quinta-feira, 18 de junho de 2009

A crise não passou sua fatura de barbárie







Revisão de expectativas?

Escrito por Venâncio de Oliveira

Nas últimas semanas havia uma reversão de expectativas. O fantasma da crise parecia estar sendo derrotado. Como? As forças do mercado rejubiladas estariam ajustando as suas falhas temporárias e necessárias? Alguns lançam o jargão econômico que se reinventa para poder fazer o de sempre: encantar e nada explicar. Os indicadores deveriam ser analisados com mais cuidado e menos otimismo. É o desespero do poder que não consegue entender a ineficiência dos mecanismos de mercado. Todavia, é difícil aceitar que um amplo setor da "esquerda" brasileira foi cooptado para este projeto de poder.

Antes da saída dos indicadores do último trimestre os analistas e petistas – antes opostos, hoje amigos – mantinham o discurso dos fundamentos sólidos brasileiros para salvar o mundo das mercadorias. A realidade tem dificuldade de se encaixar nesta tentativa de manipulação das expectativas. As variáveis foram analisadas com muita pressa.

Vejamos alguns destes dados. O preço do petróleo voltou a subir, entre a casa dos 60 e 70 dólares (). Os fundos emergentes voltaram a ter "preferência pelo risco" e se moveram para os países emergentes. A exportação chinesa caiu. As relações entre Brasil e China reforçaram-se. A burguesia brasileira começou a pressionar o PSDB a aceitar a entrada da Venezuela no Mercosul. O presidente Chávez vem ao Brasil pedir empréstimos, com um discurso um pouco exagerado, louvando os ímpetos empresariais brasileiros.

Estes dados entrecortados poderiam sugerir outra coisa do que a racionalidade do sistema que se ajusta. Para jogar um pouco de água fria nos otimistas basta ver que se mantêm em alta as notícias de quebras e caos na economia estadunidense. O gigante histórico, General Motors, quebrou e teve de ser ajudado pela mão (hoje) louvável do Estado.

O movimento dos fundos emergentes não deveria ser analisado com louvor. A voracidade de ganhar dinheiro rápido e fácil é mais sinal de decrepitude do modelo econômico do que de progresso. O fato de que este capital parasitário esteja valorizando moedas dos países emergentes é sinal de desespero do capital, estão fugindo do dólar, e das economias dos países hegemônicos. Os chamados emergentes atraíram US$ 21 bilhões de investidores. Já os mercados de países centrais (Japão, Europa e EUA) perderam US$ 14,1 bilhões ().

Isso é um sinal mais negativo que positivo. O déficit dos Estados Unidos promete ser maior com os projetos salvacionistas de Obama. O dólar terá dificuldades crescentes para continuar sendo a moeda de referência. Um processo de mudança de referência não seria indolor; com a quebra do dólar, muitos países e capitais que lhe usam como padrão sofrerão desvalorizações com conseqüências cumulativas para a economia global. A crise do dólar é uma crise das moedas como sistema de referência de valor sustentável, é o capital fictício cobrando seu quinhão.

Brasil e seu papel geopolítico no xadrez da crise

Neste sentido cabe analisar o papel que joga o Brasil na mundialização do capital. É importante relembrar o processo recente de desvalorização do real. O fato de que o real esteja valorizado não significa que seja uma moeda sustentável mundialmente. O capital tem memória de passarinho, ninguém mais se lembra que, antes do craque de outubro de 2008, o mundo especulou com o real - isso causou a débâcle da Aracruz, salva pelo governo Lula.

O real em sua natureza é uma moeda-prostituta. Serve para dar e receber as migalhas dos homens. Quais são os efeitos que estruturam esta natureza? Os juros mais altos do mundo. Dezesseis anos de governos disciplinados às regras do mundo civilizado do dinheiro. Isso cria uma estabilidade aparente para nossa moeda. Coroada com os pontos que os especuladores nos deram ano passado, o Investment Grade. O real é o paraíso.

Nos tempos gloriosos dos nossos intelectuais da "esquerda", dos quais alguns se mantêm na trincheira de resistência, isso já era percebido. O real valoriza, os investidores chegam, ganham dinheiro e saem, desvalorizando nossa moeda. É uma aposta. Alguém ganha, outro perde. Sempre o povo acaba perdendo, porque paga as apostas dos jogadores. A situação do filho que joga todo o dinheiro e a mãe acaba sempre o salvando.

Outro elemento para entender a participação do Brasil na ganga financeira mundial é o seu papel hegemônico regional e as características do processo produtivo interno. Como analisado por Ruy Mauro Marini (), o Brasil tem características de economia sub-imperialista. Esta natureza conquistada pela industrialização dos anos de ouro do capitalismo brasileiro foi rearticulada, não se perdeu, mudou sua forma. Mas mantém o essencial.

A economia brasileira explora nações menores, como Paraguai, Venezuela e outros. Isso cria um efeito amortecedor para a burguesia brasileira que é vassala da economia mundial, tendo de transferir uma parte de seu excedente com pagamentos de juros e rendas ao exterior. Como faz isso? O empresariado brasileiro em aliança com o Estado domina fronteiras agrícolas e recursos naturais de países latino-americanos ou mesmo africanos (), o que permite custos menores, com um excedente maior para a burguesia brasileira.

As exportações brasileiras têm um duplo destino, os países centrais e os periféricos. O Brasil exporta capitais, carros e aviões para a restrita burguesia e classe média de países da extrema periferia da economia mundial. Com a pulverização destes mercados, ou seja, a ampliação do horizonte comercial feita pela diplomacia brasileira, permite-se incrementar a carteira comercial brasileira. Por último, o Brasil exporta suas commodities, carros, aviões e parte dos seus lucros para os países centrais. Assim, o Brasil é fortemente dependente da exportação, bem como da saúde econômica de países periféricos e centrais.

O capital internacional também é dependente da economia brasileira, pois tem lucros a receber dos seus investimentos especulativos e de suas montadoras de carros. É importante agregar neste sentido a participação do capital internacional na Petrobrás, Vale do Rio Doce e Embraer. Dessa forma, é fácil entender a pressão que sofre o tucanato. O mercado venezuelano é estratégico, dada a possibilidade de exportar capitais e mercadorias, e dominar fronteiras petrolíferas. Outro exemplo é a disputa pelo gás boliviano pela Petrobras, ou ainda o domínio da fronteira agrícola paraguaia por brasileiros.

A partir destes elementos é difícil perceber o fim da crise, e mais fácil entender as apostas dos fundos. O Brasil tem potencial econômico e regional, isto cria ilusões nos apostadores internacionais. Porém, de fôlego curto, pois o Brasil é dependente da acumulação de capital dos países centrais. Os programas salvacionistas de Obama podem criar outro ciclo curto de acumulação, mas baseado em elementos frágeis, a dívida externa e interna estadunidense. A bolha pode ser maior e seu estouro pode ter conseqüências mais drásticas para a economia mundial.

Mercado interno e ilusões de capitalismo autóctone

A economia brasileira tem seu mercado interno para amortecer os efeitos da crise. O Brasil tem um desenvolvimento desigual e combinado de seus setores econômicos, ilhas de excelência como a produção de aviões e setores tecnologicamente atrasados. Tal fato permite uma classe média que trabalha no centro destas empresas, uma aristocracia operária, gerentes e tecnocratas, criando uma demanda que poderia incentivar um ciclo interno de acumulação. Este mercado é esquecido até o momento da crise. Quando as empresas têm problemas com a demanda externa, voltam-se para dentro, com incentivos ao consumo interno, o que explicaria a política de corte de impostos para consumo de carros. Trata-se de um efeito de relaxamento da crise, mas não de superação, pois dificilmente o brasileiro vai consumir os aviões e as sojas que são o setor dinâmico da economia nacional.

Dentro da tentativa da superação da crise, cabe analisar algumas políticas colaterais. A economia brasileira é estruturalmente dependente da superexploração do trabalho, necessária para contrabalancear o compromisso de enviar excedentes para o exterior. Uma burguesia ávida por lucros precisa superexplorar sua classe trabalhadora para assim manter seu consumo de classe dominante européia e estadunidense. Desta forma, é impossível fazer um estado de bem-estar social brasileiro.

E todos os intentos que buscaram respeitar a democracia liberal foram julgados pelas mãos de ferro da burguesia. Temos um mercado de trabalho estreito. Quando tivemos o ápice de regulação, a burguesia usava do mercado informal para poder manter o ritmo de acumulação selvagem. Os governos neoliberais desmontaram a precária política social que tivemos. O governo Lula não se atreveu a tocar nestas mudanças.

O crescimento econômico recente não foi captado pelo mercado de trabalho brasileiro. As taxas de desemprego de 5% a 6% seriam insuportáveis para a burguesia brasileira. Que fizeram? Um pequeno choque de desemprego. Exemplo disso: a demissão em massa na Embraer. Se a crise piorar, o desemprego (aberto) pode chegar aos patamares de 13% do início do governo Lula. Em um recente relatório seu, a OIT demonstra que, dentro dos pacotes anti-crise no mundo, o brasileiro é que menos tem proteção social, no qual a ajuda para desempregados é a mais precária (). O salário mínimo de cerca de 200 dólares é uma vergonha. Honduras, que é uma economia bem menor que a brasileira, tem o salário mínimo de 250 dólares. Essa é a política trabalhista progressista do governo Lula? Qualquer política trabalhista que questione a superexploração de fato é uma medida revolucionária.

Assim, a crise é jogada nas costas do trabalhador. O fato de que é possível superar a crise a partir de termos capitalistas não dá perspectiva de que teremos um mundo mais justo, pois é impossível humanizar o capital. O fato de que a extrema-direita ganha cadeiras no parlamento Europeu pode ser indício de que as soluções para superar a crise vão demandar mais barbárie. Talvez, a classe trabalhadora européia perca todos os resquícios do estado de bem-estar social que foi conquistado por uma classe mais combativa.

Novo ciclo de acumulação não superará a crise estrutural

O fator China ainda é uma incógnita. É uma economia maior do que a brasileira, mas alguns elementos são muitos semelhantes: a superexploração de trabalho nacional e a dependência da acumulação de capital internacional. A queda da exportação chinesa é um fator que pode acumular mais conseqüências negativas mundiais. Talvez, coubesse uma análise da classe média interna chinesa, uma população maior que a brasileira, e que poderia ser um efeito amortecedor com mais alcance. Isso responderia à tentativa da burguesia brasileira de buscar outro amo, o estreitamento comercial entre a burguesia brasileira e a burocracia chinesa. Outro ciclo de crescimento não anula as contradições próprias do capitalismo. Um consumismo chinês-brasileiro e um plano de guerra estadunidense de longo alcance podem gerar uma crise de sobreprodução energética sem precedentes, capaz de ameaçar a própria civilização humana.

A crise do dólar ainda não foi sentida em toda a sua extensão. Uma mudança de padrão será bem dolorosa e, neste sentido, estariam equivocados tanto os emergentes que querem uma transição pacífica para outro padrão (obscuro) de referência como os conservacionistas que pensam que as coisas estão boas do jeito que está. Outro problema é que o petróleo volta ao crescimento anterior. Sobre o petróleo, são importantes duas considerações: a baixa anterior significou um estouro de uma bolha, dos apostadores que especulavam com seu crescimento; por outro lado, sua caída não restabeleceu preços estáveis. O crescimento dos preços de petróleo é sustentado e está relacionado com a crise de alimentos, agora só lembrada em alguns documentos da FAO. Este novo ciclo de crescimento de preços pode significar outra bolha para ser estourada, que significaria mais tremores na abalada economia mundial.

Como muito bem analisado pelos marxistas Chesnais () e Reinaldo Carcanholo (), esta crise é filha mal criada da crise de 1970. Neste tempo houve uma reconfiguração do capital e a liberalização financeira, comercial e de trabalho criou outros jogadores. Isso trouxe mais instabilidade à contraditória economia capitalista. A crise não acabou, é impossível sublimar seus conseqüentes problemas humanos.

Os projetos alternativos não se evidenciaram. Não quer dizer que não exista formulação consistente. Mas padecemos da crise de um ciclo na esquerda brasileira e mundial. Enquanto os socialistas não conseguiram superar a hegemonia da caducada fórmula reformista, um projeto consistente de superação do capitalismo não terá seu reflexo na práxis política da classe trabalhadora.

Não é uma questão de substituição simples da direção antiga. Mas de uma construção de novos discursos, relações e linhas da esquerda e da classe trabalhadora organizada. O discurso da velha esquerda mantém uma correspondência ideológica com a realidade fetichista do capital. A idéia de um Brasil desenvolvido promete sonhos de estado de bem-estar social.

A ilusão tem seu tempo determinado. A esquerda socialista que se mantém na luta não conseguiu uma influência que se contraponha ao popular projeto de uma social-democracia tupiniquim. Os projetos alternativos latino-americanos, venezuelanos e bolivianos estão sendo testados. A crise não traz um alento para os socialistas, ela pode passar sua fatura de barbárie.

Notas:

1) http://www.oil-price.net/index.php?lang=pt

2) CANZIAN Fernando. Apetite por risco volta ao mercado global, Folha de S. Paulo, 26/06/2009.

3) MARINI, Rui Mauro. La acumulación capitalista mundial y el subimperialismo, Cuadernos. Políticos, México, n.12, abril-junio 1977. Alegre, UFRGS, 2007. http://www.marini-escritos.unam.mx.

4) Diante disso não é nada fraterna e progressista a política externa brasileira com os países latino-americanos e africanos. O projeto do etanol de criar desertos verdes fora do Brasil é um ataque à soberania alimentar de nações como Haiti, El Salvador e outras que estão dentro do horizonte comercial do governo Lula.

5) Para OIT, ação do Brasil deixa trabalhadores sem proteção, Folha de S. Paulo, 26/03/09.

6) CHESNAIS, François. Recesión mundial: el momento, las interpretaciones y lo que se juega en la crisis, in: http://www.herramienta.com.ar/.

7)CARCANHOLO, Reinaldo. Situación mundial: aspectos teóricas de la crisis capitalista, in: http://www.herramienta.com.ar/.

Venâncio de Oliveira é economista e trabalha no CEICOM (Centro de Investigación sobre Inversión y Comercio) – http://www.ceicom.org/

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Contato: venancio.comuna@hotmail.com

Artigo do Resistir.info...

A desdolarização:
O desmantelamento do império financeiro-militar da América
– O ponto de viragem de Yekaterinburg

por Michael Hudson

A cidade de Yakaterinburg, a maior da Rússia a leste dos Urais, pode tornar-se conhecida não só como o local da morte dos czares como também da hegemonia americana – não só como o lugar em que o piloto Gari Powers, do U-2, foi abatido em 1960 como também o lugar em que a ordem financeira internacional centrada nos EUA foi deitada abaixo.

O desafio à América será o foco primário das extensas reuniões de Yekaterinburg (antiga Sverdlovsk) nos dia 15 e 16 de Junho entre o presidente chinês Hu Jintao, o presidente russo Dmitry Medvedev e outros responsáveis superiores dos seis países da Organização de Cooperação de Shangai (SCO). A aliança é formada pela Rússia, China, Cazaquistão, Tajiquistão, Quirguistão e Uzbequistão, com estatutos de observadores para o Irão, Índia, Paquistão e Mongólia. A ela somar-se-á na terça-feira o Brasil, para discussões entre os países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

Os participantes asseguraram a diplomatas americanas que o desmantelamento do império financeiro e militar dos EUA não é o seu objectivo. Eles simplesmente querem discutir ajuda mútua – mas de um modo em que não haja papel para os Estados Unido, a NATO ou o dólar americano como veículo de comércio. Os diplomatas estado-unidenses podem bem perguntar-se o que isto realmente significa, se não um movimento para tornar a hegemonia dos EUA obsoleta. Isto é o que quer dizer afinal de contas um mundo multipolar. Para começar, em 2005 a SCO pediu a Washington para estabelecer um calendário para a retirada das suas bases militares na Ásia Central. Dois anos depois os países SCO alinharam-se formalmente com as antigas repúblicas CIS pertencentes à Collective Security Treaty Organization (CSTO), estabelecida em 2002 como contra-peso à NATO.

Mas a reunião provocou apenas um bocejo colectivo dos EUA e mesmo da imprensa europeia, apesar da sua agenda de substituição do padrão dólar global por um novo sistema financeiro e de defesa militar. Um porta-voz do Council on Foreign Relations disse dificilmente poder imaginar que a Rússia e a China pudessem ultrapassar as suas rivalidades geopolíticas, [1] sugerindo que a América poderia utilizar a táctica do divide-e-conquista tão habilmente utilizada pela Grã-Bretanha durante séculos a fim de fragmentar a oposição estrangeira ao seu próprio império. Mas George W. Bush ("Eu sou um unificador, não um divisor") confiou no legado da administração Clinton impulsionando a Rússia, a China e os seus vizinhos a descobrirem um terreno comum quando chegou o momento de encontrar uma alternativa para o dólar e portanto para a capacidade americana de incorrer em défices de balança de pagamentos ad infinitum.

Aquilo que pode vir a demonstrar-se como ritos finais da hegemonia americana começou em Abril na conferência do G-20 e tornou-se ainda mais explícito no Fórum Económico Internacional de S. Petesburgo, quando o sr. Medvedev apelou à China, Rússia e Índia para "construírem uma ordem mundial cada vez mais multipolar". O que isto significa é bom inglês é: Nós atingimos o nosso limite na subsidiação do cerco militar da Eurásia pelos Estados Unidos enquanto permitimos também que os EUA se apropriem das nossas exportações, companhias, acções e imobiliário em troca de papel-dinheiro de valor discutível.

"O sistema unipolar mantido artificialmente", esclareceu o sr. Medvedev, está baseado sobre "um grande centro de consumo, financiado por um défice crescente, e portanto dívidas crescentes, uma divisa de reserva anteriormente forte e um sistema dominante de avaliação de activos e riscos". [2] A raiz da crise financeira global, concluiu, é que os Estados Unidos fabricam muito pouco e gastam demasiado. Especialmente inquietantes são os seus gastos militares, tais como a escalada militar da ajuda americana à Geórgia anunciada na semana passada, o escudo de mísseis da NATO na Europa do Leste e o crescimento americano nos países ricos em petróleo do Médio Oriente e Ásia Central.

O ponto de impasse com todos estes países é a capacidade de os EUA imprimirem ilimitadas quantias de dólares. Os super-gastos dos consumidores americanos com importações em excesso das exportações, as compras americanas de companhias e imobiliário estrangeiro, e os dólares que o Pentágono gasta no exterior acabam todos em bancos centrais estrangeiros. Estas agências enfrentam então uma escolha difícil: ou reciclar este dólares de volta para os Estados Unidos através da compra de títulos do Tesouro dos EUA, ou deixar a força do "mercado livre" aumentar o valor relativo da sua divisa para com o dólar – com isso apreçando as suas exportações de modo a colocá-las fora dos mercados mundiais e portanto criando desemprego interno e insolvências de negócios.

Quando a China e outros países reciclam as suas entradas de dólares ao comprarem títulos do Tesouro dos EUA para "investir" nos Estados Unidos, esta acumulação não é realmente voluntária. Ela não reflecte a fé na economia dos EUA, no enriquecimento de bancos centrais estrangeiros através das suas poupanças, ou qualquer preferência de investimento calculado, mas simplesmente uma falta de alternativas. "Mercados livres" em US-style engancham países num sistema que os força a aceitarem dólares sem limites. Agora eles querem sair.

Isto significa criar uma nova alternativa. Ao invés de fazer simplesmente "mudanças cosméticas como alguns países e talvez como as próprias organizações financeiras internacionais desejassem", concluiu o sr. Medvedev no discurso de S. Petesburgo, "o que precisamos são instituições financeiras de um tipo completamente novo, em que questões políticas e motivos, e países particulares, não dominarão".

Quando os gastos militares no estrangeiro forçaram a balança de pagamentos dos EUA ao défice e conduziram os Estados Unidos ao abandono do ouro, em 1971, os bancos centrais ficaram sem o activo tradicional utilizado para regular desequilíbrios de pagamentos. A alternativa, na falta de outra, era investir as suas subsequentes entradas de pagamentos em títulos do Tesouro dos EUA, como se estes ainda fossem "tão bons quanto ouro". Os bancos centrais agora possuem US$4 milhões de milhões (trillion) destes títulos nas suas reservas internacionais – o enterrar destes empréstimos financiou a maior parte dos défices do orçamento interno do Governo dos EUA durante mais de três décadas! Uma vez que cerca da metade dos gastos discricionários do governo dos EUA é com operações militares – incluindo mais de 750 bases militares no estrangeiro e operações cada vez mais dispendiosas nos países produtores de petróleo e nas vias de acesso ao mesmo – o sistema financeiro internacional está organizado de um modo que financia o Pentágono, assim como compras americanas de activos estrangeiros que se espera renderem muito mais do que os títulos do Tesouro possuídos pelos bancos centrais estrangeiros.

A principal questão política a enfrentar os bancos centrais do mundo é portanto como evitar acrescentar ainda mais dólares às suas reservas e portanto financiar ainda mais o gasto deficitário dos EUA – incluindo a despesa militar junto às suas fronteiras.

Em primeiro lugar, os seis países SCO e os países BRIC pretendem comerciar nas suas próprias divisas de modo a obterem o benefício do crédito mútuo que os Estados Unidos até agora monopolizaram para si próprios. Tendo em vista este objectivo, a China selou acordos bilaterais com a Argentina e o Brasil no sentido de denominar o seu comércio em renminbi ao invés do dólar, da libra esterlina ou dos euros, [3] e duas semanas atrás a China alcançou um acordo com a Malásia no sentido de denominar o comércio entre os dois países em renminbi. [4] O antigo primeiro-ministro, Dr. Mahathir Mohamad, explicou-me em Janeiro que, como país muçulmano, a Malásia quer evitar fazer qualquer coisa que facilite a acção militar estado-unidense contra países islâmicos, incluindo a Palestina. O país já tem demasiados activos em dólares, explicaram os seus colegas. O governador do banco central Zhou Xiaochuan, do Banco do Povo da China, redigiu uma declaração oficial no seu sítio web de que o objectivo agora é criar uma divisa de reserva "que seja desconectada de países individuais". [5] Este é o objectivo das discussões em Yekaterinburg.

Além de evitar financiar tanto a compra da sua própria indústria pelos EUA como o cerco estado-unidense do globo, a China, a Rússia e outros países gostariam sem dúvida de obter a mesma espécie de "almoço gratuito" que a América tem estado a obter. Tal como a questão se lhes apresenta, vêm os Estados Unidos como um país fora da lei, tanto financeiramente como militarmente. Como caracterizar de outra maneira um país que mantém um conjunto de leis para os outros – sobre guerra, reembolso de dívida e tratamento de prisioneiros – mas ignora-as em relação a si próprio? Os Estados Unidos são agora o maior devedor do mundo mas tem evitado o sofrimento dos "ajustamentos estruturais" impostos a outras economias devedoras. As reduções de taxas de juros e fiscais em face dos défices comerciais e orçamentais em explosão são vistas como o cúmulo da hipocrisia considerando os programas de austeridades a que Washington força outros países, através do FMI e outros dos seus veículos.

Os Estados Unidos dizem às economias devedoras para liquidarem as suas empresas públicas e os seus recursos naturais, elevarem as suas taxas de juros e aumentarem impostos enquanto arruínam as suas redes de segurança social a fim de espremer dinheiro para pagar aos credores. E internamente o Congresso proibiu a CNOOK da China de comprar a Unocal com o argumento da segurança nacional, assim como proibiu o Dubai de comprar portos e a outros fundos de riqueza soberana de comprarem infraestruturas chave. Os estrangeiros são convidados a emularem a compra japonesa de troféus tipo elefantes brancos, tal como o Rockefeller Center, no qual os investidores perderam rapidamente mil milhões de dólares e acabaram por se afastar.

Quanto a isto, os EUA não deram realmente à China e a outros países com excedentes de pagamentos grande alternativa excepto descobrir um meio de evitar nova acumulação de dólares. Até à data, as tentativas da China de diversificar os seus haveres em dólares para além dos títulos do Tesouro não tiveram muito êxito. Para começar, Hank Paulson da Goldman Sachs dirigiu o seu banco central para os títulos de rendimento mais alto da Fannie Mae e do Freddie Mac, explicando-lhes que estes eram de facto obrigações públicas. Ambos entraram em colapso em 2008, mas pelo menos o governo dos EUA tomou posse destas duas agências de empréstimos hipotecários, acrescentando formalmente os seus US$5,2 milhões de milhões em obrigações à dívida nacional. De facto, foi em grande parte o investimento oficial estrangeiro que estimulou o salvamento. Impor uma perda a agências oficiais estrangeiras teria rompido de imediato o padrão do título do Tesouro, não só por destruir totalmente a credibilidade dos EUA como também porque há simplesmente muito poucos títulos do governo a absorverem a inundação de dólares na economia mundial devida à elevação dos défices da balança de pagamentos estado-unidense.

Procurando uma posição de equilíbrio para proteger o valor dos seus haveres em dólares quando a bolha do crédito do Federal Reserve levou ao rebaixamento das taxas de juro, os fundos de riqueza soberana da China procuraram diversificar a partir do fim de 2007. A China comprou participações no bem conectado fundo de acções Blackstone e no Morgan Stanley na Wall Street, no Standard Bank do Barclays na África do Sul (antes filiado ao Chase Manhattan no tempo do apartheid na década de 1960) e no conglomerado financeiro belga Fortis, que entrou logo em colapso. Mas o sector financeiro dos EUA estava a entrar em colapso sob o peso da sua dívida piramidal e os preços das acções de bancos e firmas de investimento mergulharam no mundo todo.

Os estrangeiros vêem o FMI, o Banco Mundial e a Organização Internacional de Comércio como emanações de Washington num sistema financeiro suportado por bases militares e porta-aviões americanos que envolve todo o globo. Mas esta dominação militar é um vestígio de um império americano que já não é mais capaz de dominar pela força económica. O poder militar estado-unidense é músculo em excesso, baseado mais no armamento atómico e ataques aéreos a longa distância do que sobre operações no terreno, as quais politicamente tornaram-se demasiado impopulares para serem montadas em grande escala.

Na frente económica não há meio previsível pelo qual os Estados Unidos possam descarregar os US$4 milhões de milhões que devem a governos estrangeiros, os seus bancos centrais e aos fundos de riqueza soberana estabelecidos para dar destino à inundação global de dólares. A América tornou-se uma caloteira – e na verdade, um caloteiro militarmente agressivo pois procura manter-se como a potência única que chegou a ser através de meios económicos. O problema é como restringir o seu comportamento. Yu Yongding, um antigo conselheiro do banco central chinês agora na Academia de Ciências de China, sugeriu que o secretário do Tesouro Tim Geithner fosse avisado de que os Estados Unidos deveriam "salvar-se" antes e acima de tudo pela redução do seu orçamento militar. "O imposto sobre o rendimento dos EUA provavelmente não aumentará no curto prazo devido ao baixo crescimento económico, a despesas inflexíveis e ao custo de 'combater duas guerras' ". [6]

Actualmente são as poupanças estrangeiras, não as dos americanos, que estão a financiar o défice orçamental dos EUA através da compra da maior parte dos títulos do Tesouro. O efeito é tributação sem representação para os eleitores estrangeiros pois não podem dizer ao governo dos EUA como utilizar as suas poupanças forçadas. Portanto é necessário aos diplomatas financeiros que ampliem o âmbito das suas decisões políticas para além do sector do mercado privado. As taxas de câmbio são determinadas por muito factores além de "cartões de crédito detidos pelos consumidores", o eufemismo habitual que os media dos EUA mencionam para o défice da balança de pagamentos. Desde o século XIII, a guerra tem sido um factor dominante na balança de pagamentos dos principais países – e das suas dívidas nacionais. O financiamento de governos através de títulos faz-se sobretudo para dívidas de guerra, pois em tempos de paz normais os orçamentos tendem a ser equilibrados. Isto liga o orçamento de guerra directamente à balança de pagamentos e às taxas de câmbio.

Os países estrangeiros vêem-se presos a títulos de dívida impagáveis – sob condições em que, se se movimentassem para travar o almoço gratuito dos EUA, o dólar mergulharia e os seus haveres em dólares cairiam de valor em relação às suas próprias divisas internas e outras divisas. Se a divisa da China se elevasse em 10% contra o dólar, o seu banco central mostrará o equivalente a uma perda de US$200 milhões nos seus haveres de US$2 milhões de milhões quando denominados em yuan. Isto explica porque, quando agências de classificação de títulos falam acerca da perda da classificação AAA para os títulos do Tesouro dos EUA, elas não querem dizer que o governo não possa simplesmente imprimir os dólares de papel para "tornar bons" estes títulos. Querem dizer que os dólares depreciarão no valor internacional. E isso é exactamente o que está agora a verificar-se. Quando o sr. Geithner fez uma cara séria e disse numa sessão na Universidade de Pequim, no princípio de Junho, que acreditava num "dólar forte" e que os investimentos da China nos EUA portanto era seguros e saudáveis, a reacção foram risadas sarcásticas. [7]

A previsão de uma elevação da taxa de câmbio da China dá um incentivo a especuladores para procurarem tomar emprestado em dólares a fim de comprar renminbi e beneficiarem da valorização. Para a China, o problema é que este influxo especulativo tornar-se-ia uma profecia auto-cumprida ao forçar a alta da sua divisa. Assim o problema das reservas internacionais está inerentemente ligado ao dos controles de capitais. Por que a China deveria ver as suas companhias mais lucrativas vendidas por US dólares criados livremente, os quais o banco central deve utilizar para comprar títulos do Tesouro dos EUA de baixo rendimento ou perder ainda mais dinheiro na Wall Street?

Para evitar este dilema é necessário inverter a filosofia dos mercados de capital abertos que o mundo tem adoptado desde Bretton Woods em 1944. Por ocasião da visita do sr. Geithner à China, "Zhou Xiaochuan, ministro do Banco Popular da China, o banco central do país, disse enfaticamente que esta era a primeira vez desde as conversações semestrais principiadas em 2006 que a China precisava aprender tanto com os erros americanos como com os seus êxitos" no que concerne à desregulamentação de mercados de capital e desmantelamento de controles. [8]

Uma era está portanto a chegar ao fim. Face ao contínuo super gasto dos EUA, a desdolarização ameaça forçar países a retornarem à espécie de taxas de câmbio duais que eram comuns entre a I e a II Guerras Mundiais: uma taxa de câmbio para o comércio de mercadorias e outra para movimentos de capital e investimentos, pelo menos das economias da área do dólar.

Mesmo sem controles de capital, os países que se reúnem em Yekaterinburg estão a dar passos para evitar serem os receptores relutantes de ainda mais dólares. Ao verem que a hegemonia global dos EUA não pode continuar sem os gastos de poder que eles próprios fornecem, os governos estão a tentar acelerar o que Chalmers Johnson denominou de "as aflições do império" no seu livro com o mesmo nome ("The Sorrows of Empire"). Se a China, a Rússia e seus aliados não alinhados prosseguirem o seu caminho, os Estados Unidos já não viverão mais das poupanças dos outros (na forma dos seus próprios dólares reciclados) nem terão o dinheiro para as suas despesas e aventuras militares ilimitadas.

Responsáveis americanos quiseram comparecer como observadores à reunião de Yekaterinburg. Disseram-lhes Não. É uma palavra que os americanos ouvirão muito no futuro.

Notas
1. Andrew Scheineson, "The Shanghai Cooperation Organization", Council on Foreign Relations, Updated: March 24, 2009: "While some experts say the organization has emerged as a powerful anti-U.S. bulwark in Central Asia, others believe frictions between its two largest members, Russia and China, effectively preclude a strong, unified SCO."
2. Kremlin.ru, June 5, 2009, in Johnson's Russia List , June 8, 2009, #8.
3. Jamil Anderlini e Javier Blas, "China reveals big rise in gold reserves," Financial Times, April 24, 2009. Ver também "Chinese political advisors propose making yuan an int'l currency." Beijing, March 7, 2009 (Xinhua). "The key to financial reform is to make the yuan an international currency, said [Peter Kwong Ching] Woo [chairman of the Hong Kong-based Wharf (Holdings) Limited] in a speech to the Second Session of the 11th National Committee of the Chinese People's Political Consultative Conference (CPPCC), the country's top political advisory body. That means using the Chinese currency to settle international trade payments …"
4. Shai Oster, "Malaysia, China Consider Ending Trade in Dollars," Wall Street Journal, June 4, 2009.
5. Jonathan Wheatley, "Brazil and China in plan to axe dollar," Financial Times, May 19, 2009.
6. "Another Dollar Crisis inevitable unless U.S. starts Saving - China central bank adviser. Global Crisis 'Inevitable' Unless U.S. Starts Saving, Yu Says," Bloomberg News, June 1, 2009. http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20601080&sid=aCV0pFcAFyZw&refer=asia
7. Kathrin Hille, "Lesson in friendship draws blushes," Financial Times, June 2, 2009.
8. Steven R. Weisman, "U.S. Tells China Subprime Woes Are No Reason to Keep Markets Closed," The New York Times, June 18, 2008.


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quarta-feira, 17 de junho de 2009

Irã, a bola da vez....

IRÃ - A FRAUDE DA MÍDIA



Quem se der ao trabalho de compulsar (típica palavrinha/palavrão) edições de jornais ou relembrar noticiários de tevês nos últimos dez dias, mais precisamente, desde que o presidente do Irã cancelou sua visita ao Brasil e for um pouco mais atrás, digamos assim, em 2002, nos dias que antecederam a tentativa fracassada de golpe contra o presidente Chávez – Venezuela – vai ver que o esquema dos donos do mundo não mudou nada, é sempre o mesmo, precisão matemática na mentira, na fraude, na tentativa de iludir a opinião pública e dar como consumado um fato que não é real.
No caso da tentativa de golpe contra Chávez é só buscar edições antigas do JORNAL NACIONAL – principal porta-voz da mentira neoliberal/sionista no Brasil –. Duas semanas antes do golpe, dentro do cronograma armado pelo governo do então presidente Bush e empresários, banqueiros e latifundiários venezuelanos, a rede enviou à Venezuela a consagrada mentirosa Míriam Leitão para uma série de reportagens sobre aquele país, o governo Chávez e exibiu o “trabalho” na semana que antecedeu ao golpe. A conclusão da senhora Miriam Leitão na série foi a seguinte –“o povo da Venezuela não agüenta mais Chávez –.
Na semana seguinte o presidente foi preso e conduzido a local ignorado, o empresário Pedro Carmona – notório sonegador e contrabandista – foi empossado presidente, a Casa Branca anunciou que uma ditadura havia sido deposta por ter cometido barbárie e violência contra o povo, isso na quinta-feira. Abril de 2002 e Bonner aqui leu o boletim do Departamento de Estado e do porta-voz de Bush distribuído às tevês/departamentos da Casa Branca e seus tentáculos.
No domingo Chávez voltou ao poder. Milhões de venezuelanos, em Caracas e em todo o país saíram às ruas e não houve força militar ou empresarial, ou banqueiros e latifundiários que segurassem a vontade popular. Cercaram o palácio de governo onde se encontrava Carmona e sua quadrilha – limparam o cofre antes de fugir –, cercaram a Câmara dos Deputados, a Suprema Corte – lá não existe nenhum Gilmar Mendes mais – e exigiram a volta de Chávez. Militares democráticos e comprometidos com o seu país, não esse tipo de general Heleno que temos aqui, empregado da VALE, garantiram o resto.
Bonner passou de liso sobre o assunto, d. Miriam Leitão fez de conta que não era com ela e assim os seus superiores, inclusive Bush. Um documentário chamado “a revolução não será traída”, de dois cineastas irlandeses, mostrou toda a farsa com cenas reais e ao vivo.
No caso da reeleição do presidente do Irã o esquema é o mesmo. Nos dias que antecederam o pleito trataram de vender a idéia de eleições difíceis para Mahmud Ahmadinejad, da insatisfação popular – jovens e mulheres principalmente – e criaram a sensação que o mundo seria melhor sem Ahmadinejad, a paz no Oriente Médio poderia vir a ser uma realidade, tudo com a vitória do candidato que rotularam de “moderado”, Mir Hosein Moussavi.
No documentário “a revolução não será televisionada”, onde se mostra o golpe urdido contra Chávez, há um momento em que se revela o verdadeiro caráter da elite venezuelana. É numa reunião num bairro nobre, gente assim tipo Lúcia Flecha de Lima e ACM, quando o “presidente da mesa” alertava as senhoras e senhores presentes para terem cuidado com os “empregados domésticos”, todos eles moradores de favelas e bairros pobres e “chavistas”.
O noticiário sobre as eleições na república popular e islâmica do Irã dizia que Moussavi era da classe média alta do Irã, tinha pontos de contato com o Ocidente e estava interessado em gestos de paz, ao contrário de seu principal adversário. E como Miriam Leitão havia dito que “o povo da Venezuela não agüenta mais Chávez – venderam a idéia que os iranianos jovens e as mulheres – jogando com o inconsciente das pessoas, o preconceito contra muçulmanos – queriam mudanças no país.
Esqueceram-se de dizer que os “empregados domésticos” do Irã e as populações das regiões mais pobres do país apoiavam o presidente Ahmadinejad por conta dos seus programas sociais e da ausência de corrupção no governo, o que não se pode dizer de Moussavi, corrupto, venal e contratado pelo Ocidente para desmontar o processo revolucionário iraniano.
Empresário. Precisa dizer mais alguma coisa?
O discurso do presidente Barak Obama no Egito desagradou a Israel (que não aceita a menor concessão, são os eleitos de Deus e não há o que discutir, podem roubar, torturar, matar, estuprar e o que for preciso para garantia de banqueiros, etc). Os israelenses, que não conhecem ainda a vaselina e seus predicados, não perceberam que Obama estava tentando evitar a vitória do Hezbollah no Líbano (e conseguiu) com aquele lero lero de paz e ao mesmo tempo, sinalizando aos iranianos que poderia ser bonzinho também com o Irã, permitindo o estado palestino. Tipo assim palestinos carregando malas de israelenses, limpando banheiros, essas coisas e estou sendo gentil.
No Irã não colou, não funcionou. A vaselina de Obama chegou lá com data vencida.
A mídia no mundo ocidental, cristão e democrata cumpre o papel que lhe cabe na parceria com o terrorismo de Israel. Fala em fraude. Moussavi buscar criar condições para uma convulsão social no Irã, tenta desconhecer a realidade. Mais de 60% dos iranianos não escolheram um representante do governo dos EUA e traidor dos ideais da revolução islâmica e popular do Irã, um empresário cooptado pelo terrorismo nazi/sionista de Israel.
A esmagadora maioria dos eleitores iranianos percebeu que Moussavi iria cair de joelhos diante de Obama, interromper o programa nuclear do país – vital para a garantia de sua independência – e que os palestinos e muçulmanos de um modo geral não ganhariam mais que um pirulito para achar que de fato os de Israel são superiores e norte-americanos completam o duo terrorista e nazista.
É preciso agora mostrar aos incautos do resto do mundo que houve “fraude”. Que a vontade popular foi desrespeitada. O problema é que a diferença entre um e outro candidato não foi de um ponto percentual, mas Ahmadinejad teve o dobro dos votos de seu adversário. Difícil falar em fraude.
O governo de Israel considera que o resultado das eleições no Irã soa como um “tapa na cara”. Falharam os planos de um governo colaboracionista. Submisso como os do Egito, da Jordânia, da Arábia Saudita, do Iraque ocupado e vai por aí adiante.
Ou seja, para o “povo superior”, os “escolhidos por deus”, o deles, o povo do Irã tinha que eleger o candidato deles. Como não foi assim o tapa na cara soa como tapa no deus deles. O dos saques, do terror, da violência da tortura e dos estupros contra mulheres palestinas, toda a sorte de atrocidades típicas e intrínsecas ao sionismo.
Não houve fraude alguma no Irã. Não há tentativa de golpe de Ahmadinejad, pois venceu as eleições com o dobro de votos de seu adversário. As manifestações de rua de partidários da ocidentalização do Irã, de transformação do país num Egito da vida, palco para os jogos de cena padrão Hollywood de Obama, são parte do processo golpista, esse sim, de Moussavi.
Tem dinheiro de sobra para tentar o golpe, é financiado pelos grandes piratas e saqueadores da atualidade – norte-americanos e israelenses.
Fraude é a mídia ocidental. Fraude é a GLOBO, VEJA, FOLHA DE SÃO, fraude são os defensores dessa “democracia” padrão Lúcia Flecha de Lima, onde se privatiza a vida embaixo dos lençóis do poder, no afã de vender um país, caso do governo FHC. Liberdade deve ser abrir a jaula para essa gente soltar as bestas da PM paulista e mandar baixar a borduna em estudantes, professores e funcionários de uma universidade pública. Com certeza uma Lúcia Flecha de Lima vai estar embaixo de um lençol no mundo cristão, ocidental e democrata, negociando a privatização da USP.
A vitória de Ahmadinejad foi a vitória do povo do Irã. Só isso. O negocio de abóbora viver carruagem que Obama arranjou no seu discurso no Cairo não funcionou por lá.
Texto: Larte Braga - Patria Latina

Do Correio da Cidadania...

Socialismo, contradições e perspectivas




Escrito por Frei Betto

O socialismo é estruturalmente mais justo que o capitalismo. Porém, em suas experiências reais não soube equacionar a questão da liberdade individual e corporativa. Cercado por nações e pressões capitalistas, o socialismo soviético cometeu o erro de abandonar o projeto originário de democracia proletária, baseado nos sovietes, para perpetuar a maldita herança da estrutura imperial czarista da Rússia, agora eufemisticamente denominada "centralismo democrático".

Em países como a China é negada à nação a liberdade concedida ao capital. Ali o socialismo assumiu o caráter esdrúxulo de "capitalismo de Estado", com todos os agravantes, como desigualdade social e bolsões de miséria e pobreza, superexploração do trabalho etc.

Não surpreende, pois, que o socialismo real tenha ruído na União Soviética, após 70 anos de vigência. O excessivo controle estatal criou situações paradoxais, como o pioneirismo dos russos na conquista do espaço. No entanto, não conseguiu oferecer à população bens de consumo elementares de qualidade, mercado varejista eficiente e uma pedagogia de formação dos propalados "homem e mulher novos".

O socialismo caiu no engodo do capitalismo ao projetar o futuro da sociedade em termos de produção, distribuição e consumo. O objetivo dos dois sistemas se igualou, mudando apenas os meios: o primeiro, por força do estatismo; o segundo, a apropriação privada dos bens e do lucro.

O socialismo só se justifica, como sistema e proposta, na medida em que tem por objetivo não o bom funcionamento da economia, e sim das relações humanas: a solidariedade, a cooperação, o respeito à dignidade do outro, o fim de discriminações e preconceitos, enfim, a prevalência dos bens infinitos sobre os bens finitos.

Nesse cenário, Cuba é uma exceção e um sinal de esperança. Trata-se de uma quádrupla ilha: geográfica, política (é o único país socialista da história do Ocidente), econômica (devido ao bloqueio imposto criminalmente pelo governo dos EUA) e órfã (com o fim da Guerra Fria e a queda do Muro de Berlim, em 1989, perdeu o apoio da extinta União Soviética).

O regime cubano é destaque no que concerne à justiça social. Prova disso é o fato de ocupar o 51º lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) estabelecido pela ONU (o Brasil é o 70º) e não apresentar bolsões de miséria (embora haja pobreza) nem abrigar uma casta de ricos e privilegiados. Se há quem se lance no mar na esperança de uma vida melhor nos EUA, isso se deve às exigências, nada atrativas, de se viver num sistema de partilha. Viver em Cuba é como habitar um mosteiro: a comunidade tem precedência sobre a individualidade. E se exige considerável altruísmo.

Quanto à liberdade individual, jamais foi negada aos cidadãos, exceto quando representou ameaça à segurança da Revolução ou significou empreendimentos econômicos sem o devido controle estatal. É inegável que o regime cubano teve, ao longo de cinco décadas (a Revolução completou 50 anos em 1º de janeiro deste ano), suas fases de sectarismo, tributárias de sua aproximação com a União Soviética.

Porém, jamais as denominações religiosas foram proibidas, os templos fechados, os sacerdotes e pastores perseguidos por razões de fé. A visita do papa João Paulo II à Ilha, em 1998, e sua apreciação positiva sobre as conquistas da Revolução, mormente nas áreas de saúde e educação, o comprovam.

No entanto, o sistema cubano dá sinais de que poderá equacionar melhor a questão de socialismo e liberdade através de mecanismos mais democráticos de participação popular no governo, de interação entre Estado e organizações de massa e maior rotatividade no poder, para que as críticas ao regime possam chegar às instâncias superiores sem serem confundidas com manifestações contra-revolucionárias.

Sobretudo na área econômica, Cuba terá de repensar seu modelo, facilitando à população acesso à produção e consumo de bens que englobam desde o pão da padaria da esquina às parcerias de empresas de economia mista com investimentos estrangeiros.

No socialismo não se trata de falar em "liberdade de" e sim em "liberdade para", de modo que esse direito inalienável do ser humano não ceda aos vícios capitalistas que permitem que a liberdade de um se amplie em detrimento da liberdade de outros. O princípio "a cada um, segundo suas necessidades; de cada um, segundo suas possibilidades" deve nortear a construção de um futuro socialista em que o projeto comunitário seja, de fato, a condição de realização e felicidade pessoal e familiar.

Frei Betto é escritor, autor de "Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira", que a editora Rocco faz chegar este mês às livrarias.



terça-feira, 16 de junho de 2009

E ainda falam mal de Cuba...

Especialista da ONU qualifica de efetiva política cubana antidroga


Escrito por Larissa C. S. Silva
- Prensa Latina


Imagen de muestra

Havana, 16 jun (Prensa Latina) A política de Cuba para enfrentar atualmente o problema mundial do narcotráfico é efetiva, disse Bernard Leroy, assessor jurídico superior do Escritório da Organização das Nações Unidas contra Drogas e o Crimes.

Os cubanos têm um sistema muito eficaz para conter o contrabando de entorpecentes, segundo as declarações do especialista difundidas pela Agência de Informação Nacional.

Por tal razão este país foi escolhido para celebrar o Seminário Regional de Assistência Judicial Recíproca da América Latina e Caribe sobre os Tratados para a Fiscalização Internacional de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, que acontece no capitalino Hotel Palco, acrescentou Leroy.

O propósito desta reunião, afirmou o especialista, é estabelecer contatos com as autoridades centrais latinoamericanas e caribenhas encarregadas de tais funções, incentivar a cooperação e encontrar pontos em comum que possamos comparar no futuro.

Destacou a necessidade de promover tais objetivos devido à existência de graves problemas com a rota da cocaína na Colômbia, Haiti e outras nações da zona, onde persistem dificuldades para trabalhar na erradicação do narcotráfico.

Todos os países assinaram a Convenção das Nações Unidas contra o tráfico ilícito de entorpecentes e substâncias psicotrópicas (1988) e devem cooperar para sua eliminação, acrescentou ao recordar a negativa de Washington de colaborar com a ilha nesse tema.

Cuba está no centro da rota da droga entre a América do Sul e os Estados Unidos, principal consumidor mundial.

Aviões vindos do sul do continente deixam cair embrulhos no mar próximo de seu litoral para que foram recolhidos por lanchas rápidas procedentes do norte.

lma/ydg/lcss
Obama e as veias abertas da América Latina




Escrito por Grupo de São Paulo

Durante a quinta Cúpula das Américas, realizada em Trinidad e Tobago no mês passado, um gesto sintetizou os desafios na relação entre os países do continente e os EUA. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presenteou o presidente dos EUA, Barack Obama, com um exemplar do ensaio histórico "As veias abertas da América Latina", do jornalista uruguaio Eduardo Galeano.

Publicado em 1971, o livro é uma exaustiva análise do saque a que foi submetida a região, desde a Colônia, com destaque especial para o papel dos sucessivos governos dos EUA ao imporem seu domínio ao longo do século XX.

O gesto é simbólico porque Obama, apostando em seu carisma midiático, levou para a Cúpula a clara mensagem de que o passado deveria ser esquecido, pois ele e seu governo representariam novo tempo nas relações interamericanas. Mesmo tendo mantido, do governo Bush, o assistente da Secretaria de Estado da América Latina, Thomas Shannon. E tendo levado como assessor especial para a Cúpula o presidente do Instituto das Américas, Jeffrey Davidow, que trabalhou na embaixada do Chile durante e depois do golpe de Pinochet e no Departamento de Estado durante a articulação do Plano Colômbia.

Em relação à política de segurança que Obama diz querer definir para o continente, seu governo precisará se posicionar em relação às bases militares implantadas pelos EUA ao longo do século passado e que hoje cercam militarmente todas as riquezas da América Latina. Há uma base militar no Equador, outras duas na Colômbia e uma no Peru, que controlam toda a região Amazônica. Existem ainda bases em Aruba e em Curaçao, praticamente em frente da Venezuela.

E na América Central existem bases em El Salvador, Porto Rico, Honduras e a de Guantánamo, em Cuba. Sem falar na Quarta Frota Naval, reativada ano passado para patrulhar o litoral da América Latina.

Mantidas estas bases, a almejada "cooperação na segurança" na América Latina mencionada por Obama continuará significando a segurança dos EUA na dominação das riquezas da região, a maior reserva energética e de água doce do planeta.

E este foi outro tema enfatizado por Obama. Os EUA são quase completamente dependentes do petróleo, importado principalmente da Arábia Saudita, do Iraque e da Venezuela. Para os EUA, encontrar caminhos para uma energia alternativa tem muito mais a ver com a sustentação do padrão de consumo do país do que com salvar o planeta. E na América Latina há petróleo e gás em abundância, sobretudo com as reservas do pré-sal em águas brasileiras, além da biodiversidade e das terras para os agrocombustíveis.

Em seus discursos, Evo Morales e Daniel Ortega reforçaram o gesto de Chávez. O boliviano cobrou de Obama a suspeita de que pessoal da embaixada dos EUA tenha colaborado no planejamento de atentado para matá-lo. O nicaragüense recuperou as agressões diretas e indiretas do governo dos EUA ao país centro-americano ao longo do século XX.

Ortega foi direto ao ressaltar a ausência de Cuba, excluída da Organização dos Estados Americanos (OEA) desde 1961: "sinto vergonha de participar nesta Cúpula com a ausência de Cuba". E ainda cobrou os participantes sobre Porto Rico, "um povo submetido ainda às políticas colonialistas", referindo-se ao protetorado dos EUA na América Central.

Sobre Cuba a fala de Obama, ambígua, não foi muito diferente do que já falaram Reagan, os Bush e Clinton: o bloqueio pode ser revisto desde que Cuba adote antes "eleições livres e respeite os direitos humanos". Obama manifestou pretender normalizar as relações com a ilha. Liberou as remessas de dinheiro e viagens dos parentes de cidadãos cubanos. Suspender o bloqueio é tarefa bem mais complicada. Será preciso vencer a resistência de fortes setores da direita estadunidense e dos emigrantes cubanos, embora a ampla maioria do povo americano esteja a favor do fim do bloqueio, assim como a Câmara de Comércio dos EUA e 185 dos 192 países-membros da ONU, que há 17 anos condenam os EUA pelo bloqueio.

Os interesses dos EUA nos países latino-americanos, neste mandato de Obama, são restritos. No máximo, uma maior cooperação na "guerra às drogas". Pode haver insistência em acordos comerciais bilaterais, embora os sindicatos estadunidenses, base de votos do partido Democrata, os vejam com suspeita, temendo que tirem empregos dos trabalhadores nos EUA.

Além disso, o grande desafio da política externa de Obama é o problema palestino, e a segurança nacional parece continuar sendo o maior objetivo da política internacional estadunidense, seja no Oriente Médio, seja na América Latina.

O que a Cúpula deixou evidente é que, encalacrado na mais grave crise do capitalismo desde 1929, o governo dos EUA não é o protagonista do novo em relação à América Latina. Ao contrário, o novo será fruto do aprofundamento do processo de reconquista de soberania e de superação da dependência econômica e cultural que se iniciou com a redemocratização nos anos de 1980 e se intensificou com os processos políticos bolivarianos, iniciados na Venezuela, em 1999. Hoje, estes processos, profundamente vinculados às históricas resistências dos povos latino-americanos, são reforçados pela Alternativa Bolivariana para os Povos da América (ALBA), integrada por Bolívia, Cuba, Dominica, Honduras, Nicarágua e Venezuela.

O gesto de Chávez e os discursos de Morales e Ortega propugnam que não se constrói o novo sem superar o passado. E não se supera o passado esquecendo-o. O governo dos EUA, agora sob Obama, terá de provar, com ações concretas, que mudou. Para isso, Obama poderá dar instruções claras sobre o voto dos EUA na próxima reunião da OEA, em junho, fórum próprio para decidir sobre o fim do bloqueio a Cuba e sua reinserção na organização interamericana.

Assim como manifestou José Saramago, escritor português ganhador do Nobel de literatura, esperamos que Obama aproveite a leitura do presente que levou da Cúpula.

Thomaz Ferreira Jensen, Andrea Paes Alberico, Guga Dorea, José Juliano de Carvalho Filho, Luis Eça, Marietta Sampaio e Marilena de Almeida Eça, do Grupo de São Paulo - um grupo de 12 pessoas que se revezam na redação e revisão coletiva dos artigos de análise de Contexto Internacional do Boletim Rede, editado pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, de Petrópolis, RJ.

Contato: gruposp@correiocidadania.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

Artigo publicado na edição de maio de 2009 do Boletim Rede.








Livro muito interessante....

A batalha da mídia, de Dênis de Moraes




A Batalha da MídiaA BATALHA DA MÍDIA reúne ensaios que discutem o papel da comunicação na luta pela hegemonia política e cultural na sociedade contemporânea. Além de analisar a influência da mídia na propagação dos valores do mercado e o consumismo, Dênis de Moraes analisa experiências que se propõem a democratizar os processos comunicacionais, seja através de políticas públicas inovadoras ou de formas colaborativas e participativas de difusão na Internet.

O livro é composto por quatro ensaios: "Imaginário social, hegemonia cultural e comunicação"; "Cultura tecnológica, inovação e mercantilização"; "Governos progressistas e políticas de comunicação na América Latina"; "Ativismo em rede: comunicação virtual e contra-hegemonia".

No principal ensaio, Dênis de Moraes revela como a ação do Estado, em vários países da América Latina, tem sido reorientada para tentar reverter uma das piores heranças do neoliberalismo: a concentração dos setores de informação e entretenimento nas mãos de um reduzido número de corporações nacionais e transnacionais. Conforme aponta o autor, as novas políticas de comunicação de governos progressistas da região buscam viabilizar legislações antimonopólicas, apoiar meios alternativos e comunitários e estimular a produção audiovisual independente. Este amplo painel também avalia resistências e desafios postos aos governos que se dispõem a promover a diversidade e o pluralismo. Entre os países analisados estão Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, Paraguai, Uruguai, Argentina e Chile.

Como ressalta Virginia Fontes no prefácio, A batalha da mídia tem uma importância singular nestes tempos de crise global, na medida em que aponta o quanto ainda precisamos avançar, em termos de alternativas contra-hegemônicas, "para um mundo no qual a informação, a comunicação e a cultura estejam plenamente socializados", ao mesmo tempo em que evidencia conquistas acumuladas nos últimos anos pelos setores populares no campo da comunicação, sobretudo na América Latina.

Dênis de Moraes
Dênis de Moraes
DÊNIS DE MORAES nasceu no Rio de Janeiro em 1954. É doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutor pelo Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO), sediado em Buenos Aires, Argentina. É professor associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Autor e organizador de diversos livros, entre os quais Cultura mediática y poder mundial (Norma, 2006), Sociedade midiatizada (Mauad, 2006), Combates e utopias: os intelectuais num mundo em crise (Record, 2004), Por uma outra comunicação: mídia, mundialização cultural e poder (Record, 2003), O concreto e o virtual: mídia, cultura e tecnologia (DP&A, 2001), O planeta mídia: tendências da comunicação na era global (Letra Livre, 1998), Vianinha, cúmplice da paixão (Record, 2000), O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos (José Olympio, 1992) e O rebelde do traço: a vida de Henfil (José Olympio, 1996).

Créditos: Fundação Lauro Campos

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Desemprego na Europa....

União Europeia: Menos 1,9 milhões de empregos em três meses

Quase dois milhões de empregos destruídos em três meses na União Europeia
No primeiro trimestre de 2009, o número de pessoas empregadas na União Europeia (a 27) baixou 1,916 milhões, segundo dados do Eurostat publicados nesta Segunda feira. Nos 16 países da zona euro a queda do número de postos de trabalho foi de 1,22 milhões, nos mesmos três meses.

Pelo terceiro trimestre consecutivo, o emprego baixou na União Europeia (a 27) e na zona euro.

Na União Europeia a queda do emprego foi de 0,8 no primeiro trimestre de 2009, tinha sido de 0,3% no quarto trimestre de 2008 e 0,1% no terceiro. Em relação à zona euro, a queda no último trimestre foi de 0,8% e tinha sido de 0,4% e 0,2%.

Na comparação do primeiro trimestre de 2009 com igual período de 2008 a queda foi de 1,2%, tanto para a União Europeia a 27, como para a zona euro.

A zona euro é composta pelos seguintes 16 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta e Portugal

Os dados encontram-se no sitio esquerda.net

domingo, 14 de junho de 2009

Peru: o massacre anunciado

(Foto retirada daqui)



Considero o Peru minha segunda pátria. Convivo desde os tempos da graduação em cinema com amigos peruanos, sendo que três deles são como irmãos para mim; amo o país, que irei visitar mais uma vez no final do ano; Cusco, a cidade mágica ('umbigo do mundo" em quéchua), sede do império Inca, tem, na minha vida, uma importância simbólica e afetiva que só a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro é capaz de superar. Por conta dessas circunstâncias tenho um razoável conhecimento da cultura e da história peruana, que são riquíssimas – mas também, esta última, trágica, escrita em sangue e por vezes de um absurdo que nem a mais delirante obra do realismo mágico conseguiria conceber.

Em razão disso tudo, senti um frio no peito quando, em 2006, vi confirmar-se a eleição de Alan García como presidente do país, pela segunda vez (a primeira foi de 1985 a 1990). Seria como se Collor de Mello fosse novamente eleito presidente do Brasil.

Em seu primeiro mandato, García, assim como Collor, comandou uma administração escandalosamente corrupta (mesmo para os padrões latinoamericanos) e durante a qual o país passou pela pior crise econômica de sua história, além de estar praticamente sitiado pelas ações do grupo terrorista Sendero Luminoso, que sequestrava nas estradas e com frequência interrompia o fornecimento de energia elétrica às grandes cidades. O atual presidente deixou o governo sob grande insatisfação popular e a um triz de sofrer impeachment (um ano depois, quando se intensificou a investigação sobre a corrupção em seu governo, foi afastado temporariamente do Senado e teve de exilar-se na Colômbia).

Por conta desses fatos, se, três anos antes, um analista político predizesse sua volta ao poder seria tachado de louco. Mas, nas eleições de 2006, a histeria que tomou conta das elites, da mídia peruana e, consequentemente, da classe média urbana com a possibilidade da vitória do militar nacionalista Ollanta Humala – vendido pela mídia como uma espécie de Hugo Chávez peruano – permitiu a García derrotá-lo por 52,6% a 47,4%.

García é herdeiro do aprismo - originalmente um movimento latinoamericano de centroesquerda dos anos 30, que acabaria por adotar a socialdemocracia nas décadas seguintes e, no Peru (onde o APRA é o partido mais organizado e massificado) desandaria, desde os anos 80, para um populismo de centro-direita, que o atual presidente peruano leva agora ao paroxismo.

O mau presságio que senti ao ouvir a notícia de sua mais recente vitória eleitoral logo se revelaria profético e é agora plenamente confirmado pelas notícias que chegam do Peru (“chegam”, prezado leitor, é modo de dizer, já que não podem ser lidas, senão em retalhos inconsistentes e tendenciosos, na nossa briosa “grande mídia" – que, como aponta Rafael Fortes, além de usualmente voltar as costas à América Latina, tudo perdoa quando se trata de governos alinhados ao ideário neoliberal).


Genealogia de um massacre
García anuncia, em dois artigos escritos em novembro de 2007, sua intenção de explorar a Amazônia através de vultosos empreendimentos madeireiros que se viabilizariam com a concessão de vastas extensões de terras a empresas multinacionais – um projeto democrático e de grande alcance social, como se vê. Seus argumentos são de um cinismo atroz, sem demonstrar a mínima consideração por questões humanitárias e ecológicas. Em dado momento, ele candidamente pergunta: “Os que se opõem dizem que não se pode dar terras na Amazônia (e por que na costa e na serra sim?)”. Nos dois artigos não há uma vírgula sobre os povos indígenas que lá habitam (e os quais o apoiaram no primeiro governo). Tal omissão não impede que a desculpa de García para implementar o programa seja a mesmíssima utilizada por governos anteriores, com os resultados sabidos: combater a pobreza.

Porém, como observam os antropólogos Alberto Chirif e Frederica Barclay, no excelente artigo (em espanhol) “Ataques y mentiras contra los derechos indígenas", “O governo, se é que o tema o interessa de verdade, não deve buscar a pobreza em lugares tão distantes como a Amazônia, e sim em Lima e nas demais grandes cidades do país, onde uma grande porcentagem da população não tem trabalho e sobrevive com rendas ínfimas. A pobreza que realmente afeta os indígenas amazônicos está precisamente nas zonas que têm sido devastadas pela colonização e pelas indústrias extrativistas, que têm contaminado o meio ambiente, afetado sua saúde e destruído suas redes sociais de solidaridade. Mas essas políticas do governo não se voltam à solução desses problemas, mas ao seu agravamento”.

No entanto, García ignora as reações negativas que seu projeto provoca e, ato contínuo, consegue do Congresso autorização, inicialmente em vigor por seis meses, para governar através de decretos legislativos (D.L.). Essa autorização é válida apenas para decisões relativas ao TLC (Tratado de Libre Comércio Perú-EUA), mas o presidente ignora esse “detalhe técnico” e passa a gerir de forma direta o país, particularmente seu tenebroso projeto para a Amazônia, sem dar satisfações ao Congresso. (Ou, posto de outra forma: a ocupação comercial da Amazônia é item obrigatório para assinatura do TLC, mas isso não pode ser publicamente assumido).


Ataque frontal ao direito dos índigenas
Dentre os decretos que promulga está o DL 1064, “um dos mais nocivos para as comunidades indígenas, porque atropela o direito de imprescritibilidade de suas terras e permite que invasores [grilheiros] estabelecidos há apenas quatro anos se apropriem de terras comunais”, explicam Chirif e Barclay.

Em agosto de 2008 começam as paralizações dos povos indígenas nas regiões amazônicas afetadas. Elas são organizadas pela Aidesep (Asociación Interétnica de Desarrollo de la Selva Peruana), que representa nacionalmente os povos indígenas e reúne 1350 comunidades nativas. A pressão a princípio funciona, e o Congresso derruba a D.L. 1015, promulgada por García e chamada – observe o duplo sentido – de “lei da selva”, pois permitia que se comprasse, com a anuência de apenas 3 de seus membros, toda a propriedade de cada comunidade indígena. A Defensoría Pública também questiona a constitucionalidade da lei e as instituições do país parecem dar mostras de que funcionariam a contento, favorecendo uma solução democrática para o impasse.

Mas García, que é apoiado pelos militares, pelo grande capital internacional e, o que é mais revelador, até pelos fujimoristas - bem como pela mídia e pelos setores médios da população, concentrados nas grandes cidades e satisfeitos com o "bom momento" da economia do páis -, reage com rapidez e promulga novos decretos ao mesmo tempo que intensifica a cooptação de setores do Congresso. É sempre bom lembrar que os dados da economia peruana têm de ser postos sob suspeita, já que o INEI (o IBGE deles) deixou de ser confiável desde que seu presidente foi demitido e processado por divulgar estatísticas que contrariavam o Executivo. Quanto aos métodos de aliciamento do Congresso, creio ser suficiente registrar que, em outubro de 2008, todo o gabinete peruano teve de renunciar por terem sido encontradas provas de políticos apristas recebendo grandes somas para alterar as licitações das vendas de lotes petrolíferos na Amazônia. Veja, caro leitor, que coincidência curiosa: o processo está suspenso porque o Judiciário alega não possuir determinados programas de computador necessários para retirar a informação dos HDs...
O Peru, assim como o Brasil, é pródigo em leis que, mesmo promulgadas, não são efetivamente cumpridas – notadamente aquelas que se referem aos estratos mais pobres e marginalizados da população, aos quais pertence enorme parcela dos peruanos de descendência indígena. É justamente uma dessas leis – com potencial para barrar todo o projeto garciano de ocupação extrativista da Amazônia – que causa os violentos acontecimentos que ora contrapõem governo e comunidades indígenas. Chamada popularmente de “Consulta”, initula-se “Convenio 169” (Ley Nº 26253) e firma a adesão às regras da Convenção da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Prevê que os povos indígenas habitantes de suas terras devem ser consultados “cada vez que se prevejam medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetar-lhes diretamente”, determinando, ainda, que com aprovação parcial das comunidades indígenas às medidas propostas, o Estado deve negociar até satisfazer a outra parte; e caso as comunidades rejeitem as medidas, estas não devem ser efetivadas.

Assinada há 15 anos, a lei não foi jamais cumprida. “Por quê? Porque que o Estado parece não saber as leis que assina ou porque, em se tratando de indígenas - que diabo! - por que fazer tanto alvoroço? Ao fim das contas, como assinalou o presidente Alan García, ‘As terras da Amazônia são de todos os peruanos’, o que significa apagar de uma canetada os direitos legais de propriedade das comunidades nativas e camponesas, declarar rapidamente a livre disponibilidade das terras da região e convocar o caos para que se encarregue de cancelar os direitos indígenas” (Chirif e Barclay). Já vimos esse filme antes na América Latina, não?


Populismo neoliberal
Em vias de terem suas terras comercializadas à sua revelia ante o avanço do projeto de García, as comunidades indígenas, vendo fracassarem as negociações, unem-se na luta pelo direito legal de determinar seu destino, mas García, numa jogada típica do neopopulismo aprista, passa a defender (como já citado) que a Amazônia pertence a todos os peruanos – e que, portanto, o direito de participar da “Consulta” e decidir sobre o que fazer com as terras amazônicas deve ser votado por todos. A legislação é absolutamente clara quanto aos beneficiários da “Consulta” – as comunidades indígenas que há séculos cultivam aquelas terras -, mas o sofisma de García cai como uma luva aos anseios midiáticos e das elites, que adotam-no como discurso e passam a difundi-lo.

Na conformação sócio-política do Peru atual, os indígenas, embora em grande número se computados os estratos urbanos e os campesinos, ocupam posição minoritária em termos de força política, contando apenas com o apoio do que restou da esquerda (que ou amoldou-se ao projeto neoliberal ainda em alta no país ou, se mais radical, foi praticamente dizimada por Fujimori em sua "abrangente" “Luta contra o terror”) e com o suporte da Aidesep, de algumas ONGs (embora entre elas destaquem-se organizações de projeção internacional) e com a atuação destemida da Defensoria del Pueblo, única instituição peruana que tem resistido sistematicamente - e com algum sucesso, embora fugaz - contra os abusos de García. Entre os exemplos deste último estão as cada vez mais frequentes concessões de autorização para que empresas como a canadense Pacific Stratus Energy, a franco-britânica Perenco e, ora vejam só, até a "nossa" Petrobrás possam operar no interior de reservas indígenas, onde tem sido descoberto petróleo. Ao mesmo tempo, sob a alegação de razões de segurança nacional e evidenciando a política antiindígena, tem sido negada autorização para a decretação de duas novas reservas e de um parque nacional, com a desculpa esfarrapadíssima de que os 700 índios secoyas peruanos e os 300 equatorianos que as habitam rebelar-se-iam e criariam um país autônomo. Mas, numa contradiçaõ só aparente, o conluio cívico-militar no poder mostra-se extremamente negligente com a verdadeira segurança nacional, fazendo vista grossa para uma cratera de - até agora -150km quadrados aberta pela empresa madeireira Newman Lumber Company (EUA) ao largo da fronteira com a Bolívia.


Rios de Sangue
Desesperados ante tal cenário e na iminência de perderem suas terras, os indígenas aumentam o tom e a frequencia dos protestos, bloqueando estradas. Em 9 de maio o governo declara Estado de Emergência em cinco estados da Amazônia. Está aberto o caminho para a disseminação da violência oficial.



É preciso, aqui, abrir parênteses para a especifidade da violência no Peru. O processo de genocídio e escravização dos incas promovido no século XVI pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro – um dos mais brutais da história da humanidade - e os muitos massacres do período colonial, legaram ao país pobreza, um tecido social esgarçado e rancores represados que de tempos em tempos se materializam em atos de extrema violência. Para ficar em apenas um exemplo: as técnicas de tortura utilizadas pelos paramilitares na repressão contra o grupo maoísta Sendero Luminoso incluíam a utilização rotineira do fogo, arma que mesmo os torturadores mais cruentos evitam aplicar (se não por pudor, pelas marcas definitivas que provoca, evidência de tortura que, na impunidade generalizada que acompanhou a “guerra contra o terror” no Peru, não queria dizer nada) . Com o perdão da generalização, se o Brasil é o país em que convivem a alegria e o caos, o Peru é a pátria da doçura extrema e da violência exacerbada.

Para perpetuar essa história de extrema violência e aniquilação dos povos indígenas, em 5 de junho chegam com estrondo à região 369 efetivos da temida Dinoes (Direção Nacional de Operativos Especiais), fortemente armados, tal qual os contingentes das Forças Armadas que os acompanham. Eles iniciam o que a imprensa chama de uma batalha – mas, como aponta João Villaverde, massacre seria uma melhor descrição – contra a revolta indígena, com saldo de mortes incerto.

Meu querido amigo Claudio Suárez, correspondente especial do blog no Peru (pensam que é só a Globo que tem dessas coisas?), informa: “Causa indignação o fato de a população limenha estar, em sua maioria, desinformada pelos meios de comunicação, que exibem informações tendenciosas [que horror! isso jamais acontece aqui no Brasil, Claudio]: fala-se em 12 policiais e 3 indígenas mortos, mas na zona de conflito a imprensa local faz estimativas de algo entre 50 e 100 mortos entre os indígenas (além de centenas de feridos), pois vários corpos teriam sido queimados e outros jogados em um rio; é patente que a polícia ostentava grande quantidade de francoatiradores que disparavam para matar” [alguns deles podem ser vistos em ação no link "mostram a polícia", abaixo].

Os números fornecidos por Claudio são de uma semana atrás e é quase certo que aumentaram bastante nos 5 dias seguintes, em que a região ficou sob toque de recolher e execuções foram relatadas. Oficialmente, morreram 24 policiais e 9 civis, mas este último número não é levado a sério nem mesmo pela maioria das publicações da mídia corporativa internacional, apenas pela peruana. Às manipulações da mídia soma-se um enraízado preconceito contra os indígenas, que acaba por resultar em uma autêntica fratura na sociedade peruana. Como registra José Álvarez Alonso, biólogo que trabalha na região amazônica, em artigo sereno mas contundente (em espanhol), os setores médios urbanos e as elites “seguem considerando os indígenas cidadãos de segunda classe [condição que foi corroborada por García em uma de suas falas], ‘esses chamados nativos’, como alguns os qualificam com desprezo. Enquanto se mostra na televisão cenas da dor dos valorosos policiais mortos no cumprimento do dever, se ignora ou minimiza-se a cifra de mortos indígenas, que alguns calculam en mais de uma centena, talvez duas”.
Como aponta o blog Diário Gauche (de onde vêm as fotos que ilustram o conflito), "Organizações indígenas de seis países acusam o presidente do Peru por massacre e genocídio." No portal esquerdista Vermelho pode-se acompanhar a evolução dos protestos no Brasil e no mundo. Mas, se é verdadeira a suposição de que o grau de violência de um massacre costuma ser inversamente proporcional ao número de registros visuais que o documentam, então os piores temores se justificam, pois o número de imagens documentando o conflito é absurdamente baixo para os padrões digitais-cibernéticos atuais. Vídeos, há alguns poucos no youtube (como este, aquele outro, dois que mostram a polícia atirando contra o povo e mais uns tantos), mas quase todos mal filmados e pouco explícitos, embora indicativos do grau de violência e impunidade das forças oficiais.

Após o massacre, durante 5 dias, ninguem pôde entrar na zona de "batalha", nem imprensa, nem órgãos de direitos humanos, nem a Cruz Vermelha; foi instituído toque de recolher. Em seguida, parte da legislação sob ataque foi "suspensa", mas também o foram 7 dos mais aguerridos congressistas de oposição; líderes indígenas estão sendo processados por terrorismo e sedição, como já vinha ocorrendo com sindicalistas e lideranças sociais - o que levou o líder da Aidesep, Alberto Pizango, a se exilar na Nicarágua. Na quinta-feira (11/06), de 20 a 30 mil pessoas, segundo Suárez, protestaram em Lima, mas o que poderia ter sido o início da reação popular foi, como se vê na foto ao lado, brutalmente reprimido pela polícia.


Com o apoio cúmplice do grande capital e dos meios de comunicação peruanos, o governo de García assemelha-se cada vez mais a uma ditadura travestida de democracia, enquanto seu projeto faraônico para a Amazônia traz todas as caracterísitcas de um novo genocídio indígena em pleno século XXI.