terça-feira, 20 de novembro de 2012

Zumbi Vive!


Mario Maestri no CORREIO DA CIDADANIA   


Em 20 de novembro de 1695, Nzumbi dos Palmares caía lutando em mata perdida do sul da capitania de Pernambuco. Seu esconderijo fora revelado por lugar-tenente preso e barbaramente torturado. Mutilaram seu corpo. Enfiaram seu sexo na boca. Expuseram a cabeça do palmarino na ponta de uma lança em Recife. Os trabalhadores escravizados e todos os oprimidos deviam saber a sorte dos que se levantavam contra os senhores das riquezas e do poder.
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Em 1654, com a expulsão dos holandeses do Nordeste, os lusitanos lançaram expedições para repovoar os engenhos com os cativos fugidos ou nascidos nos quilombos da capitania. Para defenderem-se, as aldeias quilombolas confederaram-se sob a chefia política do Ngola e militar do Nzumbi. A dificuldade dos portugueses de pronunciar o encontro consonantal abastardou os étimos angolanos nzumbi em zumbi, nganga nzumba, em ganga zumba. A confederação teria uns seis mil habitantes, população significativa para a época.
 
Em novembro de 1578, em Recife, Nganga Nzumba rompeu a unidade quilombola e aceitou a anistia oferecida apenas aos nascidos nos quilombos, em troca do abandono dos Palmares e da vil entrega dos cativos ali refugiados ou que se refugiassem nas suas novas aldeias.
 
Acreditando nos escravizadores, Ganga Zumba deu as costas aos irmãos de opressão e aceitou as miseráveis facilidades para alguns poucos. Abandonou as alturas dos Palmares pelos baixios de Cucuá, a 32 quilômetros de Serinhaém. Foi seduzido por lugar ao sol no mundo dos opressores, pelas migalhas das mesas dos algozes.
 
Então, Nzumbi assumiu o comando político-militar da confederação.
 
Para ele, não havia cotas para a liberdade ou privilegiados no seio da opressão! Exigia e lutava altaneiro pelo direito para todos!
 
Não temos certeza sobre o nome próprio do último nzumbi que chefiou a confederação após a defecção de Nganga Nzumba. Documentos e a tradição oral registram-no como Nzumbi Sweca.
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Nos derradeiros ataques aos Palmares, as armas de fogo e a capacidade dos escravistas de deslocar e abastecer rapidamente os soldados registravam o maior nível de desenvolvimento das forças produtivas materiais do escravismo, apoiadas na superexploração dos trabalhadores feitorizados. As tropas luso-brasileiras eram a ponta de lança nas matas palmarinas da divisão mundial do trabalho de então.
 
Não havia possibilidade de coexistência pacífica entre escravidão e liberdade. Palmares era república de produtores livres, nascida no seio de despótica sociedade escravista, que surge hoje nas obras da historiografia apologética como um quase paraíso perdido, onde a paz, a transigência e a negociação habitavam as senzalas. Palmares era exemplo e atração permanentes aos oprimidos que corroíam o câncer da escravidão.
 
Como já lembraram, nos anos 1950, o historiador marxista-revolucionário francês Benjamin Pérret e o piauiense comunista Clóvis Moura, a confederação dos Palmares venceria apenas se espraiasse a rebelião aos escravizados dos engenhos, roças e aglomeração do Nordeste, o que era então materialmente impossível.
 
Palmares não foi, porém, luta utópica e inconsequente. Por longas décadas, pela força das armas e a velocidade dos pés, assegurou para milhares de homens e mulheres a materialização do sonho de viver em liberdade de seu próprio trabalho. Indígenas, homens livres pobres, refugiados políticos eram aceitos nos Palmares. Eram braços para o trabalho e para a resistência.
 
A proposta da retomada da escravidão colonial em Palmares, com Zumbi com um “séquito de escravos para uso próprio”, é lixo historiográfico sem qualquer base documental, impugnado pela própria necessidade de consenso dos palmarinos contra os escravizadores. Trata-se de esforço ideológico de sicofantas historiográficos para naturalizar a opressão do homem pelo homem, propondo-a como própria a todas e quaisquer situações históricas.
 
Palmares garantiu que milhares de homens e mulheres nascessem, vivessem e morressem livres. Ao contrário, em poucos anos, os seguidores de Ganga Zumba foram reprimidos, reescravizados ou retornaram fugidos aos Palmares, encerrando-se rápida e tristemente a traição que dividiu e fragilizou a resistência quilombola.
 
A paliçada do quilombo do Macaco foi a derradeira tentativa de resistência estática palmarina, quando a resistência esmorecia. Ela foi devassada em fevereiro de 1694, por poderoso exército, formado por brancos, mamelucos, nativos e negros, entre eles, o célebre Terço dos Enriques, formado por soldados e oficiais africanos e afro-descendentes. Não havia e não há consenso racial e étnico entre oprimidos e opressores.
 
O último reduto palmarino, defendido por fossos, trincheiras e paliçada, encontrava-se nos cimos de uma altaneira serra.
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A serra da Barriga e regiões próximas, na Zona da Mata alagoana, com densa vegetação, são paragens de beleza única. Quem se aproxima da serra, chegado do litoral, maravilha-se com o espetáculo natural.
 
O maciço montanhoso rompe abruptamente, diante dos olhos, no horizonte, como fortaleza natural expugnável, dominando as terras baixas, cobertas pelo mar verde dos canaviais flutuando ao lufar do vento.
 
Se apurarmos o ouvido, escutaremos os atabaques chamando às armas, anunciando a chegada dos negreiros malditos. Sentiremos a reverberação dos tam-tans lançados do fundo da história, lembrando às multidões que labutam, hoje, longuíssimas horas ao dia, não raro até a morte por exaustão, por alguns punhados de reais, nos verdes canaviais dessas terras que já foram livres, que a luta continua, apesar da já longínqua morte do general negro de homens livres.
 
Mario Maestri é professor do programa de pós-graduação em História da UPF.
E-mail: maestri(0)via-rs.net
 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Gaza: “Guerra” é inadequado. Terrorismo de Estado soa melhor

 



Desde o início da operação “Pilar Defensivo”, teriam sido mais de 90 palestinos mortos e 700 feridos na faixa de Gaza. Segundo a administração do território, 70% dos feridos e metade dos mortos eram civis. Pelo menos três civis israelenses tombaram no mesmo período, vítimas de mais de 80 foguetes que atingiram seu território dentre centenas lançados a partir de Gaza.
Por enquanto, dá 30 para 1, mas a tendência é aumentar. Número de mortes não deveriam ser comparadas, pois a dor não é algo mensurável. Mas isso serve para ranquear nossa ignorância e estupidez. Se fosse uma ação violenta da polícia carioca junto a favelas, mesmo as classes mais abastadas – muitas vezes lenientes com a morte dos mais pobres – já teria chamado a situação de chacina ou massacre. Nesse caso, relutamos em falar em banho de sangue. O próprio recém-eleito Barack Obama saiu em defesa de seu aliado no Oriente Médio: “nenhum país do mundo toleraria una chuva de mísseis sobre seus cidadãos”. Refere-se a Israel, mas poderia se aplicar à Palestina se os Estados Unidos a reconhecem como país.
Podemos chamar de guerra quando um dos lados é tão superior militarmente ao outro, fato que se traduz na contagem de corpos, como no caso dos ataques israelenses? Considerar normal uma taxa de 50% de “danos colaterais”, ou seja, de morte de civis em confronto? Por que não montamos um placar eletrônico de vez? Ou, melhor ainda, que tal uma tela de LCD gigante, diante da sede das ONU em Nova Iorque, mostrando – em tempo real – quantos anos o Exército israelense está roubando do futuro dos palestinos, tornando real a promessa de seu ministro do Interior, Eli Yishai, de que o país pretende “mandar Gaza de volta à Idade Média”?
Concordo quando dizem que não há crise humanitária em Gaza, aquela pequena faixa de terra entre Israel e o Egito ocupada por palestinos. Crise humanitária existia antes do bloqueio decretado por Israel devido à eleição do Hamas e ao lançamento de foguetes contra seu território anos atrás. Hoje, o que há é algo próximo ao que ficou conhecido como campo de concentração.
Em 2010, uma pequena frota de barcos com ativistas tentava amenizar, levando produtos de primeira necessidade, quando foi atacada pelas forças armadas israelenses, resultando em, ao menos, dez mortos e mais de 30 feridos. Ah, é claro, os barcos também levavam armas de destruição em massa, como estilingues e bastões, com os quais os pobres soldados, armados de simples metralhadoras, foram atacados ao abordá-los. As forças israelenses quase não resistiram às terríveis rajadas de bolas de gude, mais letais que as terríveis pedras lançadas manualmente por palestinos nos protestos em terra.
Presenciamos um massacre unilateral e não uma guerra – dezenas de civis, inclusive mulheres e crianças, morreram desde o início da última operação miliar contra Gaza. E tendo em vista a intensidade e a forma desse cerceamento, o que estamos presenciando soa mais como (mais uma etapa de) genocídio do que crise. Guerra é inadequado, terrorismo de Estado seria melhor.
Se de um lado, estúpidos extremistas palestinos não aceitam a existência de Israel, do outro estúpidos extremistas israelenses reivindicam Gaza e Cisjordânia como parte de seu território histórico. Para estes, árabes em geral são bem aceitos no seu território, desde que sirvam para mão de obra barata. A diferença entre esses dois grupos é que Israel tem poder de fogo para levar esse intento adiante, enquanto o outro lado não.
O certo é que o islamismo radical vai ficando mais forte do que antes. E o Hamas não é o verdadeiro problema nessa equação, há outros grupos mais radicais que não obedecem a sua autoridade. Mesmo que a maioria dos seus líderes morram, surgirão outros, lembrando que as condições de vida em Gaza são uma tragédia, com crianças revoltadas diante de tanta violência social e física, prontas para serem cooptadas por grupos fundamentalistas.
Os dois lados devem parar, mas é estúpido dizer que há um conflito com partes iguais e responsabilidades iguais. Israel acha que vai conseguir controlar os ataques contra seu território com mais porrada? Aliás, será que o governo considera que não foi ele mesmo quem, historicamente, criou essa situação? Portanto, caos queira seguir a política que adotou até agora, não é à Idade Média que Israel terá que mandar Gaza para se sentir segura e sim extirpar um povo do mapa. O tempo passa, os papeis se invertem.
Quais as chances de jovens que vêem seus pais, irmãs, namoradas serem mortos hoje não tentarem vingar suas mortes amanhã?
Nenhuma.

domingo, 18 de novembro de 2012

10 fatos chocantes sobre os USA...

  


140612 povertyEstados Unidos - Diário Liberdade - [António Santos] Maior população prisional do mundo, pobreza infantil acima dos 22%, nenhum subsídio de maternidade, graves carências no acesso à saúde... bem-vindos ao "paraíso americano".

Artigo muito elucidativo de António Santos, colaborador do Diário Liberdade nos Estados Unidos.

10 Fatos Chocantes Sobre os EUA
  1. Os Estados Unidos têm a maior população prisional do mundo, compondo menos de 5% da humanidade e mais de 25% da humanidade presa. Em cada 100 americanos 1 está preso1.
A subir em flecha desde os os anos 80, a surreal taxa de encarceramento dos EUA é um negócio e um instrumento de controlo social: À medida que o negócio das prisões privadas alastra como gangrena, uma nova categoria de milionários consolida o seu poder político. Os donos destes cárceres são também na prática donos de escravos, que trabalham nas fábricas no interior prisão por salários inferiores a 50 cêntimos por hora. Este trabalho escravo é tão competitivo, que muitos municípios hoje sobrevivem financeiramente graças às suas próprias prisões camarárias, aprovando simultaneamente leis que vulgarizam sentenças de até 15 anos de prisão por crimes menores como roubar pastilha elástica. O alvo destas leis draconianas são os mais pobres mas sobretudo os negros, que representando apenas 13% da população americana, compõem 40% da população prisional do país.
  1. 22% das crianças americanas vive abaixo do limiar da pobreza2.
Calcula-se que cerca de 16 milhões de crianças americanas vivam sem “segurança alimentar”, ou seja, em famílias sem capacidade económica de satisfazer os requisitos nutricionais mínimos de uma dieta saudável. As estatísticas provam que estas crianças têm piores resultados escolares, aceitam piores empregos, não vão à universidade e têm uma maior probabilidade de, quando adultos, serem presos.
  1. Entre 1890 e 2012 os EUA invadiram ou bombardearam 149 países3.
São mais os países do mundo em que os EUA intervieram militarmente do que aqueles em que ainda não o fizeram. Números conservadores apontam para mais de 8 milhões de mortes causadas pelos EUA só no século XX. E por detrás desta lista escondem-se centenas de outras operações secretas, golpes de Estado e patrocínio de ditadores e grupos terroristas. Segundo Obama, recipiente do Nobel da Paz, os EUA têm neste momento a decorrer mais de 70 operações militares secretas em vários países do mundo. O mesmo presidente, criou o maior orçamento militar norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial, batendo de longe George W. Bush.
  1. Os EUA são o único país da OCDE que não oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade4.
Embora estes números variem de acordo com o Estado e dependam dos contratos redigidos pela empresa, é prática corrente que as mulheres americanas não tenham direito a nenhum dia pago antes nem depois de dar à luz. Em muitos casos, não existe sequer a possibilidade de tirar baixa sem vencimento. Quase todos os países do mundo oferecem entre 12 e 50 semanas pagas em licença de maternidade. Neste aspecto, os Estados Unidos fazem companhia à Papua Nova Guiné e à Suazilândia com 0 semanas.
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  1. 125 americanos morrem todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de acesso à saúde5.
Se não tiver seguro de saúde (como 50 milhões de americanos não têm), então, tem boas razões para recear mais a ambulância e os cuidados de saúde que lhe vão prestar, que esse inocente ataquezinho cardíaco. Com as viagens de ambulância a custarem em média 500€, a estadia num hospital público mais de 200€ por noite, e a maioria das operações cirúrgicas situadas nas dezenas de milhar, é bom que possa pagar um seguro de saúde privado. Caso contrário, a América é a terra das oportunidades e como o nome indicam, terá a oportunidade de se endividar até às orelhas e também a oportunidade de ficar em casa, fazer figas e esperar não morrer desta.
  1. Os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias, foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo americano6.
Esqueçam a história do Dia de Acção de Graças, com índios e colonos a partilhar placidamente o mesmo peru à volta da mesma mesa. A História dos Estados Unidos começa no programa de erradicação dos índios. Tendo em conta as restrições actuais à imigração ilegal, ninguém diria que os fundadores deste país foram eles mesmo imigrantes ilegais, que vieram sem o consentimento dos que já viviam na América. Durante dois séculos, os índios foram perseguidos e assassinados, despojados de tudo e empurrados para minúsculas reservas de terras inférteis, em lixeiras nucleares e sobre solos contaminados. Em pleno século XX, os EUA puseram em marcha um plano de esterilização forçada de mulheres índias, pedindo-lhes para colocar uma cruz num formulário escrito num língua que não compreendiam, ameaçando-as com o corte de subsídios caso não consentissem ou, simplesmente, recusando-lhes acesso a maternidades e hospitais. Mas que ninguém se espante, os EUA foram o primeiro país do mundo a levar a cabo esterilizações forçadas ao abrigo de um programa de eugenia, inicialmente contra pessoas portadoras de deficiência e mais tarde contra negros e índios.
  1. Todos os imigrantes são obrigados a jurar não ser comunistas para poder viver nos EUA7.
Para além de ter que jurar que não é um agente secreto nem um criminoso de guerra nazi, vão-lhe perguntar se é, ou alguma vez foi membro do “Partido Comunista”, se tem simpatias anarquista ou se defende intelectualmente alguma organização considerada “terrorista”. Se responder que sim a qualquer destas perguntas, ser-lhe-á automaticamente negado o direito de viver e trabalhar nos EUA por “prova de fraco carácter moral”.
  1. O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 000 dólares8.
O ensino superior é uma autêntica mina de ouro para os banqueiros. Virtualmente todos os estudantes têm dívidas astronómicas, que acrescidas de juros, levarão em média 15 anos a pagar. Durante esse período os alunos tornam-se servos dos bancos e das suas dívidas, sendo muitas vezes forçados a contrair novos empréstimos para pagar os antigos e ainda assim sobreviver. O sistema de servidão completa-se com a liberdade dos bancos de vender e comprar as dívidas dos alunos a seu bel-prazer, sem o consentimento ou sequer a informação do devedor. Num dia deve-se dinheiro a um banco com uma taxa de juro e no dia seguinte, pode-se dever dinheiro a um banco diferente com nova e mais elevada taxa de juro. Entre 1999 e 2012, a dívida total dos estudantes americanos ascendeu a 1.5 triliões de dólares, subindo uns assustadores 500%.
  1. Os EUA são o país do mundo com mais armas: para cada 10 americanos, há 9 armas de fogo9.
Não é de espantar que os EUA levem o primeiro lugar na lista dos países com a maior colecção de armas. O que surpreende é a comparação com o resto do mundo: No resto do planeta, há 1 arma para cada 10 pessoas. Nos Estados Unidos, 9 para cada 10. Nos EUA podemos encontrar 5% de todas as pessoas do mundo e 30% de todas as armas, qualquer coisa como 275 milhões. E esta estatística tende a se extremar, já que os americanos compram mais de metade de todas as armas fabricadas no mundo.
  1. São mais os americanos que acreditam no Diabo que os que acreditam em Darwin.10
A maioria dos americanos são cépticos; pelo menos no que toca à teoria da evolução, em que apenas 40% dos norte-americanos acredita. Já a existência de Satanás e do inferno, soa perfeitamente plausível a mais de 60% dos americanos. Esta radicalidade religiosa explica as “conversas diárias” do ex-presidente Bush com Deus e mesmo os comentários do ex-candidato Rick Santorum, que acusou os académicos americanos de serem controlados por Satã.

Suíça é segundo destino do tráfico de pessoas no Brasil

 

     
Maurício Thuswohl no CORREIO DO BRASIL
             

Um estudo inédito sobre o tráfico internacional de pessoas divulgado em outubro pelo Ministério da Justiça revela que a Suíça é o segundo destino preferencial para onde são levadas as vítimas desse tipo de crime no Brasil.
No período analisado, entre 2005 e 2011, foram registrados 127 casos de cidadãos brasileiros levados à Suíça, em sua maioria mulheres, para fins de exploração sexual ou trabalho análogo à escravidão.
Ao todo, dentro do período analisado, foram registrados 475 casos de tráfico internacional de pessoas oriundas do Brasil. Entre as vítimas, 337 sofreram algum tipo de exploração sexual, 135 foram submetidas a algum tipo de trabalho forçado e 3 foram casos indefinidos. À frente da Suíça como destino preferencial aparece o Suriname, país que serve como rota de passagem para a Holanda, com 133 casos. Em terceiro lugar está a Espanha, com 104 casos, seguida pela própria Holanda, com 71 casos registrados pelas autoridades brasileiras.
A publicação do estudo foi possível graças a uma parceria entre a Secretaria Nacional de Justiça (SNJ) brasileira e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC). Para sua elaboração, foram coletados dados e estatísticas criminais em outros órgãos da administração pública no país, como a Polícia Federal, a Secretaria Nacional de Segurança Pública e a Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores. A maior parte das vítimas, segundo o que foi levantado, é recrutada nos estados de Pernambuco, Bahia e Mato Grosso do Sul.
O perfil das vítimas, de acordo com a SNJ, obedece a um padrão, já que a maioria é constituída por mulheres entre 10 e 29 anos, solteiras e com baixos níveis de renda e escolaridade. Já o padrão dos criminosos é duplo. Na fase de aliciamento e tráfico, o crime é praticado em geral por mulheres. Já aos homens cabe atuar em uma “segunda fase” do crime, com o controle da prática a qual a vítima é submetida (geralmente prostituição), sempre obtido através de coerção e violência.
Apesar da divulgação do inédito diagnóstico, o governo brasileiro ressalta que os números certamente estão aquém da realidade dos fatos: “Esses números mostram somente aquilo que desaguou nos órgãos de segurança ou de atendimento às vítimas. Ainda temos um cenário de muitos dados ocultos”, afirma Fernanda dos Anjos, diretora do Departamento de Justiça da SNJ. O secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, concorda: “Uma das características do tráfico de pessoas é a invisibilidade das vítimas e a negação delas em se reconhecerem como tais”.
Ajuda suíça
Ciente do problema relativo ao tráfico de pessoas oriundas do Brasil, o governo da Suíça, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, apoiou material e financeiramente os trabalhos do UNODC no país entre 2008 e 2011. Nesses três anos, ao lado dos governos da Suécia e da Noruega, a Suíça aportou 50 mil euros anuais para aumentar a capacidade brasileira de combater esse tipo de crime. A ajuda suíça se inseriu no Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, lançado no Brasil pelo Ministério da Justiça em 2008 e que terá uma segunda edição em 2013.
“O controle e a prevenção ao tráfico de pessoas são compromissos do governo da Suíça, que acredita na construção de redes ativas entre setores públicos e privados da sociedade civil e em organizações internacionais como o UNODC para desenvolver mecanismos de cooperação e enfrentar o problema com eficiência”, afirmou o governo suíço em nota divulgada sobre a parceria firmada no Brasil.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Suíça, a maioria das vítimas do tráfico internacional de pessoas que chegam ao país é composta por mulheres forçadas a cumprir serviços domésticos ou se submeter à prostituição e outras formas de exploração sexual. Segundo o UNODC, a Tailândia e os países do Leste Europeu formam ao lado do Brasil o principal polo do tráfico internacional de pessoas tendo a Suíça como destino.
“Bom trabalho”
Para o coordenador da Unidade de Governança e Justiça do UNODC, Rodrigo Vitória, a ajuda vinda da Suíça e de outros países europeus tem sido fundamental para que o Brasil dê um salto de qualidade no combate ao tráfico de pessoas. Com essa ajuda, o UNODC realizou nos últimos três anos eventos em diversas cidades do país _ um deles, em São Paulo, contou com a participação da Rainha Silvia, da Suécia _ e participou ativamente do encontro para avaliação do primeiro Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, realizado em Belo Horizonte.
“O Brasil tem desenvolvido um bom trabalho em termos do enfrentamento ao tráfico de pessoas. O país está revisando sua legislação, e núcleos e postos foram criados aqui, o que é uma experiência muito interessante. A forma como o Brasil criou o seu segundo Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas se deu a partir de um processo amplamente participativo. O país está no caminho certo, atuando muito na área de prevenção e tentando também, na medida do possível, reforçar as forças policiais para melhorar a parte de investigação”, avalia o coordenador do UNODC.
Maurício Thuswohl, swissinfo.ch
Rio de Janeiro

sábado, 17 de novembro de 2012

“A guerra contra o Antissemitismo Global” na Era da Islamofobia

“A guerra contra o Antissemitismo Global” na Era da Islamofobia

 

Julie Lévesque


(Traduzido ao português por Jair de Souza-http://www.youtube.com/user/josespa1)

 

Esqueçam a desenfreada islamofobia a nível mundial e a demonização dos árabes. O jornal Haaretz informa que a Agência para Democracia, Direitos Humanos e Trabalho, do Departamento de Estado dos EUA, “institucionalizou a luta contra o antissemitismo global”, muito embora os Estados Unidos e seus aliados estejam há mais de uma década destruindo países habitados principalmente por muçulmanos. Ou, não seria, talvez, precisamente para apoiar a guerra contra o Islã e o mundo árabe – isto é, “a guerra contra o terrorismo” – que esta “guerra contra o antissemitismo global” tenha sido lançada? (Leaving post, U.S. official reflects on a new definition of anti-Semitism, Haaretz, October 17, 2012.)
 

A Agência de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho, que se apresenta como líder dos “esforços dos EUA para promover a democracia, proteger os direitos humanos e a liberdade religiosa internacional e para impulsar globalmente os direitos trabalhistas”, exige agora que os funcionários do Departamento de Estado frequentem um “curso de 90 minutos sobre antissemitismo no Instituto de Relações Exteriores (Foreign Service Institute), a escola de preparação de diplomatas.” (Ibid.)
 
Por conveniência, “uma definição de antissemitismo de 341 palavras” foi redigida, a qual “incluía não apenas as formas tradicionais – injúrias de origem racial, estereótipos – mas também novas formas, como a negação do Holocausto e a relativização do Holocausto”,  explicou Hannah Rosenthal, ex-monitora de antissemitismo no Departamento de Estado. (Ibid.)
 
Rosenthal, que comandou por duas vezes o Conselho Judaico para Questões Públicas e é agora presidenta e diretora executiva da Federação Judaica de Milwaukee, também indicou que sua equipe “conseguiu incluir (na definição) situações nas quais a crítica legítima a Israel se torna antissemitismo”. (Ibid.)
 
Esta iniciativa é mais uma demonstração do “monopólio judaico da vitimização”. No mundo pós 11/9, no qual muçulmanos e árabes são vítimas de discriminação racial e religiosa nos países ocidentais, uma decisão deste tipo é logicamente injustificável. A caça aos “radicais islamistas”, retratados pelo Departamento de Estados dos EUA como a máxima ameaça, independentemente de qual partido esteja no governo, transformou todos os muçulmanos e árabes em suspeitos e inimigos potenciais. A “guerra contra o antissemitismo global” não é nada mais do que um outro instrumento de engano da “guerra contra o terror” dos EUA, a qual indubitavelmente favorece a Israel.
 
Este novo curso sobre antissemitismo para funcionários estadunidenses é também um peixe pequeno no oceano da “Indústria do Holocausto”. Os lobbies pró-israelenses/judaicos estão decididos em sua missão de erradicar quaisquer críticas legítimas ao Estado de Israel. No entanto, Rosenthal tentou mostrar-se tolerante ao dizer que “as críticas a Israel similares àquelas niveladas contra quaisquer outros países não poderão ser consideradas como antissemitas.”
 
Embora esta declaração possa parecer justa e equilibrada, não o é, e também não é lógica. Resulta ser não somente impossível equilibrar as críticas entre países, senão que Israel e os EUA são os campeões de crítica não-equilibrada. O melhor exemplo disto é sua crítica ao Irã, que, diferentemente dos EUA e Israel, não ocupa nenhum outro país no momento, não está empregando suas forças armadas contra nenhuma outra nação e não possui nenhum armamento nuclear comprovado. Apesar destes fatos, vem sendo apresentado como a mais perigosa ameaça do planeta.
 
Nivelando a crítica e normalizando a islamofobia
 
Tenha ou não sido usada de propósito, a expressão “niveladas contra outros países”,  em lugar de “dirigidas” ou “destinadas”, traduz o desejo de minimizar a crítica contra Israel. A “nivelação da crítica” serve a um propósito de primeira linha relacionado a sua ocupação da Palestina: justificar o injustificável; dar a impressão de que está se protegendo de um inimigo que combate com meios equiparados aos seus e que está colocando sua sobrevivência em grande perigo. Serve para justificar a ocupação de várias décadas, a punição coletiva dos palestinos, o que é um crime de guerra com base nos Princípios de Nuremberg, os quais foram elaborados na onda dos julgamentos aos nazistas. Quando se trata de Israel e Palestina, não é logicamente possível criticar igualmente aos dois países: como pode um país ocupado, sem forças armadas, ao qual são negados o direito de autodeterminação e os direitos humanos básicos, ser criticado tanto quanto seu brutal e super armado ocupante?
 
Há uma frase superficial estereotipada que os chamados “comentaristas neutros” costumam usar muito para “nivelar sua crítica”: “O conflito Israel-Palestina é complicado”. Primeira e principalmente, não se trata de um conflito. É uma guerra. Uma guerra travada com meios desproporcionais, na qual toda uma população está sendo punida e o agressor é vitimizado. Em segundo lugar, não é complicado. É muito simples. Israel ocupa um território e comete crimes de guerra de forma regular, enquanto que a “comunidade internacional” permanece sentada sem fazer nada, já seja porque Israel é seu aliado ou simplesmente porque seus interesses não estão em risco.
 
Esta “nivelação de críticas” faz parte do legendário processo de legitimação da injustiça e dos crimes de guerra. Na passada década de 1990, os Acordos de Oslo trivializaram a ocupação israelense da Palestina. Recentemente, o futebolista palestino Mahmoud Sarsak se tornou um ícone da luta contra a normalização. Ele foi preso numa passagem fronteiriça, encarcerado em Israel e libertado somente depois de uma greve de fome de 96 dias. Adie Mormech escreve:
 
O Dr. Haidar Eid denominou a luta pela libertação da Palestina em oposição à normalização com Israel de “A des-Osloização da mente dos palestinos”. Ele descreveu o posicionamento de Mahmoud Sarsak (o futebolista palestino) ao recusar ser recepcionado pelo F.C. Barcelona juntamente com o soldado israelense Gilad Shalit de a luta contra o “Vírus de Oslo”.
 
O “Vírus de Oslo” se refere ao que estava por trás da série de iniciativas de normalização que começaram de forma séria em 1993, no auge dos Acordos de Oslo, e o acordo feito entre a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e o governo trabalhista de Israel de então.
 
Edward Said, que vira de imediato os perigos da normalização sem justiça, escreveu em 1995 sobre a decisão da liderança palestina de aprovar o acordo de Oslo. “Pela primeira vez no século XX, um movimento de libertação anticolonialista não somente descartou suas consideráveis conquistas, senão que fez um acordo de cooperar com uma ocupação militar antes de a ocupação ter terminado” (Adie Mormech, De-Osloization and the fight against Normalisation, Scoop, October 25, 2012.)
 
Sarsak explicou sua decisão da seguinte maneira:
 
“Há uma diferença entre uma pessoa aprisionada com sua arma, com uniforme militar, de dentro de seu tanque... e a prisão numa passagem fronteiriça de um atleta que estava a caminho de seu clube esportivo profissional na Cisjordânia. Eu anuncio minha disposição de me reunir com o Barcelona ou qualquer outro clube espanhol fora do contexto de um convite conjunto a Gilad Shalit, se me convidarem como um atleta palestino que experimentou... o sofrimento de uma greve de fome pela liberdade e pela dignidade.” (Adie Mormech, Mahmoud Sarsak and the end of Oslo-era normalization, Mondoweiss, October 26, 2012)
 
A narrativa segundo a qual o “conflito” entre a Palestina e Israel é complicado é parte da trivialização da brutal e ilegal ocupação da Palestina por Israel. Por uma distorção absurda e macabra da realidade, somos levados a crer que os israelenses são as únicas vítimas de racismo e discriminação.
 
A injustiça foi vulgarizada e minimizada a tal ponto que, segundo um levantamento recente, a maioria dos israelenses aceitam e admitem que há uma forma de apartheid em seu próprio país, e cerca de 50% da população apoia a segregação e a discriminação contra os árabes.
 
Uma nova enquete revelou que a maioria dos israelenses judeus acreditam que o Estado Judaico pratica “apartheid” contra os palestinos, com muitos apoiando abertamente as políticas discriminatórias contra seus cidadãos árabes.
 
Um terço dos que responderam creem que os cidadãos árabes de Israel não deveriam ter direito a voto, ao passo que quase a metade – 47 por cento – gostaria que lhes fossem retirados seus direitos de cidadania e que fossem postos sob o controle da Autoridade Palestina (...)
 
A enquete, conduzida pelo grupo de pesquisa israelense Dialog, concluiu que 59% de 503 pessoas consultadas gostaria de ver os judeus receberem preferência para os empregos no setor público, ao passo que a metade gostaria de ver os judeus melhor tratados do que os árabes.
 
Um pouco mais de 40% gostaria de ver moradias e salas-de-aulas separadas para judeus e árabes. (Catrina Stewart, The new Israeli apartheid: Poll reveals widespread Jewish support for policy of discrimination against Arab minority, The Independent October 23, 2012)
 
Noam Sheizaf, um jornalista israelense, escreveu que as “descobertas refletem a noção generalizada de que Israel, como um Estado Judaico, deveria ser um Estado que favorecesse os judeus. Elas são também o resultado da ocupação... Após quase meio século de dominação sobre outro povo, não é nenhuma surpresa que a maioria dos israelenses não pense que os árabes mereçam os mesmos direitos.” (Ibid.)
 
Esta dominação dos palestinos pelos israelenses vem sendo estimulada e mantida por países que alegam defender a liberdade, os direitos humanos e a democracia.
 
A Autoridade Palestina foi criada com os Acordos de Oslo em 1994 como um organismo de governo provisório com poderes limitados e com independência geográfica ainda mais limitada de Israel, cuja duração deveria ter sido de apenas cinco anos, de acordo com a linha de tempo estipulada pela qual os “acordos de status final” deveriam ter sido alcançados.
 
Dezenas de milhões de dólares jorraram sobre a Autoridade Palestina (AP) vindos de ardentes partidários de Israel, tais como os Estados Unidos e a União Europeia, e investimentos similares prosseguiram em projetos conjuntos Israel-Palestina que, uma vez mais, não fizeram nenhum esforço para mudar o status quo político e econômico da vida palestina concreta.
 
O discurso proeminente em relação a grupos recentemente formados, tais como One Voice (Uma Voz) e outras colaborações, era que o “conflito” Israel-Palestina era um problema de ignorância e preconceito em oposição a uma questão de injustiça e do continuado despojo e subjugação de um povo por outro. (http://www.maan-ctr.org/pdfs/Boycott.pdf)
 
A onda de colaborações que veio após Oslo aumentaram a legitimidade global de Israel de tal modo que os acordos bilaterais com a União Europeia e outros países se multiplicaram, assim como outros acordos que incluíam laços mais próximos com a OTAN e a OCDE. Entre 1994 e 2000, houve um acréscimo de seis vezes no investimento estrangeiro direto em Israel, de US$ 686 milhões para aproximadamente US$ 3,6 bilhões. (De-Osloization and the fight against Normalisation, op. cit.)
 
De certo modo, o “Vírus de Oslo” normalizou o ostracismo de todos os árabes e muçulmanos, e o maltrato aos palestinos era um prelúdio para a aceitação da atual e patente islamofobia e arabofobia (E como os árabes também são semitas, a arabofobia também é antissemitismo, mas é virtualmente impossível usar essa expressão em relação com os sentimentos anti-árabe em razão de sua forte conotação judaica.)
 
O mundo ocidental aceita as ocupações dos EUA e Israel sobre terras árabes e muçulmanas para proteger interesses estratégicos e financeiros, e a “guerra global contra o antissemitismo” assim como a “guerra global ao terror” são os pretextos escolhidos para a invasão militar, onde quer que a “intervenção humanitária” se mostre inadequada. Aqueles que resistem a ocupação estadunidense no Afeganistão ou a ocupação israelense da Palestina são retratados como terroristas. Aqueles que matam civis e funcionários governamentais eleitos na Síria são apresentados como combatentes da liberdade. Se você resiste a ocupação, você será bombardeado. Se você combater por ela, você será armado.
 
O antissemitismo e a islamofobia como instrumentos da guerra de propaganda dos EUA
 
Alguns argumentam que Israel não passa de posto avançado do imperialismo estadunidense: “Os Estados Unidos estão alinhados com Israel fundamentalmente porque usam Israel para projetar sua influência imperial na região rica em recursos.” (Michael Fiorentino Israel: An outpost of empire, SocialistWorker.org, April 16, 2010.). Com isto em mente, a “guerra global contra o antissemitismo” pode ser vista como um instrumento da guerra de propaganda imperial dos Estados Unidos.
 
Em A Indústria do Holocausto, Norman Finkelstein escreve: “Assim como as organizações judeo-estadunidenses dominantes negligenciaram o holocausto nazista nos anos subsequentes à Segunda Guerra Mundial para ajustar-se às prioridades do governo dos EUA na Guerra Fria, também sua atitude quanto a Israel manteve-se em linha com a política estadunidense nos EUA.” Com a guerra árabe-israelense de 1967, “O Holocausto se tornou uma fixação na vida do judeu estadunidense”. (Finkelstein, Norman. The Holocaust Industry. New York: Verso, 2003, p. 16-17.)
 
Não é segredo para ninguém que os EUA querem expandir e manter sua hegemonia, e o infame Projeto para um Novo Século Estadunidense (Project for a New American Century) expôs claramente o que deve ser feito para tal efeito.
 
O papel das forças militares durante a Guerra Fria era dissuadir o expansionismo soviético. Hoje sua tarefa é garantir e expandir as “zonas de paz democrática”, dissuadir o surgimento de uma nova grande potência competidora, defender regiões chave da Europa, Ásia Oriental e Oriente Médio, e preservar a proeminência dos Estados Unidos mediante a próxima transformação da guerra viabilizada por novas tecnologias (...)
 
A liderança global dos Estados Unidos (...) baseia-se na segurança da pátria estadunidense, a preservação de um equilíbrio de forças favorável na Europa, no Oriente Médio e nas circundantes regiões produtoras de energia, assim como na Ásia Oriental. (Rebuilding America’s Defenses, Project for a New American Century, September 2000.)
 
Chama muito a atenção de que expandir as “zonas de paz democrática” seja o único objetivo entre parênteses, posto que estes em geral denotam sarcasmo e ironia. Afora de “paz democrática”, os objetivos hegemônicos estão muito claros e a nova “guerra contra o antissemitismo global” só pode contribuir ainda mais para o projeto imperial dos Estados Unidos, do qual Israel é tanto uma ferramenta de uso como um beneficiário.
 
Fortemente armados pelos Estados Unidos, a política exterior de Israel é uma extensão da política exterior dos Estados Unidos. Desde a criação de Israel fomos acostumados ao maltrato dos palestinos: isto foi “normalizado”. A punição coletiva infligida aos palestinos por Israel, um crime que os judeus sofreram sob o regime nazista, é aceito e perpetuado pelos Estados Unidos. Sem a ajuda e a permissão dos Estados Unidos e a aceitação da chamada “comunidade internacional”, os palestinos não seriam perseguidos.
 
Da mesma forma que Israel usa o Holocausto para justificar a punição coletiva dos palestinos e a agressão a seus vizinhos, os Estados Unidos usam o 11/9 para justificar a punição coletiva dos muçulmanos no mundo inteiro e várias invasões militares. Muito antes dos Memorandos da Tortura da administração Bush que avalizam a tortura, Israel já tinha oficialmente autorizado a tortura através do Relatório Landau, em 1987. A islamofobia é sem dúvida a forma mais aceita de discriminação na atualidade e, neste contexto, a institucionalização da “guerra global contra o antissemitismo” é claramente uma outra expressão distorcida da mesma.
 
Em The Islamophobia Industry: How the Right Manufactures Fear of Muslims (A indústria da islamofobia: Como a Direita Fabrica o Medo aos Muçulmanos), Nathan Lean “traça o arco do sentimento islamofóbico que aflorou no ocidente”, o qual está fortemente ligado à “Indústria do Holocausto”.
 
“Ele expõe a multimilionária indústria dos traficantes do medo e a rede de financiadores e organizações que bancam e perpetuam o fanatismo, a xenofobia e o racismo, e criam um clima de medo que sustenta um ameaçador câncer social” (...)
 
“Trata-se de uma relação de benefícios mútuos, na qual ideologias e afinidades políticas convergem para levar adiante a mesma agenda.” (...)
 
Elas provêm principalmente do sionismo direitista e do cristianismo evangélico, que se unem para formar uma frente judeo-cristã em suas batalhas contra o Islã. Seus financiadores também provêm desses mundos – embora o mundo sionista de direita tenha gerado a maioria dos ativistas anti-muçulmanos (...)
 
É este sionismo cristão que liga estreitamente direitistas evangélicos com fortes partidários do Estado Judeu. Os sionistas que espalham o fanatismo anti-islâmico podem ser alocados em três campos, segundo Lean: o sionismo religioso (judeu), o sionismo cristão e o sionismo político. “Para os sionistas religiosos, a profecia é o principal instigador de seu fervor islamofóbico. Para eles, os palestinos não são apenas habitantes indesejados; não são apenas árabes em terras judaicas. Não são sequer apenas muçulmanos. Eles são forasteiros não-judeus feitos de tecido diferente – e as ordens de Deus em relação a eles são bem claras”, ele escreve.  E há o sionismo político, que se abstém da linguagem religiosa, mas continua sendo hostil para com os muçulmanos. Como Max Blumenthal escreveu, estes personagens, alguns dos quais são neoconservadores, creem que “o Estado Judeu (é) um Forte Apache do Oriente Médio nas linhas de frente da Guerra Global ao Terror.” (Alex Kane, Islamophobia: How Anti-Muslim bigotry was brought into the American mainstream, Mondoweiss, October 29, 2012.)
 
Os Estados Unidos estão usando Israel para suas guerras sujas e, por sua vez, Israel está usando os Estados Unidos para combater seus vizinhos. Eles são aliados inseparáveis, cada qual acumula poder e expande seu controle sobre territórios estrangeiros e suas populações, e seus aliados se beneficiam disso. Qualquer que seja o pretexto usado, a razão para deflagrar guerras permanece a mesma: poder e dinheiro. E isto sempre se consegue com a demonização de quem estiver no caminho.
 

O que está por trás dos novos ataques sionistas?

   


 
DIARIOLIBERDADE.ORG
Avigdor LiebermanIsrael - PCO - Perante as eleições de janeiro de 2013, a direita sionista tenta criar um fato contra a população de Gaza, que vive num cárcere a céu aberto, para calar a voz de qualquer oposição e manter a bilionária ajuda dos EUA.

Os sionistas israelenses empreenderam uma nova agressão em larga escala contra os palestinos da Faixa de Gaza. A imprensa burguesa, seguindo o roteiro de sempre, se apressou a justificar a ação e a culpar o Hamas e os militantes de outros grupos da resistência por ter lançado foguetes contra as cidades de Israel. Mas além da versão sionista e do imperialismo, o que realmente está acontecendo em Gaza e por quê?
O primeiro ponto que deve ser destacado são as eleições gerais que acontecerão em Israel no próximo mês de janeiro. A direita sionista, liderada pelo primeiro ministro Benjamin Netanyahu, busca gerar um barulho diversionista e, principalmente, distrair a atenção do aprofundamento da crise capitalista no País, silenciando os setores oposicionistas, em cima do aumento da histeria sobre os “terroristas islâmicos” e os perigos aos quais a “democrática” nação judia está submetida.
Ao mesmo tempo, a agressão ajuda aumentar a pressão dos lobistas sionistas sobre o governo Obama para que a ajuda militar, que soma em torno de US$ 3 bilhões, seja mantida no contexto das discussões sobre o chamado “abismo fiscal” e os cortes no orçamento público. O cinismo é recorrente. Após os sionistas atacarem e arrasarem o sul do Líbano em 2006, mas tendo sido derrotados, na prática, pelas milícias do Hizbolá, o governo norte-americano liberou uma ajuda bilionária especial para reconstruir as localidades que sofreram danos no norte de Israel, enquanto as Nações Unidas chamaram a desarmar o Hizbolá.
Os especuladores financeiros também agradecem à nova agressão, pois ajudou a segurar os preços do petróleo que há mais de uma semana tinham caído abaixo de US$ 110 o barril, o que hoje tem um enorme impacto devido ao esgotamento da especulação financeira nos mercados futuros de commodities provocada pela queda dos preços das matérias primas minerais e, nas últimas semanas, também de algumas matérias primas agrícolas, como a soja. 
Como a nova ofensiva iniciou e por quê o líder militar do Hamas foi assassinado?
Durante os últimos meses, tinham acontecido vários ataques da aviação israelense que a resistência tinha respondido basicamente com o lançamento de mísseis a Israel.
O Hamas e o grupo Jihad Islâmica buscaram uma trégua com o governo sionista, com a intermediação do governo do Egito. O primeiro ministro de Gaza, Ismail Haniyed, chegou a declarar, no dia 12 de novembro, a satisfação pelo fato dos principais grupos da resistência terem concordado com a trégua. A própria imprensa noticiou as declarações, começando pela agência Reuters no dia seguinte.
Umas horas mais tarde, o exército sionista assassinou o chefe da brigada al-Qassam, o braço militar do Hamas, Ahmad al-Jaffari, lançando um míssil contra o seu automóvel. al-Jaffari tenha sido um dos principais orquestradores da trégua com Israel e um elemento moderado do Hamas. Pouco antes dele ter sido morto, de acordo com o jornal israelense Haaretz e confirmado em blogs de ativistas palestinos, al-Jaffari tinha recebido uma primeira versão de um acordo de cesse ao fogo a longo prazo proposto pelos principais grupos da resistência palestina. Apesar da propaganda sionista, al-Jaffari era tido como uma espécie de “empreiteiro” político de Israel na Faixa de Gaza, durante os últimos cinco anos e meio, com a condição de que mantivesse a segurança sob controle. Ou seja, o governo israelense queria evitar a trégua e detonar uma guerra em condições favoráveis.
Não é a primeira vez que os sionistas “fabricam” uma crise para justificar massacres contra a população palestina com o objetivo de encobrir interesses escusos. O fizeram em dezembro de 2008, por exemplo, numa operação que, em dois meses, matou 1.400 palestinos. Desta vez, também vários civis têm sido mortos ou feridos, inclusive o filho de um fotografo da BBC, que tinha menos de dois anos de idade. Vários outros casos gritantes foram praticamente silenciados pela imprensa burguesa, como o do menino de 13 anos de idade, Hameed Abu Daqqa, que foi atingido no estômago, enquanto jogava futebol com os amigos, desde um helicóptero. 
Por quê Gaza?
De fato, o verdadeiro interesse da direita sionista enlouquecida, liderada por Netanyahu, gostaria de atacar o Irã, pois o impacto seria muito maior. Até o exército e o Massad rejeitaram a ideia nos últimos meses, segundo foi amplamente divulgado na imprensa burguesa. Por esse mmotivo, a aposta era a eleição do candidato republicano Mitt Romney, nos EUA.
A vitória de Obama levou a questão do Irã novamente aos trilhos diplomáticos e distanciou a possibilidade de uma agressão militar. Este inclusive foi um dos motivos pelos quais setores majoritários da burguesia imperialista apoiaram Obama – até figuras republicanas bem direitistas, como o prefeito de Nova Iorque, Bloomberg, o governador de New Jersey, Richie, e a revista The Economist apoiaram publicamente Obama.
O regime dos aiatolás do Irã está muito longe de representar uma ameaça importante para o imperialismo e os sionistas. O programa nuclear também não representa uma ameaça nuclear real por vários motivos – as negociações, para o uso nuclear civil, que começaram a ser intermediadas pelo governo Lula e o governo turco, em 2010, tinham sido encomendadas pelo próprio Obama, mas logo a seguir desautorizadas pelo forte lobbysionista. Por trás estão os interesses dos setores ligados ao setor de armamentos nos EUA, os especuladores que dependem dos altos preços do petróleo e a direita israelense que depende das fartas ajudas dos EUA.
Mas um ataque sionista ao Irã poderia ser uma operação suicida e incendiar o Oriente Médio.  As próprias tentativas de sufocar as revoluções árabes pela via democrática (Tunísia, Egito e Iêmen), pelo controle militar das milícias (Líbia e Síria), ou mesmo pela força militar direta (Bahrein), poderiam facilmente sair do controle imperialista e provocar a escalada do ascenso revolucionário na região, que é responsável pela maior parte da produção mundial de petróleo e pelos próprios petrodólares – base da ditadura do dólar e da especulação financeira.
A chamada operação “Pilar das Nuvem” contra a Faixa de Gaza, que a imprensa sionista e imperialista apresentam como uma espécie de base avançada do Irã, teria o mesmo objetivo, numa escala muito menor, mas com riscos muito menores, simplesmente confrontando uma população indefesa, cercada, que vive numa espécie de prisão a céu aberto, com baixa capacidade de reação contra uma das mais poderosas máquinas de guerra em escala mundial.
A tentativa de prejudicar o avanço das negociações entre o imperialismo norte-americano e o regime dos aiatolás pretende também criar uma provocação ao estilo do Golfo de Tonkin, que em 1964 levou o Congresso a autorizar os ataques contra o então Vietnam do Norte.
A política da direita israelense, em relação à população palestina, é elimina-la do mapa para poder viabilizar o sonho sionista da Grande Israel. Por esse motivo, mesmo a expansão dos assentamentos judaicos nas regiões ocupadas, longe de terem sido congelados, conforme o próprio Obama solicitou em 2010, continuam a todo vapor.
Logo após a escalada dos ataques sionistas o governo norte-americano e a imprensa imperialista propagandearam as centenas de mísseis que o Hamas teria lançado contra Israel e o direito dos sionistas a se “defenderem dos terroristas”.
As reacionárias monarquias do Golfo e a União Europeia, muito preocupadas em reconhecer o reacionário CNS (Conselho Nacional Sírio), com o qual querem sufocar a revolução na Síria, não se pronunciaram.
As massas populares palestinas somente podem contar com elas mesmas, e com a solidariedade internacionalista dos demais povos árabes, na luta anti-imperialista e pelo justo direito à autodeterminação.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A cobertura da mídia sobre Gaza: nós sabemos!

 



Em texto manifesto, linguistas denunciam a manipulação do notíciário pela grande imprensa para camuflar o massacre do povo palestino, apelam a jornalistas para que não sirvam de joguetes e para que as pessoas se informem pela mídia independente. Entre os signatários, Noam Chomsky. Confira a íntegra.




Enquanto países na Europa e América do Norte relembravam as baixas militares das guerras presentes e passadas, em 11 de Novembro, Israel estava alvejando civis. Em 12 de novembro, leitores que acordavam para uma nova semana tiveram já no café da manhã o coração dilacerado pelos incontáveis relatos das baixas militares passadas e presentes.

Leia também:
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Faixa de Gaza: Israel intensifica ofensiva militar

Não havia, porém, nenhuma ou quase nenhuma menção ao fato de que a maioria das baixas das guerras modernas de hoje são civis. Era também difícil alguma menção, nessa manhã de 12 de novembro, aos ataques militares à Gaza, que continuaram pelo final de semana. Um exame superficial comprova isso na CBC do Canada, Globe and mail, na Gazette de Montreal e na Toronto Star. A mesma coisa no New York Times e na BBC

De acordo com o relato do Centro Palestino para os Direitos Humanos (PCHR, pela sigla em inglês) de domingo, 11 de Novembro, cinco palestinos, entre eles três crianças, foram assassinados na Faixa de Gaza, nas 72 horas anteriores, além de dois seguranças. Quatro das mortes resultaram das granadas de artilharia disparadas pelos militares israelenses contra jovens que jogavam futebol. Além disso, 52 civis foram feridos, seis dos quais eram mulheres e 12 crianças. (Desde que este texto começou a ser escrito, o número de mortos palestinos subiu, e continua a aumentar.)

Artigos que relatam os assassinatos destacam esmagadoramente a morte de seguranças palestinos. Por exemplo, um artigo da Associated Press publicado no CBC em 13 de novembro, intitulado "Israel estuda retomada dos assassinatos de militantes de Gaza", não menciona absolutamente nada de civis mortos e feridos. Ele retrata as mortes como alvos "assassinados". O fato de que as mortes têm sido, na imensa maioria, de civis, mostra que Israel não está tão engajado em "alvos" quanto em assassinatos "coletivos". Assim, mais uma vez, comete o crime de punição coletiva.

Outra notícia de AP na CBC de 12 de novembro diz que os foguetes de Gaza aumentam a pressão sobre o governo de Israel. Traz a foto de uma mulher israelense olhando um buraco no teto de sua sala. Novamente, não há imagens, nem menção às numerosas vítimas sangrando ou cadáveres em Gaza. Na mesma linha, a manchete da BBC diz que Israel é atingido por rajadas de foguetes vindos de Gaza. A mesma tendência pode ser vista nos grandes jornais da Europa.

A maioria esmagadora das noiticias enfatizam que os foguetes foram lançados de Gaza, nenhum dos quais causaram vítimas humanas. O que não está em foco são os bombardeios sobre Gaza, que resultaram em numerosas vítimas graves e fatais. Não é preciso ser um especialista em ciências da mídia para entender que estamos, na melhor das hipóteses, diante de relatos distorcidos e de má qualidade e, na pior, de manipulação propositadamente desonesta.

Além disso, os artigos que se referem à vítimas palestinas em Gaza relatam consistentemente que as operações israelenses se dão em resposta ao lançamento de foguetes a partir de Gaza e à lesão de soldados israelenses. No entanto, a cronologia dos eventos do recente surto começou em 5 de novembro, quando um inocente, aparentemente mentalmente incapaz, homem de 20 anos, Ahmad al-Nabaheen, foi baleado quando passeava perto da fronteira. Os médicos tiveram que esperar seis horas até serem autorizados a buscá-lo. Eles suspeitam que o homem pode ter morrido por causa desse atraso. Depois, em 08 de novembro, um menino de 13 anos que jogava futebol em frente de sua casa foi morto por fogo do IOF, que chegou ao território de Gaza em tanques e helicópteros. O ferimento de quatro soldados israelenses na fronteira em 10 de novembro, portanto, já era parte de uma cadeia de eventos que começou quando os civis de Gaza foram mortos.

Nós, os signatários, voltamos recentemente de uma visita à Faixa de Gaza. Alguns de nós estamos agora conectados aos palestinos que vivem em Gaza através de mídias sociais. Por duas noites seguidas, palestinos em Gaza foram impedidos de dormir pela movimentação contínua de drones, F16, e bombardeios indiscriminados sobre vários alvos na densamente povoada Faixa de Gaza . A intenção clara é de aterrorizar a população, e com sucesso, como podemos verificar a partir de relatos dos nossos amigos. Se não fosse pelas postagens no Facebook, não estaríamos conscientes do grau de terror sentido pelos simples civis palestinos em Gaza. Isto contrasta totalmente com a consciência mundial sobre cidadãos israelenses chocados e aterrorizados.

O trecho de um relato enviado por um médico canadense que esteva em Gaza, servindo no hospital Shifa ER no final de semana, diz: " os feridos eram todos civis, com várias perfurações por estilhaços: lesões cerebrais, lesões no pescoço, hemo-Pneumo tórax, tamponamento cardíaco, ruptura do baço, perfurações intestinais, membros estraçalhados, amputações traumáticas. Tudo isso sem monitores, poucos estetoscópios, uma máquina de ultra-som. .... Muitas pessoas com ferimentos graves, mas sem a vida ameaçada foram mandadas para casa para ser reavaliadas na parte da manhã, devido ao grande volume de baixas. Os ferimentos por estilhaços penetrantes eram assustadores. Pequenas feridas com grandes ferimentos internos. Havia muito pouca Morfina para analgesia."

Aparentemente, tais cenas não são interessantes para o New York Times, a CBC, ou a BBC.

Preconceito e desonestidade com relação à opressão dos palestinos não é nada novo na mídia ocidental e tem sido amplamente documentado. No entanto, Israel continua seus crimes contra a humanidade com a anuência plena e apoio financeiro, militar e moral de nossos governos, os EUA, o Canadá e a União Europeia. Netanyahu está ganhando apoio diplomático ocidental para operações adicionais em Gaza, que nos fazem temer que outra operação Cast Lead esteja no horizonte. Na verdade, os novos acontecimentos são a confirmação de que tal escalada já começou, como a contabilização das mortes de hoje que aumenta.

A falta generalizada de indignação pública a estes crimes é uma conseqüência direta do modo sistemático em que os fatos são retidos ou da maneira distorcida que esses crimes são retratados.

Queremos expressar nossa indignação com a cobertura repreensível desses atos pela mainstream mídia (grande imprensa corporativa). Apelamos aos jornalistas de todo o mundo que trabalham nessas mídias que se recusem a servir de instrumentos dessa política sistemática de camuflagem. Apelamos aos cidadãos para que se informem através de meios de comunicação independentes, e exprimam a sua consciência por qualquer meio que lhes seja acessível.

Hagit Borer, linguist, Queen Mary University of London (UK)

Antoine Bustros, composer and writer, Montreal (Canada)

Noam Chomsky, linguist, Massachussetts Institute of Technology, US

David Heap, linguist, University of Western Ontario (Canada)

Stephanie Kelly, linguist, University of Western Ontario (Canada)

Máire Noonan, linguist, McGill University (Canada)

Philippe Prévost, linguist, University of Tours (France)

Verena Stresing, biochemist, University of Nantes (France)

Laurie Tuller, linguist, University of Tours (France)

Foto: Morre uma criança de 7 anos durante o bombardeio israelense a Gaza

Fonte: Ciranda da Informação Independente