terça-feira, 22 de março de 2011

Jean-Luc Ponty - Aurora - 1975



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1. Is Once Enough?
2. Renaissance
3. Aurora - Part I
4. Aurora - Part II
5. Passenger Of The Dark
6. Lost Forest
7. Between You And Me
8. Waking Dream

Jean-Luc Ponty - Violin, Violectra, Electric Violin, Keyboards, Autoharp
Daryl Stuermer - Guitars (Acoustic & Electric)
Patrice Rushen - Synthesizer, Electric & Acoustic Piano
Tom Fowler - Bass
Norman Fearrington - Drums & Percussion

Reflexão de Fidel Castro: Os sapatos me apertam



Em mais uma de suas Reflexões, o comandante da Revolução cubana, Fidel Castro, comenta com fina ironia o pronunciamento do presidente dos Estados Unidos no Chile, na última segunda-feira (21). Aproveitou para comentar sobre o papel que desempenhou à frente de seu país e reiterou: " Continuarei sendo um soldado das ideias, enquanto possa pensar e respirar".
Enquanto os reatores sinistrados despejam fumaça radiativa no Japão, e aviões de monstruosa aparência e submarinos nucleares lançam mortíferas cargas teleguiadas sobre a Líbia, um país norte-africano do Terceiro Mundo com apenas seis milhões de habitantes, Barack Obama contava aos chilenos uma fábula parecida com as que eu escutava quando tinha quatro anos: “Os sapatos me apertam, as meias fazem calor; e o beijinho que me deste levo no coração”.
Alguns de seus ouvintes ficaram pasmos naquele “Centro Cultural” em Santiago do Chile.
Quando o presidente mirou ansioso o público depois de mencionar a pérfida Cuba, esperando uma explosão de aplausos, houve um silêncio glacial. Às suas costas – Ah! Feliz coincidencia! – entre as demais bandeiras latino-americanas, estava exatamente a de Cuba.
Se por um segundo desse uma volta sobre seu ombro direito, teria visto, como uma sombra, o símbolo da Revolução na Ilha rebelde que seu poderoso país quis, mas não pôde, destruir.
Qualquer pessoa seria, sem dúvida, extraordinariamente otimista se espera que os povos de Nossa América aplaudam o 50º aniversário da invasão mercenária de Giron, 50 anos de cruel bloqueio econômico de um país irmão, 50 anos de ameaças e atentados terroristas que custaram milhares de vidas, 50 anos de projetos de assassinato dos líderes do histórico processo.
Senti-me aludido em suas palavras.
Prestei, efetivamente, meus serviços à Revolução durante muito tempo, mas nunca eludi riscos nem violei princípios constitucionais, ideológicos ou éticos; lamento não ter tido mais saúde para seguir servindo-a.
Renunciei sem vacilação a todos os meus cargos estatais e políticos, inclusive ao de Primeiro Secretário do Partido, quando adoeci e nunca tentei exercê-los depois da Proclamação de 31 de julho de 2006, nem quando recuperei parcialmente minha saúde mais de um ano depois, embora todos continuassem intitulando-me afetuosamente dessa forma.
Mas sigo e seguirei sendo como prometi: um soldado das ideias, enquanto possa pensar e respirar.
Quando perguntaram a Obama sobre o golpe de Estado contra o heróico presidente Salvador Allende, promovido como outros muitos pelos Estados Unidos, e a misteriosa morte de Eduardo Frei Montalva, assassinado por agentes da Dina, uma criação do governo norte-americano, perdeu sua presença de espírito e começou a tartamudear.
Foi certeiro, sem dúvida, o comentário da televisão do Chile ao final de seu discurso, quando expressou que Obama já não tinha nada que oferecer ao hemisferio.
De minha parte, não quero dar a impressão de que experimento ódio a sua pessona, e muito menos ao povo dos Estados Unidos, a cujos muitos de seus filhos reconheço o aporte à cultura e à ciência.
Obama tem agora pela frente uma viagem a El Salvador nesta terça-feira. Ali terá que inventar bastante, porque nessa nação centro-americana irmã, as armas e os treinadores que recebeu dos governos de seu país, derramaram muito sangue.

Desejo-lhe boa viagem e um pouco mais de sensatez.



Fidel Castro Ruz


Fonte: Cubadebate

Tradução da Redação do Vermelho



O Imperialismo sem máscara na agressão ao povo da Líbia


Os Editores do Odiario.info

Uma vaga de indignação varre o mundo, levantada pela agressão imperialista ao povo da Líbia.

A Resolução do Conselho de Segurança que abriu a porta ao crime – mascarado de «intervenção humanitária» – foi preparada com antecedência. Concebida em Washington, coube à França e ao Reino Unido apresentar e defender o texto porque não convinha aos EUA, atolados nas guerras do Iraque do Afeganistão, surgirem como país patrocinador. Essa Resolução desrespeita a Carta a da ONU, mas, embora criminosa, os agressores não a consideraram suficiente.

A França iniciou os bombardeamentos aéreos e navios de guerra dos EUA e do Reino Unido dispararam quase simultaneamente salvas de mísseis de cruzeiro contra Tripoli e outras cidades. Alguns atingiram um hospital e áreas residenciais, matando dezenas de civis.

Os discursos de Obama, Sarkozy e Cameron que pretendem justificar a agressão – montada e dirigida pela África Comand dos EUA -serão recordados como peças oratórias de refinada hipocrisia.

Dois objectivos motivaram o ataque à Líbia: o saque dos recursos naturais - petróleo e gás - e a necessidade de controlarem através do medo, o rumo das rebeliões populares que na Tunísia e no Egipto derrubaram as ditaduras de Ben Ali e Mubarak, ambos aliados de Washington.

Enquanto invocam a defesa da liberdade e da democracia e motivos humanitários para bombardear a Líbia, os EUA apoiam as matanças praticadas pela ditadura feudal do Iémen e incentivaram a monarquia islamista da Arábia Saudita a invadir o Bahrein, sede da V Esquadra da US Navy – para reprimir a insurreição do seu povo.

A contradição ilumina bem o farisaísmo de Washington.

Os governos responsáveis pelo ataque à Líbia garantem que não haverá desembarque de tropas terrestres. Mas é imprevisível a desenvolvimento da agressão. O motivo alegado para o ataque ao Afeganistão foi a suposta permanecia ali de um homem, Bin Laden, apontado então como inimigo numero um dos EUA. Agora é outro individuo, Muamar Khadafi , o pretexto invocado para a agressão imperial.

Khadafi nunca mereceu o nosso respeito. Mas manifestamos irrestrita solidariedade com o povo da Líbia, ameaçado de recolonização, nestes dias em que nas suas cidades e campos explodem bombas e mísseis.

É oportuno sublinhar e lamentar que o Parlamento Europeu tenha aprovado uma resolução que o tornou cúmplice da agressão, iniciativa que contou com os votos do PS, PSD e CDS, e também com o voto do partido da Esquerda Europeia, incluindo o do Bloco de Esquerda. O PCP, consequentemente, votou contra.

O Conselho Português para a Paz e a Cooperação convocou para o dia 23 uma concentração de protesto contra a agressão, junto da Embaixada Americana.

Fazemos nosso o seu apelo à participação do povo de Lisboa. O imperialismo estadounidense é o grande inimigo da humanidade.





segunda-feira, 21 de março de 2011

A "operação Líbia" e a batalha pelo petróleo: redesenhar o mapa da África

  As implicações geopolíticas e econômicas de uma intervenção militar do bloco EUA-OTAN contra a Líbia são de grande alcance.
 
A Líbia está entre as maiores economias petrolíferas do mundo, com aproximadamente 3,5% das reservas globais de petróleo, mais que o dobro das dos EUA.
 
A "Operação Líbia" faz parte de uma agenda militar mais vasta no Oriente Médio e na Ásia Central, a qual consiste em ganhar controle e propriedade corporativa sobre mais de 60% da reservas mundiais de petróleo e gás natural, incluindo as rotas de oleodutos e gasodutos.
 
"Países muçulmanos, incluindo a Arábia Saudita, Iraque, Irão, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Iêmen, Líbia, Egito, Nigéria, Argélia, Cazaquistão, Azerbaijão, Malásia, Indonésia, Brunei, possuem de 66,2 a 75,9 por cento do total das reservas de petróleo, conforme a fonte e a metodologia da estimativa" (ver Michel Chossudovsky, The "Demonization" of Muslims and the Battle for Oil, Global Research, 04/01/2007).
 
Com 46,5 bilhões de barris de reservas provadas (10 vezes as do Egito), a Líbia é a maior economia petrolífera do continente africano, seguida por Nigéria e Argélia (Oil and Gas Journal). Em contraste, as reservas provadas dos EUA são da ordem dos 20,6 bilhões de barris (dezembro de 2008), segundo a Energy Information Administration - U.S. Crude Oil, Natural Gas, and Natural Gas Liquids Reserves.
 

 
Nota
 
As estimativas mais recentes situam as reservas de petróleo da Líbia nos 60 bilhões de barris. As suas reservas de gás em 1.5 trilhão de metros cúbicos. A sua produção tem estado entre 1,3 e 1,7 milhão de barris/dia e a produção de gás de 2,6 bilhões de pés cúbicos por dia, segundo números da National Oil Corporation (NOC).
 
A BP Statistical Energy Survey de 2008 (em alternativa) colocava as reservas provadas da Líbia nos 41.464 bilhões de barris no fim de 2007, os quais representam 3,34% das reservas provadas do mundo (Mbendi Oil and Gas in Libya - Overview).
 

 
O petróleo é o "troféu" das guerras conduzidas pelos EUA-OTAN
 
Uma invasão da Líbia sob um pretexto humanitário serviria os mesmos interesses corporativos da invasão de 2003 e subsequente ocupação do Iraque. O objetivo subjacente é tomar posse das reservas de petróleo da Líbia, desestabilizar a National Oil Corporation (NOC) e finalmente privatizar a indústria petrolífera do país, nomeadamente transferir o controle e propriedade da riqueza petrolífera Líbia para mãos estrangeiras.
A National Oil Corporation (NOC) está classificada entre as 25 maiores companhias de petróleo do mundo (The Energy Intelligence ranks NOC 25 among the world's Top 100 companies – www.Libyaonline.com).
 
A planejada invasão da Líbia, a qual já está em curso, é parte da "Batalha pelo petróleo" mais vasta. Aproximadamente 80% das reservas de petróleo da Líbia estão localizadas na bacia do Golfo de Sirte da Líbia Oriental (ver mapa abaixo).
A Líbia é uma economia valiosa. "A guerra é bom para os negócios". O petróleo é o troféu das guerras efetuadas pelos EUA-OTAN.
A Wall Street, os gigantes anglo-americanos do petróleo e os produtores de armas dos EUA e União Européia seriam os beneficiários tácitos de uma campanha militar dos EUA-OTAN contra a Líbia, pois seu petróleo é uma mina de ouro para eles.
Embora o valor de mercado do petróleo bruto esteja atualmente pouco acima dos 100 dólares por barril, o custo do petróleo líbio é extremamente baixo, tão baixo como US$1,00 por barril (segundo estimativas). Como comentou um perito do mercado algo criticamente: "A US$110 no mercado mundial, a simples matemática da a Líbia uma margem de lucro de US$109" ( Libya Oil , Libya Oil One Country's $109 Profit on $110 Oil, EnergyandCapital.com March 12, 2008).
 
Interesses petrolíferos estrangeiros na Líbia
 
Dentre as companhias petrolíferas estrangeiras que operavam antes da insurreição na Líbia incluem-se a Total da França, a ENI da Itália, a China National Petroleum Corp (CNPC), British Petroleum, o consórcio espanhol REPSOL, ExxonMobil, Chevron, Occidental Petroleum, Hess, Conoco Phillips.
 
Muito significativamente, a China desempenha um papel central na indústria petrolífera líbia. A China National Petroleum Corp (CNPC) tinha, até o seu repatriamento, uma força de trabalho de 30 mil chineses na Líbia. A British Petroleum (BP), em contraste, tinha uma força de trabalho de 40, a qual foi repatriada.
 
Onze por cento (11%) das exportações de petróleo líbias são canalizadas para a China. Se bem que não haja números sobre a dimensão e importância da produção e atividades de exploração da CNPC, há indicações que são apreciáveis.
 
Mais geralmente, a presença da China na África do Norte é considerada por Washington como uma intrusão. De um ponto de vista geopolítico, a China é uma intrusa. A campanha militar dirigida contra a Líbia pretende excluir a China da África do Norte.
 
O papel da Itália também tem importância. A ENI, o consórcio italiano, extrai 244 mil barris de gás e petróleo por dia, os quais representam quase 25% do total das exportações da Líbia (Sky News: Foreign oil firms halt Libyan operation , 23/02/2011).
 
Dentre as companhias estadunidenses na Líbia, a Chevron e a Occidental Petroleum (Oxy) decidiram há cerca de seis meses (outubro de 2010) não renovar as suas licenças de exploração de petróleo e gás na Líbia (Why are Chevron and Oxy leaving Libya?: Voice of Russia , 06/10/2010). Em contraste, em novembro de 2010 a companhia alemã R.W. DIA E assinou um acordo de grande alcance com a NOC da Líbia, que envolve a exploração e partilha de produção (AfricaNews - Libya: German oil firm signs prospecting deal - The AfricaNews).
 
As apostas financeiras bem como "os despojos de guerra" são extremamente elevados. A operação militar pretende desmantelar instituições financeiras da Líbia e também confiscar bilhões de dólares de ativos financeiros líbios depositados em bancos ocidentais.
 
Deve ser enfatizado que as capacidades militares da Líbia, incluindo o seu sistema de defesa aérea, são fracas.
 
Redesenhar o mapa da África
 
A Líbia tem as maiores reservas de petróleo da África. O objetivo da interferência dos EUA-OTAN é estratégico: consiste no roubo sem rodeios, em roubar a riqueza petrolífera do país sob o disfarce de uma intervenção humanitária.
 
Esta operação militar pretende estabelecer a hegemonia dos EUA na África do Norte, uma região historicamente dominada pela França e em menor extensão pela Itália e Espanha.
 
Em relação à Tunísia, Marrocos e Argélia, o desígnio de Washington é enfraquecer os laços políticos destes países com a França e pressionar pela instalação de novos regimes políticos que tenham um estreito relacionamento com os EUA. Este enfraquecimento da França, como aspecto do desígnio imperial dos EUA, faz parte de um processo histórico que remonta às guerras na Indochina.
 
A intervenção dos EUA-OTAN que conduza à futura formação de um regime fantoche dos EUA pretende também excluir a China da região e por para fora a chinesa National Petroleum Corp (CNPC). Os gigantes anglo-americanos, incluindo a British Petroleum que em 2007 assinou um contrato de exploração com o governo Kadafi, estão entre os potenciais "beneficiários" da proposta operação militar EUA-OTAN.
 
Mais na generalidade, o que está em causa é o redesenho do mapa da África, um processo de redivisão neocolonial, o descarte das demarcações da Conferência de Berlim de 1884, a conquista da África pelos Estados Unidos em aliança com a Grã-Bretanha, numa operação conduzida pelos EUA-OTAN.
 
Líbia: Portão saariano estratégico para a África Central
 
A Líbia tem fronteiras com vários países que estão na esfera de influência da França, incluindo a Argélia, Tunísia, Níger e Chade.
 
O Chade é potencialmente uma economia rica em petróleo. A ExxonMobil e a Chevron têm interesses no Chade do Sul, incluindo um projeto de oleoduto. O Chade do Sul é um portão de entrada para a região do Darfur, no Sudão, a qual também é estratégica em vista da sua riqueza petrolífera.
 
A China tem interesses petrolíferos tanto no Chade como no Sudão. A China National Petroleum Corp (CNPC) assinou em 2007 um acordo de grande alcance com o governo do Chade.
 
O Níger é estratégico para os Estados Unidos devido às suas vastas reservas de urânio. No presente, a França domina a indústria de urânio no Níger através do conglomerado nuclear francês Areva, anteriormente conhecido como Cogema. A China também tem interesse na indústria de urânio do Níger.
 
Mais geralmente, a fronteira sul da Líbia é estratégica para os Estados Unidos na busca pela extensão da sua esfera de influência na África francófona, um vasto território que se estende desde a África do Norte até a África Central e Ocidental. Historicamente, esta região fazia parte dos impérios coloniais da França e da Bélgica, cujas fronteiras foram estabelecidas na Conferência de Berlim de 1884.
 
Os EUA desempenharam um papel passivo na Conferência de Berlim de 1884. Esta nova redivisão no século XXI do continente africano, baseada no controle sobre o petróleo, gás natural e minerais estratégicos (cobalto, urânio, cromo, manganês e platina) apoia amplamente os interesses corporativos anglo-americanos.
 
A interferência dos EUA na África do Norte redefine a geopolítica de toda uma região. Mina a China e ensombra a influência da União Europeia.
 
Esta nova redivisão da África não enfraquece apenas o papel das antigas potências coloniais (incluindo a França e a Itália) na África do Norte. Ela também faz parte de um processo mais vasto de deslocamento e enfraquecimento da França (e da Bélgica) sobre uma grande parte do continente africano.
 
Regimes fantoches dos EUA foram instalados em vários países africanos que historicamente estavam na esfera de influência da França (e Bélgica), incluindo a República do Congo e o Ruanda. Vários países na África Ocidental dentro da esfera da França (incluindo a Costa do Marfim) estão destinados a tornarem-se estados proxy dos EUA.
 
A União Europeia está fortemente dependente do fluxo de petróleo líbio. Oitenta e cinco por cento do seu petróleo é vendido para países europeus. No caso de uma guerra com a Líbia, a oferta de petróleo à Europa Ocidental poderia ser interrompida, afetando grandemente a Itália, França e Alemanha, as quais estão fortemente dependentes do petróleo líbio. As implicações destas interrupções são de extremo alcance. Elas também têm relação direta sobre o relacionamento entre os EUA e a União Europeia.
 
Observações conclusivas
 
A mídia de referência, através da desinformação maciça, é cúmplice na justificação de uma agenda militar, que se executada teria conseqüências devastadoras não apenas para o povo líbio: os impactos sociais e econômicos seriam sentidos em escala mundial.
 
Há atualmente três diferentes teatros de guerra na região do Oriente Médio e Ásia Central: Palestina, Afeganistão, Iraque. No caso de um ataque à Líbia, o quarto teatro de guerra seria aberto na África do Norte, com o risco de escalada militar.
 
A opinião pública deve tomar conhecimento da agenda oculta por trás deste empreendimento alegadamente humanitário, apregoado por chefes de Estado e chefes de governos de países da OTAN como uma "Guerra Justa". A teoria da Guerra Justa, tanto nas suas versões clássica como contemporânea, defende a guerra como uma "operação humanitária". Ela apela à intervenção militar sobre bases éticas e morais contra "Estados vilões" e "terroristas islâmicos". A teoria da Guerra Justa demoniza o regime Kadafi na sua fase de preparação.
 
Os chefes de Estado e de governo dos países da OTAN são arquitetos da guerra e destruição no Iraque e no Afeganistão. Numa lógica absolutamente enviesada, eles são apregoados como as vozes da razão, como os representantes da "comunidade internacional".
 
As realidades são invertidas. Uma intervenção humanitária é lançada por criminosos de guerra em altos cargos, os quais são os guardiões da teoria da Guerra Justa.
 
Abu Ghraib, Guantánamo, baixas civis no Paquistão resultantes de ataques dos EUA com aviões sem piloto a cidades e aldeias, ordenados pelo presidente Obama, não estão nas primeiras páginas dos noticiários nem tampouco as duas milhões de mortes civis no Iraque. Não existe isso de "Guerra Justa".
 
A história do imperialismo dos EUA deveria ser entendida. O Relatório 200 do Project of the New American Century (PNAC) intitulado "Rebuilding Americas' Defenses" apela à implementação de uma longa guerra, uma guerra de conquista. Um dos principais componentes desta agenda militar é: "Combater e vencer decisivamente em múltiplos teatros de guerra simultâneos".
 
 
 
A operação Líbia faz parte desse processo. É um outro cenário na lógica do Pentágono de "teatros de guerra simultâneos".
 
O documento PNAC reflete fielmente a evolução da doutrina militar dos EUA desde 2001. Os planos dos EUA para se envolver simultaneamente em vários teatros de guerra em diferentes regiões do mundo.
 
Embora a proteção da América, nomeadamente a "Segurança Nacional" dos EUA, seja mantida como objetivo, o relatório do PNAC explica claramente porque estes teatros de guerra múltiplos são requeridos. A justificativa humanitária não é mencionada.
 
Qual é o objetivo do roteiro militar da América?
 
A Líbia é alvejada porque é um dentre os vários países que permanecem fora da esfera de influência da América, por não se acomodar às exigências dos EUA. A Líbia é um país que foi selecionado como parte de um "roteiro" militar que consiste de "múltiplos teatros de guerra simultâneos". Nas palavras do antigo comandante-chefe da OTAN, general Wesley Clark:
 
"No Pentágono em novembro de 2001, um dos oficiais superiores do staff teve tempo para uma conversa. ‘Sim, ainda estamos a caminho de ir contra o Iraque’, disse ele. Mas havia mais. Isso estava sendo discutido como parte de um plano de campanha de cinco anos, disse ele, e havia um total de sete países, começando com o Iraque e seguindo por Síria, Líbano, Líbia, Irã, Somália e Sudão (Wesley Clark, Winning Modern Wars, p. 130).
 
 
Parte III: "War is Good for Business": The Libya Insurrection has Triggered a Surge in Oil Prices. Speculators Applaud... (a publicar)
 
 
Este artigo foi retirado de http://resistir.info/.
 
Michel Chossudowsky é membro do Centro de Pesquisas sobre a Globalização e autor de ‘A globalização da pobreza’.

Brasil, Líbia e a parafernália midiota


 Leonardo Severo: via blog do Miro


Em visita ao Brasil, o presidente Barack Obama – o que ia enquadrar os bancos, fechar Guatánamo e retirar as tropas do Iraque e do Afeganistão – anuncia covarde e solenemente a continuidade da política de terrorismo de Estado dos EUA e manda atacar a Líbia.
Claro, como se apressou a esclarecer o mentirapresentador Wiliam Waack e a Rede Globo de Televisão, tudo sem qualquer risco para os seres humanos. Para os verdadeiros, obviamente, não para aquela gente que vive no deserto cheio de petróleo.
O ataque seria “higiênico”, feito por mísseis “inteligentes” e vôos não tripulados contra alvos estritamente militares, tudo bem calculado. Assim, comemoram as agências desinformativas internacionais, em meio a imagens holliwoodianas dos tomahawk – nome dado às machadinhas pelas tribos indígenas Algonquin e Iroquois que habitavam o leste da América do Norte até serem dizimadas a mando dos governos dos cowboys.
Lançados de “moderníssimos” porta-aviões, os novos tomahawk são remetidos em missão humanitária pelos que se crêem xerifes do mundo. Um sucesso tão grande que já ultrapassa 100% de êxito, conforme as agências que já tinham as fotos prontas antes de acertarem os alvos. Aliás, há sempre um fotógrafo das agências dos países agressores (EUA, França e Inglaterra), para mostrar um tanque de soldados leais a Kadafi em chamas. Uma cobertura impressionante, pois é certamente tão perfeita quanto isenta.
Como no Iraque? Quantos ainda lembram do menino sem braços – e sem família – considerado um pequeno “efeito colateral” dos bombardeios “cirúrgicos” sob Bagdá recebendo ajuda desinteressada nos EUA? No órfão de pais e país, foram colocadas próteses ultra modernas, membros de última geração, o primor da tecnologia, ao dispor para ajudar os necessitados.
É desta mesma forma que o “regime do coronel Kadafi” está sendo castigado em Trípoli, dizem, Nem uma palavra – ou imagem - sobre os bairros residenciais atingidos ou das centenas de civis vitimados na ação que teoricamente serviria para libertá-los. Que importa? Foi detido o avanço das tropas “bárbaras”, “sanguinárias” e “mercenárias” que estavam a ponto de chegar a Bengazi.
A auto-proclamada capital dos “rebeldes”, a soldo dos que buscam secionar o país para o “ocidente” tomar de assalto suas imensas riquezas, foi finalmente colocada não muito sã, mas a salvo. Custe o que custar, é preciso parasitar esta incalculável energia para livrar o mundo da crise que abala os EUA e que se alastra impiedosa pela Europa, alavancando o desemprego, rebaixando salários e desaparecendo com direitos.
Os países da auto-intitulada “coalizão”, na verdade os neo-nazistas, como apontou o líder líbio, “querem fazer o tempo voltar atrás e tomar o petróleo que pertence e deve estar sob controle do povo”. “Gostaria que eles lembrassem da aventura em que estão se envolvendo. Esqueceram de como foram atingidos na Argélia, no Vietnã e querem ouvir novamente o clamor da batalha? O deserto da Argélia até hoje abriga os milhares de cadáveres dos aventureiros”, sentenciou Kadafi.
Mas afinal, que equação nacionalista é essa do governo líbio - que assim como o governo boliviano do “índio” Evo Morales fez com o gás -, põe 90% dos recursos arrecadados com o ouro negro nas mãos e bocas do país, reservando “apenas” 10% para as transnacionais? É preciso dar uma lição aos que ousam cometer tamanha blasfêmia contra o “deus mercado” e ensinam matemáticas altivas - cientificamente problemáticas ao neoliberalismo -, que se desdobram no caso líbio no maior IDH da região, em saúde e educação públicas. Imaginem se a moda pega num Oriente tão justo e democrático, tão cheio de bases ianques e regimes títeres? A lição do Iraque com os seus mais de um milhão de mortos já não é o suficiente? Esses árabes...
Recordo de um encontro internacional de comunicadores em Caracas em que o jornalista e professor belga Michel Colon descrevia como se faz uma campanha de demonização. E citou os passos da agressão midiática contra o Iraque, esmiuçando os passos da manipulação. Lembro de duas cenas. A primeira, de um pássaro coberto de petróleo, bico, olhos, asas, patas, tudo. O animalzinho se debatendo, todo tingido daquela gosma preta, morrendo intoxicado, agonizante, sem forças nem para levantar o pescoço.
Em sincronia com o foco no olhar que se despedia da vida, a propaganda elevava os tristes acordes da música e os faziam alcançar o fúnebre. Então, Michel parou a exibição do vídeo. Ele já havia sido passado à exaustão na Europa e sei mais lá onde como peça publicitária pró-invasão. Pediu a todos que colocassem os neurônios para funcionar e para que fosse feita uma análise, individual e coletiva, mais pormenorizada sobre a “informação” recebida. A verdade é que nunca houve tal ave na região do Golfo. A imagem havia sido captada após mais um destes desastres ambientais provocados por companhias petrolíferas dos EUA. No Alaska.
Logo depois, um vídeo que causou um impacto ainda maior. Uma jovem enfermeira descrevia a uma platéia de centenas de pessoas, como as tropas de Saddam Hussein agiram quando entraram no Kuwait. “Invadiram as incubadoras e jogaram os bebês no chão”, dizia, relatando entre soluços, que recordava do som seco das botas iraquianas pisoteando os bebês recém-nascidos, uma selvageria indescritível.
Da mesma forma, imagem e música confluíam para inebriar a atmosfera, capturando o plenário mergulhado em sangue e transe, inundando de lágrimas a assistência e evocando a Humanidade a reagir contra tamanha perversidade. Pausa. Michel Colon chama à razão, lembra que foi descoberta a farsa. A jovem não era enfermeira, nem mocinha. Era a filha do embaixador do Kuwait, de um governo bastante conhecido pela forma com que tratava “humanitariamente” a sua oposição.
Seriam tais “depoimentos” pró-invasão e zonas de exclusão aérea, escandalosamente repetidos à exaustão, uma mera projeção dos seus próprios crimes, cometidos pelas tropas ianques e seus cúmplices por todos os continentes, no Vietnã, em Abu Ghraib ou na Palestina ocupada? Afinal, o nascimento do estado fantoche dos EUA no Oriente Médio não se deu mergulhado em sangue árabe? Como a data está próxima, vamos nos ater a 9 de abril de 1948, em Deir Yassin, vila palestina próxima à Jerusalém.
Ali, as tropas de Israel estupraram de crianças a idosas, e abriram o ventre das mulheres grávidas com facas de açougueiro. Os requintes macabros são “do mais cruel barbarismo”. Estes sim, fartamente comprovados e documentados pela Cruz Vermelha Internacional. Diante dos duzentos e cinqüenta e quatro homens, mulheres e crianças massacrados em Deir Yassin, o Grande Rabino de Jerusalém amaldiçoou a todos os judeus sionistas que tinham tomado parte na carnificina.
Encarando a convocação de Bush Júnior e enfrentando a intensa campanha dos meios de comunicação pela agressão ao Iraque, “para proteger a segurança mundial das armas de destruição em massa”, o presidente Lula afirmou: “Nossa guerra é contra a fome”. Demarcando campo com a covardia, o oportunismo e a pusilanimidade, Lula lembrou que, caso algum ministro seu ousasse repetir os vergonhosos tempos de FHC e do amestrado Celso Lafer - que só entrou nos EUA após retirar os sapatos –, imediatamente deixaria o posto. Afinal, não serviria mais aos interesses do Brasil e do povo brasileiro. O vídeo pode ser facilmente acessado pelo youtube, mostra o sorriso de Celso Amorim, o aplauso da plateia, e lava a alma...
Nesta visita de Obama, segundo constam nos jornais – passadas 24 horas ainda sem desmentido por parte dos envolvidos-, não foram um, mas quatro ministros submetidos ao vexame, incluindo Guido Mantega, naturalmente. O fato é que as nossas autoridades deixaram ser revistadas pela segurança de Obama quando chegavam para participar da Cúpula Empresarial Brasil-Estados Unidos. Isso dentro do nosso próprio país. Sem aparelhos de tradução – aí também já é demais, devem ter pensado – deixaram o local, duplamente humilhados.
Será este o tipo e o nível de “interlocução” que deve buscar um governo de uma nação soberana, que tanto havia avançado no último período em termos de integração latino-americana, com os países africanos e com os próprios árabes? Mais cedo ou mais tarde a verdade aflora, bem como os desdobramentos das equivocadas opções adotadas, como o corte de recursos do Orçamento, a alta dos juros e a suspensão de concursos públicos.
A parafernália midiota, que sempre pressiona por recuos no campo da soberania e da auto-estima e dá sustentação a todo e qualquer retrocesso, tem sua pauta externa umbilicalmente ligada aos interesses dos Estados Unidos, das indústrias bélica e petrolífera. Isso torna mais do que necessária, inadiável, a democratização da comunicação.
A construção de instrumentos contra-hegemônicos, como a Telesul, ao dar voz e imagem ao considerado “outro lado’, isto é, o da grande maioria dos países e povos, começa a fazer água no barco da ideologia neocolonial da submissão e da mediocridade.
Diante da ingenuidade com que muitos ainda encaram a complexidade da batalha em curso, vale lembrar Lênin, numa obra já mais do que centenária, “Imperialismo, fase superior do capitalismo”: “Os capitalistas não partilham o mundo levados por uma particular perversidade, mas porque o grau de concentração a que se chegou os obriga a seguir esse caminho para obterem lucros: e repartem-no segundo o capital, segundo a força...”


* Leonardo Serero é jornalista da Hora do Povo e membro do Conselho Consultivo do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé.

O que realmente está em pauta


Parte da esquerda se opõe ao governo Lula e, agora, ao governo Dilma, por achar que eles deveriam realizar o crescimento sem contar com o capitalismo



Wladimir Pomar no Brasil de Fato


Que a direita se movimente, seja através de elogios na imprensa, seja através de movimentos partidários visando conquistar a hegemonia do governo por dentro, é natural e previsível. Mas que setores da esquerda façam leituras atravessadas das discussões sobre os rumos do país, tirem conclusões apressadas sobre uma possível guinada conservadora do governo Dilma e continuem apostando na divisão interna do PT é mais uma vez lamentável.
Em primeiro lugar, não passa de ilusão de classe supor que parte considerável da burguesia combateu o governo Lula apenas por seu arraigado preconceito de classe, e não por causa do modelo econômico. Só os politicamente cegos não tomaram conhecimento das batalhas permanentes para realizar uma redistribuição de renda que contemplasse os miseráveis e os pobres. E para que fossem recolocados na pauta do país o planejamento e o crescimento econômico.
Parte da esquerda se opõe ao governo Lula e, agora, ao governo Dilma, por achar que eles deveriam realizar o crescimento sem contar com o capitalismo. Em outras palavras, que deveriam liquidar o capitalismo. Só não dizem como e com que forças. Talvez pensem que isso possa ser feito por decreto, num país em que sequer se fez uma revolução que transformasse todo o Estado numa máquina a serviço dos trabalhadores e do povo. A pauta para isso é um pouco mais complexa.
Mas essa parte da esquerda, além disso, supõe que o governo pode comandar a política a seu bel prazer, e que a política pode comandar a economia do mesmo modo. Realiza a operação teórica de retirar do cenário econômico e social as forças reais que atuam ideológica e politicamente sobre ele, e conclui que tudo é uma questão de coragem e decisão política. Para ela, um governo de esquerda, mesmo que eleito sob as regras impostas pela burguesia, tudo poderia. Bastaria o compromisso de servir ao povo e a correspondente decisão política. Para que perder tempo com correlação de forças e com supostas leis econômicas naturais?
O problema é que neste caso, assim como no da superação do capitalismo, a correlação de forças, assim como as leis econômicas naturais, existem, ambas evoluindo em intrincadas relações de causa e efeito. Numa situação econômica internacional muito favorável, o governo Lula conseguiu superar os entraves da política monetária de juros altos e câmbio flutuante, impostos pelo sistema financeiro, ao dar alguns passos fundamentais para mudar a correlação de forças políticas e a própria política  econômica. Colocou em pauta um forte programa de redistribuição de renda, um rol de ações de recuperação da capacidade de planejamento e de elaboração de projetos, e um programa de aceleração do crescimento econômico.
Nenhum desses passos foi dado de um dia para o outro, nem poderia. A máquina estatal brasileira havia sido desorganizada pelos governos neoliberais, os órgãos de planejamento e de projetos estavam sucateados, assim como boa parte da indústria brasileira, e mantinham-se abertos os ralos pelos quais fluía boa parte dos recursos públicos para mãos privadas. Para complicar, parcelas do PT acharam que poderiam utilizar-se impunemente dos mesmos métodos de privatização dos recursos públicos, praticados pela burguesia, gerando a crise de 2005.
De qualquer modo, apesar dos companheiros que abandonaram o governo Lula e o PT, por acharem que eles afundariam por haver sucumbido ao conservadorismo e à corrupção, tais dificuldades foram superadas em grande parte. A reeleição de Lula foi uma demonstração de que a maior parte da população já se dera conta de que havia uma diferença real entre seu governo e os governos neoliberais anteriores.
Há certo consenso de que o segundo mandato Lula foi substancialmente diferente do primeiro. Mas isso ocorreu, em parte, porque no primeiro mandato haviam sido superados alguns dos gargalos que impediam uma aplicação consistente das políticas de redistribuição de renda e crescimento econômico. E, também em parte, porque as condições internacionais continuavam favoráveis para a implementação daquelas políticas, apesar do monetarismo neoliberal. O resultado foi um aumento considerável do poder de compra das camadas populares, embora haja um certo exagero na suposição de emergência de uma nova classe média.
De qualquer modo, essa elevação do poder de compra no mercado interno criaria um inevitável crescimento da demanda de uma série considerável de produtos e serviços, em especial alimentos, outros bens de consumo corrente, transportes etc. As leis naturais da economia se apresentariam de um modo ou de outro, trazendo à tona os desequilíbrios entre oferta e demanda, pressionando a inflação, exigindo ajustes e impondo-se à política.
Para piorar, essa situação se intensificou num contexto internacional diferente. A crise internacional do capitalismo se mantém e mudaram as condições que antes, apesar do monetarismo neoliberal encastelado no Banco Central, favoreciam as políticas sociais e de desenvolvimento no Brasil. Num contexto como esse, seria ilusão supor que o sistema financeiro ficaria impassível diante da oportunidade de retomar a política de juros altos, como única maneira de combate à inflação. Em especial, porque as medidas para elevar a produção de alimentos e de outros bens e serviços de alta demanda não dão resultados em curto prazo.
Temos, assim, a economia se impondo à política numa situação de forte disputa entre o neoliberalismo ainda não enterrado e o compromisso de longo prazo com um desenvolvimento associado à redistribuição de renda e à erradicação da miséria. Tornou-se inevitável dar vários nós de aperto, como me referi em comentários anteriores. O que não era inevitável, nem necessário, era permitir a elevação da taxa de juros, em especial porque a inflação não está disseminada por todos os setores da economia.
No entanto, essa também não é uma decisão que o governo Dilma possa adotar de chofre e a seu bel prazer. Tal decisão demanda um debate na sociedade e entre as forças políticas, criando uma correlação de forças favorável para impor ao Banco Central e ao sistema financeiro uma política que corresponda à nova realidade do país. O papel da esquerda e de todo o PT é o de intensificar tal debate e acumular as forças sociais e políticas necessárias para apoiar o governo Dilma no rumo dessa decisão, do mesmo modo que fez durante o governo Lula. Ilações ou interpretações diferentes a respeito de meus textos, nada tem de programático, nem pragmático. De qualquer modo, se a parte da esquerda que ainda acredita que os governos Lula e Dilma são de pragmatismo assistencialista, despolitizadores, desmobilizadores e submissos ao sistema financeiro privado, pretende participar de um debate sem preconceitos sobre as conquistas do povo brasileiro durante os oito anos de governo Lula e sobre os desafios que estão realmente em pauta para o governo Dilma, assim como sobre os rumos possíveis para o socialismo no Brasil, acredito que eles sejam bem-vindos. De minha parte, mesmo não passando de um simples comentarista, lhes darei toda a atenção que militantes históricos merecem.

domingo, 20 de março de 2011

21 de março será comemorado com ações de rechaço à discriminação racial






200311_rj_racialAdital - [Camila Queiroz] Na América Latina, o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, celebrado em 21 de março, será marcado por ações em prol da igualdade e em rechaço à discriminação. Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), a data rememora o Massacre de Shaperville, ocorrido em 1960, quando negros em manifestação pacífica contra a lei do passe, na África do Sul, foram assassinados pelo exército.


Neste ano, as atividades ganham mais força com a proclamação, pelas Nações Unidas, do Ano Internacional para Descendentes de Africanos.
Na Argentina, afrodescentes e africanos realizarão, já no dia 20, o festival "Soy Afro”, na Praça de Maio, a partir das 15 horas. A intenção é manifestar-se a favor da igualdade de oportunidades e contra o racismo. O evento contará com a participação dos artistas afrodescentes Fidel Nadal e Carlos García Lopez e acontece junto ao Primeiro Congresso de Afrodescentes e Africanos da Argentina.
No Brasil, o Comitê de Mobilização Contra o Genocídio da População Negra, de São Paulo, organizará o ‘Ato contra o Genocídio da População Negra', no dia 21, na Praça Ramos, em frente ao Teatro Municipal de São Paulo, com ações a partir de meio-dia e ato político-cultural às 18 horas. No mesmo dia, na cidade de São Bernardo do Campo, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) convida para um debate contra o preconceito racial, seguida da exibição de um filme ligado à temática, na sede da entidade, a partir das 18 horas.
Os organizadores dos eventos destacam o aumento do número de homicídio de negros no país, principalmente jovens do sexo masculino, o que consideram como um genocídio da população negra. Divulgado em fevereiro pelo Ministério da Justiça (MJ), o Mapa da Violência 2011 aponta que, em 2008, morriam 103% negros a mais que brancos, enquanto em 2002 o percentual ficava em 46%. A taxa de homicídios entre os negros, em 2008, foi de 33,6 em cada 100 mil.
Na capital do Uruguai, Montevidéu, haverá o lançamento oficial da publicação "Coalizão Latino-Americana e Caribenha de Cidades contra o Racismo, a Discriminação e a Xenofobia”, produzida a partir de uma parceria entre a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em Montevidéu, e a Organização Mundo Afro.
Com as palavras de ordem "O povo diz e tem razão, não mais racismo na Colômbia, não mais discriminação”, será realizada a Jornada de Luta contra a Discriminação Racial, que reivindica a criação de uma entidade nacional autônoma para executar a coordenação de políticas públicas a favor da população afrocolombiana, bem como do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da População Afrocolombiana, dentre outras medidas.
Para fortalecer os conhecimentos teóricos e práticos dos servidores públicos e representantes de organizações da sociedade civil, o Ministério de Descolonização da Bolívia iniciará, na próxima segunda-feira, o primeiro curso "Gestão de Políticas Públicas e Estratégias Interculturais de Descolonização. A abertura será às 10 horas, nos pátios do prédio central do Ministério de Cultura.
OEA discute projeto para Convenção contra discriminação
Durante a sessão extraordinária do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) para celebrar o Ano Internacional dos Afrodescendentes, ocorrida no último dia 15, o presidente do Grupo Encarregado do ‘Projeto de Convenção Interamericana contra o Racismo e Toda Forma de Discriminação e Intolerância', o ministro conselheiro Danilo González, da Costa Rica, informou como estão as negociações para o Projeto, cujo preparo teve início em 2005.
Ele apontou divergências sobre a adoção de um único instrumento internacional. Frente ao impasse, na próxima Assembleia Geral da OEA, em junho deste ano, o grupo encarregado deverá apresentar um projeto de resolução para tentar facilitar o consenso entre os países.

Os palestinos compreendem Gadafi melhor do que nós

Bernstam deveria encontrar-se com Gadafi. Têm muito em comum. Um desprezo absoluto pelos palestinos. Abuso total de pessoas que perderam seu futuro e suas vidas. Abuso total de todos os que não sejam de sua própria tribo.

Por Robert Fisk

Beirute. Tempestade. Chuva espessa. O mar varre o pequeno porto próximo à minha casa.

Uma reunião com um amigo próximo de um filho de Gaddafi. “Ele quer uma batalha, habibi, quer uma batalha! Quer ser o grande herói guerrilheiro, o grande homem que luta contra os estadunidenses. Quer ser o herói líbio que dá conta dos colonialistas. Cameron, Obama, ele cuidará deles por vocês. E o povo dará a ele o título de herói. Eles farão o que ele quer”.

Há bastante fumaça de cigarro na sala. Demasiada. Isto ocorre no acampamento de refugiados de Mar Elias. Um homem que escapou do massacre de Sabra e Chatila em 1982, de cabelos brancos, da minha idade, sacode a cabeça pela difícil situação de seu povo na Líbia. “Sabia, Robert, que há 30.000 palestinos?”. Gaddafi os recebeu há mais de 10 anos. A maioria é de Gaza. Regressavam a Gaza, os egípcios não lhes permitiam passar e os israelenses não lhes permitiam regressar às suas casas, e não puderam voltar e agora estão na líbia e “esperam o melhor desta pessoa!”.

Pobres velhos palestinos. Eu deveria ter adivinhado que algo acontecia em Jerusalém no ano passado quando um jornalista israelense me perguntou sobre o Órgão de Socorro e Obras Públicas da ONU (UNRWA), a agência que esteve cuidando dos refugiados palestinos há mais de 60 anos. “Estou seguro”, me disse, “de que têm alguma relação com o terrorismo, de que desempenham um papel importante na manutenção do terrorismo. Que é que eles realmente estão fazendo no Líbano?”. Neste momento pensei que tudo estava um pouco estranho. Se alguma instituição da ONU faz seu trabalho bem, esta é a UNRWA, ocupando-se com a organização, comida, educação, saúde e outras necessidades de milhões de palestinos que perderam – ou cujos pais ou avós perderam – suas casas em 1948 e 1949 no que hoje é Israel.

Uma visita aos imundos acampamentos de Sabra e Chatila em Beirut, ou de Ein el-Helweh em Sidón, é suficiente para mostrar a qualquer pessoa que em meio a este pântano de miséria e desespero a UNRWA representa a simpatia do mundo, de financiamento insuficiente, com poucos funcionários, muito pobre. No entanto, agora a direita israelense e aqueles que a apóiam estão classificando todas as organizações como provedoras das trevas, como “deslegitimadores”, uma rede de apoio aos palestinos que é necessário destruir para que os mais pobres entre os pobres – incluída a mais miserável população de Gaza – não transformem em vícios seus serviços sociais. A UNRWA – me parece difícil acreditar que seja um dado real de um pesquisador de uma importante universidade dos EUA, mas assim é dito – “criou um caldo de cultivo para o terrorismo internacional”.

Suponho que deve-se rir e chorar ao mesmo tempo, mas isto vem de um cruel e bastante distorcido artigo que apareceu na revista estadunidense American Commentary há algumas semanas, escrito por um tal Michael Bernstam, membro da Instituição Hoover de Stanford. Eu o destaco não porque seja atípico, mas sim porque representa uma tendência crescente e muito cruel no pensamento da direita israelense, uma ilusão delirante que se supõe que vá nos convencer que o objetivo dos mais pobres entre os pobres palestinos é a destruição de seus acampamentos. Bernstam, em seu artigo, de fato afirma que “há 60 anos a UNRWA esteve pagando a quatro gerações para que permaneçam como refugiados, e para reproduzir mais refugiados e mais vidas nos acampamentos de refugiados”, onde está, “efetivamente, a garantia da continuidade de um ciclo palestino autônomo destrutivo de violência, de derramamento de sangue fratricida e uma guerra perpétua contra Israel”. Entendem o ponto? A ONU é agora fonte de todo o terror.

Houve um tempo em que este tipo de besteira podia ser ignorado, mas agora são parte de uma narrativa cada vez mais perigosa na qual a caridade se converte em mal, na qual a única instituição que fornece ajuda cerca de 95% dos quase 5 milhões de refugiados palestinos se converte em um objetivo a ser atacado. E posto que a UNRWA em Gaza pode se transformar em um objetivo durante o banho de sangue no final de 2008 até começo de 2009, isto é algo bastante aterrador.

Mas espere. Isto vai além. “O mandato da UNRWA criou... um estado permanente de bem-estar supranacional no qual, simplesmente entregando subsídios por desemprego, desapareceram do mercado internacional os incentivos ao trabalho e ao investimento... e se criou um caldo de cultivo para o terrorismo internacional. Esta condição de refugiado sem limite de tempo é a que põe o pão na mesa na casa sem pagar aluguel, além de um conjunto de serviços gratuitos”. “Isto permite que os palestinos sejam – tome nota destas palavras – refugiados permanentes de guerra... alimentados por um particular ‘direito de retorno’ que os refugiados exigem para poder regressar à terra que ocupavam antes da independência de Israel”.

Tome note da palavra “ocupavam”. Longe de serem os donos da terra, eles a “ocupavam”! Têm uma exigência de seu “particular direito de retorno”. E veja a parte seguinte: “A exigência do direito de retorno palestino é pretendida por uma diáspora étnica histórica dos descendentes dos refugiados permanentes para a remoção de outro povo, a nação-Estado de Israel. Este não é o direito de regressar a um país, é o direito de retorno a um país que se perdeu em uma guerra, uma reconquista, uma reivindicação do direito de recuperar este território”.

E assim segue e segue e segue... É necessário abolir a UNRWA, o que “significaria o fim do organismo mundial que é o apoio à continuidade da agonia dos palestinos... Israel é obviamente inadequado como país para o reassentamento, porque a integração é inviável... Ao invés de acabar com o beco sem saída criando o Estado de que os palestinos necessitam, finalizando reinado horrível de seis décadas da UNRWA, instantaneamente se criarão as condições para um processo de paz sincero, significativo e viável para o Oriente Médio”.
Aí está, Bernstam deveria encontrar-se com Gadafi. Têm muito em comum. Um desprezo absoluto pelos palestinos. Abuso total de pessoas que perderam seu futuro e suas vidas. Abuso total de todos os que não sejam de sua própria tribo. Não foi Gadafi quem inventou a palavra “Israeltina”?

Publicado por Rebelion. Tradução de Cainã Vidor. Foto por http://www.flickr.com/photos/freegaza/.