quarta-feira, 29 de junho de 2011

Esteban Volkov, neto de Trotsky, rival de Stalin

Esteban Volkov é calvo, grisalho, magro, tem grandes olhos azuis. Não chega a 1,80 m de altura. Mas, na aparência, é a ausência do espesso cavanhaque e dos óculos redondos de lentes pequenas que mais o distancia de seu avô, Leon Trotsky.

O neto do revolucionário bolchevique fez em junho sua segunda visita ao Brasil a convite da Editora e Livraria Marxista, e ficou dez dias no país para participar de debates e palestras em São Paulo, Sumaré, Santa Catarina e Recife. Horas antes de embarcar de volta para a Cidade do México, onde reside, recebeu a reportagem do Opera Mundi no jardim do hotel Boulevard, centro de São Paulo, onde ficou hospedado.

Laisa Beatris/Opera Mundi


Esteban frustra aqueles que procuram saber algo sobre ele, um sorridente ucraniano de 85 anos, químico aposentado, sobrevivente de um fuzilamento. Também evita temas da atualidade. Quase monotemático, suas respostas sobre os mais diferentes assuntos conduzem a conversa para o único tema que parece, de fato, comovê-lo: o papel de seu avô na história e a rivalidade de Trotsky e Stalin. Suas palavras batem, rebatem e acabam chegando aos nomes de Lev Davidóvitch Trotsky e Josef Vissarionovitch Djugashvíli.

Feita a primeira pergunta – que nenhuma relação tinha com o histórico embate entre os líderes da Revolução Russa –, Esteban subiu numa espécie de palanque imaginário e deu início a seu discurso: “Meu papel essencial é restabelecer a verdade histórica, resgatar inúmeros capítulos que foram falsificados.”

Disputas

Stalin, ao lado de Vladimir Lenin e de Trotsky, foi um dos líderes da revolução que implantou o socialismo na Rússia em 1917. Com a morte de Lenin (1924), Stalin começou a consolidar seu poder, isolando seus opositores, inclusive Trotsky, que aos poucos se tornou um de seus principais inimigos e foi banido da URSS em 1929. Exilou-se na Turquia até 1933, na França até 1935 e depois na Noruega até 1937, quando foi para o México.

Em 1931, Esteban e a mãe, Sidaína, filha do primeiro casamento de Trotsky, foram autorizados a ir para o exílio. Ela não teve, no entanto, autorização para levar a filha mais velha, Alexandra Moglina, de oito anos, que continuou vivendo na União Soviética. Em 1933, Sidaína se suicidou em Berlim. Então, em 1936, aos 11 anos, Esteban foi viver com o avô e com sua segunda esposa, Natália, no bairro de Coyoacán, na Cidade do México. Ele não tem lembranças de seu pai, Platon Volkov, um militante trotskista, preso quando o filho tinha apenas dois anos e que terminou assassinado em 1936 em um campo de prisioneiros soviético.

Stalin governou a URSS até morrer, em 1953. E, ainda hoje, ele aparece como inimigo número um do neto de Trotsky: “O trabalho de Stalin foi desvirtuar os fatos, enganar. A perversidade com que eliminou seus oposicionistas, reais e imaginários. Infelizmente, o sistema capitalista se vale de suas medidas para macular o socialismo”, afirmou Esteban.

Laisa Beatris/Opera Mundi


Apesar das inúmeras acusações feitas a Stalin, ele nega ter “ódio” daqueles que, mesmo com a queda do bloco socialista, seguem admirando o líder que esteve à frente da URSS por quase 30 anos. Com humor, ele comentou um dos motivos pelos quais alguns grupos trotskistas são frequentemente criticados: o sectarismo. “Há diferentes grupos”, admite. “Mas a política é bastante complexa. Olhando para o futuro, as estratégias, abrem-se diferentes caminhos. Eu não vejo [as divisões] de uma forma negativa, são como uma tempestade de ideias. É bom que se abram muitos caminhos”, completou.

O avô revolucionário

Esteban conviveu um ano e meio no exílio com Trotsky. Ele relata que a casa onde moravam estava sempre cheia de amigos, que seu avô era uma pessoa “muito calorosa”, com apreço pelas discussões, e que passava muito tempo estudando ou escrevendo sobre política. “Éramos uma grande família. Meu avô era uma espécie de patriarca. A minha relação com ele não era política, não falávamos de política”, disse. 
Já no exílio, a primeira ameaça concreta chegou às quatro horas da madrugada do dia 24 de maio de 1940. Esteban acordou com tiros. A casa estava sendo invadida por homens armados. “Foi Natália que lhe salvou a vida. Trotsky estava dormindo porque tomava remédio para insônia e ela o empurrou para um canto do quarto, que estava muito escuro. A escuridão simulava os corpos entre lençóis e almofadas. Se houvesse um pequeno foco de luz...”. Ele levou dois tiros no pé. Ao todo, foram feitos 200 disparos.

O quarto de Esteban, hoje parte do pequeno museu Trotsky, ainda tem as marcas de tiro na parede. Os livros do avô continuam na estante, assim como algumas peças pessoais – toalhas, roupão, remédios, chinelos –, o que faz o charme de um espaço relativamente abandonado, se comparado com os museus em homenagem aos pintores Diego Rivera e Frida Kahlo, que também estão nas redondezas.

No dia 20 de agosto daquele mesmo ano, Jacques Mornard (codinome sob o qual atuava o espanhol Jaime Ramón Mercader) entrou nesta casa em Coyacán e deu, pelas costas, um violento golpe na cabeça de Trotsky, com uma picareta de alpinista.

“Cheguei da escola à tarde e percebi um movimento estranho na casa, no final da rua. Carros da polícia, a porta aberta. As tardes eram muito tranquilas. Desci a rua já angustiado porque sabia que alguma coisa tinha acontecido. Quando entrei, vi um homem golpeado, imobilizado pelos guardas. Na porta da cozinha, ele com a cabeça machucada e cara encoberta de sangue, Natália ao seu lado”, descreveu.

“Os guardas seguraram Jacques como se fossem matá-lo", mas Trotsky afirmou, segundo o relato dos jornais da época: “Não o matem, façam esse homem falar.” Trotsky foi levado ao hospital ainda lúcido, mas entrou em coma logo depois e morreu no dia seguinte.

Laisa Beatris/Opera Mundi


Setenta e um anos depois da morte de Trotsky, Esteban é o único familiar vivo que testemunhou o crime. “Uma testemunha histórica”, ele mesmo se define, que não se cansa de repetir: em cinco dias, essa mesma narrativa foi contada pelo neto de Trotsky pelo menos cinco vezes.

Vida sem Trotsky

Após o assassinato de Trotsky, Esteban e Natália, a quem se refere como “avó política”, continuaram vivendo na mesma casa. “Num primeiro momento, foi um vazio muito grande, ele era uma figura paterna para mim. Durante um tempo, eu sonhava que o avô não estava morto, estava debaixo da casa, num sótão. Houve uma repetição de sonhos”, contou.

Natália faleceu em 1961, de causas naturais. Esteban se casou, teve quatro filhas e morou no mesmo lugar, onde hoje funciona o museu que leva o nome do avô, do qual ele é curador. Em 1989, foi à Rússia para encontrar sua meia-irmã, Alexandra, que não havia partido com sua mãe para o exílio. Doente terminal de câncer, ela morreu três meses depois. “Muita gente comenta 'sua vida é uma tragédia'. Mas centenas de pessoas na Europa tiveram uma vida muito pior que a minha, muito mais sofrida que a minha”, afirmou.

Esteban trabalhou em diferentes laboratórios, teve uma pequena empresa, estudou fotografia como hobby e sempre passou longe da política. Hoje, sua rotina parece tranquila: aposentado, dedica-se a ler e escrever artigos, especialmente sobre o avô.

Sempre que se fala o nome Esteban Volkov, junto surge um aposto quase que obrigatório – neto de Trotsky (como, aliás, no título deste perfil). Ele não se incomoda em ser lembrado assim, mas deixa claro que nunca quis viver à sombra do avô, uma das razões para se afastar da política: “[Ficaria difícil] tendo uma figura como meu avô, que foi um gênio, extraordinário, com muito conhecimento sobre a teoria marxista.”

Nem Cuba, números de mortos pelo narcotráfico no México ou o governo de Barack Obama são temas capazes de lhe arrancar comentários. Sobre o Brasil, porém, faz questão de registrar sua opinião: “Gosto muito do Brasil, um país muito lindo, diversificado, com uma mistura muito bonita.”

Elis Regina – O Bem do Amor (1963)

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Créditos: UmQueTenha

O “PacoTarso” e o debate sobre o novo papel do Estado

Editorial do sul21

Tradicionalmente alinhada entre os setores mais radicais no interior do PT, a corrente Democracia Socialista (DS) “rachou” na votação do “Pacotarso”: uma parcela defendeu e forneceu votos para a aprovação da reforma proposta pelo governo e outra combateu os projetos, fez passeatas, pressionou e vaiou os deputados favoráveis às mudanças. De um lado o deputado Raul Pont, líder máximo da corrente, a favor das reformas. De outro lado, a presidente do CPERS, Rejane de Oliveira, ligada à DS, associada às lideranças do Sindifisco e da Ajuris, contra as reformas.
A DS adota, ainda hoje, uma forma atenuada de “centralismo democrático” e sempre se empenhou na manutenção de sua unidade interna. Este foi seu primeiro grande desentendimento público.
Entender a cizânia que se estabeleceu e que aflorou no plenário da Assembléia Legislativa na terça-feira (28) exige que se entendam antes as diferentes concepções de Estado e de defesa de interesses que afloraram e se enfrentaram durante a discussão e a votação do “Pacotarso”. De um lado, os que, certos ou errados, defendem o interesse geral e entendem que o Estado e seu aparato jurídico-político, por ser um espaço público de enfrentamento de forças sociais e políticas com interesses diferenciados, deve ser o veículo de equalização de direitos e deveres de todos os segmentos e categoriais sociais. De outro lado, os que, certos ou errados, defendem os interesses de categorias e segmentos sociais específicos e entendem que o Estado, por ser a expressão da força de uma classe dominante e com interesse próprio, defende apenas os direitos desta classe social e que, por este motivo, deve ser enfrentado.
Hoje, encontram-se na DS integrantes tanto do núcleo de poder do governo do Estado do Rio Grande do Sul, que propôs e defende as reformas na atual estrutura do Estado, quanto da direção dos sindicatos profissionais que se julgam prejudicados pelas reformas. As alianças realizadas por uns e por outros no presente episódio extrapolaram suas antigas fidelidades ideológicas.
A pergunta que precisa ser respondida por todos, entretanto, sejam eles governantes, sindicalistas ou simples cidadãos, ligados ou não à DS e às demais correntes petistas ou a quaisquer outros partidos políticos, diz respeito à melhor concepção de Estado e de defesa de interesses.
Parece claro que em uma sociedade com o grau de complexidade e de democracia já alcançado no Brasil não cabe mais a visão do Estado como o lócus de representação dos interesses de uma única classe social. Seja ela a classe dos proprietários ou a classe dos trabalhadores assalariados. Não cabe mais nem a visão do Estado como o “comitê executivo da burguesia”, típica do século XIX, nem a do Estado “neocorporativo”, que atende às pressões dos segmentos sociais mais organizados, típica do século XX. Não cabe também, como a história mundial recente o demonstrou, o Estado “neoliberal”.
Se os recursos públicos são escassos, se os interesses são diversos, se o objetivo é o bem coletivo e se vivemos em uma sociedade democrática, precisamos todos, sem visões preconcebidas, nos lançar ao trabalho de construção de um novo conceito de Estado e de uma nova forma de operá-lo. Não será com a defesa de interesses corporativos, nem com a idéia de que o Estado possa ser capturado por apenas uma ou outra classe ou categorias profissionais que construiremos uma fórmula que seja satisfatória para a maioria.

Financiamento de partidos políticos

Editorial do Correio da Cidadania


Dentre os inúmeros problemas das agremiações partidárias - se desejam, de fato, ter peso político no país - é preciso mencionar o do financiamento de suas atividades.

Atualmente, todos os partidos recorrem exclusivamente a duas fontes: arrecadação proporcionada por eventos e doações de pessoas físicas e jurídicas.

Sem dúvida, é necessário realizar eventos para obter recursos. Primeiro, porque tais recursos costumam ser volumosos e, segundo, porque sua efetivação faz parte da animação da campanha.

As doações, contudo, são sempre um sério problema, porque criam obstáculos intransponíveis aos partidos pequenos e divergências internas extremamente graves, como vimos na última eleição em relação ao PSOL, quando uma parte da militância rebelou-se contra uma candidatura que aceitou dinheiro de uma firma comprometida com a exploração de seus trabalhadores.

Na verdade, enquanto não for aprovada a lei que estabelece o financiamento exclusivamente público de campanha, as eleições jamais serão democráticas.

Financiamento público de campanha eleitoral e igualdade do horário gratuito de televisão, independentemente do tamanho das bancadas dos partidos, são condições indispensáveis à plena democratização do país.

Enquanto os verdadeiros democratas não tiverem forças para fazer aprovar essa lei, teremos de conviver com o regime atual.

Por isso, regras rigorosas precisam ser estabelecidas, a fim de que a busca de doações deixe de ser uma fonte de polêmicas e perda de credibilidade.

Doações, sim, porém, de forma absolutamente transparente e unicamente de pessoas físicas ou jurídicas cujos nomes, uma vez tornados públicos, não causem dúvida na cabeça do eleitor quanto à gratuidade da doação.

Livros e documentos relativos a esta devem ser postos à disposição dos militantes, dos partidos adversários e de qualquer pessoa.

Como é óbvio, as contribuições não podem ser uniformes, pois as rendas dos militantes variam. Militantes com dificuldades para fazer contribuições devem ser eximidos da obrigação.

Aparentemente, estamos longe dessa consciência. Criá-la constitui, sem dúvida, uma tarefa política prioritária para quem está, de fato, comprometido com os ideais do socialismo.

Governo vence na Assembleia e aprova projetos do “Pacotarso”


Votação de pacote proposto do governo pode se arrastar até a madrugada | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Igor Natusch no Sul21

Depois de uma longa votação que varou a madrugada desta quarta-feira, a Assembleia Legislativa aprovou todos os projetos do Plano de Sustentabilidade Financeir do governo do Estado, o chamado “Pacotarso”. A oposição tentou como pôde derrubar o quórum, mas acabou sendo derrotada após quase 16 horas de sessão.
A mudança nas alíquotas para contribuição previdenciária no Rio Grande do Sul foi o primeiro projeto a ser aprovado, por 30 votos a 21. Trata-se de um dos principais pilares do pacote do governo de Tarso Genro.
Antes, três emendas ao projeto foram aprovadas – uma delas modificando o percentual de contribuição para 14%. Mais tarde, por 31 votos a 20, foi aprovado o PLC 190/2011, que estende as mudanças para a previdência militar – é exigência da lei que mudanças envolvendo o Exército sejam analisadas em separado. A votação da PLC 190/2001 ocorreu por volta das 01h50 de quarta-feira (29). Em seguida, partiu-se para a votação do PL 191/2011, que trata das Restituições de Pequeno Valor (RPV).
Os deputados da oposição já admitiam desde a metade da tarde que, por mais que os discursos e pronunciamentos fossem solicitados incansavelmente, tratava-se de uma causa perdida. Com 30 votos garantidos, o governo tinha mais do que o mínimo necessário para aprovar todos os projetos em regime de urgência, garantindo mudanças que o governo considera fundamentais para diminuir o rombo nas contas públicas.
Os deputados também aprovaram, por 29 a 22, o projeto de lei 191/2011, que limita a 1,5% da receita corrente líquida do Estado o pagamento das Requisições de Pequeno Valor (RPVs). As requisições com valor igual ou inferior a sete salários mínimos serão pagas em até 30 dias, sendo que os valores acima disso serão pagos em até 180 dias.
Ainda foram aprovados o projeto de lei 192/2011, que autoriza a alienação de 13 imóveis situados em Porto Alegre, e o projeto de lei 193/2011, que institui o Cadastro Técnico Estadual de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais e a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental.

Mudanças na previdência estadual

A votação do Plano de Sustentabilidade Financeira acabou sendo viabilizada na noite de segunda-feira, quando o governo concordou com emenda proposta pelo deputado Cassiá Carpes (PTB) e abraçada em seguida por toda a bancada petebista. A emenda altera a base de cálculo para a aplicação de alíquota sobre a contribuição previdenciária. O novo texto fixa um percentual de 14%, mas traz variações em sua aplicação.
Para salários até R$ 3.689,66, aplica-se redutor de 21,43% na base de cálculo e sobre o resultado aplica-se a alíquota de 14% – obtendo, no fim das contas, o percentual de 11% de contribuição efetiva. Entre R$ 3.689,66 e R$ 7.379,32, será aplicado um redutor de R$ 790,69 na base de cálculo, valor sobre o qual serão aplicados os 14%. Acima de R$ 7.379,32 será aplicada a alíquota de 14%, sem redução.
Edson Brum: "nem o governo sabe no que está votando" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

De acordo com a oposição, trata-se de uma tentativa de escamotear uma proporcionalidade velada nas contribuições, uma vez que o redutor da segunda faixa de contribuição gera, na prática, uma série de alíquotas diferentes. “O governo fraquejou ao ceder ao PTB, e bateu cabeça ao propor uma emenda que, via redutores, mantém diferenciação de alíquota”, criticou Edson Brum (PMDB). “Primeiro era 16,5%, depois virou 14,5% e durante a manhã mudou para 14%. Não é possível, nem o governo sabe no que está votando”, completou.
Os deputados governistas, porém, não pareciam muito preocupados com as críticas. Confiantes na vitória, retiravam-se periodicamente do plenário, deixando os oposicionistas para trás. Do lado de fora do plenário, deputados da oposição admitiam que, uma vez que a retirada a urgência era impossível, a longa sequência de discursos era uma iniciativa extrema no sentido de acabar com o quórum e inviabilizar a votação.
A outra tática, que previa um mandado de segurança alegando inconstitucionalidade, foi negado pela Justiça. Mesmo nos discursos, a oposição admitia abertamente que o pacote seria aprovado. “Vão aprovar o Pacotarso, mas todos os cidadãos vão pagar essa conta. Estão debochando de vidas e carreiras”, reforçou Frederico Antunes (PP) em dado momento.

Raul Pont faz discurso inflamado na tribuna, enquanto manifestantes contrários viram as costas | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Em sessão tensa, Pont é vaiado e encara servidores

A divisão de posições era bastante visível nas tribunas do plenário. Integrantes de entidades sindicais e representantes de servidores expunham com muito barulho suas posições, em um confronto que chegou a causar alguns desentendimentos do lado de fora da Assembleia.
Do ponto de vista da Mesa Diretora, o lado direito da plateia pedia não ao pacote, enquanto a esquerda dizia sim. Em vários momentos, as intervenções de lado a lado foram ensurdecedoras, interrompendo as intervenções dos parlamentares. Alguns deputados chegaram a se irritar com o tom das críticas.
“Querem debater o conteúdo da proposta ou não?”, perguntou Raul Carrion (PCdoB), enquanto setores ligados ao CPERS vaiavam sua manifestação. Márcio Biolchi (PMDB) foi xingado de “safado” por alguns apoiadores do governo. Mano Changes (PP), ao pedir “respeito” aos espectadores, foi vaiado por boa parte do público – inclusive pelos contrários ao pacote, que em princípio seriam favoráveis a sua posição.
O grande confronto, porém, foi protagonizado por Raul Pont (PT). Enquanto criticava a postura governista, que supostamente queria aprovar os projetos “goela abaixo” da Assembleia, Frederico Antunes (PP) desafiou Pont a ir à tribuna defender o pacote de medidas de seu governo. Vaiado desde antes de chegar ao púlpito, Raul Pont aceitou a convocação, e não economizou nas palavras. “Minha visão é da defesa dos interesses comuns, e não os corporativos”, declarou, debaixo de gritos e apupos. Em seguida, boa parte dos servidores, em especial professores, viraram as costas para a tribuna, enquanto gritavam “traidor”, “pelego” e “não ao pacotão”. Raul Pont, indignado, levantou a voz. “ É triste que as vaias surjam quando se é incapaz de enfrentar argumentos. Digam onde estamos indo contra os direitos dos trabalhadores”, desafiou. Ao sair da tribuna, provocou uma ensurdecedora sobreposição de vaias e aplausos – enquanto boa parte dos governistas, de pé, aguardavam para cumprimentá-lo.
Alegação de inconstitucionalidade é "conversa fiada", segundo Raul Pont | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

“É ridículo que militantes, inclusive do PT, alguns com 30 anos de luta, se submetam ao papel de dar suporte à direita”, declarou Pont ao Sul21, logo depois de sua fala em plenário. Indignado, disse que os que o vaiaram demonstravam não ter “nenhuma visão do papel político” que deveriam desempenhar. “Não mostram argumentos contra nossa proposta, ficam nessa conversa fiada de inconstitucionalidade”, atacou, aproveitando para tecer duras críticas a Jorge Pozzobom (PSDB), um dos críticos mais veementes nesse sentido. Segundo Raul Pont, o parlamentar tucano votou dias antes a favor de projeto de Carlos Gomes (PRB), pedindo isenção de ICMS sobre contas de água e luz de templos evangélicos – algo, de acordo com o petista, “claramente inconstitucional”.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Justiça decidirá se pune torturadores no Uruguai


Brizola Neto no TIJOLACO

José Mujica, preso político em 1985 e presidente uruguaio em 2011
Agência France-Presse noticia que o governo do  Uruguai revogará por decreto as decisões de governos anteriores que impediam o julgamento de ex-militares acusados de violações aos direitos humanos durante a ditadura, o que propiciará a reabertura de casos que estavam resguardados pela chamada “Lei de Caducidade”. A partide deste decreto caberá à Justiça decidir quais denúncias estão ou não amparadas sob a Lei de Caducidade, algo que até agora era exclusividade do Executivo.
O secretário da Presidência, Alberto Breccia disse hoje que ” o  presidente decidiu … que se dite um decreto pelo qual se revogam por razões de legitimidade todos os atos administrativos ditados pelo Poder Executivo … que consideraram que os fatos denunciados estavam compreendidos na … referida lei”, disse Breccia.
Em maio, o Congresso rejeitou a proposta de revogar a Lei de Caducidade. Em seguida, a Suprema Corte de Justiça considerou que os crimes cometidos por militares durante a ditadura eram considerados homicídios simples, e não crimes de lesa-humanidade.
Desta forma, os crimes prescreveriam no começo de novembro, e os militares que não forem julgados antes dessa data ficariam impunes.
Cerca de 200 uruguaios desapareceram durante a ditadura, e muitos outros foram torturados e presos. O próprio Mujica passou mais de uma década detido

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Greve dos Servidores Administrativos em Educação já paralisa 47 Universidades Federais

270611_fasubraRevolutas - A greve foi iniciada em 08 de junho, em Assembleia, realizada em Brasília, pela FASUBRA (Federação de Sindicatos de Trabalhadores das Universidades Brasileiras). Após reiteradas tentativas de negociação com o Ministério do Planejamento, os trabalhadores das universidades federais votaram a favor da greve.

A pauta de reivindicações inclui a retirada do PLC 549/09, que praticamente congela o orçamento para reajustes salariais e novas contratações por 10 anos; reajuste para o piso da categoria, fixando-o em três salários mínimos, e redução da jornada de trabalho de 40 para 30 horas semanais.
Os servidores públicos não têm direito a dissídio ou data-base que reajuste o salário anualmente. Como não há nenhuma intenção do governo em valorizar seus servidores, a categoria não teve outra alternativa. Foi à greve para lutar por melhores salários e condições de trabalho.
Após a deflagração da greve, os trabalhadores das universidades foram, dia após dia, somando forças ao movimento. Grande parte dos servidores em greve trabalha em universidades que aderiram ao REUNI (Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais).
Para quem não sabe, ou não se lembra, o REUNI é basicamente uma injeção de dinheiro do governo federal nas universidades federais que apresentassem planos de expansão do número de vagas e abertura de novos campi. Esta expansão aconteceu de maneira totalmente desigual e desorganizada. Em muitos dos novos campi originados pelo REUNI, o número de servidores é insuficiente frente à demanda de trabalho. Este e outros problemas gerados pela expansão fizeram com que, durante a greve, surgissem além das reivindicações nacionais, muitas pautas locais, onde os servidores de cada universidade manifestam seus problemas (falta de servidores, excesso de terceirizações, falta de espaço físico, assédio moral etc.).
Outro dado que mostra o alto grau de insatisfação dos servidores é a adesão de servidores que ainda não atingiram a estabilidade em seu emprego (no serviço público, a estabilidade se dá após três anos da contratação). Ou seja, a insatisfação é tão grande que os servidores superaram o medo de entrar em greve em um período em que ainda não possuem a sua permanência no serviço público garantida.
Por enquanto, o ministério do planejamento ainda não abriu as negociações com a FASUBRA. Mas, o mais importante neste cenário, é que milhares de trabalhadores conseguiram se reunir em seus locais de trabalho, e de maneira organizada estão construindo uma luta por melhores condições de trabalho. Participam de um processo onde, além das conquistas para a categoria, a aprendizagem de uma nova cultura é de extrema importância, em um momento onde é evidente que só existe saída através da coletividade na luta dos trabalhadores.

domingo, 26 de junho de 2011

Emir Sader: País sem miséria é país sem pessoas abandonadas



A pior herança recebida pelo governo Lula do governo FHC foi a desigualdade social. O Brasil era o país mais desigual da América Latina que, por sua vez, era o continente mais desigual do mundo. Essa desigualdade não era alterada nem em democracia, nem em ditadura, nem em ciclos expansivos, nem nos recessivos da economia brasileira. Era um fator estrutural, herdado da colonização e da escravidão, da persistência do latifúndio, acentuado pelas politicas da ditadura militar de arrocho salarial e favorecimento do grande capital. Não bastasse isso, a década neoliberal dos 90 do século passado, acentuou ainda mais as desigualdades.

As maiores transformações que o Brasil sofreu no governo Lula foram na sua inserção internacional – do privilégio das relações com o norte, para relações prioritárias com o sul – e na diminuição significativa da desigualdade no plano interno.

A articulação entre a política econômica e as políticas sociais promoveu um processo de distribuição de renda, estendendo e aprofundando o mercado interno de consumo popular como nunca havia acontecido na nossa história. A projeção feita pela empresa Data Popular para a revista Carta Capital desta semana projeta para 2014 – o ano do final do mandato atual da Dilma – uma classe C (no critério de distribuição de renda) de 58,5% da população (era de 38,8% em 2002, ano do começo do governo Lula). Os mais pobres, que eram 9,3% em 2002, tornaram-se 4,9% em 2010 e seriam 2,7% em 2014.

Estaríamos numa situação praticamente de erradicação da extrema pobreza, da miséria, com um resíduo muito difícil de chegar a reduzir a zero. Hoje ainda convivemos com mais de 10 milhões de pessoas vivendo (ou, sabe-se lá como, sobrevivendo) com até 39 de reais por mês.

Mesmo com essas transformações extraordinariamente positivas - maior mérito do governo Lula -, não se pode pensar que nos tornamos um país de classe média. A miséria acumulada ao longo de séculos da nossa história não pode ser superada com a elevação do nível de renda em alguns anos. As condições de habitação, de saneamento básico, de educação, de saúde, de transporte, de segurança – para citar apenas alguns problemas – são muito ruins e apenas começam a ser superadas – pelo menos na habitação. Será necessária a continuidade por muitos anos dessa elevação de renda, somada a politicas especificas que melhores substancialmente as condições da educação e da saúde publicas, do saneamento básico, da habitação, do transporte publico, as condições de segurança, para que possamos realmente ter transformado democraticamente a estrutura social brasileira de forma substancial e irreversível.

No entanto, a miséria, a extrema pobreza, não se medem apenas por cifras, por nível de renda. Ao que precisamos chegar é a uma sociedade em que não existam mais pessoas abandonadas, sem amparo, nas ruas ou em outros lugares, privados ou públicos. Uma sociedade a que todos pertençamos, de uma ou outra forma, em que nos sintamos vinculados aos outros por laços de solidariedade, de espirito comunitário, de pertencimento a uma mesma sociedade. A miséria não é apenas uma situação de precariedade material, é também o abandono, a falta de apoio, de retaguarda, de cuidado. A isso temos que chegar, a que todos tenham alguma forma de assistência do Estado, de forma a que ninguém se sinta abandonado.

Fonte: Blog do Emir

Os “hackers cheirosos”



Brizola Neto no TIJOLACO

No vale-tudo para atacar o Governo brasileiro, hoje a D. Eliane “Massa Cheirosa” Cantanhede se superou, com seu artigo “Hackers pela Ética”, tranformando um grupo anárquico, que buscava, confessadamente, a notoriedade que a mídia lhes deu e não parecia interessado em revelações de interesse social, mas em divulgar CPF, listas de e-mail e em “derrubar” sites oficiais.
“Com CUT, UNE e MST fora de combate a partir de Lula, por conveniência ou oportunismo, entra em ação pela ética pública um tal de LulzSec para azucrinar e expor os Poderes da República.”, escreve a colunista.
Ora, esses grupos, se têm de ser responsabilizados por danificarem propriedade pública (arquivos) e impedir o funcionamento dos sites, não devem nem ser demonizados nem endeusados, duas faces de um mesmo processo.
Não são assunto de política, mas de providências tecnológicas e administrativas. Até porque não guardam nenhuma relação com “segredos de Estado”, como se disse, mas com a sabotagem do funcionamento de sites públicos e violação de dados pessoais.
O que estes “hackers” estão fazendo nada tem a ver com transparência, com publicização de atos secretos de governo tomados à sombra do desconhecimento da sociedade, como fez, por exemplo, o Wikileaks.
Aliás, quem melhor respondeu a isso foi um ouro grupo de “hackers”, ontem, no Correio Braziliense:
“Em meio às recentes invasões a sites governamentais, o grupo Transparência Hacker afirma não ter relação com os responsáveis pelos ataques e aproveita o momento para discutir a própria atuação. Segundo seus participantes, a organização, objeto de reportagem do Correio de 21 de maio, tenta se desvencilhar das ações criminosas. “Trabalhamos com dados que são abertos. Nossa luta é divulgar informações governamentais que já são públicas, tornando-as mais acessíveis”, explica o articulador de redes Diego Casaes, 23 anos. Ele desaprova a publicação de dados como telefones de ministros ou o CPF da presidente Dilma Rousseff, por exemplo. “Essas informações são pessoais, não públicas. Entendo que devem permanecer sigilosas, porque dizem respeito à pessoa”, afirma.”
É isso que D. Cantanhede elogia, ao afirmar queo alerta para os governos e demais Poderes é que a sociedade, de alguma forma, está de olho.
Quando um grupo de hackers tem mais respeito pela privacidade que uma colunista de um jornal como a Folha, quando se trata de atingir o objetivo político de atacar o governo Dilma é bom a gente se cuidar.
Mas, reconheça-se, não apenas a colunista da “massa cheirosa”, mas toda imprensa, sem capacidade de separar seus ódos políticos ao Governo da instituição Estado, deu o tamanho e a projeção que era aquilo que estes grupos, no fundo, pretendiam.

Olhaí quem é que vai fazer a banda larga…


Investimento em telefonia não segue expansão de clientes e panes crescem

Nos celulares, base de usuários avançou 16,6% em 2010, chegando a 202,9 milhões de linhas, mas investimento das empresas caiu 2,4%


Karla Mendes e Renato Cruz – O Estado de S.Paulo

O investimento das operadoras de telecomunicações não tem acompanhado o crescimento de sua base de clientes, o que tem levado a panes cada vez mais frequentes nos serviços de telefonia e internet. Essa situação já incomoda o governo. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, cobrou medidas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Um exemplo do descompasso entre investimento e crescimento está no setor de telefonia móvel. A base de clientes avançou 16,6% no ano passado, chegando a 202,9 milhões de linhas, segundo a consultoria Teleco. Mas o investimento das empresas diminuiu 2,4%, ficando em R$ 8,2 bilhões. Esse montante foi 16,3% inferior ao pico de R$ 9,8 bilhões destinados ao setor em 2004.
O que acontece com o celular é somente um exemplo, pois a combinação de investimento baixo e crescimento alto se repete em outras áreas das telecomunicações. Os consumidores estão cada vez mais insatisfeitos com a qualidade dos serviços.

Em pouco mais de um mês, a Intelig, que pertence à TIM, teve três panes. O Speedy, da Telefônica, voltou a deixar seus usuários na mão no dia 13 deste mês, dois anos depois de a empresa ter sido punida pela Anatel, sendo impedida até de vender os serviços. E a Nextel ficou entre as palavras mais tuitadas por brasileiros no dia 10, por causa de problemas no Rio de Janeiro.

“Falta acompanhamento, supervisão e investimento”, disse Ruy Bottesi, presidente da Associação dos Engenheiros de Telecomunicações (AET). “A infraestrutura não está preparada para suportar o crescimento. O investimento é reativo. As operadoras investem depois do aumento de tráfego, mas leva de 60 a 90 dias para importar equipamentos.”

No ano passado, os investimentos totais das operadoras no País (incluindo telefonia fixa, móvel e outros serviços) chegaram a R$ 17,4 bilhões, alta de 3,6% sobre 2009. Mesmo com o crescimento modesto, o valor está 28,1% abaixo dos R$ 24,2 bilhões investidos em 2001. A receita bruta do setor subiu mais que o investimento, avançando 4,2%, para R$ 184,9 bilhões.
“A essência do problema não está nas operadoras, mas na agência reguladora e no governo”, disse Bottesi.

“O serviço é público. O que a Anatel está fazendo para que tenhamos qualidade no serviço de telecomunicações hoje, em 2011?”, indagou.
Explicações. Para as operadoras, as críticas de que o investimento é baixo não procedem. Elas argumentam que os problemas verificados nos últimos meses são pontuais e o investimento realizado é suficiente para sustentar a expansão da base.

O fato de ele não acompanhar o ritmo do aumento do mercado teria três explicações: os equipamentos têm ficado mais baratos, graças à evolução tecnológica e à queda da demanda nos países ricos; o câmbio está favorável, fazendo com que os reais possam comprar mais equipamentos importados do que antes; e o desembolso maior é feito na instalação da rede, não na expansão desta mesma rede.