retórica da democracia”. Mas os 34 anos que se seguiram à independência tiveram inúmeros episódios violentos. E cabe citar o assassinato de Mahatma Gandhi, em 30 de janeiro de 1948, por um ativista hindu, ou ainda o de Indira Gandhi, em 31 de outubro de 1984, por dois de seus guardas sikh.

Depois, nos anos 1980, a direita hindu “adquiriu certa glória no momento em que o Partido do Congresso [então no poder] perdia a sua. Em 1992, a demolição da Mesquita Babri, em Ayodhya, traumatizou a população e provocou uma onda de violência em toda a Índia [9]. Dez anos mais tarde, rebeliões estouraram em Gujarat. O conflito da Caxemira reforçou os temores: o BJP acusou os muçulmanos de se colocarem ao lado do Paquistão. E a Índia aquiesceu”.

Deixando cerca de 2 mil mortos [10], as rebeliões de 2002 marcaram a memória coletiva. Esses atos de violência foram orquestrados pelos nacionalistas hindus, incluindo as mais altas autoridades do Estado – destacadamente o primeiro-ministro do Gujarat, Narendra Modi, ainda no poder –, com a cumplicidade da polícia. Muitas reportagens mostraram que essa caça aos muçulmanos foi premeditada. Os culpados permaneceram impunes e muitas famílias islâmicas não tiveram autorização para voltar a sua própria casa. Sophia Khan, fundadora da organização não-governamental Safar, esclarece que ainda hoje há 150 mil mulheres deslocadas em razão da política discriminatória das forças de segurança.

Para justificar seu ódio contra os muçulmanos, o BJP maquia a história e esquece que o Islã nasceu no século VII, graças a comerciantes árabes que vieram à costa de Malabar (Kerala). Os lugares de peregrinação sufistas compartilharam santos e santuários constituindo a rica cultura sincrética da Índia, que perdura até hoje.

Em Mehrauli, ao sul de Délhi, o santuário Hazrat Khwaja Qutabuddin Bakhtiyar está sempre enfeitado de guirlandas com flores amarelas. Dhasamuiv Verma, um velho hindu originário das classes médias, conhece bem o lugar: ele o frequentou todos os dias, durante 26 anos, e agora vai lá quatro vezes por semana. Segundo ele, alguns pobres reunidos no santuário foram sempre “mais ou menos” muçulmanos.

Do lado de fora, homens com o chapéu tradicional sufista estão sentados no chão e cantam qawwali hipnóticos (música religiosa) acompanhados de tocadores de tabla e de dholak (tambor). O ar está saturado de incenso. Na saída, o mulah me assegura que todos os pobres de Mehrauli – qualquer que seja sua religião – vão ali pela comida. Ele desfaz uma rixa iminente entre dois homens que disputam as gorjetas pela guarda do calçado deixado pelos peregrinos na entrada, como é de costume.

A muitas centenas de quilômetros de lá, Dharavi, a maior favela de Mumbai abriga pelo menos 1 milhão de habitantes. Em alguns bairros, os muçulmanos vivem lado a lado com os hindus. No interior dessa “cidade” autônoma, pessoas de religiões diferentes trabalham nas mesmas pequenas empresas artesanais. Da mesma forma, em Kerala, as duas comunidades convivem sem problema aparente. Com tudo isso, muitos muçulmanos tentam fazer a diferença no curso dos assuntos do país. A alguns meses das eleições nacionais, eles reconsideram suas escolhas.



[1] Muslims for Secular Democracy, www.mfsd.org

[2] No caso do atentado de Malegaon, extremistas hindus são suspeitos, incluindo um sadhu e uma sadhvi (que renunciam à vida no mundo), além de um tenente-coronel do serviço secreto indiano e um militar da reserva.

[3] Trechos disponíveis em: www.mfsd.org/fatwaenglish.htm

[4] Ler William Dalrymple, The Last Mughal, Bloomsbury, 2006 e “Il y a cinquante la révolte des cipayes”, Le Monde Diplomatique, agosto de 2007.

[5] A Personal Law foi instituída pelos britânicos e reforçada em 1973.

[6] Há também duas outras grandes correntes sunitas, os salafistas (Jamiat Ahle Hadeeth) e os sufistas Barelvis, mais rígida e contrária a qualquer reforma.

[7] Social, Economic and Educational Status of the Muslims of India, governo da Índia, novembro de 2006.

[8] Ler Kuldip Nayar e Asif Noorani, Tales of two cities, Roli Books, 2008; e Salman Rushdie, Les enfants de minuit, Livre de poche, 1989.

[9] A mesquita de Ayodhya foi demolida no dia 6 de dezembro de 1992 por nacionalistas hindus que queriam construir um templo no lugar, para marcar o local de nascimento do rei hindu Ram. Essa demolição desencadeou uma onda de violência sem precedentes entre as diversas comunidades.

[10] De acordo com estimativas de organizações não-governamentais, como a Citizens for Justice and Peace. Informações disponíveis em: http://www.cjponline.org.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Filme sobre Che Guevara...Parte I

Che El Argentino

Che, El Argentino retratará o início da revolução dos cubanos exilados, incluindo Fidel, interpretado por Demián Bichir, e Raúl Castro, interpretado por Rodrigo Santoro, contra Fulgencio Batista. O filme se divide depois do fracasso da investida dos revolucionários e do exílio em Sierra Maestra. Guerrilha, a segunda parte mostrará Guevara, interpretado por Benicio Del Toro na tentativa de levar o socialismo pro resto do mundo até a sua morte em 1967.O filme, de duração de quatro horas será dividido em duas partes. A primeira se chamará Che, El Argentino e narrará o momento histórico em que Che, Fidel, Raul, Camilo e outros revolucionários cubanos invadem a ilha caribenha em 1956 e destronam o ditador Fulgêncio Batista. Já o segundo filme, Guerrilha, começa com a viagem de Guevara a Nova York em 1964, onde ele falou à ONU e viu crescer o mito ao redor da sua figura, até sua execução pelos rangers bolivianos, apoiados pela CIA.

Elenco:


Che, El Argentino:

Benicio del Toro
Benjamín Benítez
Julia Ormond
Franka Potente
Armando Riesco
Catalina Sandino Moreno
Demian Bichir
Rodrigo Santoro
Santiago Cabrera
Edgar Ramirez
Alfredo De Quesada
Roberto Santana
Victor Rasuk

Direção:

Steven Soderbergh

Roteiro:

Peter Buchman
Steven Soderbergh
Ben van der Veen


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Blues Popular Brasileiro - Coleção Completa


Rapaz... Essa coletânea é o bicho. Os caras fuçaram muita coisa da produção musical brasileira e selecionaram uma porção delas, com o critério de que, de alguma forma, tais músicas tenham alguma coisa - nem que seja minimamente - a ver com blues. Pra se ter uma idéia, a dita coletânea possui 05 volumes, com dois discos em cada. Algumas músicas são raridades, com bandas que eu nunca ouvi falar; outras são algumas versões de musicas conhecidas, EM BLUES.
.
==> Blues Popular Brasileiro - Vol 1

DISCO 1:
01 O Trem das Sete [Mister Jack]
02 Dente de Ouro [Blues Etilicos]
03 Xaxado Blues [Mário Castro Neves and His Orchestra]
04 Sem Cena [Edvaldo Santana]
05 Delírio [Secos & Molhados]
06 My Way & Trouble (medley) [Raul Seixas]
07 Jacarepaguá Blues [Zé Ramalho]
08 Bongo Blues [Luizinho & Seus Dinamites]
09 Meu Pobre Blues [Zizi Possi]
10 Sol no Topo [Clube de Patifes]
11 Berimbau Blues [Dinho Nascimento]
12 Rio de Janeiro Blues [Mario Biondi & The High Five Quintet]
13 Último Blues [Gal Costa]
14 Lúdico Blues [Dênio de Paula & Léo Pereira]
15 Blues do Abandono [Barão Vermelho]
16 Vinte Anos Blues [Pedro Mariano]
17 O Crivo [Clara Ghimel]
18 Blues do Ano 2000 [Paulinho Moska]
19 Whisky e Blues [Bêbados Habilidosos]
20 Bem Me Quer [Denise Reis]

DISCO 2:
01 De Trago em Trago [Sérgio Duarte & Entidade Joe]
02 Pindorama Blues [Joyce]
03 Super Boogie [Álvaro Assmar & Mojo Blues Band]
04 Por que [Sônia Santos]
05 Poeira nos Olhos [Nasi e Os Irmãos do Blues]
06 O Cheiro [Uns E Outros]
07 Indigo Blues [Llorca & Nicole Graham]
08 Blues do Pára-Choque [Rogério Skylab]
09 Agente 61 [Yellow Dog Blues Band]
10 Blues Brasil [Tubo de Ensaio]
11 Música Urbana 2 [Legião Urbana]
12 Sweet Baby Blues [Flora Purim]
13 Me Diga o que é o Amor [Celso Blues Boy]
14 Bossa Nova Blues [Bossa Nova Combo]
15 Blackjack [Ismael Carvalho]
16 Blues da Piedade [Sandra de Sá]
17 Blues da Passagem [Asdrúbal Trouxe o Trombone]
18 Blues Meu Amigo [Ave de Veludo]
19 Canção Azul [Lírio Magnus]
20 Epitáfio [A Bolha]
21 Cantei um Blues [Cida Moreyra]
22 Bem Entendido [Edy Star]
23 Thunder Shuffle [Fernando Noronha & Black Soul]

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==> Blues Popular Brasileiro - Vol 2

DISCO 1:
01 Trem Torto (excerto) [Wagner Tiso]
02 Podia Ser Pior [Blueseiros do Brasil]
03 O Blues É Azul [Walter Franco]
04 Segunda-Feira Blues II [Engenheiros do Hawaii]
05 Bar [Daminhão Experyénça]
06 Samsara Blues [Lobão]
07 Blues para o Brasil [Nuno Mindelis]
08 Cavaquinho Boogie [Garoto]
09 Meu Pobre Blues [Sérgio Sampaio]
10 Abre essas Pernas [Velhas Virgens]
11 Fim do Mundo [Ventania]
12 Negro Gato [Marisa Monte]
13 Vinte Anos Blues [Elis Regina]
14 Blues [Célia]
15 Bancarrota Blues [Chico Buarque]
16 Blues Afins [Jane Duboc]
17 Blues [14 Bis]
18 Messalina Blues [Madame Saatan]
19 Neguinho Blues [Banda Eva]
20 Boomerang Blues [Renato Russo]
21 Eddy Teddy Blues [Inocentes]
22 Blues da Neblina [Cida Lobo]

DISCO 2:
01 Bossa Nova Blues [Milton Banana Trio]
02 Forró Blues [Blue Jeans & Genival Lacerda]
03 Lamento Blues [Ave de Veludo]
04 O Sol Também Me Levanta [Blues Etílicos]
05 Telefone Blues [Waldir Calmon & Seu Conjunto]
06 Transas de Amor [Marina Lima]
07 Tempos Constantes [A Bolha]
08 Viola in Blues [Pereira da Viola]
09 Lighthouse [André Cristovam]
10 Ser Triste Sozinho (Learnin' the Blues) [Cauby Peixoto]
11 H. D. Blues [Garotos da Rua]
12 Brasil 2000 [Zuco 103]
13 Blues Guitar [Victor Gaspar Trio]
14 Blues [Violeta de Outono]
15 Boomerang Blues [Zélia Duncan]
16 Copacabana Blues [Renata Arruda]
17 Jacarepaguá Blues [Alceu Valença]
18 O Hierofante [Secos & Molhados]
19 Será que Sou Eu [Paulinho Moska]
20 Vozes e Tons [Rosa Maria]
21 The Archaic Lonely Star Blues [Gal Costa]

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==> Blues Popular Brasileiro - Vol 3

DISCO 1:
01 O Maluco Sou Eu [Bebeco]
02 Bem-vinda ao meu Pesadelo [Camisa De Vênus]
03 Jornal Blues [Belchior]
04 Salto Mortal [Suburblues]
05 Todo Amor ao Jimi [Pepeu Gomes]
06 Ruas de São Miguel [Edvaldo Santana]
07 Miss Celie`s Blues [Renato Russo]
08 Blues do Satanás [Motorocker]
09 Bar Fly Blues [A Elétrika Tribo]
10 Blues do Piauí (versão curta) [Renato Piau]
11 Como Vovó Já Dizia [Baseado em Blues]
12 Minha Música [Adriana Calcanhoto]
13 Negro Gato [Denise Reis]
14 Bumerangue Blues [Barão Vermelho]
15 Song Song Blues [Agnaldo Rayol]
16 Sonny Moon for Two (Blues em Samba) [Rio 65 Trio]
17 Flores Horizontais [Elza Soares]
18 Balada de Robert Johnson [Flávio Guimarães]
19 364 Boogie [Robson Fernandes]

DISCO 2:
01 Rio Comprido Blues [Lulu Santos]
02 Um Blues [Bruna Caram]
03 Panos e Planos [Big Gilson & Ricardo Werther]
04 Nega (Photograph Blues) [Gilberto Gil]
05 Destino América [Big Bat Blues Band]
06 Espumas ao Vento [Elza Soares]
07 O Último Blues [Cláudia Ohana]
08 My Babe [Big Allanbik]
09 Blues for Brazil [Roy Rogers]
10 Blues da Piedade [Cazuza]
11 Blues do Libertar [Itamar Brant & Lunáticos da Fuzarka]
12 Blues do Elevador [Zeca Baleiro]
13 Five for Elis [Elis Regina & Toots Thielemans]
14 Meu Pobre Blues & Como 2 e 2 [Oswaldo Montenegro]
15 Rãzinha Blues [Ceumar]
16 Out of the Blues [Celso Fonseca & Ronaldo Bastos]
17 Vinte Anos Blues [Ivan Lins]
18 Blues do Arranco [Ângela Rô Rô]
19 Eu Vou Estar com Você [Made In Brazil]
20 Se Deus Quiser (e o Diabo Deixar) [Nasi e Os Irmãos do Blues]
21 Aquarela do Brasil [Celso Blues Boy]

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==> Blues Popular Brasileiro - Vol 4

DISCO 1:
01 Ed´s Blues [Ed Motta]
02 Cruel, Cruel, Esquizofrenético Blues [Blitz]
03 Favela Blues [Marku Ribas]
04 Só as Mães São Felizes [Barão Vermelho]
05 Miss Celie's Blues [Jane Duboc]
06 Um Quarto para as Horas [Penélope]
07 Black Tie [Rosa Maria]
08 Canceriano sem Lar (Clínica Tobias Blues) [Raul Seixas]
09 Blues [Peso]
10 Blues pros Bicos [Ana Mazzotti]
11 Beijos, Blues e Poesia [Ksis]
12 A Volta do Boêmio [Bêbados Habilidosos]
13 Blues do Iniciante [Cássia Eller]
14 Jardins da Babilônia [Rita Lee]
15 Stormy Monday Blues [Jô Soares e o Sexteto]
16 Aboio Blues [Djavan]
17 Baader Mein of Blues [Legião Urbana]
18 Vinte Anos Blues [Flora Purim & Airto]
19 Bem que se Quis [Wilsom Sideral]
20 Blues [Caetano Veloso]

DISCO 2:
01 Seventh Son [Big Allanbik]
02 Moreirinha e Seus Suspiram Blues [Moreirinha e Seus Suspiram Blues]
03 Sob um Céu de Blues [Cascavelettes]
04 I.N.P.Blues [Kid Vinil e Os Heróis do Brasil]
05 The Stumble [André Cristovam]
06 Blues [Lírio de Vidro]
07 Agreste Blues [Ednardo]
08 Blues da Fumaça no Céu [Sylvia Patricia]
09 Blues na Penumbra [João Ricardo]
10 Bonobo Blues [Lulu Santos]
11 Do Palco ao Balcão [Clube de Patifes]
12 Meu Coração Está de Luto [Zeca Baleiro]
13 Fumando na Escuridão [Celso Blues Boy]
14 Cachaceiro [Velhas Virgens]
15 Mot Blues [Marcos Ottaviano]
16 Vida de Poeta [Sérgio Duarte & Entidade Joe]
17 Blues Dinamite [A Elétrika Tribo]
18 Estrela da Noite [Flávio Guimarães]


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==> Blues Popular Brasileiro - Vol 5

DISCO 1:
01 Blues Bossa Balanço [Os Morcegos]
02 Furacão [Blueseiros do Brasil]
03 Primavera nos Dentes [Secos & Molhados]
04 Tosquera Blues [Gaspo 'Harmônica' & Oly Jr.]
05 Vida Blues [Celso Blues Boy]
06 Tribute to Genius [Décio Caetano and Blues Band]
07 Problemas [Nasi e Os Irmãos do Blues]
08 O Crente e o Cachaceiro (Repente Blues) [Caju & Castanha]
09 Walking Away Blues [Nei Lisboa]
10 Canceriano sem Lar [Blues Etilicos]
11 Mal Menor [Arrigo Barnabé & Péricles Cavalcanti]
12 Blues para Emmett [Toquinho e Vinícius]
13 Não Lembre de Chorar [Miriam Szrajbman & Big Gilson]
14 Não Consigo nem mais Dormir [Big Bat Blues Band]
15 Blues do Estudante [Zé Geraldo & Edimilson Duarte]
16 Retrato em Branco e Preto [Ana Carolina]
17 Moonlight Over Astoria [Ismael Carvalho]
18 Xmas Blues [Som Imaginário]
19 Blues da Bailarina [Oswaldo Montenegro]
20 Blues da Piedade [Cássia Eller]

DISCO 2:
01 Mamão Blues [Brasil Papaya]
02 Blues na Madrugada [Made In Brazil]
03 Troca-toca [Clara Ghimel]
04 Televisão [Titãs]
05 O Nosso Blues [Charlie Brown jr.]
06 Um Blues [Tunai]
07 Luz [Daminhão Experyénça]
08 Tudo Blue [Baby Consuelo]
09 Blues do Iniciante [Barão Vermelho]
10 Bancarrota Blues [Nana Caymmi]
11 Chacal Blues [Evandro Mesquita]
12 Sinais de Fumaça [Mister Jack]
13 Blues Tupiniquim [Aline Fajardo & Trio Bluseiro]
14 Blues da despedida [Clara Becker]
15 Blues do Adeus [O Terço]
16 O Último Blues [Bêbados Habilidosos]

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