sábado, 7 de maio de 2011

A barbárie e a estupidez jornalística no caso da morte de bin Laden

internacional
Darth Vader perde

Elaine Tavares no Correio do Brasil

Imaginem vocês se um pequeno operativo do exército cubano entrasse em Miami e atacasse a casa onde vive Posada Carriles, o terrorista responsável pela explosão de várias bombas em hotéis cubanos e pela derrubada de um avião que matou 73 pessoas. Imagine que esse operativo assassinasse o tal terrorista em terras estadunidenses. Que lhes parece que aconteceria? O mundo inteiro se levantaria em uníssono condenando o ataque.
Haveria especialistas em direito internacional alegando que um país não pode adentrar com um grupo de militares em outro país livre, que isso se configura em quebra da soberania, ou ato de guerra. Possivelmente Cuba seria retaliada e, com certeza, invadida por tropas estadunidenses por ter cometido o crime de invasão. Seria um escândalo internacional e os jornalistas de todo mundo anunciariam a notícia como um crime bárbaro e sem justificativa.
Mas, como foi os Estados Unidos que entrou no Paquistão, isso parece coisa muito natural. Nenhuma palavra sobre quebra de soberania, sobre invasão ilegal, sobre o absurdo de um assassinato. Pelo que se sabe, até mesmo os mais sanguinários carrascos nazistas foram julgados. Osama não. Foi assassinato e o Prêmio Nobel da Paz inaugurou mais uma novidade: o crime de vingança agora é legal. Pressuposto perigoso demais nestes tempos em que os EUA são a polícia do mundo.
Agora imagine mais uma coisa insólita. O governo elege um inimigo número um, caça esse inimigo por uma década, faz dele a própria imagem do demônio, evitando dizer, é claro, que foi um demônio criado pelo próprio serviço secreto estadunidense. Aí, um belo dia, seus soldados aguerridos encontram esse homem, com toda a sede de vingança que lhes foi incutida. E esses soldados matam o “demônio”. Então, por respeito, eles realizam todos os preceitos da religião do “demônio”. Lavam o corpo, enrolam em um lençol branco e o jogam no mar. Ora, se era Osama o próprio mal encarnado, porque raios os soldados iriam respeitar sua religião? Que história mais sem pé e sem cabeça.
E, tendo encontrado o inimigo mais procurado, nenhuma foto do corpo? Nenhum vestígio? Ah, sim, um exame de DNA, feito pelos agentes da CIA. Bueno, acredite quem quiser.
O mais vexatório nisso tudo é ouvir os jornalistas de todo mundo repetindo a notícia sem que qualquer prova concreta seja apresentada. Acreditar na declaração de agentes da CIA é coisa muito pueril. Seria ingênuo se não se soubesse da profunda submissão e colonialismo do jornalismo mundial.
Olha, eu sei lá, mas o que vi na televisão chegou às raias do absurdo. Sendo verdade ou mentira o que aconteceu, ambas as coisas são absolutamente impensáveis num mundo em que imperam o tal do “estado de direito”. Não há mais limites para o império. Definitivamente são tempos sombrios. E pelo que se vê, voltamos ao tempo do farwest, só que agora, o céu é o limite. Pelo menos para o império.
Darth Vader é fichinha!
Elaine Tavares é jornalista.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Ah, se a elite ouvisse o povo… Bem, às vezes ouve. E ainda pagando…



Brizola Neto no TIJOLACO

Poucas coisas são tão terríveis no Brasil quanto o desprezo histórico que a elite econômica brasileira tem pelo seu povo. Duvido que os empresários japoneses falem mal de seu povo, ou que os magnatas dos EUA tenham uma postura de desprezo pelos cidadãos norteamericanos. Bem, aqui, nem é preciso falar, não é? É “povinho”, quando não acompanhado daquele adjetivo que Fernando Henrique usou para falar dos aposentados…
Por isso, é muito interessante ler a bela reportagem de Vanessa Adachi, no Valor Econômico de hoje, descrevendo a palestra de Lula para empresários, num evento promovido pelo Bank of América em São Paulo. Como o acesso é só para assinantes, reproduzo alguns trechos:
“Eu nunca votei no Lula e nunca votarei. Mas vim por causa dele.” Essa era a afirmação mais repetida na noite de quarta-feira em dezenas de rodinhas formadas por empresários, banqueiros, executivos e advogados que lotaram o amplo salão da Casa Fasano, templo de festejos luxuosos da elite paulistana.
Pouco mais de 450 pessoas se espalharam pelo espaço de pé direito altíssimo e paredes de intrigante transparência, que deixam ver os aviões que cruzam o céu. O Bank of America Merrill Lynch, um dos maiores bancos dos Estados Unidos, era o anfitrião da noite e comemorava a autorização do Banco Central do Brasil para que a instituição passe a operar como banco múltiplo, ampliando sua atuação no país.
Alexandre Bettamio, presidente do BofA no Brasil, provavelmente também não votou em Lula em 2002 ou 2006. Mas elegeu o ex-presidente para ancorar o mais importante evento já realizado pela instituição no país apostando que seria um grande chamariz. A escolha foi certeira.
Lula tem cobrado cachê de “palestrante global”. No caso, o valor não confirmado pelos assessores do presidente ou pelo banco, de quase R$ 200 mil, incluía discurso de 45 minutos seguido de mais meia hora de “social” pelo salão. O contrato foi cumprido à risca e, talvez sensível à praxe do setor financeiro, o ex-presidente concedeu um bônus aos banqueiros e falou por 1 hora e dois minutos. Parte da plateia nunca havia tido a oportunidade de estar tête-à- tête com o ex-presidente. Outros queriam vê-lo falar de novo e esperavam “se divertir” com o discurso bem humorado. Pouco depois das 20 horas o salão já estava cheio e, por volta das 21h30, quando Lula começou a falar, o público se aglomerou ao seu redor, abrindo um clarão ao fundo. Aguentaram firme, em pé, por mais de uma hora. (…)
Lula fez uma palestra sob medida para o público presente. Temas como a explosão do crédito consignado e o desenvolvimento do mercado de capitais foram cuidadosamente escolhidos para rechear a fala. Munido de um discurso oficial de cinco páginas, Lula fez a alegria dos presentes ao abusar de seus famosos improvisos. “He speaks very well”, dizia um executivo brasileiro a outro, estrangeiro, no meio do salão.
Arrancou gargalhadas sinceras e mesmo aplausos, em diversos momentos, ao debochar do que seria o estereótipo da forma de pensar da elite brasileira. “Tem gente que fala: esse Lula colocou os pobres no lugar que só nós viajávamos”, afirmou, por exemplo, ao referir-se ao fato de “os pobres” estarem viajando de avião. Mais tarde, disse que muita gente começa a falar inglês antes mesmo de sair do aeroporto, só para mostrar que sabe.
Apelou para a emoção e deixou a plateia silenciosa ao falar do Programa Luz para Todos e descrever que “quando chega a luz elétrica na casa de uma pessoa é como se você, num passe de mágica, pegasse uma pessoa do século 18 e trouxesse para o século 21. É como se fosse a máquina do tempo.”
Lula queria provar, caso alguém ali ainda tivesse dúvida, que a política de seu governo fez bem ao empresariado. Já perto das 22h30 e do fim de sua palestra, quando a audiência se mostrava um pouco cansada com a longa fala do ex-presidente, ele arrematou: “Eu sei que tem gente que tem preconceito contra mim. Mas eu desafiaria qualquer um de vocês: eu duvido que algum empresário já ganhou mais dinheiro nesse país do que no meu mandato. Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse país do que no meu mandato.”(…)
“Ele é muito bom”, “ele é muito inteligente”, “agora dá para entender [a sua popularidade]“, saíram falando aqueles que nunca votariam nele.
Das poucas pessoas dentro da Casa Fasano que haviam votado em Lula, duas copeiras não escondiam a excitação com a presença de seu ex-presidente. Difícil foi encarar a frustração de não poder vê-lo: muito profissionais, não abandonaram o posto e ficaram confinadas no banheiro feminino durante quase toda a noite, prestando assistência às convidadas.
Pois é. As copeiras (brasileiras) “muito profissionais, não abandonaram o posto”. Quando os nossos figurões aprenderem que elas também podem dar um pulo no salão, realizarem seu desejo – nem que seja o de ver Lula de perto, apenas – e entenderem que aquele que admiram e pagam caro para ouvir pôde chegar ali e fazer o que fez com o voto delas, não com o deles.

Seduc-RS investe na formação de trabalhadores em educação

Um dos eixos prioritários da gestão da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), a formação de trabalhadores em educação está recebendo investimentos já no primeiro semestre de atuação do governo estadual, a partir da convicção de que a qualificação profissional dos trabalhadores em educação passa pelo desenvolvimento de uma nova perspectiva cultural na escola, e de que a relação dos educadores com os conteúdos que ensinam tem que se tornar muito mais intensa e frutífera.

A partir da elaboração e diagnóstico das necessidades de formação, tanto na perspectiva do corpo funcional das escolas (professores, funcionários, supervisores, orientadores), quanto da Seduc e suas instituições (Coordenadorias, Escolas, Núcleos), a intenção é garantir formação qualificada e permanente, desenvolver parcerias e estabelecer Termos de Cooperação Técnica com universidades e outras entidades que exerçam atividades na área de educação, quer sejam locais, regionais, nacionais e internacionais, para qualificação e implementação de ações educativas. Criar o “Centro de Referência para a Formação dos Trabalhadores da Rede Estadual de Educação” é outro objetivo. Nessa perspectiva, o trabalho é definido a partir de planejamento trimestral e já está em operação, beneficiando milhares de professores.

Até junho, o Departamento Pedagógico (DP) da Seduc programou a realização de cursos dirigidos a professores, coordenadores pedagógicos e assessores das Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) em diferentes áreas: educação para o campo, ensino médio, diversidade, educação de jovens e adultos, correção de fluxo, educação profissional e educação inclusiva, Proeja indígena, educação infantil, programas Tempo Integral, Escola Aberta, PDE e Mais Educação, além de formação em gestão escolar destinado a equipes diretivas.

Prioridade
Garantir a formação é uma prioridade da gestão. De acordo com o titular da Seduc, Professor Jose Clovis de Azevedo, a secretaria investirá para assegurar uma Educação de Qualidade Social no Estado. Isso inclui ações diferenciadas, como articulação do saber popular ao saber científico, a efetivação de convênios com o governo federal para acesso a cursos de graduação, especialização e mestrado profissional a trabalhadores em educação, o que será feito também em parceria com universidades e instituições de ensino superior. Essa definição também se vincula a outra prioridade do governo: a valorização dos trabalhadores em educação, por meio da formação inicial, continuada e em serviço, além da realização de concurso público.

Formação inicial e continuada
O diretor pedagógico da Seduc, Silvio Rocha, salienta que o trabalho parte da concepção de que considerar a escola como espaço prioritário para o qual a formação é dirigida. Para isso, se propõe a realização de ações em parceria com as universidades, no sentido de incidir sobre a distância existente entre o perfil do profissional da educação que a realidade exige e o perfil que os cursos de formação inicial até agora criaram.

A formação proposta pela Seduc tem duas vertentes. A formação inicial e a continuada. A inicial é dirigida aos professores que não têm primeira licenciatura ou que interromperam o estudo e não concluíram o curso de licenciatura e àqueles que desejem conquistar uma nova licenciatura nas áreas prioritárias eleitas pela Seduc, a partir de demandas e necessidades sociais.

Em relação à formação continuada, está subdividida em três modalidades: os eventos curtos (cursos, seminários, ateliês, jornadas de estudo, workshops, etc) de formação permanente, os cursos de especialização e o Mestrado Profissional. Os eventos de curta duração são oferecidos de modo opcional e estão em desenvolvimento em diferentes áreas. Os cursos de especialização se efetivam por meio de parcerias com instituições de ensino superior. Alguns, como o Progestão on-line, dirigido a equipes diretivas, estão em desenvolvimento. O formato dos cursos de Mestrado Profissional está sendo definido, para ser implementado em parceria com universidades conveniadas.

A ideia, explica Silvio Rocha, é articular a formação inicial com a formação continuada, favorecendo a mobilidade e a flexibilidade profissional. No espectro da educação de qualidade social, busca-se favorecer o surgimento de um coletivo de educadores multiplicadores da formação continuada, inseridos na realidade de cada escola estadual, capacitar e sensibilizar trabalhadores da educação para que atuem como multiplicadores no processo de formação continuada, fortalecer o hábito do estudo e da pesquisa entre os trabalhadores da educação e valorizar a carreira docente, com formação específica para o desenvolvimento do trabalho pedagógico. 
 

FEZ-SE VINGANÇA, NÃO JUSTIÇA



Leonardo Boff *

 
Alguém precisa ser inimigo de si mesmo, e contrário aos valores humanitários mínimos, se aprovasse o nefasto crime do terrorismo da Al Qaeda do 11 de novembro de 2001 em Nova Iorque. Mas é por todos os títulos inaceitável que um Estado, militarmente o mais poderoso do mundo, para responder ao terrorismo se tenha transformado, ele mesmo, num Estado terrorista. Foi o que fez Bush, limitando a democracia e suspendendo a vigência incondicional de alguns direitos, que eram apanágio do país. Fez mais, conduziu duas guerras, contra o Afeganistão e contra o Irã, onde devastou uma das culturas mais antigas da humanidade nas qual foram mortos mais de cem mil pessoas e mais de um milhão de deslocados.
Cabe renovar a pergunta que quase a ninguém interessa colocar: por que se produziram tais atos terroristas? O bispo Robert Bowman, de Melbourne Beach da Flórida, que fora anteriormente piloto de caças militares durante a guerra do Vietnã respondeu, claramente, no National Catholic Reporter, numa carta aberta ao Presidente: ”Somos alvo de terroristas porque, em boa parte no mundo, nosso Governo defende a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos de terroristas porque nos odeiam. E nos odeiam porque nosso Governo faz coisas odiosas”.  
Não disse outra coisa Richard Clarke, responsável contra o terrorismo da Casa Branca numa entrevista a Jorge Pontual emitida pela Globonews de 28/02/2010 e repetida no dia 03/05/2011. Havia advertido à CIA e ao Presidente Bush que um ataque da Al Qaeda era iminente em Nova York. Não lhe deram ouvidos. Logo em seguida ocorreu, o que o encheu de raiva. Essa raiva aumentou contra o Governo quando viu que com mentiras e falsidades Bush, por pura vontade imperial de manter a hegemonia mundial, decretou uma guerra contra o Iraque que não tinha conexão nenhuma com o 11 de setembro. A raiva chegou a um ponto que por saúde e decência se demitiu do cargo.
Mais contundente foi Chalmers Johnson, um dos principais analistas da CIA, também numa entrevista ao mesmo jornalista no dia 2 de maio do corrente ano na Globonews. Conheceu por dentro os malefícios que as mais de 800 bases militares norte-americanas produzem, espalhadas pelo mundo todo, pois evocam raiva e revolta nas populações, caldo para o terrorismo. Cita o livro de Eduardo Galeano “As veias abertas da América Latina” para ilustrar as barbaridades que os órgãos de Inteligência norte-americanos por aqui fizeram. Denuncia o caráter imperial dos Governos, fundado no uso da inteligência que recomenda golpes de Estado, organiza assassinato de líderes e ensina a torturar. Em protesto, se demitiu e foi ser professor de história na Universidade da Califórnia. Escreveu três tomos “Blowback” (retaliação) onde previa, por poucos meses de antecedência, as retaliações contra a prepotência norte-americana no mundo. Foi tido como o profeta de 11 de setembro. Este é o pano de fundo para entendermos a atual situação que culminou com a execução criminosa de Osama Bin Laden.
Os órgãos de inteligência norte-americanos são uns fracassados. Por dez anos vasculharam o mundo para caçar Bin Laden. Nada conseguiram. Só usando um método imoral, a tortura de um mensageiro de Bin Laden, conseguiram chegar ao seu esconderijo. Portanto, não tiveram mérito próprio nenhum.
Tudo nessa caçada está sob o signo da imoralidade, da vergonha e do crime. Primeiramente, o Presidente Barak Obama, como se fosse um “deus” determinou a execução/matança de Bin Laden. Isso vai contra o princípio ético universal de “não matar” e dos acordos internacionais que prescrevem a prisão, o julgamento e a punição do acusado. Assim se fez com Hussein do Iraque, com os criminosos nazistas em Nürenberg, com Eichmann em Israel e com outros acusados. Com Bin Laden se preferiu a execução intencionada, crime pelo qual Barak Obama deverá um dia responder. Depois se invadiu território do Paquistão, sem qualquer aviso prévio da operação. Em seguida, se sequestrou o cadáver e o lançaram ao mar, crime contra a piedade familiar, direito que cada família tem de enterrar seus mortos, criminosos ou não, pois por piores que sejam, nunca deixam de ser humanos.
Não se fez justiça. Praticou-se a vingança, sempre condenável. ”Minha é a vingança” diz o Deus das  escrituras das três religiões abraâmicas. Agora estaremos sob o poder de um Imperador sobre quem pesa a acusação de assassinato. E a necrofilia das multidões nos diminui e nos envergonha a todos.

Mudança da previdência é pauta de paralisação do Cpers


Rejane oLiveira, presidente do Cpers - Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Felipe Prestes no Sul21

Não poderia ser diferente. As informações ainda imprecisas dos projetos que o governo do estado deve enviar para a Assembleia Legislativa têm causado preocupação entre os servidores públicos. O principal ponto criticado é o possível aumento da contribuição previdenciária, de 11% para 16,5%, para aqueles que recebem salários acima de R$ 3.689, teto do regime geral da previdência. Algumas entidades esperam informações mais concretas sobre o projeto e querem ser ouvidas pelo governo. O Cpers já incluiu as mudanças na previdência como pauta da paralisação que irá promover no próximo dia 11, que também cobrará o cumprimento do piso nacional dos professores.
“O governo está construindo esta reforma baseado nas dificuldades financeiras do estado. Estas dificuldades não podem ser jogadas nos ombros dos trabalhadores”, afirma Rejane de Oliveira, presidente do Cpers. O presidente da Fessergs, Sérgio Arnaud, diz que os servidores esperam ser ouvidos pelo governo. Ele afirma que o Conselhão é um órgão de aconselhamento do governo e espera que o assunto seja tratado no Codipe, comitê criado para negociações entre governo e entidades sindicais. “Nossa principal crítica é que este pacote nem sequer foi apresentado aos servidores”, diz.
Arnaud considera um “avanço” que o governo tenha recuado da ideia de criação de um fundo de previdência complementar, e explica que as principais críticas da Fessergs são quanto ao aumento da alíquota da contribuição previdenciária e quanto às mudanças no pagamento de RPVs. “Vai reduzir os pagamentos de R$ 800 milhões (anuais) para R$ 300 milhões, enquanto já há pessoas morrendo na fila”, diz o dirigente. Segundo Sérgio Arnaud, as propostas dos servidores para a previdência estão todos no projeto de lei 90/2004, já arquivado, que foi fruto de negociação entre 74 entidades representativas de servidores do estado.
“Não estamos vendo com bons olhos”, diz Ilma Penna de Moraes, presidente do Sinapers, entidade que representa aposentados e pensionistas. Ela critica especialmente o aumento de alíquota da contribuição previdenciária. “Salários não têm aumento real desde 1995, o servidor já tem sido aviltado ainda vai ter que arcar com mais este aumento”, diz. A dirigente também espera que o governo chame os servidores para conversar e critica as mudanças que podem ocorrer no pagamento de RPVs. “O governo quer baixar o valor e estender este prazo. Estas RPVs já estão sendo pagas em dois anos, há casos em que demoraram até quatro anos. Vai ficar mais difícil ainda”, diz.

Base aliada adota cautela

Os deputados da base do governo sabem que os projetos mexem com os servidores e se escudam no fato de que ainda não foram anunciadas medidas concretas para falar pouco sobre o tema. “Recém foram apresentadas linhas gerais”, limita-se a dizer Adroaldo Loureiro (PDT). O deputado Raul Carrion (PC do B) fala um pouco mais, mas sempre ressaltando que não tem os projetos em mãos para debater com mais profundidade. Para o comunista, a questão previdenciária deve ser o tema que dará mais pano para manga. “É o problema mais complexo. Está sendo uma bola de neve, com risco de inviabilizar o estado. Alguma coisa tem que ser feita. Temos que falar com as categorias. Isso está sendo encaminhado ao Conselhão de forma acertada. É preciso uma visão geral sobre o tema, não apenas das categorias de servidores”, diz.
Carrion afirma que as questões que incidirão sobre a população e a iniciativa privada, como a cobrança de inspeção veicular e taxa ambiental, não devem gerar tantos problemas. Ele ressalta que a inspeção veicular é lei nacional, que precisa ser implantada até o meio do ano, e acha que os valores ventilados estão adequados. “É lei, e está acabando o prazo para implantá-la. Se opor à inspeção é defender o caos no trânsito. Os valores que estão sendo ditos não são nenhum absurdo”. Sobre a taxa ambiental, o deputado argumenta que é uma taxa que já é cobrado pelo Ibama, cobrança que o estado assumirá. “Não está sendo criado nenhum imposto, o governo do estado assumirá esta cobrança. O governo anterior não teve condições ou não quis fazer”, diz.

Oposição quer tempo para discutir previdência

O líder da bancada do PSDB, Jorge Pozzobom, critica o valor que deve ser cobrado para as inspeções veiculares. Hoje, no Conselhão, o governo propôs a taxa de R$ 54,83. “A iniciativa privada faz essa inspeção por R$ 34, o que mostra que o projeto é meramente arrecadatório”, diz. O tucano também afirma que o aumento de alíquota da contribuição previdenciária deve ser uma medida inócua. “Aumentar a alíquota sem fazer uma reforma profunda na previdência é, como o PT dizia quando estava na oposição, sangrar o servidor”, diz.
Jorge Pozzobom espera que o governo dê tempo para que a questão previdenciária seja debatida na Assembleia Legislativa. “Previdência é um tema muito complexo, nós temos que sentar, oposição e governo, com os técnicos e debater o assunto. Defendo que pelo menos os projetos relativos à previdência não venham com urgência. Não dá para discutir em 30 dias”.

A vitória do terror

Escrito por Léo Lince  no Correio da Cidadania 
 
A morte, na sua condição de mistério profundo, transporta qualquer cadáver para o território do sagrado. Não se trata, apenas, do sentimento de familiares, entes queridos, adeptos, mas do espanto geral diante do destino comum da condição humana. Todos haveremos de morrer e, pelo menos para o santo de cada qual, ninguém é "qualquer um". Por isso mesmo, tripudiar, comemorar, sapatear sobre os restos mortais até do pior inimigo é uma atitude infamante.
 
Obama mandou matar Osama e, depois do anúncio oficial do sucesso da empreitada, o espírito de vingança que habita o senso comum produziu aquilo que Zuenir Ventura chamou de "celebrações com um toque de necrofilia". Pegou muito mal. Tanto assim que houve uma mudança de eixo na cobertura jornalística do segundo dia. A euforia laudatória começou a ceder espaço para a cautela na avaliação do sentido e das múltiplas implicações do acontecido. Onde se afirmavam certezas, agora proliferam dúvidas.
 
Informações oriundas dos serviços secretos serão sempre interessadas e duvidosas. Mas, para o caso, não se dispõe por enquanto de outras fontes. Logo, tão cedo não se saberá o que realmente aconteceu, a não ser o que já se sabe. Tropas especiais americanas, treinadas para fazer o que fizeram, invadiram sem prévio aviso um país aliado, atacaram na calada da noite a residência onde supostamente vivia o fundador da Al-Qaeda.
 
Desarmado, ele foi morto e teve o seu corpo lançado em algum lugar do mar sem fim.
 
Local secreto para evitar romarias. Fotografias e filmes dizem ter feito, mas não mostraram. O diretor da CIA, Leon Panetta, afirmou que são imagens "horrendas", agridem sensibilidades, rosto "desfigurado" por tiros de grosso calibre, peças potencialmente "incendiárias". Os executores são sempre mais grosseiros do que os mandantes.
 
Retalhos de informações recolhidos nos jornais dão a entender que o serviço secreto americano já conhecia, pelo menos deste o fim do ano passado, a localização do mais procurado "inimigo da América". Os militares aliados paquistaneses, que recebem dos americanos bilhões de dólares para a "luta contra o terror", na certa, não podiam desconhecer aquele confinamento entre quartéis. Podiam ter agido antes e de outra forma. A escolha da data e o formato da operação espetacular, que superou em mídia o casamento real e a beatificação do Papa Pop, talvez encontrem explicação nos meandros trevosos da política interna americana.
 
As primeiras pesquisas atestam o crescimento exponencial da popularidade do postulante à reeleição. A oposição republicana ultra-reacionária que antes acuava o presidente, cobrando dele provas de sua nacionalidade, agora o elogia. O atestado de óbito de Osama substituiu com vantagem a certidão de nascimento de Obama. A história política americana, tão farta em armações e assassinatos, produz um novo giro. Nele, Osama e Obama são, na verdade, agregados de projeções simbólicas que se acumulam sobre o pêndulo enigmático da história.
 
Na grafia do nome, apenas uma letra os separa. Além da sonoridade comum, carregam no restante da assinatura marcas de famílias estranhas ao ocidente saxão. Barack Hussein e Bin Laden, nomes estrangeiros, são as duas personalidades de maior destaque na história recente do Império americano. Sobre o corpo agora estraçalhado de Bin Laden, o "eixo do mal" foi construído. O estrangeiro como inimigo absoluto, que está em toda parte e deve ser caçado sem dó nem piedade. O outro "estrangeiro", aquele que teria vindo para redimir os pecados do Império, fornece feição nova na qual se restaura o antes tão execrado "eixo do Bush".
 
Ao contrário do que se alardeia, a operação americana no Paquistão não foi uma vitória contra terrorismo. Quando um Estado se concede licença para matar, se vangloria do uso da tortura para obter resultados, viola a legislação internacional, atropela a soberania alheia, sem dúvida, pratica uma fieira de crimes que alimenta o ciclo do terror. A execução sumária de inimigos, a profanação e o desaparecimento de cadáveres nunca foram marcos positivos do processo civilizatório. É doloroso constatar, mas o que aconteceu no Paquistão foi, por todos os títulos, um exemplo modelar do pior e mais perigoso tipo de terrorismo: o terrorismo de Estado.
 
Léo Lince é sociólogo.

Ensino médio poderá ter maior tempo de duração




O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou nesta quarta-feira as novas diretrizes curriculares para o ensino médio. Elas não eram revistas desde 1998. O relatório, que agora segue para homologação do ministro Fernando Haddad, prevê maior flexibilização do currículo e abre a oportunidade de ampliação da carga horária do ensino médio para além dos atuais três anos.
O relatório mantém a carga horária mínima de 2, 4 mil horas no ensino médio, mas abre espaço para que a sua duração seja ampliada caso haja interesse das escolas de oferecer conhecimentos e atividades além das consideradas obrigatórias.
Essa recomendação tem peso especial no caso do ensino médio noturno que, em geral, oferece uma carga horária menor do que aquela dada a estudantes do turno matutino. O relatório indica que essa duração deve ser ampliada e coloca como uma opção a oferta de 20% da carga horária na modalidade ensino a distância. Sugere também que se necessário o ano letivo seja estendido para além dos atuais três anos.
As novas diretrizes indicam que a escola deve trabalhar a formação a partir de quatro eixos básicos: trabalho, ciência, tecnologia e cultura. O currículo pode enfatizar um desses temas, mas deve incluir todos eles. A ideia é tentar flexibilizar o modelo curricular segmentado oferecido pelas escolas hoje, tradicionalmente dividido em disciplinas que não se relacionam durante o aprendizado.
– A essência dessa proposta é a definição de uma identidade para o ensino médio. O ensino médio tem que ser entendido como a última etapa da educação básica e, por isso, tem que preparar para a vida. Para isso, ele tem que ser capaz de trabalhar simultaneamente com essas quatro dimensões –, disse o relator do parecer, José Fernandes de Lima.
O conselheiro ressalta que, ao mesmo tempo em que é preciso estabelecer uma identidade para a etapa, a organização dela precisa ser flexível não apenas para atender às diversidades regionais, mas ao próprio público do ensino médio.
– Os estudantes do ensino médio são pessoas que só estudam, ou que trabalham, ou que estudam e trabalham. São do campo ou da cidade, são pessoas de 15 anos a 17 anos de idade, mas também mais velhas –, afirmou.
Para Lima, há várias experiências de ensino médio bem sucedidas, mas elas não são organizadas de forma sistemática. O foco das novas diretrizes é dar autonomia às escolas para que possam atender às necessidades de cada público. As recomendações do CNE não têm força de lei, mas servem de orientação para a organização de escolas públicas e particulares de todo o país.

EUA: Republicanos desmontam Estado e demitem em massa


Com a vitória dos republicanos nas últimas eleições, tanto nacionais quanto estaduais nos Estados Unidos, a receita dos ultraconservadores de Estado mínimo está sendo aplicada ao pé da letra.

Como relata a Agência Latino-Americana, os republicanos usam o combate à dívida pública como álibi para tentar impor uma rápida e dramática mudança do modelo social, promovendo o mais selvagem neoliberalismo aos norte-americanos.

Com isso, a política de desmonte do Estado é levada, de forma agressiva, para o interior dos EUA: "Os republicanos entendem que deverão adotar em escala nacional a receita que já seguem em série alguns estados que elegeram novos governadores nas eleições de novembro do ano passado", relata Mary Stassinákis, correspondente da sucursal da União Européia da Agência Latino-Americana.

No superendividado Estado de Michigan, os republicanos aprovaram uma lei que permite afastar os conselhos municipais eleitos, substituindo-os por gerentes contratados com poderes ditatoriais alegando "situação econômica emergencial".

Na cidade de Menton Harbor, o governador do estado, Rick Shneider, nomeou como czar um contador juramentado, Joseph Haris, que demitiu em massa funcionários públicos, quebrou acordos sindicais e, na calada da noite, eliminou vários serviços públicos, não hesitando, inclusive em fundir a Polícia local com o Corpo de Bombeiros.

O Texas, controlado pelos republicanos, com imposto de renda zero e sem direitos trabalhistas, atrai capitais e empregos em detrimento da Califórnia, cujas empresas imigram com ritmo ameaçadoramente veloz.

Nos Estados Unidos, o ritmo de contratações no setor privado se desacelerou em abril, segundo a pesquisa mensal do conselho de recursos humanos ADP: só 179 mil empregos.

Fonte: Monitor Mercantil

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Violência escolar se combate na escola

Rachel Duarte no Sul21

“Não há escola sem bullying”, disse o especialista gaúcho em Direitos Humanos Marcos Rolim durante palestra nesta quarta-feira (04), no Galpão Crioulo do Palácio Piratini. Ele foi um dos convidados pela Secretaria Estadual de Educação para auxiliar o governo gaúcho a trabalhar na prevenção da violência nas escolas. A iniciativa, que faz parte do projeto Governo Escuta, reuniu acadêmicos e ativistas ligados ao tema, os quais apresentaram dados e caminhos para o enfrentamento da violência na rede escolar gaúcha. A intenção é definir açõesque serão aplicadas paralelamente ao lançamento da campanha publicitária do governo sobre prevenção à violência escolar.
Rolim apresentou a definição sobre o bullying como um conjunto de atitudes agressivas e repetitivas entre pares, ou seja, um fenômeno que não segue uma hierarquia. “Pode acontecer entre professores também”, exemplificou. Segundo o especialista gaúcho, todas as escolas tem este tipo de violência, mas, como normalmente as vítimas ficam caladas, é difícil perceber e interferir. Ainda há despreparo ou desconhecimento das escolas no enfrentamento do bullying. “A característica é a agressão verbal repetitiva, normalmente por criação de apelidos ou piadas homofóbicas. Isso faz com que a vítima perca sua identidade. Ela fica conhecida pelo apelido, que normalmente é uma ridicularização de alguma característica física”, explicou.
As humilhações sofridas na escola causam consequências severas às vítimas, como sofrimento moral, aumento do risco de suicídio e das chances de uma vida adulta criminosa. Além dos sofrimentos físicos e psíquicos, há o baixo desempenho e a evasão escolar.

Como acontece?

Segundo pesquisas internacionais, a maioria dos casos de bullying ocorre com alunos da 5ª a 8ª série. Tanto as vítimas como os autores tendem a ter um desempenho escolar abaixo da média. A violência doméstica também contribui para a prática, já que, ao bater no filho, o pai ou a mãe passam a ideia de que a violência é uma forma legítima de solução de conflitos, explicou Rolim. Ele lamentou o fato de no Brasil haver poucas pesquisas sobre o fenômeno e apresentou os resultados do estudo que realizou, durante sete meses, com alunos da Escola Odila Gay da Fonseca, em Porto Alegre. O trabalho, retratado no livro Bullying: o pesadelo da escola, apontou que agressores e vítimas têm um perfil muito semelhante.
José Vicente Tavares (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

Para o professor titular do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-graduação em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, José Vicente Tavares, a sociedade apresenta sintomas de uma crise social que se manifesta de diversas formas. “A violência na escola é a expressão da insegurança estrutural da sociedade contemporânea, das crises nas instituições, na família e nos grupos de referência”, comparou. Defensor de uma campanha de combate à violência, Tavares destaca o papel das instituições. “A escola é o centro do problema e também é a solução”.
Além de apontar saídas para o conflito, o professor lembra que a maioria dos problemas ocorrem nas escolas. “É preciso reconhecer que existe violência no espaço escolar, diferenciar os tipos de violência e apontar várias estratégias de prevenção para cada tipo. Por ser uma instituição de socialização, a escola é o limite, pois é o ponto de condensação dos conflitos sociais”, acrescentou.
Considerado um dos exemplos de combate ao bullying na Capital, a Escola Padre Reus foi um exemplo citado no debate. O diretor da instituição Ruy Rosário Guimarães explicou o trabalho de resgate desde a estrutura física até ações de aproximação com a comunidade feita pela escola para coibir a violência. Em 2004, quando assumiu a direção do estabelecimento, Guimarães deparou-se com um cenário desolador, com o prédio da instituição depredado e elevado índice de agressividade entre os alunos. A solução foi desenvolver um projeto de conscientização através da música, do esporte e do teatro. “Há dois anos não precisamos pintar a escola. Também não registramos mais casos de vandalismo”, reconhece, lembrando que o dinheiro economizado é revertido na aquisição de equipamentos de informática.
Desde 2006, alunos, professores e funcionários participam das oficinas do projeto Escola sem Violência, idealizadas pelo professor Aloizio Pedersen. Em cinco anos, a instituição reduziu os índices de evasão e de violência no ambiente escolar.
Por onde começar?
O especialista em Direitos Humanos, Marcos Rolim, propõe a adoção de regras de comportamento claras, que sejam conhecidas pelos professores, alunos, funcionários e pais, como forma de evitar a ocorrência de atos violentos no ambiente escolar. Para casos em que a violência, física ou psicológica, já ocorreu, o professor Rolim sugere a adoção dos Círculos de Justiça Restaurativa, em que agressores e vítimas ficam frente a frente, acompanhados por um mediador.
Já que a prática do bullying costuma ocorrer na presença de outras pessoas, servindo como forma de auto-afirmação do agressor, entre as medidas sugeridas pelo palestrante estão a chegada dos professores, na sala de aula, antes dos alunos, o monitoramento do recreio e da entrada e saída dos estudantes. A colocação de caixas para que os alunos possam denunciar agressões sofridas, por eles ou por colegas, é outra proposta. A aplicação de questionários para serem respondidos de forma anônima pelos estudantes, contribui para evitar a violência, pois permite a direção conhecer a realidade da escola e identificar os conflitos existentes.
Manoel Soares (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

O jornalista e ativista da Cufa (Central Única das Favelas) no Rio Grande do Sul, Manoel Soares, fez uma exposição sobre a realidade que acompanha diretamente no trabalho que realiza nas periferias. Ele fez referência ao município de Canoas, que desenvolve políticas públicas para enfrentar a violência nas escolas que reúnem tecnologia e convivência comunitária dos agentes do estado. O jornalista apresentou uma reportagem que realizou na cidade, ressaltando a importância do poder público para ações além de campanhas publicitárias.
Em Canoas, foram criadas Comissões Internas de Prevenção à violência escolar (CIPAVES), formada por representantes da rede escolar e da comunidade. Também foi instituída a ronda escolar com guardas municipais foram capacitados para ter uma relação de proximidade com os estudantes, pais e professores para conseguir mediar os conflitos e para encaminhar casos a Brigada Militar, caso necessário. E, nas escolas municipais, foram implantadas câmeras de circuito fechado interno de TV e sistema de alarmes.

Os ataques de Israel contra a unidade palestina


Israel atacou o acordo alcançado no Cairo pelos dois principais partidos palestinos após quatro anos de conflitos internos, e ameaçou impor mais sanções econômicas, além do congelamento de impostos arrecadados pelo Estado judeu em nome de seu vizinho.


Por Mel Frykberg, na agência IPS, em Ramalá via VERMELHO

"Acordamos formar um governo composto por figuras independentes que comecem a preparar as eleições presidenciais e parlamentares", disse na semana passada Azzam al-Ahmad, negociador-chefe da organização Movimento de Libertação Nacional dos Povos da Palestina (Fatah), de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP).

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"As eleições serão organizadas dentro de alguns meses", disse Azzam, acrescentando que a Liga Árabe supervisionará a execução do acordo. "Nossa divisão é uma oportunidade para os israelenses. Hoje viramos a página", disse Musa Abu Marzuk, autoridade do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas). O acordo assinado no dia 27 de abril tem cinco pontos e incluem forças de segurança combinadas e um governo com "figuras nacionalistas", destacou Mahmoud al-Zahar, alto representante do Hamas que participou das conversações. Além disso, os dois partidos libertarão seus presos mutuamente.

As partes também acordaram sobre quem ocupará um assento no comitê central de eleições e quais estarão entre os 12 juízes que supervisionarão a votação. Além disso, um comitê de defesa conjunto controlará as forças de segurança palestinas. O governo interino estará integrado por tecnocratas sem filiação partidária e designados pelos dois partidos.

O governo de Israel utiliza esse acordo de unidade, que será ratificado esta semana no Cairo, para justificar medidas econômicas punitivas contra os palestinos. O ministro das Finanças israelense, Yuval Steinitz, negou-se a entregar US$ 88 milhões arrecadados com impostos aduaneiros e outros fundos palestinos, como deveria ter feito, segundo os Acordos de Oslo de 1993. O governo também disse que estuda impor sanções econômicas adicionais. Mais de 170 mil palestinos funcionários da ANP em Gaza e na Cisjordânia não receberão seus salários se o dinheiro não for liberado, o que criaria um caos.

O primeiro-ministro da ANP, Salam Faiad, disse que ele e seus assessores realizaram contatos urgentes com figuras internacionais influentes pedindo que pressionem Israel para liberar os fundos da ANP. O Estado judeu arrecada cerca de US$ 1,4 bilhão ao ano, que são dos palestinos. As tentativas de chantagem de Israel não afetarão o processo de unidade, acrescentou. "Estamos decididos a forjar uma reconciliação apesar de sua atitude", insistiu Faiad. "Se Israel acredita que temos de escolher entre a paz com ele ou com o Hamas, qualquer palestino dirá que prefere a unidade", afirmou Taufik Tiraui, dirigente político da Fatah.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ao atacar as tratativas de acordo em discurso na televisão, disse que "a ANP deve escolher entre a paz com Israel ou o Hamas. Não é possível alcançá-la com ambos". O governo de Israel disse que um acordo de unidade, que surpreendeu tanto a inteligência desse país quanto a dos Estados Unidos, "não garantirá" a paz no Oriente Médio. Além disso, reclamou que Abbas "continua rechaçando" o movimento islâmico, que controla a Faixa da Gaza desde 2007 após expulsar a Fatah.

Tirawi respondeu que não é necessário que todos os partidos palestinos reconheçam Israel para ter início o processo de paz. Vários movimentos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), incluída a Frente Democrática para a Libertação da Palestina, foram contra os Acordos de Oslo, mas aceitaram a vontade da maioria em reconhecer Israel, recordou. "Além disso, aplaudiremos todo acordo de paz com Israel, mas esse país terá de deter a construção nas colônias. É o Estado judeu que prefere as colônias à paz", acrescentou.

A unidade Palestina é considerada um passo fundamental para criar um Estado. Os palestinos pretendem apresentar o caso de sua independência na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em setembro, quando espera ser reconhecido por 150 nações, bem acima da quantidade necessária.

Netanyahu não perdeu tempo, tentando fazer a unidade se voltar contra os palestinos reclamando à comunidade internacional que não negocie com a nova direção unida. A segurança de Israel está em perigo por causa do movimento "terrorista" Hamas, afirmou. O chanceler israelense, Avigdor Lieberman, disse que o Hamas se apoderará da Cisjordânia. Contudo, fontes da inteligência de Israel acusaram Netanyahu de exagerar a ameaça à segurança e de tentar obter dividendos políticos.

"Não há volta atrás", disse Samir Awad, da Universidade de Birzeit, perto de Ramalá. Finalmente, a comunidade internacional apoiará uma frente palestina unida. "Os palestinos, a população autóctone, não recebeu nada de Israel em troca de entregar a maior parte de seu território e reconhecer Israel. Agora, não têm nada a perder. Os egípcios tomaram uma decisão corajosa ao abrirem a passagem fronteiriça de Rafá, na fronteira com Gaza, de forma permanente, e a unidade nacional é um avanço importante", acrescentou Awad.