quarta-feira, 7 de abril de 2010

A luta eterna dos professores....

Professores lutam por salários, mas também pela refundação da educação pública
Escrito por Gabriel Brito, da Redação do Correio da Cidadania  
 
Deflagrada sob grande menosprezo do governo Serra, a greve dos professores da rede estadual de São Paulo, contra todas as previsões derrotistas e acusações eleitoreiras, atingirá um mês de duração no próximo dia 8, quando nova assembléia será realizada no vão livre do MASP, na Avenida Paulista.
 
Marcado por violenta repressão das forças oficiais, o movimento grevista conseguiu uma expressiva adesão na classe docente, escancarando que algo de muito podre paira sobre a educação pública, a despeito do forte exercício publicitário de que o número de alunos matriculados cresceu vertiginosamente nos últimos anos. O que não necessariamente possui conexão com a qualidade do ensino oferecido, como nos esclarecem as estatísticas acerca do altíssimo analfabetismo funcional que assola o país.
 
"Não me surpreende o comportamento do governo. Quando a categoria se manifesta de forma mais firme eles vêm com a repressão. Foi assim em 2000 com Mario Covas e agora se repete. No penúltimo ato foi degradante a atuação do aparelho repressivo do Estado e pior ainda a da imprensa", disse ao Correio o diretor colegiado da APEOESP (Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Josafá Rehem Nascimento Vieira.
 
De fato, a atuação do poder público no ‘diálogo’ com a categoria se utilizou de expedientes muito questionáveis dentro do que se entende por Estado democrático, onde o direito à greve é reconhecido pela Constituição e foi referendado pelo STF. A violência que se verificou nas manifestações foi a mesma aplicada aos moradores do Paraisópolis, aos policiais civis em greve e aos paulistanos de diversos cantos alagados da cidade, quando protestavam contra a inépcia governamental no combate às chuvas.
 
O ápice da falta de decoro foi o flagrante de um policial, até hoje não identificado, infiltrado entre os manifestantes, na já celebre assembléia do dia 26 de março, em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Após o ato, repercutiu maciçamente a foto da Agência Estado de um suposto docente socorrendo uma PM ferida. A própria polícia se apressou em dizer que a boa alma em meio ao caos era um dos seus, o famoso P2, revelando um expediente digno do período 1968-1977, o pior dos anos de chumbo.
 
"Vínhamos lutando desde o ano passado contra os PL’s, que acabaram virando leis, que retiram muitos direitos, oficializam a contratação temporária no estado, o que na nossa avaliação depõe contra a qualidade da educação, e diminui a malha social da educação, já que trabalhadores com 20 anos de profissão são tratados como temporários. Fora a questão salarial em si, onde temos uma perda do poder de compra dos trabalhadores da educação de 34%.", enumera Josafá.
 
O professor e sindicalista se refere às leis 1041, 1093 e 1097, que desregulamentaram completamente a relação de trabalho da categoria, precarizando não só os defasados vencimentos como a própria organização escolar. "A Lei Complementar nº 1.093 de 16 de julho de 2009, que dispõe sobre a contratação de temporários, impede que ocorra nova contratação da mesma pessoa antes de decorridos 200 dias do fim do contrato.
 
Posso dar aula somente este ano, pois em 2011 ficarei 200 dias letivos sem lecionar, mesmo passando em provas instituídas pelo Estado", explica a professora de história Nágila Soares, em texto que circula em portais educacionais.
 
Uma necessidade inadiável
 
Além disso, lutam também contra o PLS 403, em trâmite no Senado e que segue o mesmo receituário neoliberal no tratamento da educação pública. "Sublinha-se que, muito além de uma óbvia reivindicação salarial, a luta urgente e inadiável deverá ser por um novo modelo de Educação Básica", escreveu neste Correio o também professor Wellington Fontes de Menezes, que também já produzira uma série de textos destrinchando o desmonte da educação pública nos anos tucanos.
 
"Outras pautas históricas também são importantes: 25 alunos por sala, aumento linear, o fim dessa provinha que só proporciona aumento a um quinto da rede, ou seja, é excludente e fere a isonomia da profissão...", prossegue Josafá. "Descobri que somente os docentes que entram no Estado a partir de agora têm direito a FGTS. Um professor que tem 10 anos de carreira não tem nada de fundo de garantia", completa Nágila.
 
Como se vê, exceto os que vêem educação como mais um nicho de negócios, o estado em que se encontra nosso ensino público é deplorável. Condições de trabalho rebaixadíssimas, clima nada ameno nas escolas e total falta de estrutura para ensinar, motivar os alunos e também se sentir estimulado com o exercício da profissão.
 
"Do ponto de vista mais geral, há uma perda gradativa do valor da profissão docente, que em outros períodos já foi considerada nobre pela população. Hoje a situação é cada vez mais difícil. Há salas com 35, 40 alunos, o que não é o ideal para um bom atendimento de suas necessidades. Há outras que tem 50, 60 alunos no ensino médio, o que torna a profissão bastante insalubre, dificultando a relação com os estudantes e também sua conduta", explica Josafá.
 
Provinhas, concursos e propaganda
 
Como tentativa de provar a todos que se empenha na questão, o governo ressalta as já famosas, e repudiadas, provinhas e provões, que buscam uma avaliação dos docentes sob uma suposta égide da meritocriacia. No entanto, os docentes rechaçam sem hesitação as ditas benesses de tais métodos, que recompensariam àqueles trabalhadores mais bem preparados. Ao menos na palavra de Serra e companhia.
 
"A nota da provinha é o principal critério para a atribuição de aulas, gerando enormes distorções. Alunos de graduação e bacharéis que não possuem licenciatura puderam escolher aulas antes de professores que trabalham na rede há vários anos", conta o deputado estadual do PSOL Ivan Valente, em recente entrevista à Caros Amigos. "A única finalidade desses exames é gerar um ranking, que permita selecionar e excluir. Porém, a lógica da competição e do individualismo não condiz com o trabalho educacional, eminentemente coletivo", completa o parlamentar.
 
Além disso, com ajuda da imprensa amiga, o governo alardeia que os professores não têm motivos para se queixar dos valores que recebem, pois podem aumentar seus ordenados obtendo resultados positivos nas citadas avaliações. "Segundo análise de todos os jornais, Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Agora, UOL, Jornal da Tarde, e tantos outros, baseados nas informações do governo, o professor ganha de R$ 1.831 a R$ 3.120. Juro que estou investigando. Assim que achar um professor com esse salário aviso", conta a professora Nágila.
 
Como se trata de alguém que vive o dia-a-dia da profissão, com ou sem publicidade e falsa informação, seu depoimento serve para desmentir praticamente toda a retórica oficial. "O governo divulga, ainda, que os professores recebem bônus que variam de 0 a 6 mil reais, uma vez por ano. Ainda não achei alguém que recebesse os 6 mil reais; e segundo um anúncio do governo, que passa em horário nobre na televisão, as escolas possuem bibliotecas novas e salas de informática; procurei por elas nas duas escolas em que trabalho, mas não existem", arremata, ironizando pra não chorar.
 
Quanto às 10 mil vagas abertas em concurso, Josafá também se sente incapaz de ser otimista. "A vacância no magistério é de quase 100 mil cargos. Em relação a isso, fazer concurso pra 10 mil vagas é brincar de resolver o problema. E ainda por cima serão contratações em situação precária".
 
Adivinhem o que está por trás
 
Se a educação pública do estado mais rico de um país que é a nova menina dos olhos do capitalismo mundial chegou à situação tão vexaminosa, é preciso buscar razões de fundo que permitiram tal degradação. "O projeto é o mesmo entre todos eles, de destruição do patrimônio público, virando as armas agora para a educação pública. Já vimos na UNESP e na USP a atuação desse governo, portanto, não se restringe só ao ensino fundamental e médio", destaca Josafá, que também não poupa o atual secretário estadual da educação, Paulo Renato.
 
"Em que pese que nenhum secretário dessa conformação que vem desde o PMDB pode ter atuação considerada avançada, pelo próprio histórico dele e atuação como parlamentar, além de relação com organizações internacionais, podemos considerar o pior de todos, pois é o mais preparado para desenvolver o projeto do capitalismo internacional, que é transformar a educação em um mero serviço, escancarando suas portas ao capital privado", critica, na mesma linha do sindicalista docente João Kleber Santana, entrevistado pelo Correio em 2009, à ocasião de uma das inúmeras crises do ensino público paulista.
 
"Podemos dizer que é a gestão mais danosa, pois é a mais comprometida com aspectos privatistas. Nós que somos mais ligados à educação, sabemos a trajetória dele, que já foi reitor da Unicamp. Ele veio para defender os interesses das elites econômicas e privatistas. Nesse sentido é o pior de todos", fuzila o membro da APEOESP.
 
O que resta é a luta
 
Diante do quadro desolador, Josafá não se anima com nenhum governo eleito este ano. "Talvez haja nuances no projeto do atual presidente da República, mas do ponto de vista dos interesses do capital, não há muitas diferenças, no máximo cosméticas. O Brasil tem tanta desigualdade que algumas dessas mudanças cosméticas podem parecer grandes avanços, mas uma mudança substantiva não se vê nas correntes majoritárias do tabuleiro político nacional", analisa.
 
No entanto, enxerga o lado positivo na luta empreendida pelo professorado paulista. "Talvez não consigamos impor derrota ao governo, até pela contaminação do debate promovida por setores da grande imprensa. Mas temos a compreensão de construir algo importante e temos de debater pela continuidade. Às vezes não se materializa em ganhos imediatos, mas cria musculatura para os embates que virão. A resistência que a APEOESP conseguiu fazer em São Paulo não é pouca coisa".
 
Leia mais:
 
Entrevista com o diretor de escola pública João Kleber Santana
 
O "Processo Imbecilizador" da educação em SP:
 
Série de textos do professor da rede pública Wellington Fontes de Menezes
 
Gabriel Brito é jornalista.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Agrotóxicos e saúde da polulação....

Agrotóxicos versus saúde e meio ambiente
  Marco Antônio de Moraes e Raul Marcelo - Correio da Cidadania   
 
A notícia veiculada pela "Folha de S. Paulo", na edição do dia 22 de março, reportando as flagrantes irregularidades constatadas pela ANVISA nas empresas fabricantes de agrotóxicos, é um fato importante, uma vez que a produção desses produtos no Brasil é marcada pela excessiva tolerância do poder público para com essas empresas e substâncias perigosas.
 
O poder público tem a obrigação constitucional de tutelar e assegurar a saúde e a qualidade ambiental. Mas, em relação aos agrotóxicos, esse importante preceito constitucional é, na prática, negligenciado. São priorizados os aspectos meramente produtivistas e colocam-se em segundo plano os riscos intrínsecos a essas substâncias. Não fosse assim, os produtos com princípios ativos baseados em moléculas de organofosforados - de elevada toxicidade e proibidos em grande número de países do mundo - não teriam ainda uso autorizado no Brasil, como é o caso do Metamidofós, Acefato etc. São vários os trabalhos científicos que comprovam a alta toxicidade e os danos neurológicos ocasionados por esses compostos, inclusive triplicando o índice de suicídios nas populações mais diretamente expostas aos mesmos.
 
Como se denota da reportagem da "Folha", o domínio de mercado é das transnacionais, que, vistas pelo cidadão incauto, são gigantes do mercado apenas pela extrema competência e compromisso com a sustentabilidade ambiental e social, como anunciam suas dissimuladas campanhas publicitárias. No entanto, são corporações absolutamente desprovidas de qualquer consciência ética ou ambiental.
 
As empresas produtoras de agrotóxicos lucram com o veneno na nossa alimentação, com a intoxicação de trabalhadores rurais e com a contaminação do nosso ambiente. E são as mesmas que nos impõem os transgênicos, produtos cujas conseqüências são ainda indecifráveis nos ecossistemas e organismos biológicos. Essas grandes corporações nos adoecem e nos ofertam medicamentos produzidos também em suas fábricas. Lucram com o fechamento de um ciclo de malefícios.
 
Tenta-se criar um mito, de fácil disseminação no senso comum, de que sem esses produtos não haverá capacidade de suprir as necessidades alimentares da população humana: os efeitos colaterais dos agrotóxicos são apregoados como uma espécie de mal menor ante a possibilidade de fome mundial. Desconsiderando que, mais do que uma questão de produção de alimentos, a fome que recai sobre grande parcela da população mundial é conseqüência do insano caráter concentrador do sistema capitalista.
 
Ademais, a criatividade humana tem plena capacidade para o desenvolvimento de tecnologias de produção agrícola que prescindam dos agrotóxicos, como mostram as crescentes vivências e experiências com agroecologia mundo afora. A disseminação de tais experiências encontra como principal obstáculo a insensibilidade governamental para um maior estímulo e incentivo à pesquisa, ao ensino e ao desenvolvimento de programas de extensão rural voltados para essa outra visão tecnológica.
 
A política governamental optou pelo agronegócio e suas nefastas conseqüências: monoculturas, desmatamento, poluição por agrotóxicos e adubos industrializados, concentração de renda e terras, empobrecimento do camponês, enfim, uma opção que não supera o histórico papel periférico de exportador de matérias-primas pelo Brasil. Trata-se de opção em evidente contradição com um novo paradigma de produção agrícola, mais limpa social e ambientalmente, voltada às necessidades humanas, e não apenas aos lucros de poucos.
 
Pensando nisso, elaboramos uma proposta de regulamentação da produção, comércio e uso de agrotóxicos no estado de São Paulo. A proposta tem como orientação a prevenção da saúde e do meio ambiente. Esperamos que a Assembléia Legislativa consiga, em seu conjunto, dar uma resposta à sociedade paulista em relação ao uso descontrolado dessas substâncias que ocorre atualmente no estado. É premente uma determinação política para que, acima dos interesses econômicos, esteja o bem estar da humanidade.
 
Marco Antônio de Moraes, 44, engenheiro agrônomo; Raul Marcelo, 30, deputado estadual e líder do PSOL na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

Para derrotar Serra e seu projeto de privatização da escola pública


Todo apoio à greve dos professores

A menos de uma semana após a Assembléia no Palácio dos Bandeirantes, onde os professores e estudantes protagonizaram uma heróica resistência diante dos ataques da Tropa de Choque de José Serra, mais uma vez o governo montou uma praça de guerra para tentar intimidar os professores. Mesmo a direção do sindicato tendo feito um acordo com a PM para não ocupar a paulista, os professores furaram o bloqueio montado pela PM tomando mais uma vez as duas pistas da Paulista antes do início da passeata até a Praça da República (sede da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo). Em Assembléia foi decidido, por unanimidade, dar continuidade à greve. A próxima assembléia ocorrerá no dia 8 de abril na Avenida Paulista e seguirá novamente até a Praça da Republica. Como o governo se recusa abrir negociações, foi aprovado de forma difusa permanecer na praça até que o governo atenda as reivindicações.
A greve dos professores pelos atores envolvidos e pela repercussão que terá no cenário político regional e nacional requer a maior atenção de todos  setores organizados da classe trabalhadora. Como já afirmamos anteriormente a direção do sindicato, que é dirigido pela Articulação (corrente política de Lula que dirige o PT e a CUT) apesar de dirigir a ampla maioria dos sindicatos no Brasil, ainda não moveu uma palha para mobilizar os demais setores em apoio a essa greve fundamental.
Outro aspecto é que essa luta para ter chances de vitória requer uma mobilização que conte com o apoio efetivo de outras categorias organizadas. Nesse conflito o governo Serra conta com o apoio das principais forças burguesas do Estado, basta verificar a linha editorial dos principais meios de comunicação sobre a greve para se verificar quão mentirosa e oportunista são os meios de comunicação que representam a classe dominante.
A direção do sindicato dos professores vive um grande dilema, pois, apesar de interessada no desgaste de José Serra (concorrente direto de Dilma, candidata de Lula), sua posição política é um entrave, que deve ser superado, para que a luta contra Serra possa desenvolver todas as suas possibilidades. Isso porque, de um lado, as políticas educacionais do Estado de São Paulo estão em total consonância com as do governo Lula (Reforma do Ensino médio com objetivo de tirar do currículo disciplinas fundamentais para o conhecimento, sistema de avaliação externa que visa classificar e punir professores, destruição da carreira docente, financiamento educacional submetido às metas de superávit primários com vistas a reduzir investimentos no setor), o que não permite, a esse setor,  uma crítica contundente à política educacional de Serra, pois significaria criticar as políticas levadas a cabo em âmbito nacional  por Lula. Essa direção burocrática teme mais a unificação dos trabalhadores pela base do que a derrota para Serra, pois a separação corporativa da luta é uma forma eficiente de limitar as mobilizações e reivindicações no interior da ordem.
Mobilizar a juventude e a classe a trabalhadora em defesa dos professores da escola pública
É dentro desse cenário que as alternativas classistas dos trabalhadores, como a CONLUTAS, devem apresentar políticas e posturas de mobilização que superem os limites da burocracia lulista. Nesse sentido, é necessário realizar uma verdadeira campanha nacional em defesa dos professores e de suas reivindicações. Uma ampla campanha de esclarecimento deve contar, também, com ações de rua, como passeatas, bloqueios, assembléias, atos nas cidades etc. Outras iniciativas solidárias como coleta de fundos de greve são decisivas nesse momento.
Em boletim anterior defendemos a realização de um acampamento em frente à Secretaria da Educação com meio político–organizativo para dar visibilidade ao movimento grevista. A proposta, aprovada na assembléia, de permanecer em frente à Secretaria da Educação deve ser tratada com a seriedade e conseqüência que merece, pois, mesmo com a saída de Serra do governo devido ao prazo legal para realizar sua campanha eleitoral, a estratégia do governo de quebrar a resistência do magistério para continuar aprofundando os ataques à educação pública permanece. Assim, a proposta aprovada para fazer o governo recuar deve ser levada à sua radicalidade.
O movimento estudantil combativo que já vem desempenhando um papel fundamental nessa luta pode contribuir de maneira ainda mais decisiva para fazer a luta dos professores chegar ao conjunto da classe trabalhadora através de panfletagens nas fábricas, da mobilização de colunas cada vez maiores de estudantes nas assembléias e demais ações. Para que isso se efetive de forma massiva é necessário abrir um amplo debate no interior das universidades e com os alunos da escola pública. Não há mais lugar para a rotina. Assim, convocar assembléia em todas universidade para discutir o significado dessa luta e como apoiar efetivamente as ações dos professores é fundamental.
A greve continua
Práxis na greve
Práxis na greve
Na Avenida Paulista

Crise na europa...


Terceira etapa da grande crise: a Grécia em toda parte
À sombra da crise financeira, floresce sobretudo na Europa o negócio com a dívida pública. Os Estados são os melhores devedores que um credor pode desejar. A lógica é perversa e beira o surrealismo. Nos últimos meses, o Banco Central Europeu inundou os bancos europeus com créditos baratos, negando-se ao mesmo tempo a emprestar dinheiro a Estados membros em dificuldade. Os bancos europeus – a começar pelos alemães – tomaram empréstimos do BCE a juros ínfimos para oferecê-los como empréstimos ao Estado grego com taxas de juro elevadíssimas. Ao mesmo tempo, como resposta à crise, propõe novas "reformas" neoliberais. O artigo é de Michael Krätke

Como era previsível, à crise bancária e financeira não tardou em seguir a crise econômica mundial. E a elas vem somar-se agora a crise das finanças públicas, terceira etapa da Grande Crise. Dívida, culpa e expiação, uma luta encarniçada: os cidadãos devem subsidiar o generoso resgate dos bancos. As dívidas públicas ampliadas aceleradamente são usadas para alimentar essa lógica. Alguns pequenos povos – os islandeses no Norte, os gregos no Sul – tentam resistir a este absurdo dominante e se negam a pagar pela crise. Do dia para a noite, as dívidas de terceiros se converteram em problema de todos.

De acordo com as últimas cifras do FMI, cinco dos Estados do G-8 têm um déficit público superior a 100% do PIB, com o Japão (200%) liderando esse ranking. Alemanha e Canadá, até aqui, estão abaixo do patamar dos 100%. Já os membros da União Européia – Espanha, Portugal, Itália e Grécia – estão beirando esse limite ou já o ultrapassaram. Nunca antes em tempos de paz o déficit público havia subido de maneira tão extrema nos países capitalistas desenvolvidos como vem ocorrendo agora desde o início da crise financeira mundial, no final de2007.

Somente em 2009, os títulos de obrigações emitidos pela República Federal da Alemanha cresceram até alcançar a cifra de 1,6 trilhão de euros. Só em 1995, quando se fizeram sentir de verdade pela primeira vez os custos da reunificação, o salto da dívida pública alemã registrou um salto maior. Nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o nível médio dos déficits públicos chegou a alcançar cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) e, em poucos anos, poderia rebaixar de maneira generalizada a marca dos 100%. A Grécia está em todas as partes.

Os economistas estão fortemente divididos em matéria de dívida pública. Um Estado que contrai pouca dívida pública compromete o futuro; um Estado com demasiados credores arruína a economia nacional. Na Alemanha, como em todos os países governados por neoliberais, impera o dogma segundo o qual as dívidas públicas são um mal em si mesmas, levam à inflação, a uma carga fiscal exorbitante e à bancarrota do Estado. Tentam fazer esquecer, contando para isso com todo o poder dos meios de comunicação, a conexão entre crise financeira, socorro bancários e explosão da dívida pública. Em troca, entoam a cantilena do arrocho e dos cortes com o refrão do “Estado social insustentável”.

Não há razão para o pânico. Nenhum Estado europeu tem que ir à falência. Tampouco os gregos devem devolver esses quase 300 bilhões de euros (cerca de 130% de seu PIB), mas sim devem limitar-se ao refinanciamento regular, isto é, ir substituindo regularmente as velhas dívidas por dívida nova. Em princípio, isso não deveria representar o menor problema. O Estado, dotado de monopólio fiscal e monetário, é o melhor devedor. Ao contrário dos grandes bancos, só pode quebrar quando toda a economia nacional está arruinada. Mas, apesar da crise, isso não pode ocorrer em nenhum lugar da União Européia.

Quanto mais crescem as dívidas dos Estados, mais se coloca dívida pública em alguns mercados financeiros que, em geral, estão ávidos em comprá-las, inclusive com ganhos de cotização, porque os empréstimos oferecidos estão super valorizados. Nem a Grécia teve problemas no início do ano para colocar o triplo da dívida nos mercados financeiros. No conjunto da União Européia, emitiram-se em 2008 mais de 650 bilhões de euros de dívida pública. Em 2009, foram mais de 900 bilhões. Em 2010, segundo as estimativas mais prudentes, esse valor chegará a 1,1 trilhão de euros.

O conjunto dos Estados da União Européia já tem mais de 8 trilhões de dólares inscritos como dívida pública. Os EUA os acompanham com mais de 2,3 trilhões de dólares de dívida pública fresca. O negócio com os títulos de dívida pública floresce como nunca. Por que, então, a inquietude nos mercados financeiros? Por que a repentina preocupação com as dívidas da Grécia, Itália, Espanha, Portugal ou Irlanda? De onde vem o medo de uma bancarrota pública na qual, manifestamente, os mercados financeiros não acreditam nem um pouco? Agora como antes, os pacotes de dívida pública grega, espanhola e portuguesa são comprados com pães quentes saídos do forno; são tão desejados quanto os títulos públicos alemães. Naturalmente, com suculentas cobranças pelo risco, o que torna ainda mais rentável o negócio com esses pacotes.

A dívida pública é mais velha que o capitalismo moderno. A bancarrota do Estado foi outrora – antes do descobrimento do déficit público permanente – um meio bm provado de que se serviam os governantes para submeter seus credores, que se vingavam com juros exorbitantes. Em nossos dias, a falsa demagogia sobre os perigos da bancarrota pública é um meio sumamente efetivo de submeter governos, povos e nações pretensamente soberanos aos interesses dos mercados financeiros. Se o crédito de um Estado é posto efetivamente em dúvida, isso serve sobretudo aos credores e, hoje em dia, a regra geral é que os credores não são outros Estados, mas sim investidores privados, bancos, companhias seguradoras e fundos. Uma parte considerável da riqueza de uma nação vai parar em seus bolsos.

As meras taxas de déficit e de dívida pública pouco dizem sobre o risco efetivo do devedor. Obviamente, os leigos em economia que formam a classe política adoram essas taxas, porque elas desviam a atenção das verdadeiras debilidades da economia nacional (por exemplo, no caso da Alemanha, a extrema dependência das exportações). Também se simplificam de muito bom grado os tipos de juros, a relação entre as receitas fiscais anuais e os juros pagos anualmente. Quando, como ocorre agora na Grécia, as receitas fiscais caem, então os tipos de juros sobem rapidamente até 30 ou 40%. Quando isso ocorre, ou seja, quando o serviço da dívida gera um rombo no orçamento público, o país afetado cai, efetivamente, na armadilha devedora. Para evitá-la é preciso reduzir a carga de juros. Uma comunidade como a formada pelos euro-países poderia conseguir isso de maneira mais simples, fortalecendo a credibilidade de um membro como a Grécia sem necessidade de aumentar a pressão de sua dívida pública. Com isso, seriam desfeitas todas as necessidades populistas de Merkel e companhia.

Foram e seguem sendo os bancos – no caso, os europeus – os compradores da dívida pública grega, os controladores da mesma e os principais responsáveis por sua crise financeira: seguradoras e institutos bancários franceses, suíços e alemães são os principais credores, seguidos de longe por bancos britânicos e estadunidenses. Os bancos portugueses possuem quase tanta dívida pública grega quanto os dos EUA.

Não resta dúvida: os déficits públicos podem ser enxugados com uma vigorosa inflação que desvalorize os títulos da dívida e reduza os juros nominais que o Estado tem que pagar por esses títulos. Mas, para ajudar no curto prazo, a inflação teria que ser galopante. Apesar de uma dívida pública crescente em escala planetária, isso é agora praticamente impossível, pois, dado que existem supercapacidades estruturais em praticamente todos os ramos da economia, os preços podem apenas levantar a cabeça. Por ora, o impulsionador dos preços é o Estado e algumas grandes corporações empresariais capazes de controlar a energia e os recursos. E isso não basta para uma hiperinflação.

Que saída resta então? Pois bem, por uma vez só e para variar um pouco, por que não proceder com bom juízo em vez de adotar zelo dogmático e tendência populista? Seria possível ajudar o povo grego de modo simples e efetivo sem aumentar um centavo a dívida pública do país. Por exemplo, com eurobônus ou créditos do Banco Central Europeu (BCE). Bastaria agarrar-se à regra extraordinária que permite que os bancos centrais da Zona Euro aceitem dívida pública e obrigações da Grécia e de outros países.

Para evitar crises deste tipo no futuro faria mais sentido mudar as regras. Não tem nenhuma lógica econômica que os estatutos do BCE proíbam comprar e possuir dívida pública dos países membros da Zona do Euro. Conforme essa regra absurda, o BCE inundou nos últimos meses os bancos europeus com créditos baratos, negando-se ao mesmo tempo a emprestar dinheiro a Estados membros. Ao invés disso, os bancos europeus – a começar pelos alemães – tomaram empréstimos do BCE a juros ínfimos para oferecê-los como empréstimos ao Estado grego com taxas de juro elevadíssimas. Bonito negócio. Ackerman (1) e companhia estão fascinados.

Não se trata só de necessidade; a coisa tem método. Com o medo da bancarrota pública e a ameaça de um caos monetário em caso de queda do euro, promovem-se novas “reformas” neoliberais. Na Espanha, Itália, Portugal e Inglaterra; a ordem do dia é a aposentadoria aos 67 anos. Em toda parte elas impõem aos cidadãos comuns - não aos proprietários de capital e de patrimônio – drásticos aumentos de impostos. Por toda parte se cortam serviços públicos, se reduz o setor público. Impulsionada agora pela situação de suposta emergência financeira do Estado, avança-se irresponsavelmente na privatização da propriedade pública. Os gregos são massacrados, os portugueses são torrados; as facas contra a Espanha perfilam-se com zelo digno da melhor causa. De te fabula narratur (A história fala de ti).

(1) Josef Ackerman é o presidente executivo do Deutsche Bank, o principal banco privado alemão.

(*) Michael R. Krätke, membro do Conselho Editorial de Sinpermiso, é professor de Política Econômica e Direito Tributário na Universidade de Amsterdan, investigador associado ao Instituto Internacional de História Social dessa mesma cidade e catedrático de Economia Política e diretor do Instituto de Estudos Superiores da Universidade de Lancaster, na Inglaterra.

Tradução: Katarina Peixoto

a OTAN e as drogas...

O Afeganistão da OTAN: O campeão de produção de drogas


 
 
 
 
 
 
 
Timothy BANCROFT-Hinchey
PRAVDA.Ru
 
 
Nós realmente temos que tirar os chapéus e dar os parabéns à OTAN. Essa camarilha dos lobistas de armas e defensores dos “jobs for the boys” invadiram o Afeganistão em 2001 sob o pretexto de que Osama bin Laden estava usando o país para atacar interesses ocidentais. Quase uma década depois dos Talibã declararem guerra contra a produção de droga, o Afeganistão da OTAN no não é apenas o maior produtor do mundo de ópio, mas agora, de haxixe também.
 
Mullah Omar, o líder dos Talibã, declarara em entrevista ao jornal paquistanês Dawn em 1998 que o E.U.A. iria invadir o Afeganistão, porque ele se recusou a deixá-los construir um gasoduto através do seu país em troca de 5 bilhões de dólares. Ele estava certo. A invasão ocorreu três anos depois de os dois aviões voaram contra as Torres Gêmeas, depois do avião pousar na porta de entrada do Pentágono, conseguindo evitar dois postes de electricidade com suas asas sem produzir um único pedaço de evidência.
 
 
200 toneladas de metal vaporizado. Só nos Estados Unidos da América, é obra!
 
 
E quase dez anos depois, a coligação considerável da OTAN não conseguiu ganhar o controle do Afeganistão, o Presidente instalado pela OTAN, Karzai, está protestando contra seus mestres, porque ele foi acusado de corrupção e considera que é culpa deles (pois…) e agora vamos aprender com a Organização das Nações Unidas que o Afeganistão da NATO, já depois que conseguiu ser o fornecedor mundial de ópio líder, tornou-se o produtor recorde de haxixe também.
 
Uau!, OTAN 2 População mundial 0. Que se lixem as famílias, pois não? É por isso que eles insistiam em expansão para o leste (depois de dizer que não) para criar novos mercados? E o que dizem os países membros?
 
O Gabinete das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em seu relatório Afeganistão Cannabis Survey, divulgado nesta quarta-feira, estimou que entre 10 e 24 mil hectares de maconha por ano são cultivadas no Afeganistão. Não é só a cifra que é chocante, pior ainda é a afirmação de que essa produção tem lugar em metade das 34 províncias do país.
 
 
O Diretor Executivo do UNODC, Antonio Maria Costa, declarou no relatório que "o rendimento surpreendente da cultura cannabis no Afeganistão faz do Afeganistão o maior produtor mundial de haxixe, estimado entre 1.500 e 3.500 toneladas por ano", sendo 145 kg por hectare, em comparação com os 40 kg. de Marrocos. Cannabis produz 3,900 USD de rendimento por hectare, em comparação com ópio – 3.600 USD.
 
O relatório da ONU afirma que existem centros comerciais de cannabis e ópio em todo o país.
 
Então, expliquem por favor o que está a OTAN a fazer no Afeganistão, onde os talibãs eram supostos renderem-se há dez anos atrás e ainda não o fizeram, onde a produção de heroína aumentou nada menos que 40 vezes no mesmo período e agora reivindica o Afeganistão a fama de ser recordista mundial de ópio e produção de cannabis. É por isso que os países-membros da OTAN lambem as botas do mestre? E já agora, quem votou pela OTAN controlar a política externa?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O imperialismo estende suas garras.....

Tenham uma linda guerra, rapazes

John Pilger*
John Pilger 
Depois do Afeganistão, do Iraque, das ameaças de invasão do Irão, das mais 7 bases norte-americanas na Colômbia, os Estados Unidos da América prosseguem o seu belicismo com a invasão da Somália. “Insidiosa, não declarada, apresentada mesmo de forma astuciosa como avanço do iluminismo, prossegue a Guerra do Terceiro Mundo e o seu genocídio, ser humano a ser humano.”

Aqui vão notícias da Terceira Guerra Mundial. Os Estados Unidos invadiram a África. Tropas estado-unidenses entraram na Somália, estendendo a sua frente de guerra desde o Afeganistão e o Paquistão até o Iémen e agora o Corno da África. Como preparativo para um ataque ao Irão, foram colocados mísseis americanos em quatro estados do Golfo Pérsico e dizem que estão a chegar bombas destruidoras de “bunkers” à base dos EUA na ilha britânica de Diego Garcia, no Oceano Índico.
Em Gaza, a população abandonada e doente, principalmente crianças, está a ser sepultada atrás de muralhas subterrâneas fornecida pela América a fim de reforçar um cerco criminoso. Na América Latina, a administração Obama assegurou sete bases na Colômbia, para travar uma guerra de atrito contra as democracias populares na Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai. Enquanto isso, o secretário da “defesa” Robert Gates queixa-se de que “o público [europeu] em geral e a classe política” são tão opositores à guerra que eles constituem um “obstáculo” à paz. Lembre-se de que este é o mês do Coelho Louco [1] .
Segundo um general americano, a invasão e ocupação do Afeganistão não é tanto uma guerra real e sim uma “guerra de percepção”. Portanto, a recente “libertação da cidade de Marja” da “estrutura de comando e controle” do Taliban foi pura Hollywood. Marja não é uma cidade, não havia comando e controle Taliban. Os libertadores heróicos mataram os civis do costume, os mais pobres dos pobres. De qualquer forma, foi fraude. Uma guerra de percepção é feita para proporcionar notícias falsas para a gente lá de casa, para fazer uma aventura colonial fracassada parecer valiosa e patriótica, como se o filme Estado de Guerra [2] fosse real e cortejos de caixões envoltos em bandeiras através da cidade de Wiltshire, vindos de Wooten Basset [3] não fossem um exercício de propaganda cínico.
“Guerra é diversão”, costumavam dizer com ironia negra os soldados no Vietname, o que significava que se a guerra fosse desvendada como não tendo qualquer finalidade senão justificar o poder voraz fanaticamente à procura de lucros, como o da indústria de armamento, havia o perigo de a verdade ser revelada. Este perigo pode ser ilustrado pela percepção liberal de Tony Blair em 1997 como alguém “que quer criar um mundo [onde] a ideologia se tenha rendido inteiramente aos valores” (Hugo Young, The Guardian ) comparada com a avaliação pública de hoje como um mentiroso e uma guerra criminosa.
Os estados guerreiros ocidentais, tais como os EUA e a Grã-Bretanha, não estão ameaçados pelos Taliban ou quaisquer outros membros de tribos introvertidos em lugares remotos, mas pelos instintos anti-guerra dos seus próprios cidadãos. Considerem-se as sentenças draconianas legadas a multidões de jovens que em Janeiro últimos protestavam contra o assalto de Israel a Gaza. A seguir a manifestações nas quais a polícia paramilitar encurralou milhares, réus primários receberam dois anos e meio de prisão por delitos menores que normalmente implicariam sentenças leves. Em ambos os lados do Atlântico, discordância séria a revelar guerra ilegal tornou-se um crime sério.
O silêncio em outros altos lugares permite esta moral travestida. Através das artes, literatura, jornalismo e do direito, as elites liberais, tendo corrido para longe dos resíduos de Blair e agora de Obama, continua a exibir a sua indiferença para com a barbárie e os objectivos dos crimes dos estados ocidentais ao promoverem retrospectivamente as maldades dos seus demónios de conveniência, como Saddam Hussein. Com Harold Pinter já falecido, tente compilar uma lista de escritores, artistas e advogados famosos cujos princípios não sejam consumidos pelo “mercado” ou neutralizados pela sua celebridade. Quem entre eles falou acerca do holocausto no Iraque durante quase 20 anos de bloqueio e assalto letais? E tudo isto foi deliberado. Em 22 de Janeiro de 1991, a US Defence Intelligence Agency previu com pormenor impressionante como um bloqueio destruiria sistematicamente o sistema de água potável do Iraque e conduziria a “incidências acrescidas, se não a epidemias de doença”. De modo que os EUA começaram por eliminar a água potável para a população iraquiana: uma das causas, como observou a UNICEF, das mortes de meio milhão de crianças iraquianas com menos de cinco anos. Mas este extremismo aparentemente não tem nome.
Norman Mailer certa vez disse acreditar que os Estados Unidos, na sua busca incessante de guerra e dominação, entraram numa “era pré-fascista”. Mailer parecia hesitante, como se tentasse advertir acerca de alguma coisa que ele mesmo não podia definir bem. “Fascismo” não está correcto, pois invoca precedentes históricos inadequados, recorrendo mais uma vez à iconografia da repressão alemã e italiana. Por outro lado, o autoritarismo americano, como apontou recentemente o crítico cultural Henry Giroux, é “mais matizado, menos teatral, mais astucioso, menos preocupado com modos repressivos de controle do que com modos manipulativos de consentimento”.
Isto é o americanismo, a única ideologia predatória que nega ser uma ideologia. A ascensão de corporações tentaculares que são ditaduras em si próprias e de uma instituição militar que é agora um estado com o estado, ajusta-se por trás da fachada da melhor democracia que os 35 mil lobbystas de Washington pode comprar e uma cultura popular programada para divertir e imbecilizar, é sem precedentes. Mais matizado talvez, mas os resultados são tanto não ambíguos como familiares. Denis Halliday e Hans von Sponeck, responsáveis superiores das Nações Unidas no Iraque durante o bloqueio conduzido pelos americanos e britânicos, não têm dúvida de que testemunharam genocídio. Eles não viram câmaras de gás. Insidiosa, não declarada, apresentada mesmo de forma astuciosa como avanço do iluminismo, prossegue a Guerra do Terceiro Mundo e o seu genocídio, ser humano a ser humano.
Na próxima campanha eleitoral na Grã-Bretanha, os candidatos referir-se-ão a esta guerra só para louvar os “nossos rapazes”. Os candidatos são múmias políticas quase idênticas amortalhadas na Union Jack e na Stars and Stripes. Como demonstrou Blair um tanto demasiado entusiasticamente, as elites britânicas amam a América porque a América permite-lhes insultar e bombardear os nativos e considerar-se um “parceiro”. Deveríamos interromper a sua diversão.
NT
[1] March Hare: Referência a personagem de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll.
[2] The Hurt Locker . O título do filme no Brasil é Guerra ao Terror.
[3] Wooten Basset: Pequena aldeia, próxima a uma base da RAF, que se tornou sinonimo dos voos de retorno com cadáveres de soldados britânicos.
* Jornalista australiano
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

domingo, 4 de abril de 2010

Cuba reconhecida por ajuda humanitária....


Governo e povo ucranianos reconhecem atendimento cubano a crianças de Chernobyl
 
●Machado Ventura presidiu ato central em Tarará

Elson Concepción Pérez


UM reconhecimento a Fidel Castro, máximo inspirador da obra humana que constitui o atendimento em Cuba às crianças ucranianas e seus familiares, prejudicados pela catástrofe nuclear de Chernobyl, foi entregue durante o ato pelo 20º aniversário da chegada a Cuba dos primeiros menores prejudicados.


Machado Ventura recebe das mãos do doutor Julio Medina, o 
reconhecimento dado a Fidel.


 








Machado Ventura recebe das mãos do doutor Julio Medina, o reconhecimento dado a Fidel.














O primeiro vice-presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, José Ramón Machado Ventura, recebeu a distinção das mãos do diretor do Programa na cidade de Tarará, doutor Julio Medina.


No próprio ato, o ex-presidente da Ucrânia, Leonid Kuchma, anunciou a entrega a Fidel da Ordem ao Mérito de Primeiro Grau; e ao presidente Raúl Castro a Ordem do Príncipe Yaroslav o Sábio, de Primeiro Grau.

Kuchma impôs distinções ao ministro da Saúde Pública, José Ramón Balaguer, e a outros médicos, diplomatas e colaboradores que contribuíram com a consecução bem-sucedida deste programa.


Ao encerrar o ato, Balaguer manifestou que o programa de atendimento a estas crianças é um exemplo do que pode fazer um povo que, sem ter grandes riquezas materiais, tem a grande riqueza espiritual de ter sido educado na solidariedade, na entrega incondicional e no amor a outros povos.


Lembrou o ministro que os anos do período especial, a desintegração da União Soviética, o recrudescimento do bloqueio, não afetaram o espírito solidário e humano de nosso povo, e continuamos desenvolvendo o programa de acordo com as possibilidades existentes.

Disse que naqueles anos difíceis da década de 1990 foi quando este programa recebeu mais crianças. Foram atendidas mais de 300 crianças com doenças hematológicas, fundamentalmente leucemia, 136 com diferentes tipos de tumores, e se realizaram 14 operações complexas de coração, dois transplantes de rim, seis de medula óssea, e outras.

Balaguer avaliou que as vítimas dessa catástrofe tratadas em Cuba encontraram também o consolo e o amor, e reconheceu o trabalho daqueles que nestes 20 anos trabalharam em função de oferecer um serviço excelente, os trabalhadores da saúde, da ciência, dos serviços, da gastronomia, da cultura, todos em função dessas 25.457 pessoas, deles 21.378 menores, que levarão para sempre em seus corações a marca inapagável da amizade entre os povos da Ucrânia e de Cuba. •


DECLARAÇÃO DAS MÃES UCRANIANAS


NÓS, as mães das crianças afetadas pela catástrofe de Chernobil e o Fundo Internacional de Chernobil, dirigimo-nos a todas as pessoas de boa vontade da terra: sejam receptivas a nossas palavras porque nossas palavras provêm do mais fundo do coração materno.

Para uma mãe a maior desgraça na vida é a doença do filho. Quando no ano 1990 Cuba e o Comandante Fidel estenderam a mão de ajuda às crianças ucranianas doentes, não pudemos deixar de valorizar esta façanha do povo cubano e queremos declarar a todo o mundo que não existe uma ação mais humana com relação a crianças doentes que o Programa ucraniano–cubano "Crianças de Chernobil".


Agradecemos com todo o nosso coração ao imenso povo cubano, a seus sábios dirigentes Fidel Castro, que materializou este Programa, e a Raúl Castro, que agora assumiu sua direcção, tudo o que eles fizeram pelas crianças ucranianas afetadas pela catástrofe de Chernobil.

Existem coisas na vida que não se vendem nem se compram com nenhum dinheiro: a amizade, a ajuda mútua e o apoio nos minutos difíceis, e isso é o que une firmemente agora os povos cubano e ucraniano.


Nós confiamos em que a voz sincera e justa das mães ucranianas será escutada pelos povos do mundo todo.


E queremos declarar que não há um país mais livre do que Cuba, que em todo o mundo é conhecido como a Ilha da liberdade e onde nunca e sob nenhuma circunstância foram violados os direitos humanos.


Nós, as mães ucranianas, de todo o coração agradecemos ao povo e ao Governo da República de Cuba pelo tratamento de nossas crianças e esperamos que a sombra escura de Chernobil desapareça para sempre e que a amizade entre dois grandes povos perdure eternamente.


Viva Cuba, viva Ucrânia!

Antiga imprensa, enfim, assume partidarismo

Finalmente a antiga imprensa brasileira assumiu que virou um partido político. O anúncio foi feito pela presidente da Associação Nacional dos Jornais e executiva da Folha de S.Paulo, Maria Judith Brito: "Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposiciobista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada".

- Por Jorge Furtado*

A presidente da associação/partido não questiona a moralidade de seus filiados assumirem a “posição oposicionista deste país” enquanto, aos seus leitores, alegam praticar jornalismo.

Quem estava prestando atenção já percebeu faz tempo: a antiga imprensa brasileira virou um partido político, incorporando as sessões paulistas do PSDB (Serra) e do PMDB (Quércia), e o DEM (ex-PFL, ex-Arena).

A boa novidade é que finalmente eles admitiram ser o que são, através das palavras sinceras de Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional dos Jornais e executiva do jornal Folha de S. Paulo, em declaração ao jornal O Globo:

“Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada.”

A presidente da Associação Nacional dos Jornais constata, como ela mesma assinala, o óbvio: seus associados “estão fazendo de fato a posição oposicionista (sic) deste país”. Por que agem assim? Porque “a oposição está profundamente fragilizada”.

A presidente da associação/partido não esclarece porque a oposição “deste país” estaria “profundamente fragilizada”, apesar de ter, como ela mesma reconhece, o irrestrito apoio dos seus associados (os jornais).

A presidente da associação/partido não questiona a moralidade de seus filiados assumirem a “posição oposicionista deste país” enquanto, aos seus leitores, alegam praticar jornalismo. Também não questiona o fato de serem a oposição ao governo “deste país” mas não aos governos do seu estado (São Paulo).

Propriedades privadas, gozando de muitas isenções de impostos para que possam melhor prestar um serviço público fundamental, o de informar a sociedade com a liberdade e o equilíbrio que o bom jornalismo exige, os jornais proclamam-se um partido, isto é, uma “organização social que se fundamenta numa concepção política ou em interesses políticos e sociais comuns e que se propõe alcançar o poder”.

O partido da imprensa se propõe a alcançar o poder com o seu candidato, José Serra. Trata-se, na verdade, de uma retomada: Serra, FHC e seu partido, a imprensa, estiveram no poder por oito anos. Deixaram o governo com desemprego, juros, dívida pública, inflação e carga tributária em alta, crescimento econômico pífio e índices muito baixos de aprovação popular. No governo do partido da imprensa, a criminosa desigualdade social brasileira permaneceu inalterada e os índices de criminalidade (homicídios) tiveram forte crescimento,

O partido da imprensa assumiu a “posição oposicionista” a um governo que hoje conta com enorme aprovação popular. A comparação de desempenho entre os governos do Partido dos Trabalhadores (Lula, Dilma) e do partido da imprensa (FHC, Serra), é extraordinariamente favorável ao primeiro: não há um único índice social ou econômico em que o governo Lula (Dilma) não seja muito superior ao governo FHC (Serra), a lista desta comparação chega a ser enfadonha.

Serra é, portanto, o candidato do partido da imprensa, que reúne os interesses da direita brasileira e faz oposição ao governo Lula. Dilma é a candidata da situação, da esquerda, representando vários partidos, defendendo a continuidade do governo Lula.

Agora que tudo ficou bem claro, você pode continuar (ou não) lendo seu jornal, sabendo que ele trabalha explicitamente a favor de uma candidatura e de um partido que, como todo partido, almeja o poder.

Annita Dunn, diretora de Comunicações da Casa Branca, à rede de televisão CNN e aos repórteres do The New York Times:

"A rede Fox News opera, praticamente, ou como o setor de pesquisas ou como o setor de comunicações do Partido Republicano" (...) "não precisamos fingir que [a Fox] seria empresa comercial de comunicações do mesmo tipo que a CNN. A rede Fox está em guerra contra Barack Obama e a Casa Branca, [e] não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha seria o modo que dá legitimidade ao trabalho jornalístico. Quando o presidente [Barack Obama] fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará como num debate com o partido da oposição."

*Jorge Furtado é cineasta e escritor. Foi um dos fundadores da Casa de Cinema de Porto Alegre, da qual é integrante até hoje.

Fonte: Agência Carta Maior
(Artigo publicado no blog de Jorge Furtado/Casa de Cinema de Porto Alegre)

sábado, 3 de abril de 2010

Venezuela e Rússia fecham acordo petrolífero bilionário

Thais Romanelli - Opera Mundi

Em sua primeira visita a Venezuela, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin selou uma “aliança estratégica”, nesta sexta-feira (2/04), com o presidente Hugo Chávez. Foram 31 acordos assinados, a maioria nas áreas de energia e defesa.

“Quero destacar que criamos uma nova equação em mecanismos de cooperação bilaterais que nesta década se desenvolveram como nunca antes”, afirmou Chávez ao término do ato no qual foram assinados parte dos documentos.

O presidente e primeiro-ministro russo discutiram possíveis parcerias petrolíferas e formalizaram a criação de uma empresa binacional de produção e extração de petróleo na faixa do rio Orinoco, no norte da Venezuela.


Harold Escalona/Efe



Estima-se que a reserva de petróleo dessa região tenha capacidade de 513 bilhões de barris, o que a tornaria a maior do mundo. A reserva ainda está em processo de certificação.

O acordo prevê que a estatal venezuelana PDVSA e o consórcio russo – formado pelas empresas Rosneft, Lukoil, TNK-BP, Gazprom e Surgutneftgaz – construam uma empresa conjunta para operar no campo Junín 6, e que posteriormente a exploração possa ser ampliada para outros três campos da faixa do Orinoco.

Na associação, a PDVSA terá 60% das ações e o consórcio russo ficará com os outros 40%. A expectativa é que ao final do projeto a produção chegue a 450 mil de barris diários.
Segundo Putin, o documento exige uma “entrada” de um bilhão de dólares para a exploração de Junin 6. Desse valor, 600 milhões de dólares já foram pagos pelo presidente russo no próprio dia da reunião.

Durante a visita, ambos os Governos ajustaram vários memorandos de entendimento para construção de navios-tanque de transporte de gás e petróleo; estudos para a instalação de uma planta de geração de energia elétrica e cooperação em projetos de planejamento energético.

Defesa

Além disso, Vladimir Putin, que disse que seu país está disposto a continuar a fornecer equipamento militar à Venezuela, entregou na ocasião da visita quatro helicópteros russos Mi-17 que completam o lote de 38 comprados em 2006, e firmaram acordos para a renovação da frota aérea venezuelana.

A decisão alarmou os Estados Unidos que se disseram “preocupados com a compra de armamento por parte da Venezuela” em comunicado oficial da Casa Branca.

O presidente Hugo Chávez, questionado sobre a posição norte-americana afirmou que as intenções com a compra de aviões é pacífica. “Não estamos nos armando contra os EUA. Vocês sabem quantos aviões [Barack] Obama têm?”, disse.

Exploração espacial

Vladimir Putin prometeu também avaliar a possibilidade de ajudar a Venezuela a desenvolver sua própria indústria especial, que incluiria um sistema de lançamento de satélites. A proposta de cooperação ainda será discutida por autoridades dos dois países.

“A Rússia ofereceu apoio para que a Venezuela tenha sua própria indústria para o uso de seu espaço extraterrestre e nós temos interesse nisso”, afirmou o presidente venezuelano.

A declaração foi ironizada na Casa Branca, que por meio de seu porta-voz Philip Crowley lembrou que nesta semana Chávez declarou feriado prolongado para poupar energia.

“Já que ele pretende gastar recursos para atender aos interesses do povo venezuelano, talvez devesse se concentrar em assuntos terrestres mais do que nos extraterrestres”, disse Crowley.

O BBB e a imbecilidade humana.....

Encéfalos esponjosos

<br /><b>Crédito: </b> João Luis Xavier

Crédito: João Luis Xavier

Terminou o "BBB10". Graças a Deus. Estamos livres. Estava ficando difícil evitar os comentários sobre o Besteirol Baixaria Brasil. Ou Bundas Brasileiras Balançando. Bastava ligar a televisão, a qualquer hora do dia ou da noite, para se ver ao menos uma chamada com uma bunda rebolando ou um cara afagando os países baixos. Pensei em fugir para o exterior. Havia sempre alguém no lotação falando no celular sobre as espetaculares discussões filosóficas travadas entre os protagonistas do jogo. Poucas vezes uma rede de televisão foi tão bem-sucedida na escolha de um grupo de QI reduzido. Não deve ter passado de 180 somando-se todos os integrantes.

A televisão costuma ser um poderoso instrumento de emburrecimento. O "Big Brother", para usar mais uma expressão de Jean Baudrillard, privilegia os encéfalos esponjosos, tanto dos participantes quanto dos telespectadores. É o programa mais idiota da história recente da televisão brasileira. Vi duas noites seguidas e senti meu cérebro tomando a consistência de uma gelatina ou de um mocotó. Ganhou um tal de Marcelo Dourado, gaúcho, filho de uma astróloga, certamente responsável pela sofisticada cultura do filho. Dourado destacou-se pelas suas declarações contra os homossexuais. O Brasil reacionário adorou. Venceu aquele que tem a cara do país: bronco, conservador e homofóbico.

Durante meses, milhões de pessoas submeteram-se a um triste espetáculo com disputas infantilizadoras e uma terminologia babaca escolhida para tocar o coração de antas, pacas e telespectadores: colar do anjo, brothers, sisters, big fone, confessionário, casa mais vigiada do Brasil, castigo do monstro, pular amarelinha vestido de criança, imunização, etc. Dourado levou R$ 1,5 milhão pela sua extraordinária capacidade de representar a estupidez nacional. Certamente desfilará em carro de bombeiro ao chegar em Porto Alegre. É o nosso novo Bento Gonçalves. O Rio Grande do Sul está orgulhoso do seu filho dileto. O "BBB" é uma atividade terapêutica de regressão. Até o apresentador, Pedro Bial, regrediu. Passou de bom repórter a animador de uma baixaria anual. Parece feliz. Deve ter encontrado o seu "eu" profundo.

Por que as pessoas veem o "Big Brother"?

Porque está à altura das suas competências intelectuais. O "BBB" é o equivalente televisivo da literatura de Paulo Coelho. Dizem que a Rede Globo assinou contrato para exibir mais 40 edições do "BBB". Se isso for verdade, quero migrar para a Sibéria com uma coleção de DVDs de Zorra Total e um pôster da dupla Victor e Leo. Topo tudo. Suporto qualquer coisa. O Ronan Prigent, adido cultural da França em Porto Alegre, foi transferido para Ekaterinemburgo. Pedirei que me acolha por lá. Trabalharei fazendo faxina ou recuperando encadernações das obras de Lenin. Suportarei temperaturas de 45 graus negativos. Só quero ficar livre dos fãs do "BBB". Não quero ter o azar de encontrar o Dourado na rua.