quinta-feira, 29 de outubro de 2009

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O PIG ataca novamente....


A 'cacique do PIG' Miriam Leitão baixa diretiva: 'Mais oposição'

"O Brasil tem governo demais e oposição de menos", sentencia Miriam Leitão em sua coluna desta terça-feira (27), no jornal O Globo. Como um fürher de saias, a versátil e intrépida jornalista espinafra sem piedade o PSDB, o DEM e adjacências, deixando claro quem está no comando na coligação entre o PIG (Partido da Imprensa Golpista) e a oposição convencional. Pergunta a Miriam: e o PIG, está com essa bola toda?


Por Bernardo Joffily

Miriam Leitão: "A oposição tem medo"
"O presidente Lula fala e faz o que bem entende sem um contraponto. A oposição tem medo da popularidade do presidente e acha melhor não apontar suas falhas sequenciais", denuncia a colunista de jornal, comentarista de TV e rádio, blogueira de língua afiada.

Ela dá nome aos bois: o PSDB, omisso; o DEM, temático; e sobra até para os oposicionistas em legendas da base do governo. Só escapa, por um tris, o PV, que segundo Miriam "começa a desenhar uma alternativa".

Partido de Bush virou exemplo

Miriam invoca o exemplo da oposição republicana nos Estados Unidos – essa mesma, de George W. Bush, inimiga da saúde pública. Louva-a por ter sabatinado durante uma semana a juíza Sonia Sotomayor. Enquanto "aqui, bastou meia dúzia de perguntas dos partidos de oposição, durante uma tarde", e José Antonio Toffoli foi aprovado para o Supremo.

A coluna é, à primeira vista, uma proposta de plataforma tática que Miriam Leitão recrimina a oposição convencional por não abraçar e levar adiante. Porém uma segunda leitura traz à tona o tom agastado, colérico até, e prepotente, de uma superiora a comunicar ukases.

Não sobra pedra sobre pedra, nem da ação do governo Lula, nem muito menos da ação oposicionista. O pré-sal, o PAC, a transposição do Rio São Francisco, o funcionamento colegiado dos órgãos de controle das obras do governo, o Programa Bolsa Família...

A oposição tem medo, o PIG não

"A oposição sabe a lista de absurdos encontrados nas obras do PAC ou fora dele?", admoesta a colunista. E, linhas abaixo: "A oposição tem medo de criticar".

Miriam Leitão, está visto, não tem medo de criticar. As Organizações Globo, que pagam seu salário (ou serão vários, um para cada multifunção? e de quanto?) não tem medo de criticar. O PIG não tem medo de criticar. E cobra igual intrepidez de seus aliados da oposição convencional.

Ocorre que os desgraçados oposicionistas do mundo político real terão de pedir votos para continuarem à tona nas eleições daqui a 11 meses. É compreensível que não tenham toda a bravura que Miriam exige deles, para sair à liça numa ofensiva geral de denúncias do execrável governo Lula. Não enquanto o execrável for aprovado por 82% dos eleitores, nas próprias pesquisas tucanas.

O PIG não teme porque não depende do eleitorado. Responde única e exclusivamente à vontade dos seus editores, diretores, 'publishers', dos seus donos. Os seus segredos de alcova, esses ninguém desvenda.

Mensagem final de confiança no PIG

Alguém bem podia replicar a Miriam Leitão, interpelando o PIG e seus caciques (e 'cacicas') sobre o desempenho que anda tendo. O último escândalo nacional, no Senado, não alcançou seu objetivo. Pior: esgotou-se faz cinco meses, e ainda não há outro na praça. A denúncia contra a ANP (agência Nacional de Petróleo), revelada pela mídia, terminou se revelando uma fraude forjada por um ex-araponga nomeado pelo genro do ex-presidente Fernando Henrique.

O fato é que o PIG tampouco está dando no couro. Vive à cata de alguma pegadinha como a infeliz metáfora de Lula sobre o Brasil, Jesus e Judas. Não anda fazendo justiça aos gloriosos idos de 2005, quando conquistou o galardão da bela sigla.

Porém o autor destas linhas confia. O PIG não há de nos desapontar. Mais dia, menos dia, a sequência dos escândalos há de ser retomada. O Brasil tem oposição de menos, mas, yes, nós temos PIG, PIG para dar e vender. E de que vale a opinião pública estar com Lula, se a opinião publicada estíver contra?!

Para o deleite do amigo internauta, publico abaixo, na íntegra, a coluna da colega Miriam Leitão:

"O papel da oposição"


"O Brasil tem governo demais e oposição de menos. O presidente Lula fala e faz o que bem entende sem um contraponto. A oposição tem medo da popularidade do presidente e acha melhor não apontar suas falhas sequenciais. O PSDB se omite em questões importantes, o DEM é temático, o PSB é oficialmente da base, o PV começa a desenhar uma alternativa, o PMDB é governo e sempre será.


O novo ministro do Supremo José Antonio Toffoli não foi escolhido por seu currículo, mas por sua extensa folha de serviços prestados ao PT.


Nos Estados Unidos, a juíza Sonia Sotomayor foi sabatinada por uma semana pelo Senado, e os republicanos quiserem saber o sentido de cada ato e declaração dela antes de aprová-la.


Aqui, bastou meia dúzia de perguntas dos partidos de oposição, durante uma tarde, e ele foi aprovado. Na posse de Toffoli, lá estava na primeira fila batendo palmas para ele o governador José Serra, que é o nome da oposição que está na frente em todas as pesquisas de intenção de votos.


O anúncio do pré-sal foi montado como um palanque para a candidata Dilma Rousseff, e o projeto de regulação tem uma sucessão de erros, mas lá estava Serra no lançamento, reclamando apenas dos royalties.


Cabe à oposição, de qualquer partido, mostrar os equívocos do caminho escolhido que favorece uma empresa de capital aberto, tira transparência do processo de escolha de investidores e não pesa o custo ambiental da exploração.


O PAC das cidades históricas é uma versão empobrecida de um projeto do governo passado, mas lá estava batendo palmas o governador de Minas, Aécio Neves, outro pré-candidato do PSDB.


O presidente deu uma entrevista em que nem Cristo foi poupado. Tudo o que Serra disse foi uma ironia de pouco alcance: Quando Lula ficou três dias num carnaval fora de hora, em cima de um palanque, com dinheiro público, alegando fiscalizar uma obra, Serra falou algo sobre irrigação nas terras ribeirinhas, e há um movimento de se saber o custo da viagem.


Mas a transposição do Rio São Francisco deve ser discutida também por uma série de outros motivos. Teve licença ambiental condicionada a exigências até agora não cumpridas. O rio sofre com assoreamento, esgoto sanitário de inúmeras cidades ribeirinhas, e destruição da mata ciliar. A população não pode ficar na situação de apenas se queixar ao bispo.


O presidente Lula tem atacado o TCU sucessivamente e avisa que vai apresentar uma lista de absurdos que pararam obras importantes.


A oposição sabe a lista de absurdos encontrados nas obras do PAC ou fora dele?


É melhor que saiba porque o governo informa que está pensando em criar um conselho para que as obras contestadas sejam liberadas em rito sumário.


O governo atrasa a restituição de Imposto de Renda às pessoas físicas; desmoraliza, por erros gerenciais e falta de controle, o programa de avaliação do ensino médio; planeja construir dezenas de termoelétricas a combustível fóssil nos próximos anos; permite que o setor elétrico se transforme em feudo familiar de um aliado; faz ameaças públicas a uma empresa privada; o Rio afunda numa angustiante crise de segurança. Isso para citar alguns eventos recentes sobre os quais os políticos de oposição ou fazem protesto débil ou frases de efeito.


O Bolsa Família é um programa que distribui renda para quem precisa e tem o direito de receber. Mas um dos seus méritos iniciais, quando nasceu como Bolsa Escola em experiências municipais, era não ser uma concessão assistencialista. Está perdendo essa virtude.


Seu maior desafio como política pública era ter uma porta de saída, ser uma alavanca para a mobilidade social. O governo não formatou essa porta de saída e o programa começa a perder qualidade.


A oposição tem medo de criticar o que está errado no projeto, tem medo de desmascarar o uso político-eleitoral do programa, e de propor avanços. Toda política pública é uma ferramenta. O Bolsa Família pode e deve ser aperfeiçoado, sem ser abandonado."

Com informações dO Globo

terça-feira, 27 de outubro de 2009

VOCÊ SABIA QUE...

 Planeta Voluntários
www.planetavoluntarios.com.br
Porque ajudar faz bem!

-  Mais de um bilhão de pessoas no mundo vive com menos de um dólar por dia;
- Cada dia, morrem, por causa da fome, 24 mil pessoas. 10% das crianças, em países em desenvolvimento, morrem antes de completar cinco anos...
- um terço da população é mal alimentado e outro terço está faminto.
- Que a cada dia 275 mil pessoas começam a passar fome ao redor do mundo. O Brasil é o 9º pais com o maior número de pessoas com fome...
- Atualmente, cerca de 1,2 bilhão de pessoas se encontra no estado de alta pobreza devido às condições climáticas de suas regiões.

Você Sabia?
- Mais de um bilhão de crianças, a metade dos menores do mundo, é castigado pela pobreza, as guerras e a Aids;
- Todos os dias, o HIV/AIDS mata 6.000 pessoas e infecta outras 8.200 .
- Todos os anos, seis milhões de crianças morrem de má nutrição antes de completar cinco anos.
- Cerca de 90 mil crianças e adolescentes são órfãos  no Brasil, à espera de uma adoção.
- a escassez de água já atinge 2 bilhões de pessoas. Esse número pode dobrar em 20 anos...

Você Sabia?
- Cerca de 100 milhões de pessoas estão sem teto;
- No Brasil, são 33,9 milhões de pessoas sem casa. Só nas áreas urbanas, são 24 milhões que não possuem habitação adequada ou não têm onde morar.
- Que vinte e cinco milhões de pessoas são dependentes de drogas no mundo;
- Que os indígenas continuam a ser vítimas de assassinatos, violência, discriminação, expulsões forçadas e outras violações de direitos humanos.

Você Sabia?
- Mais de 2,6 bilhões de pessoas não têm saneamento básico e mais de um bilhão continua a usar fontes de água imprópria para o consumo.
- Cinco milhões de pessoas, na sua maioria crianças, morrem todos os anos de doenças relacionadas à qualidade da água.
- No mundo inteiro, 114 milhões de crianças não recebem instrução sequer ao nível básico e 584 milhões de mulheres são analfabetas.

Você Sabia?
- Que  é gasto 40 vezes mais dinheiro com cosméticos do que com doações...
- é gasto 10 vezes mais dinheiro com armas do que com educação básica;
- O Brasil é campeão mundial de desmatamento. Em segundo lugar está a Indonésia: 18,7 km2 por ano e, em terceiro, segue o Sudão, com 5,9 km2.
- O país perdeu um campo de futebol a cada dez minutos na Amazônia, nos últimos 20 anos.

..Agora você já sabe.

E vai ficar aí parado?  Tome uma atitude.

Milhões de Pessoas em Pobreza Extrema Precisam da sua Ajuda!
Seja Voluntário você Também!



Olimpíadas do social




  Frei Betto   

 
O governo acaba de divulgar os dados do Censo Agropecuário. E de dar razão ao MST quando reivindica reforma agrária.
 
Há no Brasil 5,175 milhões de propriedades rurais. Ocupam uma área total de 329,9 milhões de hectares. Um hectare equivale a um campo de futebol. Essas propriedades empregam 16,5 milhões de pessoas, e mais 11,8 milhões de trabalhadores informais (bóias-frias, diaristas etc.).
 
Dos que trabalham no campo, 42% não terminaram o ensino fundamental; 39,1% são analfabetos; apenas 8,4% têm o fundamental completo; 7,3% obtiveram diploma de nível superior; e 2,8% cursaram o técnico agrícola.
 
Esses dados explicam a baixa qualidade dos trabalhadores rurais, uma vez que o governo não lhes oferece instrução adequada, e a perversa existência de trabalho escravo, favorecido pela situação de miséria de migrantes em busca de sobrevivência.
 
A concentração de terras em mãos de poucos é 67% superior à da renda no país, cuja desigualdade se destaca entre as maiores do mundo. Essa concentração, agravada pelo agronegócio voltado à exportação de soja, cana e carne de gado reduz o número de trabalhadores no campo.
 
Em dez anos, 1,363 milhão de pessoas deixaram de trabalhar na lavoura. Muitas viraram sem-terra. E não foram poucas as que migraram para, nas cidades, engordar o cinturão de favelas e agravar a incidência da mendicância e da violência urbana.
 
A mesa do brasileiro continua a ser abastecida pela agricultura familiar, que emprega 12 milhões de pessoas (74,4% dos trabalhadores no campo), enquanto o agronegócio contrata apenas 600 mil. Na cesta básica, a agricultura familiar é responsável pela produção de 87% da mandioca e 70% do feijão.
 
Segundo o Censo, 30% das nossas lavouras utilizam agrotóxico. Porém, apenas 21% recebem orientação regular sobre essa prática. Ou seja, muitos utilizam herbicidas no lugar de inseticidas e, ao aplicar veneno na terra, não cuidam de se proteger da contaminação.
 
Na mesa do brasileiro, entre verduras folhudas e legumes viçosos, campeia a química que anaboliza os produtos e prejudica a saúde humana. São 713 milhões de litros de veneno injetados, por ano, na lavoura do Brasil. E até hoje o governo resiste à proposta de obrigar a prevenir os consumidores sobre se o produto é ou não transgênico.
 
A agricultura orgânica ainda é insignificante no Brasil: apenas 1,8%. Mas já envolve mais de 90 mil produtores. A maior parte da produção (60%) se destina à exportação: Japão, EUA, União Européia e mais 30 países.
 
O Censo revelou ainda que os jovens estão abandonando o campo. Apenas 16,8% dos produtores têm menos de 35 anos de idade, e 37,8% têm 55 ou mais. Houve melhora na qualidade de vida: 68,1% dos estabelecimentos rurais contam com energia elétrica (o programa Luz para Todos funciona) e a irrigação aumentou 39%, favorecendo 42% da área total.
 
Em dezembro, os chefes de Estado de todo o mundo se reunirão em Copenhague para debater o novo acordo climático, considerando que o Protocolo de Kyoto expira em 2012. Segundo dados da ONU, em 2050 – quando haverá aumento de 50% da população do planeta - a escassez de alimentos ameaçará 25 milhões de crianças, pois a produção mundial, devido ao aquecimento global, sofrerá redução de 20%.
 
Os habitantes dos países pobres terão acesso, em 2050, a 2,41 mil calorias diárias, 286 calorias a menos do que em 2000. Nos países industrializados, a redução será de 250 calorias. Drama que poderá ser evitado se houver investimento de US$ 9 bilhões/ano para aumentar a produtividade agrícola.
 
Estudo do Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar constata que a escassez levará à alta dos preços de alimentos básicos, como trigo, soja e arroz. Este produto, essencial na dieta mundial, poderá ter aumento de até 121%! Hoje, a fome ameaça 1,02 bilhão de pessoas (15% da população mundial).
 
O Brasil é, hoje, um dos maiores produtores mundiais de alimentos. Nosso rebanho bovino conta com quase 200 milhões de cabeças – responsáveis também pelo aquecimento global -, e a fabricação de etanol elevou a produção de cana-de-açúcar para quase 400 milhões de toneladas/ano.
 
Apesar dos dados positivos de nossa produção agropecuária, ainda convivemos com a fome (11,9 milhões de brasileiros); a mortalidade infantil (23 em cada 1.000 nascidos vivos); o analfabetismo (15 milhões); e alto índice de criminalidade (40 mil assassinatos/ano).
 
Bom seria se a nação também se mobilizasse para as Olimpíadas do Social e, enquanto o Rio reforma seus estádios para 2016, o Brasil promovesse as tão sonhadas, prometidas e adiadas reformas: agrária, política, educacional, sanitária e tributária. 
 
Frei Betto é escritor, autor do livro de contos "Aquário negro" (Agir), entre outros livros.
 

Resistência ao glifosato: pesadelo assombra produtores de soja transgênica


 

Por Alejandro Nadal (*)
Um fantasma percorre os campos do Chaco, norte da Argentina. Após meses de investigação e acaloradas disputas, confirmou-se a existência de uma variedade de sorgo (Sorghum halepense – também conhecido no Brasil como capim Massambará, Pasto Russo ou Erva de São João) resistente ao herbicida glifosato, na província de Salta. É o primeiro caso de uma variedade de sorgo resistente ao glifosato desde que esse herbicida começou a ser usado no mundo, há três décadas. A difusão desta erva daninha através das colheitadeiras que circulam por todos os lados após cada safra não é um bom augúrio.
A presença do sorgo resistente ao glifosato já foi reconhecida pelo principal organismo encarregado de vigiar as ervas daninhas resistentes a herbicidas (www.weedscience.org). Essa descoberta é um pesadelo que se tornou realidade para os produtores de soja transgênica. É também uma lição para a Sagarpa (organização mexicana de proteção fitossanitária), que acaba de autorizar ilegalmente as primeiras plantações experimentais de milho transgênico no México. É o primeiro passo no caminho para autorizar a plantação comercial e consolidar a liberação do milho geneticamente modificado no México, centro de origem deste cultivo de importância mundial.
Vamos por partes. O Sorghum halepense é uma das dez principais ervas daninhas que afetam a agricultura de climas temperados. É uma erva daninha perene, dotada de grande capacidade de reprodução e sobrevivência ao controle por meios mecânicos. A ironia é que em muitos países, incluindo a Argentina, foi introduzido como uma espécie forrageira, por sua alta produtividade e capacidade de adaptação. Em poucos anos, converteu-se em uma praga cujo combate com agentes químicos teve grandes custos para os agricultores e para a biodiversidade.
Na luta contra essa “erva daninha perfeita” vinha se usando o glifosato, herbicida de amplo espectro que destrói, em plantas superiores, a capacidade de sintetizar três aminoácidos essenciais. É o herbicida seletivo de maior venda no mundo e sua expansão acelerou-se com os cultivos transgênicos como os da soja Roundup Ready, da Monsanto, geneticamente modificada para aumentar sua resistência ao glifosato. Hoje, a soja transgênica é plantada em cerca de 18 milhões de hectares na Argentina. Esse cultivo transformou a paisagem rural do pampa, transtornando as relações sociais que permitiam a pequena agricultura e abrindo as portas para o agronegócio em grande escala. As exportações de soja são o principal sustento da política fiscal Argentina: 18% da receita fiscal total vêm do imposto sobre as vendas de soja ao exterior. Mas o colapso desta bolha da soja é uma questão de tempo. A aparição do sorgo resistente ao glifosato é só um aviso. A soja transgênica usa um pacote tecnológico de plantio direto (ou lavragem mínima), onde se deixa o mato cobrir a terra para protege-la da chuva e do vento. Isso reduz os riscos de erosão, mas deve ser acompanhado de um incremento no uso de herbicidas. Esse tipo de cultivo está associado a um crescimento espetacular do uso destes insumos: em apenas dez anos, o consumo de glifosato passou de 15 a 200 milhões de litros.
O resultado, no final do caminho, era de se esperar: cedo ou tarde, apareceriam espécies resistentes às estratégias desenhadas e implementadas por este modelo de agricultura comercial. Com a difusão do pacote tecnológico da soja transgênica, essa resistência apareceria mais rapidamente, pois o processo de co-evolução (que, no fundo, é o que rege esse fenômeno) iria se acelerando. É o que acontecerá também com o milho transgênico cujo plantio está sendo autorizado agora no México. A aparição de insetos resistentes à toxina produzida nos cultivos transgênicos Bt é uma questão de tempo.
Ainda não há registro de grandes populações resistentes à toxina Bt, mas em parte isso se deve à estratégia que consiste em deixar refúgios de plantas não transgênicas nas áreas plantadas. Nos Estados Unidos, essa prática tem sido acompanhada pelo uso complementar de inseticidas. Mas a advertência de ecólogos e agrônomos segue vigente: essas estratégias só retardam o processo de aparição de insetos resistentes ao Bt, não o detém. O cultivo de milho transgênico no México aumentará a probabilidade de surgimento de populações de insetos resistentes ao Bt em um menor espaço de tempo. Esse não é o único problema, mas o exemplo do sorgo na Argentina é um sinal que não devemos ignorar.
A trajetória tecnológica dos cultivos geneticamente modificados nos conduz a um beco sem saída. É claro que, para as empresas e seus cúmplices no governo, este é um bom instrumento para tornarem-se donas do campo, transformando-o em seu espaço de rentabilidade. Para a Sagarpa e o governo (falando aqui do caso mexicano) nada deve se interpor entre as companhias transnacionais e a rentabilidade, nem sequer a débil legislação sobre biossegurança que foi desenhada para servir aos interesses dessas mesmas empresas.
(*) Alejandro Nadal é economista, professor pesquisador do Centro de Estudos Econômicos, no Colégio do México. Colaborador do jornal La Jornada, onde este artigo foi publicado originalmente dia 20 de outubro.

Grande farsa...

Farsa em Cabul, tragédia no Paquistão


Há algumas semanas, o chefe da ONU em Cabul, um norueguês de cabeça dura, decidiu que as recentes eleições presidenciais foram correctas e que Karzai era um governante legítimo. O seu adjunto, Peter Galbraith, o representante não-oficial do Departamento de Estado, ficou enfurecido (já que os EUA estão descontentes com Karzai, que é a sua própria criatura) e assumiu uma posição pública. Foi demitido.
Mas as histórias envolvendo representantes dos EUA e as Nações Unidas nunca acabam assim. Ontem, o supervisor eleitoral apoiado pela ONU determinou que as eleições tinham sido fraudulentas e ordenou uma nova volta. As montanhas do Indocuche devem ter ressoado com o som das risadas pachtun.
Ninguém no Afeganistão leva as eleições demasiado a sério, especialmente quando o país está ocupado pelos EUA e pelos seus acólitos da NATO. Nos velhos tempos, ter-se-iam livrado de Karzai, tal como dos ditadores sul-vietnamitas que armavam demasiada confusão.
Karzai tem sido um desastre total, mas o mesmo acontece com a ocupação que o implantou em Cabul. Agora, com uma guerra que vai muito mal e com os insurgentes a controlar grandes porções do território, Karzai está a ser o bode expiatório para pecados de que ele não é exclusivamente responsável.
Uma solução que está a ser considerada é a nomeação pelos EUA/ONU de um director-executivo e aqui Peter Galbraith seria a escolha óbvia. Isso seria muito mais simples e o director-executivo poderia nomear um gabinete em que todos os malfeitores pudessem compartilhar os despojos do comércio de ópio e um pedaço do dinheiro a ser gasto no país, quebrando assim o monopólio financeiro da família Karzai.
A única razão para a humilhação pública de um fantoche fiel é a sua recusa em compartilhar o poder e o dinheiro com outros colaboradores. Se for autorizado a permanecer no poder, prevejo que vai estar mais disposto a partilhar. Não que isso vá resolver quaisquer problemas na falta de uma estratégia de saída da NATO da região.
Enquanto a farsa se desenrola em Cabul, no vizinho Paquistão a situação tornou-se mais mortal. O governo de Zardari (efectivamente dirigido pela embaixadora dos EUA, Anne W. Patterson) ordenou ao exército do Paquistão para acabar com os talibãs no Waziristão do Sul, perto da fronteira afegã.
Isso também vai falhar. Mais inocentes vão morrer, mais refugiados serão criados juntando-se aos dois milhões de “deslocados internos” que já vivem em acampamentos. O resultado será um legado amargo, alimentando o ódio e ataques de vingança na região e, fatalmente, criando novas tensões no interior do exército do Paquistão.
Incapazes de compreender que foi o derramamento da guerra do Afeganistão sobre o Paquistão que exacerbou a crise no Paquistão, as directivas da administração Obama só a podem tornar pior.
Fonte: Counterpunch

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

É tempo de o mundo aceitar um Irã nuclear


por  Anoush Maleki, PressTV, Teerã

Créditos: Viomundo

O presidente George W. Bush, apoiado por conhecido grupo de neoconservadores e pela gangue de Tel Aviv, fez o que pôde para formular sua política externa de guerras, de modo a seu sucessor ser obrigado a gerir um terceiro conflito militar no Oriente Médio.
O Irã está na agenda da Casa Branca há muitos anos; hoje, o pretexto mais potente em uso é o programa nuclear iraniano, conduzido rigorosamente conforme as normas e sob vigilância dos especialistas da ONU.
Sob a alegação de que o governo anticapitalista de Teerã trabalharia para obter bombas atômicas para destruir Israel, o governo Bush cooptou apoios internacionais para impor sanções econômicas contra o Irã. O Conselho de Segurança da ONU adotou a via de três rounds de resoluções-sanções e proibiu o Irã de enriquecer urânio mesmo que exclusivamente para fins pacíficos.
O Irã, que é signatário do Tratado de Não-proliferação Nuclear [ing. Nuclear Non-Proliferation Treaty (NPT)], tem legítimo direito de enriquecer urânio para gerar combustível para suas usinas nucleares atualmente em construção. A Agência Internacional de Energia Atômica [ing. International Atomic Energy Agency (IAEA)] — único corpo que tem autoridade para intervir em programas nucleares em todo o planeta – já confirmou essa evidência.
Pois o presidente Bush parecia não ter qualquer dúvida de que, incluindo Teerã no seu famigerado "eixo do mal", o mundo o seguiria sem discutir e passaria a ver os iranianos como perfeitos demônios, decididos a construir bombas atômicas e iniciar uma guerra atômica.
De fato, o que interessava era soar os tambores de guerra contra o Irã. O inesperado revés econômico que os EUA sofreram, contudo, interrompeu a longa sequência de tentativas.
Hoje, até os mais neoconservadores já sabem que um ataque militar ao Irã, para destruir sua infraestrutura nuclear só conseguirá, no máximo, atrasar o desenvolvimento do programa. À parte a retaliação massiva que o exército do Irã e os Guardas da Revolução Islâmica [ing. Islamic Revolution Guards Corps (IRGC)] já anunciaram no caso de ataque ao Irã, o preço do petróleo subiria às alturas, "para mais de $200 o barril, em questão de horas" – o que demoliria os esforços para tentar recuperar a economia dos EUA, como escreveu o presidente do Conselho de Relações Exteriores, Richard N. Haass, em coluna intitulada "A Different Regime Change in Iran" [Uma diferente troca de regime no Irã], no Financial Times (13/10/2009).
A verdade é que o preço desse curso de ação é alto demais.
O presidene Obama, enquanto isso, suavizou a retórica desde que assumiu e adotou linguagem mais amena, oferecendo um raio de esperança para a diplomacia com Teerã – os dois Estados não mantêm relações diplomáticas desde a invasão da embaixada dos EUA em Teerã, em 1980.
Ironicamente, a questão nuclear aproximou mais os dois governos. O Irã está fazendo o que lhe cabe fazer. Está cooperando com a IAEA e considera a possibilidade de comprar urânio enriquecido para seu reator de um provável consórcio a ser constituído por França, Rússia e EUA.
No domingo, o Irã autorizou a inspeção pelos especialistas da ONU, que foram autorizados a visitar uma usina de enriquecimento a sudoeste de Teerã, de cuja existência a Agência foi informada em setembro, cerca de um ano e meio antes de a usina entrar em operação.
Mesmo assim, enquanto os EUA continuarem a divulgar e reforçar suspeitas de que o Irã estaria trabalhando para construir armas atômicas, nada autoriza a ter qualquer esperança de que Washington venha a trabalhar para reconstruir melhores relações. De fato, é chegada a hora de o governo dos EUA começar a agir de modo a merecer mais confiança.
Mais cedo ou mais tarde, a Casa Branca terá de render-se à evidência de que Teerã não desistirá de seu programa nuclear. O governo e os iranianos em geral crêem firmemente que têm o inalienável direito de prosseguir e dar andamento ao seu programa nuclear para objetivos pacíficos.
A natureza da política exterior iraniana, apesar dos seus valores anticapitalistas, é pacífica. O país jamais atacou qualquer nação e há décadas não ameaça, sequer, fazê-lo. Seus líderes e o povo consideram pecado o uso de armas de destruição em massa – já declarado contrário aos princípios do Islã.
Assim sendo, a ideia de que o Irã decida um dia construir e armazenar armas de destruição em massa, usá-las contra outro país, ou entregá-las a terroristas é completo delírio.
O Irã – governo e cidadãos – buscam construir um relacionamento com a comunidade internacional baseado em respeito mútuo, com vistas a alcançar objetivos mútuos.
"Vim [ao Cairo] em busca de um recomeço entre os EUA e os muçulmanos de todo o mundo; recomeço baseado em respeito mútuo, com vistas a alcançar objetivos mútuos. Recomeço baseado na certeza de que os EUA e o Islã não são excludentes e não têm de competir. Em vez disso, sobrepõem-se e partilham princípios comuns – princípios de justiça e progresso; de tolerância e dignidade para todos os seres humanos" – disse o presidente Obama no Cairo, dia 4/6/2009, falando ao mundo muçulmano.
Sabe-se que esses objetivos não serão alcançados do dia para a noite. Resta esperar apenas que o presidente dos EUA tenha sido sincero.
O artigo original, em inglês, pode ser lido em:
http://www.presstv.com/detail.aspx?id=109619&sectionid=3510303
Tradução: Caia Fittipaldi

Da deslocalização de empregos ao salvamento de banqueiros

Os ricos saquearam a economia

  Paul Craig Roberts [*]
. A agência Bloomberg acusou os assessores mais próximos do secretário do Tesouro Timothy Geithner de terem recebido milhões de dólares por ano, trabalhando para o Goldman Sachs, para o Citygroup e para outras empresas da Wall Street. A Bloomberg acrescenta ainda que nenhum destes assessores tinha sido aprovado pelo Senado. Porém, são eles que supervisionam a transferência de centenas de milhares de milhões de dólares de fundos dos contribuintes para os seus antigos patrões.

Esta dádiva de milhares de milhões de dólares dos contribuintes deu aos bancos uma abundância de capital a baixo custo que fez disparar os seus lucros, enquanto os contribuintes que forneceram o capital ficaram desempregados e sem casa.

O JP Morgan Chase anunciou que no terceiro trimestre deste ano lucrou 3,6 mil milhões de dólares.

O Goldman Sachs ganhou tanto dinheiro durante este ano de crise económica que já está a pensar nos chorudos bónus. O jornal londrino Evening Standard informou que os “5 500 funcionários em Londres podem esperar uma média recorde de pagamentos de cerca de 500 mil libras cada (800 mil dólares). Os principais administradores receberão bónus no valor de vários milhões de libras cada, sendo 10 milhões de libras o valor mais alto a pagar (16 milhões de dólares).

Na eventualidade de os bankters (banqueiros+gangsters) não conseguirem pensar numa forma de aproveitar esta abundância, o Financial Times disponibiliza uma nova revista intitulada – “Como gastá-la”.

Os comerciantes de Nova Iorque rezam para que lhes chegue algum desse dinheiro, agora que enfrentam uma queda de 15,3% na ocupação dos hotéis da Quinta Avenida. O perito em estatística John Williams (shadowstats.com) afirma que a venda a retalho ajustada à inflação caiu para o nível de há dez anos: “Os últimos 10 anos de crescimento real do comércio a retalho foram praticamente anulados nesta depressão que ainda vigora”.

Entretanto, o número de utentes dos abrigos da cidade de Nova Iorque atingiu um recorde de 39 mil, sendo que 16 mil são crianças.

A administração da cidade de Nova Iorque ficou tão afectada que está a pagar 90 dólares por noite no aluguer de apartamentos novos para os sem-abrigo. Em desespero, as autoridades estão a oferecer bilhetes de avião só de ida aos sem-abrigo que queiram abandonar a cidade enquanto cobram uma renda aos residentes destes abrigos que têm emprego. Uma mãe solteira que ganhe 800 dólares por mês paga 336 dólares de renda.

O desemprego prolongado tornou-se um sério problema em todo o país, fazendo duplicar a taxa de desemprego oficial de 10 para 20%. Actualmente, o subsídio de desemprego prolongado está a acabar para centenas de milhares de norte-americanos. A elevada taxa de desemprego fez de 2009 um ano excepcional para o ingresso no exército.

While the US speeds plans for the ultimate bunker buster bomb and President Obama prepares to send another 45,000 troops into Afghanistan, 44,789 Americans die every year from lack of medical treatment. National Guardsmen say they would rather face the Taliban than the US economy.

Um número recorde de norte-americanos, mais de um em cada nove, sobrevive graças ao programa governamental de ajuda alimentar “Food Stamps”. Os incumprimentos relacionados com as hipotecas estão a aumentar à medida que os preços do mercado imobiliário caem. Na opinião de Jay Brinkmann, da Mortgage Bankers Association, a perda de emprego alastrou o problema dos empréstimos bancários de alto risco aos empréstimos de taxa fixa. Na feira popular do condado de Wise na Virgínia, duas mil pessoas fizeram fila para obter cuidados de saúde gratuitos.

Numa altura em que os EUA aceleram os planos de construção da bomba destruidora de casamatas (bunker buster bomb) e em que o Presidente Obama se prepara para enviar mais 45 mil soldados para o Afeganistão, 44 789 norte-americanos morrem todos os anos por falta de cuidados médicos. Os elementos da Guarda Nacional dizem que preferem enfrentar os Talibã do que a economia dos EUA.

Não é de admirar. Face aos piores níveis de desemprego desde a Grande Depressão, as companhias norte-americanas continuam a exportar empregos e a substituir os seus funcionários nos EUA por emigrantes mal pagos que têm vistos para trabalhar.

A exportação de empregos, o salvamento de banksters ricos e os défices devidos à guerra estão a destruir o valor do dólar. O dólar norte-americano tem vindo rapidamente a perder valor desde a última Primavera. A divisa da superpotência hegemónica diminuiu 14% em relação ao pula do Botswana, 22% em relação ao real e 11% em relação ao rublo. Assim que o dólar perca o seu estatuto de divisa de reserva, os EUA serão incapazes de liquidar as suas importações ou financiar os défices do seu orçamento governamental.

A deslocalização da produção fez com que os norte-americanos se tornassem excessivamente dependentes das importações e a perda de poder de compra do dólar irá comprometer ainda mais os rendimentos dos EUA. Uma vez que o Federal Reserve se vê forçado a monetizar a questão das dívidas do Tesouro, a inflação interna irá irromper. À excepção dos banksters e dos directores gerais das companhias deslocalizadas para o estrangeiro, não existe uma fonte de procura do consumidor que estimule a economia dos EUA.

O sistema político é insensível para com o povo norte-americano. O sistema é exclusivo de alguns grupos de interesse poderosos que controlam as contribuições para campanhas [eleitorais]. Os grupos de interesse têm exercido o seu poder no sentido de monopolizar a economia para benefício próprio. O povo norte-americano está condenado.
[*] Ex-secretário assistente do Tesouro na administração Reagan, co-autor de The Tyranny of Good Intentions .    Email: PaulCraigRoberts@yahoo.com

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/roberts10162009.html . Traduzido por Ernesto Correia.


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Mulheres de montadoras denunciam violações contra seus direitos trabalhistas






Adital -
 
 
Com o objetivo de construir mecanismos que garantam melhores condições de trabalho e respeito aos direitos humanos, as organizações de mulheres que trabalham nas indústrias montadoras elaboraram uma "Agenda Política e Laboral". O tema é urgente, uma vez que 80% das 70.000 pessoas empregadas das máquinas (há cerca de 180 montadoras têxteis no país) são mulheres. As discriminações no setor das montadoras são evidentes. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MINTRAB), os salários entre homens e mulheres seguem diferenciados. "Recebemos um salário equivalente a US$ 110.00 ao mês, enquanto o dos homens é de US$ 125.00 dólares. Esse investimento impede à mulher que trabalha na montadora adquirir a cesta básica vital, estimada em pelo menos US$ 400.00 dólares, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE)", afirma a proposta das organizações.
As entidades denunciam, ademais, as várias formas de violações aos direitos humanos. Dentre muitas, apontam: Não existe uma responsabilidade dos empregadores em cumprir com as normas e medidas de saúde ocupacional, segurança e higiene, água potável para beber, serviços sanitários adequados, e a quantidade necessária destes, por número de trabalhadoras e trabalhadores; Existe abuso, assédio e castigo sexual, maus tratos, golpes e gritos; Existe uma violação ao direito da sindicalização, já que ao menor sinal de reivindicação de seus direitos são despedidas. "Depois de haver discutido, refletido e analisado em profundidade nossa realidade, as trabalhadoras da montadora, casa particular e agroexportadoras, acreditamos que seja importante que se conheça a nível nacional e internacional a constante violação a nossos direitos como mulheres e como mulheres trabalhadoras; evidenciar a falta de vontade política e humana por parte do Governo e das entidades reitoras das políticas trabalhistas em resolver os problemas que enfrentamos nas fábricas, na casa onde trabalhamos e na agricultura", expõem
Assim, as organizações demandam igualdade salarial por igual trabalho entre homens e mulheres, respeito às jornadas laborais segundo o estabelecido no Código de Trabalho, e aumento de salário de acordo com o custo da cesta básica.
Elaboraram a Agenda: Associação de Mulheres Empregadas e Desempregadas Unidas contra a Violência (AMUCV), Associação de Mulheres Sementes de Mostarda, Associação de Trabalhadoras do Lar em Domicílio e da Montadora (ATRAHDOM), Associação pelos Direitos da Trabalhadora da Casa Particular, Mãe Solteira e Mulher Rural (ASOCASA), Centro para a Ação Legal em Direitos Humanos (CALDH), Comitê Permanente de ex-Trabalhadoras da Montadora (CAMBRIDGE), Grupo de Mulheres Amatitlanecas Organizadas Rompendo o Silêncio (MAORS), e Mulheres com Valor Construindo um Futuro Melhor (MUVACOFUM).

domingo, 25 de outubro de 2009

Belissima análise....

A América Latina e o período histórico atual

Emir Sader

I. O período histórico atual foi aberto pela confluência de três viradas, todas elas de caráter regressivo:

- a passagem de um mundo bipolar a um mundo unipolar, sob hegemonia imperial norteamericana;

- a passagem de um ciclo longo expansivo do capitalismo a um ciclo longo de caráter recessivo;

- a passagem da hegemonia de um modelo regulador – ou keynesiano ou de bem-estar social, como se queria chamá-lo – a um modelo neoliberal, desregulador, de livre mercado.

O triunfo do bloco sob direção norteamericana levou, depois de muitas décadas, a um mundo unipolar, com uma hegemonia inquestionável de uma única superpotência e a derrota e desaparição da outra – situação nunca antes vivida no mundo. Todo o papel de freio relativo à expansão imperial dos EUA deixou de existir, foram possíveis as guerras das duas últimas décadas – algumas chamadas de “guerras humanitárias”, violando a soberania de países, o que não acontecia desde o fim da primeira guerra mundial.

A irrupção de um mundo unipolar permite a apropriação militar e econômica pelo bloco ocidental e, em particular, pelos EUA, que puderam estender a economia de mercado a territórios insuspeitados como a China, a Rússia e os países do leste europeu. Permitiu incorporar à União Européia e à Otan a países antes membros do Pacto de Varsóvia. Configura-se assim um sistema mundial único, nos planos econômico, político e militar, sob direção norteamericana. Um único império mundial, mesmo se com contradições e disputas internas, reina no mundo. As guerras se dão desse bloco dominante contra zonas de resistência à sua dominação – Iugoslávia, Iraque, Afeganistão.

A passagem do ciclo longo expansivo – o de maior desenvolvimento capitalista, que Eric Hobsbawn caracterizou como a “era de ouro” desse sistema – ao ciclo longo recessivo tem repercussões importantes. Aquela ciclo teve a convergência dos três vetores fundamentais da economia mundial – os EUA (com a Alemanha e o Japão crescendo ao mesmo tempo que os EUA, fenômeno único), o campo socialista e economias da periferia (como México, Argentina e Brasil). Na sua convergência, produziram o maior ritmo de crescimento da economia mundial. Foi também o período de consolidação da hegemonia econômica norteamericana e do bloco ocidental.

A passagem ao ciclo longo recessivo não apenas significou a diminuição radical dos ritmos de crescimento, mas também a substituição do tema central do período anterior – o crescimento econômico – pelo de estabilização. De uma pata desenvolvimentista, a uma conservadora. Ao mesmo tempo que foi introduzida a temática da “ingovernabilidade” como central. Esta expressaria o conflito entre condições de produção da economia e demandas, como reflexo do ciclo longo recessivo e dos direitos acumulados ao longo das décadas de expansão econômica.

Esse conflito foi também o responsável pela irrupção de crises inflacionarias, especialmente nos países da periferia. Foi nesse hiato que se insinuou o FMI, com empréstimos em troca de cartas de intenções, que impunham duros ajustes fiscais, que preparam o caminho para Estados mínimos e políticas neoliberais.

O terceiro fator, a hegemonia de modelos neoliberais, com uma abrangência mundial que nenhum outro modelo tinha conseguido, teve a ver com essa transição de ciclo longo. Os programas neoliberais consolidaram uma nova relação de forças em escala mundial, iniciada com o fim da bipolaridade. A globalização e seus programas de desregulação, de abertura das economias, de privatizações, de precarização das relações de trabalho, de Estado mínimo, alteraram de forma radical a relação de forças entre os países do centro e da periferia, e entre as classes sociais dentro de cada país.

Intensificou-se a concentração econômica e de poder a favor das potências globalizadoras, em detrimento dos países da periferia. Estes, com Estados vítimas de acelerados processos de abertura econômica, viveram crises de caráter neoliberal, como foram os casos do México, da Rússia, dos países do sudeste asiático, do Brasil e da Argentina, em particular.

Modificou-se também radicalmente a correlação interna entre as classes em cada país, a favor das elites dominantes, com políticas neoliberais de precarização das relações de trabalho, com o aumento do desemprego aberto e da fragmentação do mundo do trabalho.

2. Na sua confluência de todos esses fatores essa mudança de período representa uma alteração de grandes proporções nas relações de força em escala mundial, com seus reflexos em cada região e em cada país. É preciso detalhar mais algumas das suas conseqüências.

A hegemonia dos EUA como superpotência representou que ele se tornou a única potência política mundial, que tem interesses em todas as partes do mundo, tem políticas para todos os temas e lugares. Sua superioridade militar se tornou incomensurável. A vitória na guerra fria significou também o triunfo ideológico da interpretação do mundo do campo vencedor.

Para o campo socialista o enfrentamento central da nossa época se dava entre o socialismo e o capitalismo. Para o campo imperialista, se daria entre totalitarismo e democracia. Teria sido derrotado o totalitarismo nazista e fascista, em seguida teria sido derrotado o totalitarismo comunista, agora se buscaria derrotar o totalitarismo islâmico e terrorista.

Com o triunfo do campo ocidental, desapareceram as alternativas no horizonte histórico contemporâneo, as propostas anticapitalistas. Cuba entrou no seu “período especial” diante do fim do campo socialista e da URSS, buscando evitar retrocessos. A China optou pela via de uma economia de mercado.

Democracia liberal passou a sintetizar democracia, economia capitalista se dissolveu no marco de uma suposta economia internacional ou economia de mercado. Foi uma vitória de uma visão do mundo e de uma forma determinada de vida – “o modo de vida norteamericano”. Este se transformou no elemento de mais força na hegemonia dos EUA no mundo, praticando não deixando intacto nenhum rincão do mundo – da China à periferia das grandes metrópoles – imune à sua influência.

Se esse é o elemento de maior força, a esfera econômica está entre seus pontos mais débeis. A desregulação econômica promovida pelo neoliberalismo, propiciou a hegemonia acelerada e generalizada do capital financeiro sob sua forma especulativa, tendo como resultado a financeirização das economias. Esse processo costuma marcar as fases finais dos modelos hegemônicos, que desembocam em fases de hegemonia do capital financeiro, característico de momentos de estagnação, como o atual ciclo longo recessivo da economia. Uma hegemonia que é difícil de reverter, uma vez enfraquecidos os estímulos para os investimentos produtivos, o que define um horizonte econômico de instabilidade e de estagnação ou de baixos níveis de crescimento.

A crise atual, que afeta profunda e extensamente a economia dos EUA e se estendeu pelo resto do mundo, nasceu exatamente dessas debilidades – da hegemonia do capital financeiro – para depois se manifestar como recessão econômica aberta. Uma crise que produz uma recessão longa e profunda na economia dos EUA e dos países do centro do capitalismo, sem que tenha a capacidade de reverter a sua raiz – a financeirização da economia.

Ao mesmo tempo, apesar de ter se transformado em única superpotência, com forte predominância no plano militar, os EUA não conseguem resolver duas guerras ao mesmo tempo – Iraque e Afeganistão.

Nenhuma outra potência ou conjunto de potências consegue rivalizar com os EUA, apesar das debilidades que este apresenta. Da mesma forma que, apesar do seu esgotamento, o modelo neoliberal, como não é simplesmente uma política de governo, passível de ser mudada de um momento a outro, mas de um modelo hegemônico, que inclui valores, ideologia, cultura, além de profundas e extensas raízes econômicas, tampouco se divisa outro modelo, por enquanto, que possa sucedê-lo.

Assim, entramos em um período de enfraquecimento relativo da capacidade hegemônica dos EUA, e esgotamento do modelo neoliberal, sem que alternativas tenham ainda capacidade de se impor. Porque no momento em que o capitalismo revela mais claramente seus limites, suas vísceras, ao mesmo tempo os chamados “fatores subjetivos” de construção de alternativas para a sua superação, também sofreram grandes retrocessos.

Instaura-se assim uma crise hegemônica, em que o velho não se resigna a morrer e o novo morrer e o novo tem dificuldades para nascer e substituí-lo. Como busca sobreviver o velho? Baseado em dois eixos: as políticas internacionais de livre comércio, com as instituições que os multiplicam,como o FMI, o Banco Mundial, a OMC. E, dentro de cada país, na ideologia do consumo, do shopping-center, do mercado.

Mas tem contra si a hegemonia do capital financeiro sob sua forma especulativa, que não apenas bloqueia a possibilidade de retomada de um novo ciclo expansivo da economia, como promove instabilidade, pela livre circulação dos capitais financeiros. Mas, ao mesmo tempo, não surge um modelo alternativo ao modelo neoliberal.

A construção de alternativas se choca assim com uma estrutura econômica, comercial e financeira, internacional, que reproduz o livre comércio, propicio às políticas neoliberais. E como ideologias consolidadas nas formas de comportamento e de busca e acesso a bens de consumo na vida cotidiana das pessoas.

Pode-se prever assim que estamos em período mais ou menos longo de instabilidade e de turbulências, tanto políticas, quanto econômicas, até que se forjem as condições de hegemonia de um modelo pósneoliberal e de uma hegemonia política mundial alternativa a dos Estados Unidos.

3. A América Latina sofreu diretamente a passagem ao novo período histórico. Praticamente todos os seus países foram vítimas das crises das dívidas, entrando na espiral viciosa de crise fiscal, empréstimo e cartas de intenções do FMI, enfraquecimento do Estado e das políticas sociais, hegemonia do capital financeiro, retração do desenvolvimento econômico, substituído pelo tema da estabilidade monetária e dos ajustes fiscais. Afetados centralmente por essas transformações, a América Latina passou a ser o continente privilegiado dos experimentos neoliberais.

As ditaduras militares em alguns desses países, entre os que se situam aqueles de maior força, até então do campo popular, como o Brasil, o Chile, a Argentina, o Uruguai, haviam quebrado a capacidade de resistências dos movimentos populares a políticas concentradoras de renda. Isso preparou o caminho para a hegemonia de políticas neoliberais.

Essas políticas foram se impondo, desde o Chile do Pinochet e a Bolívia do MNR, passando pela adesão de forças nacionalistas, como no México e na Argentina, até chegar a partidos social-democratas, como os casos da Venezuela, do Chile, do Brasil, quase que generalizando-se a todos o espectro político. A década de 1990 foi a do predomínio generalizado de governos neoliberais, alguns prolongados no tempo – como os do PRI no México, de Carlos Menem na Argentina, de FHC no Brasil, de Albertu Fujimori no Peru, no Chile de Pinochet e da Concertação (PS-DC); outros entrecortados por movimentos populares que derrubaram presidentes, como na Bolívia e no Equador, ou que fracassaram, como na Venezuela (com AD e com COPPEI).

Paralelamente foram se dando crises nas principais economias da região: México 1994, Brasil 1999, Argentina 2001-2002. Até que começaram a surgir governos eleitos pelo voto de rejeição do neoliberalismo, começando com a eleição de Hugo Chavez em 1998, seguida pelas de Lula em 2002, de Tabaré Vazquez em 2003, pela de Nestor Kirchmer em 2003, de Evo Morales em 2005, de Rafael Correa em 2006, de Mauricio Funes em 2009.

Revelando como o continente sofria as conseqüências dos governos neoliberais, houve um claro deslocamento para a esquerda no voto nos distintos países que foram tendo eleições. Nunca o continente, nem qualquer outra região do mundo teve simultaneamente tantos governos progressistas ao mesmo tempo.

O que unifica a esses governos, além do voto que derrotou governos neoliberais – de Carlos Menem a Carlos Andrés Perez, de FHC a Lacalle, de Sanchez de Losada a Lucio Gutierrez – há dois aspectos comuns: a opção pelos processos de integração regional ao invés dos Tratados de Livre Comércio e a prioridade das políticas sociais. São os dois pontos de maior fragilidade dos governos neoliberais, cuja lógica de abertura das economias, privilegiou as políticas de livre comércio e os Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos, e a prioridade do ajuste fiscal e da estabilidade monetária, sobre as políticas sociais. São as políticas sociais que dão legitimidade a esses governos, que sofrem, todos, forte oposição dos monopólios da mídia privada, mas conseguiram até aqui se reeleger pelo voto popular, dos setores , mais pobres das nossas sociedades.

Esses governos têm diferenças entre si, embora se unifiquem pela prioridade dos processos de integração regional e das políticas sociais. Nesse marco comum, se diferenciam porque alguns deles – Venezuela, Bolívia, Equador – avançam mais claramente na direção da construção de modelos alternativos ao neoliberalismo. Já na estratégia que os levou ao governo, combinaram sublevações populares, saída eleitoral, mas depois se propuseram a refundar o Estado, apontando para uma nova estratégia da esquerda latinoamericana, nem a tradicional de reformas, nem a luta armada, mas a combinação das duas numa síntese nova.

No outro campo estão os países que privilegiam os Tratados de Livre Comércio - como o México, o Chile, o Peru, a Colômbia, a Costa Rica. O primeiro pais a seguir esse caminho, o México, assinou um Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos e com o Canadá, no entanto o privilegio aberto foi com os EUA, com quem o México passou a ter mais de 90% do seu comércio exterior.

A crise econômica atual permite medir o significado das duas formas distintas de inserção no mercado internacional. O México, por exemplo, país paradigmático por ter sido o primeiro – e, originalmente, deveria ser o caminho que os EUA apontavam para todos os países do continente – teve a pior regressão econômica entre todas as economias, com cerca de 10% menos no primeiro semestre deste ano. Paga um preço caro por ter privilegiado o comércio com os EUA, epicentro da crise, que tem uma recessão profunda e prolongada, com todas suas repercussões negativas para o México.

Enquanto que um país como o Brasil, com uma economia mais ou menos similar que a mexicana, pôde sair de forma mais ou menos rápida da crise, por ter diversificado o comércio internacional, a ponto que o principal parceiro comercial do Brasil já não os EUA, mas a China. Ao mesmo tempo o país intensificou o comércio intraregional – mais concentradamente com a Argentina e a Venezuela, mas intensificado com todos os países que participam dos processos de integração regional -, e principalmente, expandiu enormemente o mercado interno de consumo popular. Este foi o principal responsável pela superação rápida da crise, fazendo com que, pela primeira vez, durante uma crise, as políticas de redistribuição de renda e de extensão dos direitos sociais, se mantivessem, mesmo na recessão.

Depois de uma fase de relativamente rápida expansão de governos progressistas no continente, a direita recuperou capacidade de iniciativa e busca reconquistar governos, para colocar em prática governos de restauração conservadora. Desde a tentativa de golpe de Estado na Venezuela, em 2002, passando por ofensivas contra os governos do Brasil, da Bolívia, da Argentina, a direita tenta colocar sua força econômica e midiática a serviço da recomposição de sua força política, derrotada pelos governos progressistas.

Podemos prever que a crise hegemônica se prolongará por um bom tempo no continente, entre um mundo velho superado, mas que insiste em sobreviver - o dos programas neoliberais – e um mundo novo que tem dificuldades para sobreviver – o de governos posneoliberais. As próximas eleições – especialmente as do Brasil, Bolívia, Uruguai, Argentina, - definirão se esses governos são um parênteses na longa sequência de governos conservadores ou se consolidarão e aprofundarão os processos de construção de alternativas pós neolliberais, de que a América Latina é um cenário privilegiado.