segunda-feira, 6 de abril de 2009

Os 15 anos do genocídio de Ruanda



Durante 100 dias, de 6 de abril a 4 de julho de 1994, o mundo inteiro assistiu, passivamente, ao extermínio brutal e desumano de 800 mil ruandeses, na maior parte, membros da etnia Tutsi. Para Rony Brauman, um dos fundadores e ex-presidente da organização Médicos sem Fronteiras, a ação da justiça internacional no caso de Ruanda foi extremamente limitada. "Estes crimes continuam impunes, metodicamente ignorados pela comunidade internacional, pela imprensa e pelos observadores de Ruanda", critica.

Quinze anos depois, as imagens do genocídio do Ruanda ainda estão gravadas na memória coletiva. Durante 100 dias, de 6 de abril ao 4 de julho de 1994, o mundo inteiro assistiu, passivamente, ao extermínio brutal e desumano de 800 mil ruandeses, na maior parte, membros da etnia Tutsi.

Em agosto de 1993, o governo formado por representantes Hutus e a Frente Patriótica Ruandesa (FRR), Tutsi, assinaram um tratado de paz, após três anos de uma guerra civil que provocou a morte de milhares de pessoas, o deslocamento de milhares de refugiados e que deixou a economia do país paralisada.

No dia 6 de abril de 1994, o presidente ruandês, Juvenal Habyarimana, e o presidente do Burundi, Cyprien Ntaryamira morreram em um misterioso acidente aéreo. Assim que a informação foi divulgada, a inimizade irrompeu entre a comunidade Hutu, numericamente superior e dominate, e os Tutsis, grupo minoritário. Neste mesmo dia, a guarda presidencial, setores das forças armadas, a milícia civil e uma parte da população se lançaram no assassinato sistemático dos Tutsis e dos Hutus pró Tutsi. E o que parecia uma revolta limitada, tornou-se um massacre que ultrapassou a imaginação, numa lógica de eliminação recíproca.

Neste mesmo ano, 1994, Rony Brauman, um dos fundadores e ex-presidente de Medécins Sans Frontière (Médicos sem Fronteira), organização humanitária que recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1999 - publicou “Diante do Mal, Ruanda : um genocídio ao vivo”. Desde os primeiros dias do conflito, as organizações humanitárias, presentes no território ruandês, alertaram as autoridades a respeito do massacre. A mídia transmitia, diariamente, imagens terríveis da violência da exterminação, sem que os dirigentes mundiais reagissem.

Médico, diplomado em epidemiologia e medicina tropical, engajado desde 1977 no setor da ação humanitária, Rony Brauman esteve presente no palco de atrocidades humanas na Etiópia, na Somália, no Kosovo, etc. Rony Brauman é também ensaísta e publicou várias obras de reflexão sobre a intervenção humanitária, entre elas “Pensar na Urgência: percurso crítico de um humanitário”. De origem israelense, ele é considerado um traidor pela comunidade judaica, por criticar a política de Israel. “A discórdia: Israel-Palestina, os judeus e a França” que Brauman publicou, em 2006, em parceria com o filósofo Alain Finkielkraut, é o produto das análises controvertidas sobre a questão israelo-palestina.

Rony Brauman aceitou o convite da Carta Maior para evocar os 15 anos do genocídio do Ruanda e o papel da Corte Penal Internacional.

Marta Fantini: O presidente da etnia Hutu, Juvenal Habyarimana, chegou ao poder através de um golpe de Estado, em 1973. Católico e próximo da rica Igreja ruandesa, que se sentia ameaçada pelos socialistas Tutsis, Habyarimana usava o racismo como base do seu discurso político. Apesar de todos estes fatores, a França apoiava o seu regime. Na época, os Médicos sem Fronteiras criticavam a posição francesa por ignorar as intenções do presidente ruandês.

Rony Brauman: A política não faz parte das nossas preocupações essenciais. O objetivo de uma organização humanitária não é o de criticar as relações ou escolhas políticas dos países onde ela atua, senão, seria impossível agir nas zonas de conflito. No entanto, criticamos a estratégia francesa na África. Talvez para manter sua influência no Conselho Permanente de Segurança da ONU, a França defende, a qualquer preço e quaisquer que sejam as consequências, os regimes considerados como amigos. Esta tradição da França de manter as antigas amizades do período pós colonial é criticada, não somente pelas ONGs.

MF: Os santuários sagrados, locais de paz inviolável - serviram de armadilha para o massacre de centenas de crianças, mulheres e idosos que neles buscavam refúgio. Algumas destas igrejas foram transformadas em museus, onde crânios das vítimas estão expostos para “exorcizar o Mal”. Vários testemunhos acusam a participação ativa ou passiva, por medo de represália, da Igreja Católica Ruandense, durante o genocídio. Duas freiras foram julgadas e condenadas, na Bélgica, por cumplicidade. Outros membros da Igreja foram igualmente perseguidos pela Justiça. Como recentemente a Igreja provocou vivas reações no mundo ocidental, em relação à excomunhão, será que o Vaticano baniu, ou puniu os eclesiáticos implicados neste massacre?

RB: Um processo foi lançado contra um religioso, que acabou por ser inocentado. Parece que não houve nenhum testemunho realmente convincente em relação a sua culpa. Ele tinha sido acusado de proteger um grupo de Tutsis, perseguido pelas forças governamentais, para entregá-lo, algum tempo depois, às milícias. O único caso, na minha lembrança, em que houve um processo judiciário, mas sem consequências. A ação da Justiça Internacional no caso do Ruanda é extremamente limitada. Os fatos remontam a 1994. Os massacres cometidos antes desta data não entram no domínio da competência da CPI. A Corte Penal Internacional foi criada pelo Tratado de Roma, em julho de 1998.

O Tribunal Penal Internacional para o Ruanda (TPIR) se interessa pelos próximos do regime de Habyarimana, pelos responsáveis pelo governo de transição, ou seja os suspeitos pelo atentado que causou a morte de dois presidentes. Este governo transitório foi, sem dúvida, o estrategista do genocídio. Esses indivíduos são visados através de diferentes processos. Todavia, não podemos esquecer que houve massacres cometidos também pelos adversários do regime Habyarimana, crimes de massa perpetrados pelo Exército Patriótico Ruandês, o setor armado do partido político Frente Patriótica Ruandesa, as forças dirigidas pelo atual presidente Robert Kagamé.

Estes crimes continuam impunes, metodicamente ignorados pela comunidade internacional, pela imprensa e pelos observadores de Ruanda. Não se trata de confrontar as vítimas do genocídio com seus carrascos. O que deve ficar claro, é que houve uma guerra civil e um genocídio. Os responsáveis pelo genocídio foram julgados em condições discutíveis, mas foram julgados. Enquanto que os militares, que assassinaram milhares de pessoas, no contexto de uma guerra civil, escaparam a todo tipo de perseguição.

MF: Depois da sua criação, a Corte Penal Internacional livrou quatro mandados contra os governos da República Democrática do Congo, Uganda, República Centro Africana e o Sudão. Desde que a sentença contra o presidente Omar El Bechir foi promulgada pelo procurador da CPI, Luis Moreno-Ocampo, o senhor se tornou uma voz dissonante, apontando os riscos que tal medida poderia provocar. Georges Clooney e seu pai, Nick Clooney, produziram o documetário “Um dia em Darfur : crônica de uma viagem”. Esta midiatização mundial do conflito poderia ter influenciado a decisão da Corte Penal Internacional de lançar um processo contra o presidente sudanês?

RB: Sim, eu acredito que seja o caso. O processo contra El Bechir me parece estar em relação direta com a campanha internacional da qual George Clooney foi um dos representantes mais célebres. Não tenho nenhuma razão de duvidar da sinceridade dele. Somente quero precisar que ele recusou o diálogo com todos aqueles que não concordavam com o tema da sua mobilização.

Assim que os Médicos sem Fronteira constataram que não havia genocídio em Darfur, entraram em contato com o ator norteamericano. Havia, porém, uma outra razão importante para solicitar este encontro: a fundação de George Clooney havia proposto dinheiro para as ações de MSF, em Darfur. Mas, como este dinheiro poderia exalar um forte perfume político e ideológico, seria delicado utilizá-lo. MSF queria, antes de mais nada, explicar a George Clooney as razões pelas quais este dinheiro não poderia ser aceito. Clooney recusou a receber seus representantes, não em razão da doação, mas por não aceitar os argumentos e os testemunhos de MSF, que eram incompatíveis com a sua posição.

É provável que haja uma relação direta entre esta campanha midiatizada e a não condenção de El Bechir. Há realmente pontos concordantes nos argumentos do procurador da CPI, Luis Moreno-Ocampo, que repete afirmações e análises provindas diretamente de “Safe Dafur" ou “Urgence Darfur France” que são, de maneira geral, seus correspondantes, seus afiliados. Afirmações, segundo as quais milhares de pessoas continuam a ser perseguidas e que os campos de refugiados são locais de genocídio em potencial, são sem fundamento.

Seguir a lógica da CPI é entrar numa inflação judiciária em que, por falta de percepção ou de informações, todos os conflitos acabarão por ser genocidários. Ora, o emprego de milícias, da tortura e o deslocamento forçado das populações são, infelizmente, práticas de guerra. Confundi-las com genocídio, é subtrair da História e da Política as relações de compromisso e de diálogos diplomáticos.

Tanto o regime sudanês como as milícias cometeram atrocidades contra a população. Mas afirmar que houve intenção de exterminar os povos de Darfur é pura especulação. Se fosse o caso, como explicar que mais de dois milhões de darfurianos procuraram refúgio junto ao exército de suas províncias, ou que um milhão deles vivem em Kartum, sem nunca terem sidos incomodados? Seria possível imaginar os Tutsis pedirem proteção às forças armadas ruandesas, em 1994 ou os judeus à Wehrmacht em 1943?

O enorme dispositivo humanitário, implantado no Darfur, contribuiu para salvar milhares de vida. A incrimação de Omar El Bechir destrói a ajuda humanitária, que sustenta a vida cotidiana destas populações, e arrruína toda possibilidade imediata de negociação entre os rebeldes e o governo.

MF: Apesar da existência de organismos internacionais criados para evitar os conflitos entre os povos e punir os responsáveis de crimes de guerra e genocídios, a Históra se repete, com transmissão ao vivo, via satélite, do que é capaz a selvageria humana. Alguns países, como os Estados Unidos, a Rússia, China e Israel jamais retificaram o Tratado de Roma, talvez por temerem suas próprias ações : Estados Unidos no Iraque; China na questão do Tibete e Israel em relação a ocupação dos territórios palestinos e os crimes cometidos em janeiro.

RB: A extrema violência dos ataques contra Gaza já seriam suficientes para serem declarados como crimes de guerra. Mas não houve guerra, houve um ataque. Além disso, me pergunto se seria possível existir guerra sem crime de guerra. Seria uma ficção. O problema fundamental da CPI, é que ela está sob autoridade direta do Conselho de Segurança da ONU. Somente a Organização das Nações Unidas pode fazer apêlo à Corte ou suspender uma decisão por ela emitida. Além disso, ela não exclui a aplicação do artigo 16 que permite suspender, durante um ano, qualquer investigação ou processo, se o Conselho de Segurança considerar as hostilidades uma ameaça à paz.

O que é evidente, por razões explicitamente políticas, que nem Putin, cuja responsabilidade nos massacres na Chechenia é imensa, nem os dirigentes chineses, americanos ou israelenses serão incomodados por quem quer que seja. Estes países ocupam posições Permanentes no Conselho de Segurança da ONU. Não é o caso de Israel, mas a lógica é a mesma, já que este país é protegido pelos EUA. A impressão que ressalta da CPI, de imediato, é que alguns países são sancionados e outros, cujos crimes são tão graves ou piores, nenhuma punição é invocada. Nestas condições, podemos dizer que a CPI é seletiva, que não se trata de Justiça, mas acerto de contas, que é o oposto da verdadeira Justiça.

MF: Existe, então, pouca chance que Israel seja julgado pelos crimes cometidos contra os palestinos de Gaza?

RB: Sim. Não podemos imaginar, num futuro previsível, que estes crimes serão punidos. Algumas investigações serão efetuadas pelo próprio exército israelense e talvez uma comissão de juristas apresentará alguns relatórios. As conclusões serão contraditórias e os erros apontados serão atribuídos igualmente aos responsáveis de cada campo. Alguns soldados, que cometeram atos inaceitáveis, serão condenados para celebrar os méritos da democracia israelense e passaremos a outra coisa, como aconteceu sistematicamente com todos os crimes cometidos pelo exército israelense. Depois a imprensa evocará outros eventos, a vida seguirá seu rumo, e tudo será enterrado.

Aproveito para frisar que o ataque particularmente sanguinário e espetacular de Gaza, faz parte de uma estratégia que é, de uma certa maneira, mais grave do que os acontecimentos de janeiro. Esta estratégia visa a enfraquecer e a expulsar os palestinos, num processo lento e seguro de ganhar cada vez mais partes de territórios e aumentar a fronteira de Israel, em contradição com todas as obrigações teoricamente impostas aos israelenses pelo direito internacional. Este é o problema central do caso israelo-palestino e que evidentemente não é tratado pela CPI. Talvez a presidência de Obama tente uma abertura para o processo de paz, mas isso não quer dizer que sanções penais serão aplicadas contra os dirigentes israelenses.

MF: A presença de Ehud Barak e dos Trabalhistas no governo Benyamin Nétanyahou seria uma maneira de temperar as preocupações internacionais provocadas pela controversa nomeação de Avigdor Lieberman, chefe do partido de extrema direita ? A política deste governo será a mesma ou pior em relação ao conflito com os palestinos ?

RB: Pelo que tudo indica, penso que não haverá mudança política. Será talvez mais brutal, em razão do perfil da composição do novo governo israelense. Não devemos esquecer que Ehud Barak possui um título de glória particularmente célebre, além de seu talento de pianista: ele foi um membro ativo, um oficial do esquadrão da morte, no Líbano, nos anos 80. Seus feitos de armas heróicos consistem na sua participação na eliminação física da maior parte dos intelectuais e dos ativistas palestinos refugiados no Líbano. Não há nada a esperar da parte dele, ao contrário. Ehud Barak aceita, e o que parece lógico, fazer parte de um governo de coalizão com a extrema direita nacionalista e fascista.

O que poderá ser positivo, nisto tudo, é que este governo será dificilmente frequentável . Aqueles que hesitam a apertar as mãos de extremistas, em outras partes do mundo, como é o caso dos líderes da Palestina, vão se sentir constrangidos com a obrigação de cumprimentar Avigdor Liberman, o grande admirador de Putin, que literalmente destruiu a Chechenia. Eis o sonho de Avigdor Liberman: aplicar os métodos de Putin na Palestina. Minha única expectiativa é que a presença dos extremistas israelenses no poder, aumentará o isolamento de Israel e contribuirá, talvez, para mudar o ponto de vista da comunidade internacional. É apenas uma esperança e não uma análise

Marta Fantini é produtora e apresentadora do programa "Le Brésil en Noir & Blanc", na Rádio Campus Bordeaux - France
www.bordeaux.radio-campus.org

Mais um de Galeano....

Galeano lança na capital mexicana seu mais recente livro










México (Prensa Latina) O escritor uruguaio Eduardo Galeano apresentou no Palácio de Belas Artes, no centro histórico da capital mexicana, seu mais recente livro Espejos: uma história quase universal.

O encontro dedicou-o ontem à noite ao “zapatista do Iraque, que lançou os sapatos contra Bush e que assim defendeu com coragem a dignidade de sua nação humilhada”.

Com uma linguagem desenfadado e com a ironia na ponta da cada palavra, Galeano fez um percurso por este texto que “quer que os mortos renasciam e que os anônimos tenham nome”.

Disse que o dedicou aos escravos, às mulheres por séculos ignoradas, ao sul e o oriente do planeta desprezados, e aos muitos mundos que o mundo contém e esconde.

O livro refere-se, ressaltou, “às pessoas que fizeram a história mas não figuram nela e também aos lugares, aos países que não encontram no relato da história o lugar que merecem”.

Recordou que foi em Iraque onde nasceu a escritura, a civilização, ainda que o aniquilador de Iraque, George W. Bush, segua convencido de que a escritura nasceu em Texas.

“Mas nasceu no Iraque, quando ainda não tinha esse nome, e foi o fogo o que cozinhou a argila e guardou as primeiras palavras que aniquilam e salvam, que matam e dão vida como os deuses e como nós”.

Destacou que esses murais foram roubados ou destroçados pelos bombardeios durante a atual guerra que nasceu de uma mentira e mentindo segue.

Na apresentação de seu livro ontem à noite, Galeano percorreu os diferentes fatos históricos mais conotados da história universal, mas questionando-se o tempo todo, como tivessem sido esses acontecimentos, como a Guerra de Tróia, contados por personagens anônimas.

Assegurou que eles, aparentemente sem importância, sempre tiveram algo que dizer, mas foram condenados a viver com a boca fechada “pela história oficial”.

Agora, disse aos assistentes à apresentação de Espelhos: uma história quase universal, estão ocorrendo mudanças muito interessantes em América-Latina que estão provocando escândalos porque são atos de sentido comum.

E é que “há mais de cinco séculos, quando América descobriu o capitalismo, lhe proibiram o sentido comum que é 'um exercício perigoso’, é por isso o escândalo pelos novos giros do continente, disse.

Galeano destacou que na América Latina se desatou uma energia popular de mudanças.

A uma pergunta dos interlocutores sobre o que espera da política do novo governo dos Estados Unidos para estes homens e povos que ressalta em sua obra, Galeano respondeu: "saiam de nossas costas."

Créditos: PatriaLatina

Texto: Odalys Troya/Prensa Latina

A escrita continua....

domingo, 5 de abril de 2009

Grande Clássico do cinema....



Wuthering Heights (O MORRO DOS VENTOS UIVANTES - 1939)


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Senha para descompactar:
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Créditos: F.A.R.R.A.-Christine

Informações:

Arquivo: RMVB
Tamanho: 324 Mb
Direção: William Wyler
Roteiro: Charles MacArthur, Ben Hecht
Produção: Samuel Goldwyn
Música Original: Alfred Newman
Fotografia: Gregg Toland
Edição: Daniel Mandell
Design de Produção: James Basevi
Figurino: Omar Kiam
Efeitos Visuais: W. Percy Day
País: USA
Gênero: Drama
Nota: 8,9

Prêmios: Academia de Hollywood - Oscar de Melhor Fotografia

Sinopse:

Um caminhante, chamado Lockwood, é apanhado pela neve e se vê forçado a se abrigar na propriedade 'Wuthering Heights' onde a governanta, Ellen Dean, senta-se para lhe contar a história do local.
Assim, em flashbacks, o filme volta ao início do século XIX, quando o proprietário original de 'Wuthering Heights', Joseph Earnshaw, traz para casa um órfão de Liverpool chamado Heathcliff. Embora o filho legítimo de Joseph, Hindley, despreze o garoto, sua filha, Cathy, desenvolve uma grande afeição por Heathcliff que evolui para uma paixão.
Quando o Sr. Earnshaw morre, Hindley obriga Heathcliff a trabalhar como um criado. Surge, então, Edgar Linton, um rico vizinho, que pede a mão de Cathy. Enciumado, Heathcliff vai embora, enquanto Cathy se casa com Edgar.
Anos mais tarde, agora um homem rico e sofisticado, Heathcliff retorna em busca de vingança. Compra 'Wuthering Heights' do alcoólatra Hindley e se casa com a irmã de Edgar, Isabella Linton. Ainda obsessivamente apaixonados um pelo outro, Cathy termina gravemente doente, enquanto Heathcliff se torna uma pessoa extremamente amarga.
Voltando ao presente, Ellen continua a contar a história a Lockwood, quando o Dr. Kenneth entra e decide revelar o final fatídico da história.

Elenco:

Merle Oberon - Catherine 'Cathy' Linton
Laurence Olivier - Heathcliff
David Niven - Edgar Linton
Flora Robson - Ellen Dean
Donald Crisp - Dr. Kenneth
Geraldine Fitzgerald - Isabella Linton
Hugh Williams - Hindley Earnshaw
Leo G. Carroll - Joseph Earnshaw
Miles Mander - Sr. Lockwood
Cecil Kellaway - Earnshaw
Cecil Humphreys - Juiz Linton
Sarita Wooton - Cathy, quando jovem
Rex Downing - Heathcliff, quando jovem
Douglas Scott - Hindley, quando jovem
Alice Ahlers - Madame Ehlers
Frank Benson - Criado de Heathcliff
Vernon Downing - Giles
Helena Grant - Srta. Hudkins
Eric Wilton - Criado de Linton

Indicações:

Academia de Hollywood - Indicado aos Oscars de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Ator (Laurence Olivier), Melhor Atriz Coadjuvante (Geraldine Fitzgerald), Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora


Críticas:

"O Morro dos Ventos Uivantes" é um dos grandes clássicos do cinema mundial. Com a magistral direção de William Wyler, essa imortal adaptação do famoso romance de Emily Bronte nos conta uma história que fala de amor, paixão, ciúme, ódio e vingança.
Partindo de um ótimo roteiro e contando com a excelente trilha sonora de Alfred Newman, Wyler realiza essa obra- prima, envolvente em cada detalhe.
Para completar, o elenco apresenta grandes atuações: Olivier está perfeito como Heathcliff, expressando magnificamente seus diversos sentimentos através do tom de sua voz e de expressões faciais; Merle Oberon está extraordinária como Cathy, conseguindo capturar e passar a dualidade de sua personalidade; Flora Robson, David Niven e, especialmente, Geraldine Fitzgerald, como coadjuvantes, também estão ótimos. Aliás, até as crianças têm uma boa atuação.






Do blog do Azenha....

Antes que vocês morram de infarto

Luiz Carlos Azenha

A cobertura dos jornais brasileiros sobre o lançamento de um foguete da Coréia do Norte meramente repete propaganda dos Estados Unidos, sem oferecer qualquer contexto. Nem o New York Times se mostra tão escandalizado.

Os Estados Unidos dispõe hoje de 450 mísseis balísticos intercontinentais com 500 ogivas nucleares. A Rússia dispõe de 415, com 1.422 ogivas "a bordo". Outros 30 países do mundo contam com mísseis balísticos em seus arsenais, com alcances de 120 a 10 mil quilômetros, de produção doméstica ou comprados das grandes potências.

Quando se diz que a Coréia do Norte poderia alcançar com seu míssil o território dos Estados Unidos, estão falando "em tese". Muito pouco se sabe sobre a confiabilidade do sistema que dá direção ao foguete. Quando se diz que o país poderia colocar uma arma nuclear no foguete, é mentira. Não há nenhum indício de que a Coréia do Norte tenha desenvolvido a capacidade de transformar um artefato nuclear rústico em uma ogiva suficientemente sofisticada para ser colocada na ponta de um foguete.

Além de vender jornal, essa "imagem" presume que os norte-coreanos seriam suficientemente malucos para atacar os Estados Unidos com um único foguete, recebendo de volta uma chuva de bombas nucleares. Por causa da crise econômica, o Pentágono corre o risco de ter parte de seu orçamento cortado pelo governo Obama. Por isso, criar novas "ameaças externas" é fundamental. Especialmente quando se debate se é mesmo necessário construir o sistema anti-mísseis que foi apelidado de "guerra nas estrelas" e que renderia polpudas verbas aos construtores de armas norte-americanos.

Não desfazendo da paranóia do patético regime da Coréia do Norte, é curioso ver que a Folha de S. Paulo, por exemplo, soa o alarme dos neocons como nem mesmo a mídia dos Estados Unidos vem fazendo. São as "armas de destruição em massa" de volta.


sábado, 4 de abril de 2009

Parabéns COLORADO!...100 anos de glórias...

"Que era o maior, eu já sabia"


Luis Fernando Veríssimo


Alinhar ao centro Quando vi o Internacional pela primeira vez ele tinha 37 anos e eu, 10. Foi num Gre-Nal, 1946. Estádio dos Eucaliptos, eu acho. O Inter jogou com Ivo, Alfeu e Nena; Viana, Ávila e Abigail; Tesourinha, Villalba, Adãozinho, Eliseu e Carlitos. Além dos Eucaliptos, jogava-se nos estádios da Baixada do Grêmio, Timbauva do Força e Luz, Chácara das Camélias do Nacional, Rua Sertório do Renner, Passo d’Areia do São José e Colina Melancólica, do Cruzeiro. Neste havia um barranco atrás de uma das goleiras que era o melhor lugar para se assistir futebol em Porto Alegre, se você estivesse disposto a arriscar a vida. Naquela época, eu estava.
Havia pouco intercâmbio com times de outras cidades e menos com times de outros Estados, o negócio era o campeonato municipal. Como havia muito tempo para ser preenchido, faziam dois campeonatos por ano. O primeiro se chamava “Campeonato Extra” e não valia nada. Os campeonatos começavam com um “Torneio Início” com a participação de todos os times em jogos de meia-hora, uma loucura que ocupava toda uma tarde e em que escanteio valia pontos. Antes de cada partida do campeonato jogavam os times de aspirantes, de manhã jogavam os juvenis.
Quando um time ganhava de manhã, ganhava a preliminar e ganhava o jogo principal, dizia-se que tinha feito barba, cabelo e bigode. Felicidade completa era fazer barba, cabelo e bigode no domingo e na terça ler o que o Cid Pinheiro Cabral dizia a respeito na “Folha da Tarde”. Peguei o fim do Rolo Compressor de Nena, Ávila, Tesourinha, Adãozinho e etc., peguei aquele outro grande Inter de Florindo, Oreco, Salvador, Larry, Bodinho e etc., peguei o Inter campeão brasileiro de Manga, Figueroa, Carpegiani, Falcão, Valdomiro e etc – todos ao vivo.
Pela TV, peguei o resto dos 63 anos até agora. Inclusive, claro, o Inter de Fernandão, o Inter de Yokohama. Este não entra aqui com mais destaque não porque faltou espaço depois de tantas lembranças mas porque seria supérfluo.
Que o Inter era o maior do mundo eu sabia desde 1946.
Só faltava provar.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Em defesa do Software Livre

Na contramão do caminho adotado por diversos governos (incluindo, ainda que parcialmente, o Brasil) e grandes empresas, o Rio Grande do Sul, sede do maior evento de Software Livre da América Latina, fecha acordo com a Microsoft. Confira a Análise de Marcelo Branco, coordenador geral da associação Software Livre.org.

Segundo Marcos Mazoni, diretor-presidente do Serpro e coordenador do Comitê de Implementação de Software Livre, “Os cofres públicos já economizaram mais de 370 milhões de reais com o uso do software livre no governo federal”. confira a notícia completa aqui.

Enquanto isso, no Texas, o Estado vai restringir adoção do Windows Vista no Governo.

O Software Livre dispensa o pagamento de licenças. É possível copiar, modificar (adequando o software às necessidades) e compartilhar programas e códigos. Existem substitutos tão bons ou melhores aos tradicionais programas proprietários. O Linux é uma alternativa ao uso do Windows, mas diversos programas livres rodam no Windows, como o GIMP, programa gráfico, e o próprio Open Office.

Para maiores informações sobre SL e sobre o 10º Fórum Internacional de Software Livre, que acontecerá em Porto Alegre, entre os dias 24 e 27 de junho, clique aqui.
Aproveite e baixe o BrOffice, alternativa livre ao Microsoft Office, e comece agora a boicotar os programas da MS.

A Mentira a Serviço do Império


As idéias do velho império espanhol em muletas.

Por Fidel Castro Ruz. Cuba

Ontem a Reuters encabeçou a lista das agências internacionais de notícias que apresentam Pedro Miret e Osmany Cienfuegos como figuras históricas demitidas por Raúl Castro.

É seguida em ordem pela EFE, que textualmente afirma: “foram demitidos como Vice-presidentes do Conselho de Ministros no passado 2 de março.”

O pretexto para esta intriga, amplamente divulgada no mundo, foi a publicação na Gazeta Oficial (Jornal Oficial), no dia 24 de março, do Decreto sobre a reestruturação do Conselho de Ministros do Governo de Cuba, aprovado no dia 2 deste mês.

Pedro Miret é um companheiro magnífico, com grandes méritos históricos, a quem todos respeitamos e pelo qual sinto um grande afeto. Há vários anos, por motivos de saúde, ele não pode ocupar cargo algum. A lenta instalação de sua enfermidade fez com que cessasse de forma progressiva sua atividade política. Não é justo apresentá-lo como um “demitido”, sem consideração alguma.

Osmany Cienfuegos, irmão de Camilo, realizou importantes tarefas, não apenas como Vice-presidente do Conselho de Ministros, mas também como membro do Partido ou cumprindo instruções minhas quando eu era Comandante-em-Chefe. Sempre foi e é revolucionário. Suas funções foram cessando progressivamente, muito antes de eu adoecer. Já não exercia como Vice-presidente do Conselho de Ministros. O companheiro Raúl Castro, Presidente do Conselho de Estado, não tem responsabilidade nenhuma nisto. Tratava-se, em ambos os casos, de trâmites simplesmente legais.

Reuters e EFE são duas das agências ocidentais mais próximas da política imperialista dos Estados Unidos. A segunda, às vezes, comporta-se pior, embora seja muito menos importante do que a primeira.

Fazendo uso de uma técnica habitual, EFE toma as palavras de Joaquín Roy, diretor do European Union Center de Miami, para publicar, em outro telex de 24 de março, o seguinte: “Espanha tem sido redescoberta como país chave em certas regiões do mundo de interesse para os Estados Unidos como América Latina e em particular, em dois países: Cuba e Venezuela”.

Logo EFE acrescenta: “O perito considerou que o maior interesse dos Estados Unidos, mais do que fazer pressão para a abertura, as mudanças etc., é a estabilidade da ilha.

“Há muitos anos –explicou– os estudos das agências de segurança estadunidenses não assinalam Cuba como uma ameaça militar, porém permanecem atentos ao desenvolvimento de mudanças para evitar que as eventuais fricções internas possam desestabilizar a região.

“Aos Estados Unidos não lhes interessa que o resultado da abertura seja uma guerra civil em Cuba.”

A União Européia e Espanha, segundo Roy, não têm inconveniente em trabalhar junto dos Estados Unidos, mas ‘com cautela’ para que não se dê a entender ou sejam acusados desde Cuba, de que seguem o guia de Washington.

Mais claro nem a água: as idéias do velho império espanhol em muletas, tentando ajudar o corrupto, cambaleante e genocida império ianque.

Nada aprenderam, nem a superpotência Estados Unidos nem a mini-potência espanhola a respeito da heróica resistência de Cuba ao longo de mais de meio século.

Versão em português: by dariodasilva

E na Colombia?...

Defesa de direitos: uma loucura coletiva

Enquanto uma forte campanha contra as Farc ganha a mídia colombiana e internacional, os paramilitares continuam agindo impunemente. Em conluio com o exército e inúmeros políticos, eles já desalojaram mais de 3 milhões de pessoas e seguem assassinando as lideranças dos movimentos sociais

Paola Ramírez Orozco-Souel

No centro de Bogotá, na entrada de um arranha-céu vigiado por câmeras, um segurança pergunta mecanicamente o andar, a razão da visita, o número da carteira de identidade e o telefone. Em troca, fornece um crachá que autoriza a travessia do hall e dá direito a uma revista minuciosa, que culmina no acesso aos elevadores. No 25° andar, outro segurança faz o mesmo interrogatório. Cruzando duas portas blindadas e uma antessala de vigilância, ali está a entrada dos escritórios de várias organizações de defesa dos direitos humanos, sindicatos, partidos políticos e organismos independentes.

Por que tanta precaução? Será que a “segurança democrática”, vigorosa política do presidente colombiano Álvaro Uribe Vélez, no poder desde 2002, é apenas um mito? Inúmeros magistrados, membros de organizações não-governamentais (ONGs), sindicalistas, jornalistas e políticos parecem pensar que sim.

Segundo Alirio Uribe, defensor dos direitos humanos, somente alguns privilegia- dos – a elite e as empresas multinacionais – são beneficiados pelo governo. Por outro lado, “todos aqueles que criticam a política do presidente ou se opõem a seu regime são satanizados”, quando não assassinados.

Em 28 de novembro de 2008, milhares de manifestantes, vestindo camisetas brancas com os dizeres “Colombia soy yo” (“A Colômbia sou eu”), desfilaram nas principais cidades do país e em capitais do mundo afora (Paris, Madri etc.). Como é de costume, o protesto, que contou com apoio implícito do poder colombiano e explícito dos meios de comunicação nacionais e estrangeiros, criticou somente um dos protagonistas do conflito: a guerrilha [1].

Curiosamente, em 6 de março do mesmo ano, uma manifestação contra a violência de estado não havia se beneficiado da presença dos holofotes nem das câmeras. “Nós marchamos para protestar contra as valas comuns, os massacres, os assassinatos, os desaparecimentos e os deslocamentos de populações, pois já estava se propagando a ideia de que era preciso mostrar-se mais solidário com os reféns, e com uma em particular, do que com as vítimas do estado e dos paramilitares”, explica Jorge Rojas, diretor do Conselho para os Direitos Humanos e o Deslocamento forçado (Codhes), uma organização não-governamental.

Mais de 300 mil pessoas se mobilizaram na Colômbia neste 06 de março, convencidas de que a sociedade civil não deve fraquejar “cada vez que os paramilitares ou o presidente a ameaçam”, como se expressou um dos manifestantes.

Hostilidade ao diálogo

Enquanto José Obdulio Gaviria, primo-irmão do falecido barão da droga Pablo Escobar e conselheiro do presidente Uribe, qualificava essa manifestação de “marcha promovida pelas Farc”, os Águilas Negras (Águias Negras), nova denominação dos grupos paramilitares, proferiam ameaças de morte contra seus organizadores e participantes.

Uma semana depois, seis organizadores dessa marcha foram assassinados. Dez sindicalistas tiveram o mesmo destino ao longo do mês. O único consolo é que, apesar de não ter “o mesmo apoio institucional, econômico e midiático que os protestos contra as Farc, a marcha rompeu com a unanimidade que pretendia se impor e com a ideia de que a violência vem unicamente das guerrilhas”, diz um de seus mentores.

Hostil a qualquer diálogo com a oposição armada, desde sua chegada ao poder, o chefe de estado privilegiou a via militar. Entre 2002 e 2007, 13.634 foram mortos, vítimas da violência política [2]. Segundo o Codhes, do total de 4 milhões de pessoas desalojadas pela força desde 1985, 3 milhões o foram sob o governo de Uribe [3].

Para o advogado Sergio Roldán: “os camponeses que se recusam a cultivar a folha da coca são desalojados para dar lugar aos narcotraficantes. A terra é igualmente varrida de sua população em benefício dos grupos armados também por ser uma fonte de exploração comercial. Presidente do Codhes, Marco Romero estima em 6,8 milhões o número de hectares expropriados ou “vendidos ilegalmente por funcionários corruptos”.

O caso de Choco, região da costa do Pacífico onde vivem as comunidades afro-colombianas, é emblemático. Milhares de camponeses foram obrigados a fugir da violência, abandonaram suas terras para ceder espaço aos interesses de grupos industriais nacionais e internacionais, “para os megaprojetos previstos para o cultivo da palmeira-africana utilizada na fabricação de biocombustíveis [4]”.

“O período uribista é o mais repressivo que nossas comunidades já conheceram. É muito difícil fazer valer nossos direitos e territórios reconhecidos pela Constituição de 1991 e pelas cartas internacionais”, narra Daniel Maestre, desalojado da comunidade Kankouano.

Vítimas dos paramilitares, da guerrilha e do exército – implicado em mais de 60% dos casos, segundo a organização Nacional de Indígenas da Colômbia (Onic) –, mais de 1.200 indígenas foram assassinados ao longo dos últimos seis anos. “A ‘segurança democrática’ matou mais gente do que ajudou”, diz Jairo Chicama, um indígena embera-Katio [5].

Mais de 170 funcionários do Estado já estão envolvidos no escândalo dito da “parapolítica”, sejam eles parlamentares eleitos ou pertencentes ao círculo do presidente

Uribe se recusa admitir a existência de um conflito político em um país que assiste a uma guerra interna desde os anos 1950. A “ameaça terrorista” para ele é suficiente como explicação. Para “pacificar” a Colômbia, há muito tempo o exército pactuou com os paramilitares que enfrentam indiscriminadamente camponeses, estudantes, sindicalistas, defensores de direitos humanos, jornalistas e militantes políticos.

As famílias das vítimas desse conflito, que tinham depositado todas as suas esperanças nas audiências judiciais previstas pela lei dita de “Justiça e Paz”, adotada em 2005 para “desmobilizar” os paramilitares e lançar luz sobre seus crimes, rapidamente mudaram de tom [6]. Reunidos em torno do Movimento Nacional de vítimas dos Crimes de Estado (Movice), elas lutam hoje contra o esquecimento e a impunidade “premeditada” do presidente, que extraditou aos Estados Unidos 14 dos mais poderosos chefes paramilitares para serem processados por narcotráfico. Na Colômbia, acusados de crimes contra a humanidade, eles poderiam fazer revelações intoleráveis sobre suas pretéritas alianças com a classe política.

De qualquer forma, mais de 170 funcionários do estado já estão envolvidos no escândalo dito da “parapolítica” – termo que designa o conluio entre paramilitares e políticos, sejam eles eleitos ou pertencentes ao círculo do presidente. Entre eles, Jorge Noguera, ex-braço direito do chefe de Estado e diretor do Departamento Administrativo de Segurança (DAS) [7], preso (depois libertado) por ter colocado essa instituição a serviço dos paramilitares e por lhes ter enviado uma lista de dirigentes sindicais, professores de universidade e opositores a serem assassinados [8].

Além disso, 36 deputados eleitos pelo campo majoritário e dois ex-presidentes do Senado estão presos, enquanto outros 65 da mesma maioria seguem sob investigação.

Paradoxalmente, afirma Ivan Cepeda, presidente do Movice, “esses acontecimentos tornam nosso trabalho ainda mais difícil, já que o presidente defende as pessoas ligadas aos paramilitares e à máfia. Nós somos alvo para eles: 20 de nossos dirigentes foram assassinados desde 2005”.

Com a benção das elites locais

Notadamente nos estados de Sucre, Antioquia e de Córdoba, “pela imposição de um regime de terror, os ‘paras’ decidem quem serão os representantes políticos, os catedráticos das universidades, etc. em uma dessas zonas há uma propriedade do presidente, situada nas proximidades de outra, do chefe paramilitar Salvatore Mancuso. Podemos afirmar com certeza que todos os que vivem na região ou que a conhecem sabem o que se passa por lá”.

Segundo ele, estruturas paramilitares agiriam em 22 dos 32 estados do país, contando com a bênção das elites locais [9]. Mesmo no exterior, alerta Cepeda, as vítimas exiladas ou refugiadas do estado não estão em segurança. “Acusadas de pertencerem às Farc, elas são perseguidas pelas instâncias diplomáticas da Colômbia.”

A exemplo do diário El Tiempo, fonte de informação da imprensa estrangeira e de propriedade do vice-presidente Francisco Santos e do ministro da Defesa Juan Manuel Santos, as redes de televisão tais como RCN e Caracol servem de caixa de ressonância para a propaganda do poder. Inútil dizer que, nas zonas paramilitares, a liberdade de expressão e o pluralismo político desapareceram.

No entanto, o senador Gustavo Petro, do Polo Democrático Alternativo (PDA), observa que, “ainda que todos nós estejamos sob ameaça de morte e que suportemos esse ímpeto destrutivo do presidente, os partidos de esquerda ou de oposição estão vivos nas cidades. Afinal, é difícil matar todo mundo na rua ou ‘acompanhar’ com uma arma cada pessoa que vai votar”. Isso explicaria, em parte, a eleição dos prefeitos da oposição nas três grandes metrópoles do país – Bogotá, Medelín e Cali.

Se as manifestações de resistência pacífica da sociedade civil se multiplicam, o medo de represálias sangrentas persiste. “Com um governo tão autoritário e intolerante como o de Uribe, a oposição política não-armada corre sérios riscos. Ele nos vê como um empecilho à democracia”, afirma Carlos Gaviria, presidente do PDA. Enfrentando os ataques do presidente e os inúmeros assassinatos de seus dirigentes, esse novo partido reúne parte da esquerda do país.

Ansioso por um terceiro mandato, o presidente visivelmente sonha com o desmantelamento da Constituição de 1991. Ele já conseguiu fazer com que a revisassem, não sem a compra de votos de parlamentares, para que fosse reeleito em 2006 [10].

De acordo com Fernando Cifuentes, procurador da república, “os métodos do presidente, as violações ao texto constitucional e a ‘parapolítica’ desrespeitam os princípios fundamentais da democracia. A continuar assim, nós vamos chegar a uma ditadura totalitária”.

A Corte Suprema de Justiça tem provas e testemunhas para julgar os deputados acusados, mas em vez de deixá-la fazer seu trabalho, Uribe a ataca sempre que pode

Segundo esperanza Delgado, presidente da Asonal valle Del Cauca, sindicato de magistrados, “o executivo exerce uma verdadeira pressão pela via econômica e política. Nós trabalhamos contra a parede, e a independência da justiça não é respeitada.

A Corte Suprema de Justiça tem provas e testemunhas para julgar e condenar os deputados da ‘parapolítica’. Mas, em vez de deixá-la fazer seu trabalho, o presidente a ataca sempre que pode”. De fato, Uribe classifica os juízes colombianos de “prevaricadores putschistas, que fazem o jogo da guerrilha e do terrorismo”.

“Tais manobras”, afirma Delgado, “põem em perigo nossa vida e toda a credibilidade de nossa instituição e de nossa ação. Se o chefe do estado zomba da justiça, imagine os delinquentes!”

No ano passado, por todo o país foram convocadas greves motivadas pela indignação dos servidores do Poder Judiciário. Em setembro de 2008, durante 44 dias, um movimento nacional pela independência da Justiça e pela revalorização salarial mobilizou mais de 80% dos efetivos do setor. Fechado a qualquer diálogo, o chefe do Estado replicou decretando estado de emergência.

Quando não é o exército, é o terror anônimo que neutraliza o descontentamento. Na noite de 31 de agosto, uma bomba explodiu no Palácio de Justiça da cidade de Cali. Além de matar quatro pessoas, o atentado destruiu vários processos já encaminhados para a condenação de criminosos. “Nós não nos sentimos seguros”, testemunha uma procuradora. “o presidente se apressou em dizer que se tratava de um atentado das Farc. Ninguém sabe de nada ao certo. Eu tinha processos sobre narcotraficantes, paramilitares e políticos. As audiências estavam previstas para a semana seguinte. Agora eu não tenho mais nada, meu escritório foi completamente destruído.”

Para os sindicatos, a guerra contra “o terrorismo” tem por objetivo camuflar os fiascos do poder: desemprego em alta, uma economia em baixa, 70% de pobres e um aumento de 27% das plantações de folha de coca [11].

Em tal contexto, por que Uribe daria início a uma série de discussões ou de negociações com a oposição armada? “Sem as Farc, sua política não faria nenhum sentido. Ele precisa manter a ameaça terrorista para justificar suas medidas de ‘segurança democrática’, as despesas militares [6% do PIB] e a ausência de investimento social”, afirma o sindicalista Luciano Sanin.

Acusados pelo presidente de “desestabilizar o estado”, os sindicalistas se sentem mais do que nunca ameaçados. “A cultura política da Colômbia sempre recusou o sindicalismo, mas é a primeira vez que temos um regime tão neoliberal e repressivo”, completa Sanin. Segundo a escola Nacional de Sindicalistas (ENS), 2.684 sindicalistas foram assassinados em 22 anos, dos quais 463 durante os dois mandatos de Uribe.

Expondo a própria vida e a de sua família, os sindicalistas colombianos exercem de fato uma atividade suicida. “eu preciso me esconder, proteger minha vida e a vida de meus filhos, me mudar cada vez que minha casa é saqueada e recebo ameaças de morte”, narra um dirigente. “Para minha família, ser sindicalista é a pior coisa que pode acontecer a alguém neste país.”

Quanto às mulheres, a selvageria que elas suportam “vai muito além dos esquemas que caracterizam a violência política”, analisa Pilar Rueda, professora da Universidade de Salle. “Elas são apunhaladas para que pareça um crime passional, são vítimas de sevícias sexuais, de trabalho forçado e representam 70% da população desalojada.” Em suma, conclui Rueda, sob o pretexto de combater a guerrilha, “os paramilitares combateram uma sociedade civil não-armada”.

Sem garantias para defender seus direitos, a luta pacífica da sociedade colombiana, que quer construir uma verdadeira democracia em um país em guerra, se assemelha a uma aposta. Contudo, o país transborda de iniciativas individuais e coletivas alimentadas pela esperança de obter, um dia, o apoio da comunidade internacional.

“Nós não podemos fazer concorrência à mídia, às armas, ao dinheiro nem ao poder”, afirma Lilia Solano, defensora dos direitos da pessoa, “mas nós podemos perseverar em nossa luta. Eu não sei se nós fomos atingidos por uma loucura coletiva, mas nós seguiremos na resistência.”



[1] A mobilização, porém, foi muito mais fraca do que a manifestação ocorrida em apoio ao reféns, em 20 de julho, que contou com 4 milhões de pessoas.

[2] As ONGs acusam o Estado na Colômbia “[pela] maior parte das violações de direitos humanos”, Le Monde, 27 de setembro de 2008.

[3] Algo em torno de 305 mil pessoas foram vítimas de desalojamentos forçados em 2007, e cerca de 270 mil ao longo do primeiro semestre de 2008. Amnesty International, “les civils pris pour cibles dans le conflit armé interne”, Paris, 28 de outubro de 2008.

[4] El Nuevo Herald, Miami, 15 de outubro de 2008.

[5] Segundo a Onic, de 1,3 milhão de indígenas – 102 povos com 64 línguas, representando 4% da população –, 45% não possuem território, 80% vivem em situação de extrema pobreza e 54 mil foram desalojados pela violência.

[6] Segundo o coletivo de advogados José Alvear Restrepo, dos 31.611 paramilitares “desmobilizados”, somente 116 são objeto de alguma ação judicial e nenhum deles foi condenado.

[7] Ao mesmo tempo uma polícia política e um serviço de informação.

[8] Além disso, Noguera orquestrou, em 2004, com a ajuda do dirigente paramilitar Rodrigo Tovar, vulgo “Jorge 40”, um plano de desestabilização da Venezuela. Nas eleições de 2002 ele também comandou uma vasta fraude eleitoral sem a qual o presidente Uribe não teria sido eleito no primeiro turno.

[9] Leia Ivan Cepeda Castro e Claudia Girón Ortiz, “comment des milliers de militants ont été liquidés em Colombie”, Le Monde Diplomatique, maio de 2005.

[10] A constituição não permitia a um chefe de Estado assumir dois mandatos sucessivos. Por isso, Uribe teria corrompido a congressista Yidis Medina para que ela votasse a favor da reforma. O novo texto foi validado graças a esse voto.

[11] O Sistema de Medida do cultivo de Folha de coca das Nações Unidas (Simci) relata, em junho de 2008, um aumento de 27% da zona cultivada em 2007, sublinhando um retorno aos níveis de cultivo atingidos em 2002.

quarta-feira, 1 de abril de 2009