quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Desequilíbrios Globais contra desigualdades internas (compreendendo a Economia Mundial)


James PetrasNesta crise sistémica do capitalismo, cujo epicentro foi no coração do imperialismo, “a saída para os desequilíbrios massivos passa pelos Estados Unidos decidirem executar transformações estruturais internas em larga escala e a longo prazo - nomeadamente à desfineirização e desmilitarização. Mas as forças políticas e económicas beneficiárias da configuração actual estão fortemente entrincheiradas no controlo de ambos os partidos principais e dominam os media e as suas mensagens”.

James Petras - www.odiario.info

Introdução

As crises profundas e continuadas dos principais países capitalistas, especialmente nos Estados Unidos, provocou um debate sobre as causas, consequências e políticas apropriadas para as resolverem.

O debate revelou uma divisão profunda sobre as causas e os remédios, com os políticos, economistas e articulistas anglo-franco-americanos (AFA) de um lado e a correspondente outra parte asiática-germânica (AG) do outro lado. Em termos gerais, os porta-vozes dos AFA põem as culpas das crises nos factores externos, ou, mais especificamente, apontam o dedo aos excedentes positivos no comércio, sectores dinâmicos de exportação e ritmos elevados de investimento em sectores produtivos, e níveis baixos de consumo nos países AG, como a causa dos «desequilíbrios», ou «desequilíbrio», na economia mundial.

Em contraste, os países AG rejeitam a justificação de práticas externas prejudiciais. Põem em destaque os «desequilíbrios» internos no interior dos países AFA, que enfraqueceram as suas posições internacionais, comerciais e financeiras.

Neste artigo, vou argumentar que ambas as políticas económicas internas e as estratégias de construção de impérios externos dos países AFA, têm sido a força motriz para os desequilíbrios globais. As diferenças estruturais entre as duas regiões e as diferenças de estrutura de classe e configurações económicas em cada bloco, impedem qualquer solução fácil e imediata. Pelo contrário, no futuro previsível é provável que o conflito entre potências dinâmicas emergentes de exportação e o bloco ocidental em declínio se intensifique, levando a maiores conflitos comerciais e a possíveis confrontos militares.

As acusações da AFA contra os «desequilíbrios» comerciais da China reúne comércio com o ocidente com as relações de Beijing com o resto do mundo. A China tem comércio equilibrado ou mesmo défices de comércio com países asiáticos, africanos, do Médio Oriente e da América Latina. Além disso, os países AFA têm desequilíbrios de comércio com outras regiões, incluindo o Médio Oriente e a Alemanha. Mesmo que os países AFA reduzam importações da China, é mais do que provável que outros países asiáticos tomem o seu lugar, incluindo Vietname, Coreia do Sul, Taiwan, Bangladesh e Índia. Os défices comerciais resultantes da AFA ficariam na mesma.

Os países AFA culpam a moeda «subvalorizada» da China e reclamam que as autoridades de Beijing manipulam as taxas de câmbio para baixar o preço das exportações e vencer os concorrentes (nomeadamente produtores no interior das AFA). Contudo, a moeda da China tem sido reavaliada consistentemente para cima dos 20% nos últimos cinco anos e, apesar disso, AFA continua a apresentar défices, sugerindo que os produtores nacionais ainda não são capazes de competir com os fabricantes chineses. Mais recentemente, autores na AFA, queixaram-se das taxas baixas dos juros apresentadas pelo governo chinês como um «subsídio» aos exportadores. Contudo, as taxas de juro na AFA estão a zero por cento ou mesmo negativas, isto é, são em vão. Todavia, AFA concederam para cima de 1,5 milhão de milhões em fundos de apoio, e para cima de 1,3 mil milhões para despesas estimulantes - um subsídio cinco vezes superior ao pacote de estímulos da China, sem terem melhorado a sua balança comercial. O que é revelador, dadas as afectações sectoriais, do apoio em cada regime - subsídios - pacotes de estímulos, é que a China recuperou completamente e tem um crescimento de 8% em meados de 2009, enquanto AFA continua a chafurdar em território negativo e continua também com défices comerciais. Isto aponta à centralidade dos factores internos, nomeadamente aos sectores económicos que recebem subsídios de Estado e à forma como os investem, e que têm como resultado que as suas decisões afectem as balanças comerciais.

AFA acusa a China dos baixos salários, da exploração dos trabalhadores, e que isso é a razão dos desequilíbrios comerciais. Contudo, uma percentagem crescente das exportações da China é baseada em avanços tecnológicos e não em mão-de-obra barata. Isto é devido à emergência na Ásia de concorrentes com baixos custos de salários.

AFA queixa-se que a China enfatiza a sua estratégia de “exportações” à custa de produzir para o mercado interno. Todavia, quase metade das exportações da China para os Estados Unidos é realizada a partir de multinacionais americanas que investiram, subcontrataram e co-produziram com as suas homólogas chinesas. Por outras palavras, a política interna americana, a desregulamentação do fluxo de capitais, facilitou o movimento dos fabricantes americanos no exterior, o que resultou num declínio da produção local, num aumento das importações e em maiores défices comerciais.

Causas internas dos défices comerciais (e Economia Mundial Desequilibrada)

A correlação mais evidente e interessante com o crescimento dos desequilíbrios comerciais da AFA é o crescimento e domínio do sector financeiro. A financeirização das economias das AFA e o papel dominante dos directores executivos da Wall Street nas posições económicas estratégicas do Estado é transparente para as massas e até tem sido reconhecida pela maioria dos economistas privados e professores universitários. Os défices comerciais aumentaram na proporção directa do crescimento do poder económico e político do sector financeiro. Em grande parte, isto foi devido à transferência do capital do fabrico para os serviços financeiros, o que conduziu à redução dos investimentos nas inovações e em estratégias de gestão competitivas nos sectores produtivos. Os altos salários, bónus e retornos rápidos no sector financeiro atraíam a maioria dos auto-denominados "melhores e mais inteligentes". Os formados em MBA multiplicaram, enquanto os formados em escolas de engenharia avançada diminuíram. Desapareceram os programas de formação para trabalhadores especializados enquanto cresceu o recrutamento para vendas a retalho de baixa especialização.

O problema era que os serviços financeiros não faziam, não podiam substituir os ganhos do exterior que antes aumentavam através de vendas dos produtos fabricados. Em último lugar, nos mercados financeiros altamente regulados da China, Japão, Índia e no resto da Ásia, onde os bancos estão subordinados à expansão da produção - nomeadamente indústrias financeiras dirigidas por funcionários do Estado. O domínio do capital financeiro e os sectores relacionados do imobiliário e dos seguros conduziram a uma estrutura de classe altamente polarizada: onde presidiam banqueiros de investimentos bilionários e milionários e um exército de trabalhadores de serviços com baixos salários (empregados do retalho, da limpeza, varredores, etc) imigrantes e trabalhadores não-sindicalizados que ocupavam o fundo da escala. Presentemente, as desigualdades no rendimento nos Estados Unidos excedem as de qualquer outro país capitalista "avançado". As desigualdades em Manhattan excedem as de Guatemala. A crescente concentração de riqueza é acompanhada pela redução, nas últimas três décadas, dos ordenados médios. Em resultado disso, o poder de compra dos trabalhadores americanos foi reduzido, dessa forma reduzindo também a procura de bens de qualidade produzidos localmente. O resultado, é a compra de têxteis baratos de importação, sapatos e outros artigos. Passa a haver um declínio nas poupanças e no investimento interno na produção, o que leva a um abaixamento na competitividade. Para além disso, a concorrência entre prestamistas financeiros faz aumentar dispêndios no consumidor e maior endividamento individual, numa altura em que os peritos em produção declinavam por não haver investimento.

A maior parte das empresas produtoras transformaram-se em empresas financeiras, canalizando fundos de investimento em sectores não recebendo câmbios estrangeiros. Pior que tudo, em busca de lucros mais elevados, os produtores transformaram-se em vendedores comerciais, encerrando fábricas e subcontratando produção à China e a outros países asiáticos, e importando produtos finais para os Estados Unidos, assim criando os desequilíbrios comerciais. A recolocação, em larga escala, das multinacionais americanas no estrangeiro, agravou ainda mais os desequilíbrios comerciais.

O papel principal do Estado na criação de desequilíbrios internos, conduzindo a um desequilíbrio global, é o resultado da tomada do Estado pelo sector financeiro e da desregularização dos mercados financeiros. O resultado foi a promoção a longo termo de uma política económica, onde o banco central (Reserva Federal) e o Ministério das Finanças, encorajavam mais o crescimentos dos sectores financeiro, imobiliário e seguros do que o do sector produtivo. A estratégia financeira foi justificada por um grande exército de professores e publicistas que falavam na "pós-indústria", ou na economia de "serviço", ou de "informação", como uma "etapa superior",em vez de uma perversamente desequilibrada, insustentável e injusta economia.

A supremacia financeira coincidiu com a crescente militarização da política estrangeira dos Estados Unidos. A expansão económica dos Estados Unidos no estrangeiro foi eclipsada gradualmente pela crescente dependência nas intervenções militares e na construção de bases militares em centenas de locais. A financeirização enfraqueceu a capacidade produtiva dos exportadores americanos para captar mercados, os políticos americanos aumentaram a dependência na supremacia do poder militar. A canalização de biliões para as despesas militares esgotaram os recursos em esforços para aumentar a competitividade da indústria civil americana e foi um factor importante no seu declínio nos mercados de exportação. Os resultados finais da militarização foram perdas nos proveitos das exportações e no crescimento dos défices comerciais.

Se combinarmos os três grande desequilíbrios internos nas economias da AFA, mas especialmente na dos Estados Unidos, a financeirização da economia, a militarização da política estrangeira e a concentração da riqueza no topo, podemos, pois, entender porque é que os Estados Unidos têm um tão grande e crescente défice comercial.

A estratégia de impulso nas exportações da China

A ênfase da China numa estratégia impulsionadora de exportações e as resultantes e crescentes desigualdades de classe, são claramente o resultado da composição de classe do Estado e da sua estrutura social. Por outras palavras, os factores internos são a força impulsionadora da sua procura por excedentes comerciais. O que é irónico é que alguns dos críticos da AFA, que apontam correctamente os 'desequilíbrios' internos na China, ignorem problemas semelhantes no ocidente. Nomeadamente, não mencionarem a ausência de um plano nacional de saúde nos Estados Unidos, o aumento das desigualdades e da diminuição do poder de compra massivo - mesmo quando apontam estas deficiências na China. O que os defensores ocidentais de maior segurança social na China não falam, é o poder, privilégios e lucros da classe capitalista, que dificulta um maior consumo massivo. E menos do que tudo, falam da força motriz para elevar as condições de vida da classe trabalhadora e dos camponeses, nomeadamente a luta de classes. Em vez disso, contam com os apelos tecnocráticos às elites chinesas para que as despesas sociais sejam maiores.

O Estado chinês evoluiu para uma poderosa máquina de fabrico de bens e de bilionários. A China de hoje tem o maior crescimento, a maior taxa de exploração e as maiores desigualdades de classe da Ásia. Aumentar os salários para estimular o consumo local significa redução de lucros, um anátema para todos os capitalistas, incluindo os chineses. Aumentar a despesa pública na cobertura universal da saúde, especialmente para os 700 milhões de camponeses sem seguro e trabalhadores rurais, significa maiores impostos para os ricos, incluindo as famílias e colegas da elite do governo. Em contraste, a produção para os mercados de exportação não necessita de um maior poder interno do consumidor e, pelo contrário, precisa de salários mais baixos.

A mudança do impulso na exportação para uma estratégia de impulso no mercado interno requer, não apenas, de uma 'mudança na política', mas de uma mudança profunda no poder classista da actual classe capitalista e dos seus apoiantes no Estado, para os trabalhadores e camponeses. Para realizar, em larga escala, compromissos a longo prazo de receitas de serviços sociais para os pobres rurais e salários superiores para os trabalhadores explorados, requer mobilizações sustentadas popularmente, revoltas e greves para garantir os sindicatos independentes e associações de camponeses necessários para que haja uma mudança nas atribuições do Estado para consumo interno.

Os "desequilíbrios" da China são largamente internos, em termos sociais e políticos. É um desequilíbrio de poder social entre um poderoso Estado capitalista e uma massa reprimida e sem poder de trabalhadores e camponeses; um desequilíbrio em rendimento entre uma banca super-rica, imobiliário, elite exportadora de produtos e uma classe trabalhadora com salários baixos e uma classe camponesa subsistente; um desequilíbrio entre um Estado altamente organizado ligado a famílias, ideologia e interesses económicos com a classe capitalista, e uma dispersa, fragmentada e isolada massa de povo trabalhador.

A classe dirigente da China, os seus investimentos exteriores de biliões de dólares em projectos capitalistas ocidentais, através dos seus fundos patrimoniais independentes, os seus investimentos de biliões de dólares em empresas extractivas estrangeiras, é conseguido pela quantidade de capital acumulado, obtido através de níveis intensos de exploração do trabalho e pela eliminação de pensões do Estado, planos de saúde e educação. O papel da China, como um poder imperial emergente, está enraizado no desequilíbrio entre poder global e degradação da segurança social.

O facto dos autores capitalistas ocidentais, dos políticos e dos seus seguidores do campo académico, chamarem a atenção para os mesmos desequilíbrios sociais na China como os seus críticos internos da classe trabalhadora, não devia obscurecer um ponto básico. Os críticos da Wall Street defendem a elite financeira da AFA contra a maior produtividade dos industriais exportadores da China, enquanto os críticos da classe trabalhadora interna criticam os capitalistas e o Estado pelas altas taxas de exploração e concentração de riqueza.

A chave para a redução de desequilíbrios no comércio mundial passa pela redução das desigualdades em cada região. Os Estados Unidos necessitam da mudança profunda de uma economia dominada pela finança para uma economia de produção, em que a finança, a tecnologia de ponta e a educação superior são dirigidas para a criação de uma economia competitiva e produtiva, baseada no trabalho especializado. A ligação no topo entre Wall Street e o Pentagon deve ser substituída pela ligação entre a classe trabalhadora industrial, trabalhadores dos serviços de baixos salários e sector público de empregados e profissionais.

A transformação estrutural da economia dos Estados Unidos é necessária mas isso só não chega. Se os esforços dos Estados Unidos continuarem a persistir num império militar isto irá desviar recursos das prioridades económicas internas e externas. Impérios dirigidos pelos militares alienam sócios comerciais, têm custos elevados e receitas baixas, isolam os investidores económicos e os comerciantes de sociedades produtivas e são destrutivos de instalações civis produtivas internas e externas.

A saída para os desequilíbrios massivos passa pelos Estados Unidos decidirem executar transformações estruturais internas em larga escala e a longo prazo - nomeadamente à desfineirização e desmilitarização. Mas as forças políticas e económicas beneficiárias da configuração actual estão fortemente entrincheiradas no controlo de ambos os partidos principais e dominam os media e as suas mensagens. Contudo, apesar do seu profundo poder institucional sofrem de várias deficiências fatais. Em primeiro lugar, criaram desequilíbrios globais insustentáveis que, mais cedo ou mais tarde, levarão a um colapso do dólar e a bolhas financeiras renovadas, mais virulentas e dispendiosas. Em segundo lugar, o mercado livre, que é o suporte ideológico principal da elite de poder financeiro desregulado, está totalmente desacreditado, como evidenciado pelo pequeno apoio e confiança da Wall Street. Em terceiro lugar, a construção de impérios pelos militares já teve o seu percurso: após nove anos de guerra no Afeganistão a grande maioria de americanos enviou uma mensagem à elite política de ambos os partidos, à Casa Branca e ao Congresso, de que chegou a altura de mudar as aventuras falhadas e financiadas no estrangeiro e resolver o problema dos 20% desempregados americanos (30 milhões), de os 100 milhões ou 33% de americanos sem ou com dispendiosa cobertura de saúde ou com cobertura inadequada. Nenhuma intensidade nos media e culpabilização perita da China para os nossos auto-induzidos "desequilíbrios" pode desviar a opinião americana das suas experiências directas com as nossas próprias desigualdades internas e fracassos de política.


* James Petras é Professor da Universidade de Nova Iorque e amigo e colaborador de odiario.info


Tradução de João Manuel Pinheiro

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Belo texto de Deanna....

E tudo mudou...

O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss

O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone

A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM

A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse

Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal

Ninguém mais vê...

Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service

A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão

O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD

A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email

O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street

O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também

O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike

Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato

Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita ?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...

A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!

A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...

... De tudo.

Inclusive de notar essas diferenças...



*
Deanna - blog leitores escassos


Por motivos que ninguém explica, diversos textos de outros autores circulam pela internet como sendo de Luis Fernando Verissimo. Isso ocorre com outros autores também, mas o estilo mais casual de Verissimo parece torná-lo um alvo fácil.
Abaixo, uma lista de textos falsamente atribuidos a Verissimo, compilada por Elson Barbosa (moderador da comunidade no Orkut - Luis Fernando Verissimo):

- LFV e o Desarmamento / Aprenda a Chamar a Polícia (autor: Rossano Cancelier)
- Quase (autora: Sarah Westphal)
- Dar Não é Fazer Amor (Tatiane Bernardi)
- Depoimento Sobre as Drogas / Pagodeaxéfunk... Drogas da Pesada! (autor: Vitor Trucco)
- Hipocondríaco (autor: Silvio Lach)
- Um Dia de Modess (Rolinha)
- Tipo Assim (autor: Kledir Ramil)
- O Direito do Palavrão (Pedro Ivo Resende)
- A Verdade Sobre Romeu e Julieta (Francine Bittencourt de Oliveira)
- A Impontualidade do Amor (autora: Martha Medeiros)
- Mulheres Modernas / Mulheres Empresárias (autor: Arnaldo Jabor)
- O Que Faz Bem À Saúde / Previna-se (Martha Medeiros)
- Pedindo Uma Pizza em 2009 (autor: Daniel Kurtzman)
- Namoro em Tempos Modernos / Árvore Genealógica (autor: Bond Bilau)
- Filtro Solar (autor: Baz Luhrmann)
- Verão Chegando / The Summer is Tragic! (autora: Rosana Hermann)
- Ainda Bem Que Eu Dei (autora: Daniela Mel)
- Proctologista / Pedido de Amigo (autor: Jacob El-Mokdisi)

Sugestão participe da Comunidade orkut: Afinal, quem é o autor?

- A Pessoa Errada (Autoria Desconhecida)
- Desabafo de um Marido (Autoria Desconhecida)
- Aquele do Remédio e do "Esquece" (Autoria Desconhecida)
- Um Dia de Merda (Autoria Desconhecida)
- Um Dia de Modess (Autoria Desconhecida)
- Verão Chegando (Autoria Desconhecida)
- Necessidades Sexuais / Marte e Vênus (Autoria Desconhecida)
- Big Brother Brasil 4 (Autoria Desconhecida)
- Entrevista com Deus (Autoria Desconhecida)
- Ainda Bem Que Eu Dei (Autoria Desconhecida)
- Dez Coisas Que Levei Anos Para Aprender (Autoria Desconhecida)
- Precisando de Amor (Autoria Desconhecida)
- Sobrevivência / Como Conseguimos Sobreviver? (Autoria Desconhecida)
- Casamento Moderno (Autoria Desconhecida)
- Sobre o Amor (Autoria Desconhecida)
- Oração dos Desesperados / Oração dos Estressados / Oração dos estressadinhos (Autoria Desconhecida)
- Nada como a Simplicidade... (Autoria Desconhecida)
- Mulheres (Autoria Desconhecida)
- Nada como a Simplicidade... (Autoria Desconhecida)
- Nota de falecimento/ Morreu quem atrapalhava o crescimento da empresa (Autoria Desconhecida)
- Coisas de um Coração Apaixonado / Falo a Língua dos Loucos / Quem Nunca Teve... (Autoria Desconhecida)
- Fodeu-se / Foda-se (Autoria Desconhecida)
- Às Vezes / Quando o Coração Doe Até Sangrar (Autoria Desconhecida)
- Complexidade feminina! (Autoria Desconhecida)
- A Felicidade pode demorar (Autoria Desconhecida)
- Como roubar um coração/Roubo! (Autoria Desconhecida)
- Degustação de vinho em Minas e/ou O MINERIM E O DEGUSTADOR DE VINHO (Autoria Desconhecida)
- Depilação masculina (Autoria Desconhecida)

Caso encontrarem o autor desconhecido de algum texto mencionado acima até o momento, favor indicar no e-mail - pessoal (Contatos do Recanto e/ou no mural do Orkut - recados), pois as listas vem sendo constantemente atualizadas.

Nota: Desconfie de textos repassados com o nome de LuiZ Fernando VerÍssimo, de modo geral são falsos.
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/lfv é um site dedicado ao escritor, cartunista e músico Luis Fernando Verissimo.

www.dotdotdot.com.br/lfv/diversos/textos_falsos.php



Emerge uma nova esquerda na Europa



As recentes eleições alemães e portuguesas confirmaram a emergência em vários países da Europa de uma nova esquerda radical. Na Alemanha, Die Linke obteve 11,9% dos sufrágios e 76 deputados no Bundestag. Em Portugal, o Bloco de Esquerda alcançou 9,85% e dobrou sua representação parlamentar, com 16 deputados. Essa nova esquerda surgiu no fim dos anos noventa com a renovação dos movimentos sociais e o auge do movimento alter-mundista. A novidade reside em seu avanço eleitoral, que não se limita a um país ou a dois, senão que esboça uma tendência europeia (ilustrada, entre outros, pela Aliança Vermelha e Verde na Dinamarca, Syriza na Grecia ou o Novo Partido Anticapitalista na França), ainda frágil e desigual, segundo os distintos sistemas eleitorais. Por exemplo, o NPA e a Frente de Esquerda têm na França um potencial acumulado de aproximadamente 12%, mas não contam com nenhum parlamentar eleito, devido a um sistema uninominal de dois turnos que exclui toda representação proporcional e favorece o "voto útil" como um mal menor.
Vários fatores explicam esse fenômeno e, antes de tudo, o afundamento ou o retrocesso dos partidos social-democratas e comunistas, que estruturam há meio século a esquerda tradicional.
Os partidos comunistas, que se haviam identificado com o "campo socialista" e com a União Soviética, desapareceram ou viram sua base social se dissolver, com a exceção relativa da Grécia e de Portugal. Quanto à social democracia, ao acompanhar e impulsionar as políticas liberais no marco dos tratados europeus, contribuiu ativamente para desmantelar o Estado de bem-estar social, no qual obtinha sua legitimidade. Sob o pretexto da "renovação", da "terceira vía" e do "novo centro", se metamorfoseou, além disso, em formação de centro-esquerda, à semelhança do Partido Democrata italiano. À medida que seus vínculos com o eleitorado popular se debilitavam, se reforçava sua integração com os meios de negócios. A passagem de Schröder ao conselho de administração de Gazprom, e a promoção de dois "socialistas" franceses (Dominique Strauss-Kahn e Pascal Lamy) à cabeça do FMI e da OMC simbolizam essa transformação de altos dirigentes socialistas em homens de confiança do grande capital. Paladina da "economia social de mercado" e do compromisso social, a social democracia alemã já pagou por isso ao registrar nas eleições de 27 de setembro uma perda de 10 milhões de eleitores em 10 anos.
Enquanto essa esquerda do centro cada vez se distingue menos da direita do centro, cresce após a queda do muro de Berlim uma nova geração que não terá conhecido mais do que as guerras quentes imperiais, as crises ecológicas e sociais, o desemprego e a precariedade. Uma minoria ativa desses jovens retoma o gosto pela luta e pela política, mas mantém sua desconfiança diante dos jogos eleitorais e dos compromissos institucionais. Ao rechaçar um mundo imundo sem chegar a conceber "o outro mundo" necessário, esse radicalismo pode tomar direções diametralmente opostas: a de uma alternativa claramente anticapitalista ou a de um populismo nacionalista e xenófobo (a Frente Nacional na França, o National Front no Reino Unido), e inclusive a de um novo nihilismo. Entretanto, é alentador constatar que o eleitorado de Die Linke, como o de Olivier Besancenot nas eleições presidenciais francesas de 2007, se caracteriza por ter um componente jovem, precário e popular proporcionalmente superior ao dos outros partidos.
Todavia a nova esquerda não constitui uma corrente homogênea reunida em torno de um projeto estratégico comum. Inscreve-se mais bem num campo de forças polarizado, de um lado, pela resistência e pelos movimentos sociais, e do outro, pela tentação da respeitabilidade institucional. A questão das alianças parlamentares e governamentais já é para essa esquerda uma verdadeira prova de verdade. A Rifundazione Comunista, que ainda ontem aparecia como o buque-insígnia dessa nova esquerda europeia, se suicidou ao participar do Governo Prodi sem impedir o retorno de Berlusconi. Muito mais além das táticas eleitorais, essas opções revelam uma orientação que Oskar Lafontaine resume com acerto: "Fazer pressão para restaurar o Estado de bem-estar social".
Portanto, não se trata de construir pacientemente uma alternativa anticapitalista, senão que de "fazer pressão" sobre a social democracia para salvá-la de seus demônios centristas e fazê-la voltar a uma política reformista clássica no marco da ordem estabelecida.  Quanto a "restaurar o Estado de bem-estar social", para isso seria necessário começar por romper com o Pacto de Estabilidade e o Tratado de Lisboa, reconstruir serviços públicos europeus e submeter o Banco Central Europeu a instâncias eleitas. Em resumo, fazer exatamente o contrário do que fizeram os governos de esquerda durante os últimos 20 anos e que continuam fazendo quando estão no poder.  A moderação da social democracia diante da crise econômica e sua declaração comum durante as últimas eleições europeias demonstram que seu submetimento aos imperativos do mercado não é reversível.
Em troca, no dia seguinte às eleições portuguesas, Francisco Louça, o deputado que coordena o Bloco de Esquerda, rechaçou os cantos de sereia governamentais ao declarar rotundamente que sua formação estaria "na oposição", contra as privatizações anunciadas, o desmantelamento dos serviços públicos e o novo código do trabalho; portanto, na oposição ao Governo Sócrates. Essa opção também está no coração das divergências entre o NPA de Olivier Besancenot, que rechaça qualquer aliança de governo com o Partido Socialista e com o Partido Comunista francés, claramente comprometido com a perspectiva de reconstruir a "esquerda plural", cujo governo conduziu ao desastre de 2002, com Le Pen no segundo turno das eleições presidenciais.
Essas duas opções atravessam, sem dúvida, a maioria dos partidos da nova esquerda e, de concreto, Die Linke, cuja coalizão com o SPD, já muito discutida no Ajuntamento de Berlim, tenderia a se generalizar, como parece anunciar a aliança travada ultimamente no land de Brandenburgo.
Desse modo, se esboça a opção estratégica à qual se verá confrontada a nova esquerda. Ou bem se contenta com um papel de contrapeso e pressão sobre a esquerda tradicional, privilegiando o terreno institucional; ou bem favorece as lutas e os movimentos sociais para construir pacientemente uma nova representação política dos explorados e oprimidos. Isso não exclui de modo nenhum que se busque a mais amplia unidade de ação com a esquerda tradicional contra as privatizações e as deslocalizações, e a favor dos serviços públicos, da proteção social, das liberdades democráticas e da solidariedade com os trabalhadores imigrados e sem documentos. Mas isso exige uma independência rigorosa com respeito a uma esquerda que gestiona lealmente os assuntos do capital, sob o risco de aborrecer a política das novas forças emergentes.
A crise social e ecológica está ainda no seu inicio. Mais além de possíveis recuperações ou melhoras, o desemprego e a precariedade se manterão em níveis muito elevados e os efeitos da mudança climática continuarão se agravando. Efetivamente, não estamos diante de uma crise como as que o capitalismo frequentemente conheceu, senão que diante de uma crise da desmedida de um sistema que pretende quantificar o inquantificável e dar uma medida comum ao incomensurável. É provável que estejamos, portanto, no principio de um sismo, com recomposições e redefinições, do qual sairá uma paisagem política, daqui a uns anos, totalmente recomposta. É preciso se preparar para isso e não sacrificar o surgimento de uma alternativa a médio prazo por operações politiqueiras e hipotéticos lucros imediatos, o que acarreta em amargas desilusões.

Daniel Bensaid é filósofo.  Seu último livro publicado é Elogio de la política profana (Península). Tradução de M. Sampons.
Publicado no jornal El País, 2/11/2009
Fonte: Sin Permiso
Tradução para o português: Sergio Granja

Malawi: Ventos da mudança



Willard Nyangu, 60, lembra de seu retorno, há quarenta anos, às praias do Lago Malawi [terceiro maior da África, situado entre o Malawi, a Tanzânia e Moçambique, numa altitude de 700m acima do nível do mar, possuindo a maior diversidade de peixes do mundo] com sua canoa cheia de peixes depois de uma noite pescando.
Hoje, a história é bem diferente. Apesar de passar uma noite inteira no lago, Nyangu volta para a praia com apenas um punhado de peixes em sua canoa. Ele diz que o padrão de chuvas tem mudado nos últimos 40 anos e culpa a atividade humana, incluindo o desmatamento, pelos níveis incertos de água que afetam os ciclos de reprodução dos peixes.
Estoques minguantes de peixes
O governo do Malawi estima que a indústria pesqueira empregue mais de 300 mil malawianos. Cerca de 14% das comunidades litorâneas sobrevivem através da pesca, processamento e venda do pescado, venda e conserto de barcos e peças, e outras indústrias relacionadas.
A pesca é um fator chave na segurança alimentar do país – chega a contribuir com 70% da proteína animal nas áreas urbana e rural.
No entanto, a média de peixes capturados diminuiu de cerca de 65 mil toneladas por ano em 1970 e 1980 para apenas 50 mil toneladas por ano no final dos anos 90.
Em 2003, especialistas da indústria pesqueira – alarmados pela diminuição dos estoques de peixe – embarcaram numa estratégia de 10 anos para restaurar a quantidade de peixes. O plano tem por objetivo recuperar os esgotados estoques até um nível sustentável.
Clima Imprevisível
Há três anos, Bingu wa Mutharika, presidente do Malawi, levou a questão adiante ao tomar uma iniciativa para aumentar os estoques de água do lago.
Steve Donda, vice-diretor da indústria pesqueira do Malawi, reconhece que a população de peixes do país está diminuindo, mas, diz ele, que outros fatores além da mudança do clima, incluindo a destruição dos ambientes de reprodução, podem ser responsáveis por isso.
Contudo, um relatório publicado em junho pela ONG Oxfam Ventos da Mudança: Mudança do Clima, Pobreza e o Meio Ambiente no Malawi destaca que os ventos se tornaram tão fortes no país e as chuvas tão pesadas que eles têm seguidamente destruído casas, plantações e barcos.
A principal estação das chuvas está se tornando cada vez mais imprevisível. Em geral, nos últimos 40 anos, pescadores e fazendeiros dizem que as temperaturas estão mais altas e que as chuvas estão chegando mais tarde e ficando mais intensas e concentradas, o que reduz a duração do período e desencadeia mais secas e mais enchentes”, observa Elvis Sukali, um correspondente do Oxfam em Linlongwe [capital do Malawi].
Tomando atitudes
O Oxfam recomendou que o governo do Malawi elaborasse uma lista de ações com medidas que devem ser implementadas a fim de iniciar uma adaptação à mudança climática.
Mutharika lançou um plano de alcance nacional chamado Programas de Ação Nacional para a Adaptação (PANA) [em inglês NAPA, National Adaptation Programmes of Action] com o objetivo de melhorar a organização comunitária, recuperar florestas, aumentar a produção agrícola e o estado de prontidão em caso de enchentes e secas e ampliar o monitoramento climático.
Os PANAs custarão 22,43 milhões de dólares [aproximadamente R$38,1 milhões] que, até agora, não foram disponibilizados pela comunidade internacional, que cobra, antes de qualquer coisa, que o Malawi desenvolva seu plano. O Oxfam condenou as agências de desenvolvimento por fazerem isso, dizendo que o contínuo fracasso em financiar a implementação dos PANAs pelos países menos desenvolvidos no mundo é inaceitável.
No entanto, grupos da sociedade civil no Malawi dizem que a falta de fundos donativos não deve se tornar uma desculpa para a inércia das autoridades, e insistem para que o governo faça mais mesmo se os PANAs continuarem sem financiamento.
Menos chuva, menos alimentos”
O relatório do Malawi coincide com os relatórios do Oxfam produzidos na África do Sul e Uganda, que revelaram que as populações destes países estavam enfrentando desafios similares. Embora o continente africano contribua com menos de 3% das emissões globais, o Oxfam sul-africano observa que a mudança climática representa uma grande ameaça ao desenvolvimento do continente.
Em Uganda, uma análise climática feita pelo governo, publicada em dezembro de 2007, observou que as áreas mais úmidas do país ao redor da bacia do Lago Vitória [maior de todos os lagos africanos], no leste e noroeste, estão ficando ainda mais úmidas.
Meteorologistas e fazendeiros relatam o mesmo problema: na maioria dos distritos, os anos recentes têm testemunhado um aumento na irregularidade no início e final da estação das chuvas, e quando a chuva chega, ela é mais pesada e mais violenta.
Fazendeiros e pecuaristas dizem que estas mudanças estão encurtando a estação de chuvas e que o resultado final é menos chuva e mais seca ou, como um fazendeiro colocou: “Menos chuva significa menos alimento.”
Enfrentando a mudança climática
No entanto, alguma cautela é necessária na interpretação destas afirmações.
A fim de lidar com a situação, o Malawi recentemente imitou Angola, Suazilândia e Zâmbia ao lançar duas novas variedades de milho resistente a doenças – ZM 309 e ZM 523 – desenvolvidas por fazendeiros pobres em áreas propensas a estiagem com solos inférteis, a fim de ajudar a proporcionar alguma segurança alimentar.
Este lançamento é parte do projeto Milho Resistente à Seca para a África [em inglês Drought Tolerant Maize for África] e oferece a mais fazendeiros pobres na região da África sub-sahariana variedades de milho – um alimento básico entre os africanos – que têm níveis aumentados de resistência à seca.
Christine Mtambo, chefe do departamento de agricultura do Malawi, que é responsável pela produção rural no Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar, diz que as novas variedades se adaptam às atuais condições climáticas porque elas são resistentes à seca e amadurecem rápido.
Talvez, com a adaptação às mudanças no clima e a aplicação de medidas para aliviar o seu impacto, os pescadores como Nyangu e agricultores com culturas de subsistência serão capazes de enfrentar a mudança climática.
Porém, Raphael Mweninguwe, um renomado colunista ambientalista do Malawi que escreve para o jornal semanal Sunday Times, adverte que a mudança no clima é um aviso para as pessoas reagirem a essas condições aplicando medidas amigáveis ao meio ambiente. Mweninguwe argumenta que deveria haver uma maior consciência das questões relacionadas às mudanças climáticas entre as várias partes envolvidas, tanto dentro do país como fora das fronteiras do Malawi.

Charles Mkoka
Tradução: Aline Oliveira

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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Entrevista de Eduardo Galeano...

Estamos tentando recuperar nossa própria voz

 
Por Fania Rodrigues
 
Um dos mais respeitados escritores e intelectuais da América Latina, Eduardo Hughes Galeano recebeu a Caros Amigos numa tarde de segunda-feira, no Café Brasilero, em Montevidéu. Aos 69 anos fala, em fluente português, sobre sua literatura, o amor pelos cafés e, claro, sobre política. Uruguaio de nascimento (1940), latino-americano
por devoção e cidadão do mundo por paixão, quando criança, sonhava em ser jogador de futebol. “Era uma maravilha jogando, mas só de noite, enquanto dormia”. Melhor assim. Os campos de futebol não perderam nada, porém a literatura ganhou um verdadeiro artesão das palavras. Suas obras combinam elementos da literatura, sensibilidade e observação jornalística, que estão sempre em função de suas paixões. Autor de mais de trinta livros, dezenas de crônicas e artigos, Galeano também é um exímio defensor do socialismo, dos direitos e da dignidade humana. Entre seus livros, pode se destacar As veias abertas da América Latina, a trilogia Memória doFogo, Livro dos Abraços e o último, Espelhos – uma história quase universal, lançado em 2008, em que o autor reescreve, a partir de um outro ponto de vista, episódios que a história oficial camuflou. Galeano “remexe no lixão da história mundial” para dar voz aos “náufragos e humilhados”.
 
Caros Amigos - Você nasceu em Montevidéu? Gostaria que falasse um pouco da sua infância?
Eduardo Galeano - Sim, nasci em Montevidéu. Minha infância? Eu nem lembro, já faz tanto tempo... Mas acho que foi bastante livre. Eu morava em um bairro quase no limite da Montevidéu, onde havia grandes edifícios. Então tinha espaço verde. Sinto pena das coitadas das criancinhas que vejo agora, prisioneiras na varanda de casa. Meninos ricos são tratados como se fossem dinheiro, meninos pobres são tratados como se fossem lixo. Muitos, pobres e ricos, viram prisioneiros, atados aos computadores, à televisão ou a alguma outra máquina. Mas eu tive uma infância muito livre. Fiz a escola primária, secundária, depois comecei a trabalhar por minha conta. Então, com 15 anos, já era completamente livre.
 
Em que trabalhou?
Fiz de tudo o que você possa imaginar. Fui desenhista (adoro desenhar até hoje), taquígrafo, mensageiro, funcionário de banco, trabalhei em agência de publicidade, cobrador... Fiz milhares de coisas, mas, sobretudo, comecei a aprender o ofício de contar história. Eu era um cuenta cuentos (conta contos). E aprendi a fazer isso nos cafés, como esse onde a gente está agora falando, que leva o honroso nome de Brasilero.
 
O mais tradicional dos cafés uruguaios se chama Brasilero!
E esse é último sobrevivente, o último dos moicanos dos cafés nos quais eu fui formado. Minha universidade foram os cafés de Montevidéu, foi aqui que aprendi a arte de narrar, a arte de contar histórias.
 
Conversando com as pessoas?
Escutando. Conversando sim, mas aprendi muito mais escutando. Desde muito menino aprendi que, por alguma razão, nascemos com dois ouvidos e uma única boca. Mas esses cafés típicos de Montevidéu pertenciam a uma época que não existem mais. Pertenciam a um tempo no qual havia tempo para perder o tempo.
 
Como foi sair do Uruguai, na época da ditadura (1973-1984)?
Quando a ditadura se instalou, eu corri para a Argentina, em 1973. Lá fundei uma revista cultural chamada Crisis. Depois fui obrigado a voar de novo. Não podia voltar para o Uruguai, porque não queria ficar preso, e fui obrigado a sair da Argentina porque não queria ser morto. A morte é uma coisa muito chata. Então fiquei na Argentina até o final de 1976, quando se instala a Ditadura argentina. Aí fui para a Espanha, onde fiquei até o final de 1985. Depois disso voltei para o Uruguai. No começo, minha situação em Barcelona foi muito complicada. Eu não tinha documentos, pois a Ditadura uruguaia se recusava a fornecer. O que possuía era um documento de salvo conduto das Nações Unidas, que não servia para muita coisa. Eu tinha que ir todo mês à polícia renovar o meu visto de permanência e passava o dia inteiro preenchendo formulários de perguntas. Então, um dia, onde dizia profissão, coloquei escritor, entre aspas, de formulários. Mas ninguém percebeu. A polícia achou normal ser escritor de formulários!
 
Havia duas listas das ditaduras do Cone Sul. Uma, com os nomes das pessoas que estavam marcadas para morrer e outra para a extradição. Em qual você estava?
Nas duas.
 
Na época da ditadura, muitas pessoas, assim como você, ficaram sem documentos, não podiam sair do país e foram mortas a tiro ou envenenadas...
Eu tive sorte. Não me lembro de ter sido envenenado, nem mesmo pelos críticos literários. Claro que sofri muitas ameaças, mas não vou fazer aqui uma apologia do mártir, do herói da revolução. Mas claro que a vida não era fácil, sobretudo por que a situação dessa revista que fundei na Argentina era difícil, pois chegava muito além das fronteiras tradicionais das revistas culturais. Nós vendíamos entre 30 e 35 mil exemplares. Isso, para uma revista cultural, era uma prova de resistência. Nós pensávamos em fazer era um resgate das mil e uma formas de expressão da sociedade. Não apenas dos profissionais da cultura, mas também das cartas dos presos, da cultura contada pelos operários das fábricas, que raramente viam a luz o sol. Esse tipo de coisa que para nós também era cultura.
 
O livro As Veias abertas da América Latina foi escrito na década de 1970. Hoje, é possível escrever um novo Veias Abertas?
Para mim esse livro foi um porto de partida, não de chegada. Foi o começo de algo, de muitos anos de vida literária e jornalística tentando redescobrir a realidade, tentando ver o não visto e contar o não contado. Depois de Veias escrevi muitos livros que foram continuações, de um certo modo, e uma tentativa de cavar, cada vez mais profundamente, a realidade. Isso com o objeto de ampliar um pouco as ideias, porque Veias é um livro limitado à economia política latino-americana. Os livros seguintes têm que ser lidos com a vida toda, nas suas múltiplas expressões, sem dar muita bola nem ao mapa, nem ao tempo. Se eu fico apaixonado por uma história, me
ponho a contar histórias de qualquer lugar do mundo e de qualquer tempo. Conto a história da história, que podem ter acontecido há 2 mil anos e tento escrever de tal modo que aconteçam de novo, na hora em que são contadas. Aí está o verdadeiro ofício de contar, que aprendi nos cafés de Montevidéu, que inclusive permite a você escutar o som das patas dos cavalos, sentir o cheiro da chuva...
 
Pode-se dizer que hoje existe uma demanda por governos de esquerda na América Latina? Em sua opinião, esses governos têm contribuído para diminuir a pobreza e a desigualdade social nesses países?
O que existe é um panorama muito complexo e diverso de realidades diferentes. Também vemos respostas sociais e políticas diversas. Isso é o que nossa região do mundo tem de melhor: sua diversidade. Esse encontro de cores, de dores tão diferentes, é a nossa riqueza maior. Os novos movimentos, como esses, que estão brotando por toda parte, que tentam oferecer uma resposta diferente às desigualdades sociais, contra os maus costumes da humilhação e o fatalismo tradicional, também são respostas diversas porque expressam realidades diferentes. Não se pode generalizar. O que existe sim é uma energia de mudança. Uma energia popular que gera diversas realidades, não só política, mas realidades de todo tipo, tentando encontrar respostas, depois de vários séculos de experiências não muito brilhantes em matéria de independência. Agora estamos comemorando, em quase todos os países, o bicentenário de uma independência que ainda é uma tarefa por fazer.
 
O que falta para a América Latina ser completamente independente?
Romper com o velho hábito da obediência. Em vez de obedecer à história, inventá-la. Ser capaz de imaginar o futuro e não simplesmente aceitá-lo. Para isso é preciso revoltar-se contra a horrenda herança imperial, romper com essa cultura de impotência
que diz que você é incapaz de fazer, por isso tem que comprar feito, que diz que você é incapaz de mudar, que aquele que nasceu, como nasceu vai morrer. Porque dessa forma não temos nenhuma possibilidade de inventar a vida. A cultura da impotência te ensina
a não vencer com sua própria cabeça, a não caminhar com suas próprias pernas e a não sentir com seu próprio coração. Eu penso que é imprescindível vencer isso para poder gerar uma nova realidade.
 
A América Latina copiou um modelo de desenvolvimento que não foi feito para ela. É possível inventar um modelo próprio de desenvolvimento?
Não vou entrar em detalhes porque se fosse falar da quantidade de cópias erradas seria uma lista infinita. O desafio é pensar no que queremos ser: originais ou cópias? Uma voz ou eco? Agora estamos tentando recuperar nossa própria voz, em diferentes países, de diversas maneiras.
 
A implantação das bases dos Estados Unidos na Colômbia fere a dignidade do povo latinoamericano e compromete a independência e a liberdade da América do Sul?
Sim. É a continuação de uma tradição humilhante. Também há o perigo da intervenção direta dos Estados Unidos nos países latino-americanos. Meu mestre, Ambroce Bierce, um escritor norte-americano maravilhoso, quando se iniciou a expansão imperial dos Estados Unidos, no século 19, dizia que a guerra é um presente divino enviada por Deus para ensinar geografia. Porque assim eles (estadunidenses) Aprendiam geografia. E é verdade. Os EUA têm uma tradição de invadir países sem saber onde estão localizados e como são esses países. Tenho até a suspeita de que (George W.) Bush achasse que as
Escrituras tinham sido inventadas no Texas e não no Iraque, país que ele exterminou. Então, esse perigo militar latente é muito concreto. Atualmente os EUA possuem 850 bases militares em quarenta países. A metade do gasto militar mundial corresponde aos gastos de guerras dos EUA. Esse é um país em que o orçamento militar se chama orçamento de defesa por motivos, para mim, misteriosos e inexplicáveis. Porque a última invasão sofrida pelos EUA foi em 1812 e já faz quase dois séculos. O ministério se chama de defesa, mas é de guerra, mas como que se chama de defesa? O que tem a ver com a defesa? A mesma coisa se aplica às bases na Colômbia, que também são “defensivas”. Todas as guerras dizem ser “defensivas”. Nenhuma guerra tem a honestidade de dizer “eu mato para roubar”. Nenhuma, na história da humanidade. Hitler invadiu a Polônia porque, segundo ele, a Polônia iria invadir a Alemanha. Os pretextos invocados para a instalação dessa base dos EUA na Colômbia não são só ofensivas contra a dignidade nacional dos nossos países, como também ofensivas contra a inteligência humana. Por que dizer que serão colocadas lá para combater o tráfico de drogas e o terrorismo? Tráfico de drogas, muito bem... 80% da heroína que se consome no mundo inteiro vem do Afeganistão. 80%! Afeganistão é um país ocupado pelos EUA. Segundo a legislação internacional, os países ocupantes têm a responsabilidade sobre o que acontece nos países ocupados. Se os EUA têm interesse de verdade de lutar contra o narcotráfico, têm que começar pela própria casa, não pela Colômbia e sim pelo Afeganistão, que faz parte da sua estrutura de poder, e que é o grande abastecedor de heroína, a pior das drogas. O outro pretexto invocado é o terrorismo. Mas não é sério. Não é sério, por favor. A grande fábrica do terrorismo é essa potência mundial que invade países, gera desespero, ódio, angústia. Sabe quem esteve sessenta anos na lista oficial dos terroristas dos EUA? Nelson Mandela, Prêmio Nobel, presidente da África do Sul. Cada vez que viajava aos EUA, ele precisa de um visto especial do presidente dos Estados Unidos, porque era considerado um terrorista perigoso durante sessenta anos. Até 2008. É desse terrorismo que estão falando? Imagina se eu fosse incorporado agora na lista dos terroristas dos EUA e tivesse que esperar sessenta anos para ser tirado. Acho que daqui há sessenta anos vou estar um poquitito mortito.
 
Fania Rodrigues é jornalista
Para ler a entrevista completa e outras reportagens confira a edição de novembro da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.
 
 

Exterminio em Gaza....


Thabet El Masri, director da unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Shifa, um hospital público da Faixa de Gaza, responde aqui às perguntas de Silvia Cattori sobre o aumento do número de bebés nascidos com malformações.


Bombas de fósforo branco sobre uma escola da UNRWA em Beit Lahiya, a 17 de Janeiro de 2009

 
– Em Junho passado, começou a ficar preocupado com o aumento do número de bebés nascidos com malformações. Estamos interessados em conhecer o resultado do estudo realizado sobre este inquietante fenómeno e queremos saber qual a sua avaliação médica. Pode dar-nos informação sobre o relatório de anomalias congénitas pré-natais e pós-natais constatadas passados dez meses dos ataques sobre Gaza, em termos de número de casos ocorridos e em comparação com os dados de 2008?
 [1] Sim, pois eu segui, de forma contínua, o fenómeno do nascimento de bebés com malformação congénita. Registei o número de bebés nascidos com malformações congénitas em Julho, em Agosto e em Setembro de 2009. Comparei estes dados com os números dos mesmos meses do ano de 2008. Eis os resultados: em Julho de 2009, houve no Hospital Shifa 15 casos desse tipo, contra 10 em 2008; em Agosto de 2009, houve 20 casos, contra 10 em 2008; em Setembro de 2009, 15 bebés nasceram malformados, contra 11 em 2008. O número médio de nascimentos no Hospital Shifa é cerca de 1100 por mês.
– Conhecido o relatório, causou muita emoção e inquietude. Imediatamente, muita gente atribuiu o aumento de malformações nos fetos abortados e nos recém-nascidos à utilização, pelo exército israelita, de obuses de fósforo branco. Será assim?
Supomos que sim, mas não podemos confirmar que a utilização de armas químicas por Israel causou este aumento de malformações congénitas.
– Os bebés atingidos por malformações congénitas são todos originários de populações vivendo em campos de refugiados, populações particularmente submetidas a bombardeamentos israelitas? De que zonas são as mães?
Os bebés portadores de malformações congénitas vêm de todo o lado da Faixa de Gaza. Todavia, metade das mulheres que deram à luz bebés com malformações são originárias do campo de refugiados de Jabaliya.
– Na presente situação, que pode fazer para sossegar as mulheres grávidas que estão neste momento muito ansiosas?
Efectivamente, nada. Não há nada que possamos fazer para garantir que os seus bebés serão normais. Como poderíamos nós impedir a presença de substâncias químicas que podem causar defeitos de nascença?
– Há em Gaza embriologistas capacitados para fazer testes genéticos?
Infelizmente, não estamos equipados para fazer testes genéticos para saber se as anomalias congénitas são devidas a factores genéticos ou a substâncias químicas. No fim de contas, trata-se de um problema genético e as substâncias químicas podem muito bem ser responsáveis por estas mutações.
– Que é feito dos investigadores internacionais que em 2006 recolheram amostras para serem testadas em laboratórios europeus? Houve resultados?
Esse é um grande problema! Se os factores químicos são responsáveis, isso é muito difícil de provar. Como provar que são os produtos químicos que estão na origem das mutações? Como provar que os israelitas utilizaram substâncias interditas?
– Compreendemos que, enquanto médico, o doutor esteja muito preocupado e que, na actual situação desesperada, tenha necessidade de uma ajuda internacional…
Sim. Gostaria de sugerir algo que pudesse ajudar-nos, sem esgotar os nossos limitados recursos financeiros no domínio da pesquisa genética, que precisa de verbas avultadas. Dito de uma forma directa: seria extremamente útil convencer os israelitas a não voltarem a usar armas químicas como fizeram no Inverno passado.
– Que tipos de patologias tem observado nos bebés nascidos este Verão? Pode dar-nos exemplos de defeitos de nascença que constatou nesses bebés?
Verificamos problemas do sistema nervoso central, hidrocefalia e anencefalia, e ainda outro tipo de malformações como cardiopatias congénitas e obstruções do tubo digestivo. Os problemas renais são muito frequentes. As malformações visíveis são raras; os problemas são geralmente internos. Está a ver que problemas temos pela frente! As mães ficam sem defesa, nós nem temos resposta para as suas inquietações. Elas sabem que estamos sós nesta situação. Só lhes resta rezar!
– Não tem contactos com o exterior?
Não temos absolutamente nenhum contacto com o exterior. Dei-lhe uma visão geral do problema principal. Como lhe disse, há uma probabilidade de que as substâncias químicas possam ser uma das causas da tendência de aumento de defeitos de nascença, pois estes aumentaram desde o assalto bélico de Dezembro e Janeiro passados. Contudo, esta conclusão é impossível de provar.
– Muito obrigado.
Entrevista realizada a 12 de Outubro de 2009. Tradução da versão francesa retirada de Todos por Gaza. A versão original, em inglês, encontra-se aqui.
[1] Em Julho de 2006, num artigo sobre as consequências da ofensiva israelita de Junho de 2006 que atingiu a principal central de energia de Gaza, que alimenta a maioria da Faixa de Gaza, incluindo o fornecimento de energia aos hospitais de Gaza, ao aparato de abastecimento de água e de tratamento de esgotos, o Dr. Thabet El Masri tinha enfatizado o impacto de uma potencial falha de energia no hospital:
«O Dr. Thabet Al-Masri, o chefe da unidade do hospital para bebés prematuros, explicou que há 33 bebés que exigem incubadoras para fornecer o equilíbrio muito sensível de humidade, temperatura e oxigénio essencial para o seu desenvolvimento. Normalmente, observou, o número de nascimentos prematuros é de 50-60%, mas talvez como resultado de ansiedade por causa do cerco de Israel, actualmente o número está próximo de 70%. O Dr. Al Masri enfatizou que a natureza do trabalho dentro da secção “premie” é tal que não há meias-soluções. As vidas destes bebés estão dependentes do constante fluxo de eletricidade.» (Ver: Al-Shifa Hospital and Israel’s Gaza Siege, DCI/PS, 16/07/2006).

Reeleger Uribe é sacramentar corrupção e impunidade







A Unasul (União das Nações Sul-Americanas) enfrenta um impasse diante da teimosia do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de ampliar a instalação de bases usamericanas no território de seu país. Os demais presidentes estão contra. Preferem preservar a soberania e a independência da América do Sul.

Por Frei Betto*

Na reunião de Bariloche, em agosto, o presidente Lula bem argumentou: se desde 1952 as tropas estadunidenses não conseguiram erradicar o narcotráfico na Colômbia, por que agora estariam aptas a fazê-lo?

Funcionam na Colômbia três Estados paralelos: a guerrilha das FARC; o narcotráfico; e os grupos paramilitares, criados supostamente para combater os dois primeiros. Desde 1991, cerca de 2.500 sindicalistas foram assassinados naquele país, 500 sob o governo de Uribe. Os paramilitares puxam o gatilho, mas quem os financia são empresas nacionais e transnacionais.

A Coca-Cola sofre processo judicial por ter apelado aos paramilitares para reprimir atividades sindicais, entre 1992 e 2001, que resultaram na morte de sete sindicalistas. A Chiquita Brands, exportadora de banana, admitiu ter financiado o grupo terrorista Autodefesa da Colômbia. A Dyncorp foi acusada de contaminar com substâncias tóxicas lavouras de pequenos agricultores na fronteira entre Colômbia e Equador, visando a erradicação do plantio de coca. Tais fatos têm impedido que o governo dos EUA, empenhado na investigação dessas empresas, realize o grande sonho de Uribe: assinar o tratado de livre comércio entre os dois países.

A empresa Drummond, com sede no Alabama, explora minas de carvão e é acusada de ordenar o assassinato, por mãos de paramilitares, de três dirigentes sindicais. Ela extrai da Colômbia mais de 16 milhões de toneladas de carvão/ano. Seu faturamento anual está calculado em US$ 500 milhões, graças ao trabalho de 3.000 mineiros remunerados a US$ 2,5/hora.

A Justiça de Atlanta acusou a empresa de acobertar os assassinos dos sindicalistas colombianos e condenou a empresa, baseada numa lei de 1789, promulgada para punir ações de pirataria e crimes cometidos fora do território dos EUA. O processo correu sob segredo de Justiça, mas a mídia de Alabama pressionou e, agora, sabe-se que Rafael García, ex-chefe do departamento de informática do DAS (Departamento Administrativo de Segurança), órgão máximo da segurança do Estado colombiano, preso por haver destruído informações sobre os narcotraficantes de seu país, revelou as conexões entre parlamentares e funcionários comprometidos com os paramilitares.

García confessou que pouco antes do assassinato dos sindicalistas presenciou uma reunião entre o presidente da filial colombiana da Drummond e o chefe paramilitar que controlava a região. Viu quando o empresário entregou ao paramilitar US$ 200 mil para assassinar os sindicalistas. Contou ainda que os paramilitares usavam barcos da Drummond para transportar cocaína à Europa e Israel.

Favorecer na Colômbia um terceiro mandato de Uribe é sacramentar a corrupção e a impunidade.

* Frei Betto é escritor, autor de “Cartas da Prisão” (Agir), entre outros livros.

Fonte: Brasil de Fato

domingo, 15 de novembro de 2009

Palestina: Israel faz guerra pela água nos territórios ocupados

Laurent Zecchini - Correio Internacional

A intensidade das reações ao relatório crítico da Anistia Internacional sobre a questão do acesso à água potável nos territórios palestinos ocupados por Israel relembra o quanto a questão da água é estratégica no Oriente Médio.
O estudo, realizado pela organização de defesa dos direitos humanos, e divulgado ao público na terça-feira, 27 de outubro, é um relato preocupante das práticas “discriminatórias” contra a população palestina, impostas pelas autoridades israelenses.
A partilha da água é um assunto político: faz parte das questões ligadas ao “estatuto final” de um futuro acordo de paz israelo-palestino, do mesmo modo que as questões dos refugiados, das fronteiras de um Estado palestino, e de Jerusalém. A Autoridade da Água israelense, que desmente as acusações da Anistia, conclui que há poucas chances de evolução para um acordo com relação ao tema.
O acesso à água, que é submetido ao controle total que Israel exerce sobre os recursos da região, é agravado pela seca aguda que ameaça hoje os lençóis freáticos. A Anistia destaca que o Estado judeu usa mais de 80% de água proveniente das montanhas, limitando o acesso dos palestinos a 20% desta reserva. No entanto, esta é a única fonte de água dos palestinos na Cisjordânia, insiste a Anistia, “enquanto Israel dispõe de várias fontes de provisão de água (Lago de Tiberíades e aqüífero costeiro) e usa toda a água disponível do [Rio] Jordão.” O Estado judeu ocupa o vale do Rio Jordão desde a guerra de 1967, e não concede nenhum acesso às suas margens aos palestinos.
As águas do Jordão são cobiçadas ao mesmo tempo por Israel, Síria, Líbano e Jordânia, resultando em alguns lugares na redução de sua vazão à de um arroio salinizado e contaminado pelos resíduos não tratados, o que agrava a seca preocupante do Mar Morto.
A Anistia destaca que o consumo de água dos palestinos é de apenas 70 litros por pessoa por dia, um nível consideravelmente menor que os 100 litros recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), contrastando com os mais de 300 litros consumidos pelos israelenses.
Em algumas áreas rurais, acrescenta a organização, os palestinos sobrevivem com somente 20 litros por dia. Mais de quarenta anos após a ocupação da Cisjordânia, explica Donatella Rovera, autora do relatório, entre 180 e 200 mil palestinos que vivem em comunidades rurais ainda não têm acesso à água corrente. Esta situação fica ainda mais chocante, insiste ela, com o fato de que os colonos israelenses assentados na Cisjordânia, “violando o direito internacional, recorrem à irrigação intensiva de suas lavouras, e possuem luxuosos jardins e piscinas.”
Esta última afirmação não é muito convincente: os “jardins luxuosos” e as “piscinas” estão longe de ser comuns, e os colonos judeus na Cisjordânia formam um conjunto de indivíduos com grande disparidade nas rendas. “Cerca de 450 mil colonos usam tanto quanto, senão mais água, que o total da população palestina, estimada em 2,3 milhões”, acrescenta a Anistia, que consagra uma parte importante deste relatório à situação na faixa de Gaza, onde a falta d’água é crítica. Nesta porção de território controlado pelo Hamas, o único recurso de água é o aqüífero costeiro, uma vez que Israel não autoriza o envio de água da Cisjordânia para Gaza.
Poderosa ferramenta política
Sobreexplorado e contaminado em mais de 90% por dejetos não tratados, o aqüífero costeiro é fonte de doenças e epidemias. Esta situação é agravada pelo bloqueio imposto por Israel, que proíbe a entrada em Gaza de equipamentos necessários para o conserto e modernização da rede de abastecimento.
O relatório da Anistia relembra que os palestinos não podem cavar novos poços sem obter a autorização expedida pelo exército israelense. Ele também explica como as restrições de acesso à água potável são uma ferramenta política a favor das expulsões. E mostra, enfim, como o “Muro” ou “barreira de segurança”, as cabines de controle [os chamados check-points] e outras barreiras rodoviárias impedem ou retardam o acesso à água na Cisjordânia.
A Autoridade de Águas israelense contestou os dados fornecidos pela Anistia, denunciando não ter sido consultada, mas não refutou a realidade do processo discriminatório pelo qual passam os palestinos.
Se os israelenses consomem “408 litros de água por dia” (a Anistia fala em 300 litros), os palestinos usam 200, afirma a Autoridade, garantindo que o consumo dos israelenses baixou em 70% desde 1967, enquanto o consumo total anual dos palestinos aumentou de 85 para 105 milhões de m3 no mesmo período. A Autoridade de Águas reforça enfim que Israel sempre ofereceu mais água aos Palestinos do que os Acordos de Oslo (1993) lhes garantiam.
Acima dos números, a postura das autoridades israelenses mostra que o acesso à água continua sendo um poderoso instrumento político nas relações israelo-palestinas. É também uma aposta estratégica regional: para amenizar uma falta crescente d’água, Israel pretende voltar a importar este recurso da Turquia. Mas a recente deterioração de suas relações diplomáticas com Ancara não favorece tal objetivo.



Tradução: Carlos Gorito.
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Velhas táticas de dominação....

A estratégia de Obama na Ásia Central
Instaurar a barbárie e agravar o terrorismo

“O presidente Barack Obama, cuja eleição suscitou a nível planetário uma grande esperança, foi distinguido com o Premio Nobel da Paz, mas a sua intervenção na Historia, contrariando um discurso humanista, não tem contribuído para combater e superar a crise de civilização existente.
Ocorre o contrário. A sua estratégia no Médio Oriente e na Ásia Central instaura a barbárie e agrava o terrorismo”.

Miguel Urbano Rodrigues -Odiario.info


Transcorridos oito anos dos atentados que destruíram o World Trade Center e atingiram o Pentágono, o terrorismo assume proporções cada vez maiores nas áreas do planeta onde George W Bush pretendia enfrentá-lo e erradicá-lo.

O presidente Barack Obama, cuja eleição suscitou a nível planetário uma grande esperança, foi distinguido com o Premio Nobel da Paz, mas a sua intervenção na Historia, contrariando um discurso humanista, não tem contribuído para combater e superar a crise de civilização existente.

Ocorre o contrário. A sua estratégia no Médio Oriente e na Ásia Central instaura a barbárie e agrava o terrorismo.

O esforço desenvolvido por uma gigantesca e perversa engrenagem mediática que desinforma os povos não tem o poder de inverter o rumo dos acontecimentos.

Os Estados Unidos estão presentemente envolvidos na Ásia em duas guerras perdidas e atolados na pantanosa situação criada na Palestina pelo sionismo neonazi.
O primeiro grande erro de Obama foi, ao entrar na Casa Branca, definir o Afeganistao como a primeira prioridade da sua politica internacional.

Na sua opinião o Iraque estava quase “pacificado” e tomou a decisão de transferir alguns milhares de soldados para o Afeganistão onde a insurreição alastrava numa guerra que, assim o afirmou então, se comprometia a vencer porque dela dependia “a segurança dos EUA”.

O optimismo sobre a situação no Iraque foi sem tardança desmentido pelo aumento da violência no país. No centro de Bagdad e nas principais cidades explodem todas as semanas carros armadilhados e bombas que matam centenas de pessoas. A resistência contra a ocupação militar norte-americana cresce e o governo fantoche tutelado por Washington está totalmente desprestigiado. O Pentágono já reconheceu que será quase impossível respeitar o compromisso de retirar do pais as tropas estadunidenses na data prevista, ou seja dentro de dois anos.

A nomeação do general Stanley McChrystal para comandante supremo na área Afeganistão-Paquistão foi muito bem recebida pelo Congresso e suscitou inicialmente grandes esperanças no establishment.

Mas a atmosfera de euforia durou pouco. A estratégia inovadora concebida pelo general, apresentado como um intelectual brilhante, com diplomas de história e ciências políticas, não parece entusiasmar os analistas militares dos grandes media.

McChrystal pediu a Obama o envio de 30 a 40.000 homens, advertindo num dos seus dois relatórios que sem esse reforço a guerra será perdida. Entretanto, em pleno Verão, desencadeou na Província do Helmand uma ofensiva em que participaram aproximadamente 15.000 soldados americanos e britânicos. Não obstante a escolha ter recaído sobre tropas de elite, o resultado foi decepcionante. A força empenhada sofreu grandes baixas e nos combates travados os guerrilheiros afegãos evitaram o choque em campo aberto, permanecendo quase sempre invisíveis.

No começo do Outono a guerra entrou pelo Paquistão, na chamada Fronteira do Noroeste, um território que durante séculos pertenceu ao Afeganistão, habitado por tribos pachtun que ignoram a fronteira artificial que os ingleses impuseram em 1880 após a segunda guerra anglo-afegã. Sob pressão de Washington, o Paquistão mobilizou milhares de soldados para os lançar contra os “terroristas” do Waziristao. Simultaneamente, aviões não tripulados da Força Aérea dos EUA começaram a bombardear indiscriminadamente aldeias da região, alegando que eram redutos dos talibans paquistaneses.

Essas operações conjugadas não atingiram os objectivos fixados. As baixas no exercito são elevadas. Os combates desenrolam-se num terreno montanhoso onde os moradores, waziris, shinwars, momands e de outras tribos da região, opõem uma forte resistência. O balanço do apoio aéreo americano é também negativo. Os aviões não tripulados voando a grande altitude lançam as bombas sem um mínimo de precisão. As principais vitimas são camponeses das aldeias, o que contribui para aumentar o ódio das populações locais aos EUA.

A primeira consequência da intensificação das acções militares americano-paquistanesas foi a multiplicação de atentados terroristas nas grandes cidades do país.

No próprio dia em que Hillary Clinton pronunciava em Islamabad um discurso palavroso e ridículo em que apresentou a solidariedade dos EUA com o Paquistão como contribuição decisiva para “a paz, o progresso e a democracia” no país, um atentado em Peshawar matava quase duas centenas de pessoas.

A visita e as palavras da secretária de Estado suscitaram protestos. O alinhamento do actual governo de Islamabad com os EUA é mal recebido pela grande maioria da população. Tudo indica que a vaga de terrorismo vai prosseguir.

O desfecho das eleições presidenciais no Afeganistão criou mais um problema aos EUA porque não correspondeu ao objectivo de Washington ao promovê-las . As insistentes criticas dos generais Petraeus e Mc Chrystal a Hamid Karzai, responsabilizando-o pela corrupção generalizada e pela nomeação para altos cargos de destacados criminosos de guerra, persuadiram Obama de que o afastamento do presidente através de eleições era uma necessidade. Mas Karzai e a sua gente montaram uma gigantesca fraude com a cumplicidade da Comissão Eleitoral. O escândalo da proclamação de Karzai como vencedor por maioria absoluta foi tamanho a nível internacional que a ONU declarou a nulidade das eleições e exigiu a realização de uma segunda volta. O tiro saiu, entretanto, pela culatra. Perante a iminência de uma nova fraude, Abdullah Abdullah - o candidato de Washington - renunciou a disputar o segundo turno quando as exigências mínimas que apresentou foram recusadas pelo governo. Logo Karzai, sem adversário, se autoproclamou presidente reeleito.
A Casa Branca teve de engolir o sapo e Obama, numa mensagem confusa, concluiu que, apesar de tudo, o processo eleitoral fora positivo. Mentiu.

O SONHO DO GENERAL MCCHRYSTAL
RESSUSCITA O FANTASMA DO VIETNAM


Obama tinha adiado para depois das eleiçoes a decisao sobre a nova estrategia proposta pelo general Mc Chrystal .

Num contexto desfavorável, consciente de que o povo afegão atribui a Karzai pesadas responsabilidades pelo caos instalado no pais, o presidente norte-americano terá agora de aprovar ou recusar o pedido do general McChrystal , isto é o envio de cerca de 40.000 soldados para o Afeganistão, onde o total das forças de ocupação ronda já os 100.000 entre norte-americanos e tropas da NATO.

As cadeias de televisão e os grandes jornais especulam sobre o tema e a reacçao do Congresso, prevendo uma solução salomónica, isto é, o envio de metade dos efectivos solicitados.

Uma extensa entrevista concedida em Kabul pelo general McChrystal ao diário francês Le Figaro (29 .09.2009) veio criar novos problemas à Casa Branca porque as suas declarações tiveram repercussão internacional, ampliando a polémica nos EUA.

O general começa por afirmar que será o povo afegão “a decidir quem ganhará a guerra. O Estado afegão e o exercito afegão são - assim se expressa - quem no fim de contas tomará a decisão. Nós, os Ocidentais devemos ser os seus leais aliados”.

A esse começo pouco sensato seguem-se criticas à estratégia da União Soviética que, na sua opinião, criou nos anos 80 um exercito afegão visto como “ilegítimo”pela população.

Instado a pelo entrevistador, Renaud Girard, a comentar as reacções do Pentágono e do Presidente Obama aos dois relatórios que lhes enviou, o general considerou-as positivas.

Sublinhando que o seu primeiro dever é a “humildade”, McChrystal chamou a atenção para uma faceta mais do que polémica do seu ambicioso plano de pacificação do país. Lembrando que os militares estadunidenses têm ainda muito a aprender, o general declarou: “os nossos oficiais devem progredir no conhecimento das línguas e dos costumes deste país. Devemos aproximar-nos da população, desembaraçados de todas as blindagens e outros coletes anti-estilhaços. Os nossos homens devem conhecer melhor a história e a cultura afegãs, a fim de actuar em cooperçao com os seus camaradas afegãos”.

Não é surpreendente que essas sugestões tenham embaraçado historiadores e sociólogos convidados a pronunciar-se sobre elas.

Visitei varias vezes o Afeganistao e julgo útil esclarecer que o pais tem duas línguas oficiais – o dari (variedade do persa) e o pachto, e que alguns milhões usam como idioma materno o turco usbeque e o turcumano. Mesmo libertando a imaginação, admito que seria uma tarefa homérica para a soldadesco americana a aprendizagem dessas línguas para ela impenetráveis. Não concebo também que a oficialidade, cujo conhecimento da própria historia dos EUA é na generalidade muito deficiente, possa dedicar-se com proveito à historia dos povos que ao longo de 25 séculos desde os Aquemenidas persas e Alexandre da Macedónia criaram no espaço afegão civilizações brilhantes que deixaram marcas inapagáveis no rumo da humanidade.

Interrogado sobre a insurreição, o general lançou-se numa dissertação algo confusa. Na sua opinião o que existe é “uma confederação de insurreições, com fins políticos diferentes”. Mencionou especificamente três, “os talibans históricos, o grupo Haqqani, e a Hesbe Islami de Gulbudin Hekmatiar, além de outros gruposculos dispersos. O seu único cimento é o ódio ao governo instalado”.

Do intenso ódio aos invasores americanos não fala.

Independentemente do juízo que se faça dessa reflexão do estratega sobre a insurreição, a continuidade de Hamid Karzai como presidente não vai contribuir para a conquista das populações mediante o dialogo e o estudo das línguas afegãs.

O general, que é um estudioso das guerras coloniais do seu pais e da França, esclarece que as lições dos generais franceses Lyautey e Galieni no tocante à contra-insurreição não foram por ele esquecidas. Porque não se trata de matar “um máximo de talibans”, mas sim de “proteger as populações”. Omite, porem, um pormenor importante. Os nomes de Lyautey e Galieni, o primeiro em Marrocos, o segundo em Madagascar, ficaram ligados a acções repressivas maciças do exército francês. McCarthy vai mais longe. “Sou – confessa - um grande admirador do exército francês e estudei o seu trabalho contra-inssurrecional na Indochina e na Argélia”.

São conhecidos os resultados desse “trabalho”, mas o general norte-americano não os menciona. É também omisso no tocante à política de “protecção” às populações do Vietname aplicada no terreno pelo seu compatriota general Westmoreland. O seu discurso apresenta, contudo, muitas afinidades com o daquele derrotado cabo-de-guerra norte-americano.

Somente com o rodar do tempo saberemos se o desfecho será similar ao do Vietname. Cabe, porém, lembrar que o responsável pelo ambicioso plano de “pacificação” do Afeganistão e a estratégia global de McChrystal é um general paraquedista francês.

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O general Stanley McChrystal comandou durante cinco anos, de 2003 a 2008, as forças especiais dos EUA. Segundo os especialistas militares é um “duro”. Do seu currículo não consta políticas de diálogo com os povos, mas acções de genocídio que levaram alguns analistas a qualifica-lo de “criminoso de guerra”.

Foi a esse soldado, com pretensões académicas, que o Presidente dos EUA confiou a tarefa de ganhar a guerra do Afeganistão, primeira prioridade da politica externa da Casa Branca.

Enquanto medita sobre a nova estratégia para a Ásia Central, o presidente Obama, Premio Nobel da Paz, propõe ao Congresso o maior orçamento militar da História dos EUA. Se for aprovado, excederá os orçamentos militares somados de todos os demais países do planeta.