quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A USP, a Tropa de Choque da Polícia e a Tropa de Choque da Mídia

Valéria Nader, da Redação   do CORREIO DA CIDADANIA

Mais uma vez, a USP, a maior e mais famosa universidade do país, se vê às voltas com a polícia. Verdadeira operação de guerra, com Tropa de Choque, cavalaria, bombas, estilhaços, sobrevôo de helicópteros. Mais de 400 homens para retirar cerca de 70 estudantes que tinham ocupado a reitoria, em uma manifestação de protesto contra a presença da PM no campus da universidade.

O que de fato aconteceu por estes dias? Para responder a esta pergunta, é preciso primeiro externar, sem complacência, o quão estarrecedor é perceber o teor predominante da informação à qual a população de todo o país tem tido acesso. O que a maioria saberá sobre os acontecimentos, e que poderá ser introjetado pela memória coletiva, é a versão gravada e ventilada através dos grandes veículos de comunicação.

A Folha e o coro em uníssono

Nem é preciso gastar tempo com semanários a la Veja e assemelhadas, cujo sensacionalismo associado a um raciocínio tacanho e primário já está por demais manjado e desmascarado por todos que pensam em jornalismo com um mínimo de respeito e seriedade. Basta olhar para a Folha de S. Paulo, afinal, o órgão de mídia impressa mais lido no país, como faz sempre questão de anunciar em suas páginas, gabando-se com freqüência de tal façanha e de sua pretensa isenção e progressismo.

Editorial da sexta-feira, 4 de novembro, antes portanto da ação da PM na reitoria, é notório em sua visão monocórdia a defender, quase exaltar, a presença da PM no campus.  Os estudantes que ocuparam a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) são tidos como “grupelhos situados na mais extrema franja da esquerda”. O citado editorial, este mesmo que utiliza as expressões “grupelhos” e “extrema franja da esquerda”, critica ainda um tal “excesso de susceptibilidade ideológica” por parte daqueles que ainda associariam a presença da PM no campus com traumas advindos da ditadura. Com este vocabulário, é o caso de questionar de quem seria realmente o tal excesso de susceptibilidade ideológica.

Conclui finalmente o editorial que “quem agride a democracia, o ensino e a pesquisa na USP é a paranóica minoria que invadiu a reitoria, no intuito de provocar um confronto que só atende às suas pueris fantasias de contestação”. São muitos, além de bastante reconhecidos, os intelectuais e estudiosos que poderiam contribuir para enriquecer este olhar enviesado sobre a realidade uspiana. Estivessem os editorialistas realmente preocupados com o princípio da isenção que tanto pregam, estariam com os ouvidos mais atentos para as diversas facetas que conformam a complexa situação hoje vivida pela universidade.

E não pára por aí o diário dos Frias. Na segunda feira, dia 7 de novembro, uma tropa de choque jornalística antecedeu a tropa de choque da PM que atuaria na USP na madrugada de terça. Para ficar em alguns casos mais exemplares, o colunista Vinícius Mota carrega no verbo ao questionar “grupelhos semi-alfabetizados e violentos que impõem a sua agenda sem encontrar resistência à altura” na FFLCH, desqualificando sem piedade o desempenho da faculdade nos dias de hoje. Acusa-a de se deixar encantar “por um bordão do passado, mera forma sem conteúdo, quando clama pela saída da PM do campus”. No entanto, são as próprias linhas traçadas por Mota, com sua virulência patente, que causam uma certa confusão temporal: estariam mesmo sendo escritas na atual e tão aclamada ‘democracia’?

Outro colunista que, neste mesmo dia, 7 de novembro, escreve sobre os episódios uspianos é o colaborador semanal das segundas-feiras, o filósofo Luiz Felipe Pondé. Entrar em algum tipo de discussão mais pormenorizada e edificante sobre o episódio que se desenrolou na USP esteve bem longe do espectro de preocupação do filósofo. Os “baderneiros” – como foram cunhados os estudantes da FFLCH – são nada mais do que parte daquilo que o filósofo toma como um “partido mundial de jovens”, abraçados pela “mídia ideológica, cansada do marasmo desde maio de 1968 (aquela ‘revolução francesa’ dos estudantes entediados que acabou numa noite gostosa de queijos e vinhos)”.

Last but not least, a Folha não se fez de rogada após consumada a invasão policial na madrugada de terça-feira, 8 de novembro. Até algum tempo atrás, provavelmente estaria mais antenada em cravar uma no ferro e outra na ferradura, em função das cenas truculentas protagonizadas pela polícia de São Paulo, que foram mostradas a todo o país. Entretanto, manchetes e matérias da quarta-feira, 9 de novembro, não evidenciaram a menor preocupação com uma cobertura que tivesse o mínimo de isenção.

Desde a capa do diário, até as páginas internas, os estudantes foram exaustivamente chamados de invasores, baderneiros e pichadores, com imagens selecionadas a dedo de forma a corroborar esta visão. Não é, ademais, gratuito que o caderno a fazer a cobertura dos episódios tenha sido o de Cotidiano. Esse caderno, que no passado já foi denominado de Cidades, há tempos vem se tornando um espaço de discussões gerais, rasteiras e apelativas, sem se aprofundar no tratamento da cidade a partir de um enfoque urbanístico e social mais elaborado.

A ‘grande’ emissora de TV

E se estamos no âmbito dos grandes veículos, tome-se ainda a exploração dos fatos aqui narrados pela mídia televisiva de maior porte no país. A Rede Globo de Televisão, em uma de suas apresentações mais imediatas após a ocupação da reitoria (o Bom Dia Brasil de 8 de novembro), teve desempenho emblemático.

Não se absteve de explorar as fortes imagens dos policiais que cercaram a USP, afinal, um prato cheio para a audiência. Quem se ateve à observação destas imagens, com a concomitante narração dos fatos pelos repórteres que os acompanhavam in loco, não teria dúvidas de que se estava diante de um cenário de dura repressão policial. Mais ao final da reportagem, porém, viria a fala que não quer calar – aquela que, no intuito de parecer ocupar um lugar inadvertido, é a que realmente ecoa o pensamento da emissora global.

A jornalista Renata Vasconcelos, uma das locutoras da reportagem juntamente com Chico Pinheiro, soltou finalmente as trivialidades que não mais surpreendem aqueles mais antenados com as entrelinhas da mídia corporativa. A jornalista enfatizou, indignada, que a reitoria teria sido invadida “por causa de três estudantes que foram detidos porque estavam de posse de maconha”. E encerrou a reportagem com sutil torcida para que, se comprovado o vandalismo, os alunos sejam responsabilizados!

Fatos e versões fora do páreo

“Acreditar que alunos de uma das Faculdades mais importantes do país se mobilizaram numa ação que ganhou tamanha proporção por desejarem usufruir do direito ainda ILEGAL de fazer uso de MACONHA dentro do Campus me parecia inconcebível”. Assim se expressou uma aluna em um grupo de discussão de uma das muitas redes sociais que estão contribuindo para a visibilidade de uma versão que não encontra a mais mínima guarida nos veículos de maior circulação.  “Antigamente, o melhor aliado das manifestações sociais era a imprensa, agora é a internet, tudo tem que ir parar no You Tube”, avalia um outro aluno diante dos episódios.

Um estudante, talvez com a forte sensação de impotência decorrente da impossibilidade de ter voz, chegou até mesmo a fazer uma auto-entrevista e a divulgá-la pela rede, desbancando com muita sensatez os sensos comuns que estão imperando. Dentre as perguntas que redigiu, uma se referia à presença da PM no campus, um dos pontos mais polêmicos na discussão em pauta. À afirmativa de que a PM deveria sim estar presente no campus, como meio fundamental na manutenção da ordem, o estudante avalia que “PM não traz segurança nem fora do campus. Se PM é segurança, para que empresas de segurança privadas, fazendo ronda em bairros chiques? Para que seguranças particulares, cercas, alarmes, grades, carros blindados? Isso tudo em áreas policiadas. Além disso, a PM de São Paulo mata mais que todas as polícias dos EUA juntas. Muitas áreas têm menos problemas com segurança, mas são sempre bem iluminadas e cheias de gente - esse é o ponto. Alunos e professores já manifestaram soluções alternativas, como iluminação massiva e eficiente de todo o campus. O rapaz que morreu na FEA resistiu a um assalto e foi, sim, assassinado no campus. Mas, nota importantíssima: havia PM trabalhando dentro da USP naquele dia. De nada adiantou. Levar a PM em ações ostensivas por conta de furtos e roubos não faz sentido, ainda mais podendo evitá-los com uma guarda universitária concursada, com plano de carreira, treinada, em grande número, com ala feminina treinada para lidar com casos de abuso sexual e estupro”.

O estudante conclui sua resposta narrando que “a ação da PM está afinada com as ações políticas do reitor João Rodas em seu processo de privatização da Universidade. Não é lenda, não é mania de perseguição, não é inventado. Lutamos contra algo real aqui. Propostas de fechamento de cursos que não dão lucro, abertura de cursos pagos usando a infra-estrutura e os docentes da USP, tudo isso faz parte da privatização gradual - que também se manifesta nas terceirizações (que, aliás, no caso da guarda universitária, colabora com os sumiços de celulares, laptops etc.)”.
Quem se dá ao trabalho de ‘navegar’ por aí, e fugir, por pouco que seja, do noticiário do mainstream, vai perceber de fato uma profusão de visões profundamente dissonantes daquela que é bombardeada incessantemente pela mídia corporativa. São dezenas de estudantes, professores e intelectuais que, notoriamente ignorados nos noticiários de maior visibilidade, há anos avaliam temas essenciais afeitos à política universitária.

Com o sentido de reorganizar a universidade como campo efetivo de participação e decisão política, estes estudiosos vêm ressaltando que a direção e gestão dos processos decisórios na USP têm se mostrado incapazes de representar os segmentos diversos que compõem a universidade, e de lidar com a profusão de conflitos e movimentos sociais e políticos que emergem em seu seio. E isso não é de hoje. Conselho universitário, associações e distintos fóruns de discussão foram sendo esvaziados nos últimos anos, com o estreitamento e a centralização das instâncias de decisão. O governo do estado, por sua vez, dominado há mais de 20 anos pelo tucanato, jamais demonstrou sequer entender o que seja o conceito de autonomia universitária.

Por que a resposta policial se tornou a forma natural de reação? É a pergunta que já se fazia a filósofa Marilena Chauí em ato contra a presença da PM na USP, em 16 de junho de 2009, no anfiteatro da Geografia, na FFLCH, com presença de Antônio Cândido e de Maria Victoria Benevides. A resposta a esta pergunta está diretamente associada à falta de fóruns de discussão e debate, que faz com que, a cada manifestação de oposição, exigência e reivindicação, a única reação que se conheça seja aquela que ‘vem de cima’.

A prisão dos mais de 70 alunos que ocuparam a reitoria em ato de manifestação política – prisão que se deu em moldes bem distintos daqueles apregoados pelos veículos de comunicação dominantes, segundo relato de dezenas de estudantes - é um ataque frontal à liberdade nesta que se chama democracia representativa. Novamente, “governo do estado e reitoria entraram no jogo da radicalização, da violência e do acirramento do conflito, sem esforço de construção de uma estratégia política menos tosca, que efetivamente expressasse a vontade das maiorias, que não foram consultadas”, destaca a urbanista e professora da USP Raquel Rolnik em seu blog no dia 10 de novembro.

Tempos sombrios

Uma Comissão da Verdade que de verdadeira tem quase nada. Um deputado carioca que precisa sair do país para proteger sua vida, após bulir com os interesses de poderosos milicianos do Rio. Tropa de Choque da Polícia Militar na USP, prontamente seguida pela Tropa de Choque Midiática. Tempos sombrios estes que vivemos, em plena primavera nos Trópicos!

Com a palavra final, um estudante

“Ontem (dia 10 de novembro, no centro de São Paulo), éramos mais de 5000 demonstrando que não é uma minoria que se indigna na USP. Mas onde estavam as câmeras e agentes da TV que NÃO filmaram tudo ali? A grande mídia ordena o pensamento assim como o governador ordena à polícia invasões de favelas, massacres do Carandiru e invasões policiais no campus da USP. Disciplinam sua mente, brutalizam e ganham muito dinheiro e poder com isso...”.

Leia também:

Disputa pela reitoria da USP ignorou as questões essenciais ao ensino superior – Entrevista com Octaviano Helene, ex-presidente da Associação dos Docentes da USP.

Antonio Candido: USP trouxe revolução cultural e social – depoimento especial de Antonio Candido ao Correio da Cidadania

Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Marcio Pochmann: Como pode o mesmo trabalho receber a metade devido à terceirização?

por Marcio Pochmann, do Valor Econômico

Na virada do século XX, a avalanche neoliberal atingiu praticamente todos os países, cada um a seu modo. No âmbito do trabalho, por exemplo, o neoliberalismo atacou o desemprego gerado pela ausência do dinamismo econômico por meio da desregulamentação do mercado de trabalho.
Naquela época, difundiu-se equivocadamente que a solução única para o desemprego seria a ocupação da mão de obra com salário menor e direito social e trabalhista a menos. Ou seja, uma alternativa inventada que procurava substituir o desemprego pela precarização do trabalho.
No Brasil, a onda neoliberal a partir do final da década de 1980 não se traduziu em reforma ampla e profunda do marco regulatório do mercado de trabalho, ainda que não faltassem propostas nesse sentido. Mesmo assim, o fenômeno da terceirização da mão de obra terminou tendo efeito inegável, com remuneração reduzida à metade dos que exercem a mesma função sem ser terceirizados e rotatividade no posto de trabalho superior a mais de duas vezes.
Em síntese, a terceirização do trabalho ganhou importância a partir dos anos 1990, coincidindo com o movimento de abertura comercial e de desregulação dos contratos de trabalho. Ao mesmo tempo, a estabilidade monetária alcançada a partir de 1994 vigorou associada à prevalência de ambiente competitivo desfavorável ao funcionamento do mercado interno. Ou seja, baixo dinamismo econômico, com contida geração de empregos em meio à taxa de câmbio valorizada e altas taxas de juros. Frente ao desemprego crescente e de ofertas de postos de trabalho precários, as possibilidades de atuação sindical exitosas foram diminutas.
Atualmente, o trabalho terceirizado perdeu importância relativa em relação ao total do emprego formal gerado no Brasil, embora seja crescente a expansão absoluta dos empregos formais. Por serem postos de trabalho de menor remuneração e maior descontinuidade contratual, os empregos terceirizados atendem fundamentalmente à mão de obra de salário de base. Dessa forma, as ocupações criadas em torno do processo de terceirização do trabalho tendem a se concentrar na base da pirâmide social brasileira. O uso da terceirização da mão de obra tem se expandido fundamentalmente pelo setor de serviços, embora esteja presente em todos os ramos do setor produtivo.
Na passagem para o século XXI, o país perseguiu duas dinâmicas distintas na terceirização do trabalho. A primeira observada durante a década de 1990, quando a combinação da recessão econômica com abertura comercial resultou no corte generalizado do emprego. Na sequência da estabilização monetária estabelecida pelo Plano Real, que trouxe impacto significativo na redefinição da estrutura de preços e competição no interior do setor produtivo, o Enunciado 331 do Tribunal Superior do Trabalho estabeleceu os setores cabíveis à terceirização da mão de obra, concedendo segurança jurídica às empresas.
Nesse contexto, a taxa de terceirização registrou patamar inédito, passando de cerca de 10% do saldo líquido dos empregos gerados no estado de São Paulo no início da década de 1990 para mais de 90% no começo da década de 2000. Com salário equivalente à metade do recebido pelo trabalhador normal, os terceirizados avançaram sobre os poucos empregos formais gerados, sem que ocorresse redução da taxa total de desemprego – a qual saiu de 8,7%, em 1989, para 19,3%, em 1999, na Região Metropolitana de São Paulo.
Não obstante o apelo à redução do custo do emprego da força de trabalho estimulado pela terceirização, inclusive com o aparecimento de empresas sem empregados, em meio às condições da estabilidade monetária com altas taxas de juros reais e valorização do real, o sindicalismo reagiu evitando o mal maior. Mesmo diante de competição interempresarial mais acirrada, houve elevação da taxa de sindicalização, com avanço das negociações coletivas de trabalho e inclusão na legislação social e trabalhista.
A segunda dinâmica na trajetória da contratação de empregos formais ganhou importância a partir da década de 2000. Entre os anos de 2000 e 2010, a taxa de terceirização passou de 97,6% para 13,6% do saldo líquido de empregos formais gerados no estado de São Paulo. Nesse mesmo período, a taxa de desemprego caiu 28,5%, passando de 19,3%, em 1999, para 13,8%, em 2009, na Região Metropolitana de São Paulo. Apesar disso, o salário recebido pelo terceirizado continuou equivalendo apenas à metade daquele do trabalhador não
terceirizado.
Os sindicatos tiveram conquistas importantes, com maior organização na construção dos acordos coletivos de trabalho. A Justiça do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Emprego e Trabalho assumiram papel fundamental. Mas sem regulação decente da terceirização, parcela das ocupações permanece submetida à precarização no Brasil. Como pode o mesmo trabalho exercido receber somente a metade, por conta de diferente regime de contratação? Caso mais grave parece ocorrer no interior do setor público, que licita a contratação da terceirização da mão de obra pagando até 10 vezes mais o custo de um servidor concursado para o exercício da mesma função.
O país precisa virar a página da regressão socioeconômica imposta pelo neoliberalismo no final do século XX. A redução no grau de desigualdade na contratação de trabalhadores terceirizados pode ocorrer. Com a regulação decente a ser urgentemente estabelecida poderia haver melhor cenário para evitar a manutenção das enormes distâncias nas condições de trabalho que separam os empregados terceirizados dos não terceirizados.

Êta midia podre!!

Camaradas, tirei uma "folga" do trabalho e fiz um retiro longe da internet. Mas como chovia muito e acabei ficando em casa, numa praia, com meus filhos, companheira e amigos, não resisti e acabei ouvindo alguns programas das rádios de Porto Alegre. Gente, é de arrepiar...os "donos" dos programas batiam o tempo todo no Governo da Dilma, e do Tarso, aqui no RS.escutei um pouco de cada e somente apreciei mesmo foi o programa da beatriz Fagundes da Radio Pampa. Ela se mostra isenta, faz críticas contundentes ao governo municipal e estadual, embora se apresente como tendenciosa, pois diz que votou no Tarso e na Dilma, mas mantém a dignidade e leva muito "pau" dos ouvintes. Outro que  admiro muito pelos seus posicionamentos, tanto politicos quanto socias é o Juremir Machado da radio guaiba. O sujeito faz um programa junto a um "bando" de papagaios do PIG e consegue ser respeitado e manter suas opiniões...mas enfim, é isso que temos como instrumento de dominação cultural.
Portanto temos que fortalecer nossa midia alternativa, nossos blogs, serão nossas ferramentas de subversão, de contraponto e de gerador de consciência crítica.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Pastor Silas Malafaia “se fornicou”


Por Altamiro Borges

O excêntrico pastor Silas Malafaia bateu recordes no twitter na noite de ontem. Milhares de internautas aproveitaram para tirar uma casquinha de um suposto tropeço gramatical do midiático evangélico, que já virou motivo de chacota por suas constantes declarações preconceituosas e por suas posições políticas retrógradas, direitistas.

Em entrevista à revista Época, Malafaia destilou a sua ira – nada santa – contra Toni Reis, atual presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis (ABGLT). “Eu vou arrebentar o Toni Reis... Eu vou fornicar esse bandido, esse safado. Eu vou arrombar com esses...”, esbravejou o pastor, segundo registrou a publicação da famiglia Marinho.

#MalafaiaEscolheuFornicar

Diante da imediata reação dos internautas, Malafaia ainda tentou recuar. No seu twitter, ele retrucou o jornalista da Época que o entrevistou e garantiu que falou “funicar” e não fornicar. “Na linguagem vulgar, ‘funicar’ significa ‘ferrar’ o movimento gay”, esclareceu Malafaia. Pouco tempo depois, ele deletou o seu próprio tuíte. Mas o episódio grotesco já havia chegado às redes sociais.

Segundo informa o sítio Brasil 247, “tuiteiros levaram aos Trending Topics a hashtag #MalafaiaEscolheuFornicar. Afinal, não dá (sem trocadilhos) para deixar passar em branco os instintos mais primitivos da gramática de Malafaia. “Ele podia estar orando, mas #MalafaiaEscolheuFornicar”, brincou @LucasDcan. Teve até canção para o pastor: “Quero ver você não chorar, não olhar pra trás, nem se arrepender do que faaaaz... #CanteParaMalafaia”, ironizou @jufreitascs”.

Homofobia e outros preconceitos

A incontinência verbal do pastor decorre das crescentes críticas aos seus programas de TV. A ABGLT enviou aos órgãos ligados à defesa dos direitos humanos trechos de gravações em que Malafaia faz apologia à violência contra gays. A entrevista à Época só agrava a tensão – com ele “fornicando” ou “funicando”. Vale registrar que o vocábulo “funicar” não consta no dicionário Aurélio.

Silas Malafaia é realmente um personagem “exótico”. Suas posições homofóbicas e seus ataques rasteiros ao direito do aborto já renderam inúmeras críticas. No terreno político, o pastor da Assembléia de Deus Vitória em Cristo não esconde as suas posições direitistas. Na campanha eleitoral do ano passado, ele chegou a gravar vídeos hidrófobos contra a candidata Dilma Rousseff.

Apoio ao tucano José Serra

Num primeiro momento, Malafaia anunciou seu apoio à candidata, também evangélica, Marina Silva. Logo depois, ele apareceu na propaganda eleitoral do candidato tucano, José Serra. Justificou o seu apoio dizendo que Dilma Rousseff apoiava o aborto e o casamento de homossexuais. Na ocasião, levantou-se a denúncia, não comprovada, de que o pastor fora “comprado” pelo PSDB.

As denúncias contra Silas Malafaia, porém, não causam surpresa. O pastor já sofreu várias investigações por desvio de dinheiro e enriquecimento ilícito. Em 2007, por exemplo, ele foi investigado duas vezes pela Receita Federal e três vezes pelo Ministério Público Federal. Ele mesmo admitiu ter havido erro nas contas da sua igreja – não por culpa de dele, mas sim do “meu contador”.

Doações de R$ 40 milhões ao ano

A Assembléia de Deus Vitória em Cristo capta em oferta e doações de fiéis cerca R$ 40 milhões por ano. Seu programa evangélico é transmitido, com milionários custos, pela Rede TV, Band e CNT. Dublado em inglês, ele também atinge 200 países via satélite. O pastor afirma que não recebe da igreja e que vive do dinheiro de sua empresa, a Editora Central Gospel, cujo catálogo tem cerca de 600 títulos, entre livros (incluindo Bíblias), CDs e DVDs.

No ano passado, sua igreja comprou o jato Gulfstream III nos Estados Unidos por US$ 4 milhões. O avião tem autonomia para oito horas de vôo, doze lugares, sofá, cozinha e sistema individual de entretenimento. É um “favor de Deus”, conforme está escrito em inglês na sua fuselagem.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Eleições 2012 em Porto Alegre

Impasses ou brete do PT de Porto Alegre?


Não apoiar as pré-candidaturas de Raul Pont nem de Adão Villaverde e abrir mão da cabeça de chapa em favor de Manuela D’Ávila, do PCdoB, como quer o governador Tarso Genro, ou aliar-se com o PSD, recém-criado e sem definição ideológica, como admite o presidente municipal do PT, Adeli Sell que, aliás, retirou sua pré-candidatura, eis a questão colocada para o partido que já governou Porto Alegre por 16 anos seguidos e já exerceu controle hegemônico na política municipal.


Há, na verdade, uma terceira possibilidade, semelhante à primeira, com a diferença de que o PT ofereceria apoio ao atual prefeito José Fortunati, do PDT. Opção defendida por setores mais próximos da presidente Dilma Rousseff, mas com poucos simpatizantes entre os petistas de Porto Alegre.
Com vocação hegemonista forjada nas lutas pela afirmação da sigla durante os anos imediatamente pós-ditadura, quando o partido foi alvo de acusações partidas tanto da direita quando da esquerda tradicional, as “bases” petistas, ou seja, os militantes não detentores de cargos de direção partidária ou de governo, insistem na tese do lançamento de candidatura própria, mesmo que sem o apoio e coligação com outros partidos importantes.
Tarso se preocupa com a governabilidade e procura costurar uma aliança que garanta, ao mesmo tempo, a) uma base de apoio folgada na Assembleia Legislativa, com a presença e o voto do PCdoB (1 deputado) e do PSB (3 deputados) nos projetos e assuntos de interesse do governo do estado e sem hostilizar o PDT (6 deputados), e b) também o pagamento de uma dívida de apoio firmada na composição de sua chapa, quando o apoio destes dois partidos foi crucial para romper o isolamento político em que se encontravam o PT e sua candidatura.
Dilma, com a mesma preocupação de governabilidade, só que no plano federal, tem consciência de que o apoio ao PDT gaúcho é importante tanto para manter o equilíbrio na distribuição de cargos no seu governo quanto para conter o apetite pedetista no plano federal. Com peso restrito apenas ao Rio Grande do Sul e ao Rio de Janeiro, o PDT se contenta apenas com a reeleição em Porto Alegre, o apoio para a eleição de um ou outro prefeito no interior fluminense e, claro, a manutenção de Carlos Alberto Lupi no Ministério do Trabalho.
Tarso prefere o apoio à Manuela D’Ávila também porque seu partido é pouco estruturado no interior do Rio Grande do Sul, bem como em todo o Brasil, e, assim, ofereceria pouco perigo de acumular, a curto e médio prazo, força suficiente para alçar vôo próprio, fazendo mais prefeituras e arvorando-se a aventura de uma candidatura própria ao Palácio Piratini. Mesmo aliado ao PSB, a ameaça que poderiam apresentar ao PT e à reeleição de Tarso Genro seria frágil e sua possibilidade remota.
Além das alianças à direita, firmadas pela administração José Fogaça (PMDB) e mantidas pela administração José Fortunati, que a sucedeu, o apoio a Fortunati implicaria na possibilidade de reascender a força do PDT em Porto Alegre e, daí, para outras áreas do Rio Grande do Sul. Fortunati e seu partido poderiam, nos próximos quatro anos, acumular força suficiente para ousar enfrentar o PT e Tarso na reeleição ao Piratini.
A contabilidade indicaria que é melhor correr o risco de manter Manuela, o PCdoB e o PSB por oito anos à frente da Prefeitura de Porto Alegre do que dar asas a Fortunati e ao PDT durante os próximos quatro anos.
A pesquisa Kepeler/Sul21 sobre a avaliação da administração municipal de Porto Alegre e as intenções de voto em 2012, ainda que realizada a exato um ano do pleito, indicou que o PT teria hoje pouca chance de vitória, apresentando candidatura própria. Fortunati, mesmo com uma administração razoavelmente bem avaliada, não empolga os eleitores, que revelam almejar mudanças ainda que não radicais durante a próxima administração. Manuela, que aparece na pesquisa em empate técnico com Fortunati, mas um pouco à sua frente, já se revelou boa de partida, mas ruim de chegada. A falta de estrutura partidária impediu sua ida ao segundo turno do pleito em 2008 e constituirá grande empecilho para sua vitória em 2012.
A mesma pesquisa revelou que os candidatos petistas com maiores chances eleitorais em Porto Alegre são aqueles que já descartaram a possibilidade de concorrer. Maria do Rosário prefere se manter no corpo de ministros de Dilma Rousseff, almejando, quiçá, um ministério mais robusto na próxima reforma ministerial a se realizar no início do ano. Henrique Fontana já afirmou que priorizará a atenção ao filho em recuperação de um acidente automobilístico e à família, numa atitude de desprendimento e afeto.
Raul Pont e Adão Villaverde, deputados estaduais, o primeiro ex-prefeito e ex-vice-prefeito de Porto Alegre e o segundo atual presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, aparecem com baixos índices de intenção de voto. Pont, por sua trajetória no município, é mais conhecido que Villaverde, mas é também o mais rejeitado dentre todos os pré-candidatos testados. Villaverde, que nunca disputou cargo municipal em Porto Alegre, é pouco rejeitado, mas é também pouco conhecido.
Se não quiser se isolar e correr o risco de ficar fora da Prefeitura de Porto Alegre por quatro ou, talvez, por oito anos, o PT se vê diante da possibilidade de se aliar a um dos dois candidatos melhor posicionados na pesquisa Kepeler/Sul21 e em todas as demais pesquisas até aqui realizadas. Fica claro que se o PT ceder a cabeça de chapa e se aliar a um(a) candidato(a), qualquer que seja ele(a), será este candidato(a) o(a) que terá maior chance de vitória. O PT assumiria, assim, o papel de fiel da balança, o que lhe daria condições de exigir contrapartidas, sejam elas no plano de governo sem elas na composição das secretarias e órgãos de governo.
Frente a este quadro complexo, algumas perguntas ficam pendentes de resposta. Raul Pont e/ou Adão Villaverde teriam disposição de aceitar uma candidatura a vice-prefeito? Teriam as bases petistas flexibilidade para deixar de lado a postura hegemonista, que histórica e legitimamente têm assumido em Porto Alegre? Teriam as lideranças petistas força política suficiente para convencer o conjunto do partido a apoiar Manuela D’Ávila ou José Fortunati? Seria, por fim, mais aconselhável, ainda que aparentemente menos prudente, afrontar as evidências das pesquisas e as avaliações dos dirigentes e reafirmar, mais uma vez, a presença e o peso petista em Porto Alegre para tentar virar a mesa e ganhar a eleição?
Sair do impasse em que o PT se encontra hoje é o grande desafio. Uma decisão precipitada ou incorreta poderá levar o partido ao brete do matadouro político, perdendo ainda mais força em Porto Alegre e diminuindo ainda mais sua presença no município.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Editorial do Sul21: Expansão de vagas e matrículas no ensino universitário para além do corporativismo

Três matérias veiculadas ontem (7) pelo Sul21 se relacionam e merecem atenção especial dos leitores. O debate sobre a educação pública no Rio Grande do Sul, a entrevista com o presidente da Marcopolo S. A. e a notícia sobre o crescimento das matrículas no ensino universitário no Brasil. Recomende-se a leitura e o acompanhamento das três, mas destaquem-se aqui as duas últimas.


Depois de quase uma década de desmonte do ensino universitário público no Brasil, ocorrido durante o período FHC e baseado na idéia de que as instituições privadas poderiam substituir as públicas na tarefa de formar a elite intelectual e científica, renasce agora o ensino universitário público no país, com o crescimento do número absoluto de matrículas de estudantes universitários na rede privada e na pública.
Os dados do Censo da Educação Superior são alentadores, mostrando um crescimento de 7% no número de alunos matriculados em cursos de graduação no Brasil nos dois últimos anos e um aumento de 110%, considerando-se o período de 2001 a 2010. Entre 2008 e 2010 o crescimento das matrículas na rede pública de ensino universitário foi quase 300% superior ao  da rede privada. O Financiamento do Ensino Superior (FIES) e o Programa Universidade para Todos (PROUNI) possibilitaram, além disso, que as matrículas no ensino privado se mantivessem elevadas, por meio do financiamento público das mensalidades.
O Estado reassumiu, pois, finalmente, sua tarefa de formar os jovens brasileiros e de dotá-los de condições para promover o desenvolvimento do país e de sua população. Não se trata de coibir o ensino privado, mas de reconhecer que cabe ao Estado a tarefa de financiar e apoiar o ensino universitário e a pesquisa de ponta no país, irmãos siameses e indissociáveis. O ensino universitário de qualidade só é possível se acompanhado de altíssimos investimentos em pesquisa, cujo retorno, ainda que garantido, só ocorre a longo prazo e, portanto, é dificilmente assumido pela iniciativa privada.
Mesmo nos EUA, frequentemente citados como exemplo de país onde a educação e a pesquisa universitária são assumidas pela iniciativa privada, a maior parte das instituições de ensino e de pesquisa é pública. Naquele país, as instituições de ensino e pesquisa privadas são mantidas, não apenas pelas mensalidades pagas pelos alunos, mas também, em sua grande maioria, por doações de ex-alunos financeiramente bem sucedidos que, por gratidão e reconhecimento de sua importância para o desenvolvimento do país, destinam a elas quantias volumosas.
Além, entretanto, do regozijo com o crescimento das matrículas no ensino universitário brasileiro, um outro dado, contido também em matéria publicada na edição de ontem (07) do Sul21, merece reflexão.
Citado pelo presidente da Marcopolo S. A. e resumido ao final de sua entrevista, um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Empresarial da FIESP (IED) sobre a China dá conta de que, naquele país, existiam, em julho de 2009, 20,3 milhões de estudantes de graduação em um total de 2.618 instituições universitárias (1983 universidades públicas, 334 universidades não-públicas e outras 387 instituições públicas de ensino superior). Desta forma, considerando-se o número de estudantes universitários de graduação na China, verifica-se a existência de um número médio de 7.715 alunos por instituição de ensino superior. O mesmo cálculo aplicado ao Brasil, considerando-se os 6,3 milhões de alunos de graduação constatados pelo censo e as 2.377 instituições universitárias (públicas e privadas), resulta na existência de uma média de apenas 2.650 alunos por instituição universitária.
Fica clara a desproporção do número de alunos por instituição em cada um dos dois países citados. Na China, cada instituição de ensino superior acolhe, em média, mais do que o dobro das instituições brasileiras. Ressalte-se que este desequilíbrio não é encontrado apenas na comparação com a China, mas se evidencia na comparação com os países europeus e com os EUA. Para se ter uma idéia, uma turma de primeiro ano de engenharia em uma universidade pública alemã, um país que prima pela qualidade do ensino e que valoriza as áreas técnicas, acolhe hoje não menos do que 150 alunos, enquanto no Brasil o número de matriculados oscila entre 50 e 80 alunos por turma.
Um grande número de alunos por turma, mesmo que pareça elevado para os padrões brasileiros, é encontrado também na maioria das universidades européias e norte-americanas. Em um país com tanta escassez de recursos como o Brasil, o Ministério da Educação e o governo precisariam enfrentar com coragem esta questão. A visão elitista de boa parte dos dirigentes e professores universitários precisa ser enfrentada com determinação. Não serve de justificativa o discurso monocordiamente repetido de que a qualidade do ensino ficaria comprometida com um número maior de alunos por sala de aula. Se fosse assim, os alunos das grandes universidades do mundo, todas com ao menos o dobro de estudantes por turma do que no Brasil, seriam péssimos frente aos brasileiros. Não é o que ocorre.
Aumentar o número de alunos por turma nas universidades públicas brasileiras implicaria na necessidade de reformular radicalmente as carreiras universitárias, modificando as atribuições de cada categoria de docentes. Hoje, nada distingue os professores auxiliares dos professores titulares das universidades públicas federais e estaduais, a não ser os títulos que detêm e os salários que recebem. Suas atribuições, no entanto, são idênticas, tanto em termos das pesquisas que realizam quanto em termos das aulas e orientações que ministram.
Para ampliar o número de estudantes por turma, seria necessário reorganizar a carreira universitária de forma a expandir a carga horária para a docência, sem prejuízo da pesquisa e da produção científica da instituição. Nesta situação, os professores não poderiam dedicar-se na mesma proporção à docência, à pesquisa e à extensão, que se constituem nos pilares da atividade universitária.  O corporativismo, entretanto, faz com que, hoje, as carreiras se mantenham intocadas e o número de alunos por turma quase inalterável.
Com o mesmo número de docentes universitários hoje em atividade e com as mesmas instalações físicas e equipamentos hoje disponíveis, com certeza, seria possível ao menos dobrar o número de matrículas nas universidades públicas brasileiras. Fazer as reformas necessárias, entretanto, que economizariam recursos escassos e os fariam render mais satisfatoriamente, requer determinação e vontade política para enfrentar um corporativismo arraigado e que têm inúmeros e bem falantes defensores.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Movimento indígena fragmentado

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por Luis Ángel Saavedra desde Quito
Tradução: ADITAL


Comunidades Kichwas em Puerto El Carmen,
Sucumbíos, protestam pela militarização da
fronteira (Foto> Janet Cuji)

O governo nacional conseguiu fracionar as bases de diversos setores do movimento indígena equatoriano através da cooptação de vários de seus dirigentes, a quem nomearam como funcionários de alto nível; ou mediante acordos feitos com as bases indígenas à margem de suas organizações regionais e nacionais.
Por seu lado, os indígenas tampouco conseguiram articular uma plataforma de luta que enfrente o embate governamental, vinculando suas demandas históricas com os novos problemas que as comunidades enfrentam e nas quais o discurso do governo cada vez tem maior acolhida.
A mediados de setembro desse ano, a Confederação de Organizações Indígenas do Equador (Conaie) reuniu-se em Assembleia Geral na cidade de Bañops, situada na província central de Tungurahua. Dois temas preocupavam essa organização indígena: a nomeação de seu líder histórico, Ricardo Ulcuango, como embaixador na Bolívia e o acordo assinado entre o governo e a Federação Interprovincial de Centros Shuar (FICSH), pela qual o governo se compromete a realizar obras de infraestutura esportiva, viária e sanitária nas comunidades Shuar, enquanto que os compromissos da FICSH não são especificados nesse acordo.
Ulcuango foi vice presidente da Conaie e presidente da Confederação Kichwa do Equador (Ecuarunari) por duas ocasiões. Lidera uma das regiões indígenas com maior capacidade de mobilização, como é Cayambe, na serra norte, e por isso surpreendeu quando, no início de agosto, foi divulgada sua designação diplomática.
A Ecuarunari reagiu e decidiu, em 17 de agosto, expulsá-lo dessa organização. O líder indígena não aceitou a decisão e questionou a atual direção, a quem acusou de aliar-se com a direita e de não entender o processo de mudança vivida no país e de ter-se separado de suas bases.
"Os dirigentes estão longe de sentir as bases; longe de suas necessidades reais”, disse Ulcuango durante a cerimônia de posse de seu cargo de embaixador, realizada em Cayambe, no dia 16 de agosto de 2011.
Ulcuango não é o único dirigente indígena destinado ao serviço no exterior; em setembro passado foi designado a Segundo Andrango, de Cotacachi, província de Imbabura, como novo embaixador em El Salvador. Esse dirigente é pai de Luis Andrango, presidente da Confederação Nacional de Organizações Camponesas, Indígenas e Negras (Fenocin), organização aliada ao governo; porém, que se estava mostrando crítica em temas como a lei de águas, a lei de mineração e a de soberania alimentar, por considerar que são leis elaboradas pelo governo sem consensos com os movimentos sociais e com os usuários das bacias hídricas. A Fenocin voltou a respaldar incondicionalmente ao govenro.

Aproximação com o governo

Francisco Shiki, presidente da FICSH, justificou o acordo assinado com o governo.
"Em vista de tantos discursos vazios, de opositores débeis, como FICSH tomamos a decisão coletiva de sustentar um diálogo e um convênio em benefício das comunidades Shuar”, afirmou, no Congresso da Conaie, em Baños, ao mesmo tempo em que ameaçava com um processo de revocatória do mandato das autoridades Shuar de eleição popular, como Marcelino Chumpí, prefeito de Morona Snatinago, província amazônica de maior população Shuar, e à assembleísta dessa mesma província, Diana Atamaint, caso se oponham a esse acordo.
Apesar dos questionamentos das outras federações indígenas, a FICSH manteve sua posição na Assembleia da Conaie. "Como povo, temos que ser beneficiados com todos os programas de governo”, afirmou Galo Puanchir, vice presidente da FICSH. "Os povos não vivem de discursos, de palavras, mas de ações concretas”.
A decisão da FICSH dividiu a Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazônia (Confeniae), organização regional amazônica pertencente à Conaie, pois seu presidente, Tito Puanchir, também de nacionalidade Shuar, decidiu respaldar o convênio assinado, enquanto que a nacionalidade Kichwa o questionou.
"A Confeniae pedirá que a Conaie formalize o diálogo com o governo”, assegurou, na Assembleia Galo Puanchir; porém, suas declarações foram rechaçadas pelos dirigentes da Federação de Organizações da Nacionalidade Kichwa de Sucumbíos, Equador (Fonakise).
Os Shuar e os Kichwa amazônicos são as duas maiores nacionalidades representadas na Confeniae. Qualquer desacordo entre elas imobiliza essa organização, pois as outras nacionalidades amazônicas são muito débeis para solucionar problemas em um conflito interno de sua organização regional.
A Assembleia da Conaie não pode dar uma resposta a esses problemas e se limitou a reivindicar sua luta histórica pela construção do Estado Plurinacional, o exercício do direito à consulta prévia, a defesa da água e dos territórios. Além de expressar sua solidariedade com as lutas locais das organizações indígenas. Da mesma forma que em ocasiões passadas, a Assembleia concluiu fazendo um chamado a todas as organizações sociais para unir-se em uma "Marcha Nacional pela construção das verdadeiras mudanças profundas no país”, como afirma o Comunicado Final, sem, contudo, marcar a data da realização da marcha.
Para a líder indígena amazônica Mónica Chuji, a aceitação da proposta governamental em setores indígenas obedece a que o movimento indígena não tem podido articular suas demandas históricas com os novos temas que preocupam as comunidades.
"O emprego, a migração, a produção agrícola e as formas de comércio, a educação e a saúde são temas que devem ser incorporados no debate das organizações indígenas e, enquanto isso não seja feito, o governo terá um espaço para ganhar a confiança das comunidades e dividir as organizações”, afirma Chuji.

O Estado de Bem Estar

A proposta governamental é muito mais concreta para as comunidades indígenas e daí o distanciamento com seus dirigentes, pois a oferta do governo pode ser vista e medida, uma vez que é material; enquanto que o discurso de reivindicação indígena tem se repetido por anos e, apesar dos avanços constitucionais alcançados, para as comunidades indígenas não se materializa em resultados tangíveis.
"A Constituição contem uma parte da normativa que o movimento indígena propôs durante anos; porém, essa nova normativa parece não ter um benefício concreto para as bases indígenas porque não se identificou com a forma de vida diária das comunidades”, diz Chuji.
O governo, por outro lado, aparece com um discurso de bem estar geral que tem grande acolhida em setores vulneráveis da sociedade, como são os indígenas. Assim o afirmou Nelson Reascos, decano da Faculdade de Sociologia da Universidade Católica de Quito. Esse discurso se refere a investimento social homogêneo (educação, saúde, habitação etc.) como fonte de bem estar geral. Sem considerar a diversidade social ou a aquisição dos recursos econômicos necessários com base na depredação da natureza.
"O discurso do bem estar, baseado na oferta de maiores serviços sociais, como mais casas, mais escolas, mais hospitais”, sustenta Reascos. "É um discurso assimilável por todos, enquanto que o discurso da plurinacionalidade é um enigma para as pessoas mais simples”.
Para Reascos, o discurso do bem estar geral encerra um perigo, pois se entende por bem estar a uma forma de sociedade homogênea com benefícios iguais, o que contradiz o direito à diversidade.
"Para alcançar o bem estar geral tudo é válido, desde atingir o direito das comunidades a viver sua própria cosmovisão até a depredação da natureza, passando pela repressão aos que não pensam igual”, indica Reascos.
Chuji manifesta que "articular uma nova resistência, que pressione ao governo a cumprir em sério o mandato constitucional implica articular um novo discurso que coordene as demandas históricas do movimento indígena com as novas dinâmicas sociais, pois é necessário dar respostas às necessidades das novas gerações indígenas”.
Enquanto esse debate não é assumido por seus dirigentes nacionais, as comunidades indígenas começaram a mobilizar-se por demandas locais, como a oposição aos danos ambientais provocados pela indústria petroleira em Sucumbíos e Orellana, a declaratória de bosque protetor e a militarização em zonas de fronteira, a ausência de investimentos sociais em setores rurais da costa equatoriana, e, inclusive, a luta antimineração e a defesa da água.
Esses pequenos brotes de resistência são ignorados pelo governo, como o protesto contra a contaminação petroleira que desde o dia 25 de setembro mantém os habitantes fronteiriços do Triángulo de Coembí, na fronteira com a Colômbia e com o Equador da província de Sucumbíos, ou são deslegitimados, como acontece com a autoconsulta que fizeram os habitantes de Kinsakocha, na província de Azuay, na qual decidiram opor-se majoritariamente à mineração.
Entretanto, a fragmentação dos dirigentes indígenas e a ausência de uma agenda nacional que incorpore as demandas das comunidades continuarão alimentando a capacidade de penetração que o governo tem nas bases das organizações indígenas.

Como identificar e tratar trolls e seus “parentes”


Como parar de se importar com os trolls e seguir a vida

por Whitson Gordon, em Gizmodo Brasil

Você os vê em todo lugar que vai na internet: usuários anônimos que nunca têm nada a dizer além de comentários grosseiros, mal-educados e fora do assunto, cujo único propósito é te deixar com raiva. A única cura é parar de se importar, mas isso nem sempre é fácil na prática. Vejamos algumas dicas.
A palavra “troll” enquanto verbo da língua inglesa, deriva de uma técnica de pesca que consiste em jogar uma isca na esperança de fisgar um peixe – que é exatamente o que os trolls de internet fazem. Eles usam frases grosseiras e outras técnicas para tentar “fisgar” alguém, o que acontece quando a pessoa fica irritada e responde. O único objetivo deles é te irritar, assim como o seu irmão fazia quando te cutucava sem parar ou repetia tudo o que você dizia. Eles frequentemente se associam a pessoas poderosas para sentirem-se também mais poderosos.
A atividade de trollar na internet começou nos newsgroups da Usenet há muito tempo, mas hoje eles estão por todos os lugares. Fóruns, YouTube,  blogs, Twitter, Facebook. O problema é que atualmente todos nós estamos sujeitos aos trolls. Isso significa que ignorá-los se torna cada vez mais difícil, já que você tende a estar mais emocionalmente investido nas coisas que diz, e também que eles têm muito mais mídias por onde atacar. Estas são algumas das coisas que podem te ajudar a criar uma resistência aos trolls e parar de se preocupar com o que os malditinhos estão dizendo na internet.

A regra de ouro: não alimente os trolls

Você provavelmente já ouviu essa frase diversas vezes. Ela é a regra fundamental de participação em qualquer comunidade on-line, e não sem razão. Ignorar é e sempre foi, definitivamente, a melhor estratégia. A maioria dos trolls se alimenta do confronto – afinal, seu objetivo único é chamar atenção –, por isso, quanto menos atenção você der a eles, melhor. Se você estiver em um ambiente que tenha estas funções, dê uma avaliação negativa ao comentário, denuncie e/ou bloqueie, depois siga com a sua vida.
É extremamente tentador, mas resista à vontade de responder. Não responda nem mesmo para desmascará-lo como um troll. Mesmo um comentário simples como “favor, pare” ou “vá embora, troll”, chama mais atenção para os comentários dele, engordando a “conversação”, ou mesmo, no caso dos fóruns, mover o tópico para o topo. Se um troll olha para o seu computador um pouco depois e não vê nenhuma resposta, ele vai procurar chamar atenção em outra freguesias. Demonstrar para ele que você pode ser fisgado, mesmo de leve, é pedir para sofrer mais.

Eles não estão atacando você, mas sim o tédio

Uma das maneiras mais fáceis de identificar um troll é pela sua completa falta de razão. Eles são ofensivos de propósito e sem motivo, apenas para causar uma reação em você, em vez de defenderem um ponto de vista genuíno com argumentos relevantes. Nas suas frases, você perceberá uma atitude forte de “eu estou certo e todo o resto do mundo está errado”. Chris Shiflett, do Swiss Miss, explica melhor do que eu:
“A lição que eu aprendi é estar atento com aqueles que se orgulham de não gostar de algo. Os que pensam que criticar é igual a ter bom gosto. Estas pessoas raramente têm bom gosto, então as opiniões delas não importam.
Então, lembre-se: mesmo que o que você tenha feito não seja a melhor coisa do mundo, quem não conseguir falar isso sem um mínimo de simpatia, quem parecer se orgulhar de criticar você, essas pessoas têm opiniões que não importam. Pode muito bem ser o caso de você ter criado uma obra de arte, e eles serem apenas moleques”.
Ele diz que não é necessária nenhuma sofisticação para ser um crítico escroto, e está completamente certo – se não há nada de valor em uma frase, você não deveria dar a esta frase valor nenhum. Não deixe os “haters” te afetar; eles estão raivosos porque estão entediados e sem o que fazer, não porque você tenha feito algo mal feito.

Eles não valem a energia gasta brigando contra eles

No fim das contas, você realmente precisa gastar a sua energia se preocupando com o que meia dúzia de desocupados estão falando sobre você? Não. O blogueiro Scott Stratten explica o conceito de “moeda emocional” e como ele se relaciona com o trato com os trolls:
“Em resumo, você tem uma quantidade limitada de emoção. Ela deve ser gasta com pessoas que a valorizam, que valorizam você, não com um moleque qualquer que está revoltado por qualquer outro motivo e desconta em estranhos na internet. Há muitas pessoas que valorizam muito mais o investimento do seu tempo”.
Só porque a internet está cheia dessas pestes, não significa que ela não esteja cheia de pessoas incríveis também. O tempo que você passa alimentando trolls com as suas respostas é um tempo que você poderia estar gastando tendo discussões importantes com pessoas melhores, ou mesmo fora da internet. Você quer mesmo gastar a sua energia em algo que não traz absolutamente nada de bom?

Aprenda a rir da situação

Uma atitude positiva pode te fazer suportar quase tudo. Apesar de ser possível aprender a se segurar para não responder aos trolls, é quase impossível ignorá-los completamente — mesmo que você tome atitudes para destrollizar a sua internet. A melhor estratégia para manter a sua sanidade intacta é aprender a ter um senso de humor a respeito disso. Pode ser um pouco insensível te aconselhar a simplesmente ficar mais casca grossa, mas o fato é que funciona. Susannah Breslin, uma colaboradora da Forbes, disse uma vez: “se te baterem com frequência na cabeça, você para de sentir”. É bem verdade. Lembre-se que se você é trollado com uma frequência maior, isso significa que as pessoas estão te percebendo em uma posição de poder maior também. Alguma coisa certo você está fazendo.

Como responder, quando você responder

Eu recomendo que você não responda trolls nunca, em hipótese alguma, mas se você acabar fazendo isso, pode tentar evitar a discussão em si. Se você usar a bondade contra eles, vai confundi-los com maior facilidade. O desenvolvedor de software Shlomi Fish explica como, usando o exemplo de um troll que critica uma linguagem de programação em um fórum:
É bem simples:
1. Pergunte a ele o que ele quer dizer:
2. Concorde com ele (usando linguagem mais suave):
Isso fará o troll perder um pouco do gás e quem sabe até se identificar com você.
Alguns podem discordar deste método – eu pessoalmente acho que é melhor ignorar e pronto –, mas se você já estiver preso em um argumento com um deles, pode tentar essa estratégia de ser legal com ele, tal qual um Ursinho Carinhoso, para escapar.

Aprenda a diferenciar críticas construtivas de trollagens

Por último, é importante mencionar que, como eu disse antes, há alguns casos em que alguém pode ser grosseiro e te criticar fortemente, mas fazer isso não por maldade, apenas por falta de tato. Se você conseguir extrair algo de construtivo, ou argumentos válidos, daquele comentário pode valer a pena responder. Ser desagradável não é exatamente a mesma coisa que ser um troll (apesar de todo troll ser desagradável), então às vezes pode ser o caso de dar um voto de confiança para alguém antes de decidir ignorá-lo completamente. Ele pode estar apenas escolhendo as palavras erradas para te criticar construtivamente.
Isso exige um tanto de prática e condicionamento, mas o objetivo principal é simplesmente parar de se importar tanto com o que os outros pensam, especialmente aqueles que não têm nada de útil para oferecer. Se você tiver mais dicas para lidar com trolls, seja na internet ou na vida real, compartilhe com a gente nos comentários.

domingo, 6 de novembro de 2011

Mundo ao reverso...texto de Eduardo galeano

Racismo contra grupo de Estudantes Negros da Universidade Federal de Santa Maria por Vigilante

Racismo de seguranca Universidade santa maria UFSM
Toda vez que nós estudantes negros nos reunimos para discutir determinados assuntos ou até mesmo conversar entre nós no campus da universidade, somos observados por pessoas e especialmente pela segurança que chega perto para ver, ouvir e vistoriar o que estamos fazendo.
Na quarta feira, por volta das 18:30 estávamos lendo e debatendo o que seria importante dar ênfase no evento. Havia outros grupos próximos a nós, mas sofremos a mira dos olhares oblíquos das pessoas que as vezes se discara.
Chegam, próximos a nós, dois colegas que foram nos cumprimentar e na saída um deles caminhando de costas e falando conosco tropeça e cai por cima de um carro estacionado no campus da universidade. Seguindo a linha de tratamento dela para conosco e a falta de respeito, ela grita a metros de distancia como se o rapaz, também negro fosse um ladrão, este por sua vez permaneceu parado. Ela também estava parada há muito tempo apenas nos observando com dois homens que se identificam como dono do carro e sobrinho deste.
Ela permanece gritando e caminha em direção a nós como se tivéssemos cometido algum crime.O rapaz prontamente se identifica, fornece seu endereço e se dispõe a pagar a antena quebrada. A vigilante não identificada por crachá permanece a coerção grita e abusa de seu poder. Falamos que ela não tinha o direito de assim agir visto que ela era vigilante da universidade e aquele carro não era patromônio. O rapaz que havia tropeçado ja havia pedido desculpas e se comprometido a pagar a antena.
Eles, ao contrário, não haviam se identificado. Não disseram nomes apenas o senhor confirmou o que a vigilante disse sobre ser pai de aluno da universidade. O que de fato não faria do carro dele um patrimônio da mesma. Após sair os dois estudantes, o negro que tropeçou e a testemunha, um rapaz branco o único que ela não ofendeu e não apontou. Continuamos lendo o texto e ela nos mirando de longe como já fazia.
Pouco tempo depois ela volta com o "sobrinho do dono do carro" e fica parada próximo a nós e fica fazendo ameaças para que escutássemos. Disse que se ele não pagasse para falar com ela que ela daria um jeito. Que chamaria a brigada militar para entrar aqui na faculdade. Dissemos que o assunto já tinha sido resolvido e que não era necessário a entrada da Brigada Militar, e que inclusive ela poderia entrar no espaço da Universidade.
A segurança responde que ela pode chamar quem ela quiser e que se fosse de sua vontade os militares entrariam na universidade e resolveriam o problema, pois na UFSM era ela quem mandava. Em todo momento ela estava com a mão na arma e no cassetete para nos intimidar. Dissemos que ela era segurança que não era policial e que deveria saber a diferença entre ambos.
Falamos que eramos estudantes que aquilo era um absurdo, abuso de poder e ela disse que nós não pareciamos estudantes, que não deveriamos estar na universidade e que não tinhamos cara de estudante. Haviam vários grupos tomando mate, pessoas de fora da universidade levando cachorro pra passear no campus e nós não tinhamos cara de estudantes?
Porque nós o único grupo só de negros, com livros e Notebooks não tínhamos cara de estudantes? A segurança permaneceu nos coagindo quando o então "sobrinho do dono do carro" disse que bateria em uma das membras da associação, para que essa se cuidasse, que ele o pegaria lá fora da universidade.
A vítima da ameaça indaga a segurança "ele me ameaça dentro da faculdade e a senhora não vai fazer nada?" A vigilante responde: tu merece, tu que começou. Resolvemos, depois da saída deles que deveriamos ir a policia prestar queixa. Ao sair sempre havia um carro da segurança atrás de nós ou um segurança olhando e seguindo a gente e passando informação no rádio. Entramos e saímos da universidade, não conseguimos registrar queixa na polícia mais próxima.

Dia 3 de novembro

Fomos seguidos desde o café da manhã, dentro do Restaurante Universitário até próximo ao meio-dia, quando estávamos aguardando uns aos outros para almoçar. A vigilante e até mesmo o que não estava envolvida no dia anterior, se mantinham parados ao nosso lado e nos encaravam a todo tempo. No almoço a vigilante racista sentou próxima a nossa mesa e quando saímos ela fez questão de passar o rádio . Ao sair do restaurante universitário já havia segurança atrás de nós novamente. Encontramos amigos próximo ao caminho de casa que estão preocupados com isso, eles viram como estamos sendo perseguidos e se colocaram a disposição para testemunha. Uma das membras da associação tinha aula às 13:30 no prédio 17 - um pouco distante da Casa do Estudante, uma amiga [branca] a levou até lá e testemunhou que foi seguida até o prédio. Quando sai da aula havia três vigilantes me esperando.