segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Flávio Koutzii afirma: “Nos falta recuperar um pedaço da nossa história”

Bruno Alencastro/Sul21
Flávio Koutzii / Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Rachel Duarte no Sul21

Ex-asilado político, Flávio Koutzii assume no governo Tarso Genro a função de assessoramento superior. Vai garantir que as demandas da secretaria cheguem rapidamente ao governador e tenham, também, soluções rápidas. Trabalha com uma equipe pequena, de oito pessoas, que se revezam nas reuniões e elaboração de relatórios.
Na entrevista ao Sul21, Koutzii defendeu a criação da Comissão da Verdade, uma das lutas da ministra da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. Ele acredita que, agora, no governo Dilma, a Comissão será criada e os culpados pelo desaparecimento de 379 pessoas, segundo a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, durante a ditadura brasileira, serão punidos. “Nos falta recuperar um pedaço da nossa história”, diz Koutzii, que se emociona ao lembrar a posse de Dilma Rousseff na presidência da República. Para ele, Dilma representa o lema do ex-presidente francês François Mitterrand, pela conquista da presidência, em 1981: “a força tranquila”.
Sul21 – Como funciona a coordenação de Assessoramento Superior do Governador?
Flávio Koutzii (FK)
– A própria definição era um pouco genérica quando o governador me convidou para a função. Sou o coordenador e tenho um grupo de oito pessoas. O João Victor é o executivo e tem um papel importante. Ele se destacou na campanha eleitoral por ser o coordenador da bancada na Assembleia Legislativa. Então, tem conhecimento de todos os projetos do legislativo. Portanto, fizemos uma combinação, de atuarmos em parceria. Temos amizade e confiança recíproca e vamos jogar juntos. Em diferentes situações, eu ou ele atuamos. Na parte mais política, eu participo do núcleo de gestão, todas as manhãs, não mais do que meia hora.
“A transversalidade cobre duas concepções diferentes: de composição das estruturas e de conexão entre as secretarias”
Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21
Sul21 – O que é discutido nestas reuniões?
FK
– Não fazemos grandes análises. É um encontro para alinhavamento, entendimento e decisão. A forma de trabalho do governador, como ele mesmo já transpareceu nas entrevistas, é clara. Ele nos convida a uma forma de trabalhar muito precisa para concisão, discussões compactadas e tempo de decisão e execução rápida, de forma exigente e permanente. A nossa assessoria contribui para garantir esta forma de trabalho no encaminhamento das demandas por parte da secretarias. Este trabalho também pode acontecer na relação direta entre as secretarias, dentro do conceito da transversalidade, e aí estou falando não de uma palavra mágica. A transversalidade cobre duas concepções diferentes: de composição das estruturas, onde genericamente podemos definir como a lógica dos 30% de outros partidos como compensação nas estruturas comandadas por alguém de um determinado partido, e na conexão entre as secretarias, que tem interface para executar os projetos do governo.
Sul21 – O senhor está dizendo que a transversalidade prevê secretarias pluripartidárias. Tem alguns gestores que pensam diferente. Está clara a forma de trabalho do governo?
FK
- Eu entendi assim. Alguns secretários podem ter outro entendimento. Mas, o que não é dúvida para todos é que as secretarias não terão porteiras fechadas. E isto não será algo fácil de fazer. Mas, concluída esta composição, e com o passar do tempo, será perceptível as virtudes da transversalidade. O que está intrínseco nesse conceito é que não haverá feudos de partidos, com assuntos que ninguém nunca saberá. Os problemas ou dificuldades não serão públicos só quando os chefes relatarem. A transversalidade ajuda a instigar a gestão, traz a boa inquietação. Outra noção boa que traz este conceito é a boa funcionalidade das estruturas do governo. Evita o que já vimos em outros governos: as secretarias se tornarem ilhas e o arquipélago ser um desastre.
Nós do PT temos bastante acúmulo do governo Lula, do governo Olívio, dos nossos governos nas prefeituras. Eu te diria a mesma coisa se esta entrevista estivesse acontecendo oito anos atrás, mas hoje posso te dizer com mais intensidade e amplitude que temos uma nova geração de gestores petistas que passaram por experiências de gestão, acertando e errando, compreendendo como chegar perto do ideário petista, levando em conta as realidades financeiras, limitações do aparelho estatal, como também de interconexões que não exercitávamos anteriormente.
Sul21 – Esta é outra questão que parece contraditória. O senhor fala de “geração de gestores petistas”. Onde ela está contemplada no governo? O que vimos é a repetição de quadros do primeiro governo petista.
FK
– É muito boa essa pergunta. O Sul21 já trouxe esse debate em outra matéria que tinha um intertítulo: “A herança do Olívio”. Por razões óbvias, eu fiquei meio assim ao ler. Mas, esta pergunta oportuniza um raciocínio interessante. Seria uma tragédia se as figuras que estão no governo hoje e que estiveram em outro governo 10 anos atrás não tivessem nenhuma experiência. Mas, aproveitar essa vivência anterior pode ser vista como um mérito. Os quadros que realizaram determinadas experiências e depois voltaram para suas funções públicas, se as tinham, foram acumulando e podem contribuir agora. E esta pergunta traz embutido um alerta positivo: tem uma certa “taxa de velharia” no governo atual. Eu defendo que isso é bom. Mas, não por ter a idade que tenho, mas, sim, porque todos os que estão neste governo, principalmente os partidos que integraram depois a coligação, têm uma visão diferente da nossa. E os mais experientes ajudam a preservar aquilo que preside este processo, que é nós termos uma centralidade política, um programa e uma situação privilegiada com o governo federal.
“Só a cegueira ou o sectarismo de direita não percebem que o governo Dilma é de uma era política diferente”
Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21
Sul21 – De que forma exatamente poderá trazer benefícios para o estado o alinhamento partidário dos governos federal e estadual?
FK
– O governo Dilma é de uma era política diferente, herdada da era Lula. Só a cegueira ou o sectarismo de direita não percebem. Hoje, a palavra xiita deveria ser usada em relação a vários cronistas e comentaristas políticos que dizem a mesma coisa há 20 anos. Eles poderiam mudar as suas perguntas sobre o país; a sociedade já deu a resposta para elas. E falo isso sem demagogia. A imprensa está muito polarizada.
Existem quatro ou cinco perguntas inevitáveis que serão sempre feitas a todo petista que estiver na frente do jornalista hoje.
A pauta tem que ser outra. Recentemente saiu na internet a lista das dez manchetes dos últimos dias nos jornais da grande imprensa nacional. Todas eram a pauta proposta na campanha do José Serra (PSDB). Eles podem até defender esta pauta, como claramente o fazem, mas não dá para estabelecer uma relação com a realidade escolhida pela maioria da população. Não quer dizer uma relação submissa ou de aceitação pacífica ao governo Dilma. Mas, é preciso dialogar com as ideias que provavelmente um governo que teve oito anos de experiência, e tem uma inflexão continuista, terá. E digo continuista no bom sentido.
“Podemos esperar um cenário menos controverso do que tivemos no governo Olívio”
Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21
Sul21 – Qual pauta o senhor refere ser a pauta serrista? A insistência com o tema da educação brasileira, por exemplo?
FK
- Eu acho que esse tema se transformou em uma espécie de mantra da direita e do conservadorismo derrotado para um sentido particular. Claro que temos ainda enormes problemas na Educação, como na Saúde. Mas, o que me parece evidente e que faz parte de uma análise intelectualmente séria e politicamente honesta é dizer também que além dos problemas, temos avanços reais na educação brasileira. Os salários não aumentaram espetacularmente, mas faz diferença a criação de um piso nacional para o magistério.
Por isso que eu evoco a comparação disso como o “demônio da alma secreta de todo o petista que envenenará o cara que estiver mais perto”. Estas coisas demoníacas e tão animalescas e bestializadas que muito tempo foram cultivadas pela revista Veja, eu conheço. É uma estratégia de propaganda de demonização que vem desde a época do nazismo. A utilização de uma hidra com sete cabeças que foi a capa da Veja quando teve o seminário do PT, foi para associar o que seria a imagem do próximo governo do PT, o da Dilma.
Esses símbolos embolam nesta sopa meio diabólica outros temas, como o da educação agora. Por isso que eu uso a expressão mantra. É um jeito de fazer a comunicação. A parte alcançada é diminuída na sua importância e significação, e se utilizam métodos comparativos de índices mundiais, que é natural que estejamos atrás. Mas, se compararmos com índices do próprio Brasil, teve avanços. Nunca antes na história deste país se dobrou o número de escolas técnicas federais que tínhamos ao longo de toda a história republicana brasileira. Isso não é um detalhe ou aquele truque que qualquer político faz, que é legítimo, de mostrar pequenas obras para fazer marketing. Não é isso. Tu dobrar a oferta para a demanda de ensino técnico tem a ver com uma preocupação com o ensino, que é a mesma preocupação de toda população. A unificação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também foi uma conquista importante. Mas, também virou o exemplo de desastre, porque o controle das empresas terceirizadas teve problema.
Mesmo com os percalços, estamos estabelecendo um padrão nacional e sistemático. Citei apenas dois exemplos. Mas o mantra utiliza a tática de desconhecer os progressos, por mais que ainda sejam insuficientes, dando ideia de que nada aconteceu.
Sul21 – Essa tática também será utilizada pela imprensa gaúcha? Ao exemplo do que ocorreu na gestão de Olívio Dutra?
FK
– Podemos esperar um cenário menos controverso do que tivemos no governo Olívio, por várias razões. Tivemos oito anos de gestão Lula. Já aprendemos com os erros do passado. Tomamos a atitude complexa de ampliar a base de governabilidade. Partindo disso, diminui parcialmente o campo de uma feroz forma de atuação da imprensa, que foi a que atuou desde a largada do governo Olívio. Criamos condições de arrancar com uma crispação muito menor. Porém, sou daqueles que pensa individualmente que o debate continua.
Sul21 – Apoio às mídias alternativas será suficiente para alcançar um equilíbrio neste debate?
FK
– Sem dúvida. Os indicadores nacionais de gastos com publicidade no governo Lula mostram que foram repassados recursos para 8 mil veículos, não mais 800 como era antes. Isto foi uma conquista democrática. Mas não porque se atendeu o compadre do pequeno jornal, mas porque atendeu a diversificação das mídias, redestribuindo as verbas públicas. Aqui (RS) teremos este mesmo critério. Respeitaremos os veículos tradicionais, mas vamos incentivar os demais.
Sul21 – A sua coordenação lhe permite opinar sobre todas as áreas do governo?
FK
– Sim. Mas minha participação varia muito. Os demais companheiros da equipe revezam os acompanhamentos das reuniões. Sempre fazemos breves sínteses das reuniões para o acompanhamento do governador. Isso nos dá certa noção geral do governo, mas não ultrapassamos as nossas competências. É claro que, como membro do núcleo de gestão, participo com observações que penso ser pertinentes.
“Para nossa tarefa, precisamos ter maturidade, para não nos sombrear com outras áreas”
Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21
Sul21 – Terá áreas mais prioritárias de relações na sua coordenação, como a articulação política junto à Casa Civil, por exemplo?
FK
– Nós temos finalidade específica. Somos assessores do governador que têm atribuições desde participar do centro político de decisões, monitorar alguns projetos e seguir determinações do governador. É uma tarefa para a qual precisamos ter maturidade, para não se sombrear com outras áreas do governo. É necessário se autolimitar, para ser realmente uma força auxiliar com a hierarquia voltada ao governador, dialogar bem e ajudar as secretarias.
Sul21 – Como está o andamento geral do governo nestas primeiras semanas?
FK
- Ainda estamos nos organizando e terminando a composição do segundo escalão. Mas já temos nos apropriado de alguns temas, como as cartas-consultas dos empréstimos financeiros e a aprovação dos projetos na Assembleia Legislativa.
Sul21 – Como é a sua relação com o governador Tarso Genro?
FK
– Nos conhecemos há muito tempo. Mas, nunca estive tão perto dele como nesta eleição. Acompanhei os debates da coordenação de campanha. Vivenciei algumas avaliações, decisões. E, no período da transição, também acompanhei os labirintos da composição. A instância para arbitrar situações que viravam impasses era o governador, mas a nossa tarefa sempre foi levar o mínimo de questões para o governador arbitrar. Nesse processo eu me aproximei mais do Tarso.
Sul21 – Mas o senhor fundou junto com ele uma das correntes do PT. Como foi essa aproximação político-partidária?
FK
– Quando eu voltei da França, onde estava exilado, em 1984, o Tarso estava entrando no PT. Nesta época se falava de construir o partido e para mim foi fantástico, pois eu tinha ficado 14 anos fora. Mas eu era um cara meio portenho e até sempre debochei que não sei como me entendiam, porque o meu português era terrível. Sempre foi muito viva a memória de Buenos Aires, da prisão…
Aqueles anos na Argentina foram muito impactantes na minha vida. Como o período na França. Foram cinco anos, mas foram dramáticos. Foi uma tentativa de reconstrução pessoal, depois de duas derrotas gigantescas, prisão, tortura, muita gente perdida… Minha autocrítica com minhas próprias responsabilidades, com meu sentimento de culpa em ter falhado aqui.
“A Argentina colocou na cadeia os seus ditadores. E o Brasil não conseguiu sequer tratar do assunto”
Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21
Sul21 – A ministra da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, começou o mandato pedindo que seja aprovada a criação da Comissão da Verdade, que irá apurar os crimes da ditadura militar. O senhor acredita que o governo Dilma irá conseguir isso?
FK
– Agora vai. Este é um atraso para nossa nação. Tanto o ministro Paulo Vanuchi como o Tarso foram figuras emblemáticas na tentativa de avançar neste tema. Tanto no Plano de Direitos Humanos quanto na tentativa de responsabilizar os torturadores por crimes contra humanidade. Portanto, reler o tema da anistia como ele tem que ser feito.
E ver o atraso do Brasil me remete ao meu pedaço de vida argentina. A Argentina colocou na cadeia os seus ditadores. E o Brasil não conseguiu sequer tratar do assunto. A direita e seus interessados dizem que este é um tema revanchista. Não. Nos falta recuperar um pedaço da história. É impossível que os jovens continuem sendo formados dentro do Exército, que seja legítimo ter uma educação deformada da história. Uma espécie de fossilização do passado e uma indecência inadmissível.
Eu me considero concernido por todas essas coisas. Mas não acho que isso é uma questão de acerto pessoal. Há um pedaço faltando nesta história. Como podemos, simplesmente, aceitar o desaparecimento de cerca de 400 pessoas do país? Simplesmente nos convidam a esquecer? O que me alarma terrivelmente é o discernimento sobre a ética deste tema. Ninguém quer fazer um novo capítulo do passado. Temos que acertar as contas com o passado para ter uma luminosidade mais clara do conjunto da nossa história. Isso tem a ver com a educação, com a memória de um povo e com a formação do nosso Exército. No governo Lula começou a haver, especialmente a partir do segundo mandato, uma modernização do Exército brasileiro. Essa modernização implicará em algumas revisões doutrinárias do que deve ser uma força nacional de defesa. E o resto? Também. A formação cívica, onde a moral cívica não é da ditadura militar. Este tema ficou pendente do governo Lula e a nossa presidenta terá coragem para fazê-lo.
Sul21 – Precisou de uma mulher para fazer isso?
FK
– É verdade. Duas né. (risos)
Sul21 – Qual o significado da eleição de Dilma Rousseff para o país?
FK
– Eu senti mais o aspecto da vitória, do ponto de vista mais amplo, de todos. Foi a candidatura do projeto em que eu acredito, que conseguiu coisas notáveis para o país, apesar de ainda faltarem avanços. Medularmente envolvido com a política como estou, posso dizer que o mau-caratismo da campanha eleitoral nacional, fez com que a vitória de Dilma fosse uma confirmação de sua segurança e da sua força. Ela encarou um câncer, uma situação de ser candidata à presidência da República, uma campanha que atacou pontos sensíveis e fora do debate político e conseguiu crescer e vencer. A minha impressão pessoal do dia de sua posse….
(emocionou-se e chorou)
Desculpa. Me engasguei. Não sou um personagem de paparicações, mas tem uma imagem de força na Dilma que lembra o lema do Mitterrand (François), quando ganhou as eleições na França, em 1981: “La force tranquille”. É a força tranquila. Tem uma síntese genial essa frase e me fez lembrar a síntese da trajetória de conquista da Dilma. Essa foi a sensação subjetiva que me passou. Que ela tem uma densidade e uma história de vida que é dura, mas ela foi tranquila e segurou.
Sul21 – Como o senhor prevê a participação do estado nas eleições do Parlamento do Mercosul e como será a relação diplomática com os países que compõem o bloco?
FK
– O único país que já elegeu para o Parlamento é o Paraguai. Até agora todo o Parlamento era indicado. Este assunto é importante. O deputado federal Rosinha no Paraná presidiu uma parte da gestação do futuro Parlamento eleito. Mas, este tema ainda não foi tratado. Não está em pauta ainda no governo. Talvez esquente mais na metade do ano. Em todo caso, com o Mercosul nós temos toda a ambição. Vamos contar com o trabalho da assessoria de Relações Internacionais para isso.

Facismo Ordinário (Обыкновенный фашизм/Obyknovennyy fashizm; Mikhail Romm; 1965)


Título: Facismo Ordinário (Обыкновенный фашизм/Obyknovennyy fashizm)
Ano: 1965
Diretor: Mikhail RommProdução: URSS
Tema: Visão de um diretor Soviético sobre o nazismo
Créditos: Filmes Políticos
 

A direita política e midiática criando doentes mentais

Com todas as possibilidades técnicas e jornalísticas do século XXI, a demência de alguns líderes políticos e o poder de algumas vias midiáticas de propaganda conseguem arrastar grandes setores da opinião pública para uma dissociação psicótica que ninguém sabe até onde pode nos levar.

Por Pascual Serrano na Revista Fórum

Em plena era da informação, é estarrecedor como se pode conseguir  que amplos setores da opinião pública possam executar uma alteração tão impressionante da realidade. Na Venezuela, atende pelo nome de ‘dissociação psicótica’, isto que consiste em um processo mental pelo qual se cria no subconsciente do indivíduo uma realidade fictícia na qual todos os males e todo o mal que se sucede provém de uma só causa ou de uma só pessoa. A tese levantada pelos setores alinhados ao governo venezuelano e à manutenção da institucionalidade é que os meios de comunicação implantaram este modo de pensamento, de tal maneira que responsabilizam de forma patológica Hugo Chávez e o governo venezuelano por todo o mal que ocorre, perdendo assim qualquer capacidade de análise racional da realidade. O curioso é que não é somente na Venezuela que isto ocorre. Nos Estados Unidos se trata de uma forma de pensamento que não para de aumentar e se difundir entre a ultra direita política e midiática.

No dia 6 de março de 2003 o membro da Câmara de Representantes do Texas, Debbie Riddle, em uma entrevista ao jornal El Paso Times, afirmava: “De onde surge esta idéia de que todo o mundo merece uma educação gratuita, atenção médica gratuita, independente de quem seja? Vem de Moscou, da Rússia. Vem diretamente da boca do inferno. E é habilmente disfarçada como uma idéia de gente de bom coração. Nada de bom coração. Isso é o que rasga o coração deste país”1 . O professor de História da Universidade de Houston, Robert Zaretsky recordava2 que a supracitada congressista republicana levantou no início de 2010 aquilo que chamou de “o problema dos terroristas de bermudas”. Segundo ela, existiriam mulheres enviadas por terroristas que cruzariam a fronteira para dar à luz seus filhos em solo estadunidense. Uma vez crescidos, estes “agentes adormecidos” passariam à ação com o objetivo de disseminar o caos nos Estados Unidos.

Não se trata de uma paranóia exclusiva de Riddle; outro membro do Texas na Câmara de Representantes, Louie Gohmert, afirmou em um discurso pronunciado na Câmara em junho de 2010 que um ex-agente do FBI lhe havia contado sobre os “terror baby”. Segundo explicou mais tarde em uma entrevista ao Fox Business News, ele conheceu num avião um passageiro com um familiar que pertencia ao Hamas que lhe contou que este tinha a intenção de conseguir que um neto seu nascesse nos Estados Unidos3. Na entrevista, Gohmert afirmou que as mulheres grávidas viajam do Oriente Médio aos EUA com vistos de turista e munidas da intenção de dar a luz nos Estados Unidos e conseguir assim para seus filhos a cidadania estadunidense. Segundo Gohmer, depois a criança voltaria ao país de origem da mãe onde faria um treinamento com terroristas com o objetivo de voltar depois aos Estados Unidos. Quando o jornalista pediu a Gohmert que fornecesse provas disto, ele se limitou a indicar um artigo do Washington Post4 que descrevia o que denominam de turismo de nascimento (“birth tourism”). Tratava-se da existência de pacotes turísticos, em especial para cidadãos chineses, com o objetivo que a “turista” grávida tivesse seu filho em território estadunidense. Aquilo foi descrito pelo político republicano como um “enorme rombo na segurança do nosso país”. Perguntando pela relação disto com as crianças terroristas, afirmou: “Se você não acredita que isto é uma prova, é porque acha que os terroristas são mais tontos que estas pessoas empreendedoras” 5. O assunto foi de tal maneira absurdo que provocou uma paródia no The Daily Show6, mas sem dúvida, tendo em vista os hábitos eleitorais, não faltariam cidadãos para compartilhar a tese de Gohmert.

A paranoia política da ultra direita tem também seu correspondente braço midiático. O professor de literatura da Universidade de Illinois, Walter Benn Michaels, conta7 que no verão do ano passado, surgiu uma controvérsia entre duas “estrelas” da direita estadunidense da emissora Fox, em torno da pergunta: Qual é o inimigo mais perigoso dos Estados Unidos da América? O primeiro deles, Bill O’Reilly, responde o previsível: Al-Qaeda. Porém, o outro jornalista, Glenn Beck, afirmou: “não são os jihadistas os que ‘querem destruir nosso país’, mas sim ‘os comunistas’”. Pode se pensar que Beck somente respondeu mediante um condicionamento mental característico da Guerra Fria. No entanto, ele nasceu em 1964, e não pode conhecer este período com pleno uso da razão. Por outro lado, Beck não é um apresentador minoritário. Em 2009 seu programa foi um dos que obteve maior audiência de notícias comentadas na televisão a cabo, com oito milhões de espectadores. Em programas de outros canais, como a ABC, ele foi selecionado pelo público como uma das “10 pessoas mais fascinantes” de 20098 . E em 2010 o jornal The Times o incluiu entre os cem líderes políticos mais influentes9 .

Benn Michaels recorda que na lista dos best-sellers da Amazon, o ensaio político mais vendido é Caminho de Servidão, do economista ultraconservador austríaco Friedrich Hayek, falecido em 1992. Uma das teses do livro é que qualquer política dirigida diretamente a um ideal de justiça distributiva, isto é, o que se entende como uma distribuição “mais justa”, tem necessariamente que conduzir à destruição do império da lei. Nos Estados Unidos pode-se escutar o jornalista de rádio com maior audiência do país, Rush Limbaugh, alertando contra os espiões “comunistas” que “trabalham para Vladimir Putin” 10.

O fenômeno, como era de se esperar, não se restringe aos Estados Unidos nem à Venezuela. Na Itália, Silvio Berlusconi afirma que os comunistas querem eliminá-lo11, apesar dos comunistas não terem ali nem mesmo um só deputado nacional. Na Espanha, até mesmo o setores midiáticos próximos ao governo tentam dar o sinal de alerta sobre a paranoia da direita midiática12. Assim o denuncia o ex-diretor adjunto do jornal El País, José Maria Izquierdo, em seu livro As Cornetas do Apocalipse, onde passa por algumas das figuras da direita troglodita espanhola e suas “pérolas” de análise sobre a situação espanhola e o governo Zapatero. Ainda que valesse a pena recordar ao autor que foi em seu jornal que mais soaram as trombetas do apocalipse contra os governos progressistas da América Latina. Também se na Espanha se une a eles a Igreja, a instituição mais antiga na arte de disseminar o pânico e a angústia. O bispo de Córdoba assegurou que a Unesco tem um plano “para, nos próximos vinte anos, fazer com que a metade da população mundial seja homossexual” 13.
Em qualquer caso, a inquietante conclusão é a angústia de comprovar que, com todas as possibilidades técnicas e jornalísticas do século XXI, a demência de alguns líderes políticos e o poder de algumas vias midiáticas de propaganda consigam arrastar grandes setores da opinião pública para uma psicose, uma dissociação psicótica que ninguém sabe até onde pode nos levar.

Pascual Serrano é jornalista. Acaba de publicar o livro Traficantes de información. La historia oculta de los grupos de comunicación españoles. Foca.

1 "Legislators Question Border Health", El Paso Times. 6-3-2003
2Le Monde Diplomatique (edição espanhola) Dezembro, 2010
3Editorial. The Boston Globe, 14-8-2010. http://www.boston.com/bostonglobe/editorial_opinion/editorials/articles/2010/08/14/and_avoid_crackpot_theories_too/ .
4Richburg, Keith. "For many pregnant Chinese, a U.S. passport for baby remains a powerful lure", Washington Post, 18-7-2010 http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/07/17/AR2010071701402.html
5 "Video: Rep. Gohmert on `terror babies` ”. CNN, 12-8-2010. http://ac360.blogs.cnn.com/2010/08/12/video-rep-gohmert-on-terror-babies-conspiracy/
6 "Jon Stewart & Anderson Cooper Look at Gaping Holes - Security - The Daily Show with Jon Stewart. Video Clip | Comedy Central" . Thedailyshow.com. 17-8-2010. http://www.thedailyshow.com/watch/tue-august-17-2010/jon-stewart---anderson-cooper-look-at-gaping-holes---security .
7Le Monde Diplomatique, Dezembro 2010.
8 "Top 10 Most Fascinating People of 2009" . ABC News. http://abcnews.go.com/Entertainment/slideshow?id=9225910&page=3 .
9 “ Time`s 2010 Top 100 most influential people list ”. The Times, 29-4-2010. http://www.time.com/time/specials/packages/completelist/0,29569,1984685,00.html http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1984685_1984864_1985415,00.html
10Se puede escuchar en Media Matters, 8-7-2010 http://mediamatters.org/mmtv/201007080038
11Berlusconi: "Os comunistas existem e usam dos juízes próximos para me eliminar". El País, 5-1-2011. http://www.elpais.com/articulo/internacional/Berlusconi/comunistas/existen/usan/jueces/cercanos/eliminarme/elpepuint/20110105elpepuint_9/Tes
12“O `discurso do ódio` envenena a democracia”. Público, 16-1-2011. http://www.publico.es/internacional/356440/el-discurso-del-odio-envenena-la-democracia
13El País, 2-1-2011 http://www.elpais.com/articulo/sociedad/obispo/Cordoba/Unesco/quiere/hacer/mitad/poblacion/sea/homosexual/elpepusoc/20110102elpepusoc_5/Tes
Publicado por Rebelión. Foto por http://www.flickr.com/photos/cjc4454/.

Noticias do Portal Patria Latina

Um político na lata do lixo da história


As mais recentes revelações do site WikiLeaks mostram uma faceta do ex-senador Heráclito Fortes (foto) que muitos já imaginavam existir. O ex-senador prefere negar, como outros indicados pela WikiLeaks o fizeram. Heráclito não tem coragem de admitir ter sugerido ao então embaixador estadunidense Clifford Sobel que o governo dos Estados Unidos estimulasse a produção de armas no Brasil para conter supostas ameaças de Venezuela, Irã e Rússia, como revelou o site WikiLeaks.
O povo do Piauí julgou este senhor nas urnas, impedindo que ele tivesse mais oito anos de mandato no Senado. Na verdade, o Piauí livrou-se de um político pernicioso aos interesses nacionais. Quando Heráclito Fortes tinha mandato, os meios de comunicação de mercado lhe proporcionavam grandes espaços, sobretudo ao criticar pontos positivos da política externa do governo Lula e o próprio Presidente da República. Portanto, o Brasil consciente agradece ao povo do Piauí por mandar este Heráclito Fortes para o lixo, de onde se espera nunca mais saia.
Tem políticos do Demo e do PSDB que continuam por aí seguindo a mesma linha de Fortes. As revelações do site WikiLeaks mostram também como são promíscuas as relações de alguns políticos brasileiros com diplomatas estadunidenses.
A patota do Heráclito Fortes e adjacências não vai gostar nada da informação segundo a qual o governo da Venezuela anunciou ter ampliado suas reservas petrolíferas para 297 bilhões de barris. Se o fato for mesmo confirmado pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), a República Bolivariana da Venezuela se transformará no país com a maior reserva de petróleo do mundo, maior até do que a Arábia Saudita, aliadíssima dos Estados Unidos.
Falando em mundo árabe, a Tunísia está dando um exemplo de como é fundamental a mobilização popular. O povo nas ruas tirou um ditador corrupto, Zine El Abidine Ben Ali, que fugiu exatamente para a Arábia Saudita, levando ouro e tudo mais para viver nababescamente. 
Na área de imprensa, os jornalistas tunisinos estão fazendo uma revolução que deve servir de exemplo em muitas partes do mundo. Segundo o Le Monde, ao levarem a cabo a “Revolução do Jasmim”, os jornalistas estão assenhoreando-se da linha editorial nas redações, sem, por enquanto, exigir a saída de sua direção. Formam comitês de redação nos meios de comunicação do Estado, nos jornais privados vinculados ao antigo regime e até naqueles do ex-partido no poder, a União Constitucional Democrática, cuja dissolução as massas populares estão a exigir nas ruas. «Somos nós que vamos decidir doravante a linha editorial», garantiu o jornalista Faouzia Mezzi. O jornalista Taukif Ben Brik, ferrenho opositor do regime de Ben Ali, será candidato na eleição presidencial que deverá ocorrer dentro de seis meses.
Os donos do poder na Tunísia querem trocar o seis pelo meia dúzia, ou seja, que permaneça no poder o esquema anterior, apenas com a saída de Ben Ali. O povo e os jornalistas não aceitaram o jogo e almejam um novo país, sem esquemas corruptos e ditatoriais, do tipo que se subordina sem pestanejar aos ditames do mercado financeiro. O povo percebeu a manobra e segue nas ruas exigindo virar a página em definitivo.
Por aqui seguimos sob o impacto da tragédia na região serrana. Um esclarecimento, o que houve na região serrana não foi o evento natural com o maior número de mortos. O maior até agora ocorreu em 1967 na Serra das Araras, quando a encosta desabou matando entre 1.500 e 1700 pessoas, cujos corpos ficaram lá mesmo e não foram encontrados. Como naquele ano o país vivia em plena ditadura, muitas informações foram omitidas, mas não dá para esquecer o fato, como fizeram os jornalões e telejornalões de hoje.
E, para finalizar, vale assinalar que o município de São Lourenço segue sob a influência nefasta da Nestlé, que vem utilizando os poços de água mineral daquela cidade para fabricar água marca PureLife. Diversas organizações da cidade vêm combatendo a prática, por muitas razões.
Segundo informa a jornalista Carla Klein, para fabricar a PureLife, a Nestlé, sem estudos sérios de riscos à  saúde, desmineraliza a água e acrescenta sais minerais de sua patente. E a desmineralização de água é proibida pela Constituição. Cientistas europeus afirmam que nesse processo a Nestlé desestabiliza a água e acrescenta sais minerais em larga escala as águas minerais naturais, o que pode ter reflexos em outras cidades vizinhas.
Tem mais: como na Europa a campanha contra a Nestlé se intensificou e conta com apoio de Igrejas que denunciam o que acontece em São Lourenço, o próprio presidente da empresa tinha cedido às pressões e prometeu o fim dos trabalhos na cidade mineira. Aí sabem o que fez o governo tucano de Aécio Neves logo após a promessa do chefão da Nestlé? Baixou portaria regulamentando a atividade da empresa em São Lourenço. Ou seja, permitiu que a empresa multinacional continuasse a fazer o que sempre fez na corrida pelo lucro em detrimento da população. E tudo isso acontece sob o silêncio da mídia de mercado, que tem a Nestlé como grande ($$$$) aliada.
Mario Augusto JakobskindÉ um dos fundadores de Pátria Latina, correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

Crianças são resgatadas de fazenda de fumo ilegal

Ação conjunta do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho (MPT), Polícias Federal e Militar no município de Rio Negrinho, Planalto Norte catarinense, resgatou 23 pessoas de uma fazenda produtora de fumo onde trabalhavam em condições análogas a de escravo. Dos 23 trabalhadores resgatados, onze são crianças e adolescentes com idades entre 12 e 16 anos.
"Conforme orientação da promotora de Justiça na região, as crianças e adolescentes foram entregues em suas casas. O Ministério Público Estadual vai tomar as providências cabíveis com relação ao trabalho infantil”, contou o procurador do Trabalho Guilherme Kirtschig. A fazenda foi interditada e o procurador deu uma semana de prazo para o proprietário levantar os recursos para pagar os danos morais e as verbas trabalhistas e previdenciárias devidas.

A reportagem é do Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina e publicada por EcoDebate, 21-01-2011 e publicada do portal do MST

No momento da ação da fiscalização, os trabalhadores e as crianças trabalhavam na colheita do fumo e aplicação de agrotóxicos sem equipamentos de proteção, descalços ou de chinelos de dedo. O trabalho em plantações de fumo está entre as piores formas de exploração da criança e do adolescente, conforme a Organização Internacional do Trabalho (OIT), pois provoca câncer e outras doenças fatais e degenerativas sendo expressamente proibido, por decreto do MTE, para menores de 18 anos. “Além do contato com o fumo, que já é nocivo à saúde e proibido para menores de 18 anos, eles também lidavam com agrotóxicos sem proteção alguma”, afirma Lilian Carlota Resende, coordenadora de fiscalização do trabalho rural do MTE em Santa Catarina.
Segundo ela, os menores – uma menina de 12 anos, duas meninas e um menino de 13 anos, um menino e uma menina de 14 anos e duas meninas e três meninos de 15 anos – informaram que um trator, com uma caçamba acoplada, passava perto das 6 horas da manhã no centro de Vargem Grande – localidade onde fica a fazenda autuada – e transportava menores e adultos dentro da caçamba até o local de trabalho. “Os menores trabalhavam até perto das 19 horas quando retornavam na caçamba do trator chegando em casa perto das 20 horas”, relata Lilian.
No local, uma grande plantação de fumo, havia apenas o banheiro da casa do produtor que arrendou terras para o empregador. Os menores relataram que muitas vezes faziam suas necessidades no mato e que apesar da água fornecida estar em um galão, todos bebiam a água no mesmo copo, aumentando os riscos de contaminação por doenças infecto-contagiosas.
De acordo com a auditora fiscal, no momento em que a equipe de fiscalização chegou ao local, dois trabalhadoras faziam a aplicação do produto Primeplus – agrotóxico altamente altamente perigoso. “As empregadas esconderam os aplicadores atrás do chiqueiro de porcos para que a fiscalização não visse que as mesmas faziam a aplicação sem qualquer proteção, uma delas inclusive estava de chinelos, e ambas usavam a roupa própria de uso comum, que posteriormente inclusive seria lavada normalmente com as roupas da família, vindo a contaminar outras pessoas”, completa.
As empregadas passavam os agrotóxicos nos locais em que os menores colhiam o fumo, conforme relataram os menores, e o produtor não possuía qualquer Estudo de Gerenciamento dos Riscos dos Agrotóxicos em relação aos trabalhadores. Não havia local para guarda, armazenamento e preparação da calda do agrotóxico. Também não havia local para higienização dos empregados que aplicavam o agrotóxico.
Os fiscais constataram ainda que outra caçamba transportava, ao mesmo tempo, os galões de água, junto com o agrotóxico Primeplus e o agrotóxico Agral, junto com os mantimentos que serviam para as refeições dos empregados.
Os empregados adultos não estavam registrados, portanto não estavam amparados pela previdência social em caso de acidentes, doenças ou morte (no caso para apoio da família), não tinham sido submetidos a exame médico, não recebiam outros direitos como repouso semanal remunerado, férias proporcionais, 13º salário proporcional e FGTS.

Reicidente

A fazenda em questão foi autuada há dois anos atrás pelos mesmos motivos quando firmou Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o MPT. “Infelizmente, não conseguimos saber para quem seria vendida a produção desta fazenda, pois certamente o MPT acionaria a fumageira, que é solidariamente responsável por esse tipo de situação”, lamentou o procurador. Kirtschig deu uma semana de prazo para o proprietário levantar os recursos para pagar os danos morais e as verbas rescisórias trabalhistas e previdenciárias.
"Alguns estavam trabalhando há cerca de 26 dias enquanto outros estavam há três ou quatro dias”, diz o procurador. Para evitar uma ação judicial e a execução integral do TAC descumprido, que estabelece mais de R$ 100 mil em danos morais, o proprietário deverá pagar R$ 1 mil para cada trabalhador e R$ 1,3 mil para cada um dos menores a título de danos morais individuais. “Mais as verbas rescisórias trabalhistas e previdenciárias, o que deve totalizar cerca de R$ 60 mil”, conclui o procurador.

Pedagogia ecológica: Proposta para evitar tragédias e salvar vidas

 

 

Marcus Eduardo de Oliveira (*)
14446.jpegInequivocamente, o homem é um agressor em potencial da natureza. Esse pouco cuidado com o meio ambiente, aprofundado enfaticamente no último meio século, já fez centenas de milhares de vítimas mundo afora.
            Enquanto os horizontes do sistema de mercado priorizarem a busca incessante do lucro, pouco se importando se com isso o meio ambiente será ou não afetado, a natureza, agredida sem piedade, vai aos poucos dando seu recado.
            Nessa história toda parece que continuamos - nós, o bicho-homem -, sem aprender algo substancial, enquanto vítimas e mais vítimas - humanos, animais, plantas, flores e frutos - vão tombando pelo caminho. É a vida em toda sua plenitude que está sendo dilacerada.
            A recente tragédia na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro, com vítimas fatais que aumentam a cada dia, afora o descaso do poder público que sempre fez vistas grossas para a construção de habitações nas encostas íngremes e irregulares, pois isso rende votos, é, na essência, culpa do desequilíbrio ambiental que tem, na origem, a agressão humana para com a Mãe e a Irmã Natureza.
 
            Talvez não seja precipitado associar as fortes chuvas dos últimos dias ao aquecimento global. Um aquecimento que propicia em seu conjunto mais energia no sistema climático. No centro da questão está a agressão ambiental para atender ao sistema de produção que "reclama" mais produtos no mercado.
            Enquanto grande parte de nossa gente, dos diversos estratos da sociedade, continuar a atender aos ditames do mercado engrossando os apelos do consumo voraz, insistindo em ver a natureza apenas como mero apêndice de um sistema econômico cada vez mais tacanho e perverso, capaz de construir uma "falsa" riqueza sobre os reais escombros da natureza, outras tragédias surgirão e mais e mais mortes serão computadas.
            Para tentar reverter essa trágica situação, a idéia da prática de uma Pedagogia Ecológica, ou tenha isso o nome que tiver - ecopedagogia, consciência ecológica, bioeconomia, socialismo ecológico e outros -, se insere como condição essencial de aprendizagem capaz de proporcionar não só qualidade de vida, mas sim a preservação da própria vida.
            Essa Pedagogia Ecológica aqui modestamente defendida, é fruto de ponderações de renomados pensadores da órbita ambiental, e tem como ponto focal pensar num mundo sustentável partindo do conhecimento pleno do ambiente aliado a uma relação harmoniosa para com a natureza.
            Essa Pedagogia Ecológica, para resumirmos essa idéia em poucas palavras, pressupõe uma regência do mundo natural, em todas suas matizes, de forma a se coadunar na prática do comum e irrestrito respeito ambiental, afastando-se do consumo voraz e vendo a vida no futuro como parceira indispensável da natureza.
            Na essência, trata-se de uma proposta de ecologia pedagógica que visa ensinar primeiro a respeitar o recurso natural, pois isso se reflete na qualidade de vida. Isso deverá ser ensinado nos primeiros anos de estudo, fazendo com que a garotada tenha contato inicial com a necessidade de preservar a natureza, tal qual defendemos em outro artigo que, para nossa satisfação, teve boa acolhida e ampla repercussão nos sites e boletins informativos que circulam pela internet (*).
            Além disso, essa proposta de Pedagogia Ecológica não deverá ficar restrita aos bancos escolares. É necessário e mesmo fundamental para o sucesso dessa proposta, que isso ganhe tom de campanha nacional, veiculado em termos de propaganda televisiva no horário nobre, permitindo a possibilidade de maior consciência ecológica de todos nós.
            A "linguagem" usada nessa proposta de Pedagogia Ecológica televisiva e escolar, deve ser fácil e inteligível, capaz de "chegar" a todos, do Phd que poderá reproduzir isso em sala de aula, até o mais humilde morador de uma simples habitação num pedaço de morro qualquer.
            Edward Teller certa vez disse que "A ciência procura encontrar lógica e simplicidade na natureza". Kepler, de certa forma, corroborou afirmando que "A natureza ama a simplicidade" e Newton, por sua vez, pontuou que "(...) a natureza se apraz com a simplicidade".

            Pois é com essa simplicidade, levando um discurso de reconstrução e preservação ambiental que devemos trabalhar. A hora é de unir esforços - poder público, sociedade civil, organizações não governamentais, movimentos populares, imprensa e universidade - para levar à frente essa campanha de Pedagogia Ecológica que é mais que informativa; é uma campanha de orientação e precaução de novas tragédias.
            Uma vez realçada essa idéia, incorporando novos adeptos, não seria presunção afirmar que outras tragédias poderão ser evitadas. Assim, se há alguém ou algo que poderá ganhar com isso, esse "algo" é, certamente, uma "coisa" indispensável que nos foi dada com total estima: a vida.
            Assegurar a vida é, antes, buscar o equilíbrio ecológico. Para isso, nada melhor que todos tenham em mente a necessidade de saber o que fazer com a natureza.             A natureza nunca foi má conosco; nós é que sempre fomos perversos com ela. É a nossa chance de retribuir o que a natureza sempre nos deu.
(*) Ver o artigo "Sustentabilidade deve ser ensinada e praticada na Escola", de nossa autoria.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP). Colunista do Portal EcoDebate, do site "O Economista", da Agência ADITAL, do jornal Diário Liberdade (Galícia) e da Agência Zwela de Notícias (Angola).

Os povos turcos na história


A Turquia sobreviveu, mas a transição, traumática, deixou sequelas dolorosas



Miguel Urbano Rodrigues no Brasil de Fato

Voltei a Istambul transcorridas quase seis décadas. Foi um estranho reencontro. A cidade, quando a descobri, tinha menos de um milhão de habitantes; hoje tem mais de 15 milhões.
Na juventude a Turquia apareceu-me como porta do Oriente. Via nela o país dos turcos. Foi somente a partir dos anos 1970 em viagens pela Ásia Soviética que principiei a tomar conhecimento da grande aventura dos povos turcos.
O berço dos turcos foi a taiga siberiana. Nas suas migrações, no primeiro milênio antes da Nossa Era, trocaram as florestas árticas pelas estepes da atual Mongólia e aí se transformaram em pastores nômades, criando cavalos, camelos, bois e ovelhas.
Mais tarde entraram pela China e destruíram e fundaram ali impérios. Séculos depois correram para o Ocidente.
Com o tempo, os idiomas das primitivas sociedades tribais evoluíram, distanciando-se. Mas turcófanos eram os Hunos de Átila, os Heftalitas, os Ávaros que chegaram à Hungria, os Uigures, os primeiros Búlgaros.
Turcófonos eram os Seljucidas que expulsaram os Cruzados de Jerusalém, e os Khazar, os Kiptchak, os Petchenegos, povos dos quais descendem dezenas de milhões de Russos. Turcófonos são os atuais Kazaks, os Uzbeques, os Kirguizes, os Turquemenos, os Azeris. Turcófonos eram os Karluk que, aliados aos árabes, lutaram contra os chineses em Talas, no ano 751, numa batalha que travou definitivamente o avanço da China para o Ocidente.
O finlandês, o estônio e o húngaro mergulham as raízes em dialetos turcos dos seus antepassados vindos do Altai.
Os turcófonos são hoje 160 milhões.
Dos Turcos antigos foi projetada a imagem de gente selvagem e cruel. Voltaire apresentou Tamerlão, o maior conquistador do século 14, como um demônio de rosto humano. É inegável que Tamerlão cometeu chacinas hediondas. Mas esse turco chagatai, nascido no atual Uzbequistão, atraiu à sua capital, Samarcanda, os maiores sábios e artistas do Islão asiático e fez dela na época a mais bela e próspera cidade do mundo muçulmano. Babur seu trineto, fundou na Índia o Império do Grão Mogol onde floresceu uma cultura que criou monumentos como o Tahj Mahal.
Ghazni, no atual Afeganistão, é hoje uma palavra esquecida. Mas no século 11 foi a mais prestigiada capital do Islão turco. Nesse sultanato nasceram, viveram e criaram cultura, ciência e arte alguns dos mais famosos sábios, pensadores e escritores do Islão, entre os quais o astrônomo e matemático Al Biruni, o místico Sanaí, Ibn Sina (o médico Avicena), Ferdauci, autor do poema épico Xá Naama, o criador do moderno persa.
Na República russa da Iakutia, no grande norte siberiano, foi para mim uma enorme surpresa verificar que os autóctones são um povo que continua a expressar-se numa língua turca. Um professor russo informou-me durante a visita que das solidões geladas do Estreito de Behring ao Adriático, numa faixa que atravessa a Ásia e a Europa, continuam a viver comunidades turcófonas.
Uma das mais prodigiosas aventuras dos antigos turcos foi a das tribos Oghuz que, abandonando no século 13 as margens do Cáspio, vieram fixar-se na Ásia Menor, em terras que os seljucidas disputavam a Bizâncio. Do nome do seu chefe, Othman, ficaram conhecidos como os Otomanos, fundadores de um império gigantesco.
A conquista de Constantinopla, em 1453, pelo sultão Maomé II assinalou o fim do Império Bizantino, acontecimento que abalou o mundo cristão. Durante 200 anos a Turquia Otomana foi a primeira potência militar do mundo.
A decadência foi lenta, mas irreversível. Ao terminar a I Guerra Mundial, o Império, derrotado, desagregou-se. Foi então que surgiu um daqueles homens que alteram o caminhar dos povos. Mustafa Kemal, o Ataturk, expulsou as tropas estrangeiras, depôs o sultão, aboliu o Califado, proclamou a república laica, impôs a substituição do alfabeto árabe pelo latino.
A Turquia sobreviveu, mas a transição, traumática, deixou sequelas dolorosas. Os turcos contemporâneos sabem que as civilizações quando morrem nunca voltam. Mas as sementes ficam e a sua germinação é complexa e imprevisível.

*Miguel Urbano Rodrigues é escritor português.

Os prostíbulos do capitalismo

Emir Sader no Carta Maior

Os chamados “paraísos fiscais” são verdadeiros prostíbulos do capitalismo. Nesses territórios se praticam todos os tipos de atividade econômica que seriam ilegais em outros países, captando e limpando somas milionárias de negócios como o comércio de armamentos, do narcotráfico e de outras atividades similares.

Os paraísos fiscais, que devem somar um total entre 60 e 90 no mundo, são micro-territórios ou Estados com legislações fiscais frouxas ou mesmo inexistentes. Uma das suas características comuns é a prática do recebimento ilimitado e anônimo de capitais. São países que comercializam sua soberania oferecendo um regime legislativo e fiscal favorável aos detentores de capitais, qualquer que seja sua origem. Seu funcionamento é simples: vários bancos recebem dinheiro do mundo inteiro e de qualquer pessoa que, com custos bancários baixos, comparados com as médias praticadas por outros bancos em outros lugares.

Eles têm um papel central no universo das finanças negras, isto é, dos capitais originados de atividades ilícitas e criminosas. Máfias e políticos corruptos são frequentadores assíduos desses territórios. Segundo o FMI, a limpeza de dinheiro representa entre 2 e 5% doi PIB mundial e a metade dos fluxos de capitais internacionais transita ou reside nesses Estados, entre 600 bilhões e 1 trilhão e 500 bilhões de dólares sujos circulam por aí.

O numero de paraísos fiscais explodiu com a desregulamentação financeira promovida pelo neoliberalismo. As inovações tecnológicas e a constante invenção de novos produtos financeiros que escapam a qualquer regulamentação aceleraram esse fenômeno.

Trafico de armas, empresas de mercenários, droga, prostituição, corrupção, assaltos, sequestros, contrabando, etc., são as fontes que alimentam esses Estados e a mecanismo de limpeza de dinheiro.

Um ministro da economia da Suíça – dos maiores e mais conhecidos paraísos – declarou em uma visita a Paris, defendendo o segredo bancário, chave para esses fenômenos: “Para nós, este reflete uma concepção filosófica da relação entre o Estado e o indivíduo.” E acrescentou que as contas secretas representam 11% do valor agregado bruto criado na Suíça.
Em um país como Liechtenstein, a taxa máxima de imposto sobre a renda é de 18% e o sobre a fortuna inferior a 0,1%. Ele se especializa em abrigar sociedades holdings e as transferências financeiras ou depósitos bancários.

Uma sociedade sem segredo bancário, em que todos soubessem o que cada um ganha – poderia ser chamado de paraíso. Mas é o contrário, porque se trata de paraísos para os capitais ilegais, originários do narcotráfico, do comercio de armamento, da corrupção.

Existem, são conhecidos, quase ninguém tem coragem de defendê-los, mas eles sobrevivem e se expandem, porque são como os prostíbulos – ilegais, mas indispensáveis para a sobrevivência de instituições falidas, que tem nesses espaços os complementos indispensáveis à sua existência.

Revolução Francesa

 

Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo de Hoje

<br /><b>Crédito: </b> ARTE PEDRO LOBO

Crédito: ARTE PEDRO LOBO

Ah, essas francesas! Não param de aprontar. Primeiro, leram Simone de Beauvoir, acreditaram que não se nasce mulher, mas que isso vem com a cultura, e rasgaram sutiãs na Bastilha. Depois, perderam o gosto pelo casamento com papel assinado e aderiram ao concubinato por ser mais prático e mais realista. Desde os tempos de Balzac, segundo os mais cínicos, os franceses separam com facilidade amor, sexo e interesses familiares. Alguns chegam a dizer que a família francesa típica é formada por marido, mulher e amante. Vejam que amante tem a vantagem de ser sexualmente indefinido. Pode ser o amante da mulher, a amante do marido, a amante da mulher ou o amante do marido. Mas isso é só literatura.

As francesas estão é fazendo uma revolução silenciosa. Quer dizer, nem tão silenciosa assim, pois tem choro de criança na parada. A situação é a seguinte: as mulheres francesas estão entre as que mais trabalham na Europa (80% delas exercem alguma atividade remunerada). E, ao mesmo tempo, entre as mais férteis do Velho Continente. A taxa de natalidade na França deu um salto. Está em 2,01 filhos por mulher. Tudo indica uma retomada do gosto pela coisa. Vejam que fenômeno: essas mulheres encontram tempo para reclamar - essa é uma arte bem francesa -, trabalhar fora, ter filhos e atender aos apelos governamentais para renovar a população. Os franceses são práticos. As francesas, mais práticas ainda. Ter um segundo filho pode ser um ótimo negócio.

As ajudas governamentais para famílias com mais de um filho podem ser variadas. Um exemplo: ajuda-nascimento ou recepção à cegonha: 903,07 euros. Nasceu, ganhou. Basta precisar. Ou seja, estar na categoria dos que têm renda média ou baixa. Como uma criança não se limita a nascer, é preciso ajudar para que ela cresça com atenção. Até os três anos de idade, mais 180,62 euros por mês para despesas gerais. Até os seis anos de idade, a criança faz jus à "ajuda-babá". Os pais podem usar o dinheiro para colocar o filho numa creche, ter uma babá em casa e assistência à mãe. Tem mais? Claro. Em caso de desemprego, a família recebe mais 379,79 euros mensais como "complementação para atividades livres". Essa soma pode chegar a 560,40 euros. O tempo de duração do benefício varia de acordo com o número de filhos do casal. Dar Bolsa-Família é uma especialidade francesa.

Desde 2006, se pai ou mãe decidem ocupar-se em tempo integral de, ao menos, três filhos, a ajuda governamental pode ir de 620 a 840 euros. Os franceses descobriram que fazer filho é bom, satisfaz o Estado e garante uma graninha legal. A legislação francesa sobre o assunto é complicada e farta. Esse papo aqui é uma pista. As francesas engravidam mais a partir dos 30 anos de idade. É coisa pensada, calculada e madura. Moral da história: país desenvolvido dá Bolsa-Família mesmo. A França gasta até 120 bilhões de euros anuais com isso. Família é fundamental. Nada mais justo que dar um incentivo para todos se animarem a procriar. A educação é gratuita até o último dia de faculdade. Um exemplo constrangedor. Oui!

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

Das dez economias que crescerão mais em cinco anos, seis são africanas


Correio do Brasil


Seis das dez economias que mais crescerão nos próximos cinco anos ficam na África Subsaariana, de acordo com a revista britânica The Economist. Angola aparece em primeiro lugar, seguida da China. Os outros africanos da projeção são a Nigéria, Etiópia, o Chade, Moçambique e Ruanda. Para todos eles, a estimativa é de crescimento anual médio de cerca de 8%.
A África inteira ainda é responsável por apenas 2% da economia mundial. Mas, de acordo com a revista, as altas demandas da China por matéria-prima, junto com o alto preço das commodities, farão o continente ter mais importância no total de negócios. Petróleo, gás, outros minerais para componentes eletrônicos, além de madeira e gêneros agrícolas são alguns dos grupos de grandes compras chinesas.
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial da África, superando a União Europeia e os Estados Unidos. O volume de negócios entre a China e os países africanos bateu recorde em 2010, chegando a US$ 114,8 bilhões (aproximadamente R$ 194 bilhões), 43,5% mais que no ano anterior.
Outro fator é o alto investimento direto feito no continente – só pela China, mais de US$ 9,3 bilhões em 2009 (cerca de R$ 15 bilhões) – bem como o perdão de dívidas e as ajudas externas. A urbanização e a melhoria na gestão pública também são apontados como pontos a favor do crescimento africano.
Meio milhão de chineses deixaram seu país para trabalhar em mais de 500 projetos na África, em áreas como mineração, infraestrutura, manufaturas e tecnologia.
      
Nos últimos dez anos, o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) da África Subsaariana subiu para 5,7%, contra 2,4% nos 20 anos anteriores – mais que os 3,3% da América Latina, mas abaixo da Ásia, com 7,9%, fortemente influenciados por China e Índia. Sem os dois, os percentuais ficam próximos, diz a revista britânica.
Com o aumento de países em rápido crescimento, a África deve superar a Ásia em cinco anos. O Standard Chartered prevê crescimento anual de 7% para o bloco africano nos próximos 20 anos, mesmo com a maior economia – a África do Sul – crescendo menos que a média. De acordo com a revista, a Nigéria, maior exportadora de petróleo da África, pode ultrapassar os sul-africanos nos próximos 10 ou 15 anos.
      
Um dos problemas a serem enfrentados é criar vagas no mercado de trabalho para uma população que, estima-se, crescerá quase 50% até 2030. O problema é maior para as economias muito dependentes da extração mineral, que não expande vagas na mesma medida em que os negócios prosperam. Além disso, o preço das commodities, diz a Economist, deve cair nos próximos anos.
Lembrados como exemplos positivos estão Uganda e Quênia, que não baseiam a economia na exportação de minérios e conseguiram crescer nos últimos anos com base na integração regional e na conquista de fábricas.
Entre as dificuldades a serem superadas, diz a revista, estão a instabilidade política em muitos países, corrupção crônica, os gargalos na infraestrutura e a baixa escolaridade.
Outra questão é reverter essa velocidade de crescimento em menos pobreza para a população. O texto lembra que, em 1980, o ganho médio por habitante na África era quatro vezes maior que na China. Hoje, os ganhos dos chineses são três vezes maiores que os dos africanos.