sábado, 16 de outubro de 2010

Professores universitários denunciam bonapartismo de Serra



Manifesto em Defesa da Educação Pública (clique aqui para saber como aderir)

Extraído do blog viomundo

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.
Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.
Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.
Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.
Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.
No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.

Fábio Konder Comparato, USP
Carlos Nelson Coutinho, UFRJ
Heloisa Fernandes, USP
Theotonio dos Santos, UFF
Emilia Viotti da Costa, USP
José Arbex Jr., PUC-SP
Marilena Chaui, USP
João José Reis, UFBA
Joel Birman, UFRJ
Leda Paulani, USP
Dermeval Saviani, Unicamp
João Adolfo Hansen, USP
Flora Sussekind, Unirio
Otávio Velho, UFRJ
Renato Ortiz, Unicamp
Luiz Renato Martins, USP
Maria Victoria de Mesquita Benevides, USP
Enio Candotti, UFRJ
Glauco Arbix, USP
Laymert Garcia dos Santos, Unicamp
Franklin Leopoldo e Silva, USP
Luis Fernandes, UFRJ
Antonio Carlos Mazzeo, Unesp
Wander Melo Miranda, UFMG
Ronaldo Vainfas, UFF
Caio Navarro de Toledo, Unicamp
Celso Frederico, USP
Armando Boito, Unicamp
Henrique Carneiro, USP
Angela Leite Lopes, UFRJ
Afrânio Catani, USP
Otavio Soares Dulci, UFMG
Laura Tavares, UFRJ
Wolfgang LeoMaar, UFSCar
João Quartim de Moraes, Unicamp
Ildeu de Castro Moreira, UFRJ
Scarlett Marton, USP
Emir Sader, UERJ
Sidney Chalhoub, Unicamp
Marcelo Perine, PUC-SP
Flavio Aguiar, USP
Léon Kossovitch, USP
Celso F. Favaretto, USP
Benjamin Abdalla Jr., USP
Irene Cardoso, USP
Vladimir Safatle, USP
José Ricardo Ramalho, UFRJ
Gilberto Bercovici, USP
Ivana Bentes, UFRJ
José Sérgio F. de Carvalho, USP
José Castilho de Marques Neto, Unesp
Maria Ligia Coelho Prado,USP
Peter Pal Pelbart, PUC- SP
Sergio Cardoso, USP
Ricardo Musse, USP
Consuelo Lins, UFRJ
Iumna Simon, USP
Vera da Silva Telles, USP
Elisa Kossovitch , Unicamp
Edilson Crema, USP
Liliana Segnini, Unicamp
José Jeremias de Oliveira Filho, USP
Sebastião Velasco e Cruz, Unicamp
Ligia Chiappini, Universidade Livre de Berlim
Giuseppe Cocco, UFRJ
Luiz Roncari, USP
Marcio Suzuki, USP
Francisco Foot Hardman, Unicamp
Eleutério Prado, USP
Eliana Regina de Freitas Dutra, UFMG
Helder Garmes, USP
Marcos Dantas, UFRJ
Adélia Bezerra de Meneses, Unicamp
Luís Augusto Fischer, UFRS
Zenir Campos Reis, USP
Alessandro Octaviani, USP
Federico Neiburg, UFRJ
Maria Lygia Quartim de Moraes, Unicamp
Cilaine Alves Cunha, USP
Evando Nascimento, UFJF
Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos, USP
Juarez Guimarães, UFMG
Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, PUC-SP
Marcos Silva, USP
Walquíria Domingues Leão Rego, Unicamp
Sérgio de Carvalho, USP
Rosa Maria Dias, Uerj
Jorge Luiz Souto Maior, USP
Gil Vicente Reis de Figueiredo, UFSCar
Ladislau Dowbor, PUC-SP
Lucilia de Almeida Neves, UnB
Bernardo Ricupero, USP
Joaquim Alves de Aguiar, USP
Maria Lúcia Montes, USP
Eugenio Maria de França Ramos, Unesp
Ana Fani Alessandri Carlos, USP
Mauro Zilbovicius, USP
Jacyntho Lins Brandão, UFMG
Paulo Silveira, USP
Marly de A. G. Vianna, UFSCar
José Camilo Pena, PUC-RJ
Lincoln Secco, USP
Mario Sergio Salerno, USP
Rodrigo Duarte, UFMG
Paulo Nakatani, UFES
Sean Purdy, USP
Adriano Codato, UFPR
Ricardo Nascimento Fabbrini, USP
Denilson Lopes, UFRJ
Marcus Orione, USP
Ernani Chaves, UFPA
Gustavo Venturi, USP
João Roberto Martins Filho, UFSCar
Marcos Siscar, Unicamp
Nelson Cardoso Amaral, UFG
Evelina Dagnino, Unicamp
Vinicius Berlendis de Figueiredo, UFPR
Silvia de Assis Saes, UFBA
Carlos Ranulfo, UFMG
Flavio Campos, USP
Liv Sovik, UFRJ
Marta Maria Chagas de Carvalho, USP
Paulo Faria, UFRGS
Rubem Murilo Leão Rego, Unicamp
Maria Helena P. T. Machado, USP
Francisco Rüdiger, UFRS
Nelson Schapochnik, USP
Maria Augusta da Costa Vieira, USP
Elyeser Szturm, UnB
José Geraldo Silveira Bueno, PUC-SP
Reginaldo Moraes, Unicamp
Luiz Recaman, USP
Iram Jácome Rodrigues, USP
Roberto Grun, UFSCar
Edson de Sousa, UFRGS
Márcia Cavalcante Schuback, UFRJ
Luciano Elia, Uerj
Julio Ambrozio, UFJF
Oto Araujo Vale, UFSCar
João Emanuel, UFRN
Paulo Martins, USP
Analice Palombini, UFRS
Alysson Mascaro, USP
José Luiz Vieira, UFF
Paulo Benevides Soares, USP
Marcia Tosta Dias, Unifesp
Salete de Almeida Cara, USP
Anselmo Pessoa Neto, UFG
Marta Kawano, USP
Ricardo Basbaum, Uerj
Iris Kantor, USP
Fernando Lourenço, Unicamp
Luiz Carlos Soares, UFF
André Carone, Unifesp
Adriano Scatolin, USP
Richard Simanke, UFSCar
Francisco Alambert, USP
Arlenice Almeida, Unifesp
Miriam Avila, UFMG
Sérgio Salomão Shecaira, USP
Carlos Eduardo Martins, UFRJ
Antonio Albino Canelas Rubim, UFBA.
Claudio Oliveira, UFF
Eduardo Brandão, USP
Jesus Ranieri, Unicamp
Mayra Laudanna, USP
Aldo Duran, UFU
Luiz Hebeche, UFSC
Eduardo Morettin, USP
Adma Muhana, USP
Fábio Durão, Unicamp
Amarilio Ferreira Jr., UFSCar
Jaime Ginzburg, USP
Ianni Regia Scarcelli, USP
Marlise Matos, UFMG
Mauricio Santana Dias, USP
Adalberto Muller, UFF
Ivo da Silva Júnior, Unifesp
Cláudio Oliveira, UFF
Ana Paula Pacheco, USP
Sérgio Alcides, UFMG
Romualdo Pessoa Campos Filho, UFG
Bento Itamar Borges, UFU
Tânia Pellegrini, UFSCar
José Paulo Guedes Pinto, UFRRJ
Luiz Damon, UFPR
Emiliano José, UFBA
Eduardo Passos, UFF
Horácio Antunes, UFMA
Laurindo Dias Minhoto, USP
Paulo Henrique Martinez, Unesp
Igor Fuser, Faculdade Cásper Líbero
Herculano Campos, UFRN
Adriano de Freixo, UFF
Suzana Guerra Albornoz, UNISC/RS
Sonia Campaner, PUC-SP
Alexandre Fonseca, UFRJ
Raul Vinhas Ribeiro, Unicamp
Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo, Uerj
Carmen Gabriel, UFRJ
Ana Gonçalves Magalhães, USP
Regina Mennin, Unifesp
Regina Pedroza, UnB
Regina Vinhaes Gracindo, UnB
Elina Pessanha, UFRJ
Elisa Maria Vieira, UFMG
Reinaldo Martiniano, UFMG
Freda Indursky, UFRGS
Frederico Carvalho, UFRJ
Renata Paparelli, PUC-SP
Renato Lima Barbosa, UEL
Antonio Prado, Unicamp
Antonio Teixeira, UFMG
Aparecida Neri de Souza, Unicamp
Ricardo Barbosa de Lima, UFG
Ricardo Kosovski, UNIRIO
Ricardo Mayer, UFAL
Rita Diogo, UERJ
Adalberto Paranhos, UFU
Adalton Franciozo Diniz, PUC-SP
Alcides Fernando Gussi, UFC
Aldo Victorino, UERJ
José Guilherme Ramos,  Unincor
Alex Fabiano Jardim, Unimontes
Alexandra Epoglou, UFU
Alexandre Henz, Unifesp
Alfredo Cordiviola, UFPE
Alícia Gonçalves, UFPB
Alita Sá Rego, UERJ
Alvaro Luis Nogueira, CEFET/RJ
Amaury Júnior, UFRJ
Amilcar Pereira, UFRJ
Amon Pinho, UFU
Ana Maira Coutinho, PUC-Minas
Ana Maria Araújo Freire, PUC/SP
Ana Maria Chiarini, UFMG
Ana Maria Doimo, UFMG
Ana Maria Medeiros, UERJ
André Daibert, CEFET/RJ
André Figueiredo, UFRRJ
André Leclerc, UFC
André Martins, UFRJ
André Paulo Castanha, Unioeste
Andrea Franco, PUC-Rio
Andrea Macedo, UFMG
Andrea Silva Ponte, UFPB
Angela Prysthon, UFPE
Angelita Matos Souza, Facamp
Angelita Pereira de Lima, UFG
Aníbal Bragança, UFF
Anita Leandro, UFRJ
Anna Carolina Lo Bianco, UFRJ
Antonio Carlos Lima, UFRJ
Antônio Cristian Saraiva Paiva, UFC
Antonio Justino Ruas Madureira, UFU
Antonio Pinheiro de Queiroz, UnB
Armen Mamigonian, USP
Benito Bisso Schmidt, UFRGS
Benjamin Picado, UFF
Branca Jurema Ponce, PUC/SP
Brasilmar Nunes, UFF
Bruna Dantas, Univ. Cruzeiro do Sul
Bruno Guimarães, UFOP
Carla Dias, UFRJ
Carlos Bauer, Uninove
Carlos José Espíndola, UFSC
Carolina Martins Pulici, Centro Universitário Senac
Cauê Alves, PUC-SP
Celia Rocha Calvo, UFU
César Barreira, UFC
César Nigliorin, UFF
Clara Araujo, UERJ
Clarice Mota, UFAL
Claudinei Silva, Unioeste
Claudio Benedito Baptista Leite, Unifesp
Cláudio DeNipoti, UEPG
Cleber Santos Vieira, Unifesp
Custódia Selma Sena do Amaral, UFG
Daniela Frozi, UERJ
Daniela Weber, FURG
Daniele Nilym, UFC
Dau Bastos, UFRJ
Débora Barreto, UCM
Debora Breder, UCM
Débora Diniz, UnB
Denise Golcalves, UFRJ
Diva Maciel, UnB
Doris Accioly, USP
Doris Rinaldi, Uerj
Douglas Barros, PUC-Campinas
Edgar Gandra, UFPel
Edson Arantes Junior, UEG
Eduardo Sterzi, Faap
Elizabeth Maria Azevedo Bilange, UFMS
Emerson Giumbelli, UFRGS
Ercília Cazarin, Univ. Passo Fundo
Ernesto Perini, UFMG
Eugênio Rezende de Carvalho, UFG
Fabiana de Souza, UFG
Fabiele Stockmans, UFPE
Fábio Franzini, Unifesp
Fábio Franzini, Unifesp
Fernanda dos Santos Castelano Rodrigues, UFSCar
Fernando Fragozo, UFRJ
Fernando Freitas, UERJ
Fernando Resende, UFF
Fernando Salis, UFRJ
Filipe Ceppas, UFRJ
Flavio Fogliatto, UFRGS
Geísa Matos, UFC
George Lopes Paulino, UFC
Geovane Jacó, UECE
Geraldo Orthof ,UnB
Geraldo Pontes Jr., UERJ
Gesuína Leclerc, UFC
Gilberto Almeida, UFBA
Gilson Iannini, UFOP
Giselle Martins Venancio, UFF
Gizelia Maria da Silva Freitas, UFPA
Graciela Paveti, UFMG
Gustavo Coelho, UERJ
Gustavo Krause, UERJ
Hélio Carlos Miranda de Oliveira, UFU
Hélio Silva, UFSC
Henri Acselrad, UFRJ
Henrique Antoun, UFRJ
José Carlos Prioste, Uerj
José Carlos Rodrigues, PUC – Rio
José Claudinei Lombardi, Unicamp
Henrique Antoun, UFRJ
Henrique de Paiva, Uninove
Humberto Hermenegildo de Araújo, UFRN
Ianni Scarcelli, USP
Irlys Barreira, UFC
Isaurora Cláudia Martins, UVA
Ivan Rodrigues Martin, Unifesp
Izabela Tamaso, UFG
Jackson Aquino, UFC
Jacqueline Girão Lima, UFRJ
Jacqueline O.L. Zago, UFTM
Janete M. Lins de Azevedo, UFPE
Jania Perla Diógenes de Aquino, UFC
Joana Bahia, UERJ
Joelma Albuquerque, UFAL
John Comerford, UFRRJ
Jorge Valadares, Fund Oswaldo Cruz
José Artur Quilici Gonzalez, UFABC
José Lindomar Albuquerque, UNIFESP
José Luiz Ferreira, UFERSA
José Messias Bastos,UFSC
José Otávio Guimarães, UnB
José Ubiratan Delgado, IRD- CNEN
Joziane Ferraz de Assis, UFV
Kátia Paranhos, UFU
Kelen Christina Leite, UFSCar
Laura Feuerwerker, USP
Leandro Melo, Senac
Simone Wolff, UEL
Solange Ferraz de Lima, USP
Sônia Maria Rodrigues, UFG
Lena Lavinas, UFRJ
Leonardo Daniato, UniFor
Lia Tomas, Unesp
Liliam Faria Porto Borges, UNIOESTE
Lúcia Maria de Assis, UFG
Lucia Pulino, UnB
Luciana Hartmann, UnB
Luciano Mendes de Faria Filho, UFMG
Luciano Rezende, Instituto Federal de Alagoas
Luciano Simão, UFF
Luís Filipe Silvério Lima, Unifesp
Luis Mattei, UFF
Luiz Fábio Paiva, UFAM
Luiz Paulo Colatto, CEFET-RJ
Luiz Sérgio Duarte da Silva, UFG
Madalena Guasco Peixoto, PUC-SP
Marcelo Carcanholo, UFF
Marcelo de Sena, UFMG
Marcelo Martins de Sena, UFMG
Marcelo Paixão, UFRJ
Marcelo Pinheiro, UFU
Marcia Angela Aguiar, UFPE
Marcia Cristina Consolim, Unifesp
Márcia Maria Menendes Motta, UFF
Marcia Maria Motta, UFF
Marcia Paraquett, UFBA
Marcio Galdman, UFRJ
Marco André Feldman Schneider, UFF
Marcos Aurélio da Silva, UFSC
Marcos Barreto, UFRJ
Marcos Cordeiro Pires, Unesp
Marcos Santana de Souza, UFS
Marcus Wolff , UCM
Maria Amélia Dalvi, UFES
Maria Aparecida Leite Soares, Unifesp
Maria Augusta Fonseca, USP
Maria Cristina Batalha, UERJ
Maria Cristina Giorgi, CEFET- RJ
Maria Cristina Giorgi, CEFET/RJ
Maria Cristina Volpi, UFRJ
Mônica de Carvalho, PUC-SP
Natalia Reis, UFF
Neide T. Maia González, USP
Nelson Maravalhas, UnB
Nelson Tomazi, UEL
Maria de Fátima Gomes, UFRJ
Maria Fernanda Fernandes, Unifesp
Maria Jacqueline Lima, UFRJ
Maria José Aviz do Rosário, UFPA
Maria José Vale, Unicastelo
Maria Lúcia Homem, FAAP
Maria Lúcia Seidl, UERJ
Maria Luiza de Oliveira, Unifesp
Maria Luiza Heilborn, UERJ
Maria Neyara de Oliveira Araújo, UFC
Maria Rita Aprile, Uniban
María Zulma M. Kulikowski, USP
Mariana Cassab, UFRJ
Mariana Cavalcanti, FGV-RJ
Marisa Bittar, UFSCar
Markus Lasch, Unifesp
Marlon Salomon, UFG
Marly Vianna, UFSCar
Marly Vianna, UFSCar
Márnio Pinto, UFSC
Marta Peres, UFRJ
Marta Pinheiro, UFRJ
Mary Castro, UCSal
Miroslav Milovic, UnB
Edson Arantes Jr., UERJ
Moema Rebouças, UFES
Monica Alvim, UFRJ
Monica Bruckmann, UFRJ
Nereide Saviani, Unisantos
Neusa Maria Dal Ri, Unesp
Nina Leite, Unicamp
Nise Jinkings, UFSC
Nora Krawczyk, Unicamp
Olga Cabrera, UFG
Olgamir Amancia Ferreira de Paiva, UnB
Ovídio de Abreu, UFF
Patrícia Reinheimer, UFRRJ
Patrícia Sampaio, UFAM
Paulino José Orso, Unioeste
Paulo Bernardo Ferreira Vaz, UFMG
Paulo Machado, UFSC
Paulo Pinheiro Machado, UFSC
Paulo Roberto de Almeida, UFU
Rafael Haddock-Lobo, UFRJ
Ramón Fernandez, FGV-SP
Raul Pacheco Filho, PUC-SP
Rita Schmidt, UFRGS
Robespierre de Oliveira, UEM
Rodrigo Nobile, UERJ
Rogério Medeiros, UFRJ
Ronaldo Gaspar, Unicastelo
Rosana C. Zanelatto Santos, UFMS
Rosana Costa, UFRJ
Rosemary de Oliveira Almeida, UECE
Sabrina Moehlecke, UFRJ
Sara Rojo, UFMG
Sarita Albagli, UFRJ
Sidnei Casetto, Unifesp
Silviane Barbato, UnB
Silvio Costa, PUC/GO
Simone Michelin, UFRJ
Suzzana Alice Lima Almeida, UNEB
Sylvia Novaes, USP
Tadeu Alencar Arrais, UFG
Tadeu Capistrano, UFRJ
Tania Rivera, UnB
Tatiana Roque, UFRJ
Telma Maria Gonçalves Menicucci, UFMG
Tercio Redondo, USP
Théo Lobarinhas Piñeiro, UFF
Tomaz Aroldo Santos, UFMG
Valdemar Sguissardi, UFSCar
Vera Chuelli, UFPR
Vera Figueiredo, PUC-Rio
Victor Hugo Pereira, UERJ
Viviane Veras, Unicamp
Volnei Garrafa, UnB
Wagner da Silva Teixeira, UFTM
Waldir Beividas, USP
Wilson Correia, UFRB
Adriano de Freixo, Universidade Federal Fluminense
Andre Gunder Frank, UFF
Flávia Nascimento, UNESP
Graziela Serroni Perosa, EACH/USP
Gustavo Caponi, Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC
Helena Esser dos Reis, UFG
Jaime Rodrigues, Universidade Federal de São Paulo/Unifesp
Jaqueline Kalmus, UniFIEO
Joana Ziller – Universidade Federal de Ouro Preto/UFOP
Juliana Tavares, IFF
Luis Guilherme Galeão da Silva, USP
Luiz Mariano Carvalho, UERJ
Maria Margareth de Lima, UFPB
Maria Waldenez de Oliveira, UFSCAR
Nelson Schapochnik, USP
Paulo Rodrigues Belém, PUC/Rio de Janeiro
Raul Vinhas Ribeiro, UNICAMP
Rita Fagundes, UFS
Tercio Loureiro Redondo, USP
Valéria Vasconcelos, UNIUBE/MG
Ana Paula Cantelli Castro, Universidade Federal do Piauí/UFP
Hélio Lemos Sôlha – Professor, UNICAMP
Pedro C. Chadarevian, UFSCAR
Ivaldo Pontes Filho, UFPE
Ricardo Summa, UFRRJ
Ernesto Salles, UFF
Sidney Calheiros de Lima, USP
Claudia Moraes de Souza, Unesp/Marília
Estêvão Martins Palitot, Universidade Federal da Paraíba/UFB
Lilian Sagio Cezar, USP
Gislene Aparecida dos Santos, EACH – USP
Eliézer Cardoso de Oliveira, Universidade Estadual de Goiás
Luiz Menna-Barreto, EACH/USP
Raquel Alvarenga Sena Venera, UFSC
Aida Marques, Universidade Federal Fluminense
Cleria Botelho da Costa, UnB
Ernestina Gomes de Oliveira, Faculdade de Direito do Instituto Superior de Ciências Aplicadas de Limeira
Kátia Menezes de Sousa, Universidade Federal de Goiás
Aluizio Moreira, UFCG
Luiz Gonzaga Godoi Trigo, EACH/USP
Lucas Bleicher, UFMG
Luiz Carlos Seixas, FMU e UniFIEO
Giane da Silva Mariano Lessa, UFRRJ
George Gomes Coutinho, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
Walter Andrade, Fundação Padre Albino
Antonio Torres Montenegro, Universidade Federal de Pernambuco/UFPE
Regina Beatriz Guimarães Neto, Universidade Federal de Pernambuco/UFPE
Enilce Albergaria Rocha, Universidade Federal de Juiz de Fora
Reinaldo Salvitti, USP
Vania Noeli Ferreira de Assunção, PUC/SP
José Arlindo dos Santos, Fundação Universidade do Tocantins/UNITINS
Jose Carlos Vaz, USP
Marisa Midori Deaecto, USP
Luiz Cruz Lima, Universidade Estadual do Ceará/UECE
Maria do Carmo Lessa Guimarães, Universidade Federal da Bahia/UFBA
Ebe Maria de Lima Siqueira, Universidade Estadual de Goiás/UnU
Alexei Alves de Queiroz, UnB
Francisco Mazzeu, Unesp
Cláudia Regina Vargas, UFSCAR
Fábio Ferreira de Almeida, Universidade Federal de Goiás
Celso Kraemer, Universidade Regional de Blumenau
Gladys Rocha, UFMG
Murilo César Ramos, UnB
Deolinda Freire, Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Corinta Maria Grisolia Geraldi, UNICAMP
João Wanderley Geraldi, UNICAMP
Durval Muniz de Albuquerque Junior, Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Rafael Sanzio, UnB
Sônia Selene Baçal de Oliveira, Universidade Federal do Amazonas/UFAM
Arlindo da Silva Lourenço, Uniban
Izabel Cristina dos Santos Teixeira, UFT/Araguaína
Glaucíria Mota Brasil, Universiade Estadual do Ceará
Maria Neyara de Oliveira Araújo, Universidade Federal do Ceará
Alícia Ferreira Gonçalves, UFPB
Francisco Alves, UFSCar
Luiz Armando Bagolin, USP
Igor Fuser, Faculdade Cásper Líbero
Paula Glenadel, UFF
Lana Ferreira de Lima, Universidade Federal de Goiás/UFG
Karina Chianca Venâncio, Universidade Federal de Pernambuco/UFPE
Surya Aaronovich Pombo de Barros, Universidade Federal da Paraíba/UFPB
Fausto Fuser, USP
Silvia Beatriz Adoue, UNESP/Araraquara
Sônia Campaner, PUC/SP
Paulo Henrique Martinez, Unesp
Iram Jácome Rodrigues, USP
Sílvio Camargo, Unicamp
Fernando Nogueira da Costa, Unicamp
Mariana Cassab, UFRJ
Suzana Guerra Albornoz, FURG/Rio Grande e UNISC/RS
Alexandre Abda, FAP/SP
José Edvar Costa de Araújo, Universidade Estadual Vale do Acaraú
Gabriel Almeida Antunes Rossini, PUC/SP
Cláudio Oliveira, Universidade Federal Fluminense/UFF
Aixa Teresinha Melo de Oliveira, CEFET/RJ – UnED/Petrópolis
Flávio Rocha de Oliveira, FESP/SP
Viviane Conceição Antunes Lima, UFRRJ
Rita Maskell Rapold, UNEB
Valter Duarte Ferreira Filho, UERJ e UFRJ
Romeu Adriano da Silva, Universidade Federal de Alfenas
Paulo Cesar Azevedo Ribeiro, Universidade Estácio de Sá
Andréa Lisly Gonçalves, Universidade Federal de Ouro Preto
Álvaro Luis Martins de Almeida Nogueira, Cefet
Welerson Fernandes Kneipp, Cefet
Jarlene Rodrigues Reis, Cefet
André Barcelos Damasceno Daibert, Cefet
Luiz Antonio Mousinho Magalhães, Universidade Federal da Paraíba/UFPB
Maria Cristina Cortez Wissenbach, USP
Denise Helena P.Laranjeira, Universidade Estadual de Feira de Santana
Magnus Roberto de Mello Pereira, Universidade Federal do Paraná/UFPR
Ricardo Cardoso Paschoal, CEFET/RJ
Luciano dos Santos Bersot, UFPR
Sérgio de  Paula Machado, Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ
Antônio Alberto Machado, Unesp/Franca-SP
Sérgio Ricardo de Souza, CEFET/MG
Angela Thalassa, Faculdade de Arujá / IESA
Débora C. Piotto, USP
Marcelo Parizzi Marques Fonseca, UFSJ

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Homenagem ao "nosso dia"...do professor...

Velha ode aos professores

Juremir Machado da Silva no CP de hoje

Recebi esta pergunta: “Por que o senhor defende tanto os professores?” Achei, inicialmente, a pergunta estranha. Afinal, a resposta sempre me parecera óbvia. Depois, comecei a responder para mim mesmo. Embora seja impossível estabelecer objetivamente um ranking de profissões, eu acho o trabalho de professor o mais importante que existe, especialmente o de professor de ensino fundamental e médio, função que nunca exerci, embora tenha chegado a passar num concurso. Sei da importância dos médicos, dos engenheiros, dos padeiros, dos lixeiros e de tantos outros profissionais. Mesmo assim, considero que o professor é a base de tudo.
Por pensar assim, sempre vejo como injustos e até mesmo absurdos os salários pagos aos professores do ensino público. Não consigo aceitar que qualquer jogador de futebol ruim ganhe mais do que um professor. Esperamos dos professores que eles eduquem os nossos filhos, dando-lhe conhecimentos e valores. Depositamos enormes esperanças na atividade desses mestres de poucos recursos e muita perseverança. Cobramos muito. Pagamos pouco. A desculpa é sempre a mesma: os cofres públicos não comportam salários maiores para uma categoria tão numerosa. Essa explicação sempre me parece fácil, simplória, hipócrita e até canalha. É uma maneira de levar as mãos. A culpa não é só dos governantes. É da sociedade. Por que não nos organizamos para pagar melhor os professores? Outro dia, na Rádio Guaíba, o senador Paulo Paim nos garantiu que não existe o rombo da Previdência Social. Autorizou-me a chamar de mentiroso quem afirme o contrário. Não perderei a oportunidade.
De minha parte, farei uma afirmação categórica: a sociedade brasileira pode pegar melhor seus professores. Não o faz por não os valorizar suficientemente. Volta e meia, ouço alguém atacar os professores dizendo algo assim: “Se não estão satisfeitos que mudem de profissão”. Nunca ouço argumento semelhante aplicado aos grandes proprietários que pedem subsídios aos governos. Os professores viraram saco de pancada. Os governantes empurram com a barriga o eterno problema dos baixos salários. Por toda parte, vejo professores trabalhando duro e ganhando pouco. Ser professor é cada vez mais difícil e bonito. Hoje, além de saber passar informações, é preciso saber educar num ambiente de liberdade. Muita gente tem saudades dos castigos corporais e dos métodos medievais nas escolas. São os mesmos que sentem saudade da ditadura militar e que fecham os olhos para a tortura.
Imagino um leitor conservador dizendo-se que estou empilhando clichês ou fazendo demagogia. Num ano eleitoral, eu espero que algum candidato apresente um plano consistente para a educação. Teria meu voto. Toda hora alguém diz que só a educação muda um país. Para que a educação mude um país, no entanto, o país precisa mudar a sua educação. Um bom começo seria pagar melhor os professores. Eu não me importaria de pagar mais impostos para isso. Pagar impostos pode ser muito bom. Faz bem para a sociedade. Não há serviços sem impostos. Jamais.
Espero que o novo governo gaúcho pague o piso estabelecido por lei federal aos professores.
Será um grande avanço.
É uma questão de mérito.
Feliz dia dos professores a todos os mestres do Rio Grande do Sul!

A Geopolítica da internet

Domenico Losurdo*
 
Através de vários casos comprovados, Doménico Losurdo diz-nos como «Os grandes grupos Internet tornaram-se num instrumento da geopolítica EUA. Anteriormente, eram necessárias laboriosas operações secretas para apoiar movimentos políticos em países longínquos. Actualmente basta muitas vezes um pouco de técnica da comunicação manobrada a partir do ocidente […] O serviço secreto tecnológico dos EUA, a National Security Agency, está em vias de montar uma organização totalmente nova para as guerras na Internet».

O Google desafia o governo da República Popular da China: a grande imprensa de «informação» aplaudiu sem reservas o rigor moral e a coragem duma multinacional disposta a pagar caro em termos económicos para não se submeter às imposições da censura e reafirmar o direito humano à livre informação. Na verdade, embora de modo muito reduzido, também se fizeram ouvir algumas vozes apelando a uma maior prudência: teria havido apenas nobres motivações para explicar a posição do Google ou também haveria considerações de outra natureza? O grandioso gesto podia ser apenas um golpe de teatro numa habilidosa campanha de relações públicas: virar as costas desassombradamente a um mercado, embora prometedor, mas em que a concorrência local é feroz e conquistadora, pode vir a ser benéfico para a imagem e para os lucros da multinacional americana, abrindo-lhe o caminho para uma expansão noutros países e a nível mundial… E assim, no cenário traçado na Itália pelos órgãos de imprensa mais «não-conformistas», o cálculo utilitário aparece ao lado dos direitos do homem. A geopolítica, pelo contrário, continua a estar ausente, apesar de, para um observador mais atento, ser ela o autêntico protagonista.
Para o verificarmos, demos um salto atrás de cerca de sessenta anos e concentremo-nos num incidente, reconstruído aqui a partir dum recente artigo de Alessandra Farkas no Corriere della Sera.
“Uma misteriosa epidemia de loucura colectiva
A 16 de Agosto de 1951, fenómenos estranhos e inquietantes vieram perturbar Pont-Saint-Esprit, «uma aldeia tranquila e pitoresca» situada «a sudeste da França». Sim, «a região foi sacudida por uma misteriosa epidemia de loucura colectiva. Morreram pelo menos cinco pessoas, dezenas foram parar ao hospício, centenas mostraram sinais de delírio e de alucinações […] Muitas delas foram parar ao hospital com uma camisa-de-forças». O mistério, que durante muito tempo rodeou este ataque de «loucura colectiva» já se dissipou: tratou-se duma «experiência efectuada pela CIA, com a Divisão Especial de Operações (SOD), a unidade secreta do exército dos EUA de Fort Detrick em Maryland»; os agentes da CIA «contaminaram com LSD o pão vendido nas padarias da região», provocando os resultados que descrevemos acima. Estamos no início da guerra-fria: claro que os Estados Unidos eram aliados da França, mas foi exactamente por isso que esta se prestou às experiências de guerra psicológica que obviamente tinham como objectivo o «campo socialista» (e a revolução anti-colonialista) mas dificilmente podiam ser efectuadas nos países situados por detrás da cortina de ferro.
Então a pergunta que se põe é esta: a excitação das massas só podia ser provocada através da via farmacológica? Os acontecimentos que, no final da guerra-fria, varreram o «campo socialista», de resto amplamente desacreditado e enfraquecido, dão que pensar. A 17 de Novembro de 1989, a «revolução de veludo» triunfava em Praga, com uma palavra de ordem que se pretendia inspirada em Gandhi: «Amor e Verdade». Na realidade – confessa hoje o International Herald Tribune – o papel decisivo foi desempenhado pela difusão duma notícia falsa segundo a qual um estudante tinha sido «brutalmente assassinado» pela polícia. Se, no caso da Checoslováquia foram suficientes duas «pequenas» manipulações (por um lado a transfiguração dos líderes da revolta em seguidores devotos de Ghandi no culto da verdade e da não-violência, por outro a produção inteligente e a difusão de «notícias» destinadas a suscitar a indignação das massas), a promoção da revolta que derrubou a ditadura de Ceausescu na Roménia, semanas depois foi mais complicada. A encenação, nas suas linhas gerais, não varia: tratou-se sempre de desacreditar e até mesmo de diabolizar o poder a derrubar, para o transformar num alvo fácil da indignação das massas alimentada sabiamente e sem sombra de escrúpulos. Pois é, mas como atingir esse objectivo na situação concreta da Roménia no final de 1989? A partir de certa altura, os meios de comunicação ocidentais começaram a difundir maciçamente na população romena, e a bombardeá-la mesmo, com informações e imagens do «genocídio» perpetrado em Timisoara pela polícia de Ceausescu. O que é que aconteceu na realidade? Passemos a palavra a um prestigiado filósofo (Giorgio Agamben) que não é propriamente um crítico da ideologia dominante mas que sintetizou de modo magistral a questão que estamos a tratar:
«Pela primeira vez na história da humanidade, cadáveres acabados de enterrar ou alinhados nas mesas das morgues foram desenterrados à pressa e torturados para, em frente das câmaras, simular o genocídio que devia legitimar o novo regime. O que o mundo inteiro teve debaixo dos olhos em directo nos ecrãs da televisão, como sendo verdade era a não verdade absoluta; e embora a falsificação por vezes fosse evidente, era de qualquer modo autenticada como uma verdade pelo sistema mundial dos meios de comunicação, para que se tornasse claro que a verdade passara a ser apenas um momento do movimento necessário da falsidade».
O fim da guerra-fria não era o fim do Grande jogo. Para os EUA, não bastava liquidar o «campo socialista» e desmembrar a União Soviética; também era preciso promover e impor na Europa oriental a ascensão ao poder de líderes completamente ligados a Washington. Na Geórgia, a certa altura até Edouard Chevardnadze (até então estimado e apreciado no ocidente pelo papel «democrático« que tinha desempenhado ao lado de Gorbatechev na dissolução do «campo socialista» e, posteriormente, ultrapassando o próprio Gorbatchev, na dissolução da União Soviética) se tornou num líder indesejável e a substituir.
Foi a tarefa confiada à famosa «revolução das rosas». Concentro-me nalguns dos seus momentos chave, servindo-me da reconstrução aparecida numa reputada revista francesa de geopolítica. Televisões georgianas nas mãos da oposição e dos meios de comunicação ocidentais empenharam-se numa campanha conjunta e infindável:
«A corrupção do regime é apresentada sob todos os seus aspectos. Não hesitando o recurso à mentira em caso de necessidade. Em meados de Novembro, revistas alemãs afirmam que pessoas próximas de M. Chevardnadze lhe compraram uma luxuosa moradia na cidade termal de Baden-Baden, no sul da Alemanha. A Bild afirma que a residência está avaliada em 11 milhões de euros. A informação não é confirmada. Não interessa […] Uma das nossas fontes informar-nos-á posteriormente que a foto apresentada foi recolhida ao acaso na Internet».
Depois da proclamação dos resultados eleitorais que confirmam a vitória de Chevardnadze e que são acusados de fraudulentos pela oposição, esta decide organizar uma marcha em direcção a Tbilissi, que deveria confirmar «a chegada simbólica e pacífica à capital de todo o país em fúria». Embora convocados em todos os cantos do país com grande apoio de meios propagandistas e financeiros, nesse dia apareceram para a marcha entre 5000 a 10.000 pessoas: «para a Geórgia, isso não era nada»! Mas, graças a uma encenação sofisticada e altamente profissional, a cadeia de televisão mais vista do país consegue transmitir uma mensagem totalmente diferente:
«A imagem está aqui, poderosa, a de todo um povo que segue o seu futuro presidente». A partir daí, as autoridades politicas são consideradas ilegítimas, o país fica desorientado e confuso, e a oposição mais arrogante e mais agressiva do que nunca, tanto mais que os meios de comunicação internacionais e as chancelarias estrangeiras a encorajam e a protegem. O golpe de estado está maduro, vai levar ao poder Mikhaïl Saakashvili, que fez os seus estudos nos EUA, fala um inglês perfeito e está em posição de compreender rapidamente as ordens dos seus superiores.
As «guerras na Internet»
Até agora temos visto a transformação da «não verdade absoluta» em «verdade verdadeira» e incontestável passar em primeiro lugar nos «ecrãs da televisão» enquanto que o papel da Internet era secundário e negligenciável. Mas é interessante assinalar que, a partir do fim dos anos 90, no International Herald Tribune um jornalista (Bob Schmitt) observava: «As novas tecnologias alteraram a política internacional». Aqueles que estavam em posição de as controlar viam aumentar desmesuradamente o seu poder e a sua capacidade em desestabilizar países mais fracos e tecnologicamente menos avançados.
Com efeito, com a chegada e a generalização da Internet, do Facebook, do Twitter, apareceu uma nova arma, susceptível de modificar profundamente as relações de força no pano internacional. Isto já não é um segredo para ninguém. Actualmente, nos EUA, um rei da sátira televisiva como Jon Stewart proclama: «Mas porque é que estamos a enviar exércitos se é mais fácil deitar abaixo uma ditadura via Internet do que comprar um par de sapatos?» O significado militar das novas tecnologias está aqui explicitamente sublinhado e reivindicado: sem tocar no direito de Washington a julgar e a condenar de modo soberano, a partir de agora é possível recorrer a armas novas e mais sofisticadas para punir os culpados e os rebeldes.
Mas a Internet não é ela mesma a expressão da liberdade de expressão? Os que argumentam isto são só os menos dotados (e os menos escrupulosos). Na realidade – reconhece Douglas Paal, ex-colaborador de Reagan e de Bush sénior – a Internet é actualmente «gerada por uma ONG que não passa de uma emanação do Departamento do Comércio dos EUA». Mas trata-se apenas de comércio? O semanário alemão Die Zeit pede esclarecimentos a James Bamford, um dos maiores especialistas sobre os serviços secretos americanos: «Os chineses também receiam que empresas americanas como o Google sejam em última análise instrumentos dos serviços secretos americanos em território chinês. Será isso uma atitude paranóica?» «De modo nenhum» é a resposta imediata. Pelo contrário – acrescenta o especialista – até «organizações e instituições estrangeiras estão infiltradas» pelos serviços secretos americanos, que estão sempre em condições de interceptar comunicações telefónicas em todos os cantos do planeta e devem ser considerados como «os maiores piratas informáticos do mundo».
A partir da agora – afirmam ainda no Die Zeit dois jornalistas alemães – não há quaisquer dúvidas:
«Os grandes grupos Internet tornaram-se num instrumento da geopolítica EUA. Anteriormente, eram necessárias laboriosas operações secretas para apoiar movimentos políticos em países longínquos. Actualmente basta muitas vezes um pouco de técnica da comunicação manobrada a partir do ocidente […] O serviço secreto tecnológico dos EUA, a National Security Agency, está em vias de montar uma organização totalmente nova para as guerras na Internet».
À luz de tudo isto, convém reler certos acontecimentos recentes de explicação difícil. Em Julho de 2009 ocorreram incidentes sangrentos em Urumqi e em Xinjiang, uma região da China habitada sobretudo por ouigours. São explicados pela discriminação e pela opressão à custa de minorias étnicas e religiosas? Não parece muito plausível uma abordagem desse tipo, pelo menos a julgar pelo que refere o correspondente de Pequim de La Stampa (Francesco Sisci):
«Numerosos hans de Urumqi queixam-se dos privilégios de que os ouigours desfrutam. De facto, estes, enquanto minoria nacional muçulmana, têm condições de trabalho e de vida muito melhores que os seus colegas hans, em igualdade de situação. Os ouigours, no seu escritório, têm autorização para suspender o seu trabalho várias vezes por dia para efectuar as cinco orações muçulmanas diárias tradicionais […] Além disso, podem não trabalhar à sexta-feira, dia santo muçulmano. Em teoria, deviam compensar ao domingo. Mas ao domingo os escritórios estão fechados […] Um outro ponto doloroso para os hans, submetidos à dura política de unificação familiar que continua a impor um filho único, é que os ouigours podem ter dois ou três filhos. E, enquanto muçulmanos, têm subsídios para além do salário dado que, como não podem comer carne de porco, têm que recorrer ao carneiro que é mais caro».
Isto não bate certo com a acusação feita pela propaganda ocidental de que o governo de Pequim quer eliminar a identidade nacional e religiosa dos ouigours. Então, como é?
Reflictamos sobre a dinâmica dos incidentes. Numa cidade do litoral chinês onde, apesar das diferentes tradições culturais e religiosas pré-existentes, os hans e os ouigours trabalham lado a lado, espalha-se de repente o boato segundo o qual uma rapariga han foi violada por operários ouigours; daí ocorrem incidentes durante os quais são mortos dois ouigours. O boato que provocou essa tragédia era falso mas eis que logo a seguir se espalha um segundo boato ainda mais grave e ainda mais funesto: a Internet difunde na sua rede a notícia segundo a qual na cidade do litoral chinês teriam sido mortos centenas de ouigours, massacrados pelos hans sob a indiferença e até mesmo a complacência da polícia. Resultado: tumultos étnicos no Xinjiang, que provocam a morte de quase 200 pessoas, desta vez quase todas hans.
Pois bem, estaremos na presença duma intriga infeliz e casual de circunstâncias ou da difusão de boatos falsos e tendenciosos com vista ao resultado que se constatou efectivamente na sua sequência? Volta assim à nossa memória a «experiência feita pela CIA» no verão de 1951, que provocou «uma misteriosa epidemia de loucura colectiva» na «pitoresca e tranquila aldeia» de Pont-Saint-Esprit. E de novo nos vemos obrigados a fazer a pergunta inicial: a «loucura colectiva» pode ser produzida apenas por via farmacológica ou pode ser hoje também o resultado do recurso a «novas tecnologias» da comunicação de massas?

Quem são os “ciberidiotas?

Uma coisa é certa: aqueles que são os alvos das «guerras na Internet» não ficam de braços caídos: como em todas as guerras os fracos procuram compensar a sua desvantagem aprendendo com os mais fortes. E eis que esses gritam com escândalo: «No Líbano” – podemos ler no Corriere della Sera de 20 de Março – «aqueles que dominam os meios de comunicação noticiosos e as redes sociais não são as forças políticas pró-ocidentais que apoiam o governo de Saad Hariri, mas os ‘Hezbollah». Esta observação origina um suspiro de desânimo: ah como seria bom se, como aconteceu com a bomba atómica e com as armas (propriamente ditas) mais sofisticadas, e também com as «novas tecnologias» e as novas armas da informação e a desinformação de massas, fossem os países que infligem um martírio interminável ao povo palestino e que querem continuar a exercer uma ditadura terrorista no Médio Oriente, a deter o monopólio! O facto é – lamenta-se Moises Naïm, director da «Política Externa« – que os EUA, Israel e o ocidente já não lidam com os «ciberidiotas de antigamente». Estes «contra-atacam com as mesmas armas, exercem a contra-informação, envenenam os poços»: uma verdadeira tragédia do ponto de vista dos paladinos da «liberdade de informação» e do «pluralismo».
Infelizmente, os estrategas e os ideólogos do Pentágono e do Departamento de Estado ainda podem encontrar actualmente alguns motivos sólidos de consolação: em vez de estarem dispersos, os ciberidiotas mostram-se mais vivos do que nunca à «esquerda»: estão empenhados em apresentar as manobras turvas do Google como o desafio lançado pelo David da liberdade e da verdade contra o Golias da autocracia e da censura!
Textos citados:
• Thomas FISCHERMANN, encontro com James BAMFORD, “Passen Sie auf, was Sie tippen”, in Die Zeit de 18 Fevereiro 2010, pp. 20-21.
• Alessandra FARKAS, “La Cia drogò il pane dei francesi. Svelato il mistero delle baguette che fecero ammattire un paese nel ‘51”, (A CIA drogou o pão dos franceses. O mistério das baguetes que enlouqueceram uma aldeia em 1951), in Corriere della Sera de 13 Março 2010, p. 25.
• Thomas FISCHERMANN, Götz HAMANN, “Angriff aus dem Cyberspace”, in Die Zeit de 18 Fevereiro 2010, pp. 19-21.
• Massimo GAGGI, “Un’illusione la democrazia via web. Estremisti e despoti sfruttano Internet” (Uma ilusão a democracia via Internet. Extrémistas e déspotas exploram a Internet), in Corriere della Sera de 20 Março 2010, p. 21.
• Domenico LOSURDO, “La non-violenza. Una storia fuori dal mito, Roma-Bari, Laterza”, 2010, cap. IX (para a Checoslováquia, a Roménia e para o quadro geral).
• Maurizio MOLINARI, encontro com Douglas PAAL, “Questo è l’inizio di uno scontro tra due civiltà” (Isto é um choque entre duas civilizações ), in La Stampa de 23 Janeiro 2010, p. 7.
• Bob SCHMITT, “The Internet and International Politics”, in The International Herald Tribune de 2 Abril 1997, p. 7.
• Francesco SISCI, “Perché uno han non sposerà mai una uigura” (Porque é que un Han nunca casará com uma Ouigour), in La Stampa de 8 Julho 2009, p. 17.
* Doménico Losurdo, filósofo, Professor da Universidade de Urbino, é amigo e colaborador de odiario.info.
Este texto foi publicado na revista Belfagor. Rassegna di varia umanità, dirigida por Carlo Ferdinando Russo, 31 Julho 2010, p. 489-494. Rome.
Tradução de Margarida Ferreira.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Uma esquerda responsável num momento decisivo...

É preciso derrotar Serra

A candidatura do demotucano José Serra surpreendeu não por sua identificação com as políticas neoliberais, e sim pelo baixo nível de sua campanha.

Editorial do BrasilDeFato

No início do processo eleitoral deste ano, um conjunto de forças populares e movimentos sociais decidiram empenhar esforços para eleger o maior número possível de parlamentares e governadores identificados com as bandeiras da classe trabalhadora. E, nesse cenário, sobre o pleito presidencial, a unidade se deu em torno da luta para evitar um retrocesso ao país. Ou seja, não permitir a vitória da proposta neoliberal, representada na candidatura do tucano José Serra. Assim, passado o primeiro turno, realizado no dia 3 de outubro, é importante fazer uma avaliação do que significou esse processo. Até porque a expectativa era de vitória da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno.
Importantes avanços
 
São boas as renovações que ocorreram nas assembleias estaduais, na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, na eleição e reeleição de governadores progressistas. Nesse sentido, destacamos a vitória do povo gaúcho, que derrotou o mandato tucano de Yeda Crusius. Candidata à reeleição ao governo do Rio Grande do Sul, Yeda se notabilizou no controle da mídia, na criminalização dos movimentos sociais e na repressão à luta dos trabalhadores.

Campanha presidencial
 
É importante ressaltar que, nesta a campanha presidencial, os graves problemas do povo ficaram ausente do processo. Evidenciou-se que a falta de debates em torno de projetos políticos e dos problemas principais que afetam a população brasileira. Assim, a campanha de Dilma Rousseff buscou apenas divulgar o desenvolvimento econômico e as políticas sociais do governo Lula e apoiar-se na popularidade do atual presidente. Com essa estratégia, obteve quase 47% dos votos, mas insuficientes para vencer no primeiro turno.

A candidatura do demotucano José Serra surpreendeu não por sua identificação com as políticas neoliberais, e sim pelo baixo nível de sua campanha. Foi agressivo, tentou interferir em julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF), espalhou mentiras e acusações infundadas. Independente de qualquer outro resultado, a biografia do candidato já é a maior derrotada nessas eleições.

Já as candidaturas identificadas com os partidos de esquerda, que utilizaram o espaço eleitoral para defender os interesses da classe trabalhadora, infelizmente tiveram uma votação baixa.

Outro elemento importante neste atual quadro é o descenso social de duas décadas em nosso país. A fragmentação das organizações da classe trabalhadora e a fragilidade da política de comunicação com a sociedade também influíram no resultado eleitoral.

Assim, as eleições deste ano demonstraram o poder nefasto e antidemocrático da mídia. Mas, por outro lado, potencializaram uma rede de comunicadores independentes, comprometidos com a liberdade de expressão, que enfrentaram o monopólio dos meios de comunicação. São avanços importantes rumo à democratização da informação e pelo controle social sobre meios de comunicação em nosso país.

Segundo turno
 
No dia 31, o povo brasileiro terá de fazer sua escolha. De um lado, o demotucano José Serra. E, como já dissemos aqui neste espaço, atrás da candidatura Serra estão as forças do capital mais atrasadas e subservientes ao império estadunidense, os grandes bancos, a grande indústria paulista, o latifúndio atrasado de Kátia Abreu e o agronegócio "moderno" do etanol. Seu programa é um só: a volta do mercado, benefícios para as empresas e a repressão para conter as demandas sociais. Seria a prioridade no programa dos PPPs já aplicado em São Paulo: privatizações, pedágios e presídios.

De outro lado, a candidatura de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT). Também como já dissemos, a candidatura Dilma representa continuidade do governo Lula e tem forças sociais entre a burguesia (temerosa da reação das massas), setores da classe média que melhoraram de vida e amplos setores da classe trabalhadora. Praticamente todas as forças populares organizadas têm sua base social apoiando a candidata petista.

Assim, o conjunto das forças populares e movimentos sociais, que mantêm o compromisso de defesa das bandeiras de lutas da classe trabalhadora e da construção de um país democrático, socialmente justo e soberano, defendem a candidatura de Dilma. Mas manterá a autonomia de luta independente do governo eleito.

Infelizmente, os avanços do governo Lula em direção às bandeiras democrático-populares foram insuficientes, em que pese o acerto de sua política externa. Também preocupa constatar que, no arco de alianças da candidatura de Dilma Rousseff, há forças políticas que se contrapõem a essas demandas sociais.

Porém, fica uma certeza: José Serra, por sua campanha, pelo seu governo em São Paulo e pelos oito anos de governo FHC, tornou-se inimigo da classe trabalhadora e das nossas bandeiras de lutas. Pelo caráter anti-democrático e anti-popular dos partidos que compõem sua aliança e por sua personalidade autoritária, uma possível vitória sua significará um retrocesso para os movimentos sociais e populares em nosso país. Além disso, uma eventual vitória do demotucano será um retrocesso para as conquistas democráticas em nosso continente e representará uma maior subordinação aos interesses do império estadunidense.

Evitar o retrocesso

Por isso, frente a esse cenário, as forças populares e os movimentos sociais da Via Campesina declaram seu apoio e compromisso de lutar para eleger a candidata Dilma Rousseff. E o Brasil de Fato soma-se a essas organizações no sentido de derrotar o demotucano Serra e tudo o que sua candidatura representa. Ou seja, é preciso derrotar a candidatura Serra, pois ela representa as forças direitistas e fascistas do país.

Mas alertamos. É importante seguir organizando o povo para que lute por seus direitos e mudanças sociais profundas, mantendo a autonomia frente aos governos.

o Brasil vive a encruzilhada mais séria desde 64


Neste momento, o mais importante é que tenhamos todos muito claro, o que significam as duas candidaturas, onde se diferenciam fundamentalmente, e as conseqüências que enfrentaremos com a eleição de uma ou do outro dos candidatos. A unidade, neste segundo turno, em torno da candidatura de Dilma Rousseff – do meu ponto de vista – tem um claro caráter de frente antifascista.

Por Alípio Freire* no vermelho

Ainda que possa parecer que estou "chovendo no molhado", sinto-me no dever de repetir: vivemos hoje, no Brasil, a encruzilhada das mais sérias desde o golpe de 64.

Não interessa muito, a esta altura, as nossas opiniões pessoais sobre os limites das políticas do Partido dos Trabalhadores; da sua política de alianças; do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva; etc. Interessa menos ainda as nossas simpatias pessoais ou opiniões pontuais sobre a candidata Dilma Rousseff (minha candidata desde o primeiro turno).

O que escolhemos nesta eleição é simplesmente o seguinte: ou vamos com a candidata Dilma, e os seus limites, ou escolhemos o candidato da santa aliança DEM-Tucanos, o senhor José Serra, com sua absoluta falta de limites políticos, éticos e morais.

Não adianta mais discutirmos as falcatruas com as verbas públicas levadas a cabo pelo dois blocos que hoje polarizam a disputa: tolice descobrir ou avaliar quem roubou mais, se os Sarney ou os Henrique Cardoso; se este ou aquele dirigente petista, ou o ministro Sérgio
Motta para a compra do Congresso visando o segundo mandato para o Príncipe dos Sociólogos; se os filhos deste ou daquele presidente, ou daquele governador cuja descendência praticamente monopolizou os pedágios de São Paulo privatizados pelo pai, etc. etc. etc.

Obviamente todas essas coisas estão erradas e, se nos afligem não importando qual dos lados as tenha praticado. Para o bloco DEM-Tucanos, não há qualquer reação de repúdio ou censura aos seus membros que assim sempre agiram, agem e agirão: não enrubescem. Pelo contrário, providenciam apenas os Gilmar Mendes para colocar na presidência do STF. Na verdade, o DEM saqueia o país, desde antes de sermos Brasil, quando este território atendia apenas e genericamente por Pindorama, e aqui desembarcaram em 1500.

Nos ancestrais do DEM, está a responsabilidade de todas as mazelas que vimos herdando há tantas gerações. No DEM está a matriz da corrupção, do Estado autoritário, da escravidão, da
tortura, da repressão e de todas as misérias que assolam o país e que conhecemos sobejamente.

Mas não é isto o que fundamentalmente está em jogo neste momento. Também não está em jogo o programa econômico (macro) das duas candidaturas – na atual conjuntura internacional, e com as estratégias definidas por vários dos partidos de esquerda, essas políticas econômicas dificilmente poderiam ser outras que não as que estão na praça. No entanto, entre uma perspectiva de crescer com distribuição de renda ou com concentração de rendas, sem sombra de dúvidas, a primeira alternativa (representada pela candidatura Dilma Rousseff) é a que mais convém ao nosso povo.

Chamo a atenção de alguns camaradas mais radicalizados para o seguinte: não haverá Armagedon ou Apocalipse Socialista. O povo não morrerá de fome hoje, para ressuscitar em pleno Esplendor da Aurora Socialista, quando os rios jorrarão leite e mel.

Não haverá qualquer profeta Daniel do Velho Testamento, ou o São João, do Novo Testamento, capaz de prover milagre de tamanha envergadura. Isto não existe, senão nas pobres cabeças de alguns, acostumados a fazer três refeições por dia, e a não passar frio nem calor, resguardados por um conforto que deveria ser igual para todos.

Mas, muito mais que isto, o que está em jogo nesta eleição é ainda mais grave que esta escolha de programa de crescimento. Trata-se, na verdade, de escolhermos entre uma
candidata que quer e fará o possível para nos preservar do fascismo que se expande em
todo o mundo (sobretudo nos países centrais do capitalismo), ou um candidato cuja campanha e cujas declarações e estratégias apontam para um alinhamento exatamente com o fascismo.

E não se trata de figura de retórica, discurso de palanque, o que aqui escrevo. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos cresce a xenofobia, o ódio contra os trabalhadores imigrantes; enquanto na Itália o Congresso aprova uma lei que permite e estimula a criação de "rondas de
cidadãos" (leia-se, formação de milícias paramilitares); enquanto na Suécia, a ultradireita conquista cadeiras no Parlamento; enquanto na Holanda, a ultradireita cresce no Parlamento – podendo vir a se tornar maioria; enquanto o Governo de Washington – mascarado pela
melanina do seu presidente - barra o acordo Brasil-Turquia-Irã, que poderia abrir um importante canal de negociações pacíficas para aquela região que vive hoje a ameaça de invasão pelos EUA e seus aliados, tipo as que foram levadas a cabo no Iraque e no Afeganistão – ocupados até hoje, a ferro e fogo, pela democracia estadunidense; etc. etc. etc. O senhor candidato da aliança DEM-Tucanos segue a mesma linha em sua campanha.

Sim, meus camaradas e amigos e amigas: a linha de campanha do senhor José Serra é uma linha fascista. E não é necessária muita análise ou qualquer metafísica para concluirmos isto: quando o senhor José Serra ataca sua adversária por ter lutado bravamente na resistência contra a ditadura, o senhor José Serra não apenas tenta criminalizar a candidata Dilma Rousseff e todos os seus companheiros e companheiras de lutas dos anos 1960-1970, quando os liberais – longe de se oporem à ditadura (o que só farão a partir da metade da década de 1970), serviam de sustentação àquele regime. Significa criminalizar todos os que lutam hoje por seus direitos, todos os movimentos e organizações dos trabalhadores e do povo – como aliás têm agido as PMs nos Estados governados pela santa aliança que sustenta a candidatura do senhor José Serra. Isto é fascismo.

Quando o senhor José Serra coloca a questão do aborto e sua estigmatização, como divisor de águas entre ele e a candidata Dilma Rousseff – estamos exatamente no terreno da intolerância
fascista.

Quando o senhor José Serra tenta transformar a disputa política numa guerra religiosa - estamos no terreno privilegiado do fascismo.

Aliás, a este respeito, um certo filósofo alemão de origem judaica, já nos advertia no século 19 sobre as guerras religiosas enquanto o mais baixo degrau da política, e suas conseqüências
para a maioria do povo. Fomentar a intolerância religiosa (ou qualquer outro tipo de intolerância) é fascismo.

Quando o senhor José Serra participa de rega-bofes no Clube Militar e estimula os encontros entre esses que deveriam ser os guardiões da legalidade e da nossa Constituição, e os lambe-botas da grande mídia comercial que pregam sem pejo e desabridamente o golpe contra as nossas instituições, estamos cara a cara com o fascismo.

Quando o senhor José Serra se dirige ao Clube do Pijama, que reúne a nata do que há de pior e mais reacionário dos oficiais da Reserva (e que garantiu a ferro e fogo, à base de seqüestros de opositores, aprisionamentos em cárceres clandestinos, torturas, assassinatos e ocultação de cadáveres, os 25 anos de ditadura), ressuscitando fantasmas tipo "República Sindical" e outros jargões que serviram de mote para o golpe de 1964, o senhor José Serra se comporta como um fascista.

Quando o senhor José Serra se articula com a grande mídia comercial para divulgar todo tipo de mentiras e aleivosias contra a candidata Dilma Rousseff e seus apoiadores, sem a menor vergonha de falsificar e publicar uma suposta ficha dos órgãos de repressão da ditadura sobre candidata Dilma Rousseff, o senhor Serra age como um fascista.

Quando o senhor José Serra conquista como apoiadores e se reúne com organizações paramilitares – verdadeiras societas sceleris – como a Tradição Família e Propriedade – TFP, e o Comando de Caça aos Comunistas – CCC, o senhor José Serra está se articulando com fascistas.

E somente fascistas se articulam com fascistas.

Quando o senhor José Serra, em atos aparentemente menores (e apenas demagógicos), como na sua lei antifumo, ou na criação da "nota paulista", e não equipa o Estado da quantidade adequada de funcionários para o controle dessas questões, transferindo esse controle para os cidadãos, estamos frente ao pior dos fascismos: a tentativa de transformar os cidadãos e cidadãs num grande exército de dedos duros e alcaguetes, um verdadeiro embrião das "rondas de cidadãos" do senhor Berlusconi.

Muito mais poderíamos apontar como atos que fazem do senhor José Serra um fascista. A lista, no entanto, seria grande demais (uma verdadeira lista telefônica).

Neste momento, o mais importante é que tenhamos todos muito claro, o que significam as duas candidaturas, onde se diferenciam fundamentalmente, e as conseqüências que enfrentaremos com a eleição de uma ou do outro dos candidatos.

A unidade, neste segundo turno, em torno da candidatura de Dilma Rousseff – do meu ponto de vista – tem um claro caráter de frente antifascista.

Sem sombra de dúvida, a unidade em torno do entendimento acima exposto sobre o significado das duas candidaturas e, em conseqüência, a escolha da candidata Dilma Rousseff constituem um ponto de partida fundamental.

Apesar disto, não é suficiente, não basta. É necessário um passo a mais.

É necessário que nos organizemos e passemos à ação, de forma articulada com o geral da campanha. É necessário, portanto, que procuremos os comitês de campanha dos partidos aos quais sejamos filiados, ou os comitês suprapartidários que apóiam a nossa candidata.

Neste momento, circulam dezenas de manifestos de setores sociais, profissionais, religiosos, etc., com milhares de assinaturas em apoio à candidata Dilma Rousseff. É óbvia a importância de fazermos com que circulem em nossas listas via internet. No entanto, se nos detivermos apenas nisto, corremos o risco de conversarmos sempre e apenas entre nós. E é fundamental que consigamos sair do nosso círculo. Creio que uma boa maneira de fazê-lo, de sairmos
da tentação do espelho, seria – e que proponho – que reproduzíssemos grandes quantidades desses manifestos e, em grupos, fôssemos distribuí-los, nos locais de concentração dos sujeitos aos quais se dirigem esses manifestos e abaixo-assinados.

Por exemplo: o recente documento assinado por religiosos e leigos católicos e evangélicos. Podemos reproduzi-lo e panfletarmos organizadamente nas saídas das igrejas e templos, conversando com as pessoas, explicando, convencendo aqueles que ainda tenham dúvidas, etc. Com o manifesto dos juristas, como um segundo exemplo, faríamos panfletagens nas portas de fóruns e tribunais nos horários de entrada e saída do pessoal, e assim por diante.

Temos de vencer o poder da grande mídia.

Para isto, vamos todos para as ruas, praças e avenidas – espaços privilegiados da nossa luta, pois é neles que podemos ser mais fortes.

*Alipio Freire é jornalista, escritor e membro do Conselho Editorial do Brasil de Fato.

Fundada a Associação dos Blogueiros Progressistas do Paraná

Lideranças e ativistas populares, preocupados com o recrudescimento da repressão contra blogs e outros meios alternativos paranaenses que navegam contra a corrente conservadora no estado, criaram a Associação dos Blogueiros Progressistas do Paraná (ABPP). O ato aconteceu em Curitiba, por aclamação, durante assembléia realizada na sede do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Paraná – Sindijus, na noite da última sexta, dia 8.
O surgimento da associação é uma consequência direta da participação de blogueiros paranaenses no Primeiro Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que aconteceu entre os dias 20 e 22 de agosto, em São Paulo (SP). Naquela oportunidade, criou-se o comitê para organizar o I Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas no Paraná (I EEBP-PR), marcado para os dias 26, 27 e 28 de novembro de 2010, em Curitiba, e terá como tema: “A cidadania ativa na Internet: o caráter revolucionário dos blogs. O desafio do Paraná”. Terá como objetivos disseminar o fenômeno dos blogs no Paraná e ampliar o número de agentes ativos na blogosfera como forma de aprofundar o conteúdo de cidadania da Internet.
Além do I EEBP-PR, ficou definido que sindicatos e partidos políticos progressistas serão convidados para fazer parte do “Movimento Paranaense pelo Direito à Comunicação” – organizado pela recém-criada associação, como resposta à perseguição à mídia livre e independente e aos blogueiros progressistas, em especial, ao jornalista Esmael Morais, que foi eleito diretor da entidade.
Na mesma direção, a diretoria provisória resolveu realizar um “Ato em Defesa da Liberdade de Expressão e da Mídia Alternativa”, em respeito ao artigo 220 da Constituição Federal, a ser realizado no próximo dia 21, às 19h, na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor), na capital paranaense.
A diretoria provisória da Associação dos Blogueiros Progressistas do Paraná é a responsável por realizar as primeiras eleições da entidade e está assim definida:

Presidente: Sérgio Luís Bertoni (www.tie-brasil.org)
Vice-Presidente: Mário Candido de Oliveira (www.porumparanamelhor.com/ma...)
Secretário Geral: Ivo Augusto de Abreu Pugnaloni (www.porumparanamelhor.com/ma...)
Tesoureira: Nelba Maria Nycz de Lima (http://midiacrucis.wordpress.com)
Diretor de TI: Walter Koscianski (www.engajarte-blog.blogspot.com)
Diretor de Comunicação: Edson Osvaldo Melo (http://blogdoedsonmelo.blogspot.com)
Diretor Jurídico: a definir
Diretor de Mobilização: Esmael de Morais (www.esmaelmorais.com.br)
Conselho Fiscal: Paulo Afonso Nietsche (www.naluta.net), Robson Jamaica (http://protesto-jamaica.zip.net/)

Mineiros chilenos, vítimas da flexibilização trabalhista


Emir Sader no CartaMaior

O presidente chileno Sebastien Piñera quer se fazer de herói do resgate dos mineiros, presos há mais de dois meses numa mina, mas ele é duplamente algoz dos trabalhadores daquele país. Em primeiro lugar, porque seu governo não controla as condições de exploração da força de trabalho, nem sequer do segmento mais importante da economia chilena. As condições subumanas de trabalho dos sofridos trabalhadores mineiros, principais produtores das riquezas fundamentais do país, não encontram nenhum controle dos órgãos do governo, além de que, com a quebra da empresa que os superexplora, nem sequer seus direitos básicos estão garantidos.

Mas de uma outra forma também Piñera é responsável pelas condições de trabalho dos trabalhadores chilenos. Ele é irmão de José Piñera – cujo grupo econômico é proprietário da LAN Chile, que acaba de comprar a TAM – tristemente famoso por ter introduzido a chamada lei de “flexibilização laboral”, com a conhecida cantilena de que, diminuindo os custos de contratação da mão de obra - às custas dos direitos dos trabalhadores – se expandiria o mercado de trabalho e diminuiria o desemprego.

Utilizou a enganosa expressão “flexibilização”, para expropriar direitos trabalhistas, a começar pelo contrato com carteira de trabalho, o emprego formal. A maioria dos trabalhadores foram jogados na informalidade. Submetidos a condições ilimitadas de exploração.

Usam duas palavras enganadoras: flexibilidade e informalidade, que seduzem (as preferimos à inflexibilidade e à formalidade), mas neste caso seu verdadeiro conteúdo é: precariedade das condições de trabalho. É trabalhar sem contrato, sem possibilidade de apelar à Justiça, de associar-se, de ter uma identidade social.

Essa política, nascida na ditadura do Pinochet, foi se associando a todos os governos neoliberais na América Latina, fazendo com que a maioria dos trabalhadores do continente passasse a ser estarem submetidos à precariedade laboral, a não ter contrato de trabalho.

O governo tucano de FHC-Serra adotou essa política, com os mesmos mecanismos e argumentos do José Piñera e da ditadura pinochetista, causando níveis de exploração da força de trabalho (extração da mais valia), de desemprego aberto e camuflado, de precariedade, jamais vistos no Brasil.

Esses mineiros chilenos foram, eles também vítimas dessas condições de trabalho, a mesma a que passaram a ser submetidos a maioria dos trabalhadores latinoamericanos.

O governo Lula recuperou, regularmente, os contratos de trabalho formal, que aumentaram sempre, ao longo dos dois mandatos presidenciais, depois ter recebido uma herança também socialmente maldita do governo FHC-Serra. Essa uma diferença essencial entre os dois governos: desamparo dos trabalhadores diante da exploração ou afirmação dos seus direitos formais de trabalho.

“Vídeo bomba” mostra o que está em jogo no segundo turno


Não seria nada mal se eleitores e eleitoras dedicassem alguns minutos de seus dias para conversar um pouco sobre o assunto exibido em um pequeno vídeo que fala sobre o presente e o futuro do país. Considerando a quantidade de baixarias que circula na internet e fora dela, esse vídeo é, como gosta de dizer nossa imprensa, uma bomba. Feita para pensar.

O Brasil está entrando na reta final da disputa eleitoral. Uma disputa eleitoral que deveria estar sendo marcada por um grande debate público sobre qual caminho o país deve seguir nos próximos anos. Infelizmente, a candidatura de José Serra (PSDB) decidiu enveredar por um caminho sombrio e introduziu no debate político uma agenda fundamentalista de extrema-direita, detonando uma brutal campanha de difamação contra Dilma Rousseff (PT).

Em um certo sentido, é compreensível que esta tenha sido a escolha da campanha de Serra. Trata-se de uma escolha que tem como motivação a necessidade de desviar a atenção da população brasileira para o verdadeiro debate que devia estar sendo feito. O debate sobre as idéias e propostas do candidato para o presente e o futuro do país.

Entre tantos vídeos que vêm circulando pela internet, vale a pena destacar um que mostra claramente um dos principais debates que devia estar sendo feito, a saber, o debate sobre as propostas econômicas dos candidatos. Considerando a quantidade de baixarias e mentiras que vem circulando na internet e fora dela, essa pequena produção aparece como algo bombástico: vídeo-bomba mostra o que está em jogo no segundo turno! – poderia ser a manchete no medíocre tom sensacionalista que viceja em nossas redações.

Afinal de contas, é isso que vai, em grande medida, decidir como será a vida de milhões de brasileiros e brasileiras nos próximos anos. Não é pouca coisa. Portanto, é preciso atenção sobre o que as duas candidaturas representam. O vídeo acima traça uma cronologia da crise mundial (2008-2009) sob a ótica da imprensa brasileira e da oposição ao governo Lula. Além disso, mostra como o governo de FHC e Serra (1995-2002) conseguiu quebrar o Brasil três vezes, a despeito de ter vendido quase todas as empresas públicas lucrativas. Essa retrospectiva adquire atualidade redobrada no momento em que Serra, finalmente, sai em defesa das privatizações, ainda que o faça de um modo envergonhado, tentando esconder o que realmente pensa sobre o assunto.


Também é compreensível. As idéias de Serra levaram o Brasil à estagnação e agravaram o quadro de desigualdade social no país. Aliás, não levaram apenas o Brasil à estagnação. São as mesmas idéias, filhas da ideologia do Estado mínimo e da supremacia dos mercados, que levaram a economia mundial à beira do precipício. Neste momento, milhares de pessoas saem às ruas em diversos países da Europa para protestar contra os efeitos perversos dessa crise.

A imprensa brasileira, é claro, fiel à sua indigência política e cultural, não estabelece nenhum nexo entre o que está acontecendo na economia mundial e a situação brasileira. Acha mais importante debater aborto e questões religiosas. E tem muita gente boa embarcando nesta canoa furada. Então, vale a pena gastar alguns minutos do dia para ver esse vídeo e pensar. Não dói.

Os diagnósticos e previsões que aparecem nele sinalizam o que seria um governo Serra no Brasil. No vídeo, apesar da auto-proclamada “sólida formação” em economia, as profecias e diagnósticos de Serra e seus aliados sobre a economia brasileira acabam se revelando totalmente furadas. Quando estourou a crise mundial, economistas e políticos tucanos remetiam o mesmo discurso: o governo precisa cortar gastos, não há outra coisa a fazer, repete Serra. Pois havia outra coisa a fazer. E o governo Lula fez.

O conteúdo desse vídeo é um ótimo tema para o segundo turno da campanha eleitoral. Deveria ser ao menos. A população brasileira tem o direito (e o dever, me atreveria a dizer) de conhecer a “sólida formação” do economista Serra que, no auge da crise, disparou a dar entrevistas em que apontava os “graves erros” do governo Lula. O Brasil, lembre-se, foi um dos primeiros países a sair da crise e hoje ostenta taxas de crescimento acima da média mundial. A sólida formação de Serra errou todas suas previsões e suas receitas, felizmente, não foram aplicadas pelo governo Lula. São essas idéias e propostas que estarão em disputa no dia 31 de outubro.

Não seria nada mal se os eleitores e eleitoras dedicassem alguns minutos de seus dias, daqui até lá, para conversar um pouco sobre o assunto.

Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O novo cenário do segundo turno


Como Serra-2010 reproduz, no Brasil, a irracionalidade e a mobilização de ressentimentos que caracteriza o Tea Party, nos EUA. Por que a guinada de Dilma no debate da Band era indispensável para a busca da vitória. Quais as perspectivas para as eleições, agora
Por Antonio Martins | Imagem: Paul Klee, Paisagem Pedregosa
I.
O momento da guinada
Surpreendente, a candidata que lidera as intenções de voto abriu sua participação escancarando a “campanha de calúnias e mentiras” lançada contra si mesma. Tomou a iniciativa de introduzir o tema do aborto – principal peça usada pelos adversários para fustigá-la. Ousou referir-se à esposa de seu oponente, apontando-a como parte dos ataques (e não foi contestada…). Depois, partiu para o território mais desejado: as privatizações, ausentes da campanha até agora, foram tema de três perguntas em sequência, e certamente polarizarão as discussões, daqui para a frente.
Pouco traquejada em debates televisivos, Dilma Roussef teve momentos de nervosismo e lapsos, na noite do último domingo (10/10), primeiro confronto com José Serra após o primeiro turno. Mas ao final, havia alcançado dois objetivos. O mais visível foi retomar a iniciativa e voltar a pautar a disputa presidencial, depois de quase um mês apenas “segurando o resultado” e da frustração por não liquidar a disputa em 3 de outubro. Menos evidente, porém ainda mais importante, foi ter exposto a face pouco convencional – e por isso surpreendente e perigosa – da “nova” direita que a candidatura de José Serra articula. A frase que sintetiza esta descoberta ficará marcada. “Vocês estão introduzindo ódio na vida brasileira”.
A reação de Dilma respondeu a uma emergência. Estacionado por meses no patamar de 25% dos votos, incapaz de despertar entusiasmo ou simpatia durante toda a campanha, José Serra mostrou que não estava morto a partir de meados de setembro. Os ataques subterrâneos que lançou contra a candidata petista foram incapazes de lhe transferir votos. Mas provocaram o segundo turno, porque um grande contingente de eleitores atingidos refugiou-se em Marina (leia também nossa análise análise sobre 3/10).
Embora tenha conquistado menos de 1/3 das preferências dos eleitores, o candidato do PSDB viu-se, de um momento para outro, em condições reais de se tornar presidente. Tal possibilidade foi demonstrada pela primeira pesquisa de intenção de votos para o segundo turno, do Datafolha. Em 7 e 8 de outubro, menos de uma semana após a primeira disputa, Serra avançara pouco: tinha 41% das intenções de voto, contra 40% na sondagem anterior. Mas Dilma caíra de 52% para 48%. A diferença estreitara-se cincos pontos – reduzindo-se a apenas sete. Para entender como tal reviravolta foi possível, é preciso examinar a fundo, a à luz dos novos fatos, as características da campanha de Serra.
II.
Uma estratégia de despolitização radical
Subestimada durante meses, por fugir inteiramente à lógica das disputas políticas clássicas (e do que se esperaria de alguém com o passado do candidato), a trajetória do candidato tucano começa agora a fazer sentido. Inspira-se no Tea Party, a ultra-direita norte-americana que reemergiu com enorme força, em resposta à eleição de Barack Obama – e que tem como ícone Sarah Palin… Seu perfil não se confunde nem com o da direita clássica (que defendia com sinceridade as ideias conservadoras), nem com o do neoliberalismo (que postulava como valor máximo a supremacia dos mercados).
Corresponde a uma fase de impasse do capitalismo ocidental. Depois de verem seu projeto de sociedade questionado, e de o terem reciclado parcialmente nas décadas anteriores, as velhas elites parecem, em todo o mundo, incapazes de dar um novo passo propositivo adiante. Sua associação orgânica com o conservadorismo foi abandonada, na sequência a 1968; sua crença na “mão invisível”, que substituiu a antiga aliança a partir do fim dos anos 1970, acabou destroçada pela crise pós-2008; as periferias batem à porta – tanto as globais, quanto as metropolitanas. Resta resistir a elas: e como não é possível fazê-lo por meio de um projeto articulado, convocam-se os medos e ressentimentos: o irracional.
É uma aposta momentaneamente forte, porque as ideias de ampliação da democracia e transformação social rearticularam-se há muito pouco (na virada do século) e não puderam ainda fincar raízes no imaginário popular, nem formular conceitos sólidos. Lula, Obama ou Evo Morales; o Fórum Social Mundial, a sociedade civil global, o desejo de rever as relações entre o ser humano e a natureza; a cultura das periferias, a aparição em cena dos indígenas e negros, as novas classes médias; a blogosfera, o compartilhamento de cultura e conhecimento, a colaboração como valor decisivo para produzir – tudo isso são todos fenômenos contemporâneos. Não têm o peso da experiência, dos erros, dos recursos materiais e financeiros, da influência geopolítica que caracterizava a tradição de esquerda anterior – especialmente a social-democracia e o socialismo real.
Sem uma alternativa para contrapor a estas inovações que aspiram a construir futuro, a direita-Tea Party tenta despejar sobre elas os preconceitos do passado. Sua estratégia é evitar o debate político e, sobretudo, o choque entre projetos. Suas propostas são risíveis: nos EUA, insiste-se em manter duas guerras, ampliar os cortes de impostos decretados por Bush e, ainda assim, reduzir o déficit público. Seu método é substituir o debate racional pela mobilização de rancores e recalques, pelas denúncias caluniosas e não-assumidas, pelo ataque implacável a certas ideias e personalidades, pela desinformação deliberada e generalizada.
Seu poder não pode ser desprezado – especialmente em sociedades nas quais o acesso médio dos cidadãos à informação ainda é reduzido. Nos EUA, pesquisa recente mostrou que apenas um terço dos cidadãos sabe que Barack Obama é cristão; 20% pensam que ele é muçulmano; e o percentual dos que estão mal-infomados cresceu acentuadamente desde a posse do presidente. Além disso, boa parte da sociedade crê sinceramente que a crise financeira é responsabilidade direta de Obama, não das políticas de seus antecessores…
A candidatura Serra repete de modo impressionante, em seus aspectos centrais, este padrão. O postulante jamais apresentou programa — nem à Justiça Eleitoral1, nem, principalmente, aos eleitores. O sentido geral das propostas de Dilma e Marina é compreensível e razoavelmente conhecido: pode-se aderir a elas, deplorá-las, apoiá-las em parte, estabelecer diálogos. O presidenciável do PSDB apresenta, enquanto isso, uma coleção de promessas incoerentes ao longo do tempo e incompatíveis entre si.
Ele já foi contra e a favor da renda cidadã e do programa habitacional do governo. Ele diz que o Estado brasileiro tem uma dívida crescente (o que é falso…) e ainda assim propõe cortar impostos dos ricos e, ao mesmo tempo, ampliar os benefícios pagos à maioria (contrariando toda a sua prática anterior). Ele tenta sepultar debates incômodos com rompantes repentinos, cheios de bazófia e incompatíveis com seu arco de alianças (em 12/10, dois dias depois de Dilma introduzir na campanha as privatizações, prometeu reestatizar empresas…). A velha mídia jamais questiona estas incongruências. Mergulhada ela própria em crise, talvez deposite suas últimas esperanças numa contra-utopia orwelliana, num descolamento radical entre o discurso político e a realidade, em que a mediação jornalística assumiria por completo caráter de ficção – e seria recompensada por isso…
III.
Desconstruir a adversária
Como lhe falta um programa coerente, a direita-Tea Party apela para a desconstrução das candidaturas que vê como inimigas. Nos EUA, contra todas as evidências e racionalidade, Barack Obama é apontado como um marxista e traidor da pátria – de nada lhe servindo, aliás, manter um orçamento militar superior ao de George W. Bush… No Brasil, o alvo é Dilma. A “nova” direita não ousa atacar nem a figura de Lula, nem o lulismo. Além de temer a popularidade do presidente, não tem projeto a contrapor. Por isso, sua preocupação central não é, sequer, destacar as possíveis qualidades de Serra – mas transformá-lo, por meio da eliminação política de sua adversária, numa espécie de candidato único.
A fase intensa da campanha para desconstruir Dilma começou no final de agosto e desdobrou-se em duas etapas. Na primeira, o protagonismo foi do Jornal Nacional e de quatro publicações impressas que esqueceram suas rivalidades históricas para formar uma espécie de Santa Aliança: O Globo, Veja, Folha e Estado de S.Paulo.
Nesta etapa, o método consistiu em bombardear a opinião pública com dois “escândalos”: o vazamento do sigilo bancário de Verônica Serra, do qual Dilma Roussef foi – sabe-se agora com certeza – injustamente acusada; e a agência de lobby mantida pelo filho de Erenice Guerra, que não obteve nenhum favorecimento real, embora usasse o parentesco com a mãe poderosa para impressionar clientes. O primeiro caso era uma ficção; o segundo, uma irrelevância. Mas ambos monopolizaram, por 30 dias, as manchetes dos três jornais de maior circulação do país; da revista semanal mais conhecida; e do noticiário de maior audiência na TV. Para atestar o caráter eleitoreiro das “denúncias”, basta lembrar que foram imediatamente esquecidas, ao cumprirem seu papel na campanha. Não visavam investigar a fundo um assunto importante – apenas atacar uma candidatura, em proveito de outra.
Dilma resistiu ao ataque. Mas nas três semanas que antecederam as urnas, a ofensiva midiática foi complementada pela mobilização das bases conservadoras. Nos EUA, ela é uma caracteística da Tea Party: aproveitando-se da frustração inicial das expectativas geradas por Obama, a direita formou centenas de comitês em todo o país e promoveu ao menos duas grandes marchas em Washington. No Brasil, onde não há nada que se compare a esta força, recorreu-se à difusão de denúncias apócrifas por meio da internet – um espaço onde o PT e seus aliados desperdiçaram muitas oportunidades e ignoraram a blogosfera potencialmente aliada.
A campanha de Serra articulou o lançamento incessante de boatos anônimos. Mobilizou a classe média conservadora e ressentida, numa rede informal muito capilarizada. Imitando uma vez mais o exemplo norte-americano, apoiou-se (sob as vistas grossas da CNBB) no poder crescente que o fundamentalismo está conquistando no catolicismo institucional e em algumas seitas evangélicas.
Uma visita ao site sejaditaverdade, ou a leitura de cartaz, afixado diante de muitas igrejas, no dia da eleição (na foto, em Porto Alegre), dão uma pequena ideia do que se destilou. Segundo a montanha de spams políticos, a candidata teria participado de diversos assassinatos. Sua postulação visaria, fundamentalmente, aprovar a disseminação do aborto, o casamento gay e o ataque do Estado às Igrejas. Enfrentaria processo de uma ex-amante. Lançaria blasfêmias contra Cristo (“nem ele impede minha vitória”). Posaria com armas. Estaria impedida de entrar nos Estados Unidos, por atos terroristas. Teria mobilizado fabricantes de chips chineses para fraudar as urnas eletrônicas brasileiras. Sua candidatura estaria a ponto de ser impugnada pelo “ficha limpa”. Seu vice, Michel Temer, frequentaria seitas satanistas em Curitiba. Etc. Etc. Etc…
O jornalista Leonardo Sakamoto explicou, em seu blog como estas alegações inteiramente inconsistentes acabam adquirindo força, em conjunto. Disparadas às dezenas de milhões, cada uma delas acaba atingindo um público que se sensibiliza pelo tema em questão e acredita no argumento. Os integrantes deste grupo passam a reproduzir a “denúncia”, acrescentando a ela, agora, o peso de sua reputação e influência pessoal.
A montagem desta rede de boatos foi a função a que se dedicou o norte-americano de origem indiana Ravi Singh, sócio da transnacional de marketing político ElectionMall – que prestou consultoria por meses à campanha de Serra2. Em 2007, diante do sucesso de Obama na internet, o site progressista norte-americano Mother Jones entrevistou Michael Cornfield, vice-presidente da empresa. Indagado sobre a possibilidade de a direita servir-se da internet no futuro, ele a considerou inevitável. E frisou: “Há mais de uma maneira de usar a web. Muito mais que uma maneira”…
No exato momento em que a campanha de Serra mobilizava todas as suas energias, a de Lula e Dilma descansava. O movimento fazia sentido, se visto pela lógica das disputas eleitorais travadas até então. Num comício em Curitiba, a uma semana do primeiro turno, o presidente recomendou a seus apoiadores “segurar o jogo”. “Estamos ganhando de 2 x 0 e faltam dez minutos para terminar a partida. O adversário está nos chutando na canela e no peito e o juiz não apita falta. Querem explusar alguém do nosso lado. Vamos fazer como o Parreira, quando técnico do Corínthians, e prender a bola. Enquanto ela estiver nos nossos pés, o outro time não faz gol”.
Comemorara cedo demais a resistência de Dilma aos ataques midiáticos. Não se dera conta de que, em articulação com a boataria apócrifa, eles haviam constituído um ataque em pinça poderoso. Milhões de eleitores, que conheciam a candidata superficialmente, eram atingidos agora tanto pelo Jornal Nacional quanto por mensagens recebidas de pessoas próximas e confiáveis.
Um excelente texto publicado por Weden no site do Luís Nassif sintetizou o cenário. Além de provocar a segundo turno, a artilharia cerrada disparada durante semanas pela mídia e pela central de boatos apócrifos estava começando a desconstruir politicamente a candidata. Expressão destacada do lulismo, responsável pelo planejamento e articulação política de seu segundo governo, ela estava sendo sendo reduzida a uma escolha errada do presidente.
“Reconheço que nunca houve um governo tão bom para nós”, mas “esta mulher é um perigo para o país” foi o depoimento emblemático colhido por Weden junto a um taxista – que estava disposto a votar em Dilma até as vésperas do primeiro turno, mas migrou para Marina e tendia, naquele momento (7/10) a Serra. Embora ainda limitado (daí Dilma manter-se na dianteira), o movimento alastrava-se rapidamente. Weden abordou com realismo seu sentido potencial: “A candidata petista está perdendo o ‘efeito continuidade’ que conseguiu representar até semanas atrás. Se Dilma ficar na metade dos votos governistas, perde a eleição”.
IV.
Por onde corre a repolitização
Como pode uma candidata repolitizar uma campanha, quando setores crescentes do eleitorado questionam sua própria legitimidade? A pergunta embaraçou até mesmo grandes especialistas. Entrevistado por Luís Nassif, Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus, sugeriu que a chave era o tema do aborto. Dilma deveria fazer um pronunciamento “amplo e forte” contra a interrupção da gravidez. Era, evidentemente, um equívoco. Se fosse responder a cada uma das invenções lançadas contra si, a candidata não faria mais nada, até 31 de outubro. Além disso, cada resposta acabaria dando mais destaque ao próprio boato. A vítima de uma sequência de calúnias enfrenta um drama semelhante ao de quem cai num poço de areia movediça: quanto mais se debate, mais afunda. A única saída é buscar um ponto de apoio externo.
Dilma viu no debate da Band, em 10 de outubro, o momento para escapar do poço. Procurou o ponto de apoio mais potente – e, ao mesmo tempo, mais difícil e arriscado. Em sua primeira pergunta a Serra, questionou diretamente a desqualificação da campanha. Já na réplica, ainda mais incisiva, apontou a manipulação de suas opiniões relativas tema ao aborto. Voltou ao ele numa pergunta posterior, quando, para ampliar a veracidade do que alegava, mencionou o envolvimento de Mônica Serra no esforço de difamação.
Estava visivelmente tensa: naqueles instantes, qualquer escorregão em sua fala seria catastrófico. Mas completou bem o movimento, que lhe trouxe duas vantagens. Abriu caminho para que sua campanha continue denunciando a armação adversária – ou seja, produzindo antídotos contra a desconstrução de sua imagem. E mostrou grande coragem, desmentindo na prática a impressão – preconceituosa e machista – de que é mero produto de marketing de Lula. Estes dois pontos lhe deram o apoio necessário para abrir, em seguida, o questionamento político e programátrico a Serra. A escolha dos temas era óbvia: privatizações e programas de redistribuição de renda, símbolos máximos da diferença entre o projeto do lulismo e o das elites.
Dará certo? O objetivo principal dos candidatos, num debate como o da Band não é conquistar o eleitorado, mas redefinir os temas que polarizarão a campanha em seguida. Mesmo com apenas 2% de audiência, o evento cria fatos incontornáveis. Os primeiros efeitos foram logo sentidos. A campanha de Serra e os jornalistas que a bajulam tentaram desqualificar a nova postura da candidata – um sinal evidente que ela leva a disputa para um terreno que temem. Mais: o programa de TV do PSDB-DEM foi obrigado a referir-se à privatização. Não poderá manter por muito tempo a abordagem totalmente falsificadora que, como se viu, adotou – desde que a campanha de Dilma aprofunde o tratamento dado ao tema…
Uma coisa é certa: a três semanas da eleição, o giro executado pela candidata em 10 de outubro é um movimento sem retorno. A “Diminha paz e amor”, a continuadora quase natural do legado de Lula, deu lugar a um novo personagem político. Dele precisa fazer parte, também, a polemizadora; a mulher que demonstra vasto conhecimento técnico sobre os programas que coordenou no governo; a que, por estar profundamente envolvida no movimento de democratização expresso pelo lulismo, sente-se à vontade para provocar o choque pedagógico entre prejetos para o Brasil. Desta iniciativa dependem agora tanto a repolitização da campanha quando a consolidação ou recomposição da imagem de Dilma, entre a parcela do eleitorado que esteve ou está em dúvida sobre seu voto.
As reviravoltas de campanha levam algum tempo para produzir todos os seus efeitos. É possível que eles não sejam captadas pelas próximas pesquisas – ou seja, que a diferença entre os dois candidatos volte a diminuir ou mesmo desapareça. Será preciso muita calma nessa hora. O grande risco a evitar é o desespero, que levaria a reverter o giro de Dilma.
O programa de TV será, nesta reta derradeira, o palco central para este confronto de projetos. A trilha aberta em 10 de outubro só pode ser preenchida com muita informação. É preciso expor, por exemplo, – e sempre por meio de fatos – a resistência (política e simbólica) da base de Serra aos programas de redistribuição de renda; as tentativas de sabotar os projetos de lei que tratam do Pré-Sal (um ano depois de apresentados, só um foi transformado em lei pelo Congresso). Se feita com sabedoria e talento, a exposição dos absurdos assacados contra Dilma pela campanha apócrifa lançará o feitiço contra o feiticeiro.
Viveremos fortes emoções, nas próximas semanas. Mas o processo de transformações inciado há oito anos tem potência suficiente para voltar a se impor, entre a maioria do eleitorado. Se isso ocorrer, Dilma acrescentará a sua história pessoal a inteligência de ter sabido, a tempo, comandar o movimento necessário para derrotar a direita-Tea Party – este quase-fascismo pós-moderno que ronda o Brasil em 2010.
1Em 3 de julho, data fixada pelo TSE para que os candidatos apresentassem seus programas de governo, a coligação PSDB-DEM-PPS protocolou na Justiça Eleitoral apenas a transcrição dos discursos de Serra feitos na convenção conjunta das três agremiações. A mídia comercial acobertou tau ausência – enquanto destacava, por dias, o fato de a campanha Dilma ter alterado alguns dos itens do programa inicialmente apresentado.
2Sempre tendente à mistificação e ao provincianismo, a velha mídia tratou Singh como um “guru”. Certamente, impressionou-se por sua origem indiana, ou pelo fato de usar o turbante típico da etnia sikh…
Salvador Allende, a Codelco e os mineiros de Copiapó

Em 1971, o Congresso aprovou a nacionalização da grande mineração e a colocou sob a administração da Codelco. A nacionalização era uma medida extraordinária de Allende. Tanto que foi o único projeto legislativo em três anos de governo da Unidade Popular que foi aprovado por unanimidade. Teve a aprovação da esquerda, da Democracia cristã e até da direita. A Codelco era tão poderosa que o ditador Augusto Pinochet manteve o cobre nas mãos do Estado para assegurar uma fonte própria de divisas e canalizou essas divisas para o financiamento do orçamento militar. O artigo é de Martín Granovsky.

Jorge Arrate atende o telefone em Santiago. Como todos no mundo, acompanha a situação dos mineiros de Copiapó. “É óbvio que sou um opositor nítido ao presidente Sebastián Piñera, mas quero que o Estado vá bem no resgate dos mineiros e que eles possam caminhar entre nós”, diz.
Candidato de uma parte da esquerda chilena nas últimas eleições presidenciais, Arrate foi ministro do Trabalho da Concertação e embaixador de Ricardo Lagos na Argentina. É tão difícil esquecer sua notável cozinheira peruana, quanto duas frases suas. Uma, sobre as transições: “São monstros horríveis, disformes”, dizia em tom descritivo. Era um modo de explicar o Chile com realismo, mas, ao mesmo tempo, Arrate reivindicava a marcha chilena para a democracia plena enquanto pedia mais e mais reformas. A outra frase foi dita quando, na Argentina, os partidários da impunidade sonhavam com o silêncio infinito e, falsificando os dados, apontavam o Chile como exemplo para não julgar. “O único ponto final é posto pelas almas”, disse Arrate que sempre esteve de acordo com processar os suspeitos de violação dos direitos humanos.

Em 1970, quando Salvador Allende ganhou as eleições presidenciais, Arrate ainda não tinha 30 anos, era militante socialista, amigo das filhas do presidente e já tinha seu título de economista. Foi assessor presidencial até que um ano depois “Allende me pediu –que pediu!, me ordenou! – que assumisse a presidência da Corporação do Cobre, a Codelco.

Hoje, Arrate lembra que, em 1971, o Congresso aprovou a nacionalização da grande mineração e a colocou sob a administração da Codelco. “Eu tinha apenas 29 anos e assumi o cargo com entusiasmo. A nacionalização era uma medida extraordinária. Tanto que foi o único projeto legislativo em três anos de governo da Unidade Popular que foi aprovado por unanimidade. Teve a aprovação da esquerda, da Democracia cristã e até da direita”.

Arrate descreveu Salvador Allende como “um político em tempo integral que abandonou muito jovem seu trabalho com médico, um homem de relação muito aberta com os demais, que amava muito a vida, carecia de ódios pessoais e tinha uma grande coragem pessoal e política, como demonstrou no 11 de setembro no palácio de La Moneda”.

Em julho de 1971, com o cobre nacionalizado, Allende falou em Rancagua aos “companheiros mineiros”, “aos duros trabalhadores do metal vermelho”. Disse a eles que, com a estatização, o cobre era o “salário do Chile”, “assim como a terra é seu pão”. Arrate estava ali, estreando no cargo de presidente de um dos maiores conglomerados mineiros do mundo.

A Codelco era tão poderosa que o ditador Augusto Pinochet – ao contrário, paradoxalmente, do que fez Carlos Menem, um presidente nascido da democracia que privatizou o petróleo na Argentina – manteve o cobre nas mãos do Estado para assegurar uma fonte própria de divisas e canalizou essas divisas para o financiamento do orçamento militar.

Em setembro de 1973, Arrate acabava de fazer um giro por vários países – entre eles a China – para conseguir novos mercados para o cobre em meio ao movimento decidido pelo presidente Richard Nixon e seu conselheiro Henry Kissinger para castigar o Chile e qualquer país que tivesse a audácia de imitá-lo: estava proibido governar com coalizões de esquerda e centroesquerda, proibido expropriar empresas made in USA, proibido fazê-lo (como fez o Chile) considerando que a indenização estava paga pelos abusos anteriores. Arrate decidiu encurtar a viagem e voltar ao Chile quando o final da democracia era iminente. Mas o vôo chegava a Santiago justamente no dia 11, o dia do golpe, do bombardeio ao Palácio de La Moneda e da morte de Allende, que se suicidou depois de resistir com um capacete na cabeça e uma metralhadora nas mãos. O avião de Arrate sobrevoou Santiago, não pode aterrisar e o presidente da Codelco iniciou seu longo exílio na Europa.

Em 1972, Arrate havia tomado parte em dois episódios relacionados com a Argentina. Acompanhou Salvador Allende quando o presidente se encontrou com Alejandro Lanusse em Salta. O Chile não queria um isolamento ainda maior. Tratava de evitar que a fronteira ideológica com a Argentina se convertesse em uma armadilha. E conseguiu. Em agosto de 1972, participou das negociações nas quais Allende decidiu não devolver os guerrilheiros argentinos que tinham fugido da prisão de Trelew. Não voltaram a Argentina e deixaram o Chile, onde sua estada teria aumentado a crise que estava em desenvolvimento. Foram para Cuba.

Arrate negociou muito com os mineiros e conhece bem como são. “Há alguns que transmitem o ofício de pai para filho. É como se tivessem uma cultura mineira. E outros vivem de ofícios diferentes. Mas sempre, mais jovens ou maiores, trabalham com espírito coletivo e respeitam o maior conhecimento dos líderes. Ali embaixo, na San José, há um mineiro que tem mais de 30 anos de vida nas profundezas. É muito importante contar com alguém assim”.

O ex-embaixador diz algo que poucos dizem. “A mina San José, onde ocorreu o acidente, foi fechada em 2007 e reaberta em 2008. Em 2010 houve um acidente sério, mas ela voltou a ser autorizada. É um erro muito grave”. E diz algo que ninguém conta: “A ajuda internacional é importantíssima. Mas como a Codelco se ocupa da grande mineração (San José é uma mina intermediária) tem tecnologia de segurança e de resgate e quadros especializados com muitíssima experiência em minas subterrâneas como El Tenienye. Eles e os engenheriso de Codelco foram vitais nos últimos dias e seguirão sendo até que todos os mineiros voltem para a superfície”.

http://www.martingranovsky.blogspot.com
http://www.pagina12.com.ar

Tradução: Katarina Peixoto