quinta-feira, 17 de novembro de 2011

John Pilger: O filho da África reclama as joias da coroa



Barack Obama conduz os EUA à cabeça de um grupo de países ocidentais que disputam a primazia no saque dos recursos de África. E qual é o seu objetivo principal? Cercar a China, que está sedenta de matérias-primas.

Por John Pilger, em ODiário.info


Em 14 de outubro, o presidente Barack Obama anunciou o envio de forças especiais dos EUA para Uganda a fim de tomar parte na guerra civil nesse país. Nos próximos meses, tropas de combate norte-americanas serão enviadas para o Sudão do Sul, o Congo e a República Centro-Africana. Vão “envolver-se” apenas “para se defenderem”, refere Obama em tom satírico. Com a Líbia segura, uma invasão norte-americana do continente africano está a ser preparada.

A imprensa refere-se à decisão de Obama como “muito invulgar”, “surpreendente”, até mesmo “bizarra”. Não é nada disto. É a lógica da política externa dos EUA desde 1945. Por exemplo, o Vietnã. A prioridade era impedir a alegada influência da China, um rival imperialista, e “proteger” a Indonésia, a que o presidente Richard Nixon chamou “o mais rico tesouro de recursos naturais da região … o maior prêmio”. O Vietnã meteu-se no caminho; o massacre de mais de três milhões de vietnamitas e a devastação e o envenenamento da sua terra foram o preço a pagar para os EUA atingirem o seu objetivo.

Em todas as subsequentes invasões norte-americanas, num rastro de sangue que se estende desde a América Latina até o Iraque e o Afeganistão, a justificação foi a de que estavam a “defender-se”, ou por razões “humanitárias”, palavras que logo perderam o significado que lhes dá o dicionário.

Guerra por procuração

Na África, afirma Obama, a “missão humanitária” consiste em ajudar o governo de Uganda a derrotar o Exército de Resistência do Senhor (ERS), que “assassinou, violou e raptou dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças na África Central”. Esta é uma descrição exata do ERS, que evoca múltiplas atrocidades administradas pelos EUA, tais como o banho de sangue que se seguiu, nos anos 1960, ao assassinato, orquestrado pela CIA, de Patrice Lumumba, líder independentista e o primeiro a ser legalmente eleito primeiro-ministro do Congo, e ao golpe da CIA que instalou no poder Mobutu Sese Seko, considerado o mais corrupto tirano de África.

A outra justificação de Obama é também risível. Trata-se, segundo ele, da “segurança nacional dos EUA”. O ERS vem praticando desde há 24 anos os seus atos deploráveis. Hoje, tem menos de 400 guerrilheiros e nunca esteve tão enfraquecido. Contudo, a expressão “segurança nacional dos EUA” normalmente significa comprar um regime corrupto e canalha que possui qualquer coisa que Washington pretende. O “presidente vitalício” de Uganda, Yoweri Museveni, está já a receber a maior parte dos US$ 45 milhões em “ajuda” militar dos EUA, incluindo os drones de que Obama tanto gosta. Este foi o preço que ele pagou para combater uma guerra por procuração contra o último inimigo-fantasma islâmico dos EUA, o bando al-Shabaab, sediado na Somália. O ERS irá desempenhar um papel de relações públicas, distraindo os jornalistas ocidentais com as suas constantes histórias de terror.

Contudo, a razão principal para os EUA invadirem a África não é diferente da que deu origem à guerra do Vietnã. Trata-se da China. No mundo da paranoia autoinfligida e institucionalizada, que justifica o que o general David Petraeus, antigo comandante do Exército dos EUA e atual diretor da CIA, chama de estado de guerra perpétuo, a China substitui a al-Qaeda como “ameaça” oficial.

Quando entrevistei Bryan Whitman, secretário de Estado adjunto da Defesa, no Pentágono no ano passado, perguntei-lhe quais eram os perigos atuais para os EUA. Visivelmente incomodado, repetia: “são ameaças assimétricas … ameaças assimétricas”. Estas justificam os conglomerados de armas patrocinados pelo Estado e a lavagem de dinheiro, e o mais elevado orçamento militar e de guerra na história. Com Osama Bin Laden eliminado, chegou a vez da China.

A África é a história do sucesso chinês. Os norte-americanos levam drones e a desestabilização onde os chineses constroem estradas, pontes e barragens. O que estes pretendem são recursos naturais, em especial combustíveis fósseis. Com as maiores reservas de petróleo da África, a Líbia de Kadafi era um dos maiores fornecedores de petróleo à China. Quando rebentou a guerra civil e a Otan apoiou os “rebeldes” com recurso a uma história inventada sobre um “genocídio” que estaria a ser planejado por Kadafi em Bengazi, a China retirou os seus 30 mil trabalhadores da Líbia. A subsequente resolução do Conselho de Segurança da ONU que permitiu a “intervenção humanitária” das potências ocidentais foi sucintamente explicada numa proposta apresentada ao governo francês pelo Conselho Nacional de Transição “rebelde”, revelado no mês passado no jornal Libération, em que se ofereceu à França 35% da produção bruta de petróleo da Líbia “em troca” (foi o termo utilizado) do apoio “total e permanente” dos franceses ao Conselho Nacional de Transição. À frente dos interesses norte-americanos na “libertada” Trípoli, o embaixador dos EUA Gene Cretz reconheceu: “sabemos que o petróleo é a joia da coroa dos recursos naturais da Líbia”.

O domínio mundial

A real conquista da Líbia pelos EUA e seus parceiros imperialistas anuncia uma versão contemporânea da “Partilha da África” dos finais do século 19. Tal como na “vitória” a que chegaram no Iraque, também aqui os jornalistas desempenharam um papel fundamental na distinção entre vítimas válidas e não válidas. Uma primeira página recente do Guardian trazia uma fotografia de um aterrado combatente “pró-Kadafi” e dos seus captores de olhar selvagem que, de acordo com a legenda, “festejam”. De acordo com o general Petraeus, temos agora guerras “de percepção … levadas a cabo continuamente através da mídia”.

Durante mais de uma década, os EUA tentaram estabelecer um comando no continente africano, o Africom, mas este foi recusado pelos governos receosos das tensões regionais que iria causar. A Líbia, e agora Uganda, o Sudão do Sul e o Congo representam a grande oportunidade. Como demonstram o Wikileaks e a Estratégia Nacional Contra o Terrorismo, os planos dos EUA para a África são parte de um plano global de acordo com o qual 60 mil soldados de forças especiais, incluindo esquadrões da morte, operam em 75 países. Como disse o então secretário da Defesa Dick Cheney, nos anos 1990, os EUA querem simplesmente mandar no mundo.

Que este seja agora o dom de Barack Obama, o “filho da África”, é de uma ironia suprema. Mas será mesmo? Como explicou Frantz Franon em Pele Negra, Máscaras Brancas, o que conta não é tanto a cor da pele mas o poder que se serve e os milhões de pessoas traídas.

Do capital ao social

Por Frei Betto no GRABOIS.ORG
 
O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, calcula que, em 2010, através de programas sociais, o governo federal repassou a 31,8 milhões de brasileiros - a maioria, pobres - R$ 114 bilhões. Ao incluir programas de transferência de renda de menor escala, o montante chega a R$ 116 bilhões.
Este valor é mais que o dobro de todo o investimento feito pelo governo no mesmo ano - R$ 44,6 bilhões, incluindo construção de estradas e obras de infraestrutura. Os R$ 116 bilhões foram destinados à rede de proteção social, que abarca aposentadoria rural, seguro-desemprego, Bolsa Família, abono salarial, Renda Mensal Vitalícia (RMV) e Benefício de Prestação Continuada (BPC). Esses programas abocanharam 3,1% do PIB.
A RMV, criada em 1974, era um benefício previdenciário destinado a maiores de 70 anos ou inválidos, definitivamente incapacitados para o trabalho, que não exerciam atividades remuneradas, nem obtinham rendimento superior a 60% do valor do salário mínimo. Também não poderiam ser mantidos por pessoas de quem dependiam, nem dispunham de outro meio de prover o próprio sustento.
Em janeiro de 1996, a RMV foi extinta ao entrar em vigor a concessão do BPC. Hoje, a RMV é mantida apenas para quem já era beneficiário até 96. Já o BPC é pago a idosos e portadores de deficiências comprovadamente desprovidos de recursos mínimos.
Há quem opine que o governo federal “gasta” demais com programas sociais, prejudicando o investimento. Ora, como afirma Lula, quando o governo canaliza recursos para empresas e bancos, isso é considerado “investimento”; quando destina aos pobres, é “gasto”...
O Brasil, por muitas décadas, foi considerado campeão mundial de desigualdade social. Hoje, graças à rede de proteção social, o desenho da pirâmide (ricos na ponta estreita e pobres na ampla base) deu lugar ao losango (cintura proeminente graças à redução do número de ricos e miseráveis, e aumento da classe média).
Segundo o Ipea, entre 2003 e 2009, 28 milhões de brasileiros deixaram a miséria. Resultado do aumento anual do salário mínimo e da redução do desemprego, somados ao Bolsa Família, às aposentadorias e ao BPC.
A lógica capitalista considera investimento o que multiplica o lucro da iniciativa privada, e não o que qualifica o capital humano. Essa lógica gera, em nosso mercado de trabalho, a disparidade entre oferta de empregos e mão de obra qualificada. Devido à baixa qualidade de nossa educação, hoje o Brasil importa profissionais para funções especializadas.
Se o nosso país resiste à crise financeira que, desde 2008, penaliza o hemisfério Norte, isso se deve ao fato de haver mais dinheiro em circulação. Aqueceu-se o mercado interno.
Há queixa de que os nossos aeroportos estão superlotados, com filas intermináveis. É verdade. Se o queixoso mudasse o foco, reconheceria que nossa população dispõe, hoje, de mais recursos para utilizar transporte aéreo, o que até pouco tempo era privilégio da elite. Há, contudo, 16,2 milhões de brasileiros ainda na miséria. O que representa enorme desafio para o governo Dilma. Minha esperança é que o programa “Brasil sem miséria” venha resgatar propostas do Fome Zero abandonadas com o advento do Bolsa Família, como a reforma agrária.
Não basta promover distribuição de renda e facilitar o consumo dos mais pobres. É preciso erradicar as causas da pobreza, e isso significa mexer nas estruturas arcaicas que ainda perduram em nosso país, como a fundiária, a política, a tributária, e os sistemas de educação e saúde.
 
Frei Betto é escritor, autor de Sinfonia Universal – a cosmovisão de Teilhard de Chardin (Vozes), entre outros livros.

A LITERATURA SOVIÉTICA COM VENIAMIN KAVERIN: OS DOIS CAPITÃES

Copiado do blog da MILU



O mercado editorial brasileiro tem lançado boas obras da literatura russa, mas existe, ainda, uma enorme lacuna, principalmente no que concerne à literatura soviética, que legou grandes obras, obras geniais e que são completamente desconhecidas  - ou quase - por aqui. Podemos citar "O Don Silencioso", fantástico romance de Mikhail Cholokhov. Desconheço edição desta obra em português do Brasil, só sendo encontrado (e quando o é) em edição portuguesa, mesmo assim, maior parte das vezes, em sebos. Tem, ainda, a obra de Ilf e Petrov, com seu clássico "As doze Cadeiras", seguido de "O bezerro de ouro", isto para não citar outros, como Zamiatin (Nós), "Casamento Por Interesse", de Mikhail Zoschenko, além de um dos maiores clássicos desta literatura: "Os Dois Capitães, de Veniamin Kaverin. Estes dois últimos só são encontrados em espanhol e, o de Kaverin, apenas nos sebos. Realmente, não dá mesmo para compreender, tendo em vista a qualidade das obras citadas. 
Como já fiz posts em relação aos outros títulos citados(excetuando-se o de Zoschenko), hoje é a hora e a vez de Kaverin.: "os dois capitães" é seu melhor romance, assim reconhecido, inclusive, por ele mesmo na introdução do livro,escrito entre 1938 e 1944. Esta obra é muito conhecida tanto na Rússia, quanto nas antigas repúblicas soviéticas, sendo considerada mesmo um dos maiores clássicos da literatura da antiga URSS. Muito premiado em seu país, o romance conta a história do jovem russo Aleksandr Grigóriev,desde sua infância na Rússia czarista, passando pela Revolução Bolchevique e indo até a Segunda Grande Guerra.  
O epicentro é a busca de Aleksandr pelas terras geladas do norte, onde se perdeu a expedição do capitão Ivan Tatárinov, pai de Katya. Grigóriev tomou conhecimento desta expedição através de cartas que sua tia achou dentro de uma pasta, possivelmente perdida por algum carteiro afogado, boiando em um rio de sua aldeia natal. O menino cresce ouvindo sua tia ler as cartas e, algumas, ele guardou de cor na memória para sempre.
Seu tema prende o leitor, sendo basicamente um triângulo amoroso em cenários da guerra, numa narração amena, que mescla realismo e romance, ingredientes responsáveis pelo sucesso da obra desde sua primeira edição, por diversas gerações de soviéticos. 

Kaverin se baseou, na elaboração de Os Dois Capitães, em um relato que ouviu de um jovem cientista, que descansava no mesmo sanatório que ele, nas proximidades de Leningrado. Era um rapaz que reunia a paixão e a sinceridade em seu caráter, atributos estes aliados à tenacidade e à uma incrível clareza de objetivos. Sabia alcançar o êxito naquilo que almejava, sendo detentor de uma clara inteligência e um profundo sentimento. Assim, também, era a personalidade de Grigoriev, cjujo lema era "lutar, buscar, encontrar e não se render!", personagem talhada à sombra deste jovem cientista que, em seis tardes, contou a Kaverin a história de sua vida, cheia de acontecimentos ímpares, ao mesmo tempo que era uma vida como a de outros tantos jovens soviéticos.Ele foi um menino que teve uma infância muito difícil, tendo sido educado pela sociedade soviética, por pessoas às quais ele se afeiçoou e que lhe apoiaram os sonhos. Mas o determinante em tudo isto, foi a pergunta que o jovem fez à Kaverin no final dos relatos: "Você sabe o que eu teria sido, se não tivesse havido a Revolução? Um bandido!". A partir disto, Kaverin resolveu escrever seu livro na primeira pessoa, mantendo a forma de um relato.Ele apenas ambientou a história em sua própria cidade natal, mudando-lhe o nome de Pskov para Esquis.Seu personagem  estudou em Moscou, onde o próprio Kaverin havia estudado.
O relato do jovem cientista vai ser intercalado com a historia de um carteiro afogado, que trazia a carta do piloto Klímov. Esta é a segunda linha do romance: a partir de Klímov surge a história do capitão que intentou em uma embarcação fazer a Grande Rota Marítima do Norte e aí entra algo de História, que ele pesquisou muito, para dar vida a Tatárinov, segundo protagonista do romance. A navegação a deriva de Tatárinov - a "Santa Maria" - repete os feitos da histórica "Santa Ana", de Brussílov, personagem real. O diário do piloto Klimov foi baseado no diário do piloto de "Santa Ana", de nome Albánov, um dos sobreviventes do fato histórico.Seu capitão foi moldado em Sedov, um hidrógrafo russo, explorador polar, morto em uma expedição.Foto abaixo.Serviu de molde a Tatárinov.

Tem-se, assim, que para modelar seus dois capitães, Veniamin buscou a história de dois intrépidos conquistadores do Ártico: Brusыilov (foto a seguir) e Sedov.




 Kaverin pesquisou muito estes fatos históricos, tanto em livros, como por meio de depoimentos de pessoas que conheceram Sedove Brussilov, inclusive da viúva de Sedov. Assim, deste Veniamin tomou emprestado "o esplendor e a valentia de caráter, a pureza de pensamento e a claridade de metas e tudo o que distingue uma pessoa de grande alma"; de Brussílov, ele tomou a história real da viagem. Os capítulos relativos ao Ártico foram lidos e aprovados tecnicamente pelo pesquisador geógrafo russo Vladímir Yulievitch Vize.
O livro só foi terminado após o final da Segunda Guerra Mundial, ocasião em que o autor conseguiu ser enviado, como correspondente de guerra do periódico Izvestia ao norte, entre aviadores e marinheiros, onde conseguiu minúcias para terminar o segundo tomo da novela, que passou a incorporar dados relativos dados de como o povo soviético suportou as duras provas de uma guerra e como saíram vitoriosos.
E Katya, citada há parágrafos atrás? Katya é o elo de ligação entre Grigóriev e seu pai, Tatárinov. É o toque maior de romance do livro. É a história de amor no cenário soviético, no cenário da guerra...

Escrevi muito, talvez seja enfadonho a quem ainda não leu o livro de Kaverin ler um post deste tamanho, mas é que gostei tanto da obra, que gostaria de vê-la editata em nosso país, a fim de ser acessível a um maior número de leitores. O Brasil possui excelentes tradutores do russo, a exemplo do prof.Boris Shneiderman, Tatiana Belinky, Arlete Cavaliere, entre outros. Fica, então, minha sugestão à Editora 34, à Cosac Naify, à Cia. das Letras. Com certeza teriam público garantido!


Um pouco sobre o autor:
 Veniamin nasceu em 1902,  na cidade russa de Pskov, matéria de futuro post deste blog.Viveu até 1989. Teve influência dos formalistas russos e foi ligado ao grupo conhecido como "Irmãos Serapião", união de escritores (prosa, verso e crítica), criada em 1921, em Leningrado..O grupo era formado por mestres e estudantes, que se reunião na "Casa da Cultura"local. Inicialmente, Kaverin pertencia ao grupo de estudantes, ao lado de Zamiatin, autor de "Nós" (com tradução de Portugal).Veja foto do grupo abaixo.
Kaverin é o do canto, olhando da esquerda para a direita



Pskov
Durante as reuniões  no círculo dos Irmãos Serapião, travou contato com Gorki, que o ajudou com conselhos e críticas construtivas.Dos livros que escreveu, foi Os Dois Capitães que lhe deu fama. A obra já virou filme e peça teatral: Nord Ost, que estava em cena quando os tchetchenos explodiram a Casa da Cultura de Moscou, em 2002. Estive lá poucos dias antes, assistindo à peça, sendo este meu primeiro contato com a obra de Kaverin.Lembrança triste, a explosão, mas não posso me furtar de ter uma gratíssima lembrança desta peça, para mim, inesquecível...

obs: se você é da turminha da língua russa, pode adquirir o livro na loja eletrônica Ozon:várias edições, desde o livro usado (em ótimo estado), a preços bem baixinhos.

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Aos que não se importam em adquirir livros usados, recomendo o Estante Virtual, onde fiz uma busca e encontrei apenas um volume, em espanhol, a R$ 9,00. Encontrei também, nas mesmas condições(usado e em espanhol) fazendo busca no site "toda oferta", a R$ 23,00.
Mais a respeito das expedições citadas neste post você podera ler no "Diário da Rússia: http://www.diariodarussia.com.br/fatos/noticias/2011/07/14/em-busca-da-expedicao-perdida/

Eric Clapton - Just One Night [Live] - 1979


http://img853.imageshack.us/img853/7756/10justonenight.jpg

DiscO 1
1. "Tulsa Time" (Danny Flowers) – 4:00
2. "Early In The Morning" (Traditional) – 7:11
3. "Lay Down Sally" (Clapton, Marcy Levy, George Terry) – 5:35
4. "Wonderful Tonight" (Clapton) – 4:42
5. "If I Don't Be There By Morning" (Bob Dylan, Helena Springs) – 4:26
6. "Worried Life Blues" (Big Maceo Merriweather) – 8:28
7. "All Our Past Times" (Clapton, Rick Danko) – 5:00
8. "After Midnight" (J.J. Cale) – 5:38

DiscO 2
1. "Double Trouble" (Otis Rush) – 8:17
2. "Setting Me Up" (Mark Knopfler) – 4:35
3. "Blues Power" (Clapton, Leon Russell) – 7:23
4. "Rambling On My Mind" (Robert Johnson/Traditional) – 8:48
5. "Cocaine" (J.J. Cale) – 7:39
6. "Further on Up the Road" (Joe Medwick, Don Robey) – 7:17


http://img862.imageshack.us/img862/8956/20055119.jpg 

Eric Clapton: Guitar and vocals.
Henry Spinetti: Drums.
Chris Stainton: Keyboards.
Albert Lee: Guitar, keyboard and vocals on "Setting Me Up".
Dave Markee: Bass guitar.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A luta contra o ventre da barbárie capitalista


  Por Gilson Caroni Filho - do Rio de Janeiro no CORREIO DO BRASIL

Israel
As Bestas se reúnem no Oriente Médio

Liga Árabe suspende a Síria; Israel, com o apoio dos EUA, se prepara para atacar o Irã; consórcio franco-alemão toma o poder na Grécia e ameaça soberania italiana; corporações midiáticas censuram repressão policial aos movimentos sociais nos EUA. Com o arsenal nuclear existente, uma escalada militar global terá consequências imprevisíveis. Mais uma vez o mercado se aproxima do ventre que pariu a Besta. Os primeiros dias de novembro acenam para um perigoso redesenho do cenário internacional.
O roteiro, de tão açodado, não deixa qualquer espaço para dúvidas quanto aos reais interesses que movem as marionetes do teatro macabro. O relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) contendo acusações contra o governo foi divulgado um dia antes de a imprensa inglesa anunciar que o governo de Benjamin Netanyahu planeja uma ampla ofensiva contra as instalações iranianas. Estados Unidos e União Européia prontamente defenderam a adoção de medidas adicionais. São muitas as variáveis em jogo, mas há dados conjunturais que não podemos ignorar.
Em primeiro lugar, é preciso voltar no tempo, para entender o xadrez geopolítico no Oriente Médio. É fundamental reconhecer os motivos que levariam o governo israelense, respaldado pelo imperialismo norte-americano na região, a jogar todo o seu peso em uma aventura bélica de alto risco. E estes motivos só podem ser encontrados na derrota dos EUA na revolução iraniana e, principalmente, na derrocada militar do seu então representante, o Iraque, frente às massas iranianas imbuídas (apesar dos desvios da direção islâmica) de uma proposta anti-imperialista. Passados tantos anos, é plausível trabalharmos com essa hipótese? A resposta é afirmativa.
Se, na época, a derrota não veio sozinha, mas sim juntamente com um ascenso dos trabalhadores na região, que passava pelo surgimento do movimento Paz Agora em Israel – primeiro movimento de massa israelense a questionar a própria essência do Estado de Israel como um “estado policial” dos EUA – o fato que atualiza o quebra-cabeças foi a bem sucedida ofensiva diplomática do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmud Abbas, pedindo ao Conselho de Segurança o reconhecimento de um Estado independente. Somando-se a isso a adesão da Palestina como membro pleno da Unesco, as reações foram imediatas: os Estados Unidos suspenderam seu apoio financeiro à entidade. E Israel, sabotando qualquer possibilidade de paz, acelerou o processo de colonização em Jerusalém Oriental.
A perspectiva de isolamento, ainda que conte com o apoio incondicional dos principais países da União Européia, levou os ianques e seus títeres a organizarem uma aventura ousada e perigosa que, se levada a cabo, contará com o apoio do Partido Trabalhista, de “oposição”, em Israel. O alcance desta operação, com toda sorte de atrocidades que comporta, liberará forças que dividirão mais ainda a própria sociedade israelense e a comunidade judaica em geral.
Os ensaios fascistas, que se alastram perigosamente em escala mundial, precisam ser detidos e só serão evitados com o movimento de protesto de milhões de pessoas e governos progressistas, unidos com um único objetivo: banir as guerras, banir as armas de extermínio, impondo, pela força dos povos, a paz e o desarmamento. A luta contra o ventre que pariu inúmeras Bestas é cada vez mais um confronto contra a lógica capitalista.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista de Carta Maior e colaborador do Correio do Brasil e do Jornal do Brasil.

A USP, a Tropa de Choque da Polícia e a Tropa de Choque da Mídia

Valéria Nader, da Redação   do CORREIO DA CIDADANIA

Mais uma vez, a USP, a maior e mais famosa universidade do país, se vê às voltas com a polícia. Verdadeira operação de guerra, com Tropa de Choque, cavalaria, bombas, estilhaços, sobrevôo de helicópteros. Mais de 400 homens para retirar cerca de 70 estudantes que tinham ocupado a reitoria, em uma manifestação de protesto contra a presença da PM no campus da universidade.

O que de fato aconteceu por estes dias? Para responder a esta pergunta, é preciso primeiro externar, sem complacência, o quão estarrecedor é perceber o teor predominante da informação à qual a população de todo o país tem tido acesso. O que a maioria saberá sobre os acontecimentos, e que poderá ser introjetado pela memória coletiva, é a versão gravada e ventilada através dos grandes veículos de comunicação.

A Folha e o coro em uníssono

Nem é preciso gastar tempo com semanários a la Veja e assemelhadas, cujo sensacionalismo associado a um raciocínio tacanho e primário já está por demais manjado e desmascarado por todos que pensam em jornalismo com um mínimo de respeito e seriedade. Basta olhar para a Folha de S. Paulo, afinal, o órgão de mídia impressa mais lido no país, como faz sempre questão de anunciar em suas páginas, gabando-se com freqüência de tal façanha e de sua pretensa isenção e progressismo.

Editorial da sexta-feira, 4 de novembro, antes portanto da ação da PM na reitoria, é notório em sua visão monocórdia a defender, quase exaltar, a presença da PM no campus.  Os estudantes que ocuparam a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) são tidos como “grupelhos situados na mais extrema franja da esquerda”. O citado editorial, este mesmo que utiliza as expressões “grupelhos” e “extrema franja da esquerda”, critica ainda um tal “excesso de susceptibilidade ideológica” por parte daqueles que ainda associariam a presença da PM no campus com traumas advindos da ditadura. Com este vocabulário, é o caso de questionar de quem seria realmente o tal excesso de susceptibilidade ideológica.

Conclui finalmente o editorial que “quem agride a democracia, o ensino e a pesquisa na USP é a paranóica minoria que invadiu a reitoria, no intuito de provocar um confronto que só atende às suas pueris fantasias de contestação”. São muitos, além de bastante reconhecidos, os intelectuais e estudiosos que poderiam contribuir para enriquecer este olhar enviesado sobre a realidade uspiana. Estivessem os editorialistas realmente preocupados com o princípio da isenção que tanto pregam, estariam com os ouvidos mais atentos para as diversas facetas que conformam a complexa situação hoje vivida pela universidade.

E não pára por aí o diário dos Frias. Na segunda feira, dia 7 de novembro, uma tropa de choque jornalística antecedeu a tropa de choque da PM que atuaria na USP na madrugada de terça. Para ficar em alguns casos mais exemplares, o colunista Vinícius Mota carrega no verbo ao questionar “grupelhos semi-alfabetizados e violentos que impõem a sua agenda sem encontrar resistência à altura” na FFLCH, desqualificando sem piedade o desempenho da faculdade nos dias de hoje. Acusa-a de se deixar encantar “por um bordão do passado, mera forma sem conteúdo, quando clama pela saída da PM do campus”. No entanto, são as próprias linhas traçadas por Mota, com sua virulência patente, que causam uma certa confusão temporal: estariam mesmo sendo escritas na atual e tão aclamada ‘democracia’?

Outro colunista que, neste mesmo dia, 7 de novembro, escreve sobre os episódios uspianos é o colaborador semanal das segundas-feiras, o filósofo Luiz Felipe Pondé. Entrar em algum tipo de discussão mais pormenorizada e edificante sobre o episódio que se desenrolou na USP esteve bem longe do espectro de preocupação do filósofo. Os “baderneiros” – como foram cunhados os estudantes da FFLCH – são nada mais do que parte daquilo que o filósofo toma como um “partido mundial de jovens”, abraçados pela “mídia ideológica, cansada do marasmo desde maio de 1968 (aquela ‘revolução francesa’ dos estudantes entediados que acabou numa noite gostosa de queijos e vinhos)”.

Last but not least, a Folha não se fez de rogada após consumada a invasão policial na madrugada de terça-feira, 8 de novembro. Até algum tempo atrás, provavelmente estaria mais antenada em cravar uma no ferro e outra na ferradura, em função das cenas truculentas protagonizadas pela polícia de São Paulo, que foram mostradas a todo o país. Entretanto, manchetes e matérias da quarta-feira, 9 de novembro, não evidenciaram a menor preocupação com uma cobertura que tivesse o mínimo de isenção.

Desde a capa do diário, até as páginas internas, os estudantes foram exaustivamente chamados de invasores, baderneiros e pichadores, com imagens selecionadas a dedo de forma a corroborar esta visão. Não é, ademais, gratuito que o caderno a fazer a cobertura dos episódios tenha sido o de Cotidiano. Esse caderno, que no passado já foi denominado de Cidades, há tempos vem se tornando um espaço de discussões gerais, rasteiras e apelativas, sem se aprofundar no tratamento da cidade a partir de um enfoque urbanístico e social mais elaborado.

A ‘grande’ emissora de TV

E se estamos no âmbito dos grandes veículos, tome-se ainda a exploração dos fatos aqui narrados pela mídia televisiva de maior porte no país. A Rede Globo de Televisão, em uma de suas apresentações mais imediatas após a ocupação da reitoria (o Bom Dia Brasil de 8 de novembro), teve desempenho emblemático.

Não se absteve de explorar as fortes imagens dos policiais que cercaram a USP, afinal, um prato cheio para a audiência. Quem se ateve à observação destas imagens, com a concomitante narração dos fatos pelos repórteres que os acompanhavam in loco, não teria dúvidas de que se estava diante de um cenário de dura repressão policial. Mais ao final da reportagem, porém, viria a fala que não quer calar – aquela que, no intuito de parecer ocupar um lugar inadvertido, é a que realmente ecoa o pensamento da emissora global.

A jornalista Renata Vasconcelos, uma das locutoras da reportagem juntamente com Chico Pinheiro, soltou finalmente as trivialidades que não mais surpreendem aqueles mais antenados com as entrelinhas da mídia corporativa. A jornalista enfatizou, indignada, que a reitoria teria sido invadida “por causa de três estudantes que foram detidos porque estavam de posse de maconha”. E encerrou a reportagem com sutil torcida para que, se comprovado o vandalismo, os alunos sejam responsabilizados!

Fatos e versões fora do páreo

“Acreditar que alunos de uma das Faculdades mais importantes do país se mobilizaram numa ação que ganhou tamanha proporção por desejarem usufruir do direito ainda ILEGAL de fazer uso de MACONHA dentro do Campus me parecia inconcebível”. Assim se expressou uma aluna em um grupo de discussão de uma das muitas redes sociais que estão contribuindo para a visibilidade de uma versão que não encontra a mais mínima guarida nos veículos de maior circulação.  “Antigamente, o melhor aliado das manifestações sociais era a imprensa, agora é a internet, tudo tem que ir parar no You Tube”, avalia um outro aluno diante dos episódios.

Um estudante, talvez com a forte sensação de impotência decorrente da impossibilidade de ter voz, chegou até mesmo a fazer uma auto-entrevista e a divulgá-la pela rede, desbancando com muita sensatez os sensos comuns que estão imperando. Dentre as perguntas que redigiu, uma se referia à presença da PM no campus, um dos pontos mais polêmicos na discussão em pauta. À afirmativa de que a PM deveria sim estar presente no campus, como meio fundamental na manutenção da ordem, o estudante avalia que “PM não traz segurança nem fora do campus. Se PM é segurança, para que empresas de segurança privadas, fazendo ronda em bairros chiques? Para que seguranças particulares, cercas, alarmes, grades, carros blindados? Isso tudo em áreas policiadas. Além disso, a PM de São Paulo mata mais que todas as polícias dos EUA juntas. Muitas áreas têm menos problemas com segurança, mas são sempre bem iluminadas e cheias de gente - esse é o ponto. Alunos e professores já manifestaram soluções alternativas, como iluminação massiva e eficiente de todo o campus. O rapaz que morreu na FEA resistiu a um assalto e foi, sim, assassinado no campus. Mas, nota importantíssima: havia PM trabalhando dentro da USP naquele dia. De nada adiantou. Levar a PM em ações ostensivas por conta de furtos e roubos não faz sentido, ainda mais podendo evitá-los com uma guarda universitária concursada, com plano de carreira, treinada, em grande número, com ala feminina treinada para lidar com casos de abuso sexual e estupro”.

O estudante conclui sua resposta narrando que “a ação da PM está afinada com as ações políticas do reitor João Rodas em seu processo de privatização da Universidade. Não é lenda, não é mania de perseguição, não é inventado. Lutamos contra algo real aqui. Propostas de fechamento de cursos que não dão lucro, abertura de cursos pagos usando a infra-estrutura e os docentes da USP, tudo isso faz parte da privatização gradual - que também se manifesta nas terceirizações (que, aliás, no caso da guarda universitária, colabora com os sumiços de celulares, laptops etc.)”.
Quem se dá ao trabalho de ‘navegar’ por aí, e fugir, por pouco que seja, do noticiário do mainstream, vai perceber de fato uma profusão de visões profundamente dissonantes daquela que é bombardeada incessantemente pela mídia corporativa. São dezenas de estudantes, professores e intelectuais que, notoriamente ignorados nos noticiários de maior visibilidade, há anos avaliam temas essenciais afeitos à política universitária.

Com o sentido de reorganizar a universidade como campo efetivo de participação e decisão política, estes estudiosos vêm ressaltando que a direção e gestão dos processos decisórios na USP têm se mostrado incapazes de representar os segmentos diversos que compõem a universidade, e de lidar com a profusão de conflitos e movimentos sociais e políticos que emergem em seu seio. E isso não é de hoje. Conselho universitário, associações e distintos fóruns de discussão foram sendo esvaziados nos últimos anos, com o estreitamento e a centralização das instâncias de decisão. O governo do estado, por sua vez, dominado há mais de 20 anos pelo tucanato, jamais demonstrou sequer entender o que seja o conceito de autonomia universitária.

Por que a resposta policial se tornou a forma natural de reação? É a pergunta que já se fazia a filósofa Marilena Chauí em ato contra a presença da PM na USP, em 16 de junho de 2009, no anfiteatro da Geografia, na FFLCH, com presença de Antônio Cândido e de Maria Victoria Benevides. A resposta a esta pergunta está diretamente associada à falta de fóruns de discussão e debate, que faz com que, a cada manifestação de oposição, exigência e reivindicação, a única reação que se conheça seja aquela que ‘vem de cima’.

A prisão dos mais de 70 alunos que ocuparam a reitoria em ato de manifestação política – prisão que se deu em moldes bem distintos daqueles apregoados pelos veículos de comunicação dominantes, segundo relato de dezenas de estudantes - é um ataque frontal à liberdade nesta que se chama democracia representativa. Novamente, “governo do estado e reitoria entraram no jogo da radicalização, da violência e do acirramento do conflito, sem esforço de construção de uma estratégia política menos tosca, que efetivamente expressasse a vontade das maiorias, que não foram consultadas”, destaca a urbanista e professora da USP Raquel Rolnik em seu blog no dia 10 de novembro.

Tempos sombrios

Uma Comissão da Verdade que de verdadeira tem quase nada. Um deputado carioca que precisa sair do país para proteger sua vida, após bulir com os interesses de poderosos milicianos do Rio. Tropa de Choque da Polícia Militar na USP, prontamente seguida pela Tropa de Choque Midiática. Tempos sombrios estes que vivemos, em plena primavera nos Trópicos!

Com a palavra final, um estudante

“Ontem (dia 10 de novembro, no centro de São Paulo), éramos mais de 5000 demonstrando que não é uma minoria que se indigna na USP. Mas onde estavam as câmeras e agentes da TV que NÃO filmaram tudo ali? A grande mídia ordena o pensamento assim como o governador ordena à polícia invasões de favelas, massacres do Carandiru e invasões policiais no campus da USP. Disciplinam sua mente, brutalizam e ganham muito dinheiro e poder com isso...”.

Leia também:

Disputa pela reitoria da USP ignorou as questões essenciais ao ensino superior – Entrevista com Octaviano Helene, ex-presidente da Associação dos Docentes da USP.

Antonio Candido: USP trouxe revolução cultural e social – depoimento especial de Antonio Candido ao Correio da Cidadania

Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Marcio Pochmann: Como pode o mesmo trabalho receber a metade devido à terceirização?

por Marcio Pochmann, do Valor Econômico

Na virada do século XX, a avalanche neoliberal atingiu praticamente todos os países, cada um a seu modo. No âmbito do trabalho, por exemplo, o neoliberalismo atacou o desemprego gerado pela ausência do dinamismo econômico por meio da desregulamentação do mercado de trabalho.
Naquela época, difundiu-se equivocadamente que a solução única para o desemprego seria a ocupação da mão de obra com salário menor e direito social e trabalhista a menos. Ou seja, uma alternativa inventada que procurava substituir o desemprego pela precarização do trabalho.
No Brasil, a onda neoliberal a partir do final da década de 1980 não se traduziu em reforma ampla e profunda do marco regulatório do mercado de trabalho, ainda que não faltassem propostas nesse sentido. Mesmo assim, o fenômeno da terceirização da mão de obra terminou tendo efeito inegável, com remuneração reduzida à metade dos que exercem a mesma função sem ser terceirizados e rotatividade no posto de trabalho superior a mais de duas vezes.
Em síntese, a terceirização do trabalho ganhou importância a partir dos anos 1990, coincidindo com o movimento de abertura comercial e de desregulação dos contratos de trabalho. Ao mesmo tempo, a estabilidade monetária alcançada a partir de 1994 vigorou associada à prevalência de ambiente competitivo desfavorável ao funcionamento do mercado interno. Ou seja, baixo dinamismo econômico, com contida geração de empregos em meio à taxa de câmbio valorizada e altas taxas de juros. Frente ao desemprego crescente e de ofertas de postos de trabalho precários, as possibilidades de atuação sindical exitosas foram diminutas.
Atualmente, o trabalho terceirizado perdeu importância relativa em relação ao total do emprego formal gerado no Brasil, embora seja crescente a expansão absoluta dos empregos formais. Por serem postos de trabalho de menor remuneração e maior descontinuidade contratual, os empregos terceirizados atendem fundamentalmente à mão de obra de salário de base. Dessa forma, as ocupações criadas em torno do processo de terceirização do trabalho tendem a se concentrar na base da pirâmide social brasileira. O uso da terceirização da mão de obra tem se expandido fundamentalmente pelo setor de serviços, embora esteja presente em todos os ramos do setor produtivo.
Na passagem para o século XXI, o país perseguiu duas dinâmicas distintas na terceirização do trabalho. A primeira observada durante a década de 1990, quando a combinação da recessão econômica com abertura comercial resultou no corte generalizado do emprego. Na sequência da estabilização monetária estabelecida pelo Plano Real, que trouxe impacto significativo na redefinição da estrutura de preços e competição no interior do setor produtivo, o Enunciado 331 do Tribunal Superior do Trabalho estabeleceu os setores cabíveis à terceirização da mão de obra, concedendo segurança jurídica às empresas.
Nesse contexto, a taxa de terceirização registrou patamar inédito, passando de cerca de 10% do saldo líquido dos empregos gerados no estado de São Paulo no início da década de 1990 para mais de 90% no começo da década de 2000. Com salário equivalente à metade do recebido pelo trabalhador normal, os terceirizados avançaram sobre os poucos empregos formais gerados, sem que ocorresse redução da taxa total de desemprego – a qual saiu de 8,7%, em 1989, para 19,3%, em 1999, na Região Metropolitana de São Paulo.
Não obstante o apelo à redução do custo do emprego da força de trabalho estimulado pela terceirização, inclusive com o aparecimento de empresas sem empregados, em meio às condições da estabilidade monetária com altas taxas de juros reais e valorização do real, o sindicalismo reagiu evitando o mal maior. Mesmo diante de competição interempresarial mais acirrada, houve elevação da taxa de sindicalização, com avanço das negociações coletivas de trabalho e inclusão na legislação social e trabalhista.
A segunda dinâmica na trajetória da contratação de empregos formais ganhou importância a partir da década de 2000. Entre os anos de 2000 e 2010, a taxa de terceirização passou de 97,6% para 13,6% do saldo líquido de empregos formais gerados no estado de São Paulo. Nesse mesmo período, a taxa de desemprego caiu 28,5%, passando de 19,3%, em 1999, para 13,8%, em 2009, na Região Metropolitana de São Paulo. Apesar disso, o salário recebido pelo terceirizado continuou equivalendo apenas à metade daquele do trabalhador não
terceirizado.
Os sindicatos tiveram conquistas importantes, com maior organização na construção dos acordos coletivos de trabalho. A Justiça do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Emprego e Trabalho assumiram papel fundamental. Mas sem regulação decente da terceirização, parcela das ocupações permanece submetida à precarização no Brasil. Como pode o mesmo trabalho exercido receber somente a metade, por conta de diferente regime de contratação? Caso mais grave parece ocorrer no interior do setor público, que licita a contratação da terceirização da mão de obra pagando até 10 vezes mais o custo de um servidor concursado para o exercício da mesma função.
O país precisa virar a página da regressão socioeconômica imposta pelo neoliberalismo no final do século XX. A redução no grau de desigualdade na contratação de trabalhadores terceirizados pode ocorrer. Com a regulação decente a ser urgentemente estabelecida poderia haver melhor cenário para evitar a manutenção das enormes distâncias nas condições de trabalho que separam os empregados terceirizados dos não terceirizados.

Êta midia podre!!

Camaradas, tirei uma "folga" do trabalho e fiz um retiro longe da internet. Mas como chovia muito e acabei ficando em casa, numa praia, com meus filhos, companheira e amigos, não resisti e acabei ouvindo alguns programas das rádios de Porto Alegre. Gente, é de arrepiar...os "donos" dos programas batiam o tempo todo no Governo da Dilma, e do Tarso, aqui no RS.escutei um pouco de cada e somente apreciei mesmo foi o programa da beatriz Fagundes da Radio Pampa. Ela se mostra isenta, faz críticas contundentes ao governo municipal e estadual, embora se apresente como tendenciosa, pois diz que votou no Tarso e na Dilma, mas mantém a dignidade e leva muito "pau" dos ouvintes. Outro que  admiro muito pelos seus posicionamentos, tanto politicos quanto socias é o Juremir Machado da radio guaiba. O sujeito faz um programa junto a um "bando" de papagaios do PIG e consegue ser respeitado e manter suas opiniões...mas enfim, é isso que temos como instrumento de dominação cultural.
Portanto temos que fortalecer nossa midia alternativa, nossos blogs, serão nossas ferramentas de subversão, de contraponto e de gerador de consciência crítica.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Pastor Silas Malafaia “se fornicou”


Por Altamiro Borges

O excêntrico pastor Silas Malafaia bateu recordes no twitter na noite de ontem. Milhares de internautas aproveitaram para tirar uma casquinha de um suposto tropeço gramatical do midiático evangélico, que já virou motivo de chacota por suas constantes declarações preconceituosas e por suas posições políticas retrógradas, direitistas.

Em entrevista à revista Época, Malafaia destilou a sua ira – nada santa – contra Toni Reis, atual presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis (ABGLT). “Eu vou arrebentar o Toni Reis... Eu vou fornicar esse bandido, esse safado. Eu vou arrombar com esses...”, esbravejou o pastor, segundo registrou a publicação da famiglia Marinho.

#MalafaiaEscolheuFornicar

Diante da imediata reação dos internautas, Malafaia ainda tentou recuar. No seu twitter, ele retrucou o jornalista da Época que o entrevistou e garantiu que falou “funicar” e não fornicar. “Na linguagem vulgar, ‘funicar’ significa ‘ferrar’ o movimento gay”, esclareceu Malafaia. Pouco tempo depois, ele deletou o seu próprio tuíte. Mas o episódio grotesco já havia chegado às redes sociais.

Segundo informa o sítio Brasil 247, “tuiteiros levaram aos Trending Topics a hashtag #MalafaiaEscolheuFornicar. Afinal, não dá (sem trocadilhos) para deixar passar em branco os instintos mais primitivos da gramática de Malafaia. “Ele podia estar orando, mas #MalafaiaEscolheuFornicar”, brincou @LucasDcan. Teve até canção para o pastor: “Quero ver você não chorar, não olhar pra trás, nem se arrepender do que faaaaz... #CanteParaMalafaia”, ironizou @jufreitascs”.

Homofobia e outros preconceitos

A incontinência verbal do pastor decorre das crescentes críticas aos seus programas de TV. A ABGLT enviou aos órgãos ligados à defesa dos direitos humanos trechos de gravações em que Malafaia faz apologia à violência contra gays. A entrevista à Época só agrava a tensão – com ele “fornicando” ou “funicando”. Vale registrar que o vocábulo “funicar” não consta no dicionário Aurélio.

Silas Malafaia é realmente um personagem “exótico”. Suas posições homofóbicas e seus ataques rasteiros ao direito do aborto já renderam inúmeras críticas. No terreno político, o pastor da Assembléia de Deus Vitória em Cristo não esconde as suas posições direitistas. Na campanha eleitoral do ano passado, ele chegou a gravar vídeos hidrófobos contra a candidata Dilma Rousseff.

Apoio ao tucano José Serra

Num primeiro momento, Malafaia anunciou seu apoio à candidata, também evangélica, Marina Silva. Logo depois, ele apareceu na propaganda eleitoral do candidato tucano, José Serra. Justificou o seu apoio dizendo que Dilma Rousseff apoiava o aborto e o casamento de homossexuais. Na ocasião, levantou-se a denúncia, não comprovada, de que o pastor fora “comprado” pelo PSDB.

As denúncias contra Silas Malafaia, porém, não causam surpresa. O pastor já sofreu várias investigações por desvio de dinheiro e enriquecimento ilícito. Em 2007, por exemplo, ele foi investigado duas vezes pela Receita Federal e três vezes pelo Ministério Público Federal. Ele mesmo admitiu ter havido erro nas contas da sua igreja – não por culpa de dele, mas sim do “meu contador”.

Doações de R$ 40 milhões ao ano

A Assembléia de Deus Vitória em Cristo capta em oferta e doações de fiéis cerca R$ 40 milhões por ano. Seu programa evangélico é transmitido, com milionários custos, pela Rede TV, Band e CNT. Dublado em inglês, ele também atinge 200 países via satélite. O pastor afirma que não recebe da igreja e que vive do dinheiro de sua empresa, a Editora Central Gospel, cujo catálogo tem cerca de 600 títulos, entre livros (incluindo Bíblias), CDs e DVDs.

No ano passado, sua igreja comprou o jato Gulfstream III nos Estados Unidos por US$ 4 milhões. O avião tem autonomia para oito horas de vôo, doze lugares, sofá, cozinha e sistema individual de entretenimento. É um “favor de Deus”, conforme está escrito em inglês na sua fuselagem.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Eleições 2012 em Porto Alegre

Impasses ou brete do PT de Porto Alegre?


Não apoiar as pré-candidaturas de Raul Pont nem de Adão Villaverde e abrir mão da cabeça de chapa em favor de Manuela D’Ávila, do PCdoB, como quer o governador Tarso Genro, ou aliar-se com o PSD, recém-criado e sem definição ideológica, como admite o presidente municipal do PT, Adeli Sell que, aliás, retirou sua pré-candidatura, eis a questão colocada para o partido que já governou Porto Alegre por 16 anos seguidos e já exerceu controle hegemônico na política municipal.


Há, na verdade, uma terceira possibilidade, semelhante à primeira, com a diferença de que o PT ofereceria apoio ao atual prefeito José Fortunati, do PDT. Opção defendida por setores mais próximos da presidente Dilma Rousseff, mas com poucos simpatizantes entre os petistas de Porto Alegre.
Com vocação hegemonista forjada nas lutas pela afirmação da sigla durante os anos imediatamente pós-ditadura, quando o partido foi alvo de acusações partidas tanto da direita quando da esquerda tradicional, as “bases” petistas, ou seja, os militantes não detentores de cargos de direção partidária ou de governo, insistem na tese do lançamento de candidatura própria, mesmo que sem o apoio e coligação com outros partidos importantes.
Tarso se preocupa com a governabilidade e procura costurar uma aliança que garanta, ao mesmo tempo, a) uma base de apoio folgada na Assembleia Legislativa, com a presença e o voto do PCdoB (1 deputado) e do PSB (3 deputados) nos projetos e assuntos de interesse do governo do estado e sem hostilizar o PDT (6 deputados), e b) também o pagamento de uma dívida de apoio firmada na composição de sua chapa, quando o apoio destes dois partidos foi crucial para romper o isolamento político em que se encontravam o PT e sua candidatura.
Dilma, com a mesma preocupação de governabilidade, só que no plano federal, tem consciência de que o apoio ao PDT gaúcho é importante tanto para manter o equilíbrio na distribuição de cargos no seu governo quanto para conter o apetite pedetista no plano federal. Com peso restrito apenas ao Rio Grande do Sul e ao Rio de Janeiro, o PDT se contenta apenas com a reeleição em Porto Alegre, o apoio para a eleição de um ou outro prefeito no interior fluminense e, claro, a manutenção de Carlos Alberto Lupi no Ministério do Trabalho.
Tarso prefere o apoio à Manuela D’Ávila também porque seu partido é pouco estruturado no interior do Rio Grande do Sul, bem como em todo o Brasil, e, assim, ofereceria pouco perigo de acumular, a curto e médio prazo, força suficiente para alçar vôo próprio, fazendo mais prefeituras e arvorando-se a aventura de uma candidatura própria ao Palácio Piratini. Mesmo aliado ao PSB, a ameaça que poderiam apresentar ao PT e à reeleição de Tarso Genro seria frágil e sua possibilidade remota.
Além das alianças à direita, firmadas pela administração José Fogaça (PMDB) e mantidas pela administração José Fortunati, que a sucedeu, o apoio a Fortunati implicaria na possibilidade de reascender a força do PDT em Porto Alegre e, daí, para outras áreas do Rio Grande do Sul. Fortunati e seu partido poderiam, nos próximos quatro anos, acumular força suficiente para ousar enfrentar o PT e Tarso na reeleição ao Piratini.
A contabilidade indicaria que é melhor correr o risco de manter Manuela, o PCdoB e o PSB por oito anos à frente da Prefeitura de Porto Alegre do que dar asas a Fortunati e ao PDT durante os próximos quatro anos.
A pesquisa Kepeler/Sul21 sobre a avaliação da administração municipal de Porto Alegre e as intenções de voto em 2012, ainda que realizada a exato um ano do pleito, indicou que o PT teria hoje pouca chance de vitória, apresentando candidatura própria. Fortunati, mesmo com uma administração razoavelmente bem avaliada, não empolga os eleitores, que revelam almejar mudanças ainda que não radicais durante a próxima administração. Manuela, que aparece na pesquisa em empate técnico com Fortunati, mas um pouco à sua frente, já se revelou boa de partida, mas ruim de chegada. A falta de estrutura partidária impediu sua ida ao segundo turno do pleito em 2008 e constituirá grande empecilho para sua vitória em 2012.
A mesma pesquisa revelou que os candidatos petistas com maiores chances eleitorais em Porto Alegre são aqueles que já descartaram a possibilidade de concorrer. Maria do Rosário prefere se manter no corpo de ministros de Dilma Rousseff, almejando, quiçá, um ministério mais robusto na próxima reforma ministerial a se realizar no início do ano. Henrique Fontana já afirmou que priorizará a atenção ao filho em recuperação de um acidente automobilístico e à família, numa atitude de desprendimento e afeto.
Raul Pont e Adão Villaverde, deputados estaduais, o primeiro ex-prefeito e ex-vice-prefeito de Porto Alegre e o segundo atual presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, aparecem com baixos índices de intenção de voto. Pont, por sua trajetória no município, é mais conhecido que Villaverde, mas é também o mais rejeitado dentre todos os pré-candidatos testados. Villaverde, que nunca disputou cargo municipal em Porto Alegre, é pouco rejeitado, mas é também pouco conhecido.
Se não quiser se isolar e correr o risco de ficar fora da Prefeitura de Porto Alegre por quatro ou, talvez, por oito anos, o PT se vê diante da possibilidade de se aliar a um dos dois candidatos melhor posicionados na pesquisa Kepeler/Sul21 e em todas as demais pesquisas até aqui realizadas. Fica claro que se o PT ceder a cabeça de chapa e se aliar a um(a) candidato(a), qualquer que seja ele(a), será este candidato(a) o(a) que terá maior chance de vitória. O PT assumiria, assim, o papel de fiel da balança, o que lhe daria condições de exigir contrapartidas, sejam elas no plano de governo sem elas na composição das secretarias e órgãos de governo.
Frente a este quadro complexo, algumas perguntas ficam pendentes de resposta. Raul Pont e/ou Adão Villaverde teriam disposição de aceitar uma candidatura a vice-prefeito? Teriam as bases petistas flexibilidade para deixar de lado a postura hegemonista, que histórica e legitimamente têm assumido em Porto Alegre? Teriam as lideranças petistas força política suficiente para convencer o conjunto do partido a apoiar Manuela D’Ávila ou José Fortunati? Seria, por fim, mais aconselhável, ainda que aparentemente menos prudente, afrontar as evidências das pesquisas e as avaliações dos dirigentes e reafirmar, mais uma vez, a presença e o peso petista em Porto Alegre para tentar virar a mesa e ganhar a eleição?
Sair do impasse em que o PT se encontra hoje é o grande desafio. Uma decisão precipitada ou incorreta poderá levar o partido ao brete do matadouro político, perdendo ainda mais força em Porto Alegre e diminuindo ainda mais sua presença no município.