sábado, 29 de agosto de 2009

Governo da Venezuela explode com midia de esgoto...

Hugo Chávez e os meios de comunicação privados

por Salim Lamrani*

A Comissão Nacional de Telecomunicações da Venezuela começou a recuperar as freqüências hertzianas ilegalmente ocupadas pelos meios de comunicação de algumas grandes famílias para os redistribuir. Imediatamente os oligarcas denunciaram uma “violação da liberdade de expressão” e receberam o apoio dos seus homólogos ocidentais através dos meios de comunicação que eles detêm e, claro, da Repórteres Sem Fronteiras, fiel cão de guarda da subjugação da informação aos interesses de Washington.

Guillermo Zuloaga Núñez, presidente da Globovisión, participou ativamente no golpe de .Estado militar abortado de 2002. Acaba de dar o seu apoio aos golpistas hondurenhos. e apelou a que se siga o seu exemplo na Venezuela.

No dia 2 de Agosto de 2009, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) publicou um comunicado denunciando o encerramento de «trinta e quatro meios audiovisuais sacrificados por capricho governamental» na Venezuela. A organização parisiense «protesta com vigor contra o encerramento massivo de meios audiovisuais privados» e interroga-se: «É ainda permitido emitir publicamente a mais pequena crítica em relação ao governo bolivariano? Este encerramento massivo de meios reputados da oposição, perigoso para o futuro do debate democrático, só obedece à vontade governamental de calar as vozes discordantes, e só agravará as divisões no seio da sociedade venezuelana» [1].

A RSF refere-se à decisão tomada pela Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) no dia 1 de Agosto de retirar a frequência a trinta e quatro estações de rádio e televisão [2]. Segundo a RSF, a decisão seria exclusivamente motivada pelo facto de estes meios de comunicação se terem mostrado críticos para com o governo de Hugo Chávez. Numa palavra, tratar-se-ia de um acto político para abafar a imprensa de oposição. Esta versão foi retomada pela grande maioria dos meios de comunicação ocidentais [3].

Ora, a realidade é outra e foi cuidadosamente ocultada pela RSF e pelas multinacionais da informação com o objectivo de enganar a opinião pública e de transmutar o governo mais democrático da América Latina (Hugo Chávez submeteu-se a quinze processos eleitorais desde que acedeu ao poder em 1998 e saiu vitorioso em catorze, em escrutínios saudados pelo conjunto da comunidade internacional pela sua transparência) num regime que atenta gravemente contra a liberdade de expressão.

De fato, a decisão da Conatel teria sido tomada em qualquer país do mundo numa situação semelhante. Várias rádios ignoraram deliberadamente uma intimação da Comissão destinada a averiguar o estado da concessão e a atualizar a sua situação. Depois de uma investigação, a Conatel descobriu numerosas irregularidades, tais como a existência de concessionários falecidos cuja licença era utilizada por uma terceira pessoa, a não renovação dos trâmites administrativos obrigatórios, ou muito simplesmente a ausência de autorização para emitir. Ora, a lei venezuelana, semelhante às do resto do mundo, estipula que os meios de comunicação que não renovem a sua concessão no prazo legal ou emitam sem autorização, perderão a sua freqüência, e esta voltará ao âmbito público. Assim, trinta e quatro estações que emitiam de forma ilegal perderam a sua concessão (4).
Na realidade, a decisão da Conatel, longe de limitar a liberdade de expressão, pôs fim a uma situação ilegal e abriu uma política de democratização do espectro radioelétrico venezuelano com a finalidade de colocá-lo ao serviço da coletividade. De fato, na Venezuela, 80% das rádios e televisões pertencem ao domínio privado, enquanto que apenas 9% delas são do domínio público, sendo o resto dedicado aos sectores associativo e comunitário. Para além disso, o conjunto dos meios privados venezuelanos está concentrado nas mãos de 32 famílias (5).

Assim, uma medida tomada pela Conatel para pôr fim a uma situação ilegal foi completamente manipulada pela RSF e pelos meios de comunicação ocidentais.

A RSF escolheu o seu lado defendendo acirradamente a oposição venezuelana, responsável por um golpe de Estado contra Chávez em Abril de 2002, golpe ao qual a organização parisiense deu imediatamente aval. A RSF defende particularmente o canal golpista Globovisión, que considera como o símbolo da liberdade de expressão na Venezuela (6). Não obstante, não assinala que para além da sua participação ativa no golpe de 2002, a Globovisión apoiou a sabotagem petrolífera desse ano, lançou um apelo aos contribuintes para que não pagassem os seus impostos e apelou à insurreição e ao assassinato do Presidente Chávez (7).

Ultimamente, a Globovisión deu o seu apoio à junta golpista das Honduras que derrubou o Presidente democraticamente eleito José Manuel Zelaya, unanimemente condenada pela comunidade internacional (8). O proprietário do canal, Guillermo Zuloaga Núñez, reconheceu o governo ilegal de Micheletti, lançando ao mesmo tempo um apelo ao golpe de Estado na Venezuela: «O governo auto-proclamado de Micheletti respeita a Constituição, e nós gostaríamos verdadeiramente que aqui na Venezuela se respeitasse a Constituição como se está respeitando em Honduras» (9).

A RSF não defende a liberdade de expressão na Venezuela. Prefere pôr-se do lado dos inimigos da democracia.

(1) Repórteres Sem Fronteiras, « Trente-quatre médias audiovisuels sacrifiés par caprice gouvernemental », 02/08/2009 (consultado a 03/08/2009).

(2) Sítio oficial da Conatel.

(3) Agencia Bolivariana de Noticias, “Productores independientes respaldan suspensión de emisoras radiales ilegales”, MP3, 04/08/2009.

(4) Fabiola Sánchez, « Radios desafían a Chávez operando por Internet », The Associated Press, 03/08/2009.

(5) Thierry Deronne, « A batalha popular para democratizar o “latifúndio” das ondas », Vive-fr.org, 02/08/2009; Agencia Bolivariana de Noticias, « Medida de Conatel no afectará libertad de expresión e información en Venezuela », 04/08/2009.

(6) Repórteres Sem Fronteiras, « Le gouvernement accélère sa croisade contre les médias privés en voulant modifier les lois et les règles », 21/07/2009.

(7) Salim Lamrani, « Reporters sans frontières contre la démocratie vénézuélienne », Réseau Voltaire, 02/07/2009.

(8) « Résolution de l’Assemblée générale de l’ONU sur la situation au Honduras » e « Résolution de l’Organisation des États américains (OEA) relative à la suspension du Honduras », 30/06 e 04/07/2009.

(9) Agência Bolivariana de Noticias , « Globovisión apoya marcha a favor de gobierno golpista en Honduras », 22/07/2009.


O marketing do escândalo

Por Washington Araújo, no observatorio da imprensa

A lição de Confúcio não prescreve. Ainda mais nos dias atuais. Ele escreveu: "Se puderes resgatar as penas de dez travesseiros abertos no alto de uma colina em uma noite de tempestade, poderá resgatar a honra de uma pessoa caluniada".

Inúmeros são os casos em que a imprensa tem se arrogado o papel da Justiça. Assumir funções típicas da Justiça é recorrente na atividade jornalística. Há certa compreensão de que jornal é fórum, repórter é magistrado, editor é ministro de tribunal superior. E quando este é o quadro resta-nos apenas ver o desvirtuamento da informação fidedigna em atos de autoridade prepotente.

Em 1993 escrevia Joaquim Falcão em artigo publicado na imprensa carioca e que permanece tão atual quando à época de sua publicação: "Não raramente hoje, alguns jornais, ao divulgarem a denúncia alheia, acusam sem apurar, processam sem ouvir, colocam réu sem defesa na prisão da opinião pública; enfim, condenam sem julgar". E quando isto ocorre vemos justiçamento e não justiça. É imensa a distância separando um conceito do outro.

Verdade contrabandeada

Estas percepções surgem quando cotejo a cobertura das quatro revistas semanais de informação e as capas dos principais jornais diários nestes últimos três meses. Existem tiros demais, vítimas demais. E também verdade de menos, isenção de menos, muito menos. Isso me faz lembrar afirmação do jornalista inglês Paul Johnson quando em meados dos anos de 1990 em um artigo afirmava que "a mídia é uma arma carregada quando dirigida com intenção hostil contra um indivíduo". E há muita intenção hostil no noticiário, daí que estamos sempre há bem poucos metros do pelotão de fuzilamento instituído pela mídia.

Cláudio Abramo personificava sua própria máxima ao dizer que o jornalismo era "o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter". É que não havia distância entre intenção e gesto no caso do autor da frase. Ele sabia muito bem a regra do jogo (sem trocadilho com o famoso livro).

É bem desagradável o sentimento que temos quando vemos campanha lançada por jornal defendendo ou acusando esta ou aquela ideologia, este ou aquele pensamento político, filosófico, religioso. Parece faltar inteligência ou a quem criou a campanha ou ao distinto público-alvo da mesma. E faltou coragem de dizer com todas as letras quem está por trás da tal campanha.

Para ser coerente com a definição de Abramo somente aceitando que estamos diante de qualquer coisa, mas não de jornalismo. Quando revista semanal se transforma em porta-voz de partido político algo de muito errado está acontecendo. Da mesma forma quando rede de televisão se notabiliza na defesa intransigente de ponto de vista eminentemente religioso, logo somos alcançados pelo mau odor exalado pelo preconceito e o fanatismo.

E só não há erro se o veículo de comunicação atua com transparência deixando o público saber a serviço de que agremiação se encontra. É aqui que mora o perigo: não temos tradição de nossos jornais e revistas cerrarem fileiras com esta ou aquela corrente política. É sempre por debaixo do pano que a verdade é contrabandeada – e a credibilidade do veículo de comunicação começa a decair quando seu público reconhece por si mesmo que há um marketing por trás dessa ou daquela capa, dessa ou daquela cobertura.

Passagem do tempo

É o marketing do escândalo. As vítimas serão sempre aquelas que se atrevem a discordar da opinião, da crença defendida pelo canal de televisão, jornal, revista, emissora de rádio, portal na internet. O procedimento padrão aplicado é minimizar ao máximo o contraditório, garantia mínima que é para o Estado democrático, deixar passar ao longo da cobertura qualquer pluralidade de pensamento, qualquer fato novo investigado que tenha força suficiente para frustrar o resultado desejado. Procedimento que maximiza as opiniões que fortalecem a linha editorial pretendida, que lhe concede repercussão indevida como forma de atender a interesses outros que não aqueles defendidos pelos que praticam o bom jornalismo.

A lógica do marketing do escândalo inclui, sim, a possibilidade de retificação do erro cometido, do excesso havido, mas sempre o fará de maneira frágil, envergonhada, vulnerável e inteiramente desproporcional ao impacto ou conseqüências do mal protagonizado.

Penso haver tão-somente um antídoto a essa forma enviesada do fazer jornalismo no Brasil. E seria um choque de ética nas relações dos jornalistas com suas matérias, com suas fontes, com os fatos, com a idéia do contraditório, com a já esquecida prática de, antes da publicação, ter buscado, honestamente, ouvir o outro lado. Quando penso em ética não penso em consciência amordaçada. E nem penso em notícias em constante descompasso com a passagem do tempo. Penso, apenas, no direito que todos temos de ter acesso a notícia com maior qualidade, mais apurada, texto correto e preciso. Será pedir muito?

Reino inferior

Séculos atrás Luis de Camões escreveu esses belos versos:

"Mudam-se os tempos,/ Mudam-se as vontades/ Muda-se o ser, muda-se a confiança/ Todo o ser é feito de mudança/ Assumindo sempre novas qualidades."

Bem conhecida a frase da escritora estadunidense Lilian Hellman (1905-1984): "As pessoas mudam, mas esquecem de comunicá-lo". O mesmo acontece com os meios de comunicação. Nascem com uma proposta editorial clara e aos poucos, ao longo do caminho, vão se desfazendo daquele espírito impulsor que lhe dava substância. Esquecem, também, de comunicar a mudança aos leitores, ouvintes, telespectadores.

Nada contra a mudança, afinal já faz parte da filosofia dos caminhões: "A única coisa que não muda é a mudança". O problema com os meios de comunicação é que eles mudam e nada fazem para assumir as conseqüências da mudança. Faz-nos recordar aquela famosa atriz que, em busca do tempo perdido, decide fazer plástica no rosto. Uma vez feita, esta lhe altera os traços fisionômicos, reduz significativamente os sulcos que o arado do tempo fez, mas, a atriz, mesmo diante da contraprova ante o espelho, ainda assim não se dá por vencida e volta a jurar, uma e mil vezes, que jamais passou perto de um bisturi. Dá para acreditar?

A prisão da opinião pública – com sua atual superlotação – tem como alicerce os escombros de uma ética jornalística profundamente abalada. Este entulho é representado pelo desabrido jogo político conspurcando o livre trânsito da informação e o desenfreado balcão de negócios em que esta mesma informação é moeda corrente.

A opinião pública, quando trancafiada nos cárceres do mau jornalismo, fere de morte um direito humano básico, fundamental. Refiro-me ao direito que trata da liberdade de pensamento, de opinião, de crença. E se esse direito é subtraído ao patrimônio de humanidade que carregamos assim como o corpo carrega sua sombra, então renunciamos à nossa humanidade e passamos a integrar um reino inferior, qual mineral, qual vegetal, qual animal irracional.

Como a Europa mata os migrantes

Créditos: Blogdovelhocomunista

Tradução de Thiago A.Maciel


Aproximadamente 80 eritreus saíram da costa da Líbia em direção à Europa por volta do dia 29 de julho. Vinte e um dias depois, a Marinha Militar Italiana, previamente avisada pela maltesa, encontrou o barco pneumático no qual viajavam apenas cinco tripulantes: os outros 75 morreram desidratados no caminho e seus companheiros de viagem jogaram seus corpos ao mar. Os cinco sobreviventes, entre eles uma mulher e dois menores de idade "reduzidos a esqueleto", relataram que haviam cruzado com 10 barcos pesqueiros durante as três semanas, mas apenas um deles parou para dar água e depois desapareceu.

Ao publicar a noticia, começou o clássico ping-pong diplomático entre os governos italiano, maltês e europeu. Precedentes não faltam: lembremos os casos Cap Anamur, ou Pinar. Malta "lavou as mãos" dizendo que uma patrulha que operava sob mandado de Frontex (Agencia Européia de Fronteiras) socorreu um barco pneumático em que os passageiros estavam em boas condições físicas (1) e rechaçaram ir a Malta, insistindo em seguir seu rumo a noroeste para alcançar seu destino. O ministro de Assuntos Exteriores italiano, Franco Frattini, acusou a União Européia de "falar muito e fazer pouco", pois ainda não decidiu como se deve atuar quando um grupo de imigrantes chega à Europa. Dennis Abbott, um dos porta-vozes da UE, declarou que "a Comissão Européia e os países da UE fazem o que está em suas mãos", para responder à emergência de embarcações clandestinas e que em outubro se tomarão novas medidas a respeito.

O professor Fúlvio Vasallo Paleologo, um dos máximos experts sobre o assunto, explica que desde o caso de Cap Anamur (2003) até o fim do caso dos sete pescadores tunicinos, acusados de favorecer a imigração clandestina (2007), foram sendo reduzidas as intervenções de salvamento por parte de navios mercantes por medo da conseqüência negativa para seus negócios.

Contudo, devido aos acordos operativos desde a primavera (um entre a Itália, Malta e Líbia; outro entre Malta e Líbia) a situação piorou. Por um lado, se reconhece a Malta, país com poucos meios militares, a coordenação da zona SAR (Salvamento e Resgate) mais extensa do Mediterrâneo central. Como conseqüência disso, as unidades militares italianas (mais numerosas que as maltesas) operam sob a coordenação das autoridades maltesas. Por outro lado, os acordos ítalo-líbios (alguns oficiais e outros secretos) estão tendo como fruto operações de patrulhamento conjunto com alguns jet-skis ítalo-líbios que serviriam para "devolver" os emigrantes às costas libanesas. Ao recair a coordenação dessas intervenções em mãos libanesas, as funções reais das unidades aeronavais de Frontex são cada vez mais evanescentes.

O que em realidade está ocorrendo, segundo Vasallo Paleologo, é que os autores do Regulamento Frontex, assim como quem tem idealizado e escrito esses acordos internacionais bilaterais, "tem utilizado a omissão de socorro, conseqüência direta ou indireta de uma divisão de competências tão bem armado, como uma autêntica 'pena de morte' para os emigrantes que se arriscam a atravessar o canal da Sicilia para fugir da Líbia e alcançar Malta ou Sicilia, quando não Lampedusa, blindadíssima para salvar a imagem turística da ilha, mas sobretudo os 'êxitos históricos' do governo italiano na 'guerra a imigração ilegal'".

"Como é possível que na Era da tecnologia um barco tão grande escape dos olhos de águia que patrulham todos os ângulos do planeta?", se pergunta um parente de uma vítima. Na comunidade eritréia da Líbia dizem que os organizadores intermediários das viagens receberam uma ligação de um telefone via satélite dia 29 de julho, na tarde em que os passageiros diziam ver a costa de Malta. Como é possível, então, que ninguém os tenha visto? A resposta não se encontrará na conferência "Tecnologia biométrica para os controles fronteiriços", que será realizada em Varsóvia nos dias 1° e 2 de outubro, onde a Frontex convida a indústria a participar e exibir seus produtos.

A resposta é conhecida perfeitamente pelos eritreus da Líbia: "Não foi um acidente. Foi um homicídio."


NOTA:

(1) Na foto, a sobrevivente Titti Tazrar, de 27 anos. Nesse artigo se encontra sua história. Durou um ano, quatro meses e vinte um dias para chegar na Itália. Titti decide, um dia, que não quer seguir no exército eritreu. Passa por sua casa e empreende a viagem com 10 euros que lhe deram sua mãe e seus irmãos. Chega ao Sudão, onde trabalha como assistente. Informa-se que necessita pagar 900 euros para chegar à Líbia, e da Líbia à Itália. Trabalha durante um ano para economizar. Finalmente embarca. A viagem será terrível: presenciará a morte de seus 73 companheiros. A morte de suas duas amigas, Ester e Luam, grávidas, vai lhe afetar terrivelmente. Vê passar barcos. Um barco de pescadores se aproxima e, ao verem sete cadáveres a bordo, se afastam deixando pão e duas garrafas de água. Finalmente chega o resgate. Ela é internada no hospital. Vive.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Resposta de Max Altman

Infâmias não podem ficar sem resposta

Max Altman

O que leva os jornalistas Salomão Schvartzman e Zevi Ghivelder, lídimos representantes do ‘stablishment’ judaico no Brasil e irrestritos defensores da política do governo israelense comandado por Benjamin Netanyhau a escrever o infamante artigo publicado na Folha de S. Paulo de 12 de agosto, sob o título “O antissemitismo de Chávez?” Um dos motivos é insistir em criar uma matriz de opinião de que ser contra a política belicista e expansionista do governo de Israel ou divergir do sionismo não passa de manifestação de antissemitismo. Ora, judeus pelo mundo afora, que se definem convictos como membros do povo judeu, muitos deles eminentes e provados defensores de soluções pacíficas e justas para os conflitos internacionais e lutadores contra o racismo, o antissemitismo e a discriminação, não compactuam com o sionismo e são acérrimos críticos das posições dos sucessivos governos israelenses face ao conflito Israel/palestinos. A outra é criar, por razões ideológicas, através de ininterrupta campanha internacional, uma imagem negativa do presidente venezuelano que lidera um processo revolucionário que se opõe aos interesses das oligarquias e aos desígnios do império. Muito recentemente, o governo de Israel se aliou a essa campanha. O chanceler israelense Avigdor Lieberman, em visita a países da região, afirmou exatamente em Bogotá, na Colômbia de Uribe – e não em Brasília, Buenos Aires ou Lima, capitais de países onde esteve – que unidades do Hezbollah e do Hamas estavam estabelecidas na região de La Guajira, Venezuela, o que Caracas desmentiu duramente. Talvez fosse em represália por que Chávez condenou o ataque de Israel a Gaza e rompeu relações, ou porque Chávez chamou a Colômbia de “Israel da América Latina” ou ainda porque a Venezuela mantém relações comerciais estreitas com o Irã.

E aí os jornalistas Schvatzman e Ghivelder se puseram a listar as provas do antissemitismo de Chávez. Citou um artigo ‘inquietante’ publicado na “Boston Review de autoria de dois professores norte-americanos. “Eles relatam que no dia 30 de janeiro, 15 homens fortemente armados arrombaram a sinagoga Tiferet Israel, bairro Mariperez, em Caracas, onde saquearam seus pertences, rasgaram os rolos da Tora e outros objetos litúrgicos. Em seguida, grafitaram as paredes do templo com inscrições como “Morte para o maldito Israel”, “Fora judeus” e outras, tudo isso ao lado de desenhos de suásticas”. Acontece que a polícia local – e isto foi fartamente divulgado, inclusive pela imprensa israelense – acabou prendendo 11 dos assaltantes envolvidos, entre os quais 7 policiais. E o que se descobriu? Um dos dois vigias do templo fazia parte do bando e facilitou a entrada no prédio e que o chefe e autor intelectual do assalto era um ex-policial que durante quatro anos foi escolta do rabino-chefe da sinagoga. O bandido confessou que o objetivo era roubo e que as inscrições se destinavam a despistar as investigações. Todos eles continuam presos à disposição da justiça. Outros três continuam evadidos.

Noutra passagem, os articulistas atribuem a Chávez uma declaração já de quatro anos atrás, concluindo que “Hitler não teria concebido um texto mais abjeto.” Eis o que, segundo Salomão e Zevi, declarou Chávez: “O mundo tem bastante para todos, mas algumas minorias, tais como as descendentes do mesmo povo que crucificou Cristo e as que expulsaram Bolívar e, portanto, de algum modo o crucificaram, se apoderaram das riquezas do mundo”. (g/n) Foi difícil encontrar o texto original mas ao localizá-lo percebi não só a descontextualização – veteranos jornalistas, sabem como distorcer, descontextualizando – como também uma sutil falsificação. Foi um discurso pronunciado na véspera do Natal, no dia 24 de dezembro de 2005, numa entidade chamada “Manancial dos Sonhos”

Transcrevo em espanhol para não restar dúvidas: “Acabo de leer esta madrugada el último informe de la ONU sobre la situación del mundo y es alarmante ... que nunca antes ... en 2005 años nos hace falta Jesús el Cristo, porque ... Dios, la naturaleza es sabia, el mundo tiene agua suficiente para que todos tuviéramos agua, el mundo tiene riquezas suficientes, tierras suficientes para producir alimentos para toda la población mundial ... .

El mundo tiene para todos, pues, pero resulta que unas minorías, los descendientes de los mismos que crucificaron a Cristo, los descendientes de los mismos que echaron a Bolívar de aquí y también lo crucificaron a su manera en Santa Marta, allá en Colombia. Una minoría se adueñó de las riquezas del mundo, una minoría se adueñó del oro del planeta, de la plata, de los minerales, de las aguas, de las tierras buenas, del petróleo, de las riquezas, pues, y han concentrado las riquezas en pocas manos.”

Dias depois, questionado por jornalistas, explicou que evidentemente se referia ao imperador romano e seus agentes, como se referiu ao império colonial espanhol e seus agentes, e que como católico concordava com a decisão do Concílio Vaticano II que reviu a milenar acusação contra os judeus de terem crucificado Cristo.

Mais adiante referem-se ao “principal site chavista na internet, Aporrea que divulgou 136 textos de natureza antissemita.” O site Aporrea – Aliança Popular Revolucionária – é um jornal virtual trotsquista, e não chavista, que geralmente apóia o governo Chávez mas é também crítico. Recebe e publica uma grande quantidade de colaborações de seus leitores. Não li os 136 artigos mas aquele assinado por Emílio Silva, com tons antissemitas, foi retirado de publicação, com pedidos de desculpas, assim que o site foi alertado de seu conteúdo.

O artigo da Folha empenha-se em mencionar ações e publicações de “seguidores’, ‘grupos afinados’, ‘mídia chavista’, ‘agentes do governo’ tentando vinculá-los a Chávez, como se atos semelhantes não ocorressem em tantas partes do mundo, na França, Alemanha, Estados Unidos e mesmo no Brasil, sem que jornalistas de mesma orientação ideológica se apressurem em ligá-los aos respectivos governos. Citam textualmente declaração de Chávez em visita à China em agosto de 2006: “Israel critica muito Hitler. Nós também. Mas Israel tem feito coisas semelhantes àquelas que Hitler fez contra a metade do mundo e talvez ainda pior.” A pontuação é diferente da apresentada pelos jornalistas, mas me vali do que à época foi publicado. Mas não é isto que partidos, organizações, personalidades, dirigentes políticos os mais diversos vem afirmando em suas críticas às ações militares do governo de Israel contra o povo palestino?

Finalmente, o artigo cita também o jornal “El Diário de Caracas” por ter publicado há 3 anos um editorial “um papel carbono da imprensa nazista”. Percorro há anos a imprensa venezuelana. Jamais me deparei com esse jornal. Para saber de sua orientação política pesquisei o Worldpress.org., nele classificado como liberal. O que tem Chávez a ver com a orientação editorial desse periódico?

Faço menção agora a um fato muito recente que põe por terra toda a argumentação caluniosa de Schvartzman e Ghivelder. Há cerca de um mês Jack Terpins, presidente do Congresso Judaico Latino-Americano, acompanhado de Miguel Angel Moratinos, chanceler da Espanha, e de Nicolas Maduro, chanceler da Venezuela, visitaram exatamente a sinagoga Tiferet Israel, onde foram recebidos pelo seu diretor Abraham Levy Benchimol. Na oportunidade, o ministro Maduro transmitiu saudações do presidente Hugo Chávez a toda a comunidade judaica da Venezuela. O Sr. Jack Terpins, por sua vez, declarou textualmente: “Esta visita do chanceler Maduro à sinagoga fortalece o diálogo entre o governo venezuelano e a comunidade judaica.”

Essas informações não foram extraídas de algum site chavista, da televisão governamental chavista ou do Aporrea. Li-as num recente boletim oficial do ‘Congreso Judio Latinoamericano”. Que os senhores Schvartzman e Ghivelder o leiam com seus próprios olhos para terem idéia da enormidade que transmitiram ao leitor.

Max Altman

STAR MÉLIÈS - COLEÇÃO (1898 - 1909)


DIREÇÃO: GEORGE MÉLIÈS

SINOPSE: George Méliès (1861 – 1938) era dono de um grande teatro em Paris, Certa vez ganhou um protótipo criado pelo cinematógrafo inglês Robert W. Paul e ficou entusiasmado com isso, tanto é que saía filmando cenas do cotidiano em Paris. Um dia a sua câmera parou de repente, mas as pessoas não paravam de se mexer e quando ele voltou a filmar, a ação feita na filmagem era diferente da ação que ele estava filmando, à esta trucagem ele deu o nome de stop-action; criou vários outros truques de câmera como perspectiva forçada, ou filmagens a alta e baixa velocidade. Durante uma década fez filmes fantasiosos; conhecido como o mestre dos efeitos, hoje Mélies é considerado um dos melhores cineastas do mundo.

1 L'homme-orchestre (1900)
18 MB .WMV / Filme mudo / Sem texto

2 Les cartes vivantes (1904)
28 MB .WMV / Filme mudo / Sem texto

3 Le locataire diabolique (1909)
47 MB .WMV / Narração: francês / Legenda: português
DOWNLOAD

4 Barbe bleu (1901)
62 MB .AVI / Narração: francês / Legenda: português

5 Les affiches en goguette (1905)
17 MB .AVI / Narração: francês / Legenda: português

6 L'Inpressionniste fin de siècle (1899)
1 MB .FLV / Filme mudo / Sem texto

7 Le Mélomane (1903)
17 MB .WMV /Filme mudo / Sem texto
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8 Sorcellerie culinaire (1904)
40 MB .AVI / Filme mudo / Sem texto

9 Le diable noir (1905)
24 MB .AVI / Filme mudo / Sem texto

10 Mobilier Fidele (1910)
73 MB .AVI / Filme mudo / Sem texto

11 Le Roi du Maquillage (1904)
22 MB .AVI / Filme mudo / Sem texto
12 Le monstre (1903)
26 MB .MPEG / Filme mudo / Sem texto
13 Le tripot clandestin (1905)
10 MB .AVI / Filme mudo / Texto comentário: português
14 L'Éclipse du soleil en pleine lune (1907)
57 MB .AVI / Filme mudo / Sem texto
DOWNLOAD
15 Un homme de têtes (1898)
175 MB .AVI / Filme mudo / Sem texto
PARTE1 - PARTE2

16 L'homme à la tête de caoutchouc (1901)
23 MB .RMVB / Filme mudo / Sem texto
DOWNLOAD

17 Le chaudron infernal (1903)
156 MB .AVI / Filme mudo / Texto comentário: português
PARTE1 - PARTE2

18 La Colle Universelle (1907)
46 MB .AVI / Filme mudo / Sem texto
DOWNLOAD

19 Le Voyage à travers l'Impossible (1904)
131 mb .avi / Narração: inglês / Sem legendas
PARTE1 - PARTE2

20 Le voyage dans la lune (1902)
89 MB .AVI / Narração: inglês / Legenda: Português
MEGA-DOWNLOAD - LEGENDA
OU RAPID-DOWNLOAD

Extraido do sitio http://cinemacultura.blogspot.com

Por Tales.Santana
e Simone César

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A "paz" de israel....

Podemos conversar? A "indústria da paz" do Médio Oriente

por Faris Giacaman [*]

Boicote Israel. Cartoon de Latuff. Ao descobrirem que sou palestino, muitas pessoas que encontro na universidade aqui nos Estados Unidos ficam ansiosas por informar-me de várias actividades em que têm participado a fim de promover "coexistência" e "diálogo" entre ambos os lados do "conflito", sem dúvida à espera de um aceno de aprovação da minha parte. Contudo, estes esforços são danosos e minam o apelo da sociedade civil palestina em favor do boicote, desinvestimento e sanções a Israel – o único meio de pressionar Israel a cessar as suas violações dos direitos dos palestinos.

Quando eu frequentava o secundário, em Ramalá, uma das iniciativas "pessoa-a-pessoa" mais conhecidas, a Seeds of Peace, muitas vezes visitava a minha escola, pedindo aos estudantes para aderirem ao seu programa. Quase todos os anos eles enviavam alguns dos meus colegas a um campo de Verão nos EUA com um grupo de estudantes israelenses. Segundo o sítio web de Seeds of Peace, ensinam-lhes no campo a "desenvolver empatia, respeito e confiança bem como liderança, comunicação e aptidões de negociação – componentes críticos que facilitarão a coexistência pacífica da geração seguinte". Eles pintam um quadro róseo e a maior parte das pessoas na universidade fica muito surpreendida ao ouvir que penso serem tais actividades equivocadas na melhor das hipóteses e imorais na pior. Por que diabos eu era contra a "coexistência", perguntavam-me sempre.

Durante os últimos anos tem havido apelos crescentes a por um fim à opressão do povo palestino por Israel através de um movimento internacional de boicote, desinvestimento e sanções (BDS). Uma das objecções comuns ao boicote é que ele é contra-producente e que o "diálogo" e a "promoção da coexistência" são muito mais construtivos do que boicotes.

A partir do início dos acordos de Oslo, em 1993, tem havido toda uma indústria que opera no sentido de reunir israelenses e palestinos nestes grupos de "diálogo". A finalidade declarada de tais grupos é a criação de entendimento entre "ambos os lados conflito", a fim de "construir pontes" e "ultrapassar barreiras". Contudo, a suposição de que tais actividades ajudarão a facilitar a paz não é não só incorrecta como realmente carente de moral.

A presunção de que o diálogo é necessário a fim de alcançar a paz ignora completamente o contexto histórico da situação na Palestina. Ela assume que ambos os lados cometeram uma quantidade mais ou menos igual de atrocidades um contra o outro e que são igualmente culpáveis pelos erros que foram cometido. É assumido que nenhum lado está completamente certo ou completamente errado, mas que ambos têm direitos legítimos que deveriam ser tratados e certos pontos mortos que devem ser ultrapassados. Portanto, ambos os lados devem ouvir o ponto de vista do "outro" a fim de promover o entendimento e a comunicação, os quais presumivelmente levariam à "coexistência" ou a "reconciliação".

Tal abordagem é considerada "equilibrada" ou "moderada", como se isto fosse uma coisa boa. Contudo, a realidade no terreno é imensamente diferente do que a visão "moderada" deste assim chamado "conflito". Mesmo a palavra "conflito" é enganosa, pois ela implica uma disputa entre duas partes simétricas. A realidade não é assim; não se trata de um caso de simples falta de entendimento ou de ódio mútuo que se atravessa no caminho da paz. O contexto da situação em Israel/Palestina é de colonialismo, apartheid e racismo, uma situação na qual há um opressor e um oprimido, um colonizador e um colonizado.

Em casos de colonialismo e apartheid, a história mostra que regimes coloniais não abandonam o poder sem luta e resistência popular, ou pressão internacional directa. É uma visão particularmente ingénua assumir que a persuasão e a "conversação" convencerão um sistema opressor a renunciar ao seu poder.

O regime do apartheid na África do Sul, por exemplo, foi finalizado após anos de luta com a ajuda vital de uma campanha internacional de sanções, desinvestimentos e boicotes. Se alguém houvesse sugerido aos oprimidos sul-africanos que viviam nos bantustões a tentar e entender o ponto de vista do outro (isto é, dos partidários da supremacia branca), as pessoas teria rido de uma noção tão ridícula. Analogamente, durante a luta indiana pela emancipação do domínio colonial britânico, Mahatma Gandhi não teria sido venerado como um combatente pela justiça se houvesse renunciado à satyagraha – "ater-se firmemente à verdade", a sua expressão para o movimento de resistência não violenta – e ao invés disso houvesse advogado em favor do diálogo com os ocupantes colonialistas britânicos a fim de entender o seu lado da história.

Entretanto, é verdade que alguns sul-africanos brancos tomaram posição de solidariedade com os negros oprimidos e participaram na luta contra o apartheid. E havia, certamente, alguns britânicos dissidentes das políticas coloniais do seu governo. Mas aqueles apoiantes posicionaram-se explicitamente ao lado dos oprimidos com o objectivo claro de acabar com a opressão, de combater as injustiças perpetradas pelos seus governos e representantes. Qualquer reunião conjunta de ambas as partes, portanto, só pode ser moralmente sã quando os cidadãos do estado opressivo posicionam-se em solidariedade aos membros do grupo oprimido, não sob a bandeira do "diálogo" com o objectivo de "entender o outro lado da história". O diálogo só é aceitável quando efectuado a fim de entender o problema do oprimido, não no contexto de "ouvir ambos os lados".

Entretanto, tem sido argumentado pelos proponentes palestinos destes grupos de diálogo que tais actividades podem ser utilizados como uma ferramenta – não para promover o assim chamado "entendimento" – mas para realmente ganhar israelenses para luta palestina pela justiça, persuadindo-os ou "tendo eles de reconhecer a nossa humanidade".

Contudo, esta concepção também é ingénua. Infelizmente, a maior parte dos israelenses caiu vítima da propaganda com que o establishment sionista e os seus muitos instrumentos os alimentam desde tenra idade. Além disso, exigirá um esforço enorme e concertado contrariar esta propaganda através da persuasão. A maior dos israelenses, por exemplo, não será convencida de que o seu governo atingiu um nível de criminalidade que justifique um apelo ao boicote. Mesmo que eles sejam convencidos logicamente das brutalidades da opressão israelense, provavelmente não será o suficiente para levá-los a qualquer forma de acção. Isto tem-se provado reiteradamente verdadeiro, o que é evidente no fracasso abjecto de tais grupos de diálogo para formarem qualquer movimento abrangente anti-ocupação desde os seus primórdios com o processo de Oslo. Na realidade, nada menos do que a pressão sustentada – não a persuasão – fará os israelenses perceberem que os direitos dos palestinos têm de ser rectificados. Esta é a lógica do movimento BDS, o qual é inteiramente oposto à falsa lógica do diálogo.

Com base num relatório não publicado de 2002 do Israel/Palestine Center for Research and Information, o San Francisco Chronicle informou em Outubro último que "entre 1993 e 2000 [apenas], governos e fundações ocidentais gastaram entre US$20 milhões e US$25 milhões nos grupos de diálogo". Um ulterior inquérito em grande escala a palestinos que participaram nos grupos de diálogo revelou que esta grande despesa falhou em produziu "um único activista da paz em qualquer dos lados". Isto confirma a crença entre palestinos de que todo o empreendimento é um desperdício de tempo e de dinheiro.

O inquérito também revelou que os participantes palestinos não eram plenamente representativos da sua sociedade. Muitos participantes tendiam a ser "filhos ou amigos de altos responsáveis palestinos ou das elites económicas. Apenas sete por cento dos participantes eram residentes em campos de refugiados, muito embora eles constituam 16 por cento da população palestina". O inquérito também descobriu que 91 por cento dos participantes palestinos já não mantinham laços com os israelenses com quem se encontraram. Além disso, 93 por cento não foram abordados com actividade de campo a seguir e apenas cinco por cento concordaram em que toda a experiência ajudou a "promover paz, cultura e diálogo entre participantes".

Apesar do inequívoco fracasso destes projectos de diálogo, continua a ser investido dinheiro neles. Como explicou Omar Barghouti, um dos membros fundados do movimento BDS na Palestina, em The Electronic Intifada, "houve demasiadas tentativas de diálogo desde 1993 ... tornou-se uma indústria – chamamo-la a indústria da paz".

Isto pode ser atribuído parcialmente a dois factores. O factor dominante é o papel utilizável de tais projectos em relações públicas. O Seeds of Peace, por exemplo, jacta-se da sua legitimidade apresentando um impressionante conjunto de endossos por parte de políticos e autoridades tais como Hillary Clinton, Bill Clinton, George Mitchell, Shimon Peres, George Bush, Colin Powell e Tony Blair, dentre outros. O segundo factor é a necessidade de certos "esquerdistas" e "liberais" israelenses sentirem como se estivessem a fazer alguma coisa admirável ao "questionarem-se", quando na realidade eles não tomam nenhum posicionamento significativo contra os crimes que o seu governo comete em seu nome. Os políticos e os governos ocidentais continuam a financiar tais projectos, promovendo dessa forma as suas imagens como apoiantes da "coexistência", e os "liberais" participantes israelenses podem isentar-se de qualquer culpa pela participação no nobre acto de "promover a paz". Um relacionamento simbiótico, muito insatisfatório.

A falta de resultados de tais iniciativos não é surpreendente, pois os objectivos declarados do diálogo e grupos de "coexistência" não incluem convencer israelenses a ajudar palestinos a ganharem o respeito dos seus direitos inalienáveis. A exigência mínima de reconhecer a natureza inerentemente opressiva de Israel está ausente nestes grupos de diálogo. Ao invés disso, estas organizações operam sob a dúbia suposição de que o "conflito" é muito complexo e multifacetado, onde há "dois lados em toda história" e que cada narrativa tem certas afirmações válidas assim como dúbias.

Quando o apelo autorizado Campanha Palestina pelo Boicote Académico e Cultural de Israel faz o seu caminho, quaisquer actividades conjuntas palestino-israelenses – quer sejam projecções de filmes ou campos de Verão – pode ser aceitável só quando o seu objectivo declarado for finalizar, protestar e/ou despertar a consciência quanto à opressão dos palestinos.

Qualquer israelense que procure interagir com palestinos, com o objectivo claro de solidariedade e de ajudá-los a acabar com a opressão, será saudado de braços abertos. Mas deve haver cautela, contudo, quando são feitos convites para participar num diálogo entre "ambos os lados" do assim chamado "conflito". Qualquer apelo a um discursos "equilibrado" sobre esta questão – onde o lema "há dois lados em toda história" é reverenciado quase religiosamente – é intelectualmente e moralmente desonesto pois ignora o facto de que, quando se trata de casos de colonialismo, apartheid e opressão não tal coisa como "equilíbrio". A sociedade opressora, de modo geral, não renunciará aos seus privilégios sem pressão. É por isso que a campanha BDS é um importante instrumento de mudança.


[*] Estudante palestino da Cisjordânia, a fazer o segundo ano da universidade nos Estados Unidos

O original encontra-se em http://electronicintifada.net/v2/article10722.shtml

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

O Financiamento dos Talibãs Afegãos


Quem está a financiar os inimigos da América? Nem queiram saber
Jean MacKenzie
Como se não bastasse os crescentes desaires dos EUA e das forças da NATO na guerra do Afeganistão, descobrem agora que são eles os principais financiadores das forças que os estão a derrotar. E quanto mais investirem mais financiam o inimigo…



Jean MacKenzie* - Odiario.info

É um segredo a descoberto, de que ninguém quer falar, uma verdade incómoda que muitos preferem esconder. No Afeganistão, uma das fontes mais abundantes do financiamento dos talibãs é a ajuda estrangeira que entra no país.

Na prática, todos os grandes projectos incluem uma parte substancial para os insurrectos. Quer lhe chamem dinheiro para protecção, quer lhe chamem extorsão, ou, como os talibãs preferem chamar-lhe, “despojos de guerra”, o que é um facto é que os doadores internacionais, em especial os Estados Unidos, estão a financiar os seus próprios inimigos em grande escala.

«Toda a gente sabe o que se está a passar», disse um funcionário da embaixada americana, em privado.

É quase impossível determinar quanto é que os insurrectos estão a gastar, tornando difícil detectar as origens dos financiamentos.

Mullah Abdul Salaam Zaeef, antigo ministro talibã no Paquistão, foi com certeza mais do que ingénuo quando disse ao GlobalPost que os militantes funcionavam quase do ar:
«Os talibãs não têm grandes despesas», disse ele sorrindo levemente. «Andam descalços e famintos, sem telhado onde se abriguem e com uma pedra por almofada». Quanto às armas, encolheu os ombros. “O Afeganistão está cheio de espingardas” disse. «Temos espingardas que cheguem para anos».

Claro que a realidade é muito diferente. Os militantes recrutam combatentes locais, pagando-lhes. Deslocam-se nos seus tradicionais 4x4, têm que alimentar as tropas, pagam os transportes e o tratamento dos feridos e, evidentemente, têm que comprar foguetes, granadas e as suas queridas Kalashnikovs.

Até há pouco tempo, a maioria dos entendidos julgava que era o dinheiro da droga que financiava os talibãs. Mas mesmo assim, as opiniões dividiam-se quanto às quantias reais. Alguns relatórios calculavam a receita total anual em cerca de 100 milhões de dólares, enquanto outros elevavam esse número até aos 300 milhões – mesmo assim, uma pequena fracção dos 4 mil milhões de dólares da indústria do ópio.

Agora, os funcionários da administração desencadearam uma investigação quanto aos patrocinadores dos talibãs. Richard Holbroke, enviado especial americano no Afeganistão e no Paquistão, disse no passado mês numa conferência de imprensa em Islamabad que a droga contribuía para os cofres dos talibãs numa quota menor do que se julgava anteriormente.

«No passado havia um certo sentimento de que o dinheiro era proveniente da droga no Afeganistão», disse Holbrooke, segundo as notícias dos meios de comunicação. «Mas isso não corresponde à verdade».

O actual sentimento é de que o ópio contribui com menos de metade do dinheiro para a guerra, e que há uma série de fontes, incluindo contribuições privadas de Estados do Golfo Pérsico, que constituem a sua maior parte. Holbrooke disse aos repórteres que ia acrescentar à sua equipa um membro do Departamento do Tesouro para averiguar a questão do financiamento aos talibãs.

Mas, porventura, os funcionários americanos não precisam de procurar mais longe do que no seu próprio quintal.

Aumentam os indícios esporádicos de que os talibãs estão a arrecadar uma parte substancial do dinheiro da ajuda que chega ao Afeganistão, vindo do exterior.

Isso ultrapassa o mero dinheiro de protecção ou extorsão de «impostos» a nível local – efectuam-se negociações a alto nível entre os talibãs e os principais construtores, segundo fontes próximas do processo.

Um escritório sombrio em Cabul alberga o funcionário talibã de contratos, que examina propostas e negoceia percentagens com hierarquias organizativas. Não falará, nem sequer se encontrará com um jornalista, mas fontes que falaram com ele e que viram documentos dizem que o processo é bastante profissional.

O gerente de uma empresa afegã com lucrativos contratos de construção com o governo dos EUA inclui no mínimo 20 por cento para os talibãs nas suas estimativas de custos. O gerente, que não fala abertamente, disse em privado a amigos seus que faz cerca de 1 milhão de dólares por mês. Nesta quantia, há 200.000 dólares que estão a ser canalizados para os insurrectos.

Se as negociações não chegarem a bom termo, o projecto vai encontrar problemas – os trabalhadores de estradas podem ser atacados ou mortos, podem ir pontes pelo ar, podem ser assassinados engenheiros.

É surpreendente o grau de cooperação e de coordenação entre os talibãs e os trabalhadores de ajuda, o que deverá fazer com que os financiadores se sintam extremamente desconfortáveis.

Um empreiteiro afegão, falando em privado, contou a amigos um projecto que estava a dirigir no sul instável. Não se pode referir qual é a província, nem qual o projecto em causa.

«Eu estava a construir uma ponte», disse ele numa noite, depois de umas bebidas. «O comandante talibã local mandou-me chamar e disse “não construa uma ponte ali, vamos ter que fazê-la ir pelos ares”. Pedi-lhe que me deixasse acabar a ponte, receber o dinheiro – depois podiam fazê-la ir pelos ares quando lhes apetecesse. Chegámos a acordo e eu terminei o meu projecto».

No sul, não se pode implementar nenhum contrato sem que os talibãs recebam uma parte, por vezes em diversas fases durante o seu percurso.

Um empreiteiro na província sul de Helmand estava a negociar com um fornecedor local um fornecimento enorme de tubagens. Os tubos tinham que ser trazidos do Paquistão, portanto o fornecedor acrescentou cerca de 30 por cento a mais para os talibãs, para garantir que os tubos chegavam a Lashkar Gah sãos e salvos.

Logo que os tubos foram entregues ao empreiteiro, este teve que negociar outra vez com os talibãs para levar os tubos para o local do projecto. Também isso foi acrescentado aos custos de transporte.

«Sabemos que a nossa gente anda a pagar aos talibãs», disse o empreiteiro estrangeiro encarregado do projecto.

Na província de Farah, funcionários locais relatam que os talibãs estão a apoderar-se de 40 por cento do dinheiro que entra para o Programa de Solidariedade Nacional, um dos projectos de reconstrução comunitária de maior êxito no país, que já gastou centenas de milhões de dólares no país nos últimos seis anos.

Muitos afegãos não acham mal que os militantes obtenham o seu quinhão da ajuda externa.

«É dinheiro internacional» disse um jovem residente em Cabul. «Não estão a roubar o povo, estão a sacá-lo ao inimigo».

Mas em áreas sob o controlo dos talibãs, os insurrectos também estão a extorquir dinheiro ao povo.

Em Helman, devastada pela guerra, onde grande parte da província tem estado sob controlo dos talibãs nos últimos dois anos, os residentes lamentam-se por causa das tarifas.

«É um desastre», disse um residente de 50 anos do distrito de Marja. «Temos que lhes dar dois quilos de pasta de ópio por jerib durante a colheita; depois temos que lhes pagar o ushr (um imposto islâmico, correspondente a um décimo da colheita) do nosso trigo. Depois insistiram no zakat (décima islâmica). Agora apareceram com mais uma coisa: 12.000 rupias paquistanesas (cerca de150 dólares) por família. E não aceitam nem uma rupia a menos».

Tudo isto ajuda, evidentemente. Mas as coisas são relativas: se os talibãs conseguem reunir e gastar, digamos, mil milhões de dólares por ano – o limite máximo que as pessoas se atrevem a calcular – isso corresponde ao que os Estados Unidos estão actualmente a gastar em 10 dias de guerra para os derrotar.

* Jean MacKenzie é correspondente de Global Post no Afeganistão


Este texto foi originalmente publicado em Global Post no dia 7 de Agosto passado (http://www.globalpost.com/dispatch/taliban/funding-the-taliban) e divulgado pela Reuters no dia 13 de Agosto (http://blogs.reuters.com/global/2009/08/13/who-is-funding-the-afghan-taliban-you-dont-want-to-know/)

Tradução de Margarida Ferreira

A midia de esgoto perde o rumo mais uma vez....

Tiro pela culatra: o papelão de Waldvogel e o fiasco da Globo

A jornalista Monica Waldvogel protagonizou um dos maiores papelões da grande mídia nos últimos tempos. Para discutir, nesta terça-feira (25), a "crise da Receita", ela reuniu no programa Entre Aspas, da Globonews, um trio de entrevistados que estava simplesmente na contramão do script golpista da emissora. Eram eles o ex-secretário da Receita Federal (no governo FHC), Everardo Maciel, o presidente do SindiReceita, Paulo Antenor, e um advogado tributarista.

Waldvogel iniciou o programa com uma leitura apocalíptica sobre o "aparelhamento da Receita" pelo governo Lula, mostrando Lina Vieira como uma “vítima” de interesses poderosos (Sarney, Petrobras, etc.). Todas as teses da introdução de Waldvogel foram, no entanto, rejeitadas e rebatidas pelos participantes do programa. Segundo eles, o aparelhamento foi feito, na verdade, pela própria Lina Vieira.

Para o jornalista Luis Nassif, o comentário inicial de Waldvogel foi "vergonhoso, antijornalístico e desonesto", “a Globonews perdeu o rumo”, e a apresentadora “desrespeita os telespectadores ao antecipar conclusões falsas”. Ao final do programa, constrangida, a jornalista ainda perguntou: “Mas então houve uma manipulação da opinião pública?”. Os três entrevistados concordam.

Veja abaixo a íntegra do programa.



Leia abaixo o texto de Luis Nassif, publicado em seu blog

O comentário inicial lido por Mônica Waldvogel é vergonhoso, antijornalístico, desonesto, porque desmentido ao longo de todo o programa pelos três entrevistados convidados. A Globonews perdeu o rumo.

Os três convidados são unânimes em afirmar que politização ocorreu na fase de Lina Vieira, não agora. Mônica atropela as conclusões da mesa redonda, desrespeita os telespectadores ao antecipar conclusões falsas. Principalmente sabendo-se que a abertura sempre é feita após o programa, com base nas conclusões levantadas.

Paulo Antenor, presidente do SindiReceita, sindicato dos Analistas-Tributários da Receita Federal, denuncia o aparelhamento da Receita… por Lina. Mostra que o pedido de demissão coletiva dos antigos superintendentes foi apenas uma antecipação para demissões que ocorreriam. O advogado tributarista nega crise na Receita. Disse que está mais preocupado com as taxas de juros dos bancos e temas mais relevantes.

Mônica tenta se socorrer do ex-Secretário da Receita Everardo Maciel, da gestão FHC, pedindo que confirme a politização. Everardo diz que a politização ocorreu com Lina e que agora não há ingerência política, porque é atribuição do Ministro definir o Secretário.

Depois disso tudo, Mônica volta ao papo de que Mantega estaria pressionando para não apertar os grandes contribuintes. Os entrevistados negam. Everardo mostra que esse foco nos grandes contribuintes começou em sua gestão. Mônica diz que houve aumento na arrecadação dos grandes contribuintes na gestão Lina. Everardo desmonta com números.

Mônica vem com a história da opção do regime de caixa pela Petrobras foi manipulação. Everardo é incisivo: a Petrobras está certa. O factóide criado foi para justificar a queda da arrecadação na gestão Lina - embora admita que a queda tem muitos outros fatores deflagradores, entre os quais a crise.

Mônica: se fosse tão clara a possibilidade de mudar o regime no meio do ano, não haveria essa controvérsia.

Everardo: a regra é clara e foi feita em 1999 justamente para enfrentar o problema da desvalorização cambial.

Mônica: mas até agora a Receita está para soltar um parecer.

Everardo e os demais: já foi feito, concordando com a Petrobras. Essa prática existe há muito tempo, não existe qualquer ilegalidade ou manobra contábil.

Mônica, balbuciando: a lei foi feita. Houve então uma manipulação da opinião pública?

Todos concordam com a cabeça.

Aí ela deriva a entrevista para o caso Sarney, perguntando se é legítimo pressionar a Receita para abrandar a fiscalização.

O presidente do Sindicato disse que é impossível essa pressão, que nunca essa informação correu na Receita. Disse que sempre trabalhou próximo à chefia da Receita, tanto no governo FHC e Lula, e nunca viu esse procedimento. O chefe da Receita conversa com políticos todos os dias. Mas esse tipo de ingerência é novidade para a gente.

Everardo disse que se ocorreu, o momento certo seria na época em que foi feita. Se não fez, cometeu prevaricação.

Conclusão final dos três entrevistados: Lina foi um desastre para a imagem da Receita e caberá a todos os funcionários trabalharem para o resgate de sua imagem.

Assista o programa e depois volte à abertura.

PS - O programa é ao vivo. Então na abertura Mônica definiu conclusões que não foram avalizadas, posteriormente, pelos entrevistados.

Créditos: www.vermelho.org.br

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Partido Pirata: novos ventos na política

Como o Partido Verde no mundo, invenção recente que assumiu muitas vezes o foco das luzes de batalhas políticas de relevância, a idéia do Partido Pirata alastra-se e promete uma revoravolta em velhas práticas não mais compatíveis com as modernas tecnologias e os avanços das liberdades sociais ameaçadas por políticas fascistas.



Chico Villela - NovaE

Do norte da Europa chegam ventos amenos que indicam uma boa nova política para arejar os mais que pestilentos ares de democracias que se afundam a cada dia mais em medidas de “segurança” que implicam violação de privacidade, controle da vida dos cidadãos, restrições crescentes ao livre pensar e ao livre manifestar-se, e fatos similares, num alastramento de sistemas repressivos que avançam no mundo a partir da gestão fascista do regime Cheney-Bush, iniciada em 2001, e sua empulhação de “guerra global ao terror”. Nascido na Suécia em 2006, o Partido Pirata (PP) vem ganhando adeptos que organizam seções em todo o mundo. Assume o nome pelo qual os detentores de “patentes e direitos” chamam os que resistem ao avanço da sua dominação: piratas.

Um exemplo interessante de possível campo de ação dos PPs é o dos ‘organismos geneticamente modificados’, os OGM. Considere-se a Monsanto e suas sementes resistentes a determinado herbicida que mata as pragas, mas não as afeta. Uma semente que se planta hoje, de culturas como trigo, arroz, soja, milho etc., é resultado de milênios de aperfeiçoamento. De milho, os incas usavam mais de 50 tipos, de todas as cores e tamanhos.

A agricultura tem algo como 10 mil anos de história. Foi a partir da criação e do desenvolvimento de plantio e estocagem de alimentos que o homem pôde enfim abandonar a vida nômade baseada na caça e na coleta e fixar-se num território, o que origina a suprema criação humana, a cidade, e propicia a invenção de controles e mecanismos de administração dos alimentos e bens coletivos e particulares, mais tarde um dos pilares de outra invenção determinante, a escrita. Foi a partir da agricultura também que se desenvolveu o conhecimento do tempo e do clima, que nasceu e cresceu imbricado com o conhecimento dos céus e suas peculiaridades.

Ao longo da história humana, incontáveis centenas de milhões de agricultores ensaiaram e corrigiram solos e frutos, para legar ao homem contemporâneo as sementes que o nutrem. Mas múltis como a Monsanto não pensam assim: apropriam-se de uma semente propriedade da humanidade, modificam um minúsculo ponto em sua cadeia genética e se proclamam donas da semente modificada, e passam assim a cobrar bilhões de dólares dos que produzem alimentos em todo o planeta; no Brasil citam-se cifras ao redor de US$ 300 milhões.

Os PPs firmam posição contra essa posse desautorizada: são contrários a patentes de seres e entes vivos, como as sementes, da mesma forma que se opõem à posse privada de mudanças genéticas, objeto hoje de extensas pesquisas em muitos países. Como o ar é, e a água deverá ser um dia, as sementes e os recursos genéticos são patrimônio de todos, e não devem ser sujeitos a posse privada.

Os PPs adotam posição flexível sobre o uso particular de obras que circulam na rede. O movimento pela criação do PP de Portugal publicou em seu site em junho de 2009 notas sobre um estudo da Harvard Business School de downloads de músicas e suas conseqüências para autores e mercados. Os resultados da pesquisa conduzida por dois economistas, Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf desmentem os que anunciam danos aos detentores de direitos. Focou-se a avaliação do “impacto da troca de ficheiros [arquivos] no mundo contemporâneo”, e concluiu-se que, “mesmo com o download ilegal, a produção musical mais do que duplicou nos últimos sete anos”.

Alguns destaques do texto citado: “Embora a venda de discos tenha caído desde 2000, o número de álbuns criados aumentou bastante. Se em 2000 foram lançados 35,5 mil discos, em 2007 esse número saltou para os 79,6 mil, onde se incluem 25,1 mil álbuns digitais. Procurando desmistificar os prejuízos económicos causados pela da troca de ficheiros protegidos por direitos de autor, o estudo, citado pela IDG News, sugere, por exemplo, que o download de músicas não representa necessariamente uma venda perdida e que os remixes e os mashups podem incentivar a venda dos temas originais.

Os autores sugerem ainda que a partilha de ficheiros pode representar uma perda de receita de início, mas é compensada por outros factores. Os economistas da Harvard Business School apresentam como exemplo o aumento da procura por espectáculos ao vivo, assim como a subida do preço dos mesmos. Perante os dados reunidos, Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf concluem que o maior acesso do público às músicas e “uma protecção menos vincada dos direitos de autor, aparentemente, beneficiaram a sociedade”. Tal faz com que a violação dos direitos de autor seja ‘ambiguamente desejável’, desde que não impeça a produção de novos trabalhos por parte dos artistas e empresas de entretenimento.”

O pioneiro PiratPartiet sueco (http://www.piratpartiet.se/international/english), fundado em 2006, conseguiu eleger um membro ao Parlamento Europeu, com 7,1% dos votos do país, percentual mínimo que habilita o partido a ocupar uma das 16 cadeiras a que a Suécia tem direito. Prega reforma da lei de copyright, um novo projeto de patentes com severas restrições ao domínio aberto de empresas que operam pesquisas muitas vezes financiadas por governos, especialmente de produtos farmacêuticos, defende o direito à privacidade e a trocas e compartilhamento. A íntegra da declaração de princípios acha-se disponível em http://docs.piratpartiet.se/Principles%203.2.pdf.

O movimento cresceu após a multa de cerca de 3 milhões de euros estabelecida pela justiça contra os criadores do site pirata sueco The Pirate Bay, maior site de compartilhamento da rede até então. Os beneficiários foram múltis do ramo, entre elas Warner Bros, Sony Music, EMI e Columbia Pictures. A entidade ‘Partido Pirata Internacional’, com site em construção disponível em inglês em http://www.pp-international.net/, lista os links de partidos e movimentos em 32 países, além de noticiário variado, fóruns de discussão, etc.

O link do PP do Brasil é http://www.partido-pirata.org/. O site apresenta os princípios que baseiam sua ação e uma lista de perguntas e respostas de esclarecimento. Em ‘Quem somos’, lê-se:

O Partido Pirata é um movimento que surgiu no Brasil no final de 2007 a partir da rede Internacional de Partidos Piratas [a mesma citada acima], organização pela defesa ao acesso à informação, o compartilhamento do conhecimento, a transparência na gestão pública e a privacidade - direitos fundamentais que são ameaçados constantemente pelos governos e corporações para controlar e monitorar os cidadãos. Não acreditamos na "propriedade intelectual" e entendemos que sua defesa no âmbito digital implica o controle dos cidadãos e a supressão dos direitos civis e liberdades individuais fundamentais. O Partido Pirata do Brasil defende ainda a inclusão digital, o uso de softwares livres e a construção de políticas públicas de forma efetivamente participativa e colaborativa.” O PP brasileiro defende também a inclusão digital e a transparência dos atos públicos, o que o aproxima de outros movimentos pela ética na administração pública e na política.

Uma das conseqüências da ampliação dos PPs pelo mundo é a colocação na mesa de debates de temas como direitos de propriedade e de autoria e seus desdobramentos. Há tendência à revisão de regras, algumas seculares, que disciplinam a matéria. Em alguns países não se considera pirataria a cópia não autorizada de uma obra para usufruto individual, sem intuito de comercialização ou lucro. Um paralelo pode ser traçado com outro alvo de medidas de repressão, as drogas. Em dezenas de países já se permite o consumo individual de algumas drogas e a sua posse em quantidades limitadas. No Brasil, a questão patina, sem que governos, políticos ou organizações civis tenham coragem de abrir o debate e propor avanços.

O último país a relaxar as antes rigorosas proibições contra drogas foi o México, que se acha há três anos em guerra contra traficantes de peso em que morreram mais de 7 mil pessoas. Na sexta passada, dia 21 de agosto, o governo aprovou lei que descriminaliza a posse de até 5 g de maconha, 500 mg de cocaína, 50 mg de heroína, 40 mg de metanfetaminas e 0,015 mg de LSD. O intuito é evitar a corrupção da cobrança de propinas para liberação de presos por porte e uso dessas drogas e permitir maior concentração das ações no combate aos grandes traficantes.

Mas a maior contribuição que os PPs poderão trazer talvez se situe na esfera da definição mais adequada aos tempos atuais dos direitos de patentes, em especial patentes da órbita da internet e algumas de uso mundial, e à reposição do debate sobre outras já consagradas e até aqui não questionadas. Um exemplo foi fornecido com a questão dos OGM, que implicam patentes sobre mínimas alterações em seres e entes vivos existentes há milhares, ou milhões, de anos. Outro campo promissor para alterações e novas propostas é o dos direitos intelectuais sobre obras. O ponto de partida é muito próximo ao do debate sobre patentes de seres e entes vivos: até que ponto uma obra técnica ou pedagógica para uso em educação, por exemplo, não incorpora conhecimentos acumulados por milhares de anos? Qual é a real contribuição do autor, se o tema é amplamente conhecido e de domínio público? A forma particular de organização do conhecimento coletivo num livro ou outra forma de registro autoriza o autor a direitos exclusivos?

São bastante amplas as perspectivas de crescimento e presença dos PPs na vida política de muitos países. Isso ocorre apesar da maciça resistência das empresas que detêm direitos e patentes sobre as obras e tecnologias que vêm sendo objeto de discussão pelos PPs. Um fato que vem atraindo atenção é a rapidez com que a idéia se consolida. O Pirate Party do Reino Unido (http://www.pirateparty.org.uk/) recebeu centenas de adesões (adultos, 10 libras, jovens, 2 libras) em questão de poucas horas no primeiro dia em que se noticiou sua abertura. O curioso é que o seu surgimento coincide com uma ameaça do governo de punição com multas de até 50 mil libras (mais de 150 mil reais) e bloqueio do acesso à rede aos cerca de 7 milhões de usuários que baixam obras ‘ilegalmente’ na internet.

Alguns analistas vêm mesmo comparando o surgimento dos PPs ao erguimento do recente e hoje sólido movimento ambientalista e seus PVs, que, em alguns países, ocupam cargos de primeiro nível e motivaram a reforma do Estado com a criação de órgãos e ministérios e uma detalhada legislação voltados ao tema. Mas, se o foco dos PVs é quase exclusivamente o ambiente, o raio de ação dos PPS pode abrir-se a campos bastante mais amplos.

Um exemplo é o Pirate-Party dos EUA, http://www.pirate-party.us/, em formação, que apresenta plataforma com alguns candentes temas políticos, como rejeição do conceito de pirataria online; imprensa livre, com respeito às normas constitucionais, extinção da recente parcela pertinente da legislação de caráter fascista da Lei Patriota de 2001 do regime Cheney-Bush, e limitação das dimensões da grande imprensa; respeito à absoluta transparência nos atos de governo e acesso dos cidadãos ao seu conhecimento; direito à privacidade (reivindicação explosiva, dada a permanente invasão da privacidade de milhões de cidadãos por agências governamentais que agem secretamente e ao desamparo da lei, a partir de 2001, e que continua no governo BHObama).

Outro exemplo é o Piratenpartei alemão, http://www.piratenpartei.de/, que participará das eleições de 27 de setembro para o Bundestag (parlamento). Pesquisas indicam que o novo concorrente poderá amealhar até inesperados 11% dos votos. Entre suas propostas situam-se a defesa da privacidade e da liberdade de circulação do conhecimento humano e a alteração de muitos pontos de sua lei de patentes, extinção das patentes de software, pontos comuns a todos os PPs. Mas o Piraten-Partei também defende a educação pública gratuita em todos os níveis e a transparência dos atos da administração pública, o que o aproxima de eficazes movimentos sociais dos dias de hoje. O PirateParty canadense http://www.pirateparty.ca/ ecoa essa plataforma em seus princípios em cinco pontos: reforma do copyright, mais respeito à privacidade, reforma do sistema de patentes, neutralidade na rede, e governo transparente.

Além do Brasil, só Chile (http://www.partidopirata.cl/) e Argentina (http://partido-pirata.blogspot.com/) contam com o movimento pelo PP na América Latina. Ambos os sites trazem manifestos de princípios extensos e elaborados. Pelo Peru, apresenta-se o movimento Estudantes pela Cultura Livre, que abrange algumas dezenas de universidades euamericanas e um ideário com alguns pontos em comum com os PPs. O ‘correspondente’ peruano é dirigido pela ‘Comissão para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação’, de 2003, com representantes de governo, universidades estrangeiras e iniciativa privada, que tem por meta a criação de um plano de atividades para o Peru. Os peruanos têm direito a dois assentos na comissão, com dezenas de membros.

Pela aparência, os EUA e seus “movimentos de estudantes” que propagam sua ideologia já se interessaram pelo PP tipo exportação, e o Peru é alvo fácil, o que mostra que, mesmo sendo tão recente, o interesse pelos PPs já chegou ao Departamento de Estado. Pelo menos, é um sinal da sua relevância.

Crise econômica global:

China mostra sua força

As exportações chinesas abriram uma ligeira dianteira em relação às da Alemanha no primeiro semestre deste ano, segundo novos dados divulgados ontem, em mais uma indicação de que a posição da Alemanha, de principal país exportador do mundo, está ameaçada. Japão é beneficiado pelo vigor chinês.

A China exportou mercadorias em valor equivalente a US$ 521,7 bilhões no primeiro semestre do ano, enquanto o total da Alemanha foi US$ 521,6 bilhões, conforme anunciou a Organização Mundial do Comércio (OMC), com sede em Genebra. Estes números de exportação são acompanhados de perto na Alemanha, a maior economia da Europa, que terá eleições nacionais no próximo mês.

As vendas dos seus produtos industriais têm impulsionado em grande parte o crescimento econômico nos últimos anos e, durante toda a crise econômica, o governo da premiê conservadora Angela Merkel tem defendido firmemente o modelo econômico do país, voltado às exportações.

A Alemanha há muito tempo vem se preparando para que a economia chinesa, de crescimento muito mais acelerado, assuma o seu título de “campeã mundial de exportações”. O valor provável das exportações alemãs e chinesas para o ano cheio continua, porém, incerto e dependerá decisivamente das oscilações das taxas de câmbio nos próximos meses.

Euro forte

Um euro forte poderia ajudar a reduzir as vendas da Alemanha. Os setores exportadores do país mostraram sinais de recuperação nos meses recentes. “Está apertado demais para podermos extrapolar para o ano todo e, quem dirá, para o próximo ano”, afirmou Patrick Low, economista-chefe da OMC.

As exportações alemãs foram duramente abaladas pela queda na confiança mundial que se seguiu à derrocada do banco de investimentos americano Lehman Brothers, no ano passado. Mas surgiram sólidos sinais de uma sólida retomada no crescimento. Em junho, mês mais recente para o qual há dados disponíveis, as exportações alemãs deram um salto de 7% na comparação com o mês anterior.

Apesar disso, elas ainda ficaram 22,3% abaixo do nível do ano anterior. As exportações chinesas seguiram um padrão semelhante. O aumento repentino nas exportações ajudou a explicar porque a Alemanha conseguiu registrar um aumento no PIB no segundo trimestre, na comparação com o trimestre anterior - dando a entender que o país teria saído da recessão antes dos EUA, Reino Unido e da maioria das demais grandes economias da UE.

Por sua vez, a recuperação na Alemanha está ajudando a elevar o desempenho global da zona do euro. As encomendas à indústria na zona do euro dispararam, numa alta de 3,1% em junho, na comparação com o mês anterior (leia texto ao lado), segundo dados da Eurostat, a agência oficial de estatísticas da União Europeia.

Cautela

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, disse que a economia de seu país “ainda enfrenta muitas novas dificuldades e problemas” e que o governo manterá suas políticas de estímulo uma vez que recuperação ainda carece de bases sólidas. Wen disse que apesar de melhoras nas condições da economia chinesa, não se pode ser “cegamente otimista”.

As declarações foram feitas durante visita ao sul do país e veiculadas pelo site do gabinete do premiê. “Ainda há muitos fatores de instabilidade e de incerteza pela frente e a situação econômica futura é ainda muito grave, embora tanto a economia mundial quanto a economia nacional estejam passando por mudanças positivas neste momento.”

O premiê advertiu também que os efeitos de algumas das medidas do governo podem começar a perder força enquanto outras levarão algum tempo até apresentarem resultados. No comunicado do gabinete com as declarações de Wen não há mais detalhes dos problemas mencionados por ele.

A cautela do líder chinês contrasta com um otimismo crescente entre muitos analistas que dizem que a China está fazendo progressos impressionantes para deixar para trás os efeitos da crise. Muitos têm repetido que a China será a primeira grande economia a sair da maior retração mundial desde os anos 30.

Wen prometeu que Pequim continuará aplicando suas políticas para incrementar a demanda doméstica, ampliar o crédito e melhorar eficiência. O país está pondo em prática a um plano de estímulo de US$ 586 bilhões previsto para durar dois anos. O objetivo é injetar recursos do Estado na economia para estimular o consumo doméstico por meio de maiores gastos públicos em obras e ampliação de crédito.

Pacote

O Banco da Construção da China afirmou, no entanto, que há o excesso de recursos no sistema bancário está criando uma bolhas do mercado, o que deu asas a temores de que autoridades chinesas estejam preparando - ao contrário da promessa de Wen - um aperto no crédito.

“Há incerteza na economia e bolhas no mercado de capitais”, disse Guo Shuqing, presidente do banco, o segundo maior do país. “O sistema bancário chinês ainda tem excesso de liquidez.” No primeiro trimestre, bancos do país concederam um valor recorde de US$ 1,1 trilhão em novos empréstimos para ajudar a por em prática o pacote de estímulo do governo.

Foi o pacote que contribuiu para que a economia chinesa tivesse um crescimento de 7,9% no último trimestre - ante os 6,1% do trimestre anterior. O premiê e outras autoridades chinesas têm alertado, no entanto, que muitas empresas no país ainda registram resultados ruins e que outras áreas mostram que a fase de recuperação ainda não está bem fundada.

“A fundação da recuperação econômica não está estável, não está firme, não está equilibrada e certamente não podemos ser cegamente otimistas”, disse Wen. A meta de crescimento do governo para este ano é de 8%. Estimativas de analistas privados variam de 7% a 9,4%.

Japão


A demanda da China está contribuindo para tirar o Japão de sua mais grave recessão do pós-guerra, disse uma destacada economista do governo japonês. “Não há dúvida de que a recuperação econômica da China está contribuindo para uma reação no Japão e em outras economias da região”, disse Tomoko Hayashi, diretora para economias externas da Secretaria de Governo em Tóquio.

Indústrias, da Honda à Komatsu, se beneficiaram no trimestre passado com o pacote de incentivo econômico da China, de 4 trilhões de iuan (US$ 585 bilhões), o que ajudou a economia do Japão a crescer pela primeira vez em mais de um ano. As exportações para a China superaram as vendas para os Estados Unidos e fizeram com que o país se tornasse o maior mercado externo do Japão este ano.

O mercado chinês está compensando a fragilidade dos gastos do consumidor e das empresas no mercado japonês. A “recuperação [do Japão] seguirá dependendo muito da demanda externa e do pacotes de estímulo no segundo semestre de 2009 e início de 2010″, disse Tetsufumi Yamakawa, economista-chefe para Japão do Goldman Sachs.

Imóveis

Outro dado que mostra o vigor da China é que o país superou os EUA e o Reino Unido juntos em vendas de imóveis comerciais no primeiro semestre do ano, disse a empresa de pesquisa Real Capital Analytics, sediada em Nova York. As transações chinesas totalizaram US$ 31,2 bilhões, depois da disparada de vendas propiciada pelo boom de crédito patrocinado pelo governo chinês.

As vendas nos EUA somaram US$ 16,2 bilhões no primeiro semestre, segundo o relatório, e as do Reino Unido, US$ 13,7 bilhões. “Não há dúvida que de a China será um participante mais significativo no cenário mundial de transações de imóveis comerciais”, disse Dan Fasulo, diretor-executivo da Real Capital.

Cerca de US$ 62,8 bilhões em imóveis comerciais foram negociados mundialmente no segundo trimestre, 17% a mais que nos três meses anteriores, o que representa o primeiro aumento em 18 meses, disse a Real Capital.

Esse crescimento indica uma recuperação mundial. O total mundial de vendas no primeiro semestre foi de US$ 116,4 bilhões, 65% a menos que no mesmo período do ano passado e US$ 500 bilhões a menos que no pico no primeiro semestre de 2007. Espera-se que as vendas cresçam neste semestre.

Com agências e Valor Econômico, in www.vermelho.org.br