segunda-feira, 28 de março de 2011

Islamofobia

14777.jpegO cidadão da foto, com essa cara de mau, é o deputado republicano Peter King, uma das figuras em maior evidência hoje nos EUA.  É dele a iniciativa de criar uma comissão que vai investigar as atividades de organizações muçulmunas no país,  vista como uma atitude discriminatória e revanchista. 

por Eliakim Araujo em Miami


O cidadão da foto, com essa cara de mau, é o deputado republicano Peter King, uma das figuras em maior evidência hoje nos EUA.  É dele a iniciativa de criar uma comissão que vai investigar as atividades de organizações muçulmunas no país,  vista como uma atitude discriminatória e revanchista.  Desde já, King  está sendo chamado de o McCarthy do século XXI, numa referência ao parlamentar dos anos 50 e 60 que perseguiu e destruiu famílias pela simples suspeita de que poderiam ser comunistas.

O novo mccarthysta considera que o inimigo está dentro de casa e que a crescente radicalização dos muçulmanos nascidos e criados nos Estados Unidos representa uma ameaça que deve ser avaliada antes que seja tarde demais.  Como presidente do Comitê de Segurança Nacional da Câmara - cargo conquistado pelos republicanos depois da vitória nas eleições parlamentares de novembro passado - King argumenta que os americanos muçulmanos não cooperam com a lei e a ordem na hora de denunciar atividades suspeitas e que 80% dos líderes islâmicos são extremistas.

Mas King não é flor que se cheire.  Além de acusado de falsas alegações e de estar querendo estigmatizar e demonizar a comunidade muçulmana de sete milhões de pessoas,  seus adversários afirmam que ele defendeu nos anos oitenta a luta armada do IRA, a organização terrorista irlandesa.
Quem tem um deputado como esse, não precisa de terrorista. Ele é o próprio.

Washington made in China
A rede ABC mostrou outro dia em seu principal telejornal uma reportagem super interessante. O repórter percorreu as lojas de souvenirs de Washington e descobriu que quase todos eram fabricados na China. Miniaturas dos memoriais, do Capitólio, da Casa Branca e, pasmem,  até bandeirinhas dos EUA eram "made in China".   

Esse tipo de reportagem,  cada vez mais frequente, revela a preocupação do cidadão americano com o rival chinês, acusado de manipular sua moeda e roubar empregos dos Estados Unidos.  A desgastada crise econômica,  que não dá sinais de arrefecimento,  não é mais a única culpada pelo índice de desemprego que teima em permanecer em torno dos 10%.

Até Donald Trump, misto de empresário e apresentador de TV (ele apresenta o original do "Aprendiz"), com seu jeito meio bufão, dizia em um programa de entrevista que é fácil acabar com o desemprego nos EUA "é só mandar para a China os nossos trabalhadores, porque nossos empregos foram todos levados para lá".

Na contramão da reportagem da ABC, a Boeing anunciou esta semana ter fechado encomendas de 10 bilhões de dólares com duas companhias aéreas da China, o mercado de aviação de crescimento mais rápido no mundo. 

Ou seja, pelo menos nesse segmento a China ainda não conseguiu roubar os empregos dos técnicos e operários norte-americanos. Por enquanto.

Eu ainda amo Bill
A revista sensacionalista Enquirer tirou do ostracismo uma mulher que quase derrubou um presidente dos Estados Unidos. Monica Lewinski, a mais famosa estagiária americana,   hoje com 37 anos (ela tinha 22 por ocasião do escândalo)  revelou que nunca se esqueceu do romance proibido com Bill Clinton, tanto que até hoje não conseguiu preencher o vazio deixado por ele. Não casou e nem quis ter filhos com pretensos namorados. E Mônica confidenciou a amigos mais próximos que não consegue mais amar ninguém, pois seu coração pertence ao ex-presidente.

Monica, que chegou a escrever um livro sobre seu "estágio" na Casa Branca, conta que foi muito pressionada na época pela chamadas forças ocultas do governo para calar a boca sobre os acontecimentos no Salão Oval.  Mas confidenciou que faria tudo de novo, porque Bill foi seu "único e verdadeiro amor".

É a tal história do amor que bate e fica.

Sem Harvard, mas com Eike

Pesquisa divulgada na semana que passou, com pouco destaque na mídia preocupada com a cobertura do Carnaval, revelou que nenhuma universidade brasileira foi classificada entre as cem melhores do mundo.  O trabalho é da Times Higher Education (THE), instituição baseada em Londres.

Harvard, nos EUA, obteve a pontuação máxima no ranking, montado a partir de uma pesquisa com convidados de mais de 13 mil professores de 131 países do mundo.  Como nos anos enateriores, as universidades americanas seguem dominando o ranking.  Entre as dez primeiras da lista, sete são dos EUA, duas do Reino Unido e uma do Japão.

A nós, brasileiros, resta o consolo de saber que, se não temos uma universidade do topo, temos em compensação trinta bilionários na lista da Forbes. Para ser preciso, subimos de 18 para 30 em um ano. Sinal de que as coisas andam bem para os negócios no Brasil. 

Melhor ainda. Se não temos uma universidade entre as melhores, temos um empresário entre os dez mais ricos do mundo. Eike Batista, aparece no oitavo lugar, com uma fortuna estimada em 27 bilhões de dólares. Só não dá para entender como alguém que tem uma fortuna de 27 bi precisa de um aporte de capital público (BNDES) de 600 milhões de reais para tocar seus negócios.

Se alguém souber, me explique, por favor.

EUA e aliados cometem crimes monstruosos na Líbia


Miguel Urbano Rodrigues
 
 
Na Líbia de hoje, tal como sucedeu na Jugoslávia, no Iraque ou no Afeganistão, as “missões humanitárias” do imperialismo deixam um hediondo rasto de morte e destruição. Apesar do silêncio, da manipulação e da mentira dos grandes media internacionais e nacionais, a barbaridade da agressão imperialista contra o povo líbio começa a surgir em toda a sua criminosa dimensão.


Os EUA e os seus aliados repetem na Líbia crimes contra a humanidade similares aos cometidos no Iraque e no Afeganistão.
A agressão ao povo líbio difere das outras apenas porque o discurso que pretende justificá-la excede o imaginável no tocante à hipocrisia.
A encenação prévia, pela mentira e perfídia, traz à memória as concebidas por Hitler na preparação da anexação da Áustria e das campanhas que precederam a invasão da Checoslováquia e da Polónia.
Michel Chossudovsky, James Petras e outros escritores progressistas revelaram em sucessivos artigos - citando fontes credíveis - que a rebelião de Benghazi foi concebida com grande antecedência e minúcia e alertaram para o papel decisivo nela desempenhado pelos serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido.
A suposta hesitação dos EUA em apoiar a Resolução do Conselho de Segurança da ONU que criou a chamada zona de «Exclusão Aérea», e posteriormente, em assumir a «coordenação das operações militares» foi também uma grosseira mentira. Farsa idêntica caracterizou o debate em torno da transferência para a NATO do comando da operação dita «Amanhecer de Odisseia», titulo que ofende o nome e a epopeia do herói de Homero.
O Pentágono tinha elaborado planos de intervenção militar na Líbia muito antes das primeiras manifestações em Benghazi, quando ali apareceram as bandeiras da monarquia fantoche inventada pelos ingleses após a expulsão dos italianos. Tudo isso se acha descrito em documentos (alguns constantes de correspondência diplomática divulgada pela Wikileaks) que principiam agora a ser tornados públicos por webs alternativos.
OS CRIMES ENCOBERTOS
Os discursos dos responsáveis pela agressão ao povo líbio e a torrencial e massacrante campanha de desinformação montada pelos grandes media ocidentais, empenhados na defesa e apologia da intervenção militar, são diariamente desmentidos pela tragédia que se abateu sobre a Tripolitania, ou seja o ocidente do país controlado pelo Governo.
Hoje não é mais possível desmentir que o texto da Resolução do CS - que não teria sido aprovado sem a abstenção cúmplice da Rússia e da China – foi desafiadoramente violado pelos Estados agressores.
Os ataques aéreos não estavam previstos. Mas foram imediatamente desencadeados pela força aérea francesa e pelos navios de guerra dos EUA e do Reino Unido que dispararam em tempo mínimo mais de uma centena de mísseis de cruzeiro Tomahwac sobre alvos muito diferenciados.
Têm afirmado repetidamente os governantes dos EUA do Reino Unido, da França, da Itália que a «intervenção é humanitária» para proteger as populações e que «os danos colaterais» por ela provocados são mínimos.
Mentem consciente e descaradamente.
As «bombas inteligentes» não são cegas. Têm atingido, com grande precisão, depósitos de combustíveis e de produtos tóxicos, pontes, portos, edifícios públicos, quartéis, fábricas, centrais eléctricas, sedes de televisões e jornais. Reduziram a escombros a residência principal de Muamar Khadafi.
Um objectivo transparente foi a destruição da infra-estrutura produtiva da Líbia e da sua rede de comunicações.
Outro objectivo prioritário foi semear o terror entre a população civil das áreas bombardeadas.
Afirmaram repetidas vezes o secretario da Defesa Robert Gates e o secretario do Foreign Ofice, William Haggue que as forças daquilo a que chamam a «coligação» mandatada pelo Conselho de Segurança, não se desviaram das metas humanitárias de «Odisseia». Garantem que o número de vítimas civis tem sido mínimo e, na maioria dos bombardeamentos cirúrgicos, inexistente.
Não é o que informam os correspondentes de alguns influentes media ocidentais e árabes.
Segundo a Al Jazeera e jornalistas italianos, o «bombardeamento humanitário» de Adhjedabya foi na realidade uma matança sanguinária, executada com requintes de crueldade.
Outros repórteres utilizam a palavra tragédia para definir os quadros dantescos que presenciaram em bairros residenciais de Tripoli.
Generais e almirantes norte-americanos e britânicos insistem em negar que instalações não militares ou afins tenham sido atingidas. É outra mentira. As ruínas de um hospital de Tripoli e de duas clínicas de Ain Zara, apontadas ao céu azul do deserto líbio, expressam melhor do que quaisquer palavras a praxis dos «bombardeamentos humanitários». Jornalistas que as contemplaram e falaram com sobreviventes do massacre, afirmam que em Ain Zara não havia um só militar nem blindados, sequer armas.
Numa tirada de humor negro, no primeiro dia da agressão, um oficial dos EUA declarou que a artilharia anti aérea líbia ao abrir fogo contra os aviões aliados que bombardeavam Tripoli estava a «violar o cessar-fogo» declarado por Khadafi.
Cito o episódio por ser expressivo do desvario, do farisaísmo, do primarismo dos executantes da abjecta agressão ao povo líbio, definida como «nova cruzada» por Berlusconi, o clown neofascista da coligação ocidental.
Khadafi é o sucessor de Ben Laden como inimigo número um dos EUA e dos governantes que há poucos meses o abraçavam ainda fraternalmente.
O dirigente líbio não me inspira hoje respeito. Acredito que muitos dos seus compatriotas que participam na rebelião da Cirenaica e exigem o fim do seu regime despótico actuam movidos por objectivos louváveis.
Mas invocar a personalidade e os desmandos de Muamar Khadafi no esforço para apresentar como exigência de princípios e valores da humanidade a criminosa agressão ao povo de um país soberano é o desfecho repugnante de uma ambiciosa estratégia imperialista.
O subsolo líbio encerra as maiores reservas de petróleo (o dobro das norte-americanas) e de gás da África. Tomar posse delas é o objectivo inconfessado da falsa intervenção humanitária.
É dever de todas as forças progressistas que lutam contra a barbárie imperialista desmascarar a engrenagem que mundo afora qualifica de salvadora e democrática a monstruosa agressão à Líbia.
A Síria pode ser o próximo alvo. Isso quando não há uma palavra de crítica às monarquias teocráticas da Arábia Saudita, do Bahrein, dos Emirados.
Uma nota pessoal a terminar. Os líderes da direita Europeia, de Sarkozy e Cameron à chanceler Merkel, cultivam nestes dias – repito - o discurso da hipocrisia. Nenhum, porém, consegue igualar na mentira e na desfaçatez a oratória de Barack Obama, que, pelos seus actos, responderá perante a História pela criminosa política externa do seu país, cujo povo merecia outro presidente.

A discriminação ao trabalho das empregadas domésticas


Do conjunto de mulheres ocupadas no país, 17% são trabalhadoras domésticas, em sua maioria negras


 

Inesc

Assessor de diversidade e apoio aos cotistas da Universidade de Brasília (UNB), Joaze Costa é autor do estudo Sindicatos das trabalhadoras domésticas no Brasil: teorias de descolonização e saberes subalternos, de 2007.
Coordenador da mesa Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial, no Seminário Internacional Igualdade, Racismo e Políticas Públicas, que acontece dias 30 e 31 de março no anfiteatro 12 da UNB, Joaze é também segundo secretário da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e Negras (ABPN).
O evento contará com alguns dos principais especialistas da área e, além de tratar das desigualdades e do racismo enfrentado pelos brasileiros, tem como objetivo discutir temáticas como: cotas, ações afirmativas, Estatuto da Igualdade Racial, comunidades quilombolas, modelo de desenvolvimento e racismo institucional à luz de experiências internacionais e também da atuação do Estado brasileiro.

Inesc - Quantas trabalhadoras domésticas existem no país e quantas são sindicalizadas?

Joaze Costa - A Pnad 2009, divulgada no final de 2010, indica um contingente de 7,2 milhões de trabalhadores domésticos, em sua expressiva maioria mulheres. Trata-se de uma categoria socioprofissional extremamente significativa numericamente, representando 7,8% da População Economicamente Ativa. Se considerarmos apenas o conjunto das mulheres ocupadas no país, 17% das mulheres empregadas são trabalhadoras domésticas.
Infelizmente, não tenho dados mais recentes em mãos, mas com certeza trata-se de uma categoria que também tem uma sobrerrepresentação de mulheres negras, o que torna muito interessante os estudos sobre estas profissionais, pois sobre elas incidem práticas discriminatórias de gênero e raça, conjugados obviamente com fatores classistas. Porém, além dessa dimensão analítica, a categoria profissional das trabalhadoras domésticas impõe enormes desafios no campo das políticas públicas.
Também lamento não ter dados atuais sobre o número de trabalhadoras domésticas sindicalizadas. Porém, quando defendi minha tese de doutorado no Departamento de Sociologia da UNB, em 2007, o índice de trabalhadoras sindicalizadas era em torno de 1,6%. 

Este não é um percentual muito baixo?

Com certeza trata-se de um índice baixo, entretanto, numa perspectiva histórico-sociológica torna-se compreensivo este índice, podendo inclusive ser motivo para comemorações. As barreiras para uma luta política das trabalhadoras domésticas são inúmeras, para se ter uma idéia, citaria apenas um dos obstáculos, talvez o central: o isolamento intramuros das trabalhadoras domésticas nos seus locais de trabalho.

Da fundação da Associação Profissional das Empregadas Domésticas de Santos, em São Paulo, em1936, à criação da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, em 1997, que conquistas a classe conseguiu?

Esta é uma ótima pergunta; para uma resposta mais completa recomendo a leitura da minha tese de doutorado. Mas, posso adiantar que a principal conquista do grupo foi a sua própria organização como categoria profissional. Essa história inicia-se com Laudelina de Campos Melo, na década de 30 do século 20, passando por uma articulação com o Teatro Experimental do Negro, e com a corrente progressista da igreja católica nas décadas de 50 e 60.
Em minha pesquisa de doutorado descobri que na sombra de cada direito conquistado – mesmo que insuficiente, comparado aos outros/as trabalhadores/as – havia uma forte militância das trabalhadoras domésticas. Por exemplo, os primeiros direitos da categoria profissional em 1972 foram um produto direto do 1o Congresso Nacional das Trabalhadoras Domésticas, que ocorreu em 1968, no Rio de Janeiro. Em 1974, elas realizaram o 2o Congresso Nacional para avaliar os ganhos com a lei 5958/72. Após o 5o Congresso Nacional da Categoria em 1985, em Recife, as trabalhadoras domésticas iniciam uma forte articulação nacional com outros movimentos sociais, especialmente as feministas, com Constituintes, com a própria igreja católica progressista, para apresentar uma proposta de lei, que contemplasse os direitos da categoria. Esta longa e silenciada história, revela o ativismo destas mulheres, divididas entre cuidar da casa dos outros e pensar no futuro delas mesmas e até mesmo do país. Com a Constituição de 1988, as trabalhadoras domésticas foram contemplados com alguns direitos, muito aquém dos demandados. Aliás, é muito revelador o parágrafo único dos Direitos Sociais da Constituição Cidadã, que menciona as trabalhadoras, é para dizer que 25 dos 34 direitos sociais previstos na Constituição Federal para todos/as os trabalhadores brasileiros/as não se aplicam às domésticas. Após a década de 80, os sindicatos criados a partir de 1988 sentiram a necessidade de uma representação uniforme, sobretudo para lidar com o governo federal. Decidiram então pela criação da Fenatrad, a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, que tem como sua atual presidenta Creuza de Oliveira.

E que desafios tem a categoria agora?

Os desafios continuam enorme à categoria. Por exemplo, a elevação do número de trabalhadoras com carteira assinada e com contribuição à previdência social, regulamentação da jornada de trabalho, campanha da casa própria, obrigatoriedade do FGTS, hora extra etc. Estes direitos têm estado na pauta da categoria após 1988 e talvez ganhem novo fôlego a partir da Conferência Internacional da OIT, que ocorrerá em junho de 2011.

O trabalho das empregadas domésticas reúne três tipos de discriminação: de gênero, de classe e 
de raça; ainda assim é visto com muita naturalidade pela sociedade em geral. O que isso aponta em termos de cultura nacional?

Esta é uma das questão que mais me interessa no estudo do trabalho doméstico. Ainda não tive tempo para uma grande elaboração a este respeito, mas minha hipótese é que no trabalho doméstico temos uma das chaves para entender a formação de uma gramática moral que explica a estabilidade da desigualdade social no Brasil. E é bastante óbvio que o trabalho doméstico herda a funcionalidade do trabalho escravo.

O livro Levando a Raça a Sério: ações afirmativas e universidade, lançado em 2004, traz um panorama de ações de enfrentamento do racismo no campo da educação. O que pensa da lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de História da África nos currículos escolares?

O livro foi resultado de um seminário que organizei em 2003, na Universidade Federal de Goiás, no âmbito do Programa Políticas da Cor na Educação Brasileira, com o Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e com apoio da Fundação Ford. Naquela ocasião, reunimos coordenadores e participantes de alguns dos projetos daquele programa, que estavam nas suas respectivas universidades propondo políticas de ação afirmativa. Assim, o foco do livro foram os debates e negociações que estavam ocorrendo em cada uma das universidades ali representadas: UNB, Universidade do Estado da Bahia, UFBA, UFSCar, UFMG, UFG, UFMT etc.
As discussões sobre a lei 10.639/03 não entraram naquele seminário e, portanto, não foram expressas no livro. Porém, lembro-me vagamente que meses depois viemos para uma reunião em Brasília no MEC, quando foi assinada a primeira minuta do programa Uniafro, voltado para o financiamento de projetos de pesquisa e atividades sobre a 10.639/03.

E como garantir a implantação efetiva dessa lei?

Devemos a existência desta lei à professora Petronilha da Silva, relatora do parecer que aprovou a 10.639/03. Obviamente, outros personagens são e foram fundamentais para termos alcançado essa conquista legal. Esta lei se mostra como um primeiro passo para o combate ao chamado racismo epistemológico, assim também como o primeiro passo para o combate à cultura racista existente na sociedade brasileira, que até pouco tempo atrás era ensinada nas nossas escolas impunemente.
Eu diria que o grande desafio hoje para a implementação efetiva desta lei no sistema de ensino brasileiro passa pelo envolvimento das universidades. As universidades têm o dever de formar pessoas capazes de lidar de maneira qualificada com a 10639/03. Para isso, as universidades têm que contratar novos professores para desempenhar esta tarefa.
De que maneira as cotas raciais têm colaborado para o acesso e a manutenção da população negra nas universidades? Além de garantir o ingresso, como garantir a permanência do(a) aluno(a) cotista?
As cotas raciais foram o primeiro passo para uma reestruturação as universidades brasileiras, porém não podem ser pensadas como ato único e isolado. As universidades têm que trazer para o seu bojo imediatamente uma discussão sobre a permanência dos cotistas, o acesso dos mesmos às redes de pesquisa e a reforma curricular. Enfim, há um conjunto de ações ainda por implementar para caracterizar uma efetiva política de ação afirmativa nas universidades brasileiras.

Acredita que políticas de ação compensatória, como o Bolsa Família, são eficazes também para o combate às desigualdades raciais?

Sem dúvida. Seria um grande engano dizermos que as chamadas políticas universais não teriam impacto sobre as desigualdades raciais.
Estes 10 primeiros anos deste novo milênio foram fundamentais para a discussão sobre as políticas de ação afirmativa. Convencemos setores importantes da sociedade brasileira da necessidade de adoção destas políticas para quebrarmos o “teto de vidro” e para a adoção de políticas valorativas. Entretanto, não podemos pensar que as políticas de ação afirmativa serão a panaceia para todas as desigualdades raciais brasileiras. As ações afirmativas precisam ser combinadas com políticas universais de combate à pobreza, de elevação de escolaridade, de equidade regional etc. Sem abrir mão das políticas de ação afirmativa – que cumprem um papel decisivo na sociedade brasileira – temos que partir para um movimento político de elevação da qualidade do ensino fundamental e médio brasileiro, de aumento de matrículas no ensino médio, de melhoria do sistema de saúde, de melhoria da habitação etc.
Os próximos anos de crescimento econômico do Brasil não podem repetir os erros do passado, quando o crescimento econômico não veio acompanhado de igualdade social e racial.

Qual sua expectativa em relação ao Seminário Igualdade, Racismo e Políticas Públicas?

O Seminário traz pesquisadores refinados da questão racial brasileira; pessoas que com uma seriedade incrível tem refletido sobre nossa sociedade e os desafios para a igualdade social e racial. Certamente, a Universidade de Brasília ganhará muito com a presença desses pesquisadores e pesquisadoras.
Serão colocadas questões importantes para o desenvolvimento social brasileiro. Para o/a aluno/a que comparecer, certamente ele perceberá inúmeros possíveis temas de pesquisa para sua monografia, dissertação e tese. Para os/as pesquisadores/as será uma ótima oportunidade para intensificar o diálogo com outros/as pesquisadores/as nacionais e internacionais. E espero que tenhamos um público expressivo, pois num seminário como este são discutidas questões que tem a ver com o futuro do nosso país.

A nudez consciente...

De topless, ucranianas lutam contra a exploração sexual e pelos direitos das mulheres


Ucranianas do Femen fazem topless em manifestação em Kiev contra promoção feita por rádio neozelandesa
Rodrigo Borges Delfim no Opera Mundi
 
 A emissora neozelandesa The Rock FM anunciou nesta semana a promoção "Ganhe uma esposa", cujo vencedor viajaria para a Ucrânia para "escolher" uma noiva através de uma agência que promove encontros. Em resposta, ativistas do grupo feminista ucraniano Femen protestaram em Kiev, capital do país, com slogans como "A Ucrânia não é Bordel" e fazendo o tradicional topless, que já virou uma marca registrada.

A promoção da rádio e a reação do Femen mostram como a fama de “point” do turismo sexual colou na Ucrânia e também o tamanho do desafio do movimento feminista em mudar essa imagem do país no exterior. A Ucrânia se consolidou como um destino turístico, com cerca de 20 milhões de visitantes por ano. Mas a atração principal para esse público está longe de trazer orgulho.

Já não bastasse o rótulo de prostitutas que mulheres de países do leste carregam na Europa, a ex-república soviética também ganhou a fama de ser uma das mecas do sexo pago no mundo, em especial na capital Kiev. O fato de 23% das prostitutas da Europa serem de origem ucraniana reforça o estereótipo.

A crise econômica vivida pelo país agrava o problema, já que muitas jovens enxergam na prostituição uma forma de ganhar muito dinheiro e ascender socialmente. Estima-se que 60% das universitárias ucranianas recorram à indústria do sexo para custearem os estudos.

Femen/Divulgação

Para as ativistas ucranianas, a nudez chama a atenção para a causa defendida nos protestos

É dentro desse contexto que estudantes da Universidade de Kiev fundaram em 2008 o Femen, um movimento que adotou um jeito polêmico e irreverente de protestar contra o turismo sexual e lutar pelos direitos das mulheres na Ucrânia e pelo mundo. A forma mais marcante de manifestação e que mais chama a atenção da mídia internacional é o topless.

"Criei este movimento porque compreendi que havia falta de ativistas femininas na nossa sociedade. A Ucrânia é uma sociedade dominada pelos homens e na qual as mulheres têm um papel passivo", disse Anna Hutsol, presidente do Femen.

Para as integrantes do Femen, a prostituição é uma forma de escravidão. Por isso, o grupo também se opõe a qualquer proposta de legalização da atividade no país e propõe a criminalização do ato da compra de sexo. Essa política já é adotada na Suécia e conhecida como “Modelo Nórdico”.

Uma das preocupações futuras do Femen é com 2012, ano no qual cidades da Ucrânia serão sedes da Eurocopa, ao lado da vizinha Polônia. A grande dimensão do evento e seu potencial turístico tendem a agravar o problema da prostituição no país.

As manifestações do Femen em prol dos direitos das mulheres na Ucrânia também incluem campanhas com slogans irreverentes e marcantes. Uma das mais famosas é "A Ucrânia Não é Bordel", que aborda o tema da prostituição. Outra iniciativa de destaque é a campanha "Não Seja uma Vagabunda - Não Venda Seu Voto", que visava a conscientização do público feminino para a última eleição presidencial, ocorrida no ano passado.

Efe

Já são mais de sete as manifestações organizadas pelo Femen em 2011

O grupo, aliás, também é crítico ferrenho do governo ucraniano, que vem restringindo a liberdade de expressão no país. Protestos em geral são proibidos – sobretudo contra a Rússia, maior aliada da atual gestão – e a mídia ucraniana recebe “recomendações” sobre o que pode e como deve ser veiculado.

Com a consolidação do futuro site, a organização pretende intensificar a mobilização promovida nas redes sociais – já engloba locais como o Facebook, MySpace, Twitter e Flickr. Hoje, o Femen conta com cerca de 300 ativistas que participam dos protestos. Mas quando somam o apoio que recebem via internet, a base de ativistas chega a 2,5 mil.

A princípio, o uso do topless como forma de manifestação pode parecer equivocada, sob risco de reforçar os estereótipos já existentes. Mas as integrantes pensam de forma bem diferente. “Nós começamos vestidas e ninguém reparava. Eu sou uma grande fã de tirarmos nossas roupas. É como conseguimos atenção da nossa plateia”, disse a militante e estudante de Economia Alexandra Shevchenko. “É tudo o que temos, nosso corpo. Nós não temos vergonha disso”, completou a estudante de jornalismo Inna.

Chavez sobre a Líbia....

Posição de Chavez sobre as questões que envolvem a Líbia. Ele percebe o cerne da problemática libia e deixa muito claro sua consequencia para a política internacional imperialista.

domingo, 27 de março de 2011

Nota pública do PCB...

Governo brasileiro curva-se ao imperialismo

por PCB [*]
A vinda de Obama ao Brasil foi um gesto forte que marcou, para o Brasil e o mundo, um claro movimento de estreitamento das relações entre os governos brasileiro e norte-americano. O governo Dilma aponta para a continuidade, em nova fase, das ações de defesa dos interesses do capitalismo brasileiro no exterior.

A agenda midiática da visita sinaliza claramente um realinhamento do Brasil ao imperialismo norte-americano. Obama, por decisão do novo governo, foi o primeiro estadista estrangeiro a visitar o Brasil após a posse de Dilma. Mas não foi uma visita qualquer.

O governo brasileiro montou um palanque de honra e um potente amplificador para Obama falar ao mundo, em especial à América Latina, para ajudar os EUA a recuperarem sua influência política e reduzir o justo sentimento antiamericano que nutre a maioria dos povos. Nem na ditadura militar, um presidente estadunidense teve uma recepção tão espalhafatosa como a que Dilma lhe ofereceu.

Os meios de comunicação burgueses do mundo todo anunciam hoje em suas manchetes "o carinho do povo brasileiro com Obama" e a "amizade Brasil/Estados Unidos". Caiu a máscara de uma falsa esquerda que proclama a política externa brasileira como "antiimperialista".

Em verdade, o Brasil esteve três dias sob intervenção do governo ianque, que decidiu tudo, desde os acordos bilaterais a serem assinados à agenda, à segurança, à repressão a manifestações, ao itinerário, ao alojamento, às visitas e até ao cardápio de Obama. No Rio de Janeiro, a diplomacia americana e a CIA destituíram o governador e o prefeito, que queriam surfar na visita ilustre, decidindo tudo a respeito da presença de Obama na capital do Estado. Até a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que fica na Cinelândia, foi obrigada a suspender suas atividades na sexta-feira. Foi ocupada por agentes norte-americanos e militares brasileiros para os preparativos do comício de domingo, que seria na praça em frente.

No caso da América Latina, foi um gesto de solidariedade aos EUA em sua luta contra os processos de mudança, sobretudo na Venezuela, Bolívia e no Equador e uma vista grossa ao bloqueio a Cuba Socialista e à prisão dos Cinco Heróis cubanos.

A moeda de troca para abrirmos mão de nossa soberania foi um mero aceno de apoio norte-americano à pretensão obsessiva do Estado burguês brasileiro de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, um símbolo para elevar o Brasil à categoria de potência capitalista mundial. Tudo para expandir os negócios dos grandes grupos brasileiros no mercado norte-americano e mundial.

Enganam-se os que pensam que existe contradição entre a política externa do governo Lula e a de Dilma, ambas fundamentalmente a serviço do capital. Trata-se agora de uma inflexão pragmática. Após uma fase em que o Brasil expandiu e consolidou os interesses de seus capitalistas por novos "mercados" como América Latina, África, Ásia e Oriente Médio, a tarefa principal agora é dar mais atenção aos maiores mercados do mundo, para cuja disputa segmentos da burguesia brasileira se sentem mais preparados.

Vai no mesmo sentido a vergonhosa atitude de Dilma lavar as mãos para facilitar a extradição de Cesare Battisti ao governo italiano, dirigido pelo degenerado cafetão Berlusconi, entregando um militante de esquerda na bandeja do imperialismo europeu, no exato momento em que cresce na região a resistência dos trabalhadores.

O governo brasileiro, durante os três dias em que Obama presidiu o Brasil, não fez qualquer gesto ou apelo aos EUA, sequer de caráter humanitário, pelo fim do bloqueio a Cuba, o desmonte do centro de tortura em Guantánamo, a criação do Estado Palestino, o fim da intervenção militar no Iraque e no Afeganistão.

Debochando da soberania brasileira e da nossa Constituição – que define nosso país como amante da paz mundial e da autodeterminação dos povos –, Obama ordenou os ataques militares contra a Líbia a partir do território brasileiro, exatamente em Brasília, próximo à Praça dos Três Poderes, que se ajoelharam todos diante desta humilhação ao povo brasileiro. Não se deu ao trabalho de ir à Embaixada americana, para de lá ordenar a agressão militar. Fê-lo em meio a compromissos com seus vassalos, entre os quais ministros de Estado brasileiros que se deixaram passar pelo vexame de serem revistados por agentes da CIA.

O principal objetivo da vinda de Obama ao Brasil foi lançar uma ofensiva sobre as reservas petrolíferas brasileiras do pré-sal, uma das razões da reativação da IV frota naval americana nos mares da América Latina. No caso de alguns países, o imperialismo precisa invadi-los militarmente para se apoderar de seus recursos naturais. No Brasil, bastam três dias de passagem do garoto propaganda do estado terrorista norte-americano, espalhando afagos cínicos e discursos demagógicos.

Outro objetivo importante da visita tem a ver com a licitação para a compra de aviões militares, suspensa por Dilma no início do ano, justamente para recolocar no páreo os aviões norte-americanos. Além disso, os EUA garantiram outros bons negócios na agricultura, no setor de serviços, na maior abertura do mercado brasileiro e latino-americano em geral.

Obama só foi embora fisicamente. Mas deixou aqui fincada a bandeira de seu país, no coração do governo Dilma. Cada vez fica mais claro que, no caso brasileiro, o imperialismo não é apenas um inimigo externo a combater, mas um inimigo também interno, que se entrelaçou com os setores hegemônicos da burguesia brasileira. O pacto Obama/Dilma reforça o papel do Brasil como ator coadjuvante e sócio minoritário dos interesses do imperialismo norte-americano na América Latina, como tristemente já indicava a vergonhosa liderança brasileira das tropas militares de intervenção no Haiti.

O PCB, que participou ativamente das manifestações contra a presença de Obama no Brasil, denuncia o inaudito aparato repressivo no centro do Rio de Janeiro. Repudia a repressão exercida contra ativistas políticos e se solidariza de forma militante com os companheiros presos.

Desde a época da ditadura, nunca houve tamanha repressão e restrição à liberdade de expressão e ao direito de ir e vir. No domingo, o centro do Rio de Janeiro foi cercado por tropas e equipamentos militares. Uma passeata pacífica foi encurralada por centenas de militares armados, agentes à paisana, cavalaria e tropa de choque. Nunca houve tamanho aparato militar, mobilizado pelas três esferas de governo – Federal, Estadual e Municipal –, sob o comando da CIA e do Pentágono, em clara e desavergonhada submissão ao imperialismo.

A resistência do movimento popular teve uma vitória importante: a pressão exercida levou à suspensão de um comício de Obama em praça pública, na Cinelândia, local que simboliza as lutas democráticas e da esquerda brasileira. Obama fugiu do povo e falou em local fechado para convidados escolhidos a dedo, pelo consulado americano, a nata da burguesia carioca: falsos intelectuais, empresários associados, jornalistas de aluguel, artistas globais, políticos oportunistas, deslumbrados e emergentes, enfim, uma legião de puxa-sacos que se comportaram como claque de programa de auditório de mau gosto para o chefe dos seus chefes.

Partido Comunista Brasileiro
Comitê Central – 20 de março de 2011

Esta Nota Política encontra-se em http://resistir.info/ .

Islândia, um país que pune os banqueiros responsáveis pela crise

Attac - Madri


A grande maioria da população ocidental sonha desde 2008 em dizer "não" aos bancos, mas ninguém se atreveu a fazê-lo. Ninguém, excepto os islandeses, que levaram a cabo uma revolução pacífica que conseguiu não só para derrubar um governo e elaborar uma nova Constituição, mas também enviar para a cadeia os responsáveis pela derrocada econômica do país. Crise financeira e econômica provocou uma reação pública sem precedentes, que mudou o rumo do país. O artigo é de Alejandra Abad.

Na semana passada, nove pessoas foram presas em Londres e em Reykjavik (capital da Islândia) pela sua responsabilidade no colapso financeiro da Islândia em 2008, uma profunda crise que levou a uma reação pública sem precedentes, que mudou o rumo do país.

Foi a revolução sem armas da Islândia, país que hospeda a democracia mais antiga do mundo (desde 930), e cujos cidadãos conseguiram mudar com base em manifestações e panelas. E porque é que o resto dos países ocidentais nem sequer ouviram falar disto?

A pressão da cidadania islandesa conseguiu não só derrubar um governo, mas também a elaboração de uma nova Constituição (em andamento) e colocar na cadeia os banqueiros responsáveis pela crise no país. Como se costuma dizer, se você pedir educadamente as coisas é muito mais fácil obtê-las.

Este processo revolucionário silencioso tem as suas origens em 2008, quando o governo islandês decidiu nacionalizar os três maiores bancos - Kaupthing, Landsbanki e Glitnir - cujos clientes eram principalmente britânicos, americanos e norte-americanos.

Depois da entrada do estado no capital a moeda oficial (coroa) caiu e a Bolsa suspendeu a sua atividade após uma queda de 76%. A Islândia foi à falência e para salvar a situação o Fundo Monetário Internacional (FMI) injectou 2.1 bilhões de dólares e os países nórdicos ajudaram com mais de 2.5 bilhões de euros.

As grandes pequenas vitórias das pessoas comuns
Enquanto os bancos e as autoridades locais e estrangeiras procuravam desesperadamente soluções econômicas, o povo islandês tomou as ruas, e com as suas persistentes manifestações diárias em frente ao parlamento em Reykjavik provocou a renúncia do primeiro-ministro conservador Geir H. Haarde e do governo em bloco.

Os cidadãos exigiram, além disso, a convocação de eleições antecipadas, e conseguiram. Em abril, foi eleito por um governo de coligação formada pela Aliança Social Democrata e Movimento Esquerda Verde, chefiado por uma nova primeira-ministra, Johanna Sigurdardottir.

Ao longo de 2009, a economia islandesa continuou em situação precária (fechou o ano com uma queda de 7% do PIB), mas, apesar disso, o Parlamento propôs pagar a dívida de 3.5 bilhões euros à Grã-Bretanha e Holanda, um montante a ser pago mensalmente pe as famílias islandesa durante 15 anos com juros de 5,5%.

A mudança trouxe a ira de volta dos islandeses, que voltaram para as ruas exigindo que, pelo menos, a decisão fosse submetida a referendo. Outra nova pequena grande vitória dos protestos de rua: em março de 2010 a votação foi realizada e o resultado foi que uma esmagadora de 93% da população se recusou a pagar a dívida, pelo menos nessas condições.

Isso levou os credores a repensar o negócio, oferecendo juros de 3% e pagamento a 37 anos. Mesmo se fosse suficiente, o atual presidente, ao ver que o Parlamento aprovou o acordo por uma margem estreita, decidiu no mês passado não o aprovar e chamar de volta os islandeses para votar num referendo, para que sejam eles a ter a última palavra.

Os banqueiros estão fugindo atemorizados
Voltando à situação tensa de 2010, enquanto os islandeses se recusaram a pagar uma dívida contraída pelos os tubarões financeiros sem os questionar, o governo de coligação lançou uma investigação para resolver juridicamente as responsabilidades legais da fatal crise econômica e já havia detido vários banqueiros e executivos de cúpula intimamente ligados às operações de risco.

Entretanto, a Interpol, tinha emitido um mandado internacional de captura contra o presidente do Parlamento, Sigurdur Einarsson. Esta situação levou os banqueiros e executivos, assustados, a deixar o país em massa.

Neste contexto de crise, elegeu-se uma Assembleia para elaborar uma nova Constituição que reflita as lições aprendidas e para substituir a atual, inspirada na Constituição dinamarquesa.

Para fazer isso, em vez de chamar especialistas e políticos, a Islândia decidiu apelar directamente ao povo, soberano, ao fim e ao cabo, das leis. Mais de 500 islandeses apresentaram-se como candidatos a participar neste exercício de democracia direta de redigir uma Constituição, dos quais foram eleitos 25 cidadãos sem filiação partidária, que incluem advogados, estudantes, jornalistas, agricultores, representantes sindicais.

Entre outros desenvolvimentos, esta Constituição é chamada a proteger, como nenhuma outra, a liberdade de informação e expressão, com a chamada Iniciativa Islandesa Moderna para os Meios de Comunicação, um projeto de lei que visa tornar o país um porto seguro para o jornalismo de investigação e liberdade de informação, onde se protejam as fontes, jornalistas e os provedores de internet que alojem órgãos de informação

Serão as pessoas, por uma vez, para decidirão sobre o futuro do país, enquanto os banqueiros e os políticos assistem (alguns da prisão) à transformação de uma nação, mas do lado de fora.

Tradução para o português: Vermelhos.net

Mulheres que trazem em sua trajetória a luta pelo reconhecimento de sua voz e seu valor dão o ar da graça na blogosfera



Ativistas na vida e na rede

Por: Letícia Cruz e Virgínia Toledo na Rede Brasil Atual


Ativistas na vida e na rede
Conceição Oliveira, blogueira do www.viomundo.com.br/blog-da-mulher (Foto:Maurício Morais/Revista do Brasil)

“Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às 6 horas da manhã...” O verso de Cotidiano, de Chico Buarque, retrata a rotina de um casal nos anos 1970 e poderia traduzir a vida dessas mulheres. Elas acordam cedinho, algumas levam filhos à escola e, depois, mãos à obra. Passividade, porém, não é com elas. São ativistas, feministas, femininas, blogueiras. As novas tecnologias abrem portas. Basta haver conexão, computador, ou celular, e boas ideias. E essas mulheres têm muitas. Para elas, a educação e o acesso à informação vão além das paredes da escola e do papel da família – o espaço para o “embate” é ilimitado.
Maria da Conceição Oliveira é dona do blog Maria Frô (www.mariafro.com.br). Frô vem de Afrodite, deusa grega do amor, capaz de deixar maluco o próprio Zeus. Mitologias à parte, a paulista nascida em Santos se formou em História pela USP e sabe tudo de educação e cultura. Ao receber a reportagem, nota-se que a polêmica sobre a internet vir a acabar com o livro impresso não tem espaço em suas estantes: “Minha casa é tomada por livros. Estão por todos os lados, não se assustem!”
O colégio da filha é perto de casa, mas o trânsito... “É infernal! Levar uma hora para ir até ali e voltar é sinal de falta de política pública.” Pronto, pauta para o blog, que analisa o contraste entre o mundo imaginário da mídia tradicional e o real. A facilidade em se comunicar, segundo ela, vem da indignação: “Quando vejo o cotidiano grotesco, preciso externar”.
Quem navega pelo blog de Maria Frô encontra um estilo didático, sem firulas. Assim também no Blog da Mulher, dentro do site Vi o Mundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha, onde Frô assina Conceição Oliveira. Ali, questões como preconceito racial e de gênero viram grandes discussões. “É preciso ter preocupação com o leitor e deixar de pensar que tudo é óbvio”, afirma. “Tento usar minha função de educadora para desenvolver a leitura de uma maioria que não exercita isso.”

 

A imagem da mulher na mídiaBlogueira Claudia Cardoso - blog dialógico - Andrea Graiz

Claudia Cardoso, do blog Dialógico, que aborda política e o cotidiano no Rio Grande­ do Sul, não o alimenta com regularidade­ desde que foi convidada a trabalhar na comunicação do governo estadual, em janeiro, mas considera-se uma militante em atividade pela democratização da informação, privilegiando o recorte feminista. “Existem grupos de discussão de blogueiras que fazem o trabalho­ de questionar a imagem da mulher­ na mídia, a violência contra a mulher e tantos outros desafios importantes. Ferramentas como a internet ajudam a manifestar nosso pensamento”, resume. Está ali, pronto para ser frequentado a qualquer momento, esse cada vez mais explorado campo de batalha.

Feminina, feminista

A jornalista Ruth Alexandre também anseia pôr a boca no mundo. Acorda às 6, leva o filho para a escola, volta e gruda no computador para abastecer seu blog Fala Povo. Produz material próprio e links para o que considera importante. “Eu já estava cansada daquele jornalismo plastificado.” Ruth conta que sempre se colocou em patamar de igualdade, tanto no meio jornalístico como com autoridades do sexo masculino. “Eu não abaixo a cabeça para ninguém. Todo mundo sabe que pode vir quente, porque se precisar aqui o berimbau toca mesmo”, brinca.
Ela educa seus dois meninos para, quando estiverem convivendo com uma mulher, tratá-la em pé de igualdade. “ ‘Não esqueçam que sua mãe é mulher, sua avó é mulher e você vai ter filhas’. Digo isso para que eles tenham absoluta certeza de que merecemos o maior respeito”, ensina. “Feminina a gente já nasce um pouco e, ao resto, somos moldadas”, afirma, referindo-se ao que chama de processo de “adestramento” a que a indústria cultural, do consumo e das relações sociais ainda submetem as mulheres.
Na época em que a questão do aborto ocupou o centro das atenções na campanha eleitoral, Ruth escreveu um post sobre uma experiência própria. “Tive um aborto espontâneo e fui para o hospital, quase ao passo de morrer. Lá, uma mulher me interrogou como se eu fosse criminosa e como se tivesse feito aquilo de propósito”, lembra, observando como a cultura machista enraizada não se expressa somente pelos homens. “Para tentar desestruturar a candidatura de uma mulher à Presidência, tentaram de tudo”, indigna-se. “O aborto é uma questão feminina e feminista e, incontestavelmente, tem de ser decidida por nós mulheres.”
E que venha o debate. Manter blog é estar pronto para conviver com admiradores e detratores. E conviver com os contrários é um exercício que agrada Conceição Oliveira. “Procuro argumentar e questionar essas pessoas do porquê de determinado pensamento, debater e sugerir a elas algum tipo de reflexão.”
Não é preciso busca minuciosa para chegar a dezenas, centenas, milhares de páginas na internet sobre moda, comportamento, beleza, algumas utilidades e outras tantas futilidades. Mas aos poucos, sobretudo na blogosfera, surgem as mulheres que querem aproveitar o tempo e o espaço para fugir dos estereótipos que acentuam uma desigualdade a ser superada. “Tenho uma filha que joga futebol melhor que muito homem. Mulher não precisa falar só sobre um assunto. Pode explorar outras coisas de acordo com o humor que estiver no dia”, afirma Conceição Oliveira.

Batalha contra o tempo

Para Andrea Dip, a vida de blogueira-comunicadora tem de se encaixar em outra realidade não menos importante, a de ser mãe. Desde a época da faculdade, ela escrevia muito sobre direitos humanos, direito da mulher, da igualdade, da liberdade e principalmente sobre os costumes da sociedade. Foi quando a vida antecipou-lhe uma nova vocação: a gravidez ainda no último ano de Jornalismo, e o desafio de
conciliar os ofícios de “recém-mãe” e recém-formada. “Quando a gente engravida, a sociedade vem com aquela história da mulher em estado de graça, de perfeição, mas eu vivi aquilo e sabia que não era bem assim. Não é fácil administrar carreira, filho e casa. Tudo isso é adaptação, e não uma condição”, afirma.
Com o filho crescendo e a rotina se intensificando, um amigo sugeriu que ela dividisse os sabores e dissabores de seu dia a dia com outras pessoas. Foi aí que surgiram as histórias inusitadas de Mães em Surto, uma coluna criada dentro do blog Nota de Rodapé.
As crônicas de Andrea seguem à risca as desventuras que as mães vivem e também passeiam por temas sugeridos por amigas que passam pela mesma empreitada. Com o trabalho fixo num grande portal, os “frilas” para completar o orçamento, o cuidar da casa e da “agenda” em torno do filhote, é difícil manter a regularidade dos posts. Mas pelo menos a página está lá, sempre pronta para o momento em que a inspiração, disposição e disponibilidade se encontrem no mesmo lapso de tempo.

Além do gênero Ruth Alexandre - Blog falapovo.com - Maurício Morais

A jornalista Conceição Lemes, de tão assídua frequentadora e comentarista do blog Vi o Mundo, passou a sugerir e produzir pautas. A primeira foi sobre o Cansei – movimento hostil ao governo Lula que surgiu em 2007 – ter incluído indevidamente o Conselho Regional de Medicina de São Paulo entre seus integrantes. Outra abordava a campanha alarmista de grandes jornais para que a população se vacinasse em massa contra a febre amarela. E assim sua participação foi crescendo, até que recebeu o convite formal de Luiz Carlos Azenha para que mantivesse sua coluna sobre saúde.
Repórter especializada na área há 29 anos, com oito livros publicados e mais de 20 prêmios, Conceição encontrou no blog um espaço de liberdade. “O Vi o Mundo me possibilita fazer esse jornalismo de verdade, sério, o jornalismo em que acredito. Em outros veículos, as reportagens que faço não sairiam. Essa é a minha forma de estar na vida. Prefiro vender cachorro-quente a fazer um jornalismo em que não acredite”, afirma. Sua fonte de renda são projetos especiais ligados à saúde, livros, séries de reportagens etc. “O blog eu faço por prazer.”
O rigor é o principal ingrediente de suas reportagens. “Não faço jornalismo opinativo, artigo. Entrevisto especialistas, gosto de escarafunchar. Com todo esse tempo fazendo saúde, fui trilhando fontes éticas e competentes, às quais recorro sempre. Leio, checo, ‘tricheco’, vou atrás. Em saúde você não pode errar. É muito sério.” Além de atuar nessa área, no último ano Conceição ampliou sua atuação no Vi o Mundo, com reportagens investigativas.
Casada e sem filhos, ela dedica boa parte do seu dia à blogosfera, conversa com fontes, confere informações, insiste por entrevistas. “Minha vida é normal, ando, leio, vou ao cinema, cuido dos gatos. Antes eu tinha cachorros... Adoro bichos.” Seu sonho de jornalista full time nada mais é que “continuar exercendo a profissão de forma responsável”.
A blogosfera também é espaço para furar o cerco do clube do Bolinha. Futebol, por exemplo, é assunto de menina, sim, senhora. A jornalista Thalita Pires, que não tem como objetivo de carreira escrever sobre o esporte, leva essa paixão para o blog Futepoca – Futebol, Política e Cachaça, que já ganhou prêmio em 2007. Thalita trabalhou nas revistas Fórum e Época e no Jornal da Tarde, decidiu ir para Londres em 2008 com o marido para estudar e voltou de lá em 2010 com um mestrado em Planejamento Urbano. “Tema mais distante ainda do futebol”, pontua, mas no qual pretende se estabelecer profissionalmente. São-paulina, com uma “quedinha pela Portuguesa”, ela não se queixa de já ter recebido comentários preconceituosos por seus textos no Futepoca. “Sempre que há discordância de opinião os leitores tratam de argumentar, não de falar que eu deveria estar na cozinha.”
E, se há alguma ousadia no fato de meninas circularem com desenvoltura em ambientes tipicamente masculinos, a gaúcha Luísa Helena Stern vai ainda mais longe: nascida menino, ela decidiu corrigir esse capricho da natureza assumindo de corpo e alma o seu universo: “Sou uma mulher múltipla”, define-se. Transexual, Luísa é funcionária pública e divide seu tempo entre diversas tarefas, incluindo manter o blog Cultura Crossdresser, para defender o direito LGBT – de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros. Seu engajamento virtual tem o objetivo de disseminar uma reflexão da condição do homossexual e de tratar o tema com naturalidade, com discurso igualitário. “Já sofri muito preconceito, inclusive das redes sociais.”
Antes de tomar a decisão e se tornar transexual, a blogueira era crossdresser – pessoa de um sexo que se veste e age como se fosse­ do sexo oposto. “Vivi muito tempo nessa­ condição. Os crossdressers são pessoas­ escondidas­ do mundo real. No meu caso, recorria ao virtual para participar de grupos e clubes sobre crossdresser”, conta. “Meu blog foi criado por isso.” Depois que Luísa assumiu sua identidade feminina, outros assuntos vieram à tona, como o combate à homofobia, o ativismo para o direito dos transgêneros e o combate a toda forma de discriminação.

O planeta reage aos desertos verdes


Antonio Martins No Diplo-Br

No mês de mobilização do MST, revelamos uma face pouco conhecida da luta contra o latifúndio: o esforço internacional de conscientização que está denunciando a monocultura do eucalipto – e os desastres sociais e ambientais hoje associados a ela
Nascida nos Estados Unidos, filha de pai holandês e mãe indiana, Ruby van der Wekken passaria por uma morena brasileira. Aliás, viveu, entre 2002 e 2005, em Alter do Chão (PA), participando, com o marido, de um projeto de cooperação internacional. Fisicamente, está agora em Helsinque, Finlândia. Mas seus sonhos e sentimentos não deixaram o Sul. Em 31 de março, Ruby ajudou a organizar uma ruidosa manifestação na sede da Stora Enso (ela envia a mensagem final, no vídeo abaixo). A maior produtora mundial de papel, de capital finlando-sueco, realizava na capital finlandesa sua assembleia anual de acionsitas. Do lado de fora, Ruby e seus companheiros denunciavam o envolvimento da empresa em formação de latifúndios, aquisição ilegal de propriedades, violência contra trabalhadores rurais e boicote à reforma agrária, no Brasil.
Os textos que a Biblioteca Diplô e Outras Palavras publicam agora, sobre o tema, são uma continuação, no plano do debate de ideias, da luta pedagógica de Ruby. Foram produzidos por jornalistas finlandeses do Le Monde Diplomatique e da revista Voima, com os quais nossos sites mantêm acordo de reprodução de conteúdos livre de copyright. Revalam a existência, nos países do Norte, de setores da opinião pública interesados em romper as cadeias internacionais de produção e consumo alienados que oprimem as maiorias no Sul.
Redigido por Hanna Nikkanen, de Voima, o primeiro texto é uma denúncia da ação da Stora Enso no Brasil (algo desconhecido pela esmagadora maioria dos brasileiros). Em poucas páginas, ácidas e riquíssimas em fatos, Hanna desfaz o mito de “responsabilidade social” a que a Stora Enso está procurando se associar, na Finlândia e em todo o mundo. Por trás desta imagem, relata o texto, a empresa reproduz um velho modelo de concentração de riquezas. Desloca para os países em desenvolvimento (América do Sul e China) as atividades mais sujas ambiental e socialmente. Concentra, contudo, todas as decisões estratégicas no andar de cima do planeta.
O rol das atividades executadas, para tanto, inclui posse disfarçada de terras em zonas de fronteira (o que a lei brasileira veda a estrangeiros). Atravessa as próprias eleições brasileiras (A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, é muito grata às contribuições eleitorais da Stora Enso; e a polícia militar sob seu comando, particularmente violenta, quando os sem-terra enfrentam a companhia...). Chega à política empresarial de manter as plantações de árvores no Brasil (onde terra e trabalho são muito mais baratos) e exportar, para a Finlândia, pasta de celulose não-industrializada. A etapa mais lucrativa da produção de papéis finos mantém-se na matriz.
Hanna relata, ao final, o desmascaramento de uma mentira. A política de “limpeza de imagem” da Stora Enso incluía uma difamação. O Movimento dos Sem-Terra (MST), que resiste às relações de exploração praticadas pela transnacional precisava ser demonizado. Para tanto, João Paulo Rodrigues, um dos líderes nacionais do movimento, foi acusado, no principal diário finlandês, de “exigir” que a empresa se retirasse do Brasil. Em caso de negativa, teria prometido desencadear violência e até mortes. Hanna participou ativamente, como se lê em seu texto, da desmontagem da farsa.
O segundo texto, de Mika Ronkko (editor do Le Monde Diplomatique finlandês e marido da ativista Ruby van der Wekken) é uma entrevista com o próprio João Paulo Rodrigues e João Pedro Stédile, também referência nacional do MST. Nas conversas com Mika, Stédile e Rodrigues deixam claro que a luta dos sem-terra não é contra o eucalipto, seu plantio ou a fabricação de papel no Brasil. O que eles querem é rever é a forma de cultivo e, em especial, as relações sociais que ela gera.
Papel, um dos usos do eucalipto1 e o produto final da Stora Enso é um bem necessário. Poderia ser consumido de forma mais racional e austera, evitando a necessidade de ampliar a exploração dos solos águas. Mas, acima de tudo, não precisa ser cultivado em latifúndios, nem como monocultura – um atentado à diversidade natural do campo.
“Um pequeno produtor poderia cultivar, digamos, dois hectares de eucalipto, numa propriedade de dez hectares”, sugere Stédile. Plantaria, além disso, alimentos. Ao invés de comprar imensas áreas, a empresa estabeleceria relações com milhares de pequenos produtores.
Perfeitamente viável, do ponto de vista técnico, a idéia não é executada por esbarrar num obstáculo político. O capital não existe para fazer caridade. Enquanto as sociedades não se conscientizarem e mobilizarem, sua tendência será sempre extrair o máximo lucro – sejam quais forem as consequências sociais e ambientais.
O mês de mobilizações do MST revela, mais uma vez, que uma parcela crescente dos agricultores brasileiros já não aceita estas circunstâncias. É estimulante saber que o mesmo se dá nos países onde estão sediadas as empresas que promovem desigualdade e devastação.

O trágico fracasso do ''Pós-Comunismo'' no Leste Europeu




240311_leste_europeuGlobal Research - [Dr. Rossen Vassilev, Tradução de Diário Liberdade] 8 de março de 2011. Pouco antes do Natal, em 2010, um engenheiro da televisão pública perturbado, protestando contra as controversas políticas econômicas do governo, atirou-se de um balcão no parlamento romeno durante um discurso do primeiro-ministro do país. O homem que sobreviveu à tentativa de suicídio, segundo informações, teria gritado antes de saltar: “Você tomou o pão para longe da boca dos nossos filhos! Você matou o futuro dos nossos filhos!”. O manifestante hospitalizado, vestido com uma camisa declarando: “Vocês mataram o nosso futuro!”, mais tarde foi identificado como, Adrian Sobaru de 41 anos, cujo filho adolescente autista tinha perdido recentemente o auxílio do governo como parte da última etapa de corte orçamentário de Bucareste. Sua tentativa de suicídio foi transmitida ao vivo na TV pública da Romênia no momento em que o primeiro-ministro Emil Boc falou de um mal sucedido voto contra o insucesso do seu gabinete conservador.

As medidas de austeridade fiscal e salarial que o Sr. Sobaru estava protestando incluiu um corte de pagamento de 25% para todos os funcionários públicos como ele, assim como reduções severas nos pagamentos de assistência social para os pais com filhos deficientes, que também tinha recebido, até recentemente. De acordo com a Agência de Noticias romena Agerpes, o choro desesperado do homem no parlamento foi dolorosamente ecoando os ouvidos durante a Revolução anti–Comunista de 1989 que derrubou o dissidente romeno e geralmente pró-ocidental, o regime de Nicolae Ceauşescu.

Tumulto econômico

O salto trágico do Sr. Sobaru, mais tarde televisionado para todo o mundo, golpeou uma simpática emoção em muitos romenos que o viam como um símbolo das desigualdades e injustiças selvagens do período pós-comunista. A Romênia está atolada em uma recessão grave, e sua economia exaurida deverá diminuir em pelo menos 2% em 2010, após ter contraído 7,1% no ano anterior. Ao invés de tentar ajudar os desempregados e os socialmente necessitados, o governo de Bucareste, que é declaradamente crivado de clientelismo, corrupção e nepotismo, cortou salários do setor público em um quarto e aparou todos os gastos sociais, incluindo os subsídios de aquecimento para os pobres bem como os de desemprego, maternidade e benefícios por incapacidade. Ao mesmo tempo, o imposto nacional de vendas foi de 19% subiu para 24%, pois as autoridades estão se esforçando para manter o déficit nacional até 6,8%, a fim de atender às rigorosas exigências fiscais da União Europeia (UE), que a Romênia havia se juntado em janeiro de 2007 .
Estas duras políticas de austeridade irritaram milhões de romenos que mal estão conseguindo sobreviver em uma nação onde a média de renda mensal per capita é de cerca de 400 dólares. Irritados protestos de rua em que se reuniram dezenas de milhares de romenos refletem a profunda insatisfação com a pobreza em massa e a contínua crise econômica, que levou a Romênia à beira da falência. “Este não é o capitalismo, nos países capitalistas você tem uma classe média”, um gerente de loja de conveniência em Bucareste disse a um repórter da Associated Press. Mas a sociedade romena, queixou-se, é dividida entre uma pequena minoria de pessoas muito ricas e uma vasta classe baixa empobrecida [1].
Quanto ao drama humano testemunhado no Parlamento Romeno, nesse dia de véspera de Natal é bastante sintomático da miséria generalizada no país dos Bálcãs e esperanças frustradas de uma vida melhor, ele poderia facilmente ter acontecido em qualquer outro dos países em crise do mundo ex-comunista que igualmente sofrem de elevado desemprego, a pobreza em massa, queda dos salários e cortes nos gastos públicos e padrões de vida. Na época da tentativa desesperada de suicídio do Sr. Sobaru, muitos do 20.000 médicos hospitalares da República Tcheca demitiam-se em massa para protestar contra a decisão do gabinete do primeiro-ministro Petr Necas de cortar todos os gastos públicos, incluindo as despesas de saúde, em pelo menos 10 %, a fim de manter as finanças conturbadas do país sem dívidas. Essas demissões em massa eram parte da campanha "Obrigado, estamos partindo", lançada pelos médicos insatisfeitos em todo o país, visando exercer pressão sobre as autoridades de Praga para aumentar os seus baixos salários e proporcionar melhores condições de trabalho para todos os trabalhadores da saúde. Confrontada com a pior crise de saúde na história do país ex-comunista, que colocou em perigo as vidas de muitos pacientes, o governo tcheco ameaçou impor um estado de emergência, que forçaria os médicos, ou voltar ao trabalho ou enfrentar duras sanções legais e financeiras.
Também se pode lembrar a grande parte não declarada, distúrbios alimentares em 2009 na Letônia, o muito elogiado "milagre Mar Báltico" queridinho da mídia ocidental, onde o impopular primeiro-ministro Valdis Dombrovskis foi reeleito em 2010 apesar de ter feito severos cortes de gastos públicos e promover escassas condições de vida aos letões (a campanha eleitoral centrou-se, em vez disso, no confronto desagradável entre os nacionalistas da Letônia e da minoria considerável e inquieta do país de língua russa). Segundo o professor Michael Hudson, importante pesquisador, Professor de Economia da Universidade do Missouri, como cortes do governo no bem-estar social, educação, saúde, transporte público, e outras despesas de infraestruturas sociais básicas ameaçam minar a segurança econômica, desenvolvimento em longo prazo, e estabilidade política nos países da ex-bloco soviético, os jovens estão emigrando em massa para melhorar as suas vidas ao invés de sofrer em uma economia sem oportunidades de emprego.
Quando a "bolha neoliberal" estourou em 2008, o professor Hudson escreveu, o governo conservador da Letônia tomou empréstimos pesadamente da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional sob prazos punitivos de reembolso que impuseram essa política de austeridade dura que encolheu a economia da Letônia em 25% (os vizinhos Estônia e Lituânia experimentaram um declínio econômico igualmente íngreme) e de desemprego, atualmente em 22%, continua a aumentar. Como bem mais de um décimo de sua população agora trabalha no estrangeiro, os trabalhadores convidados da Letônia enviam para casa o que eles podem poupar para ajudar suas famílias indigentes sobreviver. As crianças da Letônia (alguns deles estão como o casamento do país báltico, e as taxas de natalidade estão despencando) têm sido assim, "deixou órfãs para trás", alertando os cientistas sociais a se perguntar como esta pequena nação de 2,3 milhões de pessoas pode sobreviver demograficamente [2]. Esses são os resultados dos orçamentos da austeridade do pós-comunismo que cortaram as pessoas comuns na altura dos joelhos, enquanto os credores internacionais e os banqueiros locais são socorridos.

O aumento do populismo de direita

A profunda crise econômica e o aumento do desemprego em todo o mundo ex-comunista trouxe ao poder alguns partidos políticos radicais e políticos abraçando o populismo nacionalista de direita. Fidesz Hungria (União Cívica Húngara), um partido nacionalista descaradamente de direita, conquistou 52,73% dos votos nas eleições legislativas de Abril de 2010. Jobbik (Movimento para Hungria melhor), um partido xenófobo de extrema-direita, ficou em terceiro com 16,67% dos votos. Em meio a uma desastrosa recessão econômica, a direita nacionalista ganhou a maioria do voto popular através da recuperação húngara tradicional do bode expiatório das minorias étnicas e culpando os judeus e os ciganos em especial pelo desemprego generalizado do país e da pobreza. Quando Oszkár Molnár, membro de Fidesz, líder eleito para o novo parlamento, proclamou: "Eu amo a Hungria, eu amo os húngaros, e eu prefiro interesses húngaros ao capital financeiro global, ou de capital judio, que quer devorar o mundo inteiro, mas especialmente na Hungria”, ele não foi sequer repreendido publicamente por qualquer um dos seus colegas de partido.
Em dezembro de 2010, os dois terços de Fidesz no parlamento permitiu avançar com uma lei draconiana para a imprensa, a qual deu liberdade ao governo para exercer controle mais rigoroso sobre a imprensa privada. Esta polêmica nova lei desencadeou manifestações nas ruas de Budapeste com muitos húngaros carregando cartazes em branco para protestar contra a proposta de censura do governo. Também atraiu críticas no Parlamento Europeu (Hungria tornou-se membro da União Europeia em Maio de 2004) por ser uma "ameaça à liberdade de imprensa" e um "grave perigo para a democracia", prevendo multas enormes e demais penalidades legais aos meios de comunicação e pontos de Internet que ousarem publicar ou transmitir informação "desequilibrada" ou "imoral”, especialmente alguma que seja crítica ao governo, em uma nação onde um em cada três vive abaixo da linha da pobreza. Críticos tem reclamado que a mais restritiva lei de imprensa da Europa irá asfixiar o pluralismo e voltar o relógio sobre a democracia neste país ex-comunista
A imprensa alemã tem difamado especialmente o Primeiro Ministro da Hungria, Viktor Orban, não apenas para tentar amordaçar a mídia local, mas também por perseguir o controle do partido Fidesz e transformando a Hungria num totalitário "Führerstaat" (comentaristas húngaros igualmente queixaram-se que seu país está rastejando "Orbánization"). Károly Voros, editor-chefe do jornal húngaro Nepszabadsag, queixou-se que a nova lei da imprensa quer “dissipa um sentimento de medo nas almas dos jornalistas” e que “todo o estado constitucional está sistematicamente dissolvendo” [3] na Hungria. Mas sentindo forte apoio do público em casa, dado a ofensiva anticapitalista, anti-União Europeia, e de humor antiamericano dos húngaros apanhado no turbilhão da globalização, o populista Orbán, semelhante a Berlusconi, no passado, tomou uma posição desafiadora, alertando a UE a parar de se intrometer nos assuntos internos da Hungria: “É a União Europeia que deve ajustar-se a Hungria não a Hungria à União Europeia...” (Hungria assumiu oficialmente a presidência rotativa da UE de seis meses em 1 de Janeiro de 2011). Mas o que muitos húngaros suspeitam é que a nova lei de imprensa era apenas um truque esperto para distrair a atenção pública dos terríveis problemas econômicos do país.
Outra figura autocrática, Boyko Borisov, um ex-chefe da polícia nacional com um incerto passado comunista que possui vínculos com o submundo do crime local, governa a Bulgária, a qual tornou-se membro da UE em janeiro de 2007 apesar de ser o mais corrupto e criminalizado Estado no antigo bloco do Leste além do notório governo da máfia em Kosovo (outro candidato escandaloso esperando tornar-se futuro membro da UE já em 2015). O sucesso eleitoral do homem forte Borisov, como Mussolini, e sua GERB de direita (Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária) nas eleições de julho de 2009 foi surpreendente em um país em que a situação tornou-se a mais emblemática da trajetória aberrante da região pós-comunista e do atual descontentamento. Por quase todos os indicadores macroeconômicos, a Bulgária está em pior forma agora do que no passado comunista.
Estatísticas oficiais mostram que tanto o produto interno bruto (PIB) e a renda per capita da população despencou, a rede de previdência se desintegrou, e até mesmo a sobrevivência física de muitos búlgaros pobres está em perigo. Os efeitos imediatos das “reformas” orientadas para o mercado tem sido a destruição da indústria e agricultura da Bulgária, desemprego, inflação, flagrante desigualdade de renda, pobreza esmagadora, e até mesmo a desnutrição. Crime organizado e corrupção endêmica, sob a forma de nepotismo e clientelismo, a corrupção no trabalho, peculato, recebimento de propina, tráfico de influência, contrabando, esquemas de proteção, de jogatina, prostituição e de pornografia tem cobrado um alto preço no nível de vida pós-comunista e de subsistência. Outro efeito infeliz é a negligência generalizada dos direitos econômicos e sociais dos búlgaros ‘comuns’, para muitos deles, a jornada de trabalho de 8 horas é agora apenas uma memória.
O catastrófico ambiente econômico, por sua vez gerou um clima político bastante volátil e imprevisível. Nenhum governo eleito durante o tempestuoso período pós-comunista sobreviveu no cargo por mais de um semestre (e muitas vezes até menos que isso). Essa volatilidade ilustra a natureza instável e imprevisível da política na Bulgária, devido à situação econômica catastrófica, e a gritante incapacidade das elites partidárias existentes para oferecer uma solução confiável. Fartos de declínio econômico, negligência do governo, roubo de alta qualidade, crime e corrupção, os búlgaros têm uma e outra vez votos de protesto contra a opressão do poder incompetente, interesseiro, corrupto e panelinhas criminalizadas dos políticos, do partido, em busca do ganho pessoal. Mas o fim de sua miséria parece longe de vista, especialmente no gabinete Borisov, já instituiu um orçamento de austeridade draconianas, o corte não menos de 20% de todos os gastos públicos.
Ao mesmo tempo, a política se tornou de longe o negócio mais lucrativo – mais rentável e também muito menos arriscado do que qualquer atividade empresarial sem fins lucrativos. Isso transformou os partidos políticos em algo semelhante a trapaceiras corporações empresariais – bem organizadas, de predadores sem escrúpulos e aspirantes a assumir as rédeas do poder a fim de se enriquecer, explorando um povo apático e semelhante a um gado, e saqueando os recursos da Bulgária, especialmente agora que o país pode contar em receber quantidades substanciais de ajuda externa e investimento da UE. Poderosos interesses econômicos, de origem muitas vezes criminosas, que se alinharam e financiaram cada um dos principais partidos políticos, acrescentando elementos fortemente plutocráticos ao que é essencialmente uma oligarquia cleptocrática, mafiosa. É por isso que as pessoas comuns não veem nenhuma diferença entre seu governo cheio de corrupção e organizações criminosas bem estruturadas da Bulgária. Não é surpreendente que os búlgaros tendem a se referir ao seu país como um "Estado mafioso", uma "República das bananas", um "circo" e "Absurdistan” [NT]. Eles ainda estão esperando a chegada há muito prometida do capitalismo "normal" e democracia "normal", onde a segurança econômica pessoal, salários justos, e os padrões de vida decentes irão substituir o elevado desemprego de hoje, miséria, falta de moradia e desânimo social. Cerca de 1,2 milhões de búlgaros (16% da população), principalmente os jovens, se encontram em busca de melhores oportunidades no estrangeiro (a pobreza impulsionou a emigração e ajudou a reduzir a população pós-comunista da Bulgária, perto dos 9 milhões em 1989 para cerca de 7 milhões de hoje).

Colapso do apoio popular

Logo após a queda do comunismo, os países do antigo bloco soviético e outros Estados ex-comunistas da região foram economicamente neoliberalizados (alguns deles foram territorialmente desmembrados) e, exceto para pequenas elites locais pró-ocidentais, que foram para fora como bandidos, sua população tornou-se pobre como no Terceiro Mundo. Quase todos esses 28 países euro-asiáticos sofreram um declínio econômico de longo prazo de proporções catastróficas (só a Polônia ultrapassou em muito o PIB da sua era comunista). Graves problemas econômicos, corrupção arraigada e generalizada frustração popular com as dificuldades e privações da transição aparentemente interminável pós-comunista estão a minar o prestígio das novas autoridades e mesmo a crença da população na democracia ao estilo ocidental e do capitalismo de mercado. Uma nova raça de plutocratas voraz e impiedosos com um apetite insaciável por riqueza e poder tem pilhado – por meio de um processo injusto e corrupto da privatização – os ativos da antiga economia estatal e recriou em casa os piores excessos do capitalismo Dickensiano do século XIX, como se o progresso social do século XX nunca tivesse existido. No meio do desemprego generalizado, miséria, desnutrição e até mesmo a fome, as multimilionárias mansões particulares surgiram em todas as grandes cidades como símbolos de palácios de ganhos ilícitos e da riqueza inatingível para pessoas comuns que lutam para encontrar emprego, pagar contas diariamente, e encontrar habitação a preços acessíveis. Esta "nova classe" de políticos ligados aos “novos ricos” com luxuosos estilo de vida ‘La Dolce Vita’ parece estar disposta a cometer qualquer crime, no interesse do lucro rápido e autoenriquecimento, operando de acordo com o princípio do rei Luís XV "Après moi, le déluge" (Depois de mim, o dilúvio) e impetuoso em todos os lugares às esperanças das pessoas para melhorar sua sorte e modernizar o seu país ao longo das linhas de uma nação “civilizada”. Único negócio que floresce em muitos pontos da região de “economias emergentes” parece ser o crime organizado, que geralmente é executado por cleptocratas dentro dos círculos dominantes.
Enquanto essa camada parasitária de "novos ricos" oligarcas está ficando mais rica a cada dia – em parte, por evasão fiscal no âmbito do sistema recém-adotado, leis do “plano fiscal”, altamente regressivos – os cidadãos das nações ex-comunistas agora têm que pagar dos seus próprios bolsos para todos os serviços médicos anteriormente fornecidos gratuitamente pelo governo, apesar de também ter de pagar renda, imóveis, impostos sobre vendas – algo que eles não vivenciaram com os regimes comunistas. Há também a rentabilização e/ou privatização dos serviços educacionais anteriormente livres, especialmente no ensino superior e as novas escolas particulares, faculdades e universidades onde os estudantes têm que pagar por sua formação, incluindo muitas taxas que cada aluno tem de pagar para os vestibulares e outros testes obrigatórios exigidos em todos os níveis de escolaridade. Os subsídios governamentais para tudo, desde saúde, educação e assistência jurídica à habitação, energia e transportes públicos estão desaparecendo na disputa para cortes de gastos sociais e cortes de déficits orçamentários, tornando ainda mais difícil para as pessoas comuns sobreviverem em sua luta diária pela vida. A região tornou-se um campo de ensaio para ver em que medida os trabalhadores podem ser privados de seus direitos econômicos e sociais e, tais como um salário mínimo fixado legalmente, férias remuneradas, acesso gratuito e universal aos cuidados de saúde, educação e serviços jurídicos, aposentadoria aos 60 anos de idade para homens e 55 para mulheres, ou mesmo a sindicalização.
Mas, apesar de crescentes taxas de desemprego e subemprego, a disciplina de ferro do mercado, e à falta de bem-estar social ou mesmo da mais rudimentar solidariedade social, a velha piada da era comunista “Eles (os empresários) fingem que nos pagam, nós (os funcionários) fingimos trabalhar” parece ser hoje muito mais verdadeiro do que era sob o comunismo. Para pessoas que não tem vontade de trabalhar mais duro agora para os novos proprietários privados (e muitas vezes estrangeiro) de negócio que parecem estar interessados em espremer tanto lucro a partir de pequenos pagamentos e poucos benefícios possíveis. Ao mesmo tempo, a educação pública e as ciências, bem como as instituições artísticas e culturais, estão sendo estripadas, em nome da economia do “dinheiro dos contribuintes”, (por exemplo, a Academia Nacional de Ciências foi fechada ou está prestes a ser fechada em um bom número de países em transição).
Nessas nações em crise, onde os padrões de vida têm se deteriorado seriamente como desemprego, pobreza, miséria, criminalidade, bem como abuso de álcool e drogas estão se espalhando, junto com os preços exorbitantes para coisas básicas como alimentação, habitação e combustíveis, a satisfação do público com a forma como o governo está realmente agindo é mínima em quase toda parte. E onde há uma grande discrepância entre as expectativas populares e desempenho do governo em termos de fornecimento bens necessários e serviços públicos, como em quase todos os países pós-comunistas, a adesão a atitudes democráticas corrói gradualmente ao longo do tempo. O baixo desempenho dos regimes que não atendem às aspirações públicas durante longos períodos de tempo podem perder a sua legitimidade, arriscando crises sistêmicas (por exemplo, o caso paradigmático da Alemanha de Weimar). Dada as suas terríveis condições de vida e trabalho, muitos cidadãos pós-comunistas estão perdendo sua antiga crença no capitalismo de estilo ocidental e da democracia liberal. Muitos também estão rejeitando a ideia de que seus países ex-comunistas são realmente democráticos. Percepções negativas da população do desempenho, portanto, não pode, mas afetam as atitudes democráticas (como o valor da democracia é percebida) e, portanto, o chamado "déficit democrático" é estatisticamente muito significativo em toda a região. O governo das elites locais está lentamente perdendo sua legitimidade com as pessoas.
Como resultado, os protestos públicos e distúrbios sociais são comuns, incluindo dúzias de polêmicas revoluções coloridas – ambas bem sucedidas ou não, dependendo da extensão do apoio ocidental para elas – contra governos eleitos popularmente, mas muitas vezes profundamente impopular. Em janeiro de 2011, por exemplo, vários manifestantes foram mortos e 150 ficaram feridos durante uma manifestação antigovernamental na capital albanesa Tirana. O conservador Primeiro Ministro da Albânia Sali Berisha, prometeu que não iria permitir a derrubada de seu governo, mas a oposição realizou novas manifestações em Tirana e em outras cidades albanesas prometeu realizar protestos ainda mais no futuro. Apoiantes da oposição do Partido Socialista culpa as autoridades por crime financeiro generalizado, uma pandemia criminosa e corrupção, o funcionamento da economia para baixo, e a manifesta falta de serviços públicos básicos. Eles também exigem a realização de novas eleições, acusando o governo de massiva fraude de votos durante as eleições de 2009, que pela decisão de Berisha os democratas ganharam por uma margem pequena. As tensões ainda se agravaram quando Berisha acusou publicamente os seus adversários socialistas de uma tentativa de "sublevação no estilo Tunísia", uma referência à recente queda do presidente da sangrenta ditadura da Tunísia em que um grande número de pessoas fora mortas. Protestos similares contra o governo são realizados regularmente na Geórgia pós-soviética, apesar dos esforços das autoridades "democráticas" para esmagar todos os opositores. A descontente oposição culpa o forte homem da Geórgia, Mikheil Saakashvili pela guerra desastrosa de 2008 com a Rússia e pela a sorte do país que está afundando. “A esmagadora maioria da população está no limiar da pobreza. Nada está funcionando na Geórgia, exceto para a policia estadual", Lasha Chkhartishvili da oposição do Partido Conservador disse a jornalistas estrangeiros em visita, em Fevereiro de 2011, durante as manifestações anti-Saakashvili ao redor do prédio do parlamento na capital da Geórgia, Tbilisi. "regime ditatorial de Saakashvili é obrigado a entrar em colapso porque há um fim à paciência das pessoas.”[4]
No momento, todos os olhos estão sobre o mundo muçulmano e na medida em que os esforços pró-democracia das nações árabes estão transformando a política em todo o Grande Oriente Médio. Mas o pavio para revoltas existe em quase todos os lugares, especialmente nas zonas pós-comunistas do mundo. Estourando manifestações para protestar contra a pobreza, desemprego e endêmico roubo oficial, depois de mais de 20 anos de incompetente, corrupto e fraudulento governo pós-comunista – combinado com o desastroso experimento de laissez faire econômico em todo o ex-bloco soviético – produziu uma instabilidade em toda a região, onde a sobrevivência de alguns regimes apoiados no Oeste parece cada vez mais em risco.
Isto é confirmado pela especulação informal sem precedentes que lembra muito o período de antes da queda do comunismo – como muitos comentários de leitores "nos fóruns da mídia local, por exemplo – sobre a instabilidade e a reversibilidade da nova ordem pós-comunista e sua possível substituição pela "democracia revolucionária" do estilo latino-americano”. Este sentimento de insegurança e fragilidade do regime foi reforçado pela onda de nostalgia comunista varrendo várias nações ex-comunistas.

Nostalgia Comunista

Há uma grande desilusão com as promessas não cumpridas das revoluções de 1989, que trouxeram um rápido declínio nos padrões de vida para a maioria dos cidadãos dos extintos países comunistas. O desespero com o empobrecimento generalizado, corrupção, criminalidade e o caos social generalizado que acompanhou a transição ao capitalismo de mercado e democracia produziu um crescimento da nostalgia pelo passado comunista entre pessoas comuns (aquelas que não fazem parte do grupo neocosmopolita de elite pró-ocidente de seus países) que olham para o passado e tem seu apreço aos “velhos tempos" de comunismo aumentado – uma tendência preocupante que é popularmente conhecida na região como “chique Soviético”.
De acordo com uma recente publicação da Romanian Evaluation and Strategy Survey [Avaliação e Pesquisa de Estratégia Romena – N.T], 45% dos romenos acredita que viveria melhor se a revolução anticomunista não tivesse ocorrido. Depois de 21 anos de uma vida pós-comunista turbulenta, 61% dos participantes da pesquisa disseram que hoje vivem em condições muito piores do que viviam no regime de Ceauşescu, enquanto somente 24 disseram que vivem em condições melhores. Se o resultado dessa pesquisa é crível (a pesquisa foi realizada no final de 2010 a partir de uma amostra de 1476 adultos tem margem de erro de 2,7% para mais ou para menos), Ceauşescu tornou-se um mártir que atrai a simpatia da maioria dos romenos. Pelo menos 84% dos entrevistados acreditam ser uma coisa ruim a execução sem um julgamento e 60% lamentam sua morte. [5]
De acordo com uma outra pesquisa recente, 59% dos romenos consideram que o comunismo pode ser uma boa ideia. Cerca de 44% dos entrevistados acreditam que é uma boa ideia que foi mal aplicada, enquanto somente 15% acreditam que foi aplicada corretamente. Somente 29% dos romenos ainda acreditam que o comunismo é uma má ideia.
Não existem diferenças significantes entre homens e mulheres no que diz respeito a esta questão, mas o ponto de vista positivo acerca do comunismo está relacionado à idade e ao lugar onde moram os entrevistados. A maioria das pessoas com mais de 40 anos consideram o comunismo uma boa ideia (incluindo os 74% com mais de 60 anos e 64% daqueles cuja idade varia entre 40 e 59 anos). Mas apenas uma minoria faz isso entre as gerações mais jovens que nem se lembram do regime de Ceausescu (49% daqueles com idade entre 20 e 39 anos e somente 31% daqueles com menos de 20 anos). Os entrevistados moradores de regiões rurais têm uma visão mais positiva – 21% consideram o comunismo uma má ideia, enquanto 34% dos entrevistados da região urbana acreditam nisso. [6] E muitos romenos lembram com saudade do tempo em que a maioria tinha um emprego estável, do baixo custo da habitação providenciada pelo Estado, serviço de saúde gratuito e feriados na costa do Mar Negro subsidiados pelo Estado. “Lamento a morte do comunismo – não por mim, mas pelos meus filhos e netos que vejo se esforçando tanto.” Disse um mecânico aposentado de 68 anos. “Nós tínhamos estabilidade no emprego e salários decentes quando estávamos sob o comunismo. Tínhamos o suficiente para comer e férias anuais com nossos filhos” [7].
O “chique Soviético” é especialmente popular entre os moradores a antiga Alemanha Oriental, onde é conhecido como “Ostalgia” [8]. Segundo um artigo publicado na revista alemã conservadora Der Spiegel, “A glorificação da Republica Democrática Alemã está em ascensão duas décadas depois da queda do muro de Berlim. Os mais jovens e os mais abastados estão entre aqueles que mais criticam a Alemanha Oriental por ser um Estado ilegítimo”. Em uma pesquisa recente publicada pelo Der Spiegel, mais da metade (57%) dos que moravam no lado Oriental da Alemanha defendem a ex Republica Democrática Alemã (RDA). “A RDA tinha mais lados bons que lados ruins. Haviam alguns problemas, mas a vida era boa lá”, dizem 49% dos entrevistados. Oito por cento dos alemães orientais rejeitaram categoricamente qualquer crítica feita a seu antigo país ou concordaram com a afirmação de que “A RDA tinha, em sua maior parte, lados bons. A vida lá era mais feliz e melhor do que hoje na Alemanha reunificada”. O resultado da pesquisa, que foi publicado no aniversário de 20 anos da queda do muro de Berlim, mostra que a nostalgia da extinta Alemanha Oriental atingiu profundamente o coração de muitos alemães do leste. Já não são somente os mais nostálgicos que choram a perda da RDA. Em A new form of Ostalgie has taken shape (“Uma nova forma de ‘Ostalgia’ toma forma” - T.L.] , o historiador Stefan Wolle é citado dizendo “o anseio por um mundo ideal da ditadura ultrapassa o limite de funcionários do governo”, reclama Wolle. “Até mesmo pessoas jovens, que não tinham nenhuma experiência na RDA idealizam hoje.” [9]
“Nem sequer a metade dos jovens da parte oriental da Alemanha descrevem a RDA como uma ditadura, e a maioria acredita que a Stasi era um serviço de inteligência normal”, concluiu em uma pesquisa realizada em 2008 sobre a juventude do leste da Alemanha o cientista político Klaus Schroeder, diretor de um instituto de pesquisa na Universidade Livre de Berlim, que estuda os extintos Estados comunistas. “Esses jovens não podem e na verdade não têm vontade de conhecer o lado escuro da RDA”. A própria pesquisa de Schroeder dá uma visão surpreendente acerca do pensamento de muitos cidadãos descontentes com a extinta RDA. “Da perspectiva de hoje, eu acredito que fomos expulsos do paraíso quando o muro caiu”, um alemão do Leste é citado, enquanto outro, um de 38 anos, agradece a Deus por ter vivido na RDA, porque foi depois da reunificação alemã que viu, pela primeira vez, as pessoas sem abrigo, mendigos e pessoas pobres que se preocupam com formas de sobreviver. A Alemanha de hoje é descrita por muitos alemães da extinta RDA como um “Estado de escravos” e uma “ditadura capitalista”, enquanto alguns rejeitam totalmente a Alemanha reunificada por ser, em sua opinião, muito capitalista e ditatorial e certamente antidemocrática. Schroeder considera tais afirmações alarmantes: “Receio que a maioria dos alemães orientais não se identifica com o sistema sociopolítico vigente”. De acordo com outro ex cidadão da RDA citado no mesmo artigo da Der Spiegel, “No passado, um acampamento foi (...) um lugar onde as pessoas aproveitavam sua liberdade juntas”. E o que mais ele sente falta hoje em dia é “aquele sentimento de companheirismo e solidariedade”. Sua opinião a respeito da RDA é clara: “Na minha concepção, o que tínhamos naquela época era menos uma ditadura do que o que temos hoje”. Ele não só quer ver os salários e pensões iguais como na RDA, mas também reclama que as pessoas trapaceiam e mentem em toda a Alemanha unificada, e as injustiças que hoje são perpetradas de uma forma mais tortuosa que na RDA, onde salários de fome e criminalidade eram desconhecidos.
Em reação à propagação da região de nostalgia comunista e também às mudanças na opinião pela qual o ultimo líder comunista polonês, Wojciech Jaruzelski, tornou-se mais popular que o outrora reverenciado, mas agora marginalizado ícone anticomunista– Ex chefe do Sindicato Solidariedade, Nobel da Paz e, mais tarde, presidente Lech Walesa -, poloneses fervorosamente anticomunistas têm revisto o Código Penal para incluir a proibição formal de todos os símbolos do comunismo. De acordo com a nova lei, pior que a Inquisição católica medieval, podem ser multados e presos se forem pegos cantando o hino da Internacional, por exemplo, ou se carregarem uma bandeira ou estrela vermelhas ou, ainda, a insígnia da foice e martelo entre outros símbolos da era comunista, além da camiseta do Che Guevara. Da mesma forma, o governo conservador Tcheco está tentando colocar na ilegalidade o Partido Comunista da Bohemia e Morávia (embora neste último o Partido Comunista tenha conseguido mais de 11% dos votos populares nas ultimas eleições parlamentares e tem representante nas duas casa do parlamento nacional) porque as lideranças do partido se recusam a tirar a pecaminosa palavra “comunista” do nome do partido. Vários ex membros comunistas da União Europeia recentemente pressionaram, em Bruxelas, para que se instaurasse uma proibição na União Europeia de negar ou subestimar os crimes dos antigos regimes comunistas. “O principio da justiça deve assegurar um tratamento justo para as vítimas de todos regimes totalitários”, os ministros de relações exteriores da Bulgária, Republica Tcheca, Hungria, Letônia, Lituânia e Romênia escreveram em uma carta entregue ao comissários de Justiça da União Europeia, na qual insistiram que “apologia publica, negação ou banalização de crimes totalitários” deve ser criminalizado em todos os países da União Europeia. Por iniciativa de deputados anticomunistas de países pós comunistas, o parlamento europeu já aprovou uma resolução controversa sobre “totalitarismo”, o que equipara comunismo ao nazismo e fascismo. Mas todas essas medidas punitivas dificilmente limitaram a onda de nostalgia comunista: a camiseta mais popular entre os berlinenses do Leste é uma que diz: Devolva meu muro. E desta vez, construa-o duas vezes mais alto!”.

Os países ex-comunistas são os próximos?

Com a atenção do público e dos governos ocidentais centrada agora sobre as tensões e tumultuados conflitos no mundo árabe, as pessoas tendem a ignorar ou esquecer as crises que agarram as nações ex-comunistas. Dadas a crescente desigualdade, a miséria, a corrupção do governo e o crime organizado que têm caracterizado a ordem pós-comunista, a situação nessas terras ex-comunistas não é menos inflamável do que no Norte de África e do Oriente Médio, e um dia destes ela poderá vir a ser muito mais insegura do que é agora imaginado. A Tunísia, o Egito ou mesmo a Líbia, é um cenário mais provável para o futuro desta conturbada região?
Agora, os cidadãos de longo sofrimento, contudo muito pacientes desses países em transição, estão cerrando os dentes na esperança de que a próxima eleição vai levar ao poder um salvador messiânico em um cavalo branco que – juntamente com assistência muito mais generosa do que os bolsos supostamente sem fundo do Ocidente – vai finalmente libertar de sua falência, as sociedades atingidas pelo abismo da pobreza em que caíram.
As pessoas comuns na parte pós-comunistas do mundo acreditam que suas revoluções democráticas e grandes expectativas foram traídas, roubadas ou sequestradas por várias “forças obscuras”, que vão desde as elites ex-comunistas que agora substituiu seu antigo poder político com o poder do dinheiro, com uma aliança corrupta (na visão de muitos esquerdistas nativos) entre ambiciosos pseudo-democratas locais e gananciosos capitalistas ocidentais e, finalmente, a uma insidiosa conspiração envolvendo o FMI, o Banco Mundial, a Fundação Soros, e "financiamento internacional judeu "(geralmente aos olhos dos nacionalistas de extrema-direita). Como ironiza Sir Robert Chiltern em espirituosa comédia de Oscar Wilde, Um Marido Ideal: “Quando os deuses desejam nos punir, eles respondem a nossas orações”.
Só o tempo dirá se as orações respondidas das nações ex-comunistas acabarão por revelarem-se uma punição de cima. Por outro lado, pode abrir novas perspectivas para essas nações que lutam para resistir ao poder esmagador dos bancos internacionais e empresas multinacionais através da adoção de reformas progressistas que visam a criação de uma ordem democrática mundial não controlada pelos senhores da globalização e as elites locais que os servem.

Notas
[1] George Jahn, “In Romania, Turmoil Fuels Nostalgia for Communism,” Washington Post, 11 de janeiro de 2011.
[2] Michael Hudson and Jeffrey Sommers, “Latvia Provides No Magic Solution for Indebted Economies,” Guardian.co.uk, 20 de dezembro de 2010.
[3] “There’s More at Stake than Just Freedom of the Press,” Der Spiegel International, 19 de janeiro de 2011.
[NT] "Absurdistan" é um termo utilizado para designar um país onde políticas absurdas são comuns, sem tradução literal para o português.
[4] “Saakashvili Has Turned Georgia into A Police State,” Interfax, 11 de fevereiro de 2011.
[5] “45% of Romanians Say ‘Ceauşescu, Please Forgive Us for Being Drunk in December (1989)’,” Bucharest Herald, 29 de dezembro de 2010.
[6] Os resultados desta pesquisa realizada com uma amostra representativa dos romenos entre 22 de Outubro e 01 de novembro de 2010 foram divulgados pelo Instituto de Investigação de Crimes Comunista e da Memória dos Exilados Romenos em http://www.crimelecomunismului.ro/en/about_iiccr.
[7] Jahn, “In Romania, Turmoil Fuels Nostalgia for Communism.
[8] “Ostalgie” é derivado das palavras alemãs Ost (leste) e Nostalgie (nostalgia) e refere-se ao sentimento generalizado de saudade de muitos aspectos da vida da antiga República Democrática Alemã.
[9] Julia Bonstein, “Majority of East Germans Feel Life Better under Communism,” Der Spiegel International, 3 de julho de 2009.
[10] Ibid. O jornal britânico The Guardian, marcou o aniversário de 20 anos desde a queda do Muro de Berlim com um artigo de uma acadêmica ex-Alemanha Oriental ue similarmente lamentou o fim da RDA, que, afirmou, ofereciam "igualdade social e de gênero, o pleno emprego e a falta de medos existenciais, bem como rendas subsidiadas". Segundo ela, a unificação tem "trazido desagregação social, desemprego generalizado, listas negras, um crasso materialismo e uma "sociedade de cotovelo ...." Veja Bruni de la Motte, “East Germans Lost Much in 1989: For Many in the GDR the Fall of the Berlin Wall and Unification Meant the Loss of Jobs, Homes, Security and Equality”, Guardian.co.uk, 8 de novembro de 2009.

Traduzido para Diário Liberdade por Pamela Penha