quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Lei Geral da Copa prevê paralisação das aulas e gaúchos pedem mudança

 



“Sistemas de ensino deverão ajustar calendários escolares de forma que as férias escolares abranjam da Copa do Mundo”, diz artigo da Lei Geral da Copa | Foto: Marcello Casal Jr / ABr

Rachel Duarte no SUL21

Todas as instituições de ensino público e privado (Infantil, Fundamental, Médio e Superior) fecharão as portas durante a Copa do Mundo, de 12 de junho a 13 de julho de 2014. Pelo menos é o que determina o artigo 64 da Lei Geral da Copa, que está sendo questionado pelos representantes da educação gaúcha. Governo, Parlamento e entidades de ensino redigirão um documento na próxima sexta-feira (7), pedindo a alteração do texto junto ao Congresso Nacional e Casa Civil da União. O tema é desconhecido da maioria da população e as autoridades gaúchas alertam para o impacto social da paralisação compulsória.
De acordo com a secretária adjunta de Educação, Maria Eulália Nascimento, não houve uma discussão com o setor da Educação para propor este artigo durante a formulação da lei, o que poderia ter evitado o que considera um equívoco. “Isso é contra a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) que diz que os estados e municípios regem os sistemas de ensino e seus calendários. Cada lugar tem seu próprio calendário. Em Porto Alegre ocorrerão apenas cincos jogos, por que os alunos de Livramento, por exemplo, terão que parar um mês inteiro?”, questiona.
O artigo 64 diz que “em 2014, os sistemas de ensino deverão ajustar os calendários escolares de forma que as férias escolares decorrentes do encerramento das atividades letivas do primeiro semestre do ano, nos estabelecimentos da rede pública e privada, abranjam todo o período de realização da Copa do Mundo”. Na opinião do vice-presidente do Conselho Estadual de Educação, Raul Gomes de Oliveira Filho, o ajuste do termo ‘deverão’ para ‘poderão’ retiraria a obrigatoriedade e poderia resolver o problema.

Maria Eulália Nascimento: “Em Porto Alegre ocorrerão apenas cincos jogos, por que os alunos de Livramento, por exemplo, terão que parar um mês inteiro?” | Foto: Camila Domingues/Palácio Piratini
De acordo com Gomes, o artigo 56 da Lei Geral da Copa já determina que a União poderá decretar feriado ou ponto facultativo nos dias de jogos, assim como os estados e municípios sede do mundial. “Há uma contrariedade na lei com estes dois artigos. O erro está na obrigatoriedade. Todas as instituições pararem em dias de jogos é um impacto muito grave. As famílias não terão creches ou escolas infantis funcionando”, alerta.
Para a secretária estadual Eulália Nascimento, outro aspecto negativo na paralisação total das atividades na rede de ensino será a vulnerabilidade das crianças e adolescentes. “Muitas crianças são exploradas para trabalho de comércio ambulante ou outros similares em grandes eventos. Sem a escola, eles ficam ainda mais suscetíveis a isto”, afirma. Além de ser um desperdício pedagógico. “O fato de o Brasil sediar uma Copa, receber outras culturas, é extremamente positivo para ser abordado em sala de aula”, diz.
Educadores e autoridades gaúchas convergem pela não paralisação total das aulas durante a Copa
O artigo 64 da Lei Geral da Copa gerou contrariedade na educação gaúcha a ponto de ser levado para uma audiência pública na Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O debate ocorreu nesta terça-feira (4), a pedido da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe).
Para a representante da Undime, Liege  Barbosa, a audiência foi fundamental para divulgar a existência do artigo e mobilizar a sociedade civil. “As pessoas não se dão conta do alcance destas decisões. Este será o momento que a economia estará mais acelerada no país, não podemos fechar as portas das creches. Na Alemanha teve Copa sem precisar fazer férias para a rede de ensino”, compara.

“Ninguém é contrário à Copa. Queremos que o Brasil acolha muito bem este evento. Nossa preocupação é com a obrigatoriedade das férias” | Foto: Marcello Casal Jr / ABr
Na audiência, entidades, governo estadual e Parlamento convergiram sobre necessidade de se manter as aulas. “Queremos alertar o Congresso sobre este impacto na comunidade escolar, famílias e professores. Ninguém é contrário à Copa. Queremos que o Brasil acolha muito bem este evento, mas nossa preocupação é com a obrigatoriedade das férias gerais por 30 dias”, ressalta o conselheiro Raul Gomes.
Após redigir o termo pedindo a alteração do artigo 64, o grupo de educadores gaúchos irá agendar a audiência no Congresso Nacional e Palácio do Planalto. Tradicionalmente no Rio Grande do Sul o calendário letivo prevê férias de apenas duas semanas para os alunos e uma semana para os professores da rede pública.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Os 12 Mandamentos do Esquerdista Moderno

              


Marx 11 Mandamentos



I – Não ter o dinheiro como norte

II – Respeitar o próximo como a ti mesmo (não precisa nem amar, respeitar tá de bom tamanho)

III – Não roubar o povo

IV – Ser pacifista (violência, só contra a tirania)

V – Amar a natureza

VI – Ser contra o latifúndio, os transgênicos e o uso abusivo de agrotóxicos

VII – Não perder a capacidade de se indignar

VIII – Acreditar e lutar por direitos iguais para todos, independentemente de raça, credo, origem, condição social ou orientação sexual

IX – Ser consciente da dívida histórica com índios e negros e apoiar políticas de ação afirmativa

X – Ser um defensor intransigente da liberdade: de pensamento, de expressão, de culto, de ir e vir, cognitiva

XI – Ser a favor do estado laico

XII – Jamais se esquecer (ou se envergonhar) do que sonhava aos 20 anos de idade

Fonte: Por SOCIALISTA MORENA

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

MAHMUD DARWICH - POETA E RESISTENTE PALESTINO



O poeta Mahmud Darwich é uma das figuras mais notáveis da Palestina contemporânea. Personagem singular, Darwich conciliou a actividade intelectual (além de poeta foi prosador, ensaísta, jornalista) com a actividade de resistente contra a ocupação israelita, tendo-se tornado uma referência para o Médio Oriente. A sua poesia ultrapassou as fronteiras da geografia e tornou-se conhecida em todo o mundo árabe, que lhe conhece os versos e os recita de cor. A sua voz ergueu-se sempre, tanto através da escrita como na arena política, em defesa de uma Palestina independente, num combate em que lutou até aos seus últimos dias. Darwich, foi, de facto, durante a segunda metade do século XX, a voz e a consciência do Povo Palestino e o seu nome ficará indelevelmente registado na história da literatura e na história política, da Palestina e do Mundo.
Mahmud DarwichMahmud Darwich nasceu em Al-Birwa, uma aldeia da Galileia perto de São João d'Acre, então território sob mandato britânico, em 13 de Março de 1941. Após a criação do Estado de Israel, em 1948, a sua aldeia foi invadida e a família fugiu para o Líbano, onde permaneceu um ano. Quando regressaram a Israel, descobriram que a aldeia fora completamente arrasada e substituída por um colonato judaico. Instalaram-se, então em Deir Al-Assad, onde Mahmud frequentou a escola primária, tendo partido mais tarde para Haifa.
Publica o seu primeiro livro de poesia aos 19 anos: Asâfîr bilâ ajniha ("Pássaros sem asas"). Em 1964 começa a ser reconhecido a nível nacional, e mesmo internacional, como uma voz da resistência palestina com o livro Awrâq al-zaytûn ("Folhas de oliveira"), que inclui o célebre poema "Bilhete de identidade". Continua a escrever poemas e artigos em jornais e revistas, é preso várias vezes pelos seus escritos e actividades políticas e, em 1970, parte para a União Soviética, onde frequenta a Universidade de Moscovo. Em 1971, trabalha no jornal Al-Ahram, no Cairo e, em 1973, dirige, em Beirute, a revista Shu'un Filistiniyya (Assuntos Palestinos).
Ainda em 1973, Darwich adere à Organização de Libertação da Palestina (OLP), sendo, por isso, proibido de voltar a entrar em Israel. Em 1982 abandona Beirute, em consequência do bombardeamento israelita e exila-se no Cairo, depois em Tunis e por fim em Paris. Em 1987 é eleito para o comité executivo da OLP mas, na sequência dos Acordos de Oslo (1993), e como forma de protesto contra a atitude da OLP, que considerou demasiado conciliatória nas negociações, abandona a Organização. Finalmente, em 1996, Darwich é autorizado por Israel a instalar-se em Ramallah (Cisjordânia), onde se encontra o governo de Yasser Arafat. Com o cerco e ataque das tropas sionistas de Ariel Sharon a Ramallah, em 2002, muda-se para Amman, na Jordânia, embora volte algumas vezes aos Territórios Ocupados e a Israel. Em 2007, assiste, em Haifa, a uma sessão em sua honra organizada no Monte Carmelo pelo partido israelita Hadash (Frente Democrática para a Paz e a Igualdade) e pela revista Masharaf; aí discursa e lê poesia para milhares de pessoas. Doente cardíaco há longos anos, Darwich, realiza a sua última intervenção pública em 1 de Julho de 2008, em Ramallah, lendo poemas para uma vastíssima audiência, numa sessão que foi considerada a sua despedida dos palestinos.
Mahmud Darwich morreu em 9 de Agosto de 2008, com 67 anos, num hospital de Houston, nos Estados Unidos, na sequência de complicações decorrentes de uma delicada intervenção cirúrgica ao coração. Foi sepultado em Ramallah, junto ao Palácio da Cultura.
A obra de Darwich, composta por mais de 30 livros de poesia e de prosa, encontra-se traduzida em cerca de 40 línguas, e foi interpretada por diversos cantores, como o libanês Marcel Khalifa, que musicou e cantou vários dos seus poemas, entre os quais o famoso "À minha mãe". No cinema, devem assinalar-se dois documentários: "Mahmoud Darwich, et la terre comme la langue", realizado em 1997 para a televisão francesa por Simone Bitton e Elias Sanbar e "Écrivains des frontières", realizado em 2004 por Samir Abdallah e José Reynes. Neste momento, está a ser produzido um filme sobre Darwich, da autoria de Nasri Hajjaj, em que o realizador recolhe depoimentos de diversas figuras da vida cultural internacional que privaram com o poeta, e que será estreado no primeiro aniversário da sua morte.
A terminar, duas afirmações de Mahmud Darwich:
- "Triunfámos sobre o plano para nos expulsarem da História"
- "Um povo sem poesia é um povo vencido"
[Júlio de Magalhães]
 
TRÊS POEMAS DE MAHMUD DARWICH
 
 
BILHETE DE IDENTIDADE
 
Toma nota!
Sou árabe
O número do meu bilhete de identidade: cinquenta mil
Número de filhos: oito
E o nono... chegará depois do verão!
Será que ficas irritado?
 
Toma nota!
Sou árabe
Trabalho numa pedreira com os meus companheiros de fadiga
E tenho oito filhos
O seu pedaço de pão
As suas roupas, os seus cadernos
Arranco-os dos rochedos...
E não venho mendigar à tua porta
Nem me encolho no átrio do teu palácio.
Será que ficas irritado?
 
Toma nota!
Sou árabe
Sou o meu nome próprio - sem apelido
Infinitamente paciente num país onde todos
Vivem sobre as brasas da raiva.
As minhas raízes...
Foram lançadas antes do nascimento do tempo
Antes da efusão do que é duradouro
Antes do cipreste e da oliveira
Antes da eclosão da erva
O meu pai... é de uma família de lavradores
Nada tem a ver com as pessoas notáveis
O meu avô era camponês - um ser
Sem valor - nem ascendência.
A minha casa, uma cabana de guarda
Feita de troncos e ramos
Eis o que eu sou - Agrada-te?
Sou o meu nome próprio - sem apelido!
 
Toma nota!
Sou árabe
Os meus cabelos... da cor do carvão
Os meus olhos... da cor do café
Sinais particulares:
Na cabeça uma kufia com o cordão bem apertado
E a palma da minha mão é dura como uma pedra
... esfola quem a aperta
A minha morada:
Sou de uma aldeia isolada...
Onde as ruas já não têm nomes
E todos os homens... trabalham no campo e na pedreira.
Será que ficas irritado?
 
Toma nota!
Sou árabe
Tu saqueaste as vinhas dos meus pais
E a terra que eu cultivava
Eu e os meus filhos
Levaste-nos tudo excepto
Estas rochas
Para a sobrevivência dos meus netos
Mas o vosso governo vai também apoderar-se delas
... ao que dizem!
 
... Então
 
Toma nota!
Ao alto da primeira página
Eu não odeio os homens
E não ataco ninguém mas
Se tiver fome
Comerei a carne de quem violou os meus direitos
Cuidado! Cuidado
Com a minha fome e com a minha raiva!
 
(1964)
[Tradução de Júlio de Magalhães]
 
 
À MINHA MÃE
 
Tenho saudades do pão da minha mãe,
Do café da minha mãe,
Do carinho da minha mãe...
Estou a crescer,
De dia para dia,
E amo a vida, porque
Se morresse,
Teria vergonha das lágrimas da minha mãe!
 
Se um dia voltar, faz de mim
Uma sombrinha para as tuas pálpebras.
Cobre os meus ossos com a erva
Baptizada sob os teus pés inocentes.
Ata-me
Com uma mecha dos teus cabelos,
Um fio caído da orla do teu vestido...
E serei, talvez, um deus,
Talvez um deus,
Se tocar o teu coração!
 
Se voltar, esconde-me,
Lenha, na tua lareira.
E pendura-me,
Corda da roupa, no terraço da tua casa.
Falta-me o ânimo
Sem a tua oração diária.
Envelheci. Faz renascer as estrelas da infância
E partilharei com os filhos das aves,
O caminho do regresso...
Ao ninho onde me esperas!
 
(1966)
[Tradução de Júlio de Magalhães]
 
 
ESTRANGEIRO NUMA CIDADE DISTANTE
 
Quando eu era pequeno
E belo,
A rosa era a minha morada,
E as fontes eram os meus mares.
A rosa tornou-se ferida
E as fontes, sede.
- Mudaste muito?
- Não mudei muito.
Quando voltarmos à nossa casa
Como o vento,
Olha para a minha testa.
Verás que as rosas são agora palmeiras,
E as fontes, suor,
E voltarás a encontrar-me, como eu era,
Pequeno
E belo...
 
(1969)
[Tradução de Júlio de Magalhães]

O Estado da Palestina


Politicamente a vitória da Palestina é incontestável, com uma maioria absoluta dos votos (138 favoráveis, 9 contrários e 41 abstenções) que ajudam a apagar (ou ao menos diminuir a lembrança) a recusa do Conselho de Segurança, em 2011, de aprovar a entrada da Palestina na ONU



O que se pode esperar agora do processo de paz entre Israel e Palestina após esta ter sido finalmente reconhecida como Estado não-membro (observador) da ONU, um status semelhante ao do Vaticano?
Politicamente a vitória da Palestina é incontestável, com uma maioria absoluta dos votos (138 favoráveis, 9 contrários e 41 abstenções) que ajudam a apagar (ou ao menos diminuir a lembrança) a recusa do Conselho de Segurança, em 2011, de aprovar a entrada da Palestina na ONU.
Aumenta a pressão internacional e, sem dúvida, ajuda a reclamação palestina sobre os territórios ocupados.
Se, através de inúmeras resoluções, a ONU já reconheceu o direito dos palestinos aos territórios que lhe forma usurpados ou estão sendo (como Jerusalém Orienta, por exemplo), agora a coisa muda de figura. A ONU não reconhece posse ou soberania sobre territórios conquistados por guerra, invasão ou ocupação, mas o status indefinido da Palestina dificultava a aplicação desta norma. Agora, não há mais desculpas e a ilegalidade das ocupações é ainda mais flagrante.
Torna-se mais difícil para Israel sustentar a ocupação anterior e futuras anexações do território de um Estado, e não apenas de uma entidade política indefinida. Agora Israel não ultrapassa barreiras criadas por si, mas ultrapassa e desrespeita fronteiras definidas pela ONU e por um Estado soberano.
A Palestina pode, ainda, recorrer ao Tribunal Penal Internacional e outros fóruns internacionais e buscar uma condenação de Israel contra seus inúmeros e repetidos crimes de guerra, ainda que seus efeitos possam ser meramente cosméticos, em uma guerra de propagandas isto conta bastante.
Outra vitória palestina foi a de impor, ao mesmo tempo, duras derrotas a Israel e aos EUA, do prêmio Nobel da paz Barack Obama. Exceto por Canadá e República Tcheca, apenas os costumeiros protetorados estadunidenses ficaram ao lado de Israel, demonstrando que, ao menos neste assunto, a influência dos EUA é limitada ou que, talvez, tenha crescido a insatisfação pela falta de soluções propostas pelos aliados de Israel.
A abstenção do Reino Unido não foi uma surpresa, dada a proximidade deste país com os EUA, nem o voto do Paraguai governado por golpista. Por outro lado, a Espanha e seu voto favorável - pese a posição contrária anterior de Mariano Rajoy - surpreende devido aos "problemas" domésticos que enfrenta em termos de autodeterminação dos povos, um instrumento muitas vezes esquecido ou sufocado à base da força por diversos Estados.
Foi uma pequena vitória palestina na ONU, de efeitos práticos limitados, especialmente no que concerne a recuperação de suas terras, o Direito de Retorno e o bloqueio criminoso a Gaza.
Ainda assim, foi uma vitória
Mas nem tudo é motivo para festa. As eleições em Israel se aproximam (menos de dois meses) e as autoridades do país não escondem sua insatisfação com a decisão da ONU - a qual consideram "unilateral" - e o resultado das eleições pode ser diretamente influenciado, ampliando o poderio e os discursos de extrema-direita e os anseios por extermínio.
A minoria palestina com cidadania israelense pode vir a sofrer os primeiros golpes e o bloqueio pode se tornar ainda mais criminoso. Gaza, que já é o maior campo de concentração do mundo, tende a ver a situação piorar caso o discurso de extrema-direita se fortaleça ainda mais e prevaleça.
Mas o pior dos efeitos da decisão é político
Fecha-se a porta para outras opções para a resolução do conflito. Acaba-se a via do Estado único, laico, com poder compartilhado por uma via em que teremos um Estado nuclear, governado por uma extrema-direita disposta a todos os crimes de guerra para assegurar seu poder e movida pelo medo e ódio, e um Estado palestino fraco, ocupado, sem exército ou possibilidade de formar uma força digna desse nome e sem sequer fontes de renda própria, dividido em dois e com imensas fraturas internas.
Esta situação se perpetua já a longos anos e não dá mostras de se alterar. O Hamas acabou por ceder e apoiar o reconhecimento na ONU, mas não por vontade própria e sim pela situação de isolamento e enfraquecimento interno (seu governo é mal avaliado em Gaza e um de seus maiores parceiros, o sírio Assad, ameaça cair). Aceitar uma solução de dois Estados equivale a reconhecer Israel enquanto Estado, algo que o Hamas se recusa desde sua fundação.
O grande vencedor, porém, é Mahmoud Abbas, que detém hoje o controle da ANP (Autoridade Nacional Palestina) e sua facção, a Fatah, que vinha sofrendo diversos golpes de grupos de esquerda, membros da OLP (Organização pela Libertação da Palestina), em eleições locais e junto à população.
Os EUA saem como grandes derrotados ao verem seu lobby pró-Israel não resultar em convencimento junto aos demais Estados-membro da ONU e também pelo esgarçamento de sua relação com Israel, que já vinha sendo objeto de debates e desconfiança.
Enfim, entre vitoriosos e derrotados, os Palestinos conseguiram sair de cabeça erguida e derrotaram Israel e os EUA de forma incontestável. A retaliação pode ser imensa e dolorosa, mas para muitos o esforço foi válido. Resta agora aguardar os desdobramentos e torcer para que as próximas eleições israelenses sejam um marco de mudança, ainda que isto seja improvável. Na Palestina, a esperança é a de um entendimento entre Hamas e Fatah e a possibilidade de um acordo entre as facções para negociarem unidas o fim do bloqueio à Gaza e as futuras campanhas de resistência e ações no âmbito internacional possíveis com a conquista de um novo status.

Raphael Tsavkko Garcia é bacharel em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestre em comunicação pela Faculdade Cásper Líbero. 
Blog do Tsavkko - The Angry Brazilian

Bolívia e Equador reforçam o Mercosul


Dilma Rousseff, Cristina Kirchner, José Pepe Mujica e Hugo Chávez participam nesta sexta-feira (7) da Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul, em Brasília. Segundo a Agência Brasil, “o encontro discutirá alternativas para incentivar a participação dos empresários no Mercado Comum do Sul e o ingresso de mais dois países no bloco econômico sul-americano: Equador e Bolívia”. O Paraguai, devido ao recente golpe, segue excluído da Cúpula e as tratativas para a adesão dos dois novos parceiros estão avançadas.

Para o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, o ingresso da Bolívia e Equador dará mais força ao bloco regional. “É uma base maior. Um projeto maior de integração sul-americana”. Com estas adesões, será possível articular as áreas amazônicas, andina e caribenha da América do Sul e aumentar os benefícios gerados pelo bloco. “Os defensores da proposta argumentam que o Mercosul assumirá papel relevante em decorrência dos temas relativos à segurança energética e alimentar”, relata a Agência Brasil.
A área de atuação do bloco, com a recente inclusão da Venezuela, reúne 270 milhões de habitantes, o equivalente a 70% da população sul-americana. O Produto Interno Bruto alcança US$ 3,3 trilhões, aproximadamente 83,2% do PIB de toda a América Latina, em um território de 12,7 milhões de quilômetros quadrados (72% do continente). A adesão da Bolívia e do Equador aumentará ainda mais o papel geopolítico do Mercosul, num contraponto ao hegemonismo dos EUA e da Europa.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Direito de retorno a terras é inegociável, dizem palestinos em Porto Alegre



Ativistas árabes defenderam o direito de retornarem a terras ocupadas por Israel | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Samir Oliveira no SUL21
Um dos últimos painéis do Fórum Social Mundial Palestina Livre, realizado na manhã deste sábado (1) em Porto Alegre, discutiu o direito que os palestinos têm de retornar às suas terras originais – que lhes foram tolhidas com a criação de Israel e seu consequente projeto expansionista.


Os ativistas sustentam que Israel não vêm assegurando o direito de retorno dos palestinos, que já foi reconhecido pela ONU, em sua resolução 194, de 1948. O coordenador do Comitê Palestino em Defesa do Direito de Retorno, Omar Assaf, lamentou que essa luta ainda seja contemporânea.
“Desafio alguém a dizer que, nos últimos 200 anos, qualquer outro povo no mundo tenha sido transferido de território graças à ocupação de outras pessoas. A comunidade internacional ajudou a promover esse crime contra os palestinos, expulsando-nos de nossas terras”, criticou.
Dentre os ativistas palestinos, o direito de retornar às suas terras originais é tão essencial quanto o da constituição de um Estado soberano. “O direito de retorno é a base fundamental dos direitos tradicionais palestinos. É um direito individual, coletivo, histórico, indivisível e irrenunciável. E as negociações com Israel até hoje têm significado um retrocesso dessa pauta”, lamentou Omar Assaf.
Integrante do escritório político da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), Omar Shehadeh, disse que a criação de Israel teve, desde o início, um papel estratégico para as grandes potências mundiais. “Não foi simplesmente a construção de um Estado, foi um projeto estratégico e expansionista. Israel é o protetor dos interesses imperialistas e capitalistas no Oriente Médio. Passa ao mundo a imagem de ser a única democracia da região, um modelo a ser seguido”, criticou.
Omar Assaf disse que comunidade internacional apoiou ocupação de terras por Israel | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Integrante de um dos partidos mais à esquerda dentro da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), Omar Shehadeh entende que Israel necessita da opressão aos palestinos para sobreviver. “O sionismo se estabelece sobre a negação de direitos ao povo palestino. É um Estado racista e criminoso que não respeita o direito internacional”, qualificou.
Para o ativista, é preciso rever os acordos de paz selados em Oslo, sob a benção do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, e “estabelecer uma nova estratégia de resistência, sob a luz do direito internacional”.
Husam Zomlot, uma liderança mais jovem do Al-Fatah – partido que governa a Autoridade Nacional Palestina (ANP) com o presidente Mahmoud Abbas -, disse que as negociações que ocorriam entre a ANP e Israel sempre impuseram derrotas ao povo palestino. “Não eram processos de paz, eram processos de desarticulação da nossa luta por um Estado soberano”, observou.
Ele defendeu o direito de os palestinos resistirem militarmente às ocupações israelenses em seus territórios. “Eu nasci em um campo de refugiados e não vou negociar com ninguém o direito legítimo que tenho de retornar a minha terra. Israel saiu do Egito e do Líbano porque foi derrotado nessas regiões. O Estado de Israel só entende uma linguagem: a da resistência. Temos o direito de lutarmos com todos os recursos possíveis, inclusive com as armas”, conclamou.
Jornalista espanhola relata cobertura de áreas conflagradas na Cisjordândia
A jornalista espanhola Teresa Aranguren esteve presente no Fórum Social Mundial Palestina Livre e falou sobre sua experiência na cobertura da região. Ela participou da conferência “Direito de retorno e autodeterminação”, na manhã deste sábado (1), na Usina do Gasômetro.
Teresa foi uma das primeiras jornalistas a ingressar na cidade de Jenin, na Cisjordânia, após ela ter sido invadida pelo exército de Israel em 2002. “Mais de 100 edifícios foram destruídos. Eu ouvi um soldado isralenese comemorar, dizendo que haviam construído um imenso campo de futebol”, contou.
Teresa Aranguren esteve na cidade de Jenin, na Cisjordânia, após a invasão do exército israelense | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Ela recordou que as pessoas ficaram por três semanas sujeitas ao toque de recolher imposto pelos israelenses. “Quem saísse de casa saía para a morte. Após três semanas, homens e mulheres olhavam apavorados para a destruição dos seus bairros”, relatou.
A lembrança que mais marcou a jornalista foi a de uma mulher que estava sentada sob os escombros de sua casa, cercada pelos filhos pequenos. “Era um dia muito quente e ela voluntariamente me ofereceu uma garrafa de água. Não foi um gesto apenas de solidariedade e de hospitalidade, como é bastante comum na Palestina e no mundo árabe. Foi um gesto de resistência. Ao me oferecer água, ela estava reafirmando sua identidade e seu poder sobre aquele território. Era como se ela dissesse: ‘Eu sou a anfitriã deste lugar, sou uma mulher árabe e não deixarei de tratar bem quem vier à minha casa’”, recordou Teresa, emocionada.
Para Teresa, a situação da Palestina não irá se modificar enquanto as grandes potências continuarem apoiando Israel. Mas ela entende que, enquanto a conjuntura política mundial não se altera drasticamente, a maior arma de resistência é a memória. “A própria existência de refugiados é uma afronta para Israel, pois comprova os crimes de origem. É preciso recordar disso sempre e não deixar que a versão transmitida por Israel se torne uma verdade absoluta”, defendeu.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Gênero e resistência na Palestina: a luta das mulheres contra a ocupação israelense

Leila Khaled participou do painel mediante teleconferência por skype | Por Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Samir Oliveira no SUL21

Tema bastante discutido no Fórum Social Mundial Palestina Livre, o papel das mulheres na luta pela construção de um Estado Palestino soberano foi retomado em um painel no início da tarde desta sexta-feira (30). Na quinta-feira (29), outra conferência havia exposto a situação das mães que lutam pela independência palestina.
Desta vez, o foco foi a discussão em torno da resistência protagonizada pelas mulheres – inclusive com fortes auto-críticas a essa atuação. O público questionou, por exemplo, até que ponto a luta de mulheres por libertação não acaba dominando a pauta de movimentos sociais e camuflando ações em torno de mudanças mais profundas nos governos e sociedades da região.
Uma das presenças mais ilustres no painel foi a de Leila Khaled, que participou via teleconferência por Skype, já que não pôde vir a Porto Alegre. Leila é uma das lideranças da Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP) – considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos e por Israel.
Em 1969, Leila e um outro colega da FPLP sequestraram o voo 840 da Trans World Airlines, que viajava de Roma em direção a Tel Aviv. O objetivo era tomar como refém o embaixador israelense nos Estados Unidos, Yitzak Rabin, que acabou não embarcando naquele avião. A ação terminou na Síria, onde a aeronave foi forçada a pousar, e não houve mortos ou feridos.
Atualmente, a FPLP integra a Organização Palestina pela Libertação (OLP), da qual faz parte do Fatah, partido que comanda a Cisjordânia e a Autoridade Nacional Palestina, com o presidente Mahmoud Abbas. Em sua fala no painel do Fórum Social Mundial Palestina Livre, Leila explicou que não há divisão de tarefas ou responsabilidades entre homens e mulheres na luta pela independência palestina.
Angela Davis tinha ligação com os Panteras Negras nos Estados Unidos | Por Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“A partir de 1967, muitas mulheres começaram a se engajar nessa luta, fazendo exatamente as mesmas coisas que os homens. No movimento pela libertação da Palestina, não há divisão de tarefas por gênero”, disse.
Ela acredita que, atualmente, é preciso que as mulheres ocupem cada vez mais os espaços de comando da resistência. E defendeu veementemente o direito de o povo palestino lutar – inclusive militarmente – pela soberania do seu território.
“Mulheres e homens palestinos não podem se sentir orgulhosos de sua identidade por qualquer outra via que não seja a resistência. É preciso resistir de todas as formas à ocupação israelense – inclusive através das armas, conforme assegura a ONU, quando diz que um povo tem o direito de se insurgir contra um governo opressor”, esclareceu.
Professora da Universidade Estadual de São Francisco, nos Estados Unidos, Rabab Abdulhadi é especialista em estudos étnicos e em diásporas do povo árabe e muçulmano. Ela falou sobre os estereótipos que as forças contrárias à causa Palestina tentam imprimir nas mulheres que resistem às ocupações.
“Dizem que a mulher se junta à luta porque sente atração pelas lideranças masculinas da resistência. Atribuem à mulher militante um caráter de não-feminilidade, alegando que elas têm pelos pelo corpo e são todas lésbicas”, explicou. Para a professora,”a revolução palestina não é uma exclusividade masculina”.
Também esteve presente no painel a ativista norte-americana Angela Davis. Líder do Partido Comunista dos Estados Unidos nos anos 1960, ela tinha vínculos muito próximos com os Panteras Negras, apesar de nunca ter integrado formalmente a organização. Atualmente, Angela é professora aposentada da Universidade da Califórnia. Em 1969, chegou a ser demitida da instituição a mando do presidente Ronald Reagan, devido à sua ligação com os comunistas.
Rabab Abdulhadi é especialista em diásporas árabes e muçulmanas na Universidade Estadual de São Francisco, nos Estados Unidos | Por Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Angela Davis chegou a criticar a organização da marcha de abertura do fórum. “Eu estive o tempo inteiro atrás de um caminhão de som. De todas as pessoas que falaram, nenhuma delas era uma mulher palestina. Parece que algumas coisas ainda não mudaram muito”, observou. A mesma crítica foi feita por uma refugiada palestina que estava na plateia e disse ter conseguido, depois de muito esforço, subir no caminhão para se pronunciar.
A ativista avalia que, atualmente, as mulheres palestinas ocupam um papel central na mobilização feminista ao redor do mundo. “Quero agradecer às mulheres palestinas. A luta delas trouxe à tona a mobilização contra o racismo, o apartheid e o colonialismo”, elogiou.
Provocada a fazer uma avaliação do governo de Barack Obama, a norte-americana qualificou como “horrendo” o apoio incondicional do país a Israel e lembrou da resolução da ONU que reconheceu, nesta quinta-feira (29), a Palestina como um Estado observador não-membro das Nações Unidas. “Israel ficou totalmente isolado do mundo inteiro e, ainda assim, os Estados Unidos os apoiaram. Esse voto contrário foi horrendo. Ainda temos muito trabalho a fazer”, disse.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

FSM - PALESTINA LIVRE

Inicia hoje o FSM PALESTINA LIVRE, mas desde ontem iniciou-se o encontro dos militantes de 36 países que vieram a Porto Alegre debater a questão palestina, estratégias e saídas para enfrentamento do genocídio que acontece na faixa de GAZA, promovido pelo sinismo israelense.No mesmo dia que será votado na ONU a participação efetiva do estado palestino nas resoluções mundiais, esse encontro na capital gaucha será de importância fundamental para o fortalecimento da causa palestina.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

43,5 mil mulheres foram assassinadas em dez anos

 

43,5 mil mulheres foram assassinadas em dez anos no Brasil
A sociedade capitalista é fundamentada na opressão e exploração do povo trabalhador para garantir privilégios a uma minoria que nada produz e de tudo se apropria, gerando desigualdade e violência, sobretudo contra os pobres e as mulheres.
A desigualdade entre homens e mulheres se instala sempre pelo crescimento da ideologia burguesa da submissão da mulher ao homem. Essa ideologia responsabiliza as mulheres pelos cuidados dos filhos e tarefas domésticas, garantindo ao capitalismo ganhos exorbitantes com a exploração da mulher dentro e fora do espaço doméstico.
Dados do Censo 2010, divulgados pelo IBGE, afirmam que no Brasil cerca de 37% das mulheres são chefes de família, isto é, são responsáveis pelo sustento da família, lembrando que grande parte dessas são constituídas apenas pela mãe e seus filhos.
Dados da OIT mostram que mais 42% das mulheres da América Latina estão no mercado de trabalho, no entanto, são submetidas a condições degradantes de trabalho e salários inferiores aos dos homens. No Brasil, a diferença salarial entre homens e mulheres chega a 30%.
É nessa sociedade capitalista que milhões de mulheres morrem todos os anos, vítimas das mais diversas formas de violência. Na última década, 43,5 mil mulheres foram assassinadas no país.
A cada 15 segundos, uma mulher é agredida no Brasil. Essas agressões, em geral, são cometidas por pessoas do seu convívio: namorados, maridos, irmãos ou pais, que expressam através da violência a posse sobre a mulher.
O problema precisa ser enfrentado de forma séria pelo Estado e pela sociedade. Às mulheres vitimadas deve ser garantido o apoio necessário para superação das condições de violências a que estão submetidas, principalmente às mulheres pobres que, muitas vezes, dependem economicamente do agressor.
Na cidade de São Paulo, as mulheres de baixa renda que sofrem violência têm à disposição apenas dez Centros de Defesa e Convivência da Mulher, que são equipamentos públicos com o objetivo de apoiar e fortalecer mulheres em situação de risco social e violência doméstica. Nesses serviços, as mulheres são acolhidas, orientadas e encaminhadas para outros serviços conforme a necessidade: delegacia de defesa da mulher para denunciar o agressor, abrigos, quando há risco de morte, serviços de saúde, etc. Em alguns equipamentos são oferecidos cursos e oficinas de geração de renda. Já na Grande São Paulo, várias cidades não possuem sequer um abrigo.
As mulheres que desejam romper com a situação de violência na qual estão inseridas não contam, portanto, com políticas públicas que viabilizem esta ruptura. As mulheres pobres têm ainda menos condições, pois, muitas vezes, não têm para onde ir com seus filhos e filhas. Por isso, para garantir alimento e moradia para suas crianças, muitas mulheres aguentam caladas essa opressão.
É fundamental fortalecer as mulheres para que compreendam as raízes dessa violência se fortalecendo e se unindo ao conjunto das mulheres para lutar contra essa barbárie. O dia 25 de novembro é uma data simbólica desta luta, já que é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. É um dia importante para se intensificar a denúncia e o combate à violência e para conscientizar todas as mulheres que sofrem essa triste realidade sobre a necessidade de se organizarem e lutarem pelo fim de tais crimes.
Toda essa situação é fruto da sociedade em que vivemos, que lucra milhões com a exposição do corpo feminino e com o estímulo direto ou indireto à exploração sexual e à violência. Por isso, é necessário também lutar contra esse sistema. Lutar para construir uma sociedade na qual todos possam ser, de fato, iguais.
 
Camila Matos, Carolina Vigliar e Ana Rosa Carrara, São Paulo

MPF/MS denuncia 19 pessoas por homicídio de cacique guarani-kaiowá

 


A ação aconteceu no dia 18 de novembro de 2011 e resultou na morte do cacique Nízio Gomes e em lesões corporais ao indígena Jhonaton Velasques Gomes | Foto: Comunidade Guaiviry
 
Da Redação do SUL21
 
O Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul denunciou 19 pessoas a responderem como réus na Justiça por vários crimes relacionados à expulsão dos indígenas do acampamento Guaiviry, instalado em área mata nativa de propriedade rural, localizada no sul do estado mato-grossense.
A ação aconteceu no dia 18 de novembro de 2011 e resultou na morte do cacique Nízio Gomes e em lesões corporais ao indígena Jhonaton Velasques Gomes. Foram utilizadas ao menos seis armas de fogo calibre 12 na ação, ainda que com munição menos letal. Sete réus continuam presos.
O crime repercutiu internacionalmente e colocou em foco o “ambiente onde imperam o preconceito, a discriminação, a violência e o constante desrespeito a direitos fundamentais” dos 44 mil guarani-kaiowá e guarani-ñandeva que vivem em Mato Grosso do Sul, como descreve a denúncia do MPF.
Crimes
Dos 19 acusados, 3 respondem por homicídio qualificado, lesão corporal, ocultação de cadáver, porte ilegal de arma de fogo e corrupção de testemunha; 4, por homicídio qualificado, lesão corporal, ocultação de cadáver, porte ilegal de arma de fogo; e 12, por homicídio qualificado, lesão corporal, quadrilha ou bando armado e porte ilegal de arma de fogo.
As investigações revelaram que, após a ocupação da área de mata da fazenda pela comunidade indígena, em 1º de novembro de 2011, um grupo iniciou planejamento com o objetivo de promover a retirada violenta dos indígenas. Na madrugada de 18 de novembro, iniciou-se a ação. O objetivo era a expulsão violenta da comunidade indígena. Ao chegar na trilha que dá acesso ao interior do acampamento, o grupo abordou o cacique Nízio Gomes (55 anos), que ofereceu resistência. Iniciou-se intenso confronto, em que Nízio Gomes foi alvejado, resultando em sua morte. O corpo de Nízio Gomes até hoje não foi localizado, mesmo com a realização de buscas até em território paraguaio.
Homicídio apurado mesmo sem o corpo
Sobre a não localização do corpo ou dos restos mortais, para o MPF há provas e indícios suficientes do homicídio qualificado do cacique Nízio Gomes. Além das declarações dos réus e do depoimento de testemunhas, laudo pericial apontou a existência de vestígios de sangue em fragmentos de madeira e na terra do interior da trilha do Tekoha Guaiviry. Exame de DNA confirmou ser “perfil genético de indivíduo do sexo masculino, geneticamente relacionado à mãe e aos filhos de Nízio Gomes”.
Com informações do Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul