terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

HOMENAGEM A GEORGES LABICA NA UNIVERSIDADE DE ARGEL


GEORGE LABICA Publicamos hoje a comunicação apresentada em Argel por Miguel Urbano Rodrigues no Colóquio Internacional de Homenagem a Georges Labica, promovido pela Universidade daquela cidade.
Miguel Urbano Rodrigues - www.odiario.info

Numa carta de despedida a Fidel Castro que correu pelo mundo, o Che lamentou não ter tomado desde o início da luta consciência da dimensão do seu camarada, comandante-chefe da Revolução.
Relendo recentemente livros de Georges Labica, recordei o desabafo do Che. Amigo do autor do «Dictionnaire Critique du Marxisme» e admirador do seu talento e firmeza revolucionária, senti ter-me apercebido tardiamente da grandeza do cidadão, do pensador revolucionário. Georges Labica foi muito mais do que um eminente filósofo marxista.

Foi pelo telefone que falamos pela primeira vez há uns doze anos. Eu estava em Paris com Henri Alleg e pedira-lhe que ajudasse a encontrar editor para o livro de uma amiga chilena.

Henri comentou: vais expor o caso a um camarada mais indicado do que eu para tratar do caso. Ligou para Georges Labica, trocaram algumas palavras e passou-me o telefone.

Eu conhecia dois ou três livros de Labica, admirava-o, mas senti algum acanhamento. Mas tive imediatamente a sensação de falar com alguém muito próximo, pelo tom de intimidade que ele imprimiu ao nosso breve diálogo. Foi o prólogo de uma amizade futura.

Em 2004 convidei Georges a participar no I Encontro Civilização ou Barbárie em Serpa, Portugal.

A pequena cidade da Margem Esquerda do Guadiana produziu nele um efeito de deslumbramento.

As muralhas medievais, o caminho de ronda, as ruelas tortuosas, o casario branco, a transparência do céu azul, o silêncio dos montados, a atmosfera humana fascinaram-no. Nadya, a sua mulher, uma argelina que aos 72 anos continua a ser muito bela sentiu-se também enfeitiçada.

Georges e Nadya voltaram duas vezes a Serpa.

«Sabes – confidenciou uma tarde, sorvendo com prazer um chá no pátio da residencial onde estava hospedado, sentir-me numa cidade governada há três décadas por comunistas, onde a fraternidade nos envolve de manhã à noite, mergulha-me num mundo sonhado cujas portas não fomos capazes de abrir. Os comunistas do teu Alentejo fazem-me regressar à juventude quando acreditava que iríamos transformar o mundo e concretizar o projecto de Marx.»

A TEORIA DA VIOLENCIA

No México, um filósofo cubano, empolgado com a qualidade da intervenção de Labica num Seminário em que participávamos, intitulado «Os Partidos e uma nova Sociedade», perguntou-me o que mais me impressionava naquele pensador francês que num discurso breve conseguia transmitir uma reflexão tão profunda e diversificada sobre a vida.

«A cultura integrada – respondi.»

Eu acabava de ler «Théorie de la Violence», o ultimo livro de Georges Labica e talvez aquele onde ele, sem esforço, revela esse dom de transmitir uma cultura integrada, nascida da assimilação de uma prodigiosa acumulação de conhecimento.

Não conheci alguém como Georges Labica cuja reflexão sobre a violência na História seja tão profunda, lúcida e criadora.

O tema tem sido tratado por grandes autores. É actualíssimo porque a humanidade continua a nadar num oceano de violência.

Mais de uma vez me interroguei sobre o impulso que o levou a escrever esse livro. O assunto, árido, trazia a certeza de que a obra não ultrapassaria as fronteiras de um público limitado. As motivações académicas estiveram também ausentes na escolha feita.

Na Introdução, o autor abre uma janela sobre a questão ao lembrar que a existência da violência coincide com «o aparecimento do homem». Mas é nos três primeiros capítulos que a resposta indirecta à questão que coloquei fica esboçada.

Geoges Labica, partindo do Livro de Job, do desafio de Prometeu e de uma navegação empolgante pela mitologia e pelo teatro gregos, desce às raízes da condição humana para, acompanhando a violência sob as suas infinitas modalidades, desembocar no limiar do século XXI em que ela permanece endémica.

Esquecemos com frequência, ao reagir com indignação a crimes hediondos do presente e a hecatombes de guerras contemporâneas, que o homem busca no passado quase com deleite uma cultura de violência. Porque se reencontra nela. O interesse que a tragédia grega continua a inspirar confirma essa realidade. Em Esquilo, Sofocles, Euripedes – três exemplos – o infanticídio, o uxoricídio, o parricídio, e outras formas de violência exacerbada estão na génese das relações familiares e sociais.

A cultura integrada de Labica, ao iluminar cenários muito diferentes, empurra o leitor para uma compreensão multidimensional da violência ao longo da História. Na sua reflexão ele passeia dos deuses da Babilónia, do Irão aquemenida, do Egipto faraónico, dos rituais sangrentos da Mesoamerica, das pirâmides de crânios de Tamerlao para a visão da violência que inspirou os pintores do Renascimento ao plasmarem em obra imortais os mitos da antiguidade e o temor e a esperança como motores de religiões fabricadas, nascidas do medo da morte.

Aonde nos conduz Georges Labica?

Aos horrores, similares e diferentes, da violência hodierna. E é novamente a sua cultura integrada que no discurso do revolucionário imprime a força da evidência a realidades óbvias que a maioria da humanidade ou esquece ou não assimila por não as interrelacionar.

Pelo ecran da violência desfilam então açougues humanos como as duas conflagrações mundiais, as matanças nazis, a longa cadeia de guerras coloniais, genocídios como o de Rwanda, guerras de saque ditas preventivas, como as do Iraque e do Afeganistão.

Como a cultura dominante é a da violência e não a da paz, o capitalismo utiliza-a como alavanca e cimento da opressão social.

Um hadith famoso expressa bem a crueldade da ordem imposta pelos de cima: afastamo-nos mais de deus quanto mais próximos estamos do poder.

Na sua meditação sobre as funções da violência, o autor de «Robespierre, une politique de la philosophie» leva-nos de Maquiavel a Bush, numa caminhada que passa por Bonaparte e Hitler, não sem recordar que uma das mais devastadoras modalidades da violência, envernizada por uma oratória pseudo humanista, é a exercida pelo modo de produção capitalista, fonte da exploração do homem pelo homem.

A ARGÉLIA E LABICA

A Argélia deixou marcas profundas na vida, no pensamento e na obra de Georges Labica.

Desde a juventude ele abominava o colonialismo. Mas condenar um sistema de opressão e a sua ideologia é diferente de conhecer a engrenagem monstruosa do colonialismo onde ela funciona.

Para o jovem professor chegado de França, foi enorme o efeito da descoberta da luta do povo argelino e da cultura árabe. O seu olhar sobre a História e o combate dos povos não seria o mesmo sem a experiência argelina. Numa época em que na Europa se ignorava praticamente a cultura magrebina, Georges Labica foi um dos primeiros pensadores a contribuir para a sua difusão em França. Os seus livros sobre Ibn Khaldoun – o genial autor de «La Muqaddima», filósofo, economista e precursor da moderna historiografia – e sobre Ibn Tufayl tornaram-se indispensáveis à compreensão da riqueza e profundidade do pensamento, da cosmovisão e da ciência árabes da Idade Média.

O engajamento político do intelectual foi, aliás, complementar do combate do militante comunista pela independência da Argélia.

O REVOLUCIONÁRIO

Comunista desde a juventude, Georges afastara-se do PCF por não se rever mais num Partido que, participando do governo da «gauche plurielle», avalizara uma politica neoliberal tão capituladora que – recordava - privatizou mais empresas do que, juntos, os governos de direita de Balladur e Juppé.

«Deixei o Partido – ouvi-lhe dizer um dia – para continuar comunista».

Conheci poucos revolucionários com os quais me tenha sentido tão plenamente identificado nos terrenos da ideologia e da praxis.

Georges fez do eticismo, na política como na vida quotidiana, uma exigência permanente. Essa fidelidade difícil a princípios e valores revolucionários criou-lhe ao longo da vida embaraços e antipatias mesmo entre camaradas. Era um marxista incómodo. Esse compromisso com a sua mundividência traduziu-se com frequência em criticas aos mais altos dirigentes revolucionários, mesmo quando os apoiava. Era incompatível com todas as formas de populismo; tal como a Lenine, o tacticismo surgia-lhe como uma forma de oportunismo.

Mais de uma vez, na América Latina, o vi permanecer de braços caídos em actos públicos em que a quase totalidade dos intelectuais participantes aclamava com entusiasmo um líder carismático cujo discurso resvalava para a demagogia populista.

A ausência de vaidade era uma característica da sua personalidade. Não cultivava a modéstia. Era nele espontânea.

Coincidimos algumas vezes no México e em Caracas. Esses encontros foram muito gratificantes para mim e a minha companheira pela amizade que nos ligava a Georges e Nadya.

Não esqueci uma manhã em Coyoacan, na Cidade do México, quando visitámos a Casa de Frida Kahlo e Diego Rivera, que todos admirávamos, e depois aquela onde Trotsky residia e foi assassinado.

Momentos como esses abriam portas para intermináveis conversas sobre a bela e inquietante aventura do homem, empurrado hoje para o abismo por um sistema de poder monstruoso e a contracultura por ele imposta em escala mundial.

Conversar com Georges ajudava a transformar o conhecimento em cultura, num processo de assimilação difícil de compreender. E difícil porque foi um pensador que amou com paixão a palavra. Poderia ter sido como outros um filósofo criador e um revolucionário íntegro e um escritor banal. Mas Georges Labica, ao lançar pontes entre as ideias e a linguagem que as expressa, criou um estilo que o projecta como grande escritor. Ao reler hoje textos seus, recordo grandes clássicos franceses do Século XVIII, porque a forma e a essência do pensamento se fundem harmoniosamente inseparáveis.

Quando o tema das nossas conversas incidia sobre globalização como último patamar do imperialismo, Georges lembrava que o fenómeno impunha um repensar do mundo multdimensinal nas frentes da economia, da política, da ideologia da ética, da estratégia, da cultura. E, partindo dai para a mundialização da violência, alertava para a inevitabilidade da violência emancipadora como resposta à primeira.

Cada vez mais – sublinhava – o discurso da «segurança» é erigido em ideologia dominante, servindo para justificar a repressão imposta aos povos em escala planetária pelo sistema.

A desigualdade de meios no combate à engrenagem da globalização imperial não fazia Georges Labica resvalar para o pessimismo desmobilizador. Pelo contrário. Ele tinha uma convicção inabalável de que o sistema será vencido e erradicado.

Por ora não se vislumbra a luz no fundo do túnel. Mas a lenta e necessária convergência das lutas de povos muito diferentes acabará, acreditava, gerando um novo internacionalismo, de contornos por ora imprevisíveis.

Nessa lenta caminhada em defesa da humanidade, democracia e revolução apareciam a Georges Labica como indissociáveis.

XXXX

Amigos:

Permitam-me terminar com uma nota pessoal.

Há dois anos, no final de um almoço no seu apartamento de Lê Pecq, Saint Germain en Laye, onde quadros e objectos de arte conduzem o visitante a imaginar a caminhada de Georges Labica pelas estradas do mundo, Nadya fez uma confidencia de que guardo memória:

«Quando o vi pela primeira vez numa aula do liceu onde ele leccionava, eu era uma jovem estudante da Kabilia que saía da adolescencia. Mas pensei: Este jovem vai ser o homem da minha vida. E foi. Estamos casados há meio século e amo-o como nos anos da juventude».

Por mim, falo da amizade que cresceu em paralelo com a admiração.

Aprendi com o rodar do tempo que o sentimento da amizade é muito diversificado; incluo o que me ligou a Georges Labica entre os menos comuns.

Ele tinha o poder de transmitir confiança quando me escrevia, manifestando apreço pelos meus modestos escritos e identificação com posições e ideias que eu assumia.

É reconfortante, amigos, a certeza de que a obra e o exemplo de Georges Labica vão sobreviver ao seu desaparecimento físico.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O “ENERGÚMENO”

 ESCOLHA O PALÁCIO

por Laerte Braga
, no blog do azenha

A grande mídia dá destaque às visitas de José Collor Serra e Dilma Roussef ao Recife e a Salvador. O esquema “pró Serra” da FOLHA DE SÃO PAULO diz que o governador está acompanhado de toda a cúpula do DEM e do PSDB.

Mentira. Uma das principais figuras da cúpula do DEM, o governador de Brasília, José Roberto Arruda está na cadeia. Era o vice preferido de Serra, naquela história de “vote num careca e leve dois”, ou o “copiei muitas idéias do governador Serra em minha administração" e a resposta de Serra – “o que é bom é para ser copiado”.

O resultado pelo visto não foi satisfatório.

O governador José Collor Serra vive um dos piores momentos de sua carreira política. Por onde passa tem sido alvo de vaias. E com os aliados que tem o buraco é sem fundo. O prefeito de São Paulo Gilberto Kassab em entrevista a um programa da GLOBONEWS, onde foi tentar explicar que está tentando resolver os problemas causados pelas chuvas e chamar para si a responsabilidade do drama de milhões de paulistanos, para tirar a cara de Collor Serra da reta, acabou complicando mais ainda o governador.

Kassab disse que recebeu a Prefeitura com um orçamento exíguo para a questão ambiental e nada pode fazer nos primeiros anos até ajeitar a casa e dispor, como disse que dispõe agora, de um orçamento à altura dos desafios. Ora, o prefeito anterior era José Collor Serra que renunciou para ser candidato ao governo (depois de ter assinado um compromisso diante de câmeras e microfones de tevê que cumpriria o mandato por inteiro).

José Collor Serra foi a Guararapes, São Paulo, entregar 57 ônibus para prefeitos da região. Os ônibus destinam-se ao transporte de doentes deficientes a centros hospitalares adequados. Não explicou que o serviço é terceirizado para uma empresa que apóia sua candidatura e contribui, lógico, no esquema “vote num careca e leve dois”.

Ao discursar foi vaiado por professores da rede estadual. Com cartazes, faixas e narizes de palhaços, os professores protestavam contra os baixos salários, as péssimas condições de trabalho, o abandono do sistema educacional estadual e a farta distribuição de livros e revistas da EDITORA ABRIL (a que edita VEJA), contrato fraudulento do governo com o a empresa, que também apóia e contribui para a campanha de Collor Serra.

Descontrolado com as vaias, o governador que não admite ser contestado, bateu boca com os manifestantes, chamou-os de “energúmenos” e disse que ao vaiarem a ele estavam indo contra os deficientes físicos. Isso é coisa de cretino. De escroque. Um cara desses na presidência da República é uma temeridade.

É jogar o futuro de um país como o Brasil na lata do lixo. É só lembrar os oito anos de pesadelo de FHC, seu guru e cúmplice.

Serra foi criticado pelos elevados custos do pedágio nas rodovias estaduais privatizadas (as empresas pagam propina para a caixinha do PSDB), chamado de “mentiroso”, o que é absoluta verdade.

O manifestante que protestava contra Collor Serra e batia boca com o governador, um senhor não identificado, de cabelos brancos, foi retirado – modo de dizer – pela Polícia que fazia a segurança do local.

“Energúmeno” foi a palavra usada por Collor Serra para referir-se ao cidadão.

Seus principais sinônimos são “burro”, “imbecil”, “retardado”, “tonto”. É a forma como Collor Serra enxerga seus adversários.

O escritor Ledo Ivo, da Academia Brasileira de Letras, numa entrevista à uma emissora de televisão e comentando sobre determinado escritor, referiu-se a ele como “babaca”.

É o adjetivo ideal para José Collor Arruda Serra.

O descontrole do governador está na razão direta das pesquisas de opinião pública que mostram a queda contínua dos índices de intenção de votos nele e a ascensão da candidata Dilma Roussef.

A viagem pelo Nordeste, onde Dilma vence em todos os estados segundo os levantamentos feitos até agora e com grande vantagem, é um teste para saber se dá ou é melhor desistir e tentar a reeleição ao governo de São Paulo.

O jornal FOLHA DE SÃO PAULO, aliado de todas as horas, já, na edição de sexta-feira 12, sugeriu “uma opção mais segura”, a reeleição, deixando a batata quente para o governador de Minas Aécio Pirlimpimpim Neves.

Esse estilo boçal e violento de José Collor Arruda Serra não é incomum em determinados políticos. Em 1994 o atual ministro das Comunicações Hélio Costa alcançou quarenta e nove por cento e qualquer coisa no primeiro turno das eleições para o governo de Minas e perdeu o segundo para o tucano Eduardo Azeredo. Num acesso de fúria, ao perceber que não fora eleito no primeiro turno por zero vírgula qualquer coisa destruiu todo o comitê central de sua campanha. Computadores, mesas, bem ao estilo global, estrela contrariada.

O Brasil começa a viver nesse ano de 2010 um dilema crucial para seu futuro. Ou retorna ao esquema entreguista e podre de FHC, agora com José Collor Arruda Serra, ou avança, não importa que críticas possam ser feitas a Lula, com Dilma Roussef. As diferenças entre Lula e os tucanos/DEM começam no caráter.

E o futuro não passa por eleições, necessariamente, mas por um processo político mais amplo, de formação, conscientização e isso não será possível nunca com gente como José Collor Arruda Serra.

A reação do governador a um senhor de cabelos grisalhos, o destempero do governador, a forma estúpida como se referiu a um eleitor, só por criticá-lo, por vaiá-lo, mostra o que será um eventual governo dessa mistura DEMO/TUCANO, com pitadas de PPS. E alguns laivos de PMDB na figura do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, candidato ao Senado num acordo com Serra.

Serra apropriou-se da idéia dos genéricos que foi do ministro Jamil Haddad no governo de Itamar Franco. Apropriou-se das vacinas contra gripe suína que foram compradas e serão distribuídas pelo governo federal. Apropriou-se a apropria-se de dinheiro público a cada momento e em cada ato de governo que pratica.

Nas dependências da Polícia Federal está faltando gente. Muitos. Serra, com certeza, é um deles.

O esquema de marketing do governador José Collor Arruda Serra está adotando uma forma bem cretina de divulgar as “atividades” do governador. As vaias no Nordeste e no próprio estado de São Paulo só fizeram reforçar esse modelo de propaganda. Serra aparece inaugurando alguma coisa, ou fazendo algum discurso cercado de aliados e sem platéia. Na edição colocam a platéia, ou seja, buscam criar a idéia que centenas, ou milhares de pessoas estavam presentes e aplaudindo o guru de Arruda.

A escolhe em 2010 é mais ou menos assim. Se o Planalto vai virar o castelo do conde Drácula, sugando o sangue dos brasileiros e transformando o País em colônia do capital estrangeiro e de Washington, caso de Serra. Se vira uma espécie de Casa Branca com material importado diretamente da Colômbia e com 100% de pureza, caso de Aécio Pirlimpimpim Neves ou continua Palácio do Planalto.

Se virar o palácio do Drácula, cada vez mais improvável, a responsável pela chefia da guarda de honra será a senadora Kátia Abreu. Dublê de latifundiária, corrupta e vampira do dinheiro público. Se for a Casa Branca com tecnologia colombiana e estreita colaboração com o governo do traficante Álvaro Uribe, vira festa dessas que lá pelas tantas a Polícia tem que chegar e prender a turma toda.

Se continuar Planalto significa que o País tem futuro. Ou seja, sobrevive como Nação soberana, livre e capaz de guiar pelo seu povo, seus próprio passos.

O carnaval segundo Frei Betto...

Carnaval espiritual
Escrito por Frei Betto - Correio da Cidadania
 
Neste Carnaval anseio por folias interiores, de maravilhas indescritíveis, de sinuosos alaridos, de magnificências a dispensar ruídos e palavras. Quero toda a avenida regida por inequívoco silêncio, o baile imponderável em gestos rituais, a euforia estampada em cada sorriso.
 
Rasgarei a fantasia de minhas pretensões e, despido de hipocrisias, deixarei meu eu mais solidário desfilar alegre pelas recônditas passarelas de minha alma.
 
 Fecharei os ouvidos à estridência dos apitos e, mente alerta, escutarei o ressoar melódico do mais íntimo de mim mesmo. Deixarei cair as máscaras do ego e, nas alamedas da transparência, farei desfilar, soberba, a penúria de minha condição humana.
 
Aplaudirei os sambistas com fogo nos pés e as mulatas eletrizadas pelo ritmo da batucada. Mas não me deixarei arrastar pelo bloco da concupiscência. Inebriado pelo ritmo agônico da cuíca, serei o mais iconoclasta dos discípulos de Momo, recolhido ao vazio de minha própria imaginação.
 
Neste Carnaval serei figurante na escola da irreverência e desfilarei pelas ruas meu incontido solipsismo, até cessar a bateria que faz dançar os fantasmas que me povoam. Envolto na desfantasia do real, atirarei confetes aos foliões e perseguirei os vôos das serpentinas para que impregnem de colorido as diatribes de meu ceticismo.
 
No estertor da madrugada, farei ébrias confidências à Colombina e, Arlequim apaixonado, ofertarei as pétalas que me recobrem o coração. Não porei olhos no desfile da insensatez, nem abrirei alas à luxúria do moralismo. Quando a porta-bandeira desfraldar encantos, ficarei ajoelhado na ala das baianas para reverenciar o Almirante Negro.
 
Ao eco dos tamborins, esperarei baixar a sofreguidão que me assalta, buscarei a euforia do espírito no avesso de todas as minhas crenças, exibirei em carros alegóricos as íngremes ladeiras da montanha dos sete patamares.
 
Darei vivas à vida severina, riscarei Pasárgada de meu mapa e, ainda que não me chame Raimundo, farei da rima solução de tantos impasses nesse devasso mundo. Expulsarei de meu camarote todos os incrédulos do Pai Nosso cegos aos direitos do pão deles.
 
Revestido de inconclusas alegorias, sairei no cordão das premonições equivocadas e, vestido de Pierrô, aguardarei sentado na esquina que a noite se dissolva em epifânica aurora.
 
Ao passar o corso da incompletude, abrirei as gaiolas da compaixão para ver o céu coberto pela revoada de anjos. Trocarei as marchinhas por aleluias e encharcarei de perfume os monges voláteis incrustados em minhas imprudências.
 
Olhos fixos no esplendor das batucadas siderais, contemplarei o desfile fulgurante dos astros na Via Láctea. Verei o sol, mestre-sala, inflamar-se rubro à dança elíptica da cabrocha Terra. Se Deus der as caras, festejarei a beatífica apoteose.
 
No cortejo dos Filhos de Gandhy, evocarei os orixás de todas as crenças para que a paz se irradie sobeja. Do alto do trio elétrico, puxarei o canto devocional de quem faz da vida a arte de semear estrelas.
 
Entoado o alusivo, darei o grito da paz, pronto a fazer da comissão de frente o prenúncio do inefável. No reverso do verso, cunharei promissoras notícias e, no quesito harmonia, farei a víbora e o cordeiro beberem da mesma fonte.
 
Meu enredo terá a simplicidade de um haicai, a imponência de um poema épico, a beleza das histórias recontadas às crianças. De adereços, o mínimo: a felicidade de quem pisa os astros distraído.
 
Farei da nudez a mais pura revelação de todas as virtudes; assim, ninguém terá vergonha de mostrar o que Deus não teve de criar, e a culpa será redimida pelo amor infindo. A rainha da bateria virá tão bela quanto uma vitória-régia pousada numa lagoa despudoramente límpida. Sua beleza interior suscitará assombro.
 
A evolução da escola culminará em revolução: a fantasia se fará realidade assim como o sertão há de vir amar e o mar de ser tão pellegrinamente pão do espírito.
 
Neste Carnaval não haverei de me embriagar de etílicos prazeres nem me deixarei arrastar pelos clóvis a disseminar o medo entre alegrias. Irei aos bailes rituais e me submeterei às libações subjetivas, ofertarei ao Mistério cálices de clarividências e iluminuras gravadas em hóstias.
 
Enclausurado na comunhão trinitária, ingressarei na festa que se faz de fé e na qual toda esperança extravasa no amor que não conhece dor. Então a palavra se fará verbo, o verbo, carne, e a carne será transubstanciada em festival perene – Carnaval.
 
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo – ecologia e espiritualidade" (Agir), entre outros livros – http://www.freibetto.org/
 

A guerra gerando a pobreza e a miséria em Israel...

       Além dos sobreviventes do Holocausto, 
       centenas  de milhares de crianças 
       israelenses passam fome


  Georges Bourdoukan, no seu blog
 
Realmente eu queria entender os governantes de Israel. Diria, até, os israelenses.

Assistir passivamente à morte dos sobreviventes do Holocausto por inanição...

Afinal, eles foram ou não indenizados?

Quem ficou com o dinheiro?

Tudo bem, vamos esquecer as indenizações. Mas já não bastou o sofrimento nos campos de concentração?

Os israelenses não acreditam nos campos de concentração ou no Holocausto?

Será que os israelenses estão perdendo sua humanidade?

E o que dizer das crianças?

Vejam a campanha que estão fazendo para evitar que as crianças também morram de fome.



    "783,600 children in Israel went to bed hungry last night!"
    
- Israel National Insurance Institute Poverty Report, November 2009
    783.600 crianças israelenses foram dormir com fome!



A verdade é que Israel está sofrendo cada vez mais com a pobreza. É o preço que se paga quando se prioriza o armamento.

É o preço que se paga em não viver em paz com os vizinhos.

Mais de 24 por cento das famílias israelenses vivem abaixo da linha de pobreza.

Um terço das crianças passa fome.

Talvez esse seja o melhor indicador para o surgimento dos skinheads e neonazistas.

Alguém poderia imaginar que um dia o estado judaico abrigue em seu seio jovens nazistas que ultimamente tem agredido rabinos?.

Não adianta querer tapar o sol com a peneira, mesmo quando a mídia internacional se faz de cega e surda.

A própria mídia israelense, a começar pelo jornal mais importante do país, o Haaretz, denuncia o abandono.

Pobre humanidade.

Pobres israelenses...

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Afeganistão, a bola da vez...

Massacre anunciado no Afeganistão


Tropas da NATO estão a preparar uma ofensiva em larga escala contra a cidade de Marja (também Marjah ou Marjeh) na provícia de Helmand no sul do Afeganistão.
Esta zona é considerada um bastião dos talibã e tem sido alvo de uma intensa campanha militar ao longo dos últimos anos. No entanto face ao incapacidade de controlar a situação nesta e noutras regiões do país as chefias militares pediram um aumento de tropas para o qual os Estados Unidos contribuíram com 30.000 soldados e os restantes países da NATO com 7.000 (Sócrates aumentou o contingente português em 150 homens).
É com o auxílio de muitos destes reforços que a NATO tenciona agora controlar o sul do Afeganistão. Marja, com cerca de 80.000 habitantes, tem sido uma cidade que as forças de ocupação nunca conseguiram controlar e é vista como um centro operacional estratégico para os talibãs. Segundo os militares poderão estar lá entrincheirados cerca de 2.000 guerrilheiros.
O que é novo na táctica da NATO é a forma como o ataque vem sendo publicitado (ver por exemplo aqui e aqui) nos meios de comunicação social. Segundo o general Stanley McCrystal é uma forma de permitir aos habitantes pensarem o que querem fazer antes de serem atingidos por uma ofensiva militar brutal que pode ter início a qualquer momento e para a qual estão mobilizados 15.000 soldados. Traduzindo: aqueles que não fugirem a tempo serão considerados terroristas e alvos a abater.
Nos meios afectos à guerra a excitação é grande. Académicos, think-tanks, analistas acompanham com entusiasmo as movimentações de tropas, falam da possibilidade de selar a área para conduzir a ofensiva e invocam a preciosa experiência adquirida pelos Marines no massacre da Falluja (Iraque) em 2004.
Será este o primeiro grande massacre da era Obama?
Fonte: Esquerda.Net

Ainda o Haiti....

"O meu governo não foi derrubado pelo povo"

por Jean-Bertrand Aristide [*]
entrevistado por Peter Hallward

. Em meados dos anos 80, Jean-Bertrand Aristide era um jovem padre paroquiano que trabalhava em um bairro pobre e conflituoso de Porto Príncipe. Corajoso defensor dos direitos e dignidade dos pobres, logo se tornou o mais amplamente respeitado porta-voz de um crescente movimento popular contra a série de regimes militares que controlaram o Haiti depois do colapso da ditadura pró-americana dos Duvalier, em 1986.

Em 1990, venceu a primeira eleição presidencial democrática, com 67% dos votos. Sentido como uma perigosa ameaça pela elite minoritária dominante do Haiti, foi derrubado por um golpe militar em setembro de 1991. Conflitos com essa mesma elite e suas legiões, apoiada por seus poderosos aliados nos EUA e França, tem marcado toda a trajetória política de Aristide: depois de conquistar uma esmagadora vitória nas eleições de 2000, seus inimigos lançaram uma campanha de propaganda massiva para caracterizá-lo como violento e corrupto.

A resistência estrangeira e da elite local por fim culminaria em um segundo golpe contra ele, na noite de 28 de fevereiro de 2004. Amigo e politicamente aliado de Thabo Mbeki, da ANC, Aristide foi para um relutante exílio na África do Sul, onde permanece até os dias de hoje. Apelos para o retorno imediato e incondicional de Aristide continuam a polarizar a política haitiana. Muitos analistas, assim como alguns importantes membros do governo atual reconhecem que, se a constituição permitisse a Aristide candidatar-se novamente a uma reeleição, ele venceria facilmente.

Recluso, o ex-presidente do Haiti veio à tona recentemente com o terremoto que abalou o seu país. Na oportunidade se disse pronto a voltar para o país e ajudar a sua reconstrução. Analistas acreditam que uma eventual volta do ex-presidente poderia provocar uma reviravolta na conturbada política local. Mesmo vivendo em um quase anonimato, Aristide conseguiu conservar uma forte base de simpatizantes na capital e em diversas áreas rurais do Haiti — o que poderia ser interpretado como uma ameaça ou mesmo uma afronta a seu velho aliado e atual presidente, René Préval.

Um pouco da história e do pensamento de Jean-Bertrand Aristide pode ser conhecida através da longa entrevista que o ex-presidente concedeu a Peter Hallward professor de filosofia na Universidade de Middlesex (Inglaterra). A entrevista em francês foi realizada em Pretória (África do Sul) no dia 20 de julho de 2006. O texto completo da entrevista foi publicado em apêndice do livro de Hallward Damming de Flood: Haiti, Aristide and the Politics of Containment (Paperback, 2008).

Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Reflexões sobre o FSM-2010...

10º FSM: sintomas de decadência
Escrito por Raúl Zibechi - Correio da Cidadania
 
Uma década é tempo suficiente – no terreno político-social – para o crescimento, maturidade e talvez decadência de um "movimento de movimentos" que se propôs a mudar o mundo. Ainda que seu declínio seja um dado da realidade, seus mentores podem contentar-se com que seu oponente, o Fórum Econômico de Davos, atravessa dificuldades ainda maiores.
 
Os sintomas são bem conhecidos: debater até o cansaço se o que está se fazendo tem sentido, se deve continuar pelo mesmo caminho ou mudar o rumo para alguma outra direção que permita encontrar soluções aos males e mal-estares que se notam. Com efeito, tanto o seminário ‘10 anos depois’ realizado em Porto Alegre, como o Fórum Temático, em Salvador, dedicaram boa parte de seu tempo a constatar a perda de vitalidade de um movimento que pretendeu ser a alternativa à globalização neoliberal.
 
Neste ano, o Fórum Social Mundial não contou com um evento central, mas realizou atividades em uma vintena de cidades de diferentes partes do mundo, entre elas as duas capitais estaduais brasileiras. A opção pela descentralização é um indicador de que os grandes eventos de dezenas de milhares de pessoas tiveram um papel importante em seu momento, no princípio da década, mas nesta etapa não teria sentido repeti-los, já que, segundo se pôde constatar nas últimas edições, o formato foi se desgastando.
 
Os eventos de Porto Alegre, a partir de 25 de janeiro, consistiram em um conjunto de debates entre intelectuais e membros de ONGs, com escassa participação dos movimentos sociais que são, na prática, a razão de ser do Fórum. Certamente, não era a intenção dos organizadores apostar pela massividade que arrastou mais de 150 mil pessoas nas edições anteriores, mas que nos debates de agora atraíram menos de 10% do anterior pico de participação.
 
Em Salvador, pelo contrário, no Fórum Temático realizado entre 29 e 31 de janeiro, a presença dos movimentos era esperada com certa expectativa. A opção por descentralizar o evento, com mesas de debates em hotéis da cidade e atividades dos movimentos relegadas ao recinto da universidade católica, teve efeito negativo para a participação social. Diferentemente do que ocorria em Porto Alegre anos atrás, quando a cidade girava em torno do Fórum alguns dias, na capital da Bahia as pessoas nem souberam do evento altermundialista.
 
Buscando novos rumos
 
A virada na situação política mundial e na América Latina parece estar na base de um certo desconcerto que se materializa na aparição de propostas notoriamente divergentes. Nas primeiras edições do Fórum, se registravam uma forte ascensão do conservadorismo comandado por George Bush, simbolizado nas invasões ao Iraque e Afeganistão. Nesse continente, estavam entrando governos de mudança e se verificava ainda uma onda de mobilização social que desembarcou com suas múltiplas cores nos eventos massivos de Porto Alegre.
 
A crise mundial, a vitória de Barack Obama na Casa Branca, o outono dos governos progressistas e de esquerda da região e a crescente desmobilização social pautam uma conjuntura bem diferente. O tom da Carta da Bahia, documento final aprovado por uma assembléia de movimentos, delata o novo clima. A declaração enfatiza o rechaço "à presença de bases estrangeiras no continente sul-americano", a defesa da soberania e das grandes jazidas de petróleo descobertas no litoral brasileiro.
 
A carta faz uma defesa cerrada do governo Lula. "No Brasil, muitos avanços foram conquistados pelo povo durante os sete anos de governo Lula". Menciona que ainda falta realizar reformas estruturais, mas conclama o apoio a diversos oficialismos "neste período de embate político que se aproxima", em clara alusão aos processos eleitorais vindouros.
 
Neste ponto, aparecem fortes divergências. O Movimento dos Sem Terra, muito crítico a Lula por não ter promovido a reforma agrária prometida, não mobilizou suas bases para o Fórum como em ocasiões anteriores. Em Salvador, o movimento mais forte é o dos Sem Teto, que em oficinas diferentes mostrou claros distanciamentos tanto com o governo federal como com o estadual, comandado pelo petista Jacques Wagner.
 
A distância, social antes que política, entre movimentos e governos foi uma das características do Fórum de Salvador. Um dos ‘intercâmbios’ com os movimentos se realizou em um hotel cinco estrelas, com a participação do governador Jacques Wagner, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o Secretário Especial para Assuntos Estratégicos da Presidência, Samuel Pinheiro. Não era esse o melhor ambiente para movimentos de base que, como os de Salvador, são integrados em sua imensa maioria por negros pobres que vivem em favelas, e que são sistematicamente rejeitados nesses espaços.
 
Na visita que realizamos a três ocupações urbanas dos Sem Teto pudemos comprovar que as bases desses movimentos não tinham a menor idéia do que acontecia no centro da cidade, nem mostravam intenção de comparecer quando eram informados que deviam se registrar em outro hotel, também cinco estrelas, localizado no coração elitista da cidade racista. Se alguma vez os fóruns foram um autêntico encontro de movimentos sociais, na prática se transformaram em encontros de elites, intelectuais, membros de ONGs e representantes de organizações sociais.
 
Nas palavras de Eric Toussaint, membro do Conselho Internacional do FSM, um dado central é que o encontro "foi patrocinado pela Petrobras, Caixa, Banco do Brasil, Itaipu Binacional e contou com forte presença de governos". Ou seja, grandes multinacionais que estão também no encontro empresarial de Davos, onde Lula foi proclamado "estadista global". Em sua opinião, o núcleo histórico de fundadores do Fórum, no qual têm presença especial brasileiros vinculados ao governo, é o mais refratário a buscar outros formatos, que "se apóiem em forças militantes voluntárias e que se alojem em casas de ativistas".
 
Questão de Estado
 
Quanto ao formato, as propostas são muito variadas. O português Boaventura de Sousa Santos crê que o Fórum fracassou na Europa, Ásia e África ao não conseguir "conquistar o imaginário dos movimentos sociais e líderes políticos" como ocorreu na América Latina. Acredita que o FSM deveria ter comparecido com uma posição própria na Cúpula de Copenhagen e que o próximo encontro, em Dakar (Senegal) deverá "promover algumas ações coletivas" na direção de buscar "uma nova articulação entre partidos e movimentos".
 
Toussaint vai mais longe e aspira que os movimentos acolham a proposta lançada por Hugo Chávez, de lançar uma Quinta Internacional, que seria "instrumento de convergência para a ação e elaboração de um modelo alternativo". No outro extremo, o sociólogo brasileiro Emir Sader pensa que o Fórum já fracassou porque ao não estreitar vínculos com governos progressistas "ficou girando no vazio".
 
Dois assuntos seguem no centro dos debates, como essas posturas manifestam: a relação entre governos e movimentos e o grau de centralização e organização do qual o Fórum deve se dotar. Há quem, como Toussaint, defenda um modelo tradicional, que se resuma a uma "frente permanente de partidos, movimentos sociais e redes internacionais", porque é a melhor forma de impulsionar a mobilização. Acredita, por tabela, que o golpe de Estado em Honduras se consolidou porque a mobilização "foi totalmente insuficiente".
 
Sousa Santos joga mais lenha na fogueira ao abordar o outro assunto em debate. Sustenta que "agora existe um novíssimo movimento social, que é o próprio Estado". Defende sua tese assinalando que se o Estado for deixado livre à sua lógica, "é capturado pela burocracia e pelos interesses econômicos dominantes". Mas se os movimentos, que sempre trabalharam por fora dos Estados, levarem em conta como um "recurso importante" este Estado "pode ser apropriado pelas classes populares como está ocorrendo no continente latino-americano".
 
Em seu comunicado ao seminário "10 anos depois", Immanuel Wallerstein apresentou uma perspectiva que inclui uma variante mais, estirando as diferenças entre os militantes. Sustentou que os impactos maiores da crise virão nos próximos cinco anos, com um possível default da dívida dos Estados Unidos, a queda do dólar, a aparição de regimes autoritários, incluindo alguns países da América latina, e a crescente demonização de Obama nos EUA. Crê que estão se formando vários blocos geopolíticos que excluem Washington: Europa Ocidental e Rússia; China-Japão-Coréia do Sul; América do Sul, liderada pelo Brasil.
 
Neste cenário, opina que nas próximas duas décadas a esquerda social e política irão percebendo que "a questão central não é pôr fim ao capitalismo, mas organizar um sistema que o suceda". Neste lapso, a confrontação entre esquerdas e direitas, cujas forças se expandiram pelo mundo todo, será inevitável, mas não será uma batalha entre Estados, e sim "entre as forças sociais mundiais". E acredita, além do mais, que às esquerdas e aos movimentos "falta uma visão estratégica de médio prazo". Este último ponto se mostrou inteiramente correto, pelo menos no último Fórum Social Mundial.
 
Raúl Zibechi é jornalista uruguaio, professor pesquisador na Multiversidade Franciscana da América Latina e assessor de vários coletivos sociais.
 
Traduzido por Gabriel Brito.
Publicado originalmente em América Latina en Movimiento (http://www.alainet.org/).

Altamiro Borges: Os conspiradores se reúnem



Direita midiática conspira em São Paulo

 Altamiro Borges,em seu blog

No dia 1º de março, no Hotel Golden Tulip, na capital paulista, as estrelas da direita midiática estarão reunidas num seminário cinicamente batizado de “1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão”. Não faltarão críticas a Conferência Nacional de Comunicação, sabotada pelos donos da mídia, e às idéias democratizantes do Plano Nacional de Direitos Humanos. O presidente Lula ficará com a sua orelha ardendo. Será rotulado de autoritário, populista e de outros adjetivos. O evento tentará unificar o discurso da mídia hegemônica para a disputa presidencial de 2010.

Os inscritos que desembolsarem R$ 500 poderão ouvir as opiniões de famosos reacionários sobre as “ameaças à democracia no Brasil” e as “restrições à liberdade de expressão”. Marcel Granier, dono da golpista e corrupta RCTV, que teve sua outorga cassada pelo governo venezuelano, fará a palestra de encerramento. A lista de palestristas convidados causa náuseas: o fascistóide Denis Rosenfield, o racista Demétrio Magnoli, o pitbul Reinaldo Azevedo, o bravateiro Arnaldo Jabor, o líder da seita xiita Opus Dei, Alberto Di Franco, além de vários comentaristas da TV Globo.

O sinistro Instituto Millenium


O evento, que tem o apoio da Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert) e da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), é uma iniciativa do sinistro Instituto Millenium. Esta entidade reúne poderosos banqueiros, industriais e barões da mídia e pretende ser um centro de aglutinação dos defensores da “economia de mercado”, como descreve seu sítio. Ela é presidida por Patrícia Carlos Andrade, que foi analista dos bancos Icatu e JPMorgan, e é filha do falecido jornalista Evandro Carlos de Andrade, um dos mentores da Central Globo de Jornalismo.

O instituto não tem nada de neutro ou plural. É controlado pelas corporações empresariais. Entre os mantenedores estão Jorge Gerdau, o barão da siderurgia, Sergio Foguel, da Odebrecht, Pedro Henrique Mariani, do Banco BBM, Salim Mattar, do grupo Localiza, e Marcos Amaro, da TAM. O gestor do fundo patrimonial da Millenium é Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco Central na era neoliberal de FHC. Os barões da mídia têm expressiva presença na entidade. Entre os dez principais mantenedores estão João Roberto Marinho, das Organizações Globo, e Roberto Civita, da Abril. Seu conselho editorial é dirigido por Eurípedes Alcântara, diretor de redação da Veja.

A resposta dos movimentos sociais

O repórter Adriano Andrade, num excelente artigo para o jornal Brasil de Fato, demonstrou que o Instituto Millenium representa a nata da direita brasileira. Patrícia Andrade chegou a assinar o “manifesto contra a ditadura esquerdista na mídia”, escrito pelo fascistóide Olavo de Carvalho. A entidade também promove anualmente o risível “dia da liberdade de impostos”. Para o repórter, a Millenium lembra duas instituições que tiveram papel de relevo na preparação do golpe militar de 1964 – o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), ambos financiados pelo governo dos EUA e pelos grupos monopolistas nativos.

O evento de 1º de março bem que mereceria uma resposta organizada dos movimentos sociais, alvo das manipulações constantes da mídia hegemônica. O demonizado MST, as ridicularizadas centrais sindicais, a estigmatizadas entidades estudantis, além das forças opostas a todos os tipos de discriminação, como a de gênero e a racial, poderiam aproveitar este evento conspirativo da direita midiática para protestar contra a “criminalização dos movimentos sociais e pela autêntica liberdade de expressão”. Nada mais democrático do que protestar contra a ditadura da mídia.

Holocausto como desculpa....sempre....


Holocausto
Pretexto para propaganda Israelense
Gideon Levy
“Como teria sido bonito se, neste dia internacional de lembrança, Israel tivesse aproveitado a altura para se examinar, fazer uma introspecção e perguntar, por exemplo, porque é que o anti-semitismo reapareceu no mundo precisamente no ano passado, um ano depois de termos lançado bombas de fósforo branco sobre Gaza. Como teria sido bonito se, neste Dia Internacional de Lembrança do Holocausto, Netanyahu tivesse anunciado uma nova política para integrar os refugiados em vez de os expulsar, ou se tivesse acabado com o bloqueio de Gaza».

Gideon Levy* - www.odiario.info


As personalidades importantes de Israel atacaram de madrugada numa frente alargada. O presidente na Alemanha, o primeiro-ministro com uma comitiva gigantesca na Polónia, o ministro dos estrangeiros na Hungria, o seu representante na Eslováquia, o ministro da cultura em França, o ministro da informação nas Nações Unidas, e até Ayoob Kara, membro druso do Knesset, do partido de Likud, em Itália. Estavam todos no estrangeiro a fazer discursos floreados sobre o Holocausto.

Quarta-feira foi o Dia Internacional de Lembrança do Holocausto, e há muito que não se assistia a um tal ímpeto de relações públicas por parte de Israel. O momento deste esforço invulgar – nunca houve tantos ministros dispersos pelo globo – não é uma coincidência. Quando todo o mundo fala em Goldstone [1], nós falamos do Holocausto, como para esbater o impacto. Quando todas as pessoas falam da ocupação, nós tratamos de falar do Irão como se pretendêssemos que elas se esqueçam.

Não vai servir de muito. O Dia Internacional de Lembrança do Holocausto já passou, os discursos em breve serão esquecidos, e a deprimente realidade quotidiana vai continuar. Israel não se vai sair com boa imagem, mesmo depois desta campanha de relações públicas.

Na véspera da partida, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu falou em Yad Vashem [2]. «Há perversidade no mundo», disse. «A perversidade tem que ser reprimida logo de início». Há pessoas que estão a «tentar negar a verdade». Palavras arrogantes, ditas pela mesma pessoa que ainda no dia anterior, num registo bem diferente, proferira palavras muito diferentes, palavras de verdadeira perversidade, perversidade que deveria ser cortada pela raiz, perversidade que Israel está a tentar esconder.

Netanyahu falou de uma nova «política de migração», uma política totalmente perversa. Juntou no mesmo saco malevolamente trabalhadores migrantes e refugiados miseráveis – avisando que todos eles punham Israel em perigo, que fazem baixar os nossos salários, que ameaçam a nossa segurança, que nos transformam num país do terceiro mundo e que introduzem drogas. Apoiou zelosamente o nosso ministro do interior, Eli Yishai, um racista que falou dos migrantes como responsáveis pela difusão de doenças como a hepatite, a tuberculose, a sida, e sabe-se lá que mais.

Nenhum discurso sobre o Holocausto poderá apagar estas palavras de incitamento e calúnias contra os migrantes. Nenhum discurso de recordação poderá disfarçar a xenofobia que impera em Israel, não só na extrema-direita e na Europa, como em todo o governo.

Temos um primeiro-ministro que fala sobre a perversidade mas está a construir um muro para impedir que os refugiados da guerra batam à porta de Israel. Um primeiro-ministro que fala sobre a perversidade mas é cúmplice de quatro anos de bloqueio a Gaza, deixando 1,5 milhões de pessoas em condições miseráveis. Um primeiro-ministro em cujo país os colonos perseguem e massacram palestinos inocentes sob o slogan «price tag», que também tem conotações históricas terríveis, mas contra os quais o estado praticamente não faz nada.

É este o primeiro-ministro de um estado que prende centenas de manifestantes de esquerda contra as injustiças da ocupação e da guerra em Gaza, enquanto concede amnistias em massa aos direitistas que se manifestaram contra o desligamento. No discurso de ontem, a comparação de Netanyahu da Alemanha nazi com o Irão fundamentalista não passou de propaganda barata. Conversa fiada sobre «a degradação do Holocausto». O Irão não é a Alemanha, Ahmedinejad não é Hitler e é tão enganador fazer uma comparação destas como comparar os soldados israelenses aos nazis.

O Holocausto não pode ser esquecido, e não é preciso compará-lo com outra coisa qualquer. Israel tem que participar nos esforços para manter viva a sua recordação, mas para o fazer tem que mostrar as mãos limpas, limpas da perversidade das suas próprias acções. E não pode levantar suspeitas de que está a utilizar cinicamente a lembrança do Holocausto para apagar e esbater outras coisas. Infelizmente, não é isso o que está a acontecer.

Como teria sido bonito se, neste dia internacional de lembrança, Israel tivesse aproveitado a altura para se examinar, fazer uma introspecção e perguntar, por exemplo, porque é que o anti-semitismo reapareceu no mundo precisamente no ano passado, um ano depois de termos lançado bombas de fósforo branco sobre Gaza. Como teria sido bonito se, neste Dia Internacional de Lembrança do Holocausto, Netanyahu tivesse anunciado uma nova política para integrar os refugiados em vez de os expulsar, ou se tivesse acabado com o bloqueio de Gaza.

Mil discursos contra o anti-semitismo não poderão apagar as chamas desencadeadas pela Operação “Cast Lead” (Chumbo Fundido), chamas que ameaçam não só Israel mas todo o mundo judeu. Enquanto Gaza estiver sob bloqueio e Israel mergulha na sua xenofobia institucionalizada, os discursos sobre o Holocausto não passarão de palavras vãs. Enquanto a perversidade andar por aqui à solta, nem o mundo nem nós próprios poderemos aceitar que se preguem sermões aos outros, mesmo que eles os mereçam.

Notas do tradutor:
[1] Relatório da missão das Nações Unidas para apuramento dos factos no conflito de Gaza, presidida pelo juiz Richard Goldstone, com data de 15.Set.2009 e intitulado “Direitos Humanos na Palestina e noutros territórios árabes ocupados”. Segundo as palavras de Goldstone, “A missão chegou à conclusão de que as Forças de Defesa de Israel praticaram acções equivalentes a crimes de guerra e, possivelmente, nalguns aspectos, a crimes contra a humanidade”.
[2] Yad Vashem (a "Autoridade de Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto”) é o memorial oficial de Israel para lembrar as vítimas judaicas do Holocausto. Foi fundado em 1953.


Este texto foi publicado em Há’aretz de 28 de Janeiro de 2010

* Gideon Levy é colunista de o diário israelense Há’aretz


Tradução de Margarida Ferreira

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Via Campesina quer investigar o agronegócio


CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA CPMI

Aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal

Fevereiro de 2010

Prezados senhores,

O Parlamento brasileiro instalou novamente mais uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI, com a participação de deputados e senadores) para investigar os convênios firmados entre o governo federal e entidades e movimentos de trabalhadores rurais.

Apesar de a Bancada Ruralista e a grande imprensa insistirem que é uma “CPMI do MST”, o requerimento que criou a Comissão estabelece objetivos mais amplos, como explicitados na ementa: “apurar as causas, condições e responsabilidades relacionadas a desvios e irregularidades verificados em convênios e contratos firmados entre a União e organizações ou entidades de reforma e desenvolvimento agrários, investigar o financiamento clandestino, evasão de recursos para invasão de terras, analisar e diagnosticar a estrutura fundiária agrária brasileira e, em especial, a promoção e execução da Reforma Agrária”.

Diferente do divulgado pela grande imprensa, os reais objetivos dos autores do requerimento - Bancada Ruralista no Congresso - ao centrar as investigações apenas em convênios assinados entre o Poder Executivo e entidades populares, é criminalizar os movimentos sociais, especialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Esta é a terceira Comissão Parlamentar de Inquérito com o mesmo objetivo nos últimos sete anos. Em 2003, foi criada a “CPMI da Terra”, que funcionou até novembro de 2005, e nada provou contra o MST ou qualquer outra entidade agrária. Naquela CPMI, a Bancada Ruralista conseguiu rejeitar o relatório apresentado pelo Dep. João Alfredo (PSOL/CE), então relator da CPMI, e aprovou o relatório do Dep. Lupion (DEM/PR), que propôs classificar as ocupações de terra como crime hediondo.

Em junho de 2007, o Senado aprovou a criação da CPI das ONGs, destinada a investigar a utilização de recursos públicos por entidades da sociedade civil organizada. Novamente, valendo-se de tese semelhante - ou seja, que as entidades populares e movimentos sociais desviam recursos públicos -, os inimigos da Reforma Agrária voltaram a atacar, pedindo a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de entidades parceiras do MST. A CPMI ainda está funcionando, e o seu encerramento está previsto para fevereiro de 2010. Além de analisar a aplicação legal dos recursos, seria importante analisar os resultados dos convênios, e se os objetivos propostos foram realizados.

Agora, a Bancada Ruralista voltou a atacar os movimentos sociais rurais, especialmente o MST, com a criação de mais uma CPMI, buscando dar resposta às pressões de sua base social, e utilizando-a como um meio de barrar a atualização dos índices de produtividade. Os argumentos e a tese são sempre os mesmos: movimentos sociais e entidades populares não têm direito a acessar recursos públicos.

Por outro lado, a instalação desta CPMI, tendo como objeto de investigação a atuação de entidades no meio rural, é uma excelente oportunidade para investigar, por exemplo, a destinação dos recursos recebidos pelo Sistema S. Essa investigação é oportuna, não só pela quantidade de recursos públicos envolvidos (entre 2000 e 2009, o SENAR e o SESCOOP, entidades dominadas pelas entidades dos fazendeiros, receberam, só em recursos da contribuição obrigatória, mais de R$ 2 bilhões), mas também por fartas evidências de má versação dos mesmos. Em reiteradas decisões do Tribunal de Contas da União, por exemplo, estes recursos estariam sendo utilizados não para educar e treinar o povo do campo, mas para manter, de forma irregular, as estruturas administrativas e mordomias das federações patronais.

Além disso, seguindo o que está proposto na ementa do requerimento aprovado, é uma excelente oportunidade para investigar a grilagem de terras públicas nos mais diversos Estados da Federação, que a imprensa denunciou e que envolve inclusive parlamentares como a senadora Kátia Abreu, no estado de Tocantins, ou banqueiros sob suspeita, como é o caso da compra de 36 fazendas em apenas três anos no sul do Pará pelo Banco Oportunity, o que foi denunciado em inquérito da Polícia Federal. Ou ainda, como a compra de terras por empresas estrangeiras em faixa de fronteira, como acontece com a empresa Stora Enso, no RS, e a seita Moon, no MS.

A violência no campo (e suas causas) é outra realidade a ser investigada. Nos últimos anos, foram mortas diversas lideranças do MST e de outros movimentos agrários. Desde a redemocratizaçao, em 1985, até os dias atuais, foram assassinados mais de 1.600 lideranças de trabalhadores rurais, incluindo agentes de pastoral, advogados etc. Destes, apenas 80 chegaram aos tribunais e menos de 20 foram julgados. A CPMI precisa investigar os seus responsáveis e por que o Poder Judiciário é tão conivente com os latifundiários mandantes desses crimes.

Recomendamos que o Parlamento brasileiro investigue porque um verdadeiro oligopólio de empresas estrangeiras domina a produção de agrotóxicos, e transformou o Brasil no maior consumidor mundial de venenos agrícolas, afetando a qualidade dos alimentos e a saúde da população, sem nenhuma responsabilidade.

Entendemos que estes seriam alguns temas que esta CPMI deveria investigar, contribuindo para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática, apoiando as iniciativas populares, inclusive das organizações e movimentos que, na conquista de um pedaço de chão, produzem alimentos para a população brasileira. A restrição dos trabalhos dessa CPMI à investigação apenas de convênios de entidades parceiras do MST representará, unicamente, mais uma iniciativa parlamentar de criminalização dos movimentos sociais, e não uma contribuição ao desenvolvimento e democratização do campo brasileiro.

Queremos manifestar aos senhores nossa total solidariedade ao MST e a todos os movimentos sociais e entidades que colocam seus esforços na luta por uma Reforma Agrária justa e necessária. O Brasil nunca será uma sociedade democrática, nem justa, se não resolver essa vergonhosa concentração da propriedade da terra, em que apenas 15 mil fazendeiros são donos de 98 milhões de hectares, como denunciou o último censo, e que menos de 2% do total dos estabelecimentos controlam mais de 45% de todas as terras. E quem luta pela democratização da propriedade não pode ser criminalizado justamente por aqueles que querem manter o monopólio da propriedade da terra.

Atenciosamente,

(A carta assinada pode ser enviada por correio eletrônico para: Deputado Jilmar Tatto, relator - dep.jilmartatto@camara.gov.br e Senador Almeida Lima, presidente da CPMI - almeida.lima@senador.gov.br)