segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Entrevista de Eduardo Galeano...

Estamos tentando recuperar nossa própria voz

 
Por Fania Rodrigues
 
Um dos mais respeitados escritores e intelectuais da América Latina, Eduardo Hughes Galeano recebeu a Caros Amigos numa tarde de segunda-feira, no Café Brasilero, em Montevidéu. Aos 69 anos fala, em fluente português, sobre sua literatura, o amor pelos cafés e, claro, sobre política. Uruguaio de nascimento (1940), latino-americano
por devoção e cidadão do mundo por paixão, quando criança, sonhava em ser jogador de futebol. “Era uma maravilha jogando, mas só de noite, enquanto dormia”. Melhor assim. Os campos de futebol não perderam nada, porém a literatura ganhou um verdadeiro artesão das palavras. Suas obras combinam elementos da literatura, sensibilidade e observação jornalística, que estão sempre em função de suas paixões. Autor de mais de trinta livros, dezenas de crônicas e artigos, Galeano também é um exímio defensor do socialismo, dos direitos e da dignidade humana. Entre seus livros, pode se destacar As veias abertas da América Latina, a trilogia Memória doFogo, Livro dos Abraços e o último, Espelhos – uma história quase universal, lançado em 2008, em que o autor reescreve, a partir de um outro ponto de vista, episódios que a história oficial camuflou. Galeano “remexe no lixão da história mundial” para dar voz aos “náufragos e humilhados”.
 
Caros Amigos - Você nasceu em Montevidéu? Gostaria que falasse um pouco da sua infância?
Eduardo Galeano - Sim, nasci em Montevidéu. Minha infância? Eu nem lembro, já faz tanto tempo... Mas acho que foi bastante livre. Eu morava em um bairro quase no limite da Montevidéu, onde havia grandes edifícios. Então tinha espaço verde. Sinto pena das coitadas das criancinhas que vejo agora, prisioneiras na varanda de casa. Meninos ricos são tratados como se fossem dinheiro, meninos pobres são tratados como se fossem lixo. Muitos, pobres e ricos, viram prisioneiros, atados aos computadores, à televisão ou a alguma outra máquina. Mas eu tive uma infância muito livre. Fiz a escola primária, secundária, depois comecei a trabalhar por minha conta. Então, com 15 anos, já era completamente livre.
 
Em que trabalhou?
Fiz de tudo o que você possa imaginar. Fui desenhista (adoro desenhar até hoje), taquígrafo, mensageiro, funcionário de banco, trabalhei em agência de publicidade, cobrador... Fiz milhares de coisas, mas, sobretudo, comecei a aprender o ofício de contar história. Eu era um cuenta cuentos (conta contos). E aprendi a fazer isso nos cafés, como esse onde a gente está agora falando, que leva o honroso nome de Brasilero.
 
O mais tradicional dos cafés uruguaios se chama Brasilero!
E esse é último sobrevivente, o último dos moicanos dos cafés nos quais eu fui formado. Minha universidade foram os cafés de Montevidéu, foi aqui que aprendi a arte de narrar, a arte de contar histórias.
 
Conversando com as pessoas?
Escutando. Conversando sim, mas aprendi muito mais escutando. Desde muito menino aprendi que, por alguma razão, nascemos com dois ouvidos e uma única boca. Mas esses cafés típicos de Montevidéu pertenciam a uma época que não existem mais. Pertenciam a um tempo no qual havia tempo para perder o tempo.
 
Como foi sair do Uruguai, na época da ditadura (1973-1984)?
Quando a ditadura se instalou, eu corri para a Argentina, em 1973. Lá fundei uma revista cultural chamada Crisis. Depois fui obrigado a voar de novo. Não podia voltar para o Uruguai, porque não queria ficar preso, e fui obrigado a sair da Argentina porque não queria ser morto. A morte é uma coisa muito chata. Então fiquei na Argentina até o final de 1976, quando se instala a Ditadura argentina. Aí fui para a Espanha, onde fiquei até o final de 1985. Depois disso voltei para o Uruguai. No começo, minha situação em Barcelona foi muito complicada. Eu não tinha documentos, pois a Ditadura uruguaia se recusava a fornecer. O que possuía era um documento de salvo conduto das Nações Unidas, que não servia para muita coisa. Eu tinha que ir todo mês à polícia renovar o meu visto de permanência e passava o dia inteiro preenchendo formulários de perguntas. Então, um dia, onde dizia profissão, coloquei escritor, entre aspas, de formulários. Mas ninguém percebeu. A polícia achou normal ser escritor de formulários!
 
Havia duas listas das ditaduras do Cone Sul. Uma, com os nomes das pessoas que estavam marcadas para morrer e outra para a extradição. Em qual você estava?
Nas duas.
 
Na época da ditadura, muitas pessoas, assim como você, ficaram sem documentos, não podiam sair do país e foram mortas a tiro ou envenenadas...
Eu tive sorte. Não me lembro de ter sido envenenado, nem mesmo pelos críticos literários. Claro que sofri muitas ameaças, mas não vou fazer aqui uma apologia do mártir, do herói da revolução. Mas claro que a vida não era fácil, sobretudo por que a situação dessa revista que fundei na Argentina era difícil, pois chegava muito além das fronteiras tradicionais das revistas culturais. Nós vendíamos entre 30 e 35 mil exemplares. Isso, para uma revista cultural, era uma prova de resistência. Nós pensávamos em fazer era um resgate das mil e uma formas de expressão da sociedade. Não apenas dos profissionais da cultura, mas também das cartas dos presos, da cultura contada pelos operários das fábricas, que raramente viam a luz o sol. Esse tipo de coisa que para nós também era cultura.
 
O livro As Veias abertas da América Latina foi escrito na década de 1970. Hoje, é possível escrever um novo Veias Abertas?
Para mim esse livro foi um porto de partida, não de chegada. Foi o começo de algo, de muitos anos de vida literária e jornalística tentando redescobrir a realidade, tentando ver o não visto e contar o não contado. Depois de Veias escrevi muitos livros que foram continuações, de um certo modo, e uma tentativa de cavar, cada vez mais profundamente, a realidade. Isso com o objeto de ampliar um pouco as ideias, porque Veias é um livro limitado à economia política latino-americana. Os livros seguintes têm que ser lidos com a vida toda, nas suas múltiplas expressões, sem dar muita bola nem ao mapa, nem ao tempo. Se eu fico apaixonado por uma história, me
ponho a contar histórias de qualquer lugar do mundo e de qualquer tempo. Conto a história da história, que podem ter acontecido há 2 mil anos e tento escrever de tal modo que aconteçam de novo, na hora em que são contadas. Aí está o verdadeiro ofício de contar, que aprendi nos cafés de Montevidéu, que inclusive permite a você escutar o som das patas dos cavalos, sentir o cheiro da chuva...
 
Pode-se dizer que hoje existe uma demanda por governos de esquerda na América Latina? Em sua opinião, esses governos têm contribuído para diminuir a pobreza e a desigualdade social nesses países?
O que existe é um panorama muito complexo e diverso de realidades diferentes. Também vemos respostas sociais e políticas diversas. Isso é o que nossa região do mundo tem de melhor: sua diversidade. Esse encontro de cores, de dores tão diferentes, é a nossa riqueza maior. Os novos movimentos, como esses, que estão brotando por toda parte, que tentam oferecer uma resposta diferente às desigualdades sociais, contra os maus costumes da humilhação e o fatalismo tradicional, também são respostas diversas porque expressam realidades diferentes. Não se pode generalizar. O que existe sim é uma energia de mudança. Uma energia popular que gera diversas realidades, não só política, mas realidades de todo tipo, tentando encontrar respostas, depois de vários séculos de experiências não muito brilhantes em matéria de independência. Agora estamos comemorando, em quase todos os países, o bicentenário de uma independência que ainda é uma tarefa por fazer.
 
O que falta para a América Latina ser completamente independente?
Romper com o velho hábito da obediência. Em vez de obedecer à história, inventá-la. Ser capaz de imaginar o futuro e não simplesmente aceitá-lo. Para isso é preciso revoltar-se contra a horrenda herança imperial, romper com essa cultura de impotência
que diz que você é incapaz de fazer, por isso tem que comprar feito, que diz que você é incapaz de mudar, que aquele que nasceu, como nasceu vai morrer. Porque dessa forma não temos nenhuma possibilidade de inventar a vida. A cultura da impotência te ensina
a não vencer com sua própria cabeça, a não caminhar com suas próprias pernas e a não sentir com seu próprio coração. Eu penso que é imprescindível vencer isso para poder gerar uma nova realidade.
 
A América Latina copiou um modelo de desenvolvimento que não foi feito para ela. É possível inventar um modelo próprio de desenvolvimento?
Não vou entrar em detalhes porque se fosse falar da quantidade de cópias erradas seria uma lista infinita. O desafio é pensar no que queremos ser: originais ou cópias? Uma voz ou eco? Agora estamos tentando recuperar nossa própria voz, em diferentes países, de diversas maneiras.
 
A implantação das bases dos Estados Unidos na Colômbia fere a dignidade do povo latinoamericano e compromete a independência e a liberdade da América do Sul?
Sim. É a continuação de uma tradição humilhante. Também há o perigo da intervenção direta dos Estados Unidos nos países latino-americanos. Meu mestre, Ambroce Bierce, um escritor norte-americano maravilhoso, quando se iniciou a expansão imperial dos Estados Unidos, no século 19, dizia que a guerra é um presente divino enviada por Deus para ensinar geografia. Porque assim eles (estadunidenses) Aprendiam geografia. E é verdade. Os EUA têm uma tradição de invadir países sem saber onde estão localizados e como são esses países. Tenho até a suspeita de que (George W.) Bush achasse que as
Escrituras tinham sido inventadas no Texas e não no Iraque, país que ele exterminou. Então, esse perigo militar latente é muito concreto. Atualmente os EUA possuem 850 bases militares em quarenta países. A metade do gasto militar mundial corresponde aos gastos de guerras dos EUA. Esse é um país em que o orçamento militar se chama orçamento de defesa por motivos, para mim, misteriosos e inexplicáveis. Porque a última invasão sofrida pelos EUA foi em 1812 e já faz quase dois séculos. O ministério se chama de defesa, mas é de guerra, mas como que se chama de defesa? O que tem a ver com a defesa? A mesma coisa se aplica às bases na Colômbia, que também são “defensivas”. Todas as guerras dizem ser “defensivas”. Nenhuma guerra tem a honestidade de dizer “eu mato para roubar”. Nenhuma, na história da humanidade. Hitler invadiu a Polônia porque, segundo ele, a Polônia iria invadir a Alemanha. Os pretextos invocados para a instalação dessa base dos EUA na Colômbia não são só ofensivas contra a dignidade nacional dos nossos países, como também ofensivas contra a inteligência humana. Por que dizer que serão colocadas lá para combater o tráfico de drogas e o terrorismo? Tráfico de drogas, muito bem... 80% da heroína que se consome no mundo inteiro vem do Afeganistão. 80%! Afeganistão é um país ocupado pelos EUA. Segundo a legislação internacional, os países ocupantes têm a responsabilidade sobre o que acontece nos países ocupados. Se os EUA têm interesse de verdade de lutar contra o narcotráfico, têm que começar pela própria casa, não pela Colômbia e sim pelo Afeganistão, que faz parte da sua estrutura de poder, e que é o grande abastecedor de heroína, a pior das drogas. O outro pretexto invocado é o terrorismo. Mas não é sério. Não é sério, por favor. A grande fábrica do terrorismo é essa potência mundial que invade países, gera desespero, ódio, angústia. Sabe quem esteve sessenta anos na lista oficial dos terroristas dos EUA? Nelson Mandela, Prêmio Nobel, presidente da África do Sul. Cada vez que viajava aos EUA, ele precisa de um visto especial do presidente dos Estados Unidos, porque era considerado um terrorista perigoso durante sessenta anos. Até 2008. É desse terrorismo que estão falando? Imagina se eu fosse incorporado agora na lista dos terroristas dos EUA e tivesse que esperar sessenta anos para ser tirado. Acho que daqui há sessenta anos vou estar um poquitito mortito.
 
Fania Rodrigues é jornalista
Para ler a entrevista completa e outras reportagens confira a edição de novembro da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.
 
 

Exterminio em Gaza....


Thabet El Masri, director da unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Shifa, um hospital público da Faixa de Gaza, responde aqui às perguntas de Silvia Cattori sobre o aumento do número de bebés nascidos com malformações.


Bombas de fósforo branco sobre uma escola da UNRWA em Beit Lahiya, a 17 de Janeiro de 2009

 
– Em Junho passado, começou a ficar preocupado com o aumento do número de bebés nascidos com malformações. Estamos interessados em conhecer o resultado do estudo realizado sobre este inquietante fenómeno e queremos saber qual a sua avaliação médica. Pode dar-nos informação sobre o relatório de anomalias congénitas pré-natais e pós-natais constatadas passados dez meses dos ataques sobre Gaza, em termos de número de casos ocorridos e em comparação com os dados de 2008?
 [1] Sim, pois eu segui, de forma contínua, o fenómeno do nascimento de bebés com malformação congénita. Registei o número de bebés nascidos com malformações congénitas em Julho, em Agosto e em Setembro de 2009. Comparei estes dados com os números dos mesmos meses do ano de 2008. Eis os resultados: em Julho de 2009, houve no Hospital Shifa 15 casos desse tipo, contra 10 em 2008; em Agosto de 2009, houve 20 casos, contra 10 em 2008; em Setembro de 2009, 15 bebés nasceram malformados, contra 11 em 2008. O número médio de nascimentos no Hospital Shifa é cerca de 1100 por mês.
– Conhecido o relatório, causou muita emoção e inquietude. Imediatamente, muita gente atribuiu o aumento de malformações nos fetos abortados e nos recém-nascidos à utilização, pelo exército israelita, de obuses de fósforo branco. Será assim?
Supomos que sim, mas não podemos confirmar que a utilização de armas químicas por Israel causou este aumento de malformações congénitas.
– Os bebés atingidos por malformações congénitas são todos originários de populações vivendo em campos de refugiados, populações particularmente submetidas a bombardeamentos israelitas? De que zonas são as mães?
Os bebés portadores de malformações congénitas vêm de todo o lado da Faixa de Gaza. Todavia, metade das mulheres que deram à luz bebés com malformações são originárias do campo de refugiados de Jabaliya.
– Na presente situação, que pode fazer para sossegar as mulheres grávidas que estão neste momento muito ansiosas?
Efectivamente, nada. Não há nada que possamos fazer para garantir que os seus bebés serão normais. Como poderíamos nós impedir a presença de substâncias químicas que podem causar defeitos de nascença?
– Há em Gaza embriologistas capacitados para fazer testes genéticos?
Infelizmente, não estamos equipados para fazer testes genéticos para saber se as anomalias congénitas são devidas a factores genéticos ou a substâncias químicas. No fim de contas, trata-se de um problema genético e as substâncias químicas podem muito bem ser responsáveis por estas mutações.
– Que é feito dos investigadores internacionais que em 2006 recolheram amostras para serem testadas em laboratórios europeus? Houve resultados?
Esse é um grande problema! Se os factores químicos são responsáveis, isso é muito difícil de provar. Como provar que são os produtos químicos que estão na origem das mutações? Como provar que os israelitas utilizaram substâncias interditas?
– Compreendemos que, enquanto médico, o doutor esteja muito preocupado e que, na actual situação desesperada, tenha necessidade de uma ajuda internacional…
Sim. Gostaria de sugerir algo que pudesse ajudar-nos, sem esgotar os nossos limitados recursos financeiros no domínio da pesquisa genética, que precisa de verbas avultadas. Dito de uma forma directa: seria extremamente útil convencer os israelitas a não voltarem a usar armas químicas como fizeram no Inverno passado.
– Que tipos de patologias tem observado nos bebés nascidos este Verão? Pode dar-nos exemplos de defeitos de nascença que constatou nesses bebés?
Verificamos problemas do sistema nervoso central, hidrocefalia e anencefalia, e ainda outro tipo de malformações como cardiopatias congénitas e obstruções do tubo digestivo. Os problemas renais são muito frequentes. As malformações visíveis são raras; os problemas são geralmente internos. Está a ver que problemas temos pela frente! As mães ficam sem defesa, nós nem temos resposta para as suas inquietações. Elas sabem que estamos sós nesta situação. Só lhes resta rezar!
– Não tem contactos com o exterior?
Não temos absolutamente nenhum contacto com o exterior. Dei-lhe uma visão geral do problema principal. Como lhe disse, há uma probabilidade de que as substâncias químicas possam ser uma das causas da tendência de aumento de defeitos de nascença, pois estes aumentaram desde o assalto bélico de Dezembro e Janeiro passados. Contudo, esta conclusão é impossível de provar.
– Muito obrigado.
Entrevista realizada a 12 de Outubro de 2009. Tradução da versão francesa retirada de Todos por Gaza. A versão original, em inglês, encontra-se aqui.
[1] Em Julho de 2006, num artigo sobre as consequências da ofensiva israelita de Junho de 2006 que atingiu a principal central de energia de Gaza, que alimenta a maioria da Faixa de Gaza, incluindo o fornecimento de energia aos hospitais de Gaza, ao aparato de abastecimento de água e de tratamento de esgotos, o Dr. Thabet El Masri tinha enfatizado o impacto de uma potencial falha de energia no hospital:
«O Dr. Thabet Al-Masri, o chefe da unidade do hospital para bebés prematuros, explicou que há 33 bebés que exigem incubadoras para fornecer o equilíbrio muito sensível de humidade, temperatura e oxigénio essencial para o seu desenvolvimento. Normalmente, observou, o número de nascimentos prematuros é de 50-60%, mas talvez como resultado de ansiedade por causa do cerco de Israel, actualmente o número está próximo de 70%. O Dr. Al Masri enfatizou que a natureza do trabalho dentro da secção “premie” é tal que não há meias-soluções. As vidas destes bebés estão dependentes do constante fluxo de eletricidade.» (Ver: Al-Shifa Hospital and Israel’s Gaza Siege, DCI/PS, 16/07/2006).

Reeleger Uribe é sacramentar corrupção e impunidade







A Unasul (União das Nações Sul-Americanas) enfrenta um impasse diante da teimosia do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de ampliar a instalação de bases usamericanas no território de seu país. Os demais presidentes estão contra. Preferem preservar a soberania e a independência da América do Sul.

Por Frei Betto*

Na reunião de Bariloche, em agosto, o presidente Lula bem argumentou: se desde 1952 as tropas estadunidenses não conseguiram erradicar o narcotráfico na Colômbia, por que agora estariam aptas a fazê-lo?

Funcionam na Colômbia três Estados paralelos: a guerrilha das FARC; o narcotráfico; e os grupos paramilitares, criados supostamente para combater os dois primeiros. Desde 1991, cerca de 2.500 sindicalistas foram assassinados naquele país, 500 sob o governo de Uribe. Os paramilitares puxam o gatilho, mas quem os financia são empresas nacionais e transnacionais.

A Coca-Cola sofre processo judicial por ter apelado aos paramilitares para reprimir atividades sindicais, entre 1992 e 2001, que resultaram na morte de sete sindicalistas. A Chiquita Brands, exportadora de banana, admitiu ter financiado o grupo terrorista Autodefesa da Colômbia. A Dyncorp foi acusada de contaminar com substâncias tóxicas lavouras de pequenos agricultores na fronteira entre Colômbia e Equador, visando a erradicação do plantio de coca. Tais fatos têm impedido que o governo dos EUA, empenhado na investigação dessas empresas, realize o grande sonho de Uribe: assinar o tratado de livre comércio entre os dois países.

A empresa Drummond, com sede no Alabama, explora minas de carvão e é acusada de ordenar o assassinato, por mãos de paramilitares, de três dirigentes sindicais. Ela extrai da Colômbia mais de 16 milhões de toneladas de carvão/ano. Seu faturamento anual está calculado em US$ 500 milhões, graças ao trabalho de 3.000 mineiros remunerados a US$ 2,5/hora.

A Justiça de Atlanta acusou a empresa de acobertar os assassinos dos sindicalistas colombianos e condenou a empresa, baseada numa lei de 1789, promulgada para punir ações de pirataria e crimes cometidos fora do território dos EUA. O processo correu sob segredo de Justiça, mas a mídia de Alabama pressionou e, agora, sabe-se que Rafael García, ex-chefe do departamento de informática do DAS (Departamento Administrativo de Segurança), órgão máximo da segurança do Estado colombiano, preso por haver destruído informações sobre os narcotraficantes de seu país, revelou as conexões entre parlamentares e funcionários comprometidos com os paramilitares.

García confessou que pouco antes do assassinato dos sindicalistas presenciou uma reunião entre o presidente da filial colombiana da Drummond e o chefe paramilitar que controlava a região. Viu quando o empresário entregou ao paramilitar US$ 200 mil para assassinar os sindicalistas. Contou ainda que os paramilitares usavam barcos da Drummond para transportar cocaína à Europa e Israel.

Favorecer na Colômbia um terceiro mandato de Uribe é sacramentar a corrupção e a impunidade.

* Frei Betto é escritor, autor de “Cartas da Prisão” (Agir), entre outros livros.

Fonte: Brasil de Fato

domingo, 15 de novembro de 2009

Palestina: Israel faz guerra pela água nos territórios ocupados

Laurent Zecchini - Correio Internacional

A intensidade das reações ao relatório crítico da Anistia Internacional sobre a questão do acesso à água potável nos territórios palestinos ocupados por Israel relembra o quanto a questão da água é estratégica no Oriente Médio.
O estudo, realizado pela organização de defesa dos direitos humanos, e divulgado ao público na terça-feira, 27 de outubro, é um relato preocupante das práticas “discriminatórias” contra a população palestina, impostas pelas autoridades israelenses.
A partilha da água é um assunto político: faz parte das questões ligadas ao “estatuto final” de um futuro acordo de paz israelo-palestino, do mesmo modo que as questões dos refugiados, das fronteiras de um Estado palestino, e de Jerusalém. A Autoridade da Água israelense, que desmente as acusações da Anistia, conclui que há poucas chances de evolução para um acordo com relação ao tema.
O acesso à água, que é submetido ao controle total que Israel exerce sobre os recursos da região, é agravado pela seca aguda que ameaça hoje os lençóis freáticos. A Anistia destaca que o Estado judeu usa mais de 80% de água proveniente das montanhas, limitando o acesso dos palestinos a 20% desta reserva. No entanto, esta é a única fonte de água dos palestinos na Cisjordânia, insiste a Anistia, “enquanto Israel dispõe de várias fontes de provisão de água (Lago de Tiberíades e aqüífero costeiro) e usa toda a água disponível do [Rio] Jordão.” O Estado judeu ocupa o vale do Rio Jordão desde a guerra de 1967, e não concede nenhum acesso às suas margens aos palestinos.
As águas do Jordão são cobiçadas ao mesmo tempo por Israel, Síria, Líbano e Jordânia, resultando em alguns lugares na redução de sua vazão à de um arroio salinizado e contaminado pelos resíduos não tratados, o que agrava a seca preocupante do Mar Morto.
A Anistia destaca que o consumo de água dos palestinos é de apenas 70 litros por pessoa por dia, um nível consideravelmente menor que os 100 litros recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), contrastando com os mais de 300 litros consumidos pelos israelenses.
Em algumas áreas rurais, acrescenta a organização, os palestinos sobrevivem com somente 20 litros por dia. Mais de quarenta anos após a ocupação da Cisjordânia, explica Donatella Rovera, autora do relatório, entre 180 e 200 mil palestinos que vivem em comunidades rurais ainda não têm acesso à água corrente. Esta situação fica ainda mais chocante, insiste ela, com o fato de que os colonos israelenses assentados na Cisjordânia, “violando o direito internacional, recorrem à irrigação intensiva de suas lavouras, e possuem luxuosos jardins e piscinas.”
Esta última afirmação não é muito convincente: os “jardins luxuosos” e as “piscinas” estão longe de ser comuns, e os colonos judeus na Cisjordânia formam um conjunto de indivíduos com grande disparidade nas rendas. “Cerca de 450 mil colonos usam tanto quanto, senão mais água, que o total da população palestina, estimada em 2,3 milhões”, acrescenta a Anistia, que consagra uma parte importante deste relatório à situação na faixa de Gaza, onde a falta d’água é crítica. Nesta porção de território controlado pelo Hamas, o único recurso de água é o aqüífero costeiro, uma vez que Israel não autoriza o envio de água da Cisjordânia para Gaza.
Poderosa ferramenta política
Sobreexplorado e contaminado em mais de 90% por dejetos não tratados, o aqüífero costeiro é fonte de doenças e epidemias. Esta situação é agravada pelo bloqueio imposto por Israel, que proíbe a entrada em Gaza de equipamentos necessários para o conserto e modernização da rede de abastecimento.
O relatório da Anistia relembra que os palestinos não podem cavar novos poços sem obter a autorização expedida pelo exército israelense. Ele também explica como as restrições de acesso à água potável são uma ferramenta política a favor das expulsões. E mostra, enfim, como o “Muro” ou “barreira de segurança”, as cabines de controle [os chamados check-points] e outras barreiras rodoviárias impedem ou retardam o acesso à água na Cisjordânia.
A Autoridade de Águas israelense contestou os dados fornecidos pela Anistia, denunciando não ter sido consultada, mas não refutou a realidade do processo discriminatório pelo qual passam os palestinos.
Se os israelenses consomem “408 litros de água por dia” (a Anistia fala em 300 litros), os palestinos usam 200, afirma a Autoridade, garantindo que o consumo dos israelenses baixou em 70% desde 1967, enquanto o consumo total anual dos palestinos aumentou de 85 para 105 milhões de m3 no mesmo período. A Autoridade de Águas reforça enfim que Israel sempre ofereceu mais água aos Palestinos do que os Acordos de Oslo (1993) lhes garantiam.
Acima dos números, a postura das autoridades israelenses mostra que o acesso à água continua sendo um poderoso instrumento político nas relações israelo-palestinas. É também uma aposta estratégica regional: para amenizar uma falta crescente d’água, Israel pretende voltar a importar este recurso da Turquia. Mas a recente deterioração de suas relações diplomáticas com Ancara não favorece tal objetivo.



Tradução: Carlos Gorito.
Para acessar o texto original, clique aqui.

Velhas táticas de dominação....

A estratégia de Obama na Ásia Central
Instaurar a barbárie e agravar o terrorismo

“O presidente Barack Obama, cuja eleição suscitou a nível planetário uma grande esperança, foi distinguido com o Premio Nobel da Paz, mas a sua intervenção na Historia, contrariando um discurso humanista, não tem contribuído para combater e superar a crise de civilização existente.
Ocorre o contrário. A sua estratégia no Médio Oriente e na Ásia Central instaura a barbárie e agrava o terrorismo”.

Miguel Urbano Rodrigues -Odiario.info


Transcorridos oito anos dos atentados que destruíram o World Trade Center e atingiram o Pentágono, o terrorismo assume proporções cada vez maiores nas áreas do planeta onde George W Bush pretendia enfrentá-lo e erradicá-lo.

O presidente Barack Obama, cuja eleição suscitou a nível planetário uma grande esperança, foi distinguido com o Premio Nobel da Paz, mas a sua intervenção na Historia, contrariando um discurso humanista, não tem contribuído para combater e superar a crise de civilização existente.

Ocorre o contrário. A sua estratégia no Médio Oriente e na Ásia Central instaura a barbárie e agrava o terrorismo.

O esforço desenvolvido por uma gigantesca e perversa engrenagem mediática que desinforma os povos não tem o poder de inverter o rumo dos acontecimentos.

Os Estados Unidos estão presentemente envolvidos na Ásia em duas guerras perdidas e atolados na pantanosa situação criada na Palestina pelo sionismo neonazi.
O primeiro grande erro de Obama foi, ao entrar na Casa Branca, definir o Afeganistao como a primeira prioridade da sua politica internacional.

Na sua opinião o Iraque estava quase “pacificado” e tomou a decisão de transferir alguns milhares de soldados para o Afeganistão onde a insurreição alastrava numa guerra que, assim o afirmou então, se comprometia a vencer porque dela dependia “a segurança dos EUA”.

O optimismo sobre a situação no Iraque foi sem tardança desmentido pelo aumento da violência no país. No centro de Bagdad e nas principais cidades explodem todas as semanas carros armadilhados e bombas que matam centenas de pessoas. A resistência contra a ocupação militar norte-americana cresce e o governo fantoche tutelado por Washington está totalmente desprestigiado. O Pentágono já reconheceu que será quase impossível respeitar o compromisso de retirar do pais as tropas estadunidenses na data prevista, ou seja dentro de dois anos.

A nomeação do general Stanley McChrystal para comandante supremo na área Afeganistão-Paquistão foi muito bem recebida pelo Congresso e suscitou inicialmente grandes esperanças no establishment.

Mas a atmosfera de euforia durou pouco. A estratégia inovadora concebida pelo general, apresentado como um intelectual brilhante, com diplomas de história e ciências políticas, não parece entusiasmar os analistas militares dos grandes media.

McChrystal pediu a Obama o envio de 30 a 40.000 homens, advertindo num dos seus dois relatórios que sem esse reforço a guerra será perdida. Entretanto, em pleno Verão, desencadeou na Província do Helmand uma ofensiva em que participaram aproximadamente 15.000 soldados americanos e britânicos. Não obstante a escolha ter recaído sobre tropas de elite, o resultado foi decepcionante. A força empenhada sofreu grandes baixas e nos combates travados os guerrilheiros afegãos evitaram o choque em campo aberto, permanecendo quase sempre invisíveis.

No começo do Outono a guerra entrou pelo Paquistão, na chamada Fronteira do Noroeste, um território que durante séculos pertenceu ao Afeganistão, habitado por tribos pachtun que ignoram a fronteira artificial que os ingleses impuseram em 1880 após a segunda guerra anglo-afegã. Sob pressão de Washington, o Paquistão mobilizou milhares de soldados para os lançar contra os “terroristas” do Waziristao. Simultaneamente, aviões não tripulados da Força Aérea dos EUA começaram a bombardear indiscriminadamente aldeias da região, alegando que eram redutos dos talibans paquistaneses.

Essas operações conjugadas não atingiram os objectivos fixados. As baixas no exercito são elevadas. Os combates desenrolam-se num terreno montanhoso onde os moradores, waziris, shinwars, momands e de outras tribos da região, opõem uma forte resistência. O balanço do apoio aéreo americano é também negativo. Os aviões não tripulados voando a grande altitude lançam as bombas sem um mínimo de precisão. As principais vitimas são camponeses das aldeias, o que contribui para aumentar o ódio das populações locais aos EUA.

A primeira consequência da intensificação das acções militares americano-paquistanesas foi a multiplicação de atentados terroristas nas grandes cidades do país.

No próprio dia em que Hillary Clinton pronunciava em Islamabad um discurso palavroso e ridículo em que apresentou a solidariedade dos EUA com o Paquistão como contribuição decisiva para “a paz, o progresso e a democracia” no país, um atentado em Peshawar matava quase duas centenas de pessoas.

A visita e as palavras da secretária de Estado suscitaram protestos. O alinhamento do actual governo de Islamabad com os EUA é mal recebido pela grande maioria da população. Tudo indica que a vaga de terrorismo vai prosseguir.

O desfecho das eleições presidenciais no Afeganistão criou mais um problema aos EUA porque não correspondeu ao objectivo de Washington ao promovê-las . As insistentes criticas dos generais Petraeus e Mc Chrystal a Hamid Karzai, responsabilizando-o pela corrupção generalizada e pela nomeação para altos cargos de destacados criminosos de guerra, persuadiram Obama de que o afastamento do presidente através de eleições era uma necessidade. Mas Karzai e a sua gente montaram uma gigantesca fraude com a cumplicidade da Comissão Eleitoral. O escândalo da proclamação de Karzai como vencedor por maioria absoluta foi tamanho a nível internacional que a ONU declarou a nulidade das eleições e exigiu a realização de uma segunda volta. O tiro saiu, entretanto, pela culatra. Perante a iminência de uma nova fraude, Abdullah Abdullah - o candidato de Washington - renunciou a disputar o segundo turno quando as exigências mínimas que apresentou foram recusadas pelo governo. Logo Karzai, sem adversário, se autoproclamou presidente reeleito.
A Casa Branca teve de engolir o sapo e Obama, numa mensagem confusa, concluiu que, apesar de tudo, o processo eleitoral fora positivo. Mentiu.

O SONHO DO GENERAL MCCHRYSTAL
RESSUSCITA O FANTASMA DO VIETNAM


Obama tinha adiado para depois das eleiçoes a decisao sobre a nova estrategia proposta pelo general Mc Chrystal .

Num contexto desfavorável, consciente de que o povo afegão atribui a Karzai pesadas responsabilidades pelo caos instalado no pais, o presidente norte-americano terá agora de aprovar ou recusar o pedido do general McChrystal , isto é o envio de cerca de 40.000 soldados para o Afeganistão, onde o total das forças de ocupação ronda já os 100.000 entre norte-americanos e tropas da NATO.

As cadeias de televisão e os grandes jornais especulam sobre o tema e a reacçao do Congresso, prevendo uma solução salomónica, isto é, o envio de metade dos efectivos solicitados.

Uma extensa entrevista concedida em Kabul pelo general McChrystal ao diário francês Le Figaro (29 .09.2009) veio criar novos problemas à Casa Branca porque as suas declarações tiveram repercussão internacional, ampliando a polémica nos EUA.

O general começa por afirmar que será o povo afegão “a decidir quem ganhará a guerra. O Estado afegão e o exercito afegão são - assim se expressa - quem no fim de contas tomará a decisão. Nós, os Ocidentais devemos ser os seus leais aliados”.

A esse começo pouco sensato seguem-se criticas à estratégia da União Soviética que, na sua opinião, criou nos anos 80 um exercito afegão visto como “ilegítimo”pela população.

Instado a pelo entrevistador, Renaud Girard, a comentar as reacções do Pentágono e do Presidente Obama aos dois relatórios que lhes enviou, o general considerou-as positivas.

Sublinhando que o seu primeiro dever é a “humildade”, McChrystal chamou a atenção para uma faceta mais do que polémica do seu ambicioso plano de pacificação do país. Lembrando que os militares estadunidenses têm ainda muito a aprender, o general declarou: “os nossos oficiais devem progredir no conhecimento das línguas e dos costumes deste país. Devemos aproximar-nos da população, desembaraçados de todas as blindagens e outros coletes anti-estilhaços. Os nossos homens devem conhecer melhor a história e a cultura afegãs, a fim de actuar em cooperçao com os seus camaradas afegãos”.

Não é surpreendente que essas sugestões tenham embaraçado historiadores e sociólogos convidados a pronunciar-se sobre elas.

Visitei varias vezes o Afeganistao e julgo útil esclarecer que o pais tem duas línguas oficiais – o dari (variedade do persa) e o pachto, e que alguns milhões usam como idioma materno o turco usbeque e o turcumano. Mesmo libertando a imaginação, admito que seria uma tarefa homérica para a soldadesco americana a aprendizagem dessas línguas para ela impenetráveis. Não concebo também que a oficialidade, cujo conhecimento da própria historia dos EUA é na generalidade muito deficiente, possa dedicar-se com proveito à historia dos povos que ao longo de 25 séculos desde os Aquemenidas persas e Alexandre da Macedónia criaram no espaço afegão civilizações brilhantes que deixaram marcas inapagáveis no rumo da humanidade.

Interrogado sobre a insurreição, o general lançou-se numa dissertação algo confusa. Na sua opinião o que existe é “uma confederação de insurreições, com fins políticos diferentes”. Mencionou especificamente três, “os talibans históricos, o grupo Haqqani, e a Hesbe Islami de Gulbudin Hekmatiar, além de outros gruposculos dispersos. O seu único cimento é o ódio ao governo instalado”.

Do intenso ódio aos invasores americanos não fala.

Independentemente do juízo que se faça dessa reflexão do estratega sobre a insurreição, a continuidade de Hamid Karzai como presidente não vai contribuir para a conquista das populações mediante o dialogo e o estudo das línguas afegãs.

O general, que é um estudioso das guerras coloniais do seu pais e da França, esclarece que as lições dos generais franceses Lyautey e Galieni no tocante à contra-insurreição não foram por ele esquecidas. Porque não se trata de matar “um máximo de talibans”, mas sim de “proteger as populações”. Omite, porem, um pormenor importante. Os nomes de Lyautey e Galieni, o primeiro em Marrocos, o segundo em Madagascar, ficaram ligados a acções repressivas maciças do exército francês. McCarthy vai mais longe. “Sou – confessa - um grande admirador do exército francês e estudei o seu trabalho contra-inssurrecional na Indochina e na Argélia”.

São conhecidos os resultados desse “trabalho”, mas o general norte-americano não os menciona. É também omisso no tocante à política de “protecção” às populações do Vietname aplicada no terreno pelo seu compatriota general Westmoreland. O seu discurso apresenta, contudo, muitas afinidades com o daquele derrotado cabo-de-guerra norte-americano.

Somente com o rodar do tempo saberemos se o desfecho será similar ao do Vietname. Cabe, porém, lembrar que o responsável pelo ambicioso plano de “pacificação” do Afeganistão e a estratégia global de McChrystal é um general paraquedista francês.

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* *

O general Stanley McChrystal comandou durante cinco anos, de 2003 a 2008, as forças especiais dos EUA. Segundo os especialistas militares é um “duro”. Do seu currículo não consta políticas de diálogo com os povos, mas acções de genocídio que levaram alguns analistas a qualifica-lo de “criminoso de guerra”.

Foi a esse soldado, com pretensões académicas, que o Presidente dos EUA confiou a tarefa de ganhar a guerra do Afeganistão, primeira prioridade da politica externa da Casa Branca.

Enquanto medita sobre a nova estratégia para a Ásia Central, o presidente Obama, Premio Nobel da Paz, propõe ao Congresso o maior orçamento militar da História dos EUA. Se for aprovado, excederá os orçamentos militares somados de todos os demais países do planeta.

sábado, 14 de novembro de 2009

LEMON TREE - 2008



Créditos: Bukowski 

FICHA TÉCNICA
Título no Brasil: Lemon Tree
Título Original: Etz Limon
País de Origem: Israel / Alemanha / França
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 106 minutos
Ano de Lançamento: 2008
Estréia no Brasil: 08/08/2008
Site Oficial: http://www.lemontreemovie.com
Estúdio/Distrib.: Imovision
Direção: Eran Riklis

DADOS DO ARQUIVO
Título Original: Lemon Tree
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 106 min
Ano de Lançamento: 2008
Qualidade: DVDRip
Formato: Rmvb
Áudio: Arabico/Hebreu
Legenda: Português
Tamanho: 348 mb
Servidor: Rapidshare (4 partes)

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SINOPSE
Salma (Hiam Abbass), uma viúva Palestina, vê sua plantação de limão ser ameaçada quando seu novo vizinho, o Ministro de Defesa de Israel (Doron Tavory), se muda para a casa ao lado. A Força de Segurança Israelense logo declara que os limoeiros de Salma colocam em risco a segurança do ministro e por isso precisam ser derrubados. Salma leva o caso à Suprema Corte de Israel para tentar salvar a plantação.

ELENCO
Iam Abbass ... Salma Zidane
Doron Tavory ... Defense Minister Israel Navon
Ali Suliman ... Ziad Daud
Rona Lipaz-Michael ... Mira Navon
Tarik Kopty ... Abu Hussam
Amos Lavi ... Commander Jacob
Amnon Wolf ... Leibowitz
Smadar Jaaron ... Tamar Gera
Danny Leshman ... Private Itamar aka Quickie
Hili Yalon ... Sigi Navon
Linon Banares ... Gilad
Jamil Khoury ... Son-in-Law
Makram Khoury ... Abu Kamal
Loai Nofi ... Nasser Zidane
Ayelet Robinson ... Shelly
Michael Warshaviak ... Braverman - the attorney

SCREENSHOOTS




sexta-feira, 13 de novembro de 2009

São Bartolomeu, a longa noite tucana

Reacender o Clube da Lanterna, fundado por Carlos Lacerda, em 1953, para combater o governo Vargas só amplia o blecaute em que vive a direita após duas derrotas em eleições presidenciais. De antemão é uma aposta perdida. Uma comemoração tão grotesca quanto fugidia.

Ao querer transformar a queda de energia, causada por uma falha tripla nas linhas de transmissão de Furnas, no “apagão do governo Lula”, a oposição, com apoio da grande imprensa corporativa, mostra a estreita margem de ação que restou ao antigo bloco de poder do governo tucano. Reacender o Clube da Lanterna, fundado por Carlos Lacerda, em 1953, para combater o governo Vargas só amplia o blecaute em que vive a direita após duas derrotas em eleições presidenciais. De antemão é uma aposta perdida. Uma comemoração tão grotesca quanto fugidia.

Quando lideranças do PSDB, DEM e PPS se unem no Congresso para dizer que o episódio serviu para demonstrar o fracasso da política energética do governo petista, o discurso político cede lugar à farsa burlesca, ao lançamento inoportuno de afirmações que, por grotescas, surtem efeito contrário ao pretendido por seus autores. Rememoram um passado recente, estabelecendo padrões de comparação que lhes são extremamente desfavoráveis. Mais uma vez, a direita, ignorando a posição em que se encontra, mira no horizonte e atira no próprio pé. Um embuste que ignora a massa crítica acumulada por diversos debates sobre crise energética no governo anterior. Em todos há um denominador comum: a responsabilidade pela ineficiência de energia elétrica se devia a erros de gestão da então administração federal.

Em 2001, o BNDES publicou “O Cenário Macroeconômico e a Oferta de Energia Elétrica no Brasil". O documento, um alentado estudo dos economistas Joana Gostkorzewicz e Fábio Giambiagi, alertava que as dificuldades para a oferta de energia elétrica eram conseqüência direta da política de transição de um modelo gerenciado até então pelo Estado para a iniciativa privada. O açodamento entreguista deixava explícitas as “insuficiências do novo marco regulatório, bem como a ausência de articulação entre os vários órgãos governamentais, responsáveis pelo setor de energia."

Concluindo a análise, o estudo reconhecia que "nos últimos anos, os recursos das empresas estatais, ainda amplamente dominantes na geração e transmissão, foram prioritariamente destinados para o saneamento financeiro das empresas e, portanto, para a preparação das privatizações. Tendo as empresas estatais deixado de investir pelas razões apontadas acima e o setor privado não encontrado ambiente seguro para substituir as estatais, devido às debilidades dos novos marcos, pavimentou-se o caminho para o desastre."

O estudo, feito por órgão do Governo Federal, era categórico no diagnóstico: “O setor elétrico brasileiro possui um desenho próprio que o torna inadequado à operação por empresas privadas". Se em 2001, os reservatórios estavam quase secos e a inexistência de linhas de transmissão impedia o manejo de geração, a causa determinante para o racionamento de energia foi a implementação de uma política privatista que aprofundou a queda da produção, reduziu a arrecadação tributária e alimentou o processo inflacionário, mantendo a fragilidade do Brasil em relação à economia internacional.

Quando Lula destaca os investimentos feitos pelo governo nos últimos sete anos, dizendo que “nesse período, foram construídas 30% das linhas de transmissão feitas em 123 anos no país", não fala apenas de números relativos a um setor. O passo é maior. O que é anunciado é a retomada de decisões fundamentais para o desenvolvimento, deixadas em segundo plano, nos oito anos de gestão neoliberal. O que norteia a ação governamental é a criação de mecanismos que possibilitem ao Estado retomar seu papel de indutor do desenvolvimento nacional.

Comparar o blecaute de 10 de novembro de 2009 ao longo tempo das trevas que vigorou no país entre junho de 2001 e fevereiro de 2002 é um apagão histórico bem típico de uma elite que não soube atualizar as linhas de transmissão do seu ideário. Uma autêntica confissão pública de fé no modelo monetarista-liberal que impossibilitou o crescimento econômico, aumentou as desigualdades e enfraqueceu as instituições políticas. A noite de São Bartolomeu deseja revisitar os huguenotes que ousaram sobreviver.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

Sobre Ernst Bloch...

O princípio esperança


Judeu alemão e marxista, vivendo nos tempos mais sombrios, Ernst Bloch construiu toda uma obra voltada para a felicidade e para a utopia. Humanista e socialista, foi desde a revolução húngara de 1956 perseguido pelo estalinismo. A sua obra magna O princípio esperança, em três volumes, foi editada recentemente no Brasil pela Editora Contraponto.

A seguir, (extraido do Portal Perseu Abramo)  um pequeno trecho da prosa expressiva e barroca de Bloch, povoada de símbolos e imagens de beleza, no qual toma partido pelo “Eros dialeticamente aberto” para o novo e o futuro:

“ Somente ao se abandonar o conceito imóvel e fechado do ser surge a real dimensão da esperança. O mundo está, antes,repleto de disposição para algo, latência de algo,e o algo assim intencionado significa plenificação do que é intencionado. Significa um mundo mais adequado a nós, sem dores indignas, angústia, auto-alienação, nada. Esta tendência, porém, está em curso para aquele que justamente tem o novum diante de si. É somente no novum que o para-onde do real mostra a determinação mais fundamental do seu objeto, e esta convoca o ser humano, em quem o novum tem os seus braços. O saber marxista significa que os difíceis processos de ascensão se desenvolvem tanto no conceito quanto na práxis. Na problemática do novum reside a abundância de campos do saber ainda inabitados. Nela, a sabedoria do mundo torna-se novamente jovem e originária. Se o ser se compreende a partir do seu de-onde, então ele se compreende, a partir daí, apenas como um para-onde igualmente tendencial, ainda inconcluso. O ser que condiciona a consciência, assim como a consciência que trabalha o ser, compreendem-se em última instância somente a partir de onde e para onde tendem. A essência não é o que foi, ao contrário: a essência mesma do mundo situa-se na linha de frente.”

somente para lembrar....


10 anos de Seattle
Emir Sader
 
Pareceu um raio em céu azul, aquele espetáculo sensacional em que se transformou o que deveria ter sido mais um show midiático do Consenso de Washington, numa nova reunião da OMC, em uma das cidades símbolo da pós-modernidade: Seattle.

A reunião não conseguiu ser realizada; se via ministros correndo pelas ruas, usando escadas rolantes para ver se conseguiam chegar de volta a seus hotéis – entre eles, Pedro Malan, figurinha carimba desse tipo de reunião. Enquanto a massa, convocada pela internet, não se sabia surgindo de onde, ocupava praças, ruas, hotéis, salas de reunião, estações de metrô, protagonizando a primeira grande manifestação global contra o pensamento único e o Consenso de Washington.

Não era um raio em céu azul, para quem havia constatado, por debaixo da aparente pax neoliberal, os problemas que a globalização ia produzindo. É certo que os governos que mais a personificaram se reelegiam – FHC, Fujijmori, Menem -, depois do sucesso de Reagan e da Thatcher, sucedidos por Blair e Clinton. Mas ao mesmo tempo se esgotavam. As crises financeiras – típicas do neoliberalismo – se estendiam pela América Latina, pelo sudeste asiático, pela Rússia.

Hugo Chavez tinha sido eleito um ano antes. A economia brasileira enfrentava uma nova crise, o que levou o governo FHC a elevar a taxa de juros a 48% e a jogar o país numa prolongada recessão. Sinais claros de que a economia argentina estava à beira de uma explosão da bomba de tempo instalada por Menem, com a paridade artificial entre o dólar e o peso. O México se recuperava com dificuldades da crise de 1994.

Desde que os zapatistas tinham lançado seu grito contra a globalização neoliberal, em 1994, as mobilizações populares foram se sucedendo, entre elas as extraordinárias marchas dos trabalhadores sem terra no Brasil, as lutas dos movimentos indígenas do Peru, da Bolívia, do Equador, iam se espalhando, anunciando um novo ciclo de mobilizações, como resistência popular ao neoliberalismo.

Seattle veio assim trazer à superfície os descontentamentos acumulados pelos efeitos deletérios das políticas neoliberais, com os imensos retrocessos sociais que representavam. Ignacio Ramonet havia publicado seu famoso editorial no Le Monde Diplomatique da França, conclamando à luta contra o pensamento único. ATTAC surgia como um novo tipo de movimento, de luta pela taxação do capital financeiro para promover políticas para a cidadania, com o lema “O essencial não tem preço”.

Iniciou-se, com Seattle, um novo ciclo de mobilizações populares que, enlaçando-se com o surgimento do Fórum Social Mundial, estendeu as mobilizações contra a OMC pela Europa, pela Ásia, pela América Latina, até desembocar nas maiores manifestações já conhecidas, contra a guerra do Iraque, em 2003.

Deste então, a luta pela superação do neoliberalismo ganhou novas formas, mais avançadas, passando do protesto e da resistência, à derrota do governos neoliberais e ao inicio do ciclo atual – latinoamericano – de construção de governos pós-neoliberais. Para sua vitória contribuíram decisivamente as lutas de Seattle e aquelas que no continente brecaram os processos de privatização, como as dos movimentos indígenas e cidadãos na Bolívia e no Equador. Podemos dizer que o novo cenário latinoamericano é herdeiro das lutas de resistência da década de 1990 e, em particular, das espetaculares manifestações de Seattle, que marcaram o fim da lua-de-mel neoliberal e o começo da construção do “outro mundo possível”, do pós neoliberalismo latinoamericano.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Luta armada - tirando ensinamentos


Wladimir Pomar - Correio da Cidadania

Aproveitando as declarações do ex-major Curió sobre a Guerrilha do Araguaia, assim como o clima morno da conjuntura, por algumas semanas me dediquei a fazer um sumário da minha participação nos acontecimentos que precederam e depois sucederam aquela guerrilha. Espero não haver cansado os leitores com memórias de um passado que teima voltar, talvez porque nem todos tenham acertado suas contas com ele.
 
Para finalizar essa série, embora não tenha tido a pretensão de esgotar o assunto, gostaria de sistematizar um pouco do que aprendi. Primeiro, a lição de que não se deve cair na armadilha de que se pode, de antemão, determinar o caminho, ou a forma principal de luta, a ser seguido para realizar as transformações econômicas, sociais e políticas que o país necessita para ingressar no socialismo.
 
Isso poderia não ter mais importância se, 40 anos depois daquelas experiências, a idéia não continuasse viva na cabeça de muita gente. Há os que nutrem a suposição de que só nos resta o caminho armado. Paradoxalmente, no momento em que consideram as grandes massas populares inebriadas por promessas de demagogos populistas. E há também os que juram, de braços abertos, que o único caminho viável é o pacífico, das eleições sucessivas. Para eles, basta manter-se firme no trabalho institucional que as urnas nos levarão ao paraíso.
 
Como deuses onipotentes, uns decretam que o inimigo será inflexível e incapaz de fazer qualquer concessão, enquanto os outros determinam que o inimigo não tem mais qualquer condição de tentar aventuras golpistas, nem ditaduras sanguinárias. E ambos já previram, cada um a seu modo, que o povão vai agir como supõem.
 
Nessa questão eu aprendi que é a prática de luta que vai determinar o caminho, e não o inverso. Assim, se do ponto de vista geral é melhor estar preparado para a pior situação, do ponto de vista prático é fundamental estar ligado, quase fundido, ao dia a dia dos trabalhadores e das demais camadas populares, de modo a acompanhar o seu aprendizado, conhecer sua disposição e ganhar influência sobre eles.
 
Esta é a única maneira de saber como o povão vai agir, caso a burguesia decida resolver suas contradições com os trabalhadores e o povo da mesma forma que sempre resolveu, num passado não muito longínquo. Diante disso, as massas populares tanto podem partir para a luta, quanto fazer uma retirada estratégica, como fizeram em 1964 e 1968. As duas possibilidades existem e é muito difícil supor que alguém seja capaz de determinar qual delas vai prevalecer.
 
O mesmo pode ser verdade para o caso de a burguesia continuar, por um longo período, constrangida a seguir a tendência atual, de solução passo a passo das contradições. É lógico que ela trabalhará sempre, sejam suas alas moderadas, sejam suas alas radicais, para praticar fraudes ou levar as forças de esquerda a cometerem erros sérios, de modo a lhes impor uma derrota eleitoral de caráter estratégico. Numa situação dessas, a derrota pode tanto empurrar as camadas populares para lutas mais radicais quanto para uma nova retirada estratégica, dependendo do contexto em que a derrota ocorrer.
 
Assim, sem medir muito claramente as questões políticas em jogo, estamos sempre correndo o perigo de ajudar o inimigo. Por isso, fico sempre impressionado de ver, ou ouvir, militantes ditando o que os trabalhadores e o povo devem fazer, sem que tenham qualquer laço orgânico com segmentos sociais concretos, no chão de fábrica ou nas comunidades de bairros e favelas. Nestas condições é realmente muito difícil saber o que as massas estão pensando e o que pretendem.
 
É isso que exige da esquerda a necessidade de combinar os processos eleitorais com as lutas sociais e políticas. E, mais do que antes, essas lutas precisam ser com razão e com limite, de modo a evitar que os movimentos sociais sejam fragmentados, como resultado de ações que permitam à burguesia se passar por vítima e reconquistar influência sobre a classe média e mesmo sobre parcelas menos politizadas da população trabalhadora pobre.
 
Em relação ao baixo nível atual de mobilização social, não adianta morder os calcanhares, nem xingar o povão de medíocre, como fazem alguns. Mesmo porque as massas populares nem sempre conseguem tirar todas as lições de suas experiências de luta. Seja porque, antes, não passaram por experiências idênticas, seja porque essas lutas sofrem de descontinuidade, ou ainda porque tais experiências não foram sistematizadas, nem devolvidas, de modo conveniente às massas.
 
Porém, também aprendi que não podemos tomar qualquer situação, por pior que seja, como algo estático e invariável. Sempre haverá fatores, às vezes silenciosos e imperceptíveis à primeira vista, que estarão processando mudanças e vão determinar uma cascata de outras modificações. No período da guerrilha do Araguaia fomos incapazes de acompanhar essas mudanças e nos ajustarmos a elas. Mas também não faz muito tempo que, sem reparar o que estava acontecendo na base da sociedade, em virtude dos programas sociais do governo Lula, muita gente acreditou que ele e o PT seriam liquidados pela crise de 2005. Enganaram-se redondamente.
 
Por fim, aprendi que é preciso, sempre, manter espírito crítico, a todo momento, avaliando a correção ou não de cada teoria, de cada ação, de cada luta, mesmo que isso seja doloroso. Isto é verdade tanto para processos de lutas massivas, quanto para processos de estagnação da mobilização social. Num e noutro caso, nem sempre as massas estão certas, do mesmo modo que nós. Em qualquer das situações, só participando e vivendo com elas as experiências de luta, ou da falta de luta, podemos tirar lições dos erros delas e dos nossos, se tomarmos a prática como o critério da verdade.
 
Wladimir Pomar é escritor e analista político.