domingo, 25 de setembro de 2011

A íntegra do discurso de Mahmoud Abbas na ONU


"O objetivo do povo palestino é o reconhecimento de seus ​​direitos nacionais inalienáveis em seu Estado independente da Palestina, com Jerusalém oriental como capital, em todas as terras da Cisjordânia, incluindo Jerusalém oriental e Faixa de Gaza – que Israel ocupou na guerra de junho de 1967 –, em conformidade com as resoluções de legislação internacional e com o reconhecimento de uma solução justa e acordada para a questão dos refugiados da Palestina".


Texto integral oficial do discurso do presidente Mahmoud Abbas na ONU em 23/9/2011

Sr. Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas,

Sr. Secretário-Geral das Nações Unidas,

Excelências, senhoras e senhores,

Antes de mais nada, eu gostaria de dar meus parabéns para o Sr. Nassir Abdulaziz Al-Nasser por ter aceitado a presidência da Assembleia para esta sessão, e lhe desejo todo sucesso.

Reafirmo hoje meus sinceros parabéns, em nome da Organização para a Libertação da Palestina e do povo palestino, para o governo e o povo do Sudão do Sul por sua merecida admissão como membro pleno das Nações Unidas, desejando-lhes progresso e prosperidade.

Felicito também o Secretário-Geral, Sr. Ban Ki-moon, por sua eleição para um novo mandato à frente da Organização das Nações Unidas. Essa renovação da confiança reflete o reconhecimento do mundo por seus esforços, o que fortaleceu o papel das Nações Unidas.

Excelências, senhoras e senhores,

A Questão Palestina está intrinsecamente relacionada com as Nações Unidas, por meio das resoluções aprovadas por seus diversos órgãos e agências e pelo papel essencial e elogiável da United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East [Agência das Nações Unidas de Ajuda Humanitária e Emprego para os Refugiados Palestinos no Oriente Médio] - UNRWA - que representa a responsabilidade internacional em relação à situação dos refugiados palestinos, vítimas da Al-Nakba (catástrofe) de 1948. Aspiramos e buscamos um papel maior e mais eficaz para as Nações Unidas no que diz respeito ao trabalho para alcançar uma paz justa e abrangente em nossa região, que assegure os inalienáveis, legítimos direitos nacionais do povo palestino, tal como definido pelas resoluções de legislação internacional das Nações Unidas.

Excelências, senhoras e senhores,

Um ano atrás, nesta mesma época, líderes eminentes, neste salão, dirigiram os esforços de paz, estagnados em nossa região. Todos tinham grandes esperanças para uma nova rodada de negociações sobre o estatuto final, que começara no início de setembro em Washington, sob os auspícios diretos do presidente Barack Obama e com a participação do Quarteto, e com a participação do Egito e da Jordânia, para chegar a um acordo de paz em um ano. Entramos nessas negociações com corações abertos, ouvidos atentos e intenções sinceras, e estávamos prontos, com nossos documentos, artigos e propostas. Mas as negociações fracassaram apenas algumas semanas após seu lançamento.

Depois disso, não desistimos e mantivemos nossos esforços em relação a iniciativas e contatos. Ao longo do ano passado deixamos não deixamos de bater em nenhuma porta, tentamos todos os canais, tomamos todos os caminhos e abordamos todos os aspectos formais ou informais de influência e estatura. Consideramos, positivamente, as várias idéias e propostas e iniciativas apresentadas por muitos países e partidos. Mas todos esses esforços sinceros empreendidos pelas partes internacionais foram repetidamente destruídos pelas posições do governo israelense, que rapidamente acabou com as esperanças suscitadas pelo lançamento das negociações em setembro passado.

A questão central aqui é a recusa do governo israelense em comprometer-se com os termos de referência para as negociações, que se baseiam no direito internacional e nas resoluções das Nações Unidas, [governo] que freneticamente continua a intensificar a construção de colônias no território do Estado da Palestina.

As atividades relacionadas às colônias representam o núcleo da política de ocupação militar colonial das terras do povo palestino e toda a brutalidade da agressão e da discriminação racial contra o nosso povo que essa política acarreta. Essa política, que constitui uma violação do direito humanitário internacional e das resoluções das Nações Unidas, é a principal causa para o fracasso do processo de paz, o colapso de dezenas de oportunidades, e o enterro das grandes esperanças que surgiram quando da assinatura da Declaração de Princípios, em 1993, entre a Organização para a Libertação da Palestina e Israel, no sentido de alcançar uma paz justa que daria início a uma nova era em nossa região.

Os relatórios das missões das Nações Unidas, bem como de várias instituições israelenses e das sociedades civis, transmitem uma imagem terrível sobre o tamanho da campanha de colonização, da qual o governo israelense não hesita em se gabar e que continua a executar por meio do confisco sistemático de terras palestinas e da construção de milhares de unidades de novas colônias em diversas áreas da Cisjordânia, especialmente em Jerusalém oriental, e da construção acelerada do Muro de anexação, que consome grandes extensões da nossa terra, dividindo-a em ilhas separadas e isoladas e cantões, destruindo a vida familiar, as comunidades e os meios de subsistência de dezenas de milhares de famílias. A potência ocupante também continua a recusar licenças para nosso povo construir na Jerusalém oriental ocupada, ao mesmo tempo que intensifica sua campanha de décadas de demolição e confisco de casas, desalojando os proprietários e residentes palestinos no âmbito de uma política multifacetada de limpeza étnica destinada a empurrá-los para longe de sua pátria ancestral. Além disso, foram emitidas ordens para a expulsão de representantes eleitos da cidade de Jerusalém. A potência ocupante também continua a realizar escavações que ameaçam nossos lugares santos, e seus postos de controle militar [checkpoints, no original] impedem nossos cidadãos de ter acesso a suas mesquitas e igrejas, e continua a cercar a Cidade Santa com um círculo de colônias destinadas a separar a Cidade Santa do resto das cidades palestinas.

A ocupação corre contra o tempo para redesenhar as fronteiras de nossa terra, de acordo com o que quer, e para impor um fato consumado que muda a realidade e que está minando a possibilidade real da existência do Estado da Palestina.

Ao mesmo tempo, a potência ocupante continua a impor o seu bloqueio à Faixa de Gaza e a atingir alvo civis palestinos em assassinatos, ataques aéreos e bombardeios de artilharia, persistindo com a sua guerra de agressão de três anos atrás, em Gaza, que resultou na destruição maciça de casas, escolas, hospitais e mesquitas, e em milhares de mártires e feridos.

A potência ocupante também continua suas incursões em áreas da Autoridade Nacional Palestina por meio de ataques, prisões e assassinatos nos checkpoints. Nos últimos anos, as ações criminosas das milícias de colonos armados, que gozam da proteção especial do exército de ocupação, intensificou-se com a perpetração de ataques freqüentes contra nosso povo, tendo como alvo casas, escolas, universidades, mesquitas, campos, plantações e árvores. Apesar de nossas repetidas advertências, a potência ocupante não agiu para conter esses ataques, e nós a consideramos totalmente responsável pelos crimes dos colonos.

Estes são apenas alguns exemplos da política de ocupação colonial israelense, e essa política é responsável pelo fracasso continuado das sucessivas tentativas internacionais para salvar o processo de paz.

Essa política destruirá as chances de alcançar a solução de dois Estados, sobre a qual há consenso internacional, e aqui eu faço uma advertência em voz alta: a política de colonização ameaça também minar a estrutura da Autoridade Nacional Palestina e até mesmo acabar com sua existência.

Além disso, enfrentamos atualmente a imposição de novas condições, não apresentadas previamente, condições que vão transformar o conflito que grassa na nossa inflamada região num conflito religioso e numa ameaça para o futuro de um milhão e meio de palestinos cristãos e muçulmanos, cidadãos de Israel, tópico que rejeitamos; é-nos impossível aceitar ser arrastados [para esse conflito].

Todas essas ações, tomadas por Israel em nosso país, são unilaterais e não têm base em nenhum dos acordos anteriores. Na verdade, o que testemunhamos é uma aplicação seletiva dos acordos, destinada a perpetuar a ocupação. Israel reocupou as cidades da Cisjordânia por meio de uma ação unilateral, e restabeleceu a ocupação civil e militar por meio de uma ação unilateral, e é Israel que determina se um cidadão palestino tem ou não o direito de residir em qualquer parte do território palestino. E está confiscando nossa terra e nossa água e obstruindo nosso movimento, bem como a circulação de mercadorias. E é Israel que obstrui nosso destino. Tudo isso é unilateral.

Excelências, senhoras e senhores,

Em 1974, nosso falecido líder Yasser Arafat veio a esta sala e garantiu aos membros da Assembleia Geral a nossa busca afirmativa pela paz, pedindo que as Nações Unidas reconhecessem os direitos nacionais inalienáveis do povo palestino, afirmando: "Não deixe o ramo de oliveira cair de minha mão ".

Em 1988, o presidente Arafat novamente se dirigiu à Assembléia Geral, reunida em Genebra para ouvi-lo, e apresentou o programa de paz aprovado pelo Conselho Nacional Palestino na sessão realizada naquele ano na Argélia.

Quando adotamos esse programa, estávamos dando um passo doloroso e muito difícil para todos nós, especialmente para aqueles que, como eu, foram forçados a deixar suas casas e suas cidades e aldeias, levando apenas alguns dos nossos pertences, nossa dor, nossas lembranças e as chaves de nossas casas para os campos de exílio e para a diáspora da Nakba de 1948, uma das piores operações de desenraizamento, de destruição e de remoção de uma sociedade vibrante e coesa, que vinha contribuindo de modo pioneiro e protagonista no renascimento cultural, educacional e econômico do Oriente Médio árabe.

No entanto, porque acreditamos na paz e por causa de nossa convicção na legislação internacional, e porque tivemos a coragem de tomar decisões difíceis para o nosso povo, e na ausência absoluta de justiça, decidimos adotar o caminho da justiça relativa - justiça que é possível e que poderia corrigir parte da grave injustiça histórica cometida contra nosso povo. Assim, concordamos em estabelecer o Estado da Palestina em apenas 22% do território da Palestina histórica - em todo o território palestino ocupado por Israel em 1967.

Ao dar esse passo histórico, bem acolhido pelos Estados do mundo, fizemos uma enorme concessão a fim de alcançar um compromisso histórico que permitisse que a paz fosse feita na terra da paz.

Nos anos que se seguiram – a partir da Conferência de Madri e nas negociações de Washington que levaram ao acordo de Oslo, assinado há 18 anos no jardim da Casa Branca e relacionado com as cartas de reconhecimento mútuo entre a OLP e Israel –, perseveramos e tratamos de maneira positiva e responsável todos os esforços para a realização de um acordo de paz duradouro. No entanto, como dissemos antes, todas as iniciativas e conferências, cada nova rodada de negociações e cada movimento, foram destruídos na rocha do projeto israelense de expansão da colonização.

Excelências, senhoras e senhores,

Confirmo, em nome da Organização para a Libertação da Palestina, o único representante legítimo do povo palestino, que permanecerão assim até o fim do conflito, em todos os seus aspectos e até a resolução de todas as questões do estatuto final, os pontos seguintes:

1. O objetivo do povo palestino é o reconhecimento de seus ​​direitos nacionais inalienáveis em seu Estado independente da Palestina, com Jerusalém oriental como capital, em todas as terras da Cisjordânia, incluindo Jerusalém oriental e Faixa de Gaza – que Israel ocupou na guerra de junho de 1967 –, em conformidade com as resoluções de legislação internacional e com o reconhecimento de uma solução justa e acordada para a questão dos refugiados da Palestina, em conformidade com a Resolução 194, de acordo com o estipulado na Iniciativa Árabe de Paz, que apresentou a solução do consenso árabe para resolver o núcleo do conflito árabe-israelense e alcançar uma paz justa e abrangente. A isso aderimos e é isso que trabalhamos para alcançar. Alcançar a paz desejada também exige a libertação de prisioneiros políticos e detidos em prisões israelenses sem demora.

2. A OLP e o povo palestino aderiram à renúncia da violência e rejeitam e condenam o terrorismo em todas suas formas, especialmente o terrorismo de Estado, e aderiram a todos os acordos assinados entre a Organização de Libertação da Palestina e Israel.

3. Aderimos à opção de negociar uma solução duradoura para o conflito, de acordo com as resoluções da legislação internacional. Aqui, eu declaro que a Organização para a Libertação da Palestina está pronta para retornar imediatamente à mesa de negociações, baseada nos termos de referência adotados com base na legislação internacional e da cessação completa das atividades de colonização.

4. Nosso povo continuará sua resistência popular pacífica à ocupação israelense, bem como à colonização, às políticas de apartheid e à construção do muro de anexação racista, e recebem apoio por sua resistência, o que é compatível com o direito humanitário internacional e com as convenções internacionais, e contam com a ajuda de pacifistas de Israel e de todo o mundo, refletindo um exemplo impressionante, inspirador e corajoso da força desse povo indefeso, armado apenas com seus sonhos, coragem, esperança e palavras de ordem diante de balas, tanques, gás lacrimogêneo e buldôzeres.

5. Ao trazer nossa situação e nosso caso a este pódio internacional, confirmamos a nossa confiança na opção política e diplomática, confirmamos que não tomaremos medidas unilaterais.Nossos esforços não são destinados a isolar ou deslegitimar Israel; queremos ganhar legitimidade para a causa do povo da Palestina. Apenas visamos deslegitimar as atividades da colonização, da ocupação, do apartheid e a lógica da força implacável, e acreditamos que todos os países do mundo estão conosco a esse respeito.

Estou aqui para dizer, em nome do povo palestino e da Organização para a Libertação da Palestina: estendemos nossas mãos ao governo e ao povo israelense para construir a paz. Digo-lhes: vamos com urgência construir juntos um futuro para nossas crianças, em que elas possam desfrutar de liberdade, segurança e prosperidade. Vamos construir as pontes do diálogo em vez de checkpoints e muros de separação, e construir relações de cooperação com base na paridade e na equidade entre dois Estados vizinhos – Palestina e Israel – em vez de políticas de ocupação, colônias, guerra e eliminação do outro.

Excelências, senhoras e senhores,

Apesar do direito inquestionável de nosso povo à autodeterminação e à independência de nosso Estado, conforme estipulado nas resoluções internacionais, aceitamos, nos últimos anos, o engajamento no que parecia ser um teste da nossa dignidade, direito e elegibilidade. Nos dois últimos anos, nossa autoridade nacional implementou um programa de construção das instituições de nosso Estado. Apesar da situação extraordinária e dos obstáculos impostos pelos israelenses, lançamos um projeto sério e extenso, que incluiu a implementação de planos para aprimorar e fazer avançar o judiciário e o aparato para a manutenção da ordem e da segurança, para desenvolver os sistemas administrativo, financeiro e de supervisão, para atualizar o desempenho das instituições e aumentar a autossuficiência, para reduzir a necessidade de ajuda externa. Com o grato apoio dos países árabes e as doações de países amigos, uma série de grandes projetos de infraestrutura têm sido executados, com foco em vários aspectos do serviço, e com especial atenção às zonas rurais e marginalizadas.

Em meio a esse grande projeto nacional, temos reforçado o que, buscamos, sejam as características do nosso Estado: a preservação da segurança do cidadão e da ordem pública, para a promoção da autoridade judicial e do estado de direito; o fortalecimento do papel das mulheres por intermédio de legislação, leis e participação; a garantia à proteção das liberdades públicas e o fortalecimento do papel das instituições da sociedade civil; a institucionalização de regras e regulamentos para assegurar a responsabilidade e a transparência no trabalho de nossos ministérios e departamentos; o enraizamento dos pilares da democracia como base para a vida política palestina.

Quando a divisão atingiu a unidade, as pessoas e as instituições de nossa pátria, estávamos determinados a adotar o diálogo para a restauração da nossa unidade. Conseguimos, meses atrás, alcançar a reconciliação nacional e esperamos acelerar sua implementação nas próximas semanas. O pilar central dessa reconciliação foi que ela voltasse para o povo por intermédio de eleições legislativas e presidenciais em um ano, porque o Estado que queremos será um Estado caracterizado pelo império da lei, pelo exercício democrático e a proteção das liberdades e da igualdade de todos os cidadãos, sem discriminação, e a transferência de poder por meio das urnas.

Os relatórios emitidos recentemente pela Organização das Nações Unidas, pelo Banco Mundial, pelo Ad Hoc Liaison Committee (AHLC) e pelo Fundo Monetário Internacional confirmam e elogiam o que foi realizado, considerando-o um modelo notável e sem precedentes. A conclusão de consenso da AHLC, há poucos dias, descreveu o que foi realizado como uma "notável história de sucesso internacional" e confirmou a disposição do povo palestino e suas instituições para a independência imediata do Estado da Palestina.

Excelências, senhoras e senhores,

Não é mais possível corrigir o problema do bloqueio do horizonte das negociações de paz com os mesmos meios e métodos de insucesso repetidamente testados e comprovados nos últimos anos. A crise é muito profunda para ser negligenciada, e o mais perigoso são as tentativas de simplesmente contorná-la ou adiar sua explosão.

Não é nem possível, nem prático, nem aceitável retornar à negociação, como de costume, como se tudo estivesse bem. É inútil entrar em negociações sem parâmetros claros e na ausência de credibilidade e de um calendário específico. As negociações serão insignificantes enquanto o exército de ocupação continuar a consolidar a ocupação em vez de encerrá-la, e continuar a mudar a demografia de nosso país a fim de criar uma nova base sobre a qual alterar as fronteiras.

Excelências, senhoras e senhores,

Este é o momento da verdade e meu povo está esperando para ouvir a resposta do mundo. Ele permitirá que Israel continue com a ocupação, a única ocupação do planeta? Permitirá a Israel manter-se como um Estado acima da lei e da responsabilidade? Permitirá a Israel continuar rejeitando as resoluções do Conselho de Segurança, da Assembléia Geral das Nações Unidas, da Corte Internacional de Justiça e as posições da esmagadora maioria dos países do mundo?

Excelências, senhoras e senhores,

Estou diante de vocês hoje, [vindo] da Terra Santa, a terra da Palestina, a terra de mensagens divinas, da ascensão do Profeta Muhammad (que a paz esteja com Ele), o local de nascimento de Jesus Cristo (a paz esteja com Ele), para falar em nome do povo palestino, em sua pátria e na diáspora, para dizer, depois de 63 anos de sofrimento da Nakba em curso: basta. É tempo de o povo palestino ganhar sua liberdade e independência.

Chegou a hora de acabar com o sofrimento e a situação difícil de milhões de refugiados palestinos na pátria e na diáspora, alguns deles forçados a refugiar-se mais de uma vez em diferentes lugares do mundo, de acabar com seu deslocamento e de reconhecer os seus direitos.

Num tempo em que os povos árabes afirmam sua busca pela democracia – a Primavera Árabe –, a hora é agora para a Primavera Palestina, o tempo da independência.

Chegou a hora de nossos homens, de nossas mulheres e crianças terem uma vida normal, para que sejam capazes de dormir sem esperar pelo pior que o dia seguinte trará; para que as mães tenham certeza de que seus filhos voltarão para casa, sem medo de sofrer prisão, morte ou humilhação; para que os estudantes sejam capazes de ir para suas escolas e universidades sem checkpoints. Chegou o momento de as pessoas doentes serem capazes de chegar aos hospitais normalmente, e de nossos agricultores serem capazes de cuidar de sua boa terra sem medo de que a ocupação confisque seu terreno e sua água, aos quais o muro impede o acesso, ou o medo dos colonos, para os quais as colônias vêm sendo construídas em nosso território, e que arrancam e queimam oliveiras centenárias. O tempo chegou para os milhares de prisioneiros serem libertados das prisões, a fim de voltar a suas famílias e a seus filhos, para tomar parte na construção de sua pátria e da liberdade que sacrificaram.

Meu povo deseja exercer seu direito de desfrutar de uma vida normal, como o resto da humanidade. Eles acreditam naquilo que o grande poeta Mahmoud Darwish disse: Estar aqui, ficar aqui, permanente aqui, eterno aqui, e temos um objetivo, um, um: ser.

Excelências, senhoras e senhores,

Nós apreciamos e valorizamos profundamente as posições de todos os Estados que apoiaram a nossa luta e nossos direitos, e que reconheceram o Estado da Palestina na sequência da Declaração de Independência, em 1988, bem como os países que recentemente reconheceram o Estado da Palestina e aqueles que elevaram o nível de representação da Palestina nas suas capitais. Também saúdo o Secretário-Geral, que disse há poucos dias que o Estado palestino deveria ter sido estabelecido anos atrás.

Tenham a certeza de que esse apoio, para nosso povo, é mais valioso do que vocês possam imaginar, pois isso os faz sentir que alguém ouve suas narrativas e que sua tragédia, os horrores da Nakba e da ocupação, pelas quais tem sofrido tanto, não estão sendo ignorados. Isso reforça sua esperança, que deriva da crença de que a justiça é possível neste mundo.A perda de esperança é o inimigo mais feroz da paz e o desespero é o mais forte aliado do extremismo.

Digo: o tempo chegou para o meu povo corajoso e orgulhoso, depois de décadas de deslocamento, de ocupação colonial e de sofrimento incessante, viver como outros povos da terra, livre em uma pátria soberana e independente.

Excelências, senhoras e senhores,

Gostaria de informar que, antes de entregar esta declaração, submeti, na qualidade de Presidente do Estado da Palestina e Presidente do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina, para o Sr. Ban Ki-moon, Secretário-Geral das Nações Unidas, o pedido de admissão da Palestina, com base nas fronteiras de 4 de junho de 1967, com Al-Quds Al-Sharif [Jerusalém oriental] como sua capital, como membro pleno das Nações Unidas.

Peço ao Sr. Secretário-Geral para agilizar a transmissão de nosso pedido ao Conselho de Segurança, e apelo aos ilustres membros do Conselho de Segurança a votar a favor da nossa adesão plena. Apelo também aos Estados que ainda não reconheceram o Estado da Palestina a fazê-lo.

Excelências, senhoras e senhores,

O apoio dos países do mundo a nosso esforço é uma vitória da verdade, da liberdade, da justiça, da lei e da legislação internacional, oferece um grande apoio para a opção de paz e aumenta as chances de sucesso das negociações.

Excelências, senhoras e senhores,

Seu apoio para o estabelecimento do Estado da Palestina e para sua admissão nas Nações Unidas como membro pleno é a maior contribuição para a paz na Terra Santa.

Agradeço a todos.

Tradução: Baby Siqueira Abrão

"A Autoridade Palestina colocou Israel em apuros"

Em entrevista à Carta Maior, o historiador israelense Meir Margalit analisa a iniciativa palestina em busca do reconhecimento de seu Estado na ONU e as consequências sobre a política israelense. Pacifista e militante do Meretz, pequeno partido da esquerda israelense, Margalit destaca que o presidente da Autoridade Palestina pôs Israel em apuros e fala sobre as contradições da sociedade israelense e a crise da esquerda em seu país.


Restam muito poucos. É preciso buscá-los com insistência, mas eles estão ali, presentes, solidários, fiéis a si mesmos, dignos, ativos, militantes, apoiados no humanismo que sustenta sua tradição política e comprometidos com a ação: são os homens e mulheres que representam a esquerda israelense, aqueles que, em um momento em que a esquerda de Israel era tragada no redemoinho eleitoral, ganharam um mandato nas urnas. Meir Margalit é um deles. Legislador da Municipalidade de Jerusalém, secretário geral do movimento israelense contra a demolição de casas (palestinas), ICAHD, Margalit é um pacifista em um país armado, cuja calma e determinação força muros inacessíveis.

Historiador e homem político, nesta entrevista à Carta Maior, Margalit assegura que o presidente da Autoridade Palestina pôs Israel em apuros e destaca as contradições nas quais está mergulhada a sociedade israelense, reconhecendo a crise pela qual passa a esquerda de seu país.

Como você analisa o pedido de reconhecimento do Estado palestino que Mahmud Abbas formaliza ante a ONU. É um erro estratégico, um gesto desesperado ou apenas um mero gesto simbólico que não acrescenta nada?

Não, não, de modo algum é um fracasso de Abbas. Muito antes de o pedido de Mahmud Abbas chegar às Nações Unidas, os palestinos já tinham vencido. E ganharam porque é a primeira vez, desde muito tempo, que eles dão o rumo geopolítico da agenda e da região. É também a primeira vez que conseguem pôr Israel em apuros. Faz muito tempo que Israel não conhece uma situação semelhante. Os palestinos encurralaram Israel, obrigaram-no a explicar ao mundo por que se negam a reconhecer um país.

Os palestinos colocaram Israel em uma situação grotesca. Eu creio que, desde essa perspectiva, os palestinos ganharam. Israel está se desgastando progressivamente. Apesar do veto dos Estados Unidos ao reconhecimento do Estado palestino, quando há mais de 130 países que votam a favor da Palestina isso equivale a uma mensagem muito clara dirigida a Israel.

Está se dizendo ao país: senhores, se vocês seguirem esse caminho, deixarão de fazer parte da grande família de países civilizados. Trata-se, então, de um grande êxito dos palestinos. É preciso mirar o impossível para obter algo possível. O que hoje parece impossível será possível cedo ou tarde. Mahmud Abbas teve muita coragem. Dizer não aos EUA como fez Abbas é um ato de saúde mental. Não conheço muitos líderes no mundo que sejam capazes de dizer aos Estados Unidos: “lamento amigo, mas não estou de acordo com o que vocês fazem”. Estou convencido de uma coisa: se Israel seguir neste caminho vai colapsar. Não sei se em 20 ou 30 anos, mas esse caminho nos leva a um precipício. Se alguém não nos detiver, e digo alguém porque nós não temos nem a motivação nem o incentivo para parar, terminaremos nos destroçando em um precipício.

Quem parece ter cometido um erro estratégico é o primeiro ministro Benjamin Netanyahu. Ao invés de aceitar a possibilidade de um Estado Palestino e acompanhar a decisão impondo condições básicas para Israel, o Executivo se fechou na ameaça e na cegueira.

Por ser um estúpido, Netanyahu caiu na armadilha. Mas essa é a estupidez típica de todos os nacionalistas. Quando, em algum momento, o nacionalismo assume o controle, perde-se um pouco a sensatez. Netanyahu e o governo israelense a perderam. Sob a influência de grupos extremamente direitistas, Netanyahu errou o cálculo: em vez de fazer um cálculo nacional, fez um cálculo eleitoral.

A sociedade israelense parece ter um olhar duplo que, por curioso que pareça, revela uma mudança: por um lado tem medo de que Israel perca iniciativa e legitimidade, e, por outro, observa os fenômenos que se produzem com uma posição menos intransigente que antes.

É certo que existem mudanças substanciais na sociedade israelense. A mais fundamental é que hoje, no discurso nacional, estão se dizendo coisas que, há dez anos, não se podiam dizer. Por exemplo, há uma década a postura israelense consistia em dizer: não se devolvem territórios. Hoje, em troca, a questão mudou para converter-se em uma pergunta: que porcentagem de territórios é preciso devolver? Esta pergunta é muito transcendente e se a observamos sob um olhar de longo prazo vemos em seguida que se produziu uma mudança substancial. Se antes as pessoas se negavam a contemplar a possibilidade de devolver territórios, hoje compreende que é preciso devolver esses territórios e a discussão se concentra em saber em que porcentagem. Aqui, porém, ocorrem coisas contraditórias.

Por um lado, a sociedade israelense está disposta a considerar a possibilidade de terminar com a ocupação. As pessoas estão muito agoniadas com isso. Por outro lado, e isso é o paradoxal, segue votando nos partidos de direita enquanto que a extrema direita é cada vez mais forte e cada vez mais fundamentalista. Devo admitir que, aqui em Israel, os processos não são pretos ou brancos, há situações paradoxais, contraditórias. Estamos, então, diante de processos que apontam para direções distintas. É importante destacar uma coisa: nunca a esquerda israelense esteve tão mal no Parlamento e, no entanto, nota-se que o discurso nacional aceita ou repete o que a esquerda vem dizendo há muitos anos. E o que diz a esquerda israelense? Diz que é preciso acabar com a ocupação. Hoje, a maioria das pessoas, incluindo o primeiro ministro Benjamin Netanyahu, diz que essa ocupação terá que acabar em algum momento. Encontramos então outro paradoxo: a esquerda nunca esteve pior e também nunca esteve melhor.

Por acaso o surgimento dessa frente interna que nasceu com os jovens israelenses, os indignados, pode modificar o peso da balança política ou esse foi somente um fenômeno passageiro?

Creio que isso será absolutamente insignificante, não transcendental e em nada mudará o panorama político porque as eleições são dentro de dois anos e a memória do israelense médio é demasiado curta. Essas pessoas foram demasiadamente pacíficas para que o governo as levasse a sério. Aqui não houve piqueteros e não se queimou sequer um pneu ao longo de dois meses. Diante de manifestações dessa índole, fica muito fácil para o governo manipulá-las e deixá-las passar. Rapidamente ocorre algum arranjo cosmético, mas em regra geral não vejo que os indignados deixem uma marca na sociedade israelense.

Como se pode explicar o abismo no qual caiu a esquerda israelense? Ela praticamente despareceu como ator político, carece de credibilidade e de capacidade de mobilização, é uma voz ausente no jogo político nacional. Desapareceu como discurso, como peso político, como mensagem e como sentido.

Se falamos do trabalhismo isso é certo. Mais do que uma mudança, o trabalhismo sofreu uma degeneração, Hoje sabemos que o trabalhismo nunca foi de esquerda, usavam slogans esquerdistas, mas levavam na prática uma política capitalista e nacionalista. Não se pode ser socialista e também tão sionista como é o trabalhismo. Que resta então da esquerda aqui? Em última instância, sobramos nós, o Meretz. Meu pequeno partido tem hoje três membros no Parlamento, que conta com 120 acentos.

Estamos no limite de desaparecer porque fomos leais a nossas consignas. Era muito mais fácil tomar um caminho mais direitista e nacionalista e, dessa forma, ganhar alguns votos mais. Nós fomos consequentes e pagamos o preço. A partir do ano 2000 este país foi para a direita. Ficou mais de direita, mais fundamentalista, mais religioso. A presença de um personagem tétrico como o ministro de Relações Exteriores, Lieberman, me diz que nos convertemos em um país fascista. Essa é a melhor prova de que Israel se degradou muito. Por quê? Alguns dirão que é uma reação lógica aos atentados palestinos doa anos 2000, outros dirão que isso tem a ver com complexos que vem da época do Holocausto, outros dirão que persistem questões que estão nas próprias raízes do movimento sionista. Seja como for, está claro que a esquerda israelense está em crise.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

sábado, 24 de setembro de 2011

Filme africano...

A Viagem da Hiena
(Touki Bouki)
Touki Bouki.avi
Poster
Sinopse
Este primeiro filme do aclamado diretor senegalês Djibril Diop Mambety é considerado um dos melhores filmes africanos, com certeza um dos mais experimentais. Concebido ccm exatidão e magistralmente realizado, o filme narra as cômicas desaventuras de Mory, um vaqueiro que monta uma motocicleta com um crânio bovino. e Anta, uma estudante universitária. Alienados e descontentes com o Senegal e a África, decidem ir para Paris, buscando para tanto, arrumar dinheiro-fácil através de diferentes formas.
LEGENDA EXCLUSIVA

Screenshots




Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Magaye Niang - Mareme Niang - Aminata Fall - Ousseynou Diop - Josephine Baker - Christoph Colomb - Ndou Labia - Mustapha TureGênero: Drama
Diretor: Djibril Diop Mambéty
Duração: 85 minutos
Ano de Lançamento: 1973
País de Origem: Senegal
Idioma do Áudio: Wolof | Árabe
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0070820/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XviD ISO MPEG-4
Vídeo Bitrate: 1838 Kbps
Áudio Codec: 0x0055 MPEG-1 Layer 3
Áudio Bitrate: 192 Kbps
Resolução: 640x480
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 1.3 Gb
Legendas: No torrent
Premiações
Venceu: 1973 - Moscow International Film Festival (Diploma, FIPRESCI Prize).
Touki Bouki ficou na 52ª posição no ranking da revista Empire, "The 100 Best Films Of World Cinema", em 2010.
Curiosidades
Considerado, juntamente com Soleil O, o primeiro filme avant-garde africano.
Crítica
"(...) e entre as coisas que fazem este filme ser tão interessante estéticamente, estão as sequencias fantasiosas envolvendo as imagens projetadas do casal em Paris e em outros locais." Jonathan Rosenbaum, Chicago Reader

Considerado por muitos como seu filme mais ousado e importante, estréia de Mambéty em um longa-metragem, Touki Bouki (Jornada da Hiena) é o mais plenamente desenvolvido de seus temas anteriores sobre o hibridismo e a individualismo da marginalidade e do isolamento. Baseado em sua própria história, Djibril Diop Mambéty fez Touki Bouki com um orçamento de US$30.000,00 obtidos, em parte, do governo senegalês. Embora influenciada pela Novelle Vague francesa, Touki Bouki exibe um estilo todo próprio. Sua trilha sonora e jogo de câmera têm um ritmo frenético não-característico da maioria dos filmes Africanos -- conhecido muitas vezes por suas narrativas evolutivas lineares, em passos vagarosos. Através de cortes saltados, colisões na montagem, acompanhamento sonoro dissonante, e a justaposição de sons e elementos visuais pastorais, pré-modernos e modernos, Touki Bouki transmite e lida bem com a hibridização do Senegal. Um par de amantes, Mory e Anta, fantasiam em fugir de Dakar para uma França mítica e romantizada. O filme acompanha-os enquanto eles tentam desencavar e descolar os fundos para sua fuga. Ambos chegam ao vapor que transportaría-os para Paris, mas antes que eles desembarquem, Mory é atraído de volta ao Dakar e não pode sucumbir à sedução do Ocidente. Touki Bouki ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Moscou e o Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cannes. - Wikipedia.
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.

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Enquanto isso no RS os projetos educacionais avançam...

Rede estadual inicia reestruturação do currículo do Ensino Médio

A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) prepara para o primeiro semestre de 2012 a reestruturação do currículo do Ensino Médio. A proposta contempla qualificação, articulação com o mundo do trabalho e práticas produtivas. A ideia se constitui em um ensino médio politécnico, com articulação das áreas de conhecimento e suas tecnologias com os eixos da cultura, ciência, tecnologia e trabalho como princípio educativo (nível presente em 793 escolas).

Ensino Médio Politécnico

De acordo com dados do Censo Escolar da Educação Básica de 2010, o 1º ano do Ensino Médio de 793 escolas da rede estadual recebeu matrícula de 161 mil alunos. Nos três anos do nível, o número de matrículas em 2010 foi superior a 354 mil. De acordo com o secretário de Estado da Educação, Prof. Dr. Jose Clovis de Azevedo, as mudanças buscam superar a situação atual que apresenta defasagem idade-série de 30%, índice de abandono de 13%, principalmente no 1º ano, e de 21,7% de reprovação. Outro desafio é trazer para a escola 84 mil jovens, em idade de cursar o Ensino Médio, mas que estão fora da sala de aula.

Currículo

O Currículo do Curso de Ensino Médio Politécnico será desenvolvido em três anos, com 2.400 horas, com a possibilidade de um acréscimo de 600 horas na carga horária, totalizando 3.000 horas. Este acréscimo, dividido nos três anos, deverá ser constituído por estágios ou aproveitamento de atividades em situações de emprego formal ou informal. O conteúdo compõe projetos desenvolvidos nos seminários integrados como parte do currículo do curso. Ao longo dos três anos, a proporção da formação geral e diversificada é a seguinte: no 1º ano, 75%-25%; no 2º, 50%-50%; e, no 3º, 25%-75%.

Formação Geral

Inclui as quatro áreas de conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias (conhecimentos expressivos/de comunicação; Língua Portuguesa, Literatura, Artes, Língua Estrangeira Moderna, Educação Física); Matemática e suas Tecnologias (conhecimentos lógico-matemáticos); Ciências da Natureza e suas Tecnologias (conhecimentos físicos, químicos e biológicos); e Ciências Humanas e suas Tecnologias (conhecimentos filosóficos, geográficos e sócio-históricos).

Formação Diversificada (humana – tecnológica – politécnica)

Constitui a articulação das áreas do conhecimento, a partir de experiências e vivências, com o mundo do trabalho. Enfoques ou temáticas: Educação e Conhecimento: base filosófica, psicopedagógica e sócio-antropológica (Psicologia da Educação e da Aprendizagem, Sociologia da Educação, Filosofia da Educação, História da Educação, Desenvolvimento Cognitivo, Desenvolvimento Neuromotor, Antropologia, Educação Especial); Conhecimento específico da Educação Infantil e do Ensino Fundamental: Literatura Infantil, Arte-Educação – Cênicas, Plásticas e Música, Expressão Dramática, Recreação e Jogos, Música, Nutrição, Puericultura, Enfermagem, Conhecimento Lógico Matemático, Psicogênese da Leitura e da Escrita, Fundamentos da Psicomotricidade, Desenvolvimento da Linguagem, Planejamento – Organização do Ensino, Legislação, Estrutura e Funcionamento do Ensino, Didáticas e Pesquisa.

No âmbito da Educação Profissional a reformulação do currículo busca articular os cursos técnicos com os arranjos produtivos locais e as necessidades de desenvolvimento do Estado, bem como com a modernização tecnológica.

As mudanças na Educação Profissional (156 escolas) e Escolas Normais (104 estabelecimentos) serão encaminhadas ao Conselho Estadual da Educação para análise e homologação, antes de entrar em vigência.

A reestruturação do Ensino Médio atende a diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE) contidas na Resolução 04/2010, que estão em processo de homologação no Ministério da Educação.

Conferência

A proposta da Seduc está contida em um documento-base que entra em debate em todo o Estado, no processo de Conferência Estadual. A primeira etapa, que constitui o debate nas escolas, começa ainda em setembro. Os 22 mil professores do Ensino Médio do RS estão convidados a participar desse processo. A Conferência se estrutura em cinco etapas, sendo encerrada em dezembro, em Porto Alegre. A expectativa é reunir na Capital 400 delegados, com proporcionalidade dos segmentos escolares: 300 professores (75%), 60 alunos (15%), 20 funcionários de escolas (5%) e 20 pais ou responsáveis (5%).

Fonte: portal da SEDUC

Embaixador Ibrahim Alzeben: Israel quer uma terra sem palestinos



Ibrahim Alzeben, embaixador palestino no Brasil, falou com a reportagem do Portal Vermelho sobre o pedido de reconhecimento do Estado da Palestina na ONU, feito nesta sexta-feira (23) por Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina.


Operamundi
Embaixador palestino Ibrahim Alzeben
O embaixador palestino Ibrahim Alzeben, durante ato em São Paulo
 
Alzeben renovou as críticas à administração Obama, que prometeu vetar o reconhecimento do Estado da Palestina no Conselho de Segurança das Nações Unidas, afirmando que Obama deixou muito a desejar e praticamente lavou as mãos, renovando a autorização não escrita à Israel para que fizesse o que quiser com os palestinos.

Portal Vermelho: Por que a Palestina pediu o reconhecimento do Estado neste momento?
Ibrahim Alzeben: Porque o processo de negociações, ao longo de 18 anos, só teve resultados negativos. Tivemos mais ocupação, mais Muro da Vergonha, mais colônias, o bloqueio contra Gaza. Tivemos a ocupação de Jerusalém, a destruição de casas. Israel armou os colonos. Esse processo, que deveria terminar em um estado independente da Palestina, cada vez torna menos possível e viável a criação do Estado palestino.

Hoje temos a Primavera Árabe, os povos se lançam às ruas exigindo justiça, independência, democracia. Por sua vez, o povo palestino exige o fim da ocupação. E nós estamos em sintonia com os desejos do povo.

Portal Vermelho: O que achou dos discursos de Dilma e de Obama?

Ibrahim: Foram duas coisas diferentes. A presidente Dilma expressou a alma solidária, consciente do povo brasileiro. Quanto ao presidente Obama, realmente deixou muito a desejar, porque não agiu como deve agir uma superpotência, o resultado é deixar as mãos livres a Israel: "Façam o que quiserem que nós apoiamos vocês".

Isto não estimula a paz, pelo contrário, estimula a linha dura da política de Israel, contra o direito internacional. Foi uma atitude desafortunada.

Portal Vermelho: Os Estados Unidos já anteciparam que vão vetar a aspiração palestina...
Ibrahim: Cada vez mais os EUA e Israel estão sozinhos, cada vez mais existe o isolamento, por que não estão em sintonia com o sentimento popular internacional, por não sentir o decoro político.

Portal Vermelho: E o que significaria um Estado não-membro da ONU para a Palestina?
Ibrahim: É simples: temos direito à voz, mas não temos direito a voto dentro da organização.

Portal Vermelho: O que o embaixador acha que acontecerá depois?

Ibrahim: Vamos seguir construindo a infraestrutura do nosso Estado, sob condições mais difíceis ainda, vamos seguir batendo às portas da ONU e de seus organismos correspondentes e não vamos claudicar. Continuaremos lutando, até conseguir nosso direito legítimo, consagrado pelo direito internacional e pela Carta Magna da ONU, que é o direito sagrado à autodeterminação dos povos.

Portal Vermelho: A iniciativa palestina pode gerar violência e retaliação por parte dos EUA e de Israel?
Ibrahim: Sem dúvida a atitude que esses dois Estados têm já é de agressão. O fato dos Estados Unidos "lavarem as mãos" e dizerem "negociem", sabendo que as tais negociações nunca deram certo, é obviamente manter as portas abertas para maiores agressões e maiores repressões por parte de Israel. Isso já vem acontecendo, os sinais já estão visíveis, por exemplo, a partir do momento que Israel arma os colonos, que passaram a agredir diariamente os palestinos.

Israel pretende, com isso, que os palestinos tomem alguma reação em retaliação aos ataques, para que possam dizer que somos os "agressores" e que não é possível conviver com os palestinos. Eles estão nos empurrando para o confronto, algo que temos evitado. Nossa decisão soberana é não cair na provocação deles. Mas não sei até quando, obviamente.

Portal Vermelho: Qual é o grande obstáculo nas negociações com Israel?
Ibrahim: Posso dizer em duas palavras? A política de Israel. Israel quer paz, mas com as terras palestinas vazias. Quer uma Palestina sem palestinos e, no melhor dos casos, quer moradores, que serão mão de obra barata, praticamente escrava de Israel, isolados e rodeados por colonos judeus.

Isto é, querem uma Palestina sem palestinos ou, no melhor dos casos, para eles, palestinos subjugados. Isso Israel jamais vai conseguir.

De São Paulo,
por Humberto Alencar e Joana Rozowykwiat

Professores de Minas com 100 dias de greve...

Segurança: governo cobra que oposição condene ameaças


Em coletiva, Koutzii cobrou posicionamento da oposição sobre ameaças | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Felipe Prestes no SUL21

O governo do Rio Grande do Sul está convicto de que há interesses não trabalhistas por trás de supostos protestos, atribuídos a policiais militares, e que chegam a níveis cada vez mais graves. Depois de falsas bombas, um explosivo verdadeiro foi encontrado na manhã desta sexta-feira (23) em frente à sede do 9º Batalhão da Brigada Militar, no centro de Porto Alegre. Segundo a BM, o material era um explosivo semelhante ao utilizado em pedreiras, mas não continha detonador, por isso não havia risco de explosão. Para o governo, foi a gota d’água.
O caso motivou uma entrevista coletiva com a participação do assesssor superior do governador, Flavio Koutzii, do secretário de Segurança Pública, Airton Michels, e do comandante-geral da BM, Sérgio Abreu. Para os três, os atos visam desestabilizar o governo e a Brigada Militar. Koutzii cobrou que os partidos de oposição se manifestem. “Esperamos que todas as forças políticas se manifestem, para sabermos se eles condenam ou não os acontecimentos. Estão um pouco atrasadinhos os partidos de oposição em se manifestar”, afirmou o assessor superior.
Koutzii disse ainda que não é possível que os ânimos dos brigadianos tenham se exaltado a ponto de uma ameaça com um explosivo um dia após os soldados e cabos terem aceitado a proposta de reajuste salarial do governo. “O governo respondeu a todas as provocações com propostas salariais. É porque está dando certo que o desespero de alguns se expressa”, disse.
Para o líder do PMDB na Assembleia, Giovani Feltes, o governo tem feito insinuações que colocam todos como suspeitos. “Desde a queima de pneus, integrantes do governo têm declarado que sabem quem está por trás dos protestos e que seria uma tentativa de desestabilizaro governo. Se o governo sabe quem são, que mostre e puna. Se não sabe, porque diz que sabe? Fica todo mundo como suspeito, como se a oposição fosse responsável”, disse.
Sobre a cobrança de Koutzii, Feltes afirmou ser óbvio que a oposição não gosta do tipo de manifestação que vem sendo feita supostamente por brigadianos. Mas não concorda que caiba à oposição o dever de se manifestar. “O que podem fazer os partidos de oposição? A oposição não tem mecanismos, é algo que cabe ao governo”, disse. O deputado afirmou ainda que não levanta suspeições “temerárias”, como têm feito integrantes do governo.
Comandante da Brigada Militar disse que a corporação já realizou 40 oitivas, mas conclusãoi dos inquéritos ainda vai demorar | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Brigada Militar realiza 26 inquéritos

O comandante-geral da BM informou que a corporação já realiza 26 inquéritos policiais militares (IPMs), um para cada ocorrência. Cada queima de pneu em estradas, além dos fatos mais graves, tem tido sua própria investigação. Sérgio Abreu disse que já foram feitas 40 oitivas. Até agora, o único identificado, por meio de câmeras de segurança, foi João Carlos dos Santos, sargento da reserva da BM, que participou de protesto em Alvorada. Quanto aos demais, embora Abreu diga que haja suspeitos, diz que não é possível dizer se são brigadianos ou não.
Ele levantou a hipótese de que o crime organizado pode estar por trás de protestos. “Os atos visam desprestigiar a Brigada. Nós estamos agindo muito fortemente contra o crime organizado”, disse. Entretanto, nem a BM, nem o governo apresentam evidências mais claras do interesse político ou da participação do crime organizado.
Há também dúvidas se os atos são todos realizados por um mesmo grupo, ou por vários. Para Koutzii, protestos de brigadianos podem ter sido vistos como uma oportunidade para grupos contrários ao governo, dentro ou fora da BM, se aproveitarem. “Pode haver um núcleo duro contra o governo”, disse.
Mesmo sem a certeza de que os fatos estejam todos interligados, o secretário Airton Michels enfatizou que quem for pego em um ato isolado pode sim ser imputado por formação de quadrilha, por estar colaborando com o conjunto de ações. “Quem acha que está fazendo um ato isolado, vai entrar em crimes bem mais graves do que pensa, mas tudo indica que estão todos conectados”, disse. Michels também corroborou com a tese política. “Não tem correlação com os movimentos reivindicatórios, que têm sentado para negociar com o governo. Há uma articulação de forças políticas que visam desestabilizar nossas ações de segurança pública. Uma reação aos resultados que o governo está apresentando nas negociações salariais”.
O secretário ressaltou que a maioria dos crimes foi praticada na “calada da noite”, por isto é muito difícil que haja um flagrante, mas que artefatos como o encontrado nesta sexta “deixam vestígios” que estão levando até os responsáveis. O comandante-geral da BM, por sua vez, disse que os inquéritos ainda vão demorar. “Vai demorar muito ainda a investigação. As provas vão demandar muita pesquisa, muito cruzamento de dados”, explicou. Abreu informou que a Brigada Militar reforçou o policiamento à noite em locais que considera que pode haver atentados e tem monitorado suspeitos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Aplaudido na ONU, Abbas pede reconhecimento do Estado Palestino

Abbas entregou o pedido formal ao secretário-geral da ONU | Foto: Paulo Filgueiras/UN Photo
Da Redação do Sul21

Aplaudido antes mesmo de começar a falar, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, discursou nesta sexta-feira (23) no plenário da Asssembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Work. Em seu discurso, Abbas cobrou mais esforços das Nações Unidas para o reconhecimento do Estado palestino, no momento que considerou ser “a hora da verdade”. “Meu povo está esperando a resposta do mundo”, declarou.

Abbas foi demoradamente aplaudido antes e após o seu discurso. Durante sua fala, cobrou esforços da ONU para a paz no Oriente Médio e criticou a postura de Israel durante a negociação com os palestinos, que não terminou em acordo.
“A questão palestina está intimamente ligada às Nações Unidas. Aspiramos que a ONU tenha um papel maior no esforço pela paz e até conseguir direitos e legitimidade para os palestinos”, afirmou.
Abbas acusou Israel por prejudicar as negociações com os palestinos e por continuar a construir colônias nos territórios palestinos. “O assunto principal aqui é que o governo de Israel se recusa a cumprir resoluções da ONU e continua a construir colônias no futuro Estado da Palestina. Estas políticas desrespeitam o direito internacional”, afirmou.
Ao final de seu discurso, Abbas mostrou o documento com o pedido formal para o reconhecimento do Estado palestino como membro pleno da Assembleia Geral da ONU, sendo novamente aplaudido pelo plenário.

Na Cisjordânia, manifestantes acompanharam discurso de Abbas | Foto: Reprodução/Al Jazeera

“Como presidente do Estado da Palestina, apresentei uma proposta para admissão da Palestina sobre as bases das fronteiras de 1967, com Jerusalém como capital, como membro pleno das Nações Unidas”, declarou.
“Depois de 63 anos de sofrimento, chega a hora de dizer já basta, já basta, já basta, chegou a hora de acabar com o sofrimento dos refugiados palestinos. Chegou também o tempo da ‘primavera palestina’, não só a primeira árabe, a hora da independência”, prosseguiu.
Mais cedo, Abbas entregou ao secretário-geral Ban Ki-moon a carta com o pedido formal de adesão do Estado da Palestina como 194º membro da Assembleia Geral da ONU. O pedido precisa ser chancelado por nove dos 15 países do Conselho de Segurança. Na condição de membro permanente, os Estados Unidos já anunciaram que vão vetar a solicitação, o que impede que ela siga para a Assembleia Geral.
Segundo o porta-voz da ONU, Martin Nesirky, o pedido será analisado “rapidamente” e enviado ao Conselho de Segurança. “As análises processuais apropriadas serão tomadas rapidamente no secretariado e em seguida serão transmitida ao presidente do Conselho de Segurança e ao presidente de Assembleia Geral”, disse Nesirky, após o encontro entre Abbas e Ban Ki-moon.
Em Ramallah, na Cisjordânia, manifestantes acompanharam o pronunciamento do presidente da ANP. Antes, soldados israelenses e manifestantes palestinos entraram em confronto em diferentes pontos da Cisjordânia. Pelo menos um homem morreu durante os confrontos, segundo o jornal israelense Yedioth Ahronoth.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Líbia pode desintegrar-se como a Somália

  Samir Amin   no CORREIO DA CIDADANIA
 
A Líbia não é a Tunísia nem o Egito. O grupo dominante (Kadafi) e as forças que o combatem são em tudo diferentes dos seus correspondentes tunisianos ou egípcios. Kadafi nunca passou de um palhaço, cujo vazio de pensamento está refletido no seu conhecido “Livro Verde”. Agindo numa sociedade arcaica e parada, Kadafi bem podia comprazer-se em sucessivos discursos “nacionalistas” e “socialistas” desligados da realidade e, no dia seguinte, se auto-proclamar como um “liberal”.

Ele só o fez para “agradar ao Ocidente”, como se a opção pelo liberalismo pudesse deixar de ter efeitos na sociedade. Mas tinha e, como toda a gente sabe, ela piorou as condições de vida da maioria dos líbios. Os benefícios do petróleo, antes amplamente redistribuídos, tornaram-se o alvo de pequenos grupos de privilegiados, entre eles a família do líder. Essas condições deram origem à bem conhecida explosão (social), de que os regionalistas e os políticos islamistas do país logo tiraram proveito.

Porque a Líbia nunca existiu realmente enquanto nação. É uma região geográfica que separa o mundo árabe ocidental do mundo árabe oriental (o Magrebe e o Mashreq). A fronteira de transição de um para o outro se situa bem no meio da Líbia. A Cirenaica era historicamente grega e helenística antes de se tornar mashrequiana. A Tripolitânia, por seu lado, era romana e tornou-se magrebina. Por isso o regionalismo sempre foi muito forte no país.

Ninguém sabe quem são realmente os membros do Conselho Nacional de Transição em Benghazi. Pode haver democratas entre eles, mas certamente há também islamistas, alguns deles da pior das estirpes, e ainda regionalistas. O presidente desse conselho é Mustafa Muhammad Abdeljelil, o juiz que condenou à morte as enfermeiras búlgaras (1) e foi premiado por Kadafi, que o nomeou ministro da Justiça entre 2007 e fevereiro de 2011. Foi por esse motivo que o primeiro-ministro da Bulgária, Boikov, se recusou a reconhecer o conselho, mas as suas razões não foram levadas em conta pelos EUA nem pela Europa.

Desde o seu início, o “movimento” da Líbia tomou a forma de uma revolta armada em combate contra o exército, e não de uma vaga de manifestações civis. E logo em seguida essa revolta chamou a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em sua ajuda. Assim foi dada, às potências imperialistas, a oportunidade para uma intervenção militar.

O seu objetivo seguramente não era “a proteção dos civis” nem a “democracia”, mas sim o controle sobre os campos petrolíferos, os recursos aqüíferos subterrâneos e a aquisição de uma importante base militar no país. É claro que, tão logo Kadafi optou pelo liberalismo, as companhias petrolíferas ocidentais tiveram o controle sobre o petróleo líbio. Mas com Kadafi nunca se podia estar seguro de nada. E se, de repente, ele mudasse de orientação e começasse a jogar com a Índia e a China? Mais importantes são os recursos aqüíferos subterrâneos que poderiam ser usados em benefício dos países africanos do Sahel (2). Empresas francesas bem conhecidas estão interessadas nesses recursos (o que explica o imediato envolvimento da França). Vão usá-los de maneira mais “proveitosa” para produzir agrocombustíveis.

Em 1969, Kadafi exigiu que os britânicos e os estadunidenses retirassem as bases que mantinham no país desde a Segunda Guerra Mundial. Atualmente, os EUA precisam encontrar na África uma localização para o seu AFRICOM (o comando militar dos EUA para a África, parte importante da sua estratégia para o controle militar do mundo, mas que ainda continua baseado em Stuttgart – Alemanha!). A União Africana rejeitou-o e, até agora, nenhum país africano o aceitou. Um lacaio instalado em Trípoli certamente aceitaria todas as exigências de Washington e dos seus lugares-tenentes da OTAN. O que seria uma ameaça direta contra a Argélia e o Egito.

Dito isto, continua a ser difícil prever qual será o comportamento do “novo regime”. Não é de excluir a possibilidade de uma desintegração do país como na Somália.

Notas

1) Referência ao “caso das enfermeiras búlgaras”, ou “caso do HIV na Líbia”, em 1998, em que um médico interno palestino e cinco enfermeiras búlgaras do Hospital Infantil El-Fatih, em Benghazi, foram acusados de terem deliberadamente infectado cerca de 400 crianças com o vírus da aids. Foram condenados à morte, e por fim viram a sentença comutada em prisão perpétua por decisão de uma comissão de ministros. Em 2007, após complicadas negociações com a UE, foram extraditados para a Bulgária e acabaram por ser libertados depois de o presidente búlgaro lhes ter comutado as penas.

2) Faixa subsaariana que atravessa a África desde o Atlântico ao Mar Vermelho, de transição entre o deserto e a savana subtropical. Inclui, no todo ou em parte, Senegal, Mali, Burkina Faso, o sul da Argélia, Níger, o norte da Nigéria, Chade, Sudão (incluindo Darfur e o Sudão do Sul), o norte da Etiópia e a Eritreia.  

Original (em inglês) deste artigo no Pambazuka News.
Tradução do Passa Palavra.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Governo do Estado ainda debate aplicação do OP


Mecanismo não virá com a mesma força de outras gestões petistas; foco será em projetos regionais

Samir Oliveira no JORNAL DO COMERCIO

O governador Tarso Genro (PT) se elegeu com a ambição de tornar o Rio Grande do Sul uma referência mundial em participação popular. Mas, desde que assumiu, em 1 de janeiro, ainda não deu mostras de que irá retomar uma das mais marcantes experiências nessa área: o Orçamento Participativo (OP).

Implantado em Porto Alegre durante o governo do petista Olívio Dutra (1989-1992), o OP ganhou fama mundial sendo adotado em diversas cidades em outros continentes. Quando Olívio chegou ao Palácio Piratini, em 1999, reproduziu o mecanismo em nível estadual.

Com a vitória de Tarso Genro e a retomada do governo gaúcho pelo PT, parte do partido e da militância nutria a expectativa de que o Orçamento Participativo fosse novamente implantado no Estado.

Mas o OP - pelo menos, como era concebido em épocas passadas - não está no horizonte político do atual governo. A intenção do governador é unir diversos mecanismos para criar o chamado Sistema Estadual de Participação Popular.

A primeira discussão pública dessa concepção ocorreu no final de fevereiro deste ano, durante um seminário internacional organizado pelo Palácio Piratini. Já naquela ocasião, ficou evidente o desejo de alguns setores do PT de que o OP fosse retomado imediatamente por Tarso.

A interpretação de algumas lideranças é de que o governo não pode manter um mecanismo como a Consulta Popular em detrimento do Orçamento Participativo. O presidente do PT gaúcho, deputado estadual Raul Pont, é a principal voz na defesa do retorno do OP ao Estado.

“Continuo com a expectativa de que saia essa experiência da Consulta Popular e se caminhe para uma verdadeira democracia participativa, como já se praticou em Porto Alegre”, aponta o petista.

Na sua avaliação, a Consulta Popular é apenas um mecanismo de escolha de alocação de verbas em projetos que não foram elencados diretamente pela população. Além disso, ela dispõe um montante muito pequeno de recursos para as pessoas decidirem sua aplicação: neste ano, foram R$ 165 milhões - o que representa 0,47% do orçamento de R$ 35 bilhões.

Outro petista descontente com a pouca atenção dada ao OP é Ubiratan de Souza, que era secretário de Finanças do Orçamento Participativo durante o governo de Olívio Dutra.

Logo após a realização da Consulta Popular - que o atual governo rebatizou de Votação de Prioridades - Ubiratan lamentou a falta de vontade política do Palácio Piratini em retomar o OP.

“Predominou a mesma consulta dos governos Britto, Rigotto e Yeda. Apenas trocaram o nome. Atualmente, não existe Orçamento Participativo”, criticou.

O secretário estadual de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã, João Motta (PT) - a quem cabe a tarefa de elaborar o novo sistema de participação popular -, diz que o governo está construindo uma concepção que contemple todas as experiências.

“Estamos discutindo internamente uma modelagem que tenha como base o OP e a Consulta Popular, mas que trabalhe com uma visão mais ampla.”

Ele avalia, entretanto, que o Orçamento Participativo se debruça muito mais sobre questões locais, não dando conta das demandas regionais.

“É impossível utilizarmos modelos que foram muito importantes e são referência, mas que na nossa opinião não dão conta da discussão dos programas regionais”, considera.

Entretanto, o secretário reconhece que a Consulta Popular é bastante limitada e não possibilita a incidência da cidadania sobre a maioria dos recursos do orçamento estadual. Ele defende uma síntese entre os dois modelos, ancorada na discussão de projetos nas regiões do Estado.

“Precisamos avançar para uma síntese que seja mais representativa da nova realidade e da expectativa da sociedade em incidir sobre os grandes programas do Estado capazes de redimensionar a infraestrutura da malha viária, por exemplo.”

Ex-governador Olívio diz que ‘OP não é uma invenção do PT’

O ex-governador Olívio Dutra (PT), que implantou o Orçamento Participativo (OP) durante suas gestões na prefeitura da Capital e no governo do Estado, acredita que a iniciativa não é uma invenção petista. Para ele, é uma conquista da cidadania “que deve ser aprimorada principalmente pelos governantes do PT e dos partidos de esquerda”. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Olívio lembra a experiência do OP no Rio Grande do Sul e diz crer que o governador Tarso Genro (PT) retomará o processo. Porém, avalia que não se trata de uma simples transposição do modelo de uma época para outra. “O Orçamento Participativo não é uma receita pronta e acabada”, comenta.

Jornal do Comércio - Como se deu a iniciativa de reproduzir no Estado o modelo adotado na prefeitura da Capital?
 
Olívio Dutra - No primeiro ano, tivemos um impedimento legal por interposição dos adversários do nosso projeto, que entraram na Justiça contra a implementação do OP. Demorou praticamente um ano para que derrubássemos isso, mas não impediu que tivéssemos reuniões pelo Estado afora, inclusive com a presença do governador, para apresentar o processo do OP. Passado esse primeiro momento, o projeto foi deslanchando. Praticamente todos os municípios tiveram assembleias do OP.

JC - E o senhor não encontrou resistências nas prefeituras?
 
Olívio - Tinha participação dos prefeitos nas assembleias, a grande maioria deles, inclusive, não era afinada com o projeto da Frente Popular. Alguns, que não realizavam em suas cidades a discussão dos próprios orçamentos, foram instigados com o OP a democratizarem os debates locais.

JC - Na sua avaliação, o OP é um mecanismo eficiente na construção do orçamento estadual?
 
Olívio - O orçamento é uma peça técnica, e precisa ter essa técnica, mas é, fundamentalmente, uma peça política. É lá que está sintetizada a visão de como se compõe a receita e como se orienta a despesa. Essa visão interessa aos cidadãos, porque o espaço público não é de um governante, tem que estar sob o controle da população, e isso o OP proporciona. As assembleias do OP não transformam o orçamento em lei, quem faz isso é o Legislativo. Mas antes de o Executivo encaminhar o texto, pode e deve fazer a mais ampla discussão com a cidadania.

JC - Aqui no Rio Grande do Sul, o OP ficou bastante identificado como uma bandeira petista.
 
Olívio - O Orçamento Participativo não é uma invenção do PT. As reuniões partiram de iniciativas dos movimentos sociais. Foi uma conquista da cidadania. Não foi favor ou boa vontade de algum governante, mas sim o desejo do cidadão de se apropriar dos recursos fundamentais para o funcionamento do Estado. O OP é uma provocação à cidadania. Através dele, determinam-se prioridades não pela vaidade do governante ou pelos interesses de grupos econômicos poderosos, mas por interesses da cidadania.

JC - E agora, com a retomada do governo do Estado pelo PT, o senhor acredita que o OP possa retornar?
Olívio - Foi um processo muito interessante, pena que nosso projeto não foi reeleito e não se tocou adiante. Naquela época, o OP estava ganhando corações e mentes na cidadania. O governo Tarso pode retomar, sim. O OP não é uma receita pronta e acabada. É um processo de democratização da coisa pública e de ampliação da cidadania. Não é uma experiência que pode ser simplesmente transferida de um tempo histórico para outro. Mas já há uma boa massa crítica em torno do processo. Há pessoas querendo que o cidadão tenha direito de influir na proposta orçamentária antes de ir ao Legislativo. Hoje, a conjuntura é outra, mas o que importa é a participação aberta da cidadania na peça orçamentária.

JC - Como isso poderia ser feito hoje?
 
Olívio - A cidadania precisa conhecer os números do Estado. É preciso ver a origem desses números, a forma como se chega até eles. Aí começam a se perguntar: “Quem paga os impostos? Quanto estão pagando? Qual a política tributária do governo? Porque alguns grupos econômicos recebem incentivos?” Então, o Orçamento Participativo significa abrir os números por inteiro, na receita e na despesa. É uma conquista da sociedade que todos os governantes têm que aprimorar, principalmente os do PT e dos partidos de esquerda.