domingo, 28 de novembro de 2010

UM IOIÔ CHAMADO PDT


 
Finalmente, depois de muito resmungar, o PDT acertou a sua participação no governo de Tarso Genro no RS. Nada de mais, quando se trata da negociação de espaços num governo de coalizão, onde as diversas forças políticas que o integrarão disputam espaços visando a respectiva afirmação no cenário geral da política.


No entanto, a coisa fica irônica quando este partido concorreu, na mesma eleição, inclusive participando da chapa com o vice, CONTRA a candidatura vencedora de cujo governo agora faz exigências para integrar.

Pois foi exatamente o que ocorreu no Rio Grande do Sul. O PDT, que concorreu na chapa de José Fogaça (PMDB), inclusive oferecendo o vice, e que foi derrotado por Tarso Genro no primeiro turno, “aceitou” fazer parte do governo petista, fazendo diversas exigências quanto aos espaços a serem ocupados no futuro governo.

É algo como entrar num restaurante lotado e querer a melhor mesa, mesmo que para isso os atuais ocupantes, em plena refeição, tenham que ser enxotados. É por essa e outras que o PDT caminha a passos largos para se tornar um partido nanico no cenário da política nacional.

Quando do fim do bipartidarismo, em 1979, uma das grandes promessas da política brasileira era o ressurgimento do trabalhismo. Criado por Getúlio Vargas, sob o manto do antigo PTB foram instituídos os principais direitos dos trabalhadores, além do fortalecimento do nacionalismo em defesa das riquezas nacionais. Com Leonel Brizola, quando governador do Rio Grande do Sul, ganhou relevo a educação, que viria a ser a marca do trabalhismo moderno.

No entanto, a perda da sigla PTB para o grupo ligado pela falecida deputada Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio, por obra e graça do general Golbery do Couto e Silva, ideólogo do regime militar de 64, e a conduta muitas vezes errática de Brizola, o PDT, criado a partir da perda da sigla histórica, foi perdendo espaço na política nacional, até virar um partido de expressão cada vez menor, mesmo no RS.

Inicialmente, quando da reorganização do trabalhismo, Brizola, a partir das relações firmadas com líderes da social-democracia européia, decidiu dar ao novo PDT uma inflexão mais à esquerda.

Esta nova fase, que se inicia com o histórico "Encontro dos Trabalhistas do Brasil com os Trabalhistas no Exílio", ocorrida em Lisboa em 1979, visava modernizar o velho trabalhismo, cujo apelo ainda era muito forte em nosso País, mercê dos avanços trazidos pelos governos nacionais de Getúlio e Jango, bem como de Brizola em nível regional. Neste contexto, Brizola criou uma até uma expressão, para designar a inflexão ideológica do novo projeto, que ficaria famosa: “Socialismo Moreno”.

No entanto, com o andar da carreta, os grupos remanescentes do antigo trabalhismo, que a par dos avanços referidos produziu, como subproduto do populismo, um paternalismo voltado à prática de favores e compadrios, acabaram por vencer a disputa com os que viam neste renascimento a oportunidade de dar ao trabalhismo histórico uma feição modernizada, voltada ao socialismo democrático.

A partir daí, o PDT passou a gravitar cada vez mais em torno de figura de Brizola que, apesar de ser homem com idéias sociais avançadas (quando governou o RS, além de uma campanha inédita pela educação, com a construção de milhares de escolas, nacionalizou empresas estrangeiras e implantou um projeto de reforma agrária revolucionário), devia também a sua formação ao passado caudilhesco e populista do getulismo cujo modelo, como soi acontecer na espécie, remete à intuição e ao carisma do líder todo o destino do partido.

Dono de uma personalidade marcante e algo autoritária, Brizola passou a agregar e romper com aliados, alguns antigos, sem deixar surgir novas lideranças, levando-o paulatinamente ao isolamento.

Após fazer um governo bem sucedido no Rio de Janeiro (1983-1986), com a criação, concebida pelo inesquecível Darcy Ribeiro, do monumental projeto de educação através dos Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs, cuja proposta era dar atenção integral ao aluno, não repetiu o desempenho em seu segundo governo carioca (1991-1994), quando fez uma administração apagada.

Em 1989 quase chega ao segundo turno da eleição presidencial, perdendo para Lula por apenas 0,5% dos votos. É o melhor momento do PDT. Apoiou Lula no segundo turno e chegou a ser seu vice em 1998, rompendo após, como era do seu hábito.

Mas Brizola foi colecionando desafetos e fazendo acordos e alianças eleitorais que ninguém entendia muito bem. No RS merece destaque a desastrosa aliança de 1986 com o PDS (sucessor da ARENA, partido do regime militar). Brizola justificava com o mesmo argumento utilizado para firmar uma aliança com o integralismo em 1958, quando se tornou governador do Rio Grande: seriam os trabalhistas quem chefiariam o governo.

A morte de Brizola, em 2003, não melhorou as coisas, pois o PDT continuou funcionando na mesma lógica: no plano federal, integra o governo Lula e integrará o Dilma (que deixou o PDT, em 2001, exatamente pela inconstância política do partido), e aqui, no RS esteve nos últimos três governos, de características políticas muito diversas (o governo Olívio foi marcadamente de esquerda; o de Germano Rigotto, do PMDB, de centro-direita, e o da tucana Yeda, neoliberal). Ficou até o fim apenas no governo do PMDB, rompendo com os dois outros no curso dos mandatos.

Em 2004, o PDT aliou-se novamente ao PMDB para tirar o PT da prefeitura de Porto Alegre, apresentando como candidato a vice o ex-petista José Fortunati, o qual ficou com o cargo quando José Fogaça renunciou para concorrer ao governo do Estado, aliás na chapa na qual os trabalhistas também entraram com o vice.

Perdendo a eleição e convidado por Tarso para integrar o governo do PT, os pedetistas ficaram criando caso, querendo escolher secretarias e desfiando a paciência do novo governador. Aliás, apesar de alardear o seu compromisso histórico com a educação, estranhamente o PDT gaúcho não reivindicou a secretaria respectiva, fato novamente a apontar a falta de rumo do partido (más línguas afirmam que os trabalhistas ficaram com medo de que o ex-governador Alceu Collares forçasse a indicação de sua mulher, Neusa Canabarro, criadora do desastrado calendário rotativo no governo do marido e responsável pelo seu naufrágio político).

Esta conduta errática acaba por confundir a posição política do partido perante o seu eleitorado. Ao aderir a governos de todos os matizes ideológicos, acaba por se parecer com o seu arqui-rival, o PTB “fake”criado pela ditadura, eclético no apoio a governos em troca de cargos.

Lamentável ocaso para uma herança de grandes conquistas para o povo brasileiro.

"Brasil precisa se proteger e cuidar das contas externas"

A economista Maria da Conceição Tavares defendeu nesta sexta-feira, durante a Conferência do Desenvolvimento, promovida pelo IPEA, em Brasília, que o Brasil deve proteger sua economia, reverter o processo de sobrevalorização do real e adotar mecanismos de controle de capital para evitar um ataque especulativo. Em sua fala, ela deixou algumas sugestões para o futuro governo Dilma: "Eu diria que a primeira preocupação agora é, sem dúvida nenhuma, com o setor externo. Se ele continuar assim vai haver degradação da indústria, déficit crescente da balança de pagamentos e uma fragilidade externa que na crise de 2008 nós não tivemos". O artigo é de Katarina Peixoto.

O sexto painel da Conferência do Desenvolvimento, promovida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em Brasília, apresentou um tema abrangente e desafiador: Macroeconomia e Desenvolvimento. Um tema à altura da homenagem feita pelo IPEA aos 80 anos da professora Maria da Conceição Tavares, formadora de mais de uma geração de economistas brasileiros. Bem humorada, ela brincou com a relação entre a homenagem e o tema escolhido para a conferência:

“Esta homenagem está gloriosa, porque o clima é Woodstock, não é. Vamos ver se sou capaz de tocar guitarra elétrica. O tema proposto para mim, só tocando guitarra elétrica. Macroeconomia e desenvolvimento não são temas pensados conjuntamente, geralmente”.

O propósito da política macroeconômica, lembrou, é evitar os desequilíbrios. E agora mais do que nunca em função da crise econômica mundial. Maria da Conceição Tavares fez um rápido resumo do quadro atual.

“Neste ano que passou foram os países ditos emergentes que cresceram. O primeiro mundo não cresceu nada. A crise de 2008, agora em 2010, veio repicada com a crise na Europa. A política macroeconômica na Europa deve estar fazendo Keynes se remover na tumba. Um desemprego cavalar e eles vêm com ajuste fiscal. Além de tudo há uma pletora de dólares. O Banco Central europeu está sustentando os países mais pobres da UE, mas o problema não é de liquidez, mas de insolvência”.

Frente a essa situação, alertou, o Brasil precisa ficar atento:

“Nossa taxa de juros é historicamente cavalar. Não é uma maluquice do presidente do Banco Central. Desde a década de 70 que a taxa de juros primária é muito alta. E as taxas ativas dos bancos também são muito altas. Então estamos numa situação braba: que tipo de investimentos essa taxa de juros elevada atrai? O investimento direto não tem nenhum problema, desde que sejam estertores importantes do desenvolvimento. Mas nossas taxas de juros fazem com que sejamos atrativos para o capital especulativo. Resultado: estamos com uma grande sobrevalorização do real”.

Diante deste quadro, acrescentou, a economia brasileira precisa se proteger, não apenas dos Estados Unidos, mas também da China. Neste ponto, ela fez algumas advertências importantes ao governo Lula e, principalmente, ao futuro governo Dilma:

“Temos aumentado desvairadamente as importações. Está um festival de importação. Nós estamos diminuindo o conteúdo de valor agregado de nossa indústria, até com coeficiente em importação em aço, no qual temos competitividade internacional, temos 15% da importação em aço. Há sobra de aço na Europa, que está fazendo dumping para cima da gente e nós deixamos. Eu diria que a primeira preocupação agora é, sem dúvida nenhuma, com o setor externo. Se ele continuar assim vai haver degradação da indústria, déficit crescente da balança de pagamentos e uma fragilidade externa que na crise de 2008 nós não tivemos. Foi a primeira vez que o Brasil passou por uma crise sem se arrebentar. Ao contrário, somos credores líquidos internacionais. Passar dessa situação, outra vez, para devedor líquido é péssimo. Só não passamos a tanto porque o governo é credor líquido. Mas as grandes empresas, o capital privado já está devendo. O que significa que qualquer repique da crise internacional pode nos trazer problemas”.

O governo tem de estar atento, enfatizou a economista, para não agravar o déficit fiscal. “A inflação é de custos, não de demanda. Então, não é o caso elevar taxa de juros, para não agravar o déficit fiscal, aumentando o serviço da dívida. Isso tira a possibilidade de desenvolvimento. Como se faz desenvolvimento com uma taxa de juros dessas?” - indagou.

A economista garantiu que não discutiu pessoalmente esses temas com ninguém do governo. E reafirmou a defesa da adoção do controle de capitais para proteger o país de um ataque especulativo.

“Já disse publicamente e repito, penso que numa situação como essa tem de ter controle de capitais. Todos os controles quantitativos. Aumenta o compulsório. Controla a taxa de crédito. Mas não com essa taxa de juros. Mesmo que o FMI tenha dito que controle de capitais pode ser recomendado, na atual conjuntura, o “mercado” e “os do mercado” aqui no Brasil não suportam ouvir isso. Mas temos no Banco Central gente discreta, não vedetes. Eu acho que a mudança do presidente do BC se prende a isso”.

O Brasil, recomendou ainda a economista, precisa fazer uma política fina e ir diminuindo lentamente a taxa de juros e a taxa de câmbio. “Devagar com o andor que o santo é de barro. Tem de andar devagar”, enfatizou.

E criticou aqueles que defendem o corte de gastos para promover um duro ajuste fiscal.

“O eixo deste governo é a política econômica com eixo social. Esse é o nosso custeio. Cortar para investir, para agradar a imprensa? Eu acho que não há sentido nenhum. No desenvolvimento econômico, o eixo social está correto. Mas se não cuidarmos da parte cambial, não conseguiremos fazer política industrial e tecnológica e, no longo prazo, não há desenvolvimento econômico regredindo nessas coisas”.

Maria da Conceição Tavares manifestou confiança na capacidade da presidente eleita Dilma Rousseff enfrentar esses problemas:

“Graças a deus a nossa presidente é uma mulher de coragem, de discernimento e economista competente. Este primeiro ano dela é complicado, em todos os sentidos. Enfim, que deus a proteja. Não adianta pedir que deus proteja individualmente nestas questões. Nestas questões é melhor proteger o coletivo”.

“Tenho muita fé na presidente, mas uma coisa é saber, outra é operar – não sei se a proporção de forças dos industriais pesam tanto quanto a dos banqueiros. Para sair dessa encrenca, agora mais do que nunca, não dá para deixar para o mercado ou a divina providência. A solução é humana e de todo o governo. Até o fim dessa década vamos erradicar a miséria, para que isso ocorra não podemos fazer coisas que abortem essas intenções.”


O Brasil tem um caminho duro pela frente, concluiu, e “deve agir com a autonomia de um país independente e soberano”. “Precisamos fazer uma defesa soberana da política industrial, cambial e de balanço de pagamentos. Não quero que me impinjam política macroeconômica que me atrapalhe o desenvolvimento. E que não se espere que o G7, G20, o G 400 resolvam alguma coisa, porque a ordem mundial está uma bagunça e o mundo hoje é multipolar. Acho melhor cumprir o nosso papel”.


Fotos: Antonio Cruz/Abr

Vale-tudo: o Estado pode usar métodos de criminosos?

Por Sakamoto em seu blog



Um colega de um grande veículo de comunicação me perguntou, na manhã de hoje, qual minha posição sobre uma discussão que ganhou algumas redações: por que a polícia não metralhou os 200 traficantes da Vila Cruzeiro quando estes corriam em fuga após a entrada dos blindados da Marinha na comunidade. Segundo ele, parte das opiniões culpou a “turma dos direitos humanos”, que iria chiar internacionalmente quando a contagem de corpos terminasse, manchando a imagem do Rio de Janeiro (como se o Estado precisasse de ajuda para isso). Outra acredita que as câmeras presentes nos helicópteros da Globo e da Record que sobrevoavam a área – e foram alvo de reclamações do Bope pelo twitter (ah, esse admirável mundo novo…) – impediram um massacre. Uma terceira falou das duas ao mesmo tempo.
De qualquer maneira, o problema em questão não é de que o “Estado não pode usar método de bandido sob o risco de se tornar aquilo que combate”, mas sim de que “droga, tem alguém olhando”. Muita gente torceu para que os criminosos em fuga fossem executados sumariamente. Ao mesmo tempo, parte da imprensa (e não estou falando dos programas sensacionalistas espreme-que-sai-sangue) parece vibrar a cada pessoa abatida na periferia, independentemente quem quer que seja. Jornalistas, cuja opinião respeito, optaram pela saída fácil do “isso é guerra e, na guerra, abre-se exceções aos direitos civis”, tudo em defesa de uma breve e discutível sensação de segurança. Afe.
Relembrar é viver: as batalhas do tráfico sempre aconteceram longe dos olhos da classe média e da mídia, uma vez que a imensa maioria dos corpos contabilizados sempre é de jovens, pardos, negros, pobres, que se matam na conquista de territórios para venda de drogas ou pelas leis do tráfico. Os mais ricos sentem a violência, mas o que chega neles não é nem de perto o que os mais pobres são obrigados a viver no dia-a-dia. Mesmo no pau que está comendo hoje no Rio, sabemos que a maioria dos mortos não é de rico da orla, da Lagoa, da Barra ou do Cosme Velho. Considerando que policiais, comunidade e traficantes são de uma mesma origem social, é uma batalha interna. Então, que morram, como disseram alguns leitores esquisitos que, de vez em quando, surgem neste blog feito encosto.
De tempos em tempos, essa violência causada pelo tráfico retorna com força ao noticiário, normalmente no momento em que ela desce o morro ou foge da periferia e no, decorrente, contra-ataque. Neste momento, alguns aproveitam a deixa para pedir a implantação de processos de “limpeza social”. Já bloqueei comentários que, praticamente, pediam que os moradores de favelas fossem retirados do Rio.
Quando a atual onda de violência acabar, gostaria que fossem tornados públicos os exames dos legistas. Afinal de contas, acertar um tiro na nuca de um suspeito no meio de um confronto armado demanda muita precisão do policial – e depois registrar o ocorrido como auto de resistência demanda criatividade. Em 2007, a polícia chegou chegando nos morros, cometendo barbaridades, sem diferenciar moradores e traficantes, sem perguntar quem era quem. Duas dezenas de pessoas morreram. Naquele momento, o Rio optou pelo caminho mais fácil do terrorismo de Estado ao invés de buscar mudanças estruturais (como garantir qualidade de vida à população para além de força policial dia e noite) para viabilizar os Jogos Panamericanos. Imagina agora com a Copa e as Olimpíadas então. Dose dupla.
Ninguém está defendendo o tráfico, muito menos traficantes (defendo a descriminalização das drogas como parte do processo de enfraquecimento dos traficantes, mas isso é história para outro post). O que está em jogo aqui é que tipo de Estado queremos e o tipo de sociedade que estamos nos tornando. Muitas das ações que estão ocorrendo vão criar uma sensação de segurança na população passageira e irreal, que vai durar até a próxima crise.

Um ótimo filme para se deliciar no domingo.....

LA ANTENA, 2007
Legendado, Esteban Sapir


Classificação: Excelente

Formato: AVI (DVD-Rip)
Áudio: espanhol
Legendas: português
Duração: 99 minutos
Tamanho: 699 MB
Servidor: Megaupload


LINKS

SINOPSE
La Antena é uma fábula distópica em que os habitantes de uma cidade fictícia perderam a voz há duas décadas. Ninguém fala ou emite som algum. Os citadinos alimentam-se de TV, literal e metaforicamente, e sua voz serve de matéria-prima para a indústria do Sr. TV (Alejandro Urdapilleta), soberano da metrópole. Mas os recursos vêm se esgotando rapidamente, e o Sr. TV precisa d’A Voz (Florência Raggi) para sugar as palavras das pessoas e, com isso, continuar reinando em seu negócio. O Sr. TV aprisiona A Voz e, com a ajuda do Dr. Y (Carlos Piñeiro), usa a mulher numa máquina que emite mensagens subliminares. O objetivo é, também, aumentar definitivamente o consumo dos produtos TV. Mas o Sr. TV não contava que, com a ajuda de uma família de heróis, uma “segunda voz” entrasse em cena.

The internet movei database: IMDB

Crítica
Inspirado no longa argentino Esperando o Messias (2000), de Daniel Burman, Jean-Claude Bernardet concluiu, parafraseando um amigo, que “os argentinos dão um banho nos brasileiros” (Revista de Cinema, fevereiro de 2003, republicado em Bernardet, Cinema Brasileiro: Propostas para uma história, São Paulo: Cia. das Letras, 2009, p. 256-8). Segundo o crítico, o fato de Esperando o Messias ser um filme médio “é a prova de que a Argentina tem produção média viva e inteligente, o que assinalam também outros filmes, como Nove rainhas ou O filho da noiva” (Bernardet, 2009, p. 256). Esse “banho”, continua Bernardet, deve-se em grande parte à forma da narração (2009, p. 256-7). O crítico identifica oportunamente um “enrijecimento da narrativa cinematográfica” em filmes de primeira linha do cinema brasileiro. “A ponto de podermos falar hoje na existência de umparnasianismo cinematográfico brasileiro. São parnasianos filmes como Abril despedaçadoUma vida em segredoAtravés da Janela (...).” (Bernardet, 2009, p. 257). Ainda segundo Bernardet, tais títulos “[s]ão filmes mortos porque ficam se regozijando com sua elaboração formal e ficam contemplando, maravilhados, a sua beleza” (2009, p. 257-8). O crítico sentencia: “Joguem fora seusstoryboards. Injetem menos talento e mais vida nos seus fotógrafos e diretores de arte” (Bernardet, 2009, p. 258).
Numa comparação do cinema argentino de caráter fantástico, de fantasia ou ficção científica, com o equivalente brasileiro, o tal “banho” salta ainda mais aos olhos. Difícil pensar num filme como La Antena (2007), de Esteban Sapir, produzido no Brasil. Abusado demais, arriscado demais... criativo demais.
La Antena é um amálgama de influências que entabula uma série de citações diretas a obras mais ou menos famosas da história do cinema. A primeira influência, talvez a mais evidente, é Metropolis (1927), de Fritz Lang. As citações do filme alemão podem ser conferidas na paisagem urbana, no som visualmente sugerido, nas diversas montagens de imagens sobrepostas (chroma key), evocativas – guardadas as devidas proporções – do Processo Schüfftan. Uma passagem como o plano dos olhos multiplicados, quando os burgueses de Metropolis observam avidamente a dança da falsa-Maria, é reproduzida em La Antena. O Sr. TV e seu filho são análogos a Joh Fredersen e Freder emMetropolis, o Dr. Y é Rothwang e a homenagem ao filme de Lang é sacramentada na seqüência do experimento com “A Voz”.
Além de MetropolisLa Antena paga tributo a Viagem à Lua (1904), de Georges Méliès – com mais uma reprodução do célebre plano da lua antropomórfica -, bem como ao cinema de vanguarda de Marcel Duchamp (Anémic Cinema, 1926) e Dziga Vertov (O Homem com a Câmera, 1929). O logotipo da empresa TV em La Antena lembra diretamente as espirais de Anémic Cinema. O tema da população que tem sua energia vital drenada pela televisão remete ainda a uma produção tcheca bem mais recente e menos conhecida, o longa tcheco Akumulátor 1(1994), de Jan Sverak.
O trabalho da direção de arte em La Antena, assinado por Daniel Gimelberg, é primoroso e, de acordo com o making-of do filme, disponível nos extras do DVD, fica clara a intenção de homenagear uma história dos efeitos especiais, com a emulação de alguns efeitos ópticos por meio de ferramentas digitais.
O roteiro de La Antena é razoavelmente confuso, e só em algumas seqüências excluídas do corte final, disponibilizadas nos extras do DVD, é que compreendemos determinadas ações e motivações dos personagens. Porém, a julgar pelo depoimento de Sapir no making-of do filme, a narrativa de La Antena foi muito mais baseada em sensações, impressões e atmosferas do que na progressão linear de um roteiro conservador. Falar em lógica, neste caso, seria um tanto quanto ocioso. De toda maneira, a despeito de quaisquer defeitos, La Antena é “um filme vivo, feito com as vísceras” – parafreaseando Jean-Claude Bernardet a respeito de Bicho de Sete Cabeças (2009, p. 258). Somando-se La Antena a La Sonámbula (1998) e Adiós Querida Luna (2004), ambos de Fernando Spiner, e ainda Moebius (1996), de Gustavo Mosquera, o cinema fantástico argentino contemporâneo ganha “de lavada” do equivalente brasileiro. 
Gustavo Mosquera, Esteban Sapir e Lucrecia Martel são alguns dos diretores argentinos com passagem pela ENERC (Escuela Nacional de Experimentación y Realización Cinematográfica). Os trabalhos em curta-metragem de Mosquera e Sapir, por exemplo, revelam muito sobre seus projetos posteriores em longa-metragem. IV Éden (1989), de Sapir, já demonstra o interesse do cineasta pela televisão e a metalinguagem. O filme é uma distopia pós-apocalíptica envolvendo vigilância em vídeo, de extração metalingüística. Arden los Juegos (1985), de Mosquera, é uma ficção pós-apocalíptica sobre a angústia dos momentos seguintes a uma catástrofe global. Tanto Arden los Juegos como IV Éden demonstram um interesse relativamente difundido no cinema de FC argentino pela ficção distópica, ou pós-apocalíptica, algo observável também no Brasil, embora talvez com menos intensidade ou empenho. 
Falta no cinema brasileiro a mesma familiaridade com o trato do tema fantástico observável na Argentina, a mesma arte do improviso, sujeição ao arriscado – enfim, a mesma ousadia de fazer filmes “médios”, porém inspirados porque cheios de vida.

Crítica retirada de cronopios
















 

































































































































































sábado, 27 de novembro de 2010

O genocídio colombiano



Além da melhoria das relações com a Venezuela e com o Equador, o que constitui um fator positivo, o governo de Juan Manuel Santos (iniciado em 7 de agosto) prossegue a política repressiva que caracterizou o governo de Álvaro Uribe (foto).

Por Niko Schvarz, no La República (Uruguai)
 


Política essa expressa em assassinatos e execução dos membros do Polo Democrático Alternativo (PDA) e dos defensores dos Direitos Humanos, das organizações sindicais e camponesas, que são vítimas de deslocamentos forçados que afetam milhões de pessoas, sem falar da infâmia que é a expulsão do Senado de Piedad Córdoba, esforçada lutadora pela paz e pelo acordo humanitário.

Ao mesmo tempo, agentes caracterizados da repressão do governo Uribe, particularmente dos serviços de espionagem governamental do DAS, fogem do país por terem sido chamados à justiça e encontram um injsutificado asilo político do governo panamenho de Ricardo Martinelli.

O próprio Uribe foi condecorado na terça-feira (23) pelo Parlamento de fato de Honduras, por ter sido um dos primeiros presidentes a reconhecer o mandato de Porfírio Lobo, que assumiu o cargo de presidente do país em 27 de janeiro, dando continuidade ao golpe de Estado de 28 de junho de 2009 que derrubou o governo constitucional de Manuel Zelaya.

A Frente Nacional de Resistência Popular de Honduras (FNRP) expressou nas ruas seu repúdio à presença de Uribe, enquanto uma espúria Comissão da Verdade justificava a ação do usurpador Roberto Micheletti. Ali estavam todos presentes.

Há alguns dias, em 16 de novembro, foi assassinado Miler Avendaño Peñaranda, coordenador do PDA no município de El Tarra, em Santander Norte, fronteiriço com a Venezuela, um líder social e comunitário de 28 anos. Com este crime se eleva a nada menos que a 12 membros dirigentes do Polo Democratico assassinados nos últimos seis meses, que compreendem o final do governo de Uribe e o início do de Santos.

Nestes crimes participaram grupos irregulares e bandos de paramilitares, que estão muito longe de terem sido desmantelados.

Em 30 de outubro, defensores dos Direitos Humanos de Bogotá e dos departamentos do Valle del Cauca, Cauca e Nariño, no sudoeste, entre elas organizações indígenas e de afro-descententes, assim como sindicatos, receberam mensagens de têxto idênticas, com ameças de morte por parte do grupo paramilitar Águilas Negras, que diziam a eles que fugissem da Venezuela, sublinhando que "vão ou morram".

Entre os destinatários, umas 25 pessoas e organizações, se encontravam o Processo de Comunidades Negras (PCN), o Conselho Regional Indígena de Cauca (CRIC) e a Central Unitária dos Trabalhadores (CUT).

Outros fatos recentes. Protestos camponeses em Cúcuta foram selvagemente reprimidos por Esquadrões Antidistúrbios da Polícia, com saldo de 20 feridos e outro tanto detidos. Em Bajo Ariari, departamento do Meta, denunciam fuimigações arbitrárias e indiscriminadas.

Em 18 de novembro é detido por unidades do exército Wilson José Escamilla, líder camponês e presidente da Comissão de Direitos Humanos do distrito La Catalina, no município de La Macarena (onde foram descobertas fossas com mais de 200 cadáveres)

Por outro lado, a ex-diretora do DAS (desde 23 de agosto de 2007 a 23 de outubro de 2008) María del Pilar Hurtado, procurada pela justiça por suas atividades nesse orgão de espionagem dependente da presidência, que fugiu do país para o Panamá e o governo de Martinelli lhe outorgou o asilo político sem mais trâmites.

Outros seis altos funcionários do DAS estão procurando asilo para fugir da ação da justiça. Uribe, inclusive, foi citado a comparecer perante a justiça americana, pelo assassinato de sindicalistas sob seu governo, mas faltou à audiência.

O secretário-geral do Partido Comunista Colombiano e deputado por Bogotá, Jaime Caycedo, realizou uma síntese da situação de seu país em uma apresentação durante uma Conferência Nacional sobre Genocídio e Democracia.

Em seu parágrafo inicial, expressa que o tema crucial é "como colocar fim ao estado de guerra contra a insurgência e contra a população civil, que se expressa no desconhecimento do Direito Internacional Humanitário, nos contínuos bombardeios às zonas povoadas, na criminalização dos opositores, nos desaparecementos e assassinatos de dirigentes do campo, sindicais, nas ameaças, no refúgio interno massivo e na pretendida limpeza social, no aplacar da voz de líderes políticos populares por meio da Procuradoria, enfim, na ação do poder econômico-midiático para fragmentar a oposição democrática ao sistema"

Caycedo traça um grande plano de ação das forças democráticas e populares, e o precede de uma análise reduzida do estado de guerra permanente que atravessa o país. Veremos isso em breve.
Fonte: Vermelho

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pensando nos que não vêem, segue abaixo um serviço.

 
  Audioteca Sal e Luz

A Audioteca Sal e Luz é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, que produz e empresta livros falados (audiolivros) .
Mas o que seria isto? São livros que alcançam cegos e deficientes visuais (inclusive os com dificuldade de visão pela idade avançada), de forma totalmente gratuita.

Seu acervo conta com mais de 2.700 títulos que vão desde literatura em geral, passando por textos religiosos até textos e provas corrigidas voltadas para concursos públicos em geral. São emprestados sob a forma de fita K7, CD ou MP3.

E agora, você está se perguntando: o que eu tenho a ver com isso? É simples.
Nos ajude divulgando.
Se você conhece algum cego ou deficiente visual, fale do nosso trabalho. DIVULGUE!

Para ter acesso ao nosso acervo, basta se associar na nossa sede, que fica situada à Rua Primeiro de Março, 125- Centro. RJ. Não precisa ser morador do Rio de Janeiro.

A outra opção foi uma alternativa que se criou, face à dificuldade de locomoção dos deficientes na nossa cidade.
Eles podem solicitar o livro pelo telefone, escolhendo o título pelo site, e enviaremos gratuitamente pelos Correios.

A nossa maior preocupação reside no fato que, apesar do governo estar ajudando imensamente, é preciso apresentar resultados. Precisamos atingir um número significativo de associados, que realmente contemplem o trabalho, senão ele irá se extinguir e os deficientes não poderão desfrutar da magia da leitura.
Só quem tem o prazer na leitura, sabe dizer que é impossível imaginar o mundo sem os livros...             AJUDEM-NOS    Divulguem!

      Atenciosamente,
Christiane Blume - Audioteca Sal e Luz. Rua Primeiro de Março, 125- 7º Andar. Centro - RJ. CEP 20010-000
Fone: (21) 2233-8007
Horário de atendimento: 08:00 às 16:00 horas

VEJA O VÍDE:

    

 
A Audioteca não precisa de dinheiro, mas de DIVULGAÇÃO !! 
Então conto com a ajuda de vocês: repassem! 
Eles enviam para as pessoas de graça, sem nenhum custo. 
É um belo trabalho! 
Quem puder fazer com que a Audioteca chegue à mídia, por favor fique à vontade. 
É tudo do que eles precisam.

A raiva mal dirigida nos EUA


Tomando emprestadas as palavras de Fritz Stern, o famoso estudioso da história alemã: tenho idade suficiente para lembrar-me daqueles dias ameaçadores nos quais os alemães despencaram da decência para a barbárie nazista. Em um artigo de 2005, Stern indica que tem o futuro dos EUA em mente quando repassa um processo histórico no qual o ressentimento contra um mundo secular desencantado encontrará a liberação no êxtase da fuga da razão. O mundo é demasiado complexo para que a história se repita, mas de todo modo há lições que devem ser relembradas. O artigo é de Noam Chomsky.

Nunca havia testemunhado tamanho grau de irritação, desconfiança e desencanto como o que presenciamos nos Estados Unidos por ocasião das eleições de metade de mandato. Desde que os democratas chegaram ao poder, estão tendo que lidar com nosso monumental incômodo pela situação social, econômica e política do país. Em uma pesquisa da empresa Rasmussen Records, realizada em outubro, mais da metade da cidadania americana assegura ver com bons olhos o movimento Tea Party: esse é o espírito do desencanto.

Os motivos de queixa são legítimos. Nos últimos 30 anos, os salários reais da maioria da população estancaram ou diminuíram, enquanto que a insegurança trabalhista e a carga de trabalho seguiram aumentando, do mesmo modo que a dívida. Acumulou-se riqueza, mas só em alguns bolsos, provocando desigualdades sem precedente.

Estas são as consequências derivadas da financeirização da economia, que vem se desenvolvendo desde os anos 70, e do correspondente abandono da produção doméstica. Recordando esse processo: a mania da desregulamentação defendida por Wall Street e apoiada por economistas fascinados pelos mitos da eficiência do mercado.

O público adverte que os banqueiros, responsáveis em boa parte pela crise financeira e que tiveram que ser salvos da bancarrota, estão desfrutando de lucros recordes e suculentas bonificações, enquanto os índices do desemprego continuam em torno de 10%. A indústria encontra-se em níveis similares aos da Grande Depressão: um de cada seis trabalhadores está desempregado, e o cenário indica que os bons empregos não vão voltar.

O povo, com razão, quer respostas e ninguém as dá, com exceção de umas poucas vozes que contam histórias com certa coerência interna: desde que se suspenda a incredulidade e se adentre em seu mundo de disparate e engano.

Mas ridicularizar as travessuras do Tea Party não é o mais acertado. Seria muito mais apropriado tentar compreender o que sustenta o encanto desse movimento popular e nos perguntar por que uma série de pessoas irritadas estão sendo mobilizadas pela extrema direita e não pelo tipo de ativismo construtivo que surgiu nos tempos da Depressão (como, por exemplo, o Congresso das Organizações Industriais, CIO).

Neste momento, o que os simpatizantes do Tea Party ouvem é que todas instituições (governo, corporações e corpos profissionais) estão apodrecidas e que nada funciona. Entre o desemprego e outros inúmeros problemas, os democratas não têm tempo para denunciar as políticas que conduziram ao desastre. Pode ser que o presidente Ronald Reagan e seus sucessores republicanos tenham sido os grandes culpados, mas essas políticas iniciaram já com o presidente Jimmy Carter e se intensificaram com o presidente Bill Clinton. Durante as eleições presidenciais, entre o eleitorado principal de Barack Obama estavam as instituições financeiras, que afiançaram sua primazia sobre nas últimas décadas.

Aquele radical incorrigível do século XVIII, Adam Smith, referindo-se a Inglaterra, diria que os principais arquitetos do poder eram os donos da sociedade (naqueles dias, os mercadores e industriais), e estes se asseguravam que as políticas do governo se ativessem religiosamente a seus interesses, por mais penoso que fosse o impacto sobre a população inglesa, ou pior, sobre as vítimas da “selvagem injustiça dos europeus” em outros países.

Uma versão mais moderna e sofisticada da máxima de Smith é a teoria do investimento em partidos políticos, do economista político Thomas Ferguson, que considera as eleições como eventos nos quais grupos de investidores se unem para poder controlar o Estado, selecionando para isso os arquitetos daquelas políticas que atendem aos seus interesses.

A teoria de Ferguson é útil para antecipar as estratégias políticas para longos períodos de tempo. Isso não é nenhuma surpresa. As concentrações de poder econômico procurarão de maneira natural estender sua influência sobre qualquer processo político. O que ocorre é que, nos Estados Unidos, essa dinâmica é extrema.

E ainda assim pode-se argumentar que os desperdícios empresariais têm uma defesa válida frente às acusações de avareza e desprezo pelo bem comum. Sua tarefa é maximizar os lucros e o “bem-estar” do mercado. De fato, esse é seu dever legal. Se não cumprissem essa obrigação, seriam substituídos por alguém que o fizesse. Também ignoram o risco sistemático: a possibilidade que suas transações prejudiquem a economia em seu conjunto. Esse tipo de externalidade não é de sua incumbência, e não é por que sejam más pessoas, mas sim por razões de tipo institucional.
Quando a bolha estoura, os que correram os riscos correm para o refúgio do Estado. As operações de resgate, uma espécie de apólice de seguro governamental, constituem um dos perversos incentivos que magnificam as ineficiências do mercado.

Cada vez está mais ampliada a ideia de que nosso sistema financeiro percorre um ciclo catastrófico, escreveram, em janeiro deste ano, os economistas Peter Boone e Simon Johnson, no Financial Times. Toda vez que ele sucumbe, confiamos que seja resgatado por políticas fiscais e dinheiro fácil. Esse tipo de reação mostra ao setor financeiro que ele pode fazer grandes apostas, pelas quais será generosamente recompensado, sem ter que se preocupar com os custos que possa vir a ocasionar, porque será o contribuinte quem acabará pagando por meio de resgates e outros mecanismos. E, como consequência, o sistema financeiro ressuscita outra vez, para apostar de novo e voltar a cair.

O dia do juízo final é uma metáfora que também se aplica fora do mundo financeiro. O Instituto do Petróleo Americano, respaldado pela Câmara de Comércio e outros grupos de pressão, intensificou seus esforços para persuadir o público a abandonar sua preocupação com o aquecimento global provocado pelo homem e, segundo mostram as pesquisas, obteve bastante êxito nesta tarefa. Entre os candidatos republicanos ao Congresso nas eleições de 2010, praticamente todo mundo rechaça a ideia de aquecimento global.

Os executivos responsáveis pela propaganda sabem de sobra que o aquecimento global é verídico e nosso futuro incerto. Mas o destino das espécies é uma externalidade que os executivos têm que ignorar, pois o que se impõe é o sistema de mercado. E o público não poderá sair em operação de resgate quando finalmente se confirme o pior dos cenários possíveis.

Tomando emprestadas as palavras de Fritz Stern, o famoso estudioso da história alemã: tenho idade suficiente para lembrar-me daqueles dias ameaçadores nos quais os alemães despencaram da decência para a barbárie nazista. Em um artigo de 2005, Stern indica que tem o futuro dos EUA em mente quando repassa um processo histórico no qual o ressentimento contra um mundo secular desencantado encontrará a liberação no êxtase da fuga da razão.

O mundo é demasiado complexo para que a história se repita, mas de todo modo há lições que devem ser relembradas quando verificamos as consequências de outro ciclo eleitoral. Não é pequena a tarefa diante de quem deseje apresentar-se como uma alternativa à indignação e à fúria enlouquecida, ajudando a organizar os não poucos descontentes e sabendo liderar o caminho para um futuro mais próspero.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer