sábado, 5 de setembro de 2009

MST e as ações criminosas da revista Veja


Por Altamiro Borges

Os editores da revista Veja são de um cinismo depravado. Na edição desta semana, este panfleto da direita colonizada estampou mais uma capa com ataques ao MST. A manchete provocadora: “Abrimos o cofre do M$T”. A foto montagem: um boné da organização com dólares e reais. A chamada: “Como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra desvia dinheiro público e verbas estrangeiras para cometer seus crimes”. Na “reporcagem” interna, nenhuma entrevista com lideranças dos sem-terra e nenhuma visita às escolas e assentamentos produtivos do MST.

Como arapongas ilegais, ela se jacta de que “teve acesso às movimentações bancárias de quatro entidades ligadas aos sem-terra. Elas revelam como o governo e organizações internacionais acabam financiando as atividades criminosas do movimento”. As quatro entidades – Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca), Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária (Concrab), Centro de Formação e Pesquisas Contestado (Cepatec) e Instituto Técnico de Estudos Agrários e Cooperativismo (Itac) – “receberam 43 milhões de reais em convênios com o governo entre 2003 e 2007”, resmunga a revista da Editora Abril, que sempre saqueou os cofres públicos.

Uma “reporcagem” interesseira

O novo ataque ao MST não é gratuito. Ele ocorre poucos dias após a jornada nacional de luta por mais verbas para a reforma agrária e pela atualização dos índices de produtividade, usados como parâmetros legais para a desapropriação de terras. Diante da sinalização do governo Lula de que atenderia as justas reivindicações, a revista Veja resolveu sair em defesa dos latifundiários e dos barões do agronegócio. Não há nenhuma investigação jornalística sobre as premiadas iniciativas educativas e sociais do MST. Apenas opiniões preconceituosas para criminalizar o movimento. Seu objetivo é asfixiar financeiramente o MST, fragilizando a heróica luta pela reforma agrária.

Daí a “reporcagem” esbravejar, num tom fascistóide, que “o MST é movido por dinheiro, muito dinheiro, captado basicamente dos cofres públicos e junto às entidades internacionais. Ao ocupar ministérios, invadir fazendas, patrocinar um confronto com a polícia, o MST o faz com dinheiro de impostos pagos pelos brasileiros e com o auxílio de estrangeiros que não deveriam se imiscuir em assuntos do país”. A matéria também serve de palanque para o tucano José Serra. “Aliados históricos do PT, os sem-terra encontraram no governo Lula uma fonte inesgotável de recursos para subsidiar suas atividades”. E ainda estimula intrigas. “O governo Lula agora experimenta o gosto da chantagem de uma organização bandida que cresceu sob seus auspícios”.

Resposta corajosa do MST

O MST já respondeu com altivez às provocações. “Não há nenhuma novidade na postura política e ideológica desses veículos, que fazem parte da classe dominante e defendem os interesses do capital financeiro, dos bancos, do agronegócio e do latifúndio, virando de costas para os problemas estruturais da sociedade e para as dificuldades do povo brasileiro. Desesperados, tentam requentar velhas teses de que o movimento vive à custa de dinheiro público. Aliás, esses ataques vêm justamente de empresas que vivem de propaganda e de recursos públicos ou que são suspeitas de benefícios em licitações do governo de São Paulo, como a Editora Abril”.

Quanto aos ataques, a nota é elucidativa. “Em relação às entidades que atuam nos assentamentos de reforma agrária, que são centenas trabalhando em todo o país, defendemos a legitimidade dos convênios com os governos federal e estaduais e acreditamos na lisura do trabalho realizado. Essas entidades estão devidamente habilitadas nos órgãos públicos, são fiscalizadas e, inclusive, sofrem perseguições políticas do TCU (Tribunal de Contas da União), controlado atualmente por filiados do PSDB e DEM. Elas desenvolvem projetos de assistência técnica, alfabetização de adultos, capacitação, educação e saúde em assentamentos rurais, que são um direito dos assentados e um dever do Estado, de acordo com a Constituição”.

Um negócio de 719 milhões de reais

Em mais este ataque colérico, a revista Veja prova que é imoral e cínica. Tudo que publica serve a objetivos políticos precisos, mas embalados na manipulação jornalística. De fato, muita coisa precisa ser investigada no país. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a mídia tornou-se uma urgência. No caso da Editora Abril, que condena o “auxílio de estrangeiros que se imiscuem em assuntos do país”, seria útil averiguar sua própria origem, quando o empresário estadunidense Victor Civita se mudou para São Paulo, em 1949, trazendo na bagagem um sinistro acordo com a Disney. Não é para menos que muitos o acusaram de “agente do império” e de servidor da CIA.

Quanto aos recursos públicos, seria necessário apurar as compras milionárias do governo tucano de José Serra das publicações da Abril. O Ministério Público Federal inclusive já abriu processo para investigar o caso suspeito. No embalo, poderia averiguar as recentes denúncias do jornalista Carlos Lopes, editor do jornal Hora do Povo. No artigo intitulado “O assalto do grupo Abril aos cofres públicos na venda de livros do MEC”, com base em dados do Portal da Transparência, ele mostra que “nos últimos cinco anos, o Ministério da Educação repassou ao grupo Abril a quantia de R$ 719.630.139,55 para compra de livros didáticos. Foi o maior repasse de recursos públicos destinados a livros didáticos dentre todos os grupos editoriais do país”.

A urgência da CPI da mídia

“Nenhum outro recebeu, nesse período, tanto dinheiro do MEC. Desde 2004, o grupo da Veja ficou com mais de um quinto dos recursos (22,45%) do MEC para compra de livros didáticos... O espantoso é que até 2004 o grupo Civita não atuava no setor de livros didáticos. Neste ano, o grupo adquiriu duas editoras – a Ática e a Scipione. Por que essa súbita decisão de passar a explorar os cofres públicos com uma inundação de livros didáticos? Evidentemente, porque existe muito dinheiro nos cofres públicos... O MEC, infelizmente, está adotando uma política de fornecer dinheiro público para que o Civita sustente o seu panfleto – a revista Veja”.

“Exatamente essa malta, cínica e pendurada no dinheiro público, acusa o MST de ter recebido, de 2003 a 2007, R$ 47 milhões em alguns convênios com o governo federal... Já o Civita recebeu só do MEC, entre 2004 e 2008, R$ 719 milhões, isto é, 17 vezes mais do que o MST – e não foi para trabalhar, mas para empurrar livros didáticos duvidosos, e a preço de ouro”, critica Carlos Lopes. Como se observa, uma CPI da mídia é urgente.

Privatização da educação não funciona...

Privatização fracassa na educação

do site Pátria Latina

César Fonseca
As estatísticas divulgadas pelo Ministério da Educação , nessa quinta feira, 03, demonstram o fracasso da privatização da educação no Brasil. A avaliação da qualidade dos cursos universitários em 149 amostras acompanhadas pelos técnicos do MEC concluiu que entre a nota mínima , 1, e a nota máxima, 5, a média está entre 2 e 3. Fracasso total da educação privatizada. A educação pública não está nada boa das pernas, por falta de recursos orçamentários, na era em que a prioridade constitucional é cumprir com o pagamento dos juros da dívida externa, mas a nota média dela está entre 3 e 4.
A educação, na era neoliberal, a partir dos anos de 1980, virou puro mercado financeiro. Arapuca especulativa. O empresário, nesse período, lança capital na circulação para comprar professores e instalações e joga propaganda para pegar alunos, cobrando caro. Com a renda, aplica nos títulos do governo – a taxa selic, na Era FHC, chegou a 49%! – , triplicando o faturamento. As escolas particulares, sob neoliberalismo, viraram grandes negócios, para investidores em alta escala.
A finalidade das empresas educacionais, salvo honrosas exceçõe, não é a educação, mas o lucro. Distorceu-se o objetivo, que é o de conferir educação de qualidade como finalidade número um. Algo semelhante ocorreu, igualmente, na política de comunicação governamental, em que a finalidade constituicional voltada para a educação e a cultura deu lugar à lucratividade como objetivo maior. Na onda especulativa, as empresas de educação triplicaram seus faturamentos. Empresários competentes criaram redes de educação, como rede de supermercados, de lojas de tintas, de material de construção etc, sinalizando crescente oligopólio.
O capital norte-americano sentiu o faro. Empresários ameicanos do setor educacional estão chegando com seus dólares em desvalorização crescente, para tentarem comprar redes de educação, como destacou, no Dia do Soldado, em solenidade na Câmara, parlamentar do PDT do Paraná, Wilson Picler. Empresário no setor educacional, confessou, da tribuna, que está insistentemente sendo assediado por investidores externos.
Ressaltou que o investidor que dispuser de 20 bilhões de dólares – muitos desse porte dispõem desse montante de recurso, frisou – disporá da cabeça da juventudade brasileira para fazer dela o que quiser, dominando 70% da oferta de ensino no país, onde comercializará conhecimento com alta lucratividade e baixa qualidade.
Ou seja, o objetivo é o lucro, em primeiro lugar, para ser multiplicado na especulação; em segundo lugar, ou terceiro, a educação.
Os números do MEC demonstram a gravidade do assunto qualidade educacional do país e demonstra que, embora as universidades públicas estejam sendo sucateadas, graças à carência, visto que pagar juro é prioridade absoluta, conforme determina o artigo 166, parágrafo terceiro, ítem II, letra b da Constituição, são elas que, ainda, apresentam os melhores resultados.
Talvez esse resultado positivo seja decorrente, justamente, das limitações das autoridades educacionais públicas de disporem do dinheiro transferido pelo governo com a filosofia do setor privado. Muitas universidades públicas tentaram e, ainda, tentam, criar organismos internos universitários, que se capitalizam por meio de instrumentos legais, relativamente, flexíveis, mas, como aconteceu com reitor da UnB, que desviou-se das finalidades, para atender suas vaidades, os riscos são grandes e o tombo desmoraliza geral.
A lógica estatal e a lógica privada
Seria essa a salvação da universidade pública, de estar livre das negociatas financeiras que dominaram o cenário da educação como negócio na era neoliberal neorepublicana governada pelo Consendo de Washington, depois da grande crise mon etária dos anos de 1980. Em 1979, o governo americana elevara os juros , a prime-rate, de 5% para 17% , em nome do combate à inflação. Havia excesso de dólares, eurodólares, nipodólares e petrodólares acumulados na praça global, desde o pós-segunda guerra mundial. O excesso de moeda americana e suas derivativas levaram à sua desvalorização. Imperialmente, o presidente do BC americano, Paul Volcker, puxou o cust do dinheiro. Os países ricos se arranjaram entre si. Já os pobres e esmolambados da América do Sul se lascaram. Tiveram , por disporem de elevadas dívidas em dólares, que entrar na UTI financeira do FMI, sob supervisão do Consenso de Wahington, para preservarem a poupança dos banqueiros internacionais, emprestadores para o Brasil e americanos do sul em geral, totalmente, falidos. Nesse período, avançou a privatização, sendo a da educação uma de maior destaque.
As notas do MEC demonstram, agora, que essa estratégia neoliberal, de conter os gastos públicos, para pagar juros, em prejuízo dos investimentos em educação, saúde, infra-estrutura etc, indutores da formação da consciência nacional, fracassou. O modelo educacional neoliberal, especulativo, cujo resultado são notas ruins de avaliação, que condenam o empreeendimento lucrativo em prejuízo do educativo, faliu.
A ação estatal , sob pressão social ente a se ampliar, consequentemente, em nome do interesse público contra os estragos contra o interesse da sociedade em forma de oferta insuficiente de educação em termos qualitativos.
O modelo econômico que vigorou durante a Nova República sucateou a qualidade da educação em nome da quantidade das escolas sem condições qualitativas, para funcionar, visto que sua finalidade deixou de ser a educação, para ser a especulação.
As redes de educação privada se reproduziram , nos anos de 1980, reproduzindo filosofia educacional alienante, quando a economia brasileira estava sob o domínio do FMI e da orientação ideológico-monetarista do Consenso de Washington, jogando na cabeça da sociedade que o Brasil não tinha condições de crescer mais do que 3% ao ano, A partir dessa limitação, tentar superá-la seria condenar-e à inflação eterna, contra a qual, claro, o Consenso de Washigton recomendava juros altos para segurar as pressões inflacionárias. Balela.
A orientação da economia política lulista de colocar em cena programas sociais para gerar consumo despertou o potencial do mercado interno. Mais consumo interno transformou-se na verdade que os conceitos externos ideologicamente construídos em laboratorio tentavam negar.
Nesse contexto, o sistema educacional não poderia estar a serviço do despertar da consciência nacional em termos de auto-estima, como representava a pregação democrática social de Paulo Freire, Anísio Teixeira, Darci Ribeiro, Cristovam Buarque etc.
Por isso, a cultura foi invadida pela liberação geral, enquanto as produções culturais e educacionais sofriam crescentes restrições orçamentárias em nome do aumento do superavit primário destinado a pagar em dia a conta de juros, bombada pelos juros mais altos do mundo, atrativos aos especuladores com a educação.
As produções educacionais e culturais em geral passaram a obedecer Washington, incultindo na cabeça do povo brasileiro o conceito de tolerância diante do destino construído matematicamente, sem perceber o que disse Hegel, de que a matemática é ciência que se realiza no exterior da realidade, não podendo, pois, determiná-la.
A educação neoliberal neorepublica brasileira nos anos de 1980 em diante cuidou da forma e não do conteúdo, para transformar os alunos em objetos e não em sujeitos, a fim de suportarem as agruras de uma oferta educacion al deficiente como preço a ser pago pelos juros altos.
Se o país, de acordo com a econometria do FMI e do Consenso de Wahington , só pode dispor de um PIB que cresce, apenas, 3%, porque se passar daí a inflação acelera, tal verdade somente pode ser disseminado por sociedade cujo sistema educacional cria acomodação e não conscientização.
A massa de recursos orçamentários, em vez de ir para um fundo de investimento educacional, foi para um fundo de riqueza bancária. Nas duas eras políticas, a Era FHC e a Era Lula, o orçamento público foi um pai para os bancos e um padrastro para os estudantes e pais preocupados com a educação de seus filhos em meio a uma economia adormecida por conceitos fictícios.
Em dezessete anos, como destaca o vice-presidente da República, José Alencar Gomes da Silva, o país pagou de juros R$ 1 trilhão. Desse total, a educação e a cultura não levaram mais que 3%. A prioridade constitucional conferida ao pagamento de juros limitou recursos investidos em educação na casa dos 5,2% do PIB, algo em torno de 11 bilhões de reais, enquanto, só de juros, a sociedade paga 200 bilhões de reais.
Vácuo de investimento público
Sem investimentos públicos na educação e na cultura, avançou o capital privado, focando, principalmente, cursos de custos baixos, como são os de humanidade, e lançando pouco dinheiro nas ciências e tecnologias, para formação do pensamento lógico-dedutivo da socidade, para ocupação das atividades intermediárias em geral. Como o governo ainda não investiu para valer em escolas técnicas, somente despertando, agora, para o assunto, ainda de forma lenta, aos empresários privados sobraram trabalhar essa oferta deficiente, como complemento do ensino técnico, igualmente, insatisfatório.
As notas do Ministério da Educação demonstram que os investimentos privados não estão sendo úteis, do ponto de vista do interesse nacional, na formação de produtos humanos indispensáveis ao próprio capitalismo nacional. Trabalha-se a educação no Brasil na contramão do que rola na Europa e na Ásia, por exemplo, em que os investimentos estimulados pelo governo se voltam para atender 70% da formação técnica nacional de elevada qualidade, enquanto se estreitou o filtro universitário.
No Brasil, alargou-se o filtro universitário privado sem qualidade, nas águas da alienação educaiconal neoliberal, anti-nacional, enquanto estreitou-se a base, que , pela lógica, deve ser alargada pela oferta de formação educacional básica de elevada qualidade, como fator de equilibrio para não ter sustentação a parte superior da pirâmide. Inversão de fatores em nome da exploração educacional lucrativa e não educativa.
A situação da qualidade das escolas privadas, no ambiente da crise financeira internacional, que disseminou prejuízos e instabilidades globais, cujos efeitos estão ocultos e latentes, em processo de auto-destruição em marcha, tende a se agravar.
Há excesso de oferta de educação de baixa qualidade e de elevado preço cuja lucratividade estava sendo mantida pela especulação financeira. Como os empresários do setor educacional não disporão mais da renda marginal especulativa que favorecia seus balanços, como são, igualmente, os casos das empresas em geral, que buscam, prioritariamente, o lucro, terão que disputar o mercado ofertando melhor qualidade e menores preços, se quiserem sobreviver.
É nessa hora que está chegando o capital externo na educação brasileira. Os grandes grupos cheios de dólares candidados às desvalorizações em face da instabilidade global, afetada pelos deficits dos Estados Unidos, desejam comprar esses ativos valiosos e dar um rítmo de oligopólio ao negócio empresarial educacional brasileiro.
A Universidade Paulista(UNIP), por exemplo, do empresário João Carlos Di Gênio, empreendedor brilhante, tipo Daniel Dantas, ligado aos poderosos, desde a ditadura, matemático, mas, que, no plano educacional em matéria de qualidade, está deixando a desejar, conforme as notas do MEC, que a coloca, no DF, com nota 1, ou seja, a pior, pode muito bem ser alvo de investidor externo ou , mesmo interno, que deseje qualificar o negócio na base do domínio oligopolista.
A lógica do oligopólio, cuja função é manter constante e em ascensão a taxa de lucro do negócio, toma conta do cenário educacional brasileiro. As disputas pelos mercados, na crise financeira, acirram-se , extraordinariamente, colocando em cena a mesma lei capitalista que está promovendo a concentração oligopóligica no setor financeiro, alimentício, mineral, petrolífero etc.
Obediente às mesmas leis do capital que visa a sobreacumulação para sustentar ascendente lucratividade, o oligopólio educacional vai se formando , para eliminar a concorrência que se elevou, de forma incontrolável, nos anos especulativos neoliberais. Assim como as empresas arrebanhavam alunos para fazer dinheiro e especular no mercado financeiro, os aplicadores individuais asseguravam renda disponível para o consumo na educação privada via aplicações nos fundos financeiros bancários.
Como, no ambiente da grande crise global, a moeda fictícia, sobre a qual a renda especulativa estava sendo gerada, entrou em estresse, a mamata acabou, restando a disputa competitiva pelo mercado. Para manter a qualidade e os investimentos, os empresários, que estavam especulando com a educação, terão que ir aos bancos pedir dinheiro para novos investimentos, em meio a um mercado cada vez mais disputado. Se estiveram endividados, poderão abrir mão de ações aos credores em nome da salvação financeira.
Oligopólios público e privado em confronto
O risco educacional para o investidor privado, na crise, aumenta. Consequentemente, quem paga o pato é a qualidade. Com a qualidade piorando, a questão que entra em cena é a do interesse público.
O governo, como agente público, tem, sob pressão social, que agir em nome do interesse público, quando o MEC divulga que a privatização da educação no Brasil fracassou, simplesmente, porque não está atendendo os objetivos estratégicos do Brasil no médio e longo prazo. Tal lógica, em face dos maus resultados apresentados pela escola privada, obriga o Estado brasileiro a agir relativamente à educação como agiu, no auge da crise fin anceira, detonada em outubro de 2008, em relação aos setores produtivos, a fim de estabilizar a produção e o consumo, a fim de evitar bancarrota nacional.
Maior volume de recursos para o ensino público, que, mesmo dispondo de recursos escassos, oferece qualidade educacional superior à oferecida pelo setor privado, vai se tornando exigência social, que cairá no Congressso em forma de pressão popular em nome do interesse público.
O oligopólio empresarial educacional que emerge como resultado da bancarrota neoliberal, cuja ação passou a ferir interesse público, como demonstram as notas do MEC, terá que, dialeticamente, enfrentar, a partir de agora, para firmar posição segura no médio e longo prazo, de enfrentar seu polo oposto, isto é, oligopólio educacional estatal. Este avança em nome da preservação do interesse público sob pressão política.
A tese da privatização educacional oligopolizada produz a antítese estatização educacional oligopólica, da mesma forma que começa a ocorrer em relação ao sistema financeiro, com o oligopólio bancário privado estimulando a oligopolização financeira estatal em disputa pelo aplicador brasileiro, para emprestrar a juro mais baixo, em nome da estabilização econômica, que, fundamentalmente, é de interesse público.
Texto: Cesar Fonseca

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Beatles, de 1970 a 1981....


1970 GIVE PEACE A CHANCE

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LADO A
1 Give Peace A Chance (Lennon, 1969)
2 Isn't It A Pity (Harrison, 1966)
3 Maybe I'm Amazed (Mccartney, 1970)
4 Mother (Lennon, 1970)
5 Not Guilty (Harrison, 1968)
6 Man We Was Lonely (Mccartney, 1970)
7 God (Lennon, 1970)

LADO B
8 It Don't Come Easy (Starkey-Harrison, 1970)
9 Love (Lennon, 1970)
10 All Things Must Pass (Harrison, 1970)
11 Cold Turkey (Lennon, 1969)
12 Teddy Boy (Mccartney, 1970)
13 Instant Karma (Lennon, 1970)
14 My Sweet Lord (Harrison-Williams, 1969)

1971 APPLE SCRUFF

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LADO A
1 Another Day (Mccartney, 1971)
2 Imagine (Lennon, 1971)
3 Try Some Buy Some (Harrison, 1971)
4 Gimme Some Truth (Lennon, 1971)
5 Bye Bye Blackbird (Dixon-Henderson, 1970)
6 Oh My Love (Lennon-Ono, 1971)
7 Uncle Albert, Admiral Halsey (Mccartney, 1971)

LADO B
8 Happy Xmas (Lennon-Ono, 1971)
9 Monkberry Moon Delight (Mccartney, 1971)
10 Beware Of Darkness (Harrison, 1970)
11 Working Class Hero, Power To The People (Lennon, 1970)
12 Too Many People (Mccartney, 1971)
13 How Do You Sleep (Shortened Version) (Lennon, 1971)
14 Apple Scruffs (Harrison, 1970)

1972 HEART OF THE COUNTRY

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LADO A
1 Woman Is The Nigger Of The World (Lennon-Ono, 1972)
2 I'd Have You Anytime (Harrison, 1970)
3 Give Ireland Back To The Irish (Mccartney, 1971)
4 Angela (Lennon-Ono, 1972)
5 Early 1970 (Starkey, 1970)
6 Dear Boy (Mccartney, 1971)
7 Bangla Desh (Harrison, 1971)

LADO B
8 Heart Of The Country (Mccartney, 1971)
9 What Is Life (Harrison, 1970)
10 Country Dreamer (Mccartney, 1972)
11 Jealous Guy (Lennon, 1971)
12 Tomorrow (Mccartney, 1971)
13 Remember (Lennon, 1970)
14 Hear Me Lord (Harrison, 1969)

1973 GIVE ME LOVE

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LADO A
1 Photograph (Starkey-Harrison, 1973)
2 Mind Games (Lennon, 1973)
3 Bluebird (Mccartney, 1973)
4 Don't Let Me Wait Too Long (Harrison, 1973)
5 Little Woman Love (Mccartney, 1971)
6 Behing That Locked Door (Harrison, 1970)
7 Hi, Hi, Hi (Mccartney, 1972)

LADO B
8 Give Me Love (Give Me Peace On Earth) (Harrison, 1973)
9 C'moon (Mccartney, 1973)
10 Attica State (Lennon, 1972)
11 Oh My My (Poncia-Starkey, 1973)
12 The Luck Of The Irish (Lennon-Ono, 1972)
13 My Love (Mccartney, 1973)
14 Linving In The Material World (Harrison, 1973)

1974 STEEL AND GLASS

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LADO A
1 Steel And Glass (Lennon, 1974)
2 Mrs Vanderbilt (McCartney, 1973)
3 No No Song (Axton, 1974)
4 Live And Let Die (Mccartney, 1973)
5 Dark Horse (Harrison, 1974)
6 Jet (Mccartney, 1973)
7 Sunday Bloody Sunday (Lennon-Ono, 1972)

LADO B
8 Nr 9 Dream (Lennon, 1974)
9 So Sad (Harrison, 1973)
10 When The Night (Mccartney, 1973)
11 Ding Dong Ding Dong (Harrison, 1974)
12 Helen Wheels (Mccartney, 1973)
13 Simple Shady (Harrison, 1974)
14 Band On The Run (Mccartney, 1973)

1975 YOU

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LADO A
01 Stand By Me (King-Leiber-Stoller, 1975)
02 Listen To What The Man Said (Mccartney, 1975)
03 It Is He (Jai Sri Krishna) (Harrison, 1974)
04 John Sinclair (Lennon, 1972)
05 One More Kiss (Mccartney, 1973)
06 You're Sixteen (Sherman, 1973)
07 Junior's Farm (Mccartney, 1974)

LADO B
08 I'm The Greatest (Lennon, 1973)
09 No Words (Mccartney-Laine, 1973)
10 The Light That Has Lighted The World (Harrison, 1973)
12 Six O'clock (Mccartney, 1973)
13 Miss O'dell (Harrison, 1973)
13 You Gave Me The Answer (Mccartney, 1975)
14 You (Harrison, 1975)

1976 LOVE SONGS

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LADO A
01 Bless You (Lennon, 1974)
02 Silly Love Songs (Mccartney, 1976)
03 Dear One (Harrison, 1976)
04 Only You (Ram-Rand, 1974)
05 Love In Song, I Am your Singer (Mccartney, 1975)
06 Pure Smokey (Harrison, 1976)
07 Nobody Loves You (When You're Down And Out) (Lennon, 1974)

LADO B
08 San Ferry Anne (Mccartney, 1976)
09 Maya Love (Harrison, 1974)
10 Treat Her Gently, Lonely Old People (Mccartney, 1975)
11 Bye Bye Love (Bryant, 1974)
12 Warm And Beautiful (Mccartney, 1976)
13 Hey Baby (Channel-Cobb, 1976)
14 Beware My Love (Mccartney, 1976)

1977 ROCK SHOW

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LADO A
01 A Dose Of Rock'n'roll (Groszman, 1976)
02 Tight As (Lennon, 1973)
03 Magneto And Titanium Man (Mccartney, 1975)
04 Crackerbox Palace (Harrison, 1976)
05 Let Me Roll It (Mccartney, 1973)
06 Slidin’ And Slidin’ (Bocage-Collins-Penniman-Smith, 1975)
07 Venus And Mars & Rock Show (Mccartney, 1975)

LADO B
08 Scared (Lennon, 1974)
09 Nineteen Hundred And Eighty Five (Mccartney, 1973)
10 Meat City (Lennon, 1973)
11 This Song (Harrison, 1976)
12 Whatever Gets You Throu The Night (Lennon, 1974)
13 Letting Go (Mccartney, 1975)
14 Goodnight Vienna (Lennon, 1974)

1978 THE BEATLES ("BLACK ALBUM")

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DISCO 1 – LADO A
1 Cofee On The Left Bank (Mccartney, 1978)
2 Mamunia (McCartney, 1973)
3 Surprise Surprise (Lennon, 1974)
4 Famous Grupies (Mccartney, 1978)
5 Call Me (Starkey, 1974)
6 This Guitar (Can't Keep From Crying) (Harrison, 1975)
7 Mull Of Kintyre (Mccartney, 1977)

DISCO 1 – LADO B
8 With A Little Luck (Mccartney, 1978)
9 Old Dirt Road (Lennon-Nilsson, 1974)
10 Don't Let It Bring You Down (Mccartney, 1978)
11 Tired Of Midnight Blues (Harrison, 1975)
12 Junk (McCartney, 1970)
13 Drowning In The Sea Of Love (Gamble-Huff, 1977)
14 Free As A Bird (Lennon, 1977)

DISCO 2 – LADO A
1 Name And Address (Mccartney, 1978)
2 Going Down On Love (Lennon, 1974)
3 I'm Carrying (Mccartney, 1978)
4 Cookin (Lennon, 1976)
5 Let 'em In (Mccartney, 1976)
6 Morse Moose And The Grey Goose (Mccartney-Laine, 1978)
7 Learning How To Love You (Harrison, 1976)

DISCO 2 – LADO B
8 Hari's On Tour (Harrison, 1974)
9 London Town (Mccartney, 1978)
10 True Love (Porter, 1976)
11 Pure Gold (Mccartney, 1976)
12 Beautiful Girl (Harrison, 1970)
13 The Note You Never Wrote (McCartney, 1976)
14 Gave It All Up (Poncia-Starkey, 1977)

1979 BLOW AWAY

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LADO A
1 Bring On The Lucie (Lennon, 1973)
2 Getting Closer (Mccartney, 1979)
3 Your Love Is Forever (Harrison-Wright, 1979)
4 Backwards Traveller (McCartney, 1979)
5 It's No Secret (Poncia-Starkey, 1977)
6 To You (Mccartney, 1979)
7 Blow Away (Harrison, 1979)

LADO B
08 Wonderful Christmas Time (McCartney, 1979)
09 Wings (Poncia-Starkey, 1977)
10 If You Believe (Harrison, 1979)
11 To Know Her Is To Love Her (Spector, 1975)
12 I'l Still Love You (Harrison, 1976)
13 Spin It On (McCartney, 1979)
14 Real Love (Lennon, 1979)

1980 STARTING OVER

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LADO A
01 We're Open Tonight (Mccartney, 1979)
02 (Just Like) Starting Over (Lennon, 1980)
03 Soft Hearted Hana (Harrison, 1979)
04 I'm Loosing You. (Lennon, 1980)
05 Daytime Nightime Suffering (Mccartney, 1979)
06 Heart On My Sleeve (Gallagher-Lyle, 1978)
07 Faster (Harrison, 1979)

LADO B
08 I'm Loosing You (Hard Version) (Lennon, 1980)
09 Waterfalls (Mccartney, 1980)
10 Oo-Wee (Poncia-Starkey, 1974)
11 So Glad To See You (Mccartney, 1979)
12 Cleanup Time (Lennon, 1980)
13 Dark Sweet Lady (Harrison, 1979)
14 Watching The Wheels (Lennon, 1980)

1981 ALL THOSE YEARS AGO

1981 All Those Years Ago.rar(download)






LADO A
1 I'm Stepping Out (Lennon, 1980)
2 Summer's Day Song (Mccartney, 1980)
3 Old Time Relovin (Poncia-Starkey, 1978)
4 Nobody Told Me (Lennon, 1980)
5 Coming Up (Mccartney, 1980)
6 Life Itself (Harrison, 1981)
7 Girlfriend (Mccartney, 1979)

LADO B
8 Love Comes To Everyone (Harrison, 1979)
9 (Forgive Me) My Little Flower Princess (Lennon, 1980)
10 Winter Rose, Love Awake (Mccartney, 1979)
11 Here Comes The Moon (Harrison, 1979)
12 Woman (Lennon, 1980)
13 After The Ball, Million Miles (Mccartney, 1979)
14 All Those Years Ago, Here Today (Harrison-McCartney, 1981)

Créditos: KABONG - Beatles7081

Uma das falhas do governo Lula....

‘Lula não fez reforma agrária’




Escrito por Rodrigo Mendes e Valéria Nader

No dia 20 de agosto último, o trabalhador sem terra e membro do MST Elton Brum da Silva, de 44 anos e pai de dois filhos, foi assassinado pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul, em uma ação de despejo na Fazenda Southall, em São Gabriel, RS. Testemunhas e a posterior divulgação de fotos do corpo de Elton comprovam que ele foi vítima de diversos disparos de calibre 12, todos pelas costas.

A ação da PM gaúcha resultou ainda em diversos homens, mulheres e crianças feridos, vítimas de estilhaços, golpes de espada e mordidas de cachorros. Para o MST, o uso de armas de fogo e de tal grau de truculência demonstra que há, por parte do Estado, uma política de criminalização dos movimentos sociais.

Essa forma de tratamento aos movimentos "não é uma exceção, e sim a regra", segundo nota do MST divulgada no dia seguinte à morte de Elton. Na mesma nota, o movimento condena o Poder Judiciário, por ter barrado a emissão de posse da Fazenda Antoniasi, onde o trabalhador rural Elton Brum seria assentado. Ou seja, pelos trâmites legais, Elton poderia estar trabalhando e produzindo.

Mas esse assassinato é apenas o capítulo mais recente de uma longa história de violência e marginalização sofrida pelos movimentos sociais. O mesmo MST teve outro membro assassinado no Paraná, por seguranças contratados pela transnacional Syngenta. O coronel Mario Pantoja, comandante na ocasião do massacre de Eldorado do Carajás, apesar de condenado a 228 anos de prisão, ainda responde ao processo em liberdade, mais de 13 anos depois do acontecido.

O assassinato de Elton faz parte ainda de um contexto em que a reforma agrária foi abandonada pelo governo Lula, conforme relatou em entrevista ao Correio da Cidadania a coordenadora nacional do MST Marina dos Santos.

Correio da Cidadania: Como o assassinato do trabalhador Elton Brum cai sobre o movimento no atual contexto das lutas?

Marina dos Santos: Para nós é uma situação muito difícil, os latifundiários, a polícia e o governo do Rio Grande de Sul estão usando métodos muito truculentos, em especial o Estado, para massacrar a população pobre do campo. Há uso de tortura, de cães, bala, até choque elétrico. Até espadas, de cima dos cavalos, os soldados usaram. Nesse momento, no Rio Grande do Sul, há uma criminalização muito grande dos movimentos sociais.

CC: A reforma agrária é uma prioridade do governo Lula? Anos se passaram sem a atualização dos índices de produtividade da terra (agora, finalmente, minimamente modificados), ainda há pouco se assinou a MP 458, batizada de "MP da Grilagem" etc. etc. Não tem ficado cada dia mais claro que há uma postura evidente de comprometimento com o agronegócio?

MS: Temos clareza de que a reforma agrária, no governo Lula, ficou para trás atropelada pelo agronegócio, e nós percebemos isso por uma série de coisas, começando pelo avanço nos últimos anos das transnacionais no país. Elas não se apropriam só da terra, tomam conta de toda a linha de produção do campo, da terra, mas também das sementes, da água, toda a cadeia produtiva do campo. Sem contar os investimentos que essas empresas e os fazendeiros mais atrasados, do latifúndio, têm recebido do governo federal, através do BNDES e de vários programas nos últimos anos. O agronegócio produz 120 bilhões de reais, mas o governo injeta 97 bilhões para isso, em especial pelo BNDES. Então, o que o agronegócio produz para a sociedade?

Além disso, o agronegócio usa agrotóxicos, venenos e ainda faz propaganda disso, como se fosse algo bom. Hoje o Brasil é campeão de consumo de veneno no mundo, essa indústria movimenta 7 bilhões de reais por ano. Não há preocupação ambiental, com as derrubadas das florestas, com a apropriação da biodiversidade, e isso tudo durante o governo Lula.

Há também os transgênicos, estão trabalhando pra empurrá-los. E é uma política patrocinada pelo governo. Então, não há espaço para a reforma agrária.

Lula tem falado que fez a maior reforma agrária, mas o que ele fez foi regulamentação fundiária - que tem que ser feita também, mas não se trata de reforma agrária, porque não descentraliza a terra, não mexe na estrutura fundiária. Essa política de reforma agrária é só para evitar os conflitos. O governo federal quer fazer reforma agrária sem conflito, mas isso não existe, uma política de reforma agrária no Brasil, país que mais concentra terra no mundo, tem que ter ofensiva, tem que ter disputa pela terra. Isso que o governo faz é política paliativa, assistencialista, que não destrói o latifúndio, não democratiza, não descentraliza.

CC: Os dirigentes e militantes do movimento sempre afirmam a sua autonomia frente aos governos, o que tem ficado evidente ao longo de sua atuação. Mas não acredita que, no atual momento, o movimento deva aprofundar seu enfrentamento com o atual governo em vista da postura que ele vem mantendo relativamente ao MST e à reforma agrária?

MS: O MST sempre adotou a linha da autonomia, é um movimento social de caráter político, social, organizativo e até sindical. Durante o governo Lula, nós continuamos desempenhando nosso papel, hoje são quase 15 milhões de sem terra no Brasil. Então, além de organizar as famílias, de fazer a ação reivindicativa, o MST nunca fez tanta luta quanto nos últimos anos, pressionamos governos estaduais e federal, ocupamos o ministério da Fazenda. Nós trabalhamos na perspectiva da luta, da reivindicação e da negociação com o Estado. Então, achamos que temos que continuar com essa linha, pois, independente do governo, seja de esquerda, de centro, de direita, o capital é que determina a ação.

CC: Que balanço o movimento faz das jornadas recém empreendidas nos estados? Qual é a efetividade das ocupações nos dias de hoje, quando se sabe que os latifúndios têm por trás de si exatamente o grande capital, como a Cargil, suscitando a necessidade de crítica e mudança do próprio modelo econômico, que privilegia o agronegócio?

MS: O nosso balanço é positivo, por diversos aspectos. Seja pelos internos, por conta do avanço da organização, seja por termos conseguido pautar o governo, com uma pauta antiga nossa, com três pontos. O primeiro é a atualização dos índices de produtividade de terra, que era um compromisso do governo e nunca havia sido cumprido. O segundo é a liberação dos quase 50% de recursos contingenciados no INCRA, para suplementar 90 mil famílias acampadas no país. E o terceiro é o desenvolvimento dos assentamentos, pois havia um compromisso do governo de qualificar os assentamentos, mas, hoje, 40 mil famílias assentadas ainda vivem em condições de acampadas, não receberam linhas de crédito, nenhuma infra-estrutura.

O governo se comprometeu a descontingenciar o orçamento, o que vai dar para assentar 15 mil famílias. Quanto à mudança dos índices de produtividade da terra, houve uma ação raivosa dos latifundiários e ruralistas [a questão ainda não havia sido definida no fechamento desta matéria], e o governo assumiu o compromisso de construir 280 escolas nos assentamentos. No geral, a jornada foi positiva, teve conquistas, por isso é que é necessário ter organização, mobilização e pressão.

CC: Acredita que, por se sentir segura com a política para o campo, a elite rural tem aumentado sua violência?

MS: Mais do que isso, os ruralistas têm tomado atitudes imorais, não têm agido só de maneira violenta, têm avançado muito nessa política de destruição ambiental, com a MP 458. Pelos dados do ministério do Trabalho, 2008 foi o ano no qual mais se encontrou trabalho escravo no Brasil, o que é uma vergonha. Com crise internacional e aqui os proprietários de terra têm todo esse poder e uma ação que é destrutiva pro conjunto da sociedade, não só para os trabalhadores. Eles [os ruralistas] se sentem mesmo muito à vontade.

Por exemplo, vemos nos dados da CPT [Comissão Pastoral da Terra] que os conflitos têm aumentado, a pobreza no campo tem aumentado, e não há política contundente que de fato enfrente esse tipo de ação do latifúndio.

CC: A postura de criminalização do Estado brasileiro (ao menos em algumas partes, como se viu no RS) assusta o MST em relação ao futuro?

MS: Se o Brasil não começar uma política séria de enfrentamento, não tiver política de punição, não só o MST deve ter medo, toda a sociedade vai sofrer. A violência no campo leva ao êxodo rural, desencadeia todo tipo de problema.

CC: Que cenários o movimento vislumbra a partir da próxima eleição presidencial?

MS: Esse é um tema que ainda não discutimos, mas hoje vemos a realidade do Brasil, o Lula que seria uma alternativa deu nisso. Teve avanços, mas tem um legado negativo. Então, qualquer cenário eleitoral tende a piorar a correlação de forças no próximo período.

Rodrigo Mendes é jornalista; Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.

Máfias farmacéuticas





Ignacio Ramonet *

Tradução: ADITAL

Poucos meios de comunicação comentaram o fato. A opinião pública não foi alertada. E, no entanto, as preocupantes conclusões do Informe Final (1), publicado pela Comissão Europeia no passado dia 8 de julho sobre os abusos em matéria de competição no setor farmacêutico merecem ser conhecidas pelos cidadãos e amplamente difundidas.

O que diz o Informe? Em síntese: que no comércio dos medicamentos, a competição não está funcionando e que os grandes grupos farmacêuticos recorrem a todo tipo de jogos sujos para impedir a chegada ao mercado de remédios mais eficazes e, sobretudo, para desqualificar os medicamentos genéricos, muito mais baratos. Consequência: a falta de acesso do consumidor aos genéricos se traduz em importantes perdas financeiras não somente para os pacientes, mas também para a Seguridade Social a cargo do Estado (ou seja, dos contribuintes). Isso oferece argumentos aos defensores da privatização dos Sistemas Públicos de saúde, acusados de ser fossos de déficits no orçamento dos Estados.

Os genéricos são medicamentos idênticos quanto aos princípios ativos, dosificação, forma farmacêutica, segurança e eficácia aos medicamentos originais produzidos com exclusividade pelos grandes monopólios farmacêuticos. O período de exclusividade, que se inicia a partir do momento em que o produto é posto à venda, vence aos dez anos; porém, a proteção da patente do fármaco original dura vinte anos. Então, é quando outros fabricantes têm direito a produzir os genéricos, que custam uns 40% a menos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a maioria dos governos recomendam o uso de genéricos porque, devido ao seu menor custo, favorecem o acesso equitativo à saúde das populações expostas a enfermidades evitáveis (2).

O objetivo das grandes marcas farmacêuticas consiste, por conseguinte, em atrasar por todos os meios possíveis a data de vencimento do período de proteção da patente; e se esforçam para patentear agregados supérfluos do produto (um polimorfo, uma forma em gel etc.) e estender dessa maneira, artificialmente, a duração de seu controle sobre o medicamento. O mercado mundial dos medicamentos representa uns 70 bilhões de euros (3); e uma dezena de empresas gigantes, entre elas as chamadas "Big Pharma" -Bayer, GlaxoSmithKline (GSK), Merk, Novartis, Pfizer, Roche, Sanofi-Aventis-, controlam a metade desse mercado.

Seus benefícios são superiores aos obtidos pelos poderosos grupos do complexo militar-industrial. Por cada euro investido na fabricação de um medicamento de marca, os monopólios ganham mil no mercado (4). E três dessas firmas -GSK, Novartis e Sanofi- se dispõem a ganhar milhares de milhões de euros a mais nos próximos meses graças às vendas massivas da vacina contra o vírus A(H1N1), da nova gripe (5).

Essas gigantescas massas de dinheiro outorgam ás "Big Pharma" uma potência financeira absolutamente colossal, utilizadas, em particular, para arruinar, mediante múltiplos julgamentos milionários ante os tribunais, aos modestos fabricantes de genéricos. Seus inúmeros lobbies acossam também permanentemente a Oficina Europeia de Patentes (OEP), cuja sede se encontra em Munique, para atrasar a concessão de autorizações de entrada dos genéricos no mercado. E lançam campanhas enganosas sobre esses fármacos bioequivalentes e assustam aos pacientes. O resultado é que, segundo o recente Informe publicado pela Comissão Europeia, os cidadãos têm que esperar em média sete meses mais do que o normal para aceder aos genéricos, o qual tem sido traduzido nos últimos cinco anos em um incremento desnecessário de aproximadamente 3 bilhões de euros para os consumidores e em uns 20% de aumento para os Sistemas Públicos de Saúde.

A ofensiva dos monopólios farmacêutico-industriais não tem fronteiras. Também estariam implicados no recente golpe de Estado contra o presidente Manuel Zelaya, em Honduras, país que importa todas as suas medicinas, produzidas fundamentalmente pelas "Big Pharma". Desde que Honduras ingressou na Alba (Aliança Bolivariana dos Povos da América), em agosto de 2008, Manuel Zelaya negociava um acordo comercial com Havana (Cuba) para importar genéricos cubanos, com o propósito de reduzir os gastos de funcionamento dos hospitais públicos hondurenhos. Além disso, na Cúpula do dia 24 de junho passado, os presidentes da Alba se comprometeram a "revisar a doutrina sobre a propriedade industrial", ou seja, que ameaçavam diretamente seus interesses, impulsionaram aos grupos farmacêuticos transnacionais a apoiar com força o movimento golpista que derrocaria a Zelaya, no dia 28 de junho último (6).

Da mesma forma, Barack Obama, desejoso de reformar o sistema de saúde nos Estados Unidos, que deixa sem cobertura médica a 47 milhões de cidadãos, está afrontando as iras do complexo farmacêutico-industrial. Aqui, as somas em jogo são gigantescas (os gastos com saúde representam o equivalente a 18% do PIB) e são controladas por um vigoroso lobby de interesses privados que reúne, além das "Big Pharma", as grandes companhias de seguros e a todo o setor das clínicas e dos hospitais privados. Nenhum desses atores quer perder seus opulentos privilégios. Por isso, apoiando-se nos grandes meios de comunicação mais conservadores e no Partido Republicano, estão gastando dezenas de milhões de dólares em campanhas de desinformação e de calúnias contra a necessária reforma do sistema de saúde.

É uma batalha crucial. E seria dramático que as máfias farmacêuticas a ganhassem, porque redobrariam os esforços para atacar, na Europa e no resto do mundo, o desenvolvimento dos medicamentos genéricos e a esperança de sistemas de saúde menos custosos e mais solidários.


Notas:

(1) http://ec.europa.eu/comm/competition/sectors/ pharmaceuticals/inquiry/index.html
(2) 90% dos gastos da grande indústria farmacêutica para o desenvolvimento de novos fármacos estão destinados para enfermidades padecidas por somente 10% da população mundial.
(3) Intercontinental Marketing Services (IMS) Health, 19 de março de 2009.
(4) Carlos Machado, "La mafia farmacéutica. Peor el remedio que la enfermedad", 5 de março de 2007 (www.ecoportal.net/content/view/full/67184).
(5) Leia-se, Ignacio Ramonet, "Los culpables de la gripe porcina", Le Monde diplomatique en español , junho de 2009.
(6) Observatorio Social Centroamericano, 29 de junho de 2009.


* Le Monde Diplomatique

Todos os presos são 'prisioneiros políticos'

do blog da Tania Marques








Tania Marques


Em última instância, todos os presos são prisioneiros políticos, porque eles são reféns de um sistema sócio-político-econômico que captura a sua liberdade em nome do desejo de ‘ter’, de ‘possuir’: dinheiro, bens e poder; saúde, sexo e beleza. A mídia de esgoto está presente na maioria das casas do povo brasileiro, bombardeando, através de sua publicidade, muitos produtos de ‘marca’ ou ‘grife’ e associando-os a uma vida bela, tranquila, prazerosa e plena de ‘status’ social. Isso provoca no ser humano a ideia de valorização pessoal ou individual (elevação de sua autoestima) por meio do que ele consome e não pelo que ele é, enquanto humano, gerando nele cada vez mais ansiedade, a ansiedade do consumo. Perto disso, ou melhor, aliado a isso nós temos a propaganda ideológica ininterrupta, instigando-o a acreditar que todo esse planejamento intencional - que faz parte de uma construção histórica e cultural do homem - é algo ‘natural’, isto é, passando a impressão para ele de que tudo está assim e deve ficar do mesmo modo, perpetuado para sempre em sua vida; que assim sempre foi e sempre será, ou, em outras palavras, nunca nada poderá mudar.

Então, o bandido, ‘filhote’ do sistema, produto ‘selvagem’ dessa organização ‘burrocrática’, que se mostra ‘poderosa’ por meio de seus (des)governantes, através de uma ‘pseudodemocracia’ [pseudo, sim, porque quero ver quem tem a coragem de dizer que consegue ser feliz, sabendo que a maioria da população brasileira é excluída dos direitos de ter todas as suas necessidades básicas atendidas: alimentação adequada, educação (não pelo número de escolas, mas pela sua qualidade), saúde, cultura, transporte, lazer, entre outros itens)] fere, sequestra, enlouquece usando e traficando drogas, assassina seu irmão a sangue frio, sem o menor arrependimento ou sentimento de culpa, por ele ser uma vítima ‘insensível’ do abandono em que se encontra por parte do Estado e, na maioria das vezes, de sua família (abandono tanto econômico, físico quanto psicológico), rouba, estupra, quebra tudo em nome de si mesmo, de sua fantasia de ‘ascensão social’ ou mesmo pela sua própria sobrevivência.

Se o bandido é preso, ele vai para a cadeia classificado como um criminoso e enquadrado em um dos artigos do Código Penal Brasileiro, tais como: homicídio, latrocínio, sequestro, estupro, crime hediondo, formação de quadrilha etc. Mas, pelo ângulo em que estou analisando essa questão, este tipo de infrator, principalmente aquele que mata para roubar, tem de ser classificado como ‘prisioneiro político’, até mesmo por que a maioria de suas ações ocorre contra o Estado e contra o ‘estado de coisas’ em que ele se encontra, sugerindo revolta contra a sociedade e contra o sistema vigente.

Como todos os nossos atos são políticos, não vejo porque ter classificações específicas para cada um desses delitos, já que eles acabarão incidindo, com maior ou menor intensidade, na questão política, ou seja, as ações criminosas, que envolvem 'dinheiro' ou outra extorsão são reflexos, consequências, do sistema capitalista atrelado ao mau uso do poder por parte de uma minoria que elabora, executa e gere as leis de acordo com a ética e a ótica burguesas, excluindo os menos favorecidos dos seus direitos, mesmo que isso ocorra de forma sutil. Cabe ressaltar que não podemos deixar fora deste (con)texto os políticos. Os de ‘colarinho branco’ que efetuarem atos como formação de quadrilha, lavagem de dinheiro sujo, abuso de poder, recebimento ou doação de propinas, gasto do dinheiro público em viagens pessoais, em objetos ou imóveis para o seu próprio uso, transporte de divisas na cueca etc. também deverão ser encaixados nessa classificação, se presos forem, é claro! E, chega de ‘pizza’, gente!

Fonte da imagem:
http://matheuslaureano.wordpress.com/

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Os operários argentinos da Zanón expulsam definitivamente o patrão

“Depois de 9 anos de combate, os empregados da fábrica “recuperada” Zanón, na Argentina, conseguiram o reconhecimento legal da gestão trabalhista de sua fábrica. Uma vitoria exemplar em plena crise mundial”.

Se havia convertido em um dos símbolos da resistência à fatalidade capitalista. Na Argentina, os operários da fábrica de cerâmica Zanón, rebatizada FaSinPat por “fábrica sem patrão”, acabam de ganhar uma batalha exemplar : a assembléia provincial de Neuquen, na Patagônia, ordenou a expropriação de seu antigo patrão e declarou a fábrica “sob controle trabalhista”, o que pediam os operários há anos. O “sonho juvenil”, como explicava Luis Díaz, um dos trabalhadores da fábrica, em junho, no perfil que lhe dedicou nossa revista (“HD nº 164, de 4 de junho de 2009), se converteu em realidade. Luis forma parte da aventura desde o principio, em 2001: enquanto no país, em bancarrota, se demite por todos os lados, a solidariedade se organiza ao redor dos operários da fábrica Zanón, que havia fechado suas portas apesar das importantes ajudas do governo argentino. Movimentos de desempregados, de sindicatos da região acodem em seu apoio.

Depois de seis meses de mobilização, os empregados decidem tomar o controle de “sua fábrica”, que tornam a por em funcionamento. No país, centenas de fábricas são “recuperadas” da mesma maneira. Zanón se mantem. Em oito anos, mais de 200 postos de trabalho se criaram, mas a fábrica deve enfrentar regularmente as tentativas de expulsão como a de abril de 2003. Mais de 3000 pessoas, vindas em solidariedade - dos sindicatos, movimentos sociais, universidades da região e de outros lugares- impediram o acesso à fábrica.

Hoje, “a utopia se convertido em realidade graças a nove anos de luta”, explica Pablo, um dos operários da fábrica, ainda que sabendo que outros combates estão à vista. A decisão não resolve tudo. As modalidades de sua aplicação serão igualmente cruciais porque os que se opõem à expropriação não deixarão de utilizá-las para minimizar o alcance do “controle trabalhista”.

Créditos: blog do velho comunista
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Original em L'Humanité

Cultura dos pampas...

Nos tempos em que as Estâncias eram de todos




Escrito por Mário Maestri

Em 1626, jesuítas espanhóis cruzaram o rio Uruguai e fundaram missões, a partir do noroeste do atual Rio Grande do Sul, sobretudo com populações guaranis. Em 1634, os inacianos importaram 1500 bovinos para formar os rebanhos dos dezesseis pueblos do Tape. Em 1636-38 o gado foi abandonado pelos guaranis missioneiros que retornaram para a outra banda do Uruguai, assaltados pelos paulistas escravizadores. O rebanho multiplicou-se, atravessou os rios Jacuí-Ibicuí em direção ao sul, formou a enorme vacaria do Mar, entre o oceano e os rios Jacuí e Negro.

Na segunda metade do século 17, devido à crise da economia açucareira, a coroa portuguesa retomou a procura das minas e lançou novas iniciativas econômicas. Em 1680, fundou a Colônia do Santíssimo Sacramento, diante de Buenos Aires, na outra margem do rio da Prata. Procurava com ela retornar às trocas de cativos, manufaturados e produtos da costa do Brasil pela prata andina, permitidas pela coroa espanhola até o fim da União Ibérica, em 1640. Os couros trazidos pelos espanhóis de Buenos Aires ou do interior da banda oriental do Uruguai, por portugueses, castelhanos e charruas, garantiram o sucesso da cidadela.

Em 1682, os guaranis missioneiros retornaram ao atual Rio Grande do Sul para barrar o saque das vacarias dos pampas e o avanço lusitano. Os Sete Povos apoiaram-se fortemente na extração animal, inicialmente, e na sua criação, a seguir. Mais tarde, a regressão do pastoreio fortaleceu a agricultura missioneira. A economia pastoril dos Sete Povos constituiu a pré-história das estâncias sul-rio-grandenses. Não procedem as propostas ideológicas de que ela seria mera exploração predatória do gado chimarrão.

Em Origens da economia gaúcha: o boi e o poder, livro póstumo de 2005, Guilhermino César descreve a organização das estâncias jesuíticas como a "mais simples possível": "[...] um grupo de catecúmenos [...] tangia reses mansas para um posto deserto, deixava-as em liberdade, e estava formado o criatório". Essa prática jamais teria constituído verdadeira economia pastoril, já "que a criação se fazia [...] ao deus-dará", com os gados "espalhados, em desordem ," caminhando "sem restrições".

Segundo ele, nenhum "regime fundiário vigorara naquela ‘terra de ninguém’ [sic]", onde a incúria quase natural e o "nomadismo congenial" dos guaranis teriam determinado tamanha "instabilidade" na atividade "que, à flor do chão, não ficou memória das estâncias jesuíticas", esfumando-se na "mente coletiva" sua recordação. Essa leitura foi amplamente difundida pela historiografia tradicional sulina, que estabeleceu hiato radical entre as histórias guarani-missioneiras e sul-rio-grandense.

Inicialmente, a exploração missioneira das vacarias deu-se sob licença dos padres superiores, preocupados em não esgotar os gados. Os vaqueiros guaranis não praticaram o abate geral de animais pelo couro, sebo e graxa, deixando as carcaças nos campos, como os corambreros ibéricos e nativos trabalhando sobretudo para Sacramento. Nos anos 1690, exagerando enfaticamente, o padre Sepp escrevia que, após dois meses, os vaqueiros retornavam com "cinqüenta mil vacas", para a "a alimentação" anual de sua missão. Contava que, nos navios da Ordem, partiam 300 mil couros, de "touros mais crescidos", e não de "vacas", certamente para manter a "procriação indispensável".

Preocupados com a perenidade dos rebanhos, os missioneiros fundaram, em 1700, a vacaria dos Pinhais, no Planalto, nas margens do rio Pelotas. Quando os gados das vacarias do Mar e dos Pinhais foram esgotados, pelos coureadores e tropeiros, fogueados pelas descobertas das minas [1695] e pela fundação da vila de Rio Grande [1737], os vaqueiros das missões enfatizaram a criação animal nas estâncias dos pueblos.

As grandes estâncias missioneiras, delimitadas por rios, riachos, matas, serros etc., subdividiam-se em sedes e postos, com aldeias de dez a doze famílias, com suas capelas, currais, plantações etc., povoadas por posteiros, que domesticavam e tratavam os animais nos rodeios e cuidavam que não fugissem.

No Planalto, em estâncias menores, próximas aos Sete Povos, invernava o gado trazido pela Boca do Monte [atual Santa Maria] e pelo Boqueirão [atual Santiago], para o consumo dos pueblos. A criação missioneira assumiu o caráter de produção pastoril extensiva herdado pelas futuras estâncias luso-brasileira, disseminadas na Campanha, nas Missões, nos Campos Neutrais e no norte do atual Uruguai, sobretudo a partir de 1780, após a instalação de charqueadas no Sul, que valorizou fortemente a exploração mercantil dos rebanhos.

O laço, as boleadeiras, o poncho, o mate, o churrasco, a doma em campo aberto, o aquerenciamento e manejo dos gados no rodeio, os vaus dos rios, os boqueirões nas serras, a origem de muitas cidades sulina foram algumas das heranças legadas pelas missões guaranis à civilização sul-rio-grandense. Foi muito amplo o arrolamento de missioneiros e de nativos pampianos como peões nas fazendas luso-brasileiras que proliferariam na região.

A grande diferença entre as duas sociedades foi o caráter do trabalho e da propriedade da terra, coletivo nas missões guaranis, privado nas fazendas luso-brasileiras. Para que, após a ocupação militar lusitana das Missões, em 1801, as estâncias coletivas guaranis fossem melhor repartidas em sesmarias privadas, exploradas com o braço escravizado e assalariado, era necessário que desaparecesse na memória histórica regional aqueles longos e estranhos tempos em que as pampas e os gados eram de todos, e não apenas de alguns poucos.

Bibliografia consultada:

BRUXEL, Arnaldo. Os trinta povos guaranis. Caxias do Sul, Universidade de Caxias do Sul, Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, Sulina, 1978.

CESAR, Guilhermino. Origens da economia gaúcha: o boi e o poder. Porto Alegre: IEL: Corag, 2005.

MAESTRI Mário.[Org.] O negro e o gaúcho: Estância e fazendas no Rio Grande do Sul, Uruguai e Brasil. Passo Fundo: EdiUPF, 2008.

MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. A colônia do Sacramento. 1680-1777. Porto Alegre: Globo, 1937. 2 vol.

PINTOS, Anibal Barrios. De las Vaqueiras al alambrado. Montevideo: Nuevo Mundo, 1967.

PORTO, Aurélio. História das missões orientais do Uruguai. 2 ed. Revista e melhorada pelo p. L.G. Jaeger. Porto Alegre: Selbach, 1954. 2 vol.

QUEVEDO, Júlio. As Missões: crise e redefinição. São Paulo: Ática, 1993.

SEPP S.J., padre Antônio. Viagem às missões jesuíticas e trabalhos apostólicos. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo, EdUSP, 1980.

SEVERAL, Rejane da Silveira. A Guerra Guaranítica. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1995.

Mário Maestri é historiador, professor do curso e do programa de pós-graduação em História da UPF.

E-mail: maestr@via-rs.net