sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Globo News exibe debate bizarro sobre Yoani Sánchez

blog da cidadania




Pena que não tenho como reproduzir aqui o vídeo do último programa “Entre Aspas”, da Globo News, em que a apresentadora Monica Waldvogel recebeu os jornalistas Sandro Vaia, ex-diretor do Estadão, e Breno Altman, editor do site Opera Mundi, a fim de debaterem os fatos que marcaram a visita da blogueira cubana Yoani Sánchez. É divertidíssimo.
Mas você, leitor, não ficará sem assistir. Pode conferir a íntegra do programa por aqui ou, se quiser, pode apenas ler este post. A escolha é do freguês.
Sobre o programa, um de seus méritos foi o de revelar quão desvirtuado vem sendo esse debate, pois a discussão que ali se viu girou, em grande parte do tempo, em torno das manifestações contra a blogueira.
Apesar de ser elogiável a coragem de Monica em convidar um divergente “fera” como Altman, este deve ser eximido de culpa pelo desvirtuamento do debate. Foram ela e Vaia que o desvirtuaram ao tentarem impedir o rumo que tomava entoando um mantra sobre os protestos de que Yoani foi alvo.
Muito nervosos, Vaia e Monica agiram em dupla pondo Altman sob fogo cruzado. Todavia, este conseguiu manter a linha de pensamento. Antevendo que perderiam o debate se o deixassem falar – a cada vez que abria a boca, estremeciam –, recorreram ao velho recurso de quem não tem argumentos.
Vaia começou a comparar os protestos contra Yoani a movimentos do nazismo e do fascismo que, na aurora da ascensão daqueles regimes na primeira metade do século XX, espancavam pelas ruas da Europa os que pensavam diferente e ousavam dizer de público o que pensavam.
As expressões de incredulidade que se estampavam no rosto de Altman eram talvez mais demolidoras do que sua eloquente argumentação. Apontou a Vaia o “pequeno” detalhe de que os contrários de Yoani só exerceram o direito constitucional à liberdade de expressão em locais públicos e que não houve violência, ainda que possa ter faltado critério.
Aliás, vale explicar que se os protestos contra Yoani tivessem tido o menor resquício de violência – conforme tentaram vender Vaia e Monica – os manifestantes teriam sido reprimidos pela polícia, inclusive no último evento de que a blogueira participou, na Livraria Cultura, em São Paulo, no qual ocorreram novos incidentes e onde abundaram policiais.
Mesmo estendendo uma discussão menor e atuando de forma injusta, na base do dois contra um, Vaia e Monica ficaram vendidos. A apresentadora, acuada, decidiu fazer uso do poder de condução do programa e cassou a palavra de Altman em favor do outro entrevistado. E fez isso por mais de uma vez.
Quem assistiu ou vier a assistir ao programa constatará que Monica prejudicou um dos debatedores. Inclusive como é costume dela fazer nesse tipo de debate que promove, posicionando-se ao lado de um deles e, assim, reduzindo a possibilidade de argumentação do outro.
O mais interessante é que Vaia, sempre entoando mantra que comparava a garotada que vaiou (ops!) Yoani a vários movimentos autoritários europeus, em nenhum momento, ao falar naquelas ações autoritárias e antidemocráticas, citou as que mais fazem sentido aos brasileiros: as ações golpistas de 1964.
O entusiasta da “Revolução” tupiniquim fez isso porque a parte da direita que ele integra envolveu-se até os ossos com o estupro da democracia do país no século passado, razão pela qual foge de discutir aquele período de trevas. Assim, qualquer menção à única ditadura que todos conhecemos é logo respondida com frases pré-fabricadas sobre Cuba.
Esse escapismo do debate, porém, vai ficando cada vez mais frágil, sobretudo com uma Comissão da Verdade se preparando para contar ao Brasil uma história que já provoca suor frio e tremedeira nos adeptos de ontem e de hoje daquele regime de horror.
Não houve, então, uma parte interessante no programa? Houve, sim. E foi cortesia do editor do Opera Mundi.
Altman descartou que Yoani seja “agente da CIA”. Em sua opinião, é só uma ativista de perfil light que foi “abraçada” pelo conjunto de forças político-ideológicas que faz propaganda negativa contra o regime cubano e que viu nela oportunidade de “aggiornamento” da própria imagem pública, desde sempre identificada por uma face de ultradireita.
Além disso, o grande serviço que o jornalista progressista prestou à verdade foi o de desmontar a distorção que tentaram fazer de reunião em que o embaixador cubano ofereceu ao governo brasileiro material contendo a sua versão dos fatos e a sua visão sobre a natureza das ações de Yoani.
Monica tentou contrabandear insinuação descabida de que o governo brasileiro teria organizado os protestos contra a cubana, mas Altman a interpelou, de forma incisiva, cobrando explicações sobre a quem se referia, pois foi uma acusação velada.
O editor do Opera Mundi quis saber por que o governo cubano não poderia oferecer sua visão sobre a sua detratora e onde estaria a evidencia de que o governo brasileiro organizara os protestos contra ela. Monica abandonou a linha de argumentação em seguida devido à boa e velha falta de argumentos.
Não se pode deixar de reconhecer, entretanto, que a apresentadora prestou um serviço a esse debate mesmo dando espaço menor à opinião divergente. Afinal, apesar de ter tentado cassar a palavra de um entrevistado, o que ele conseguiu dizer por certo fez muita gente refletir que a blogueira de pés de barro tem excelente$ razõe$ para falar mal de seu país.
Altman deu, no ar, informação que a mídia nunca dá quando exalta Yoani: ela recebe fortunas de corporações – inclusive de mídia – que se opõem ferozmente ao regime cubano. Assim, sendo ou não agente da CIA, suas posições políticas a recompensam muito bem financeiramente, além da fama e da exaltação que as mesmas corporações fazem de si.
E o que é melhor: Yoani ganha tudo isso sem correr risco algum de retaliação pelo alvo de tanto ideali$mo, a terrível “ditadura” que a deixa sair pelo mundo detratando-a e que, em Cuba, nada faz para impedi-la.
Muito estranha a “ditadura” cubana, não? Se a tal Yoani fosse viva nos idos de 1964 e divergisse da “ditabranda” brasileira (by Folha de São Paulo) como diverge do regime cubano, a esta altura estaria vendo capim crescer pela raiz. Afinal, ditadura que é ditadura não permite uma palavra de quem diverge. Quanto mais verborragia como a dessa mocinha.

A batalha da esquerda e as redes sociais


Consideram-se redes sociais como Facebook e suportes como Youtube exemplos do grande alcance da democratização da informação, sem perceber que se tratam de empresas privadas que, por meio de uma tecla lá de seus centros de controle, podem eliminar um conteúdo subversivo e fazer desaparecer um usuário. Já há muitos casos para contar. Por Pascual Serrano, do Rebelión

Havana – As novas tecnologias, a internet e as redes sociais têm chegado à sociedade com uma auréola de democratização, participação e igualdade que levou concomitantemente uma fascinação progressista unida ao caráter inovador inerente da tecnologia. Não se trata somente de aparatos, suportes e formatos fascinantes tecnologicamente – como toda tecnologia inovadora –, mas que também adiante resultavam, quando igualitárias e baratas, libertadoras na medida em que pareciam romper o monopólio da difusão dos grandes grupos de comunicação e grandes empresas. Não se podia querer outra coisa. E não negaremos que parte de tudo isso é verdade. Mas a questão é que existem muito mais elementos ao redor das novas tecnologias para o que devemos estar preparados; e é necessário discutir criticamente esse mito progressista que envolve esse novo fenômeno comunicativo.

Devemos nos perguntar se as redes sociais são um instrumento de socialização ou, pelo contrário, de isolamento. Já sabemos que 39% dos usuários dessas redes passam mais tempo socializado por meio desses canais do que com outras pessoas, cara a cara. As motivações que levam ao uso da rede e seus conteúdos, o exibicionismo da intimidade, a vaidade e o egocentrismo são prioritários em redes como Facebook em detrimento do interesse de formar-se cultural ou intelectualmente. Pensa-se que os formatos dessas redes são um fenômeno de revolução popular com signo progressista, mas, como na maioria dos produtos culturais promovidos pelo mercado moderno, o domínio segue sendo o da frivolidade. Um estudo do Twitter mostrou, em 2012, que o os picos de atividade coincidiram com os gols da Eurocopa, quando os usuários o usaram para comemorá-los (veja nota 1 abaixo). O jogador Fernando Torres tinha 318.714 seguidores no Twitter, e o único tweet que tinha escrito na rede era um em inglês, meio ano antes, dizendo algo como “ainda não comecei no Twitter, mas esta é a minha página oficial e já está pronta para quando chegar o momento oportuno”. De modo que centenas de milhares de pessoas estavam seguindo alguém que nada dizia.

A importância que se dá às redes sociais é tal que dizem que alguns meios selecionam seus colaboradores e colunistas segundo o número de seguidores que têm nas redes sociais. O professor francês Salim Lamrani demonstrou que a blogueira anticastrista de fama mundial, Yoani Sánchez, colaboradora em muitos jornais europeus, tinha engordado seu Twitter com seguidores falsos.

O suposto igualitarismo democratizador das redes sociais tem tido, não se pode negar, elementos positivos, como o fim do oligopólio da agenda e seleção das informações dos grandes meios, mas também tem sua face negativa. Trata-se da ausência de bula que nos oriente para distinguir o valioso do irrelevante, o rigoroso do rumor, o verdadeiro do falso, o especialista do amador, a análise genial do comentário de bar. Que eu possa palpitar sobre política com a mesma autoridade que Kissinger ou de economia com a mesma contundência que Friedman pode nos deixar orgulhosos, os críticos do controle da informação por parte dos poderes, mas não supõe necessariamente substituir o pensamento dominante do establishment pelo pensamento alternativo crítico. A torrente da internet nos oferece sem distinção o estudo rigoroso, o dado valioso, o argumento elaborado, a tese paranoica sem fundamento, a descoberta falsa, a invenção de um testemunho, o megalomaníaco mentiroso, o presunçoso vão, a trivialidade. Não quero que me confundam e, assim, se pense que estou defendendo o elitismo. A história está repleta de supostos especialistas e doutos que eram na verdade medíocres, mas, para mudar e melhorar o mundo, é necessário se orientar em meio à névoa, e a balburdia pode ser tão estéril que também pode colaborar com a reação e impedir a mudança. Minha proposta não é renunciar às redes sociais e nem a outras muitas opções que nos abre a internet, mas sim ter suas limitações às claras e tentar corrigir a inconsistência de seus conteúdos, além do uso perverso majoritário que a sociedade está dando da elas.

Um objetivo ideológico
Temos que considerar que se é fato que a aparição da internet supõe uma liberdade de informação – e desinformação – sem precedentes e também supõe o fim do oligopólio da distribuição desta mesma informação, as grandes empresas de mídia seguem sendo desproporcionadamente poderosas na internet. As grandes empresas desenvolvem métodos de presença e influência esmagadora sobre o conteúdo: através de colaboradores pagos em fóruns e webs, mediante influência em sites de busca, mudanças em planos e tecnologias que desenvolvem seus projetos na internet. Tampouco esqueçamos que o mais lido na rede, quando falamos de informações, continuam sendo os grandes meios tradicionais, inclusive são os mais citados nas redes sociais. Segundo dados do Instituto Nielsen NetRatings publicados pelo ‘Le Monde’ e citados por Ignacio Romanet, "entre os duzentos sites de informação online mais visitados dos Estados Unidos, os meios tradicionais representam 67% do tráfego" e "80% dos links que encontramos em sites de informação, blogues ou redes sociais norte-americanos remetem a meios de comunicação tradicionais". Conclui Romanet que "na internet, o fenômeno da concentração de informação e da escassez do pluralismo, ainda que de natureza diferente, não é menos importante que a imprensa tradicional" (nota 2).

Por outro lado, e recordando a Guy Debord, o formato espetacular da imagem, cor, movimento, interação e superficialidade da informação atual já é, em si mesmo, ideologia: "O espetáculo é a ideologia por excelência, porque expõe e manifesta plenamente a essência de todo o sistema ideológico: empobrecimento, servidão e negação da vida real" (nota 3).

São numerosos os elementos de ideologização que encontramos nos novos formatos e o novo padrão informativo que se está impondo. Para começar, os métodos de busca já incorporam uma inclinação reacionária e conservadora. Seus critérios prezam o majoritário, o popular, o consenso dominante, náo só na hora de priorizar as temáticas, mas também as teses sobre os temas, os autores, os portais informativos. Numa biblioteca, encontra-se o livro do pensador reacionário ao lado de um pensador crítico, entretanto agora o Google nos oferece os primeiros dez links do autor e o meio dominante, já o alternativo ou contra-corrente aparece muito depois. Os grandes veículos podem dispor de técnicos e estratégias informáticas complexas para alcançar um bom posicionamento nos resultados de busca, em alguns casos incluem em seus conteúdos determinadas palavras que sabem que são as mais usadas pelos internautas. Temos assim, uma outra - e nova - forma de adulteração da informação que é utilizada para triunfar no Google.

Proprietários
Para nos inteirarmos do ideário dos principais interessados no novo modelo informativo tecnológico, podemos fazer uma revisão rápida dos acionistas das principais empresas, ou seja, quem financia e recebe benefícios desse mesmo modelo.

Em primeiro lugar temos a gigante Google, que é listada na Nasdaq e é proprietária, entre outras empresas e serviços, do Youtube e da Motorola Mobility. Entre seus acionistas, junto aos fundadores Sergey Brin y Larry Page, encontra-se Eric Schmidt, membro do Clube Bilderberg, que foi presidente e diretor geral da Google até abril de 2011. Também Ram Shriram, antes administrador da Netscape e da Amazon. Entre os investidores internacionais, basicamente se encontram grandes fundos de investimentos de capital de risco como FMR LLC, The Vanguard Group, Inc., State Street Corporation e outros mais.

Quanto ao Facebook, sabemos que colheu cerca de 18 bilhões de dólares com a abertura de seu capital na bolsa, operação esta gerida pelo banco Morgan Stanley, ao lado de Goldman Sachs e JP Morgan. Seu fundador, Mark Zuckerberg, possui 18,4% da companhia. Entre os principais acionistas e dirigentes, se encontra Goldman Sachs, um banco que, como recordamos bem, esteve envolvido na crise financeira dos EUA em 2008. Também esteve na origem da crise financeira da Grécia de 2010-2011, visto que ajudou a esconder o déficit das contas gregas do governo conservador. Outro acionista do Facebook é Erskine Bowles (também membro do grupo diretor), que ocupava alto cargo na administração Clinton e agora, na gestão Obama, é como presidente da Comissão Nacional de Responsabilidade Fiscal e Reforma. Além disso, é membro do grupo que administra a General Motors, Morgan Stanley e Norfolk Southern Corporation. Também temos a Sheryl Sandberg, que trabalhou para Google e para o Banco Mundial. Foi chefe de gabinete no Departamento do Tesouro na gestão Clinton. Pertence ao corpo da direção de empresas como Walt Disney e Starbucks. Além desses, Reed Hastings, diretor executivo da NetFlix (um provedor de internet estadunidense), e membro do conselho administrativo da Microsoft, sem contar do Facebook.

A maioria dos acionistas do Twitter vem de agências de capital de risco como Spark Capital, Union Square Ventures, Kleiner Perkinsm Benchmark Capital, Institutional Venture Partners, T. Rowe Price e DST Group. A empresa está obcecada para que não sejam mais de 500 acionistas para, assim, não ter que citá-los na bolsa e não trazê-los a público. Sabe-se que entre os acionistas do Twitter está o príncipe saudita Alwaleed bin Talal, que anunciou em dezembro de 2011 que tinha comprado uma participação de 300 milhões de dólares. O Skype foi comprado recentemente pela Microsoft e o Tuenti é propriedade, em sua maior parte, da Telefónica.

A tudo que listamos podemos adicionar os interesses empresariais dos consórcios de fabricação de celulares, a indústria da informática e as operadoras de telefonia e internet. Por trás das empresas dos novos formatos de comunicação, enfim, estão os grandes grupos de investimento mundiais junto com alguns multimilionários da nova economia, então é fácil deduzir a ideologia que vão promover.

Censura
A propriedade privada das empresas tecnológicas e seus suportes tecnológicos modernos permitem todo tipo de censura, que, assombrosamente, é aceito pela sociedade e poderes públicos. Consideram-se redes sociais como Facebook e suportes como Youtube exemplos do grande alcance na democratização da informação, sem perceber que se tratam de empresas privadas que, por meio de uma tecla lá de seus centros de controle, podem eliminar um conteúdo subversivo e fazer desaparecer um usuário, com a complacência de uma sociedade que nunca percebe que estamos ante um ataque à liberdade de expressão. O Facebook veta imagens que não o agrada e expulsa de suas páginas coletivos que lhe parece indesejáveis. Em junho de 2012, o Facebook censurou uma imagem de capa de perfil da revista de humor ‘El Jueves’, que fazia alusão a Merkel e Rajoy, e comunicou ao administrador que lhe tiraria o direito, por 30 dias, de poder subir qualquer conteúdo na rede social (nota 4). Se a revista continuava sendo distribuída com normalidade nas bancas e, em outro lado, na rede social Facebook não se permitia e se impedia o usuário de vê-la, estávamos sofrendo, a partir das mãos das redes sociais, um retrocesso da liberdade de expressão.

As notícias de grupos sociais que tem suas páginas eliminadas no Facebook são constantes. Em abril de 2011 vários coletivos que protestavam no Reino Unido contra os cortes do governo denunciaram o fechamento de suas páginas (nota 5). Neste mesmo mês, alguns ativistas espanhóis do 15M denunciaram que o anúncio de sua manifestação, com mais de 23 mil participantes confirmados, fora apagado de várias de suas páginas (nota 6). Youtube elimina vídeos baseado em qualquer argumento insustentável, como aconteceu com a conta do portal Cubadebate por um vídeo que denunciava o apoio financeiro que recebia o terrorista Luis Posada Carriles (nota 7), autor intelectual da explosão de um avião civil cubano que causou a morte de 73 pessoas. Outros usuários também denunciaram a desativação de vídeos do Youtube, bem como suas contas de usuário, argumentando que violavam direitos autorais, quando na verdade se tratavam de imagens de televisões públicas que as cedem para uso livre (nota 8).

As denúncias dos afetados nunca têm grande espectro nem qualquer viabilidade legal, posto que são empresas privadas que, com seu quase monopólio do serviço e com sua imagem internacional de comunicação gratuita e livre, aplicam a censura corriqueiramente. Por sua vez, os internautas cubanos denunciaram que o Google vetou aos habitantes deste país o uso do serviço Google Analytics, meio pelo qual os administradores de páginas na web têm acesso às estatísticas de visitação. No entanto, a empresa pode usar estes dados para seus cálculos e negócios (nota 9). É ingenuidade pensar que vão nos ceder suas logísticas, é como se um grupo de Panteras Negras quisesse se reunir num McDonalds. O modelo de funcionamento das redes pode ser evidentemente reacionário e conservador. Observemos, por exemplo, que no Facebook aparece sempre a opção "Curtir", mas não existe a correspondente "Não curtir". "Se trata de impedir, obviamente, a crítica a marcas e produtos que podem se tornar futuros anunciantes ou investidores. Mas também se inscreve completamente nesse ciberotimismo, por se incitar a produção constante (inteligência coletiva) e depreciar a crítica, e, sobretudo, a inação, a greve, a renúncia" (nota 10).

Ciberativismo
"O risco da internet é pensar que se vive a democracia de maneira direta, quando só é se trata de uma democracia virtual. Internet não é mais que a continuação da utopia de querer falar diretamente com o mundo todo; o problema é pensar que isso vai resolver nossos problemas reais" (nota 11).

Nosso ativismo político despenca por um declive para a virtualidade dos manifestos e empresas na rede, o sexo alcançou a higiene absoluta e a desinibição total graças ao mundo virtual, os amigos não mais estão no bar, mas no Facebook, e continuarão na rede ainda que morram amanhã. As vias são virtuais porque são as "vias da informação". Mas enquanto tudo isto acontece, as guerras e a fome nada virtuais, com seus mortos nada virtuais, armamentos e criminosos que as provoca, menos virtuais ainda, seguem existindo. Do mesmo modo, nosso salário e nossos serviços sociais estão sendo reduzidos, enquanto seguimos conectados ao mundo virtual.

A ofensiva tecnológica-virtual parece projetada para fugirmos da realidade autêntica e nos metermos numa realidade virtual para assim nos neutralizar. Existem jogos na internet para crianças – e adultos – que o sistema lhe premia com "créditos" para comprar objetos virtuais, depois de enviar uma mensagem de texto do celular com custo real. Isto é, troca-se com toda a inconsequência dinheiro real por virtual. Do mesmo modo atua grande parte da revolução tecnológica: rouba-nos a vida real, sobretudo se uma vida potencialmente crítica e subversiva, e nos dá em troca a vida virtual. Esse é um dos objetivos da assim chamada "brecha digital", enquanto pobres do mundo morrem de fome, os que têm de comer são detidos e levados ao mundo virtual, o mundo feliz de Aldous Huxley onde não terão de se preocupar com os pobres. Toda esta enxurrada tecnológica tem como resultado principal o isolamento do indivíduo.

Expor esta tese em Cuba, onde seus cidadãos sofrem grandes dificuldades para usar a internet, um resultado do bloqueio dos EUA que impede que a Ilha tenha acesso normal ao ciberespaço, pode parecer inoportuno, mas eu venho de uma Europa abduzida pelas redes sociais e acredito ser necessário alertar os cubanos sobre esta possibilidade.


Notas

[1] “Eurocopa 2012: Twitter celebra los goles de la televisión”. Periodistas 21, 2-7-2012 http://periodistas21.blogspot.com.es/2012/07/eurocopa-twitter-celebra-los-goles-de.html

[2] Ramonet, Ignacio. La explosión del periodismo. Clave Intelectual, Madrid, 2011.

[3] Debord, Guy. La sociedad del espectáculo. Pre-Textos, Valencia, 2010

[4] El Jueves, 14-6-2012 http://www.eljueves.es/2012/06/14/facebook_veta_nuestra_portada_merkel_rajoy_plan_sadomaso.html#

[5] The Guardian, 24-4-2012 http://www.guardian.co.uk/technology/2011/apr/29/facebook-accused-removing-activists-pages

[6] Barrapunto.com, 12-4-2011 http://barrapunto.com/~manje/journal/35852

[7] Cubadebate.cu, 13-1-2011 http://www.cubadebate.cu/noticias/2011/01/13/censura-de-youtube-a-cubadebate-desato-movimiento-solidario/

[8] lubrio.blogspot.com.es , 13-6-2012 http://lubrio.blogspot.com.es/2012/06/rcn-y-venevision-usan-youtube-para.html

[9] La pupila insomne. 19-6-2012 http://lapupilainsomne.wordpress.com/2012/06/19/google-roba-datos-de-sitios-cubanos/

[10] Baños Boncompain, Antonio, Posteconomía. Hacia un capitalismo feudal, Barcelona, Los libros del lince, 2012

[11] Citado por Rivière, Margarita. La fama. Iconos de la religión mediática. Crítica, Barcelona, 2009.

*A segunda parte deste texto será divulgada em breve

Tradução: Caio Sarack

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

AOS AMIGOS DO BLOG

DURANTE O MES DE JANEIRO E FEVEREIRO ESTAREMOS TIRANDO FÉRIAS DO BLOG, VOLTAREMOS EM MARÇO COM NOVAS POSTAGENS. AGRADEÇO A TODOS E TODAS E UMA BOAS FÉRIAS PARA EU E MINHA FAMILIA.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Crime e Castigo

Crime e Castigo
(Crime and Punishment)
Schuld und Sühne (1998)
Poster
Sinopse
São Petersburgo, 1859. Ródia Raskólnikov é um estudante que acaba de ser suspenso da universidade acusado de fazer parte de um grupo anarquista. Inteligente, ele tem uma teoria: acredita que certos indivíduos são superiores, a exemplo de Napoleão, dispostos a realizar façanhas grandiosas, que estão acima da lei e capazes de cometer qualquer tipo de transgressão sem sofrer punição. Raskólnikov acredita ser um desses. Dúnia, sua irmã, está disposta a se casar com um homem rico e desprezível; Sônia, uma moça ingênua e doce, decide prostituir-se para sustentar sua família que encontra-se à beira da miséria. Transtornado, decide matar uma agiota, mulher que considera inútil e que vive a usurpar as pessoas, inclusive ele, afim de provar sua teoria e conseguir algum recurso. Incapaz de livrar-se do sentimento de culpa, Raskólnikov passa a viver atormentado por visões e pesadelos de seu ato. Porfiri, o investigador de crimes, com paciência e estratégia irá conduzir o caso a sua maneira, prolongando o final aguardado. E Ródia encontrará no amor incondicional de Sônia a redenção necessária para se redimir do crime que cometeu.
Sinopse: carloschagas
Screenshots (clique na imagem para ver em tamanho real)

Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Patrick Dempsey - Ródia Raskólnikov
Ben Kingsley - Porfiri
Julie Delpy - Sônia
Eddie Marsan - Dimitri
Lili Horvath - Dúnia
József Gyabronka - Lújin
Richard Bremmer - Arkadi
Carole Nimmons - Marfa
Gênero: Drama
Diretor: Joseph Sargent
Duração: 87 minutos
Ano de Lançamento: 1998
País de Origem: Estados Unidos da América
Idioma do Áudio: Alemão
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0144041/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 2.016 Kbps
Áudio Codec: MPEG1/2 L3
Áudio Bitrate: 128 kbps 44 KHz
Resolução: 704 x 512
Aspect Ratio: 1.375
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 1.394 GiB
Legendas: Em anexo
Curiosidades
- O filme foi rodado na Polônia, reproduzindo com proximidade o cenário da São Petersburgo de Dostoiévski.
- O filme, diferente de outras versões para o cinema, enfatiza as cenas de pobreza e abismo social entre as classes.
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.

Arquivo(s) anexo(s)


Este post foi editado por mfcorrea:

Max Altman: Ao povo soberano da Venezuela caberá a última palavra



A Folha de S. Paulo desta terça-feira, 8 de janeiro de 2013, trombeteia em sua principal manchete: “Brasil dá apoio a manobra que adia a posse de Chávez”. É mais um típico exemplo de desinformação, manipulação e distorção da grande mídia.

Por Max Altman*, no Opera Mundi


Agência Brasil
Venezuela Presidente Hugo Chávez está em Havana onde se recupera de uma cirurgia para a retirada de um câncer na região pélvica
 
O que a Folha considera manobra é o governo Dilma defender o adiamento da posse do presidente venezuelano Hugo Chávez, prevista para esta quinta-feira (10), e a manutenção do atual vice Nicolás Maduro no cargo por até 180 dias. O jornal deixa transparecer ao leitor menos avisado, de maneira falaciosa, que os 180 dias sugeridos correspondem a uma manobra e que esse prazo não passa de chute.

Leia também:
Comunicado oficial diz que situação de Chávez é "estacionária"

Na página principal do caderno Mundo, o jornal traça, a seu modo, panoramas para a Venezuela, expõe o que diz a Carta da Venezuela, o que dizem os chavistas, o que diz a oposição, o que diz a cláusula democrática do Mercosul e o que diz o Brasil, mas em nenhum momento menciona ou transcreve, ou seja, esconde o art. 234 da Constituição da Venezuela que fundamenta a posição brasileira: “Art. 234 : As faltas temporárias do Presidente ou Presidenta da República serão supridas pelo Vice-Presidente Executivo ou Vice-Presidenta Executiva até por noventa dias prorrogáveis por decisão da Assembleia Nacional por noventa dias mais.

Se uma falta temporária se prolongar por mais de noventa dias consecutivos, a Assembleia Nacional decidirá por maioria de seus integrantes se deve considerar-se que há falta absoluta.”

Em que circunstâncias se dá a falta absoluta, o que obriga a convocar novas eleições, dependendo do caso? A resposta está no “Art. 233 : Serão faltas absolutas do Presidente ou Presidenta da República: sua morte, sua renúncia, ou sua destituição decretada por sentença do Tribunal Supremo de Justiça; sua incapacidade física ou mental permanente certificada por uma junta médica designada pelo Tribunal Supremo de Justiça e com aprovação da Assembleia Nacional; o abandono do cargo, declarado como tal pela Assembleia Nacional, assim como a revogação popular de seu mandato.

Quando se produzir a falta absoluta do Presidente eleito ou Presidenta eleita antes de tomar posse, se procederá a uma nova eleição universal, direta e secreta dentro dos trinta dias consecutivos seguintes. Enquanto se elege e toma posse o novo Presidente ou a nova Presidenta, se encarregará da Presidência da República o Presidente ou Presidenta da Assembleia Nacional.

Se a falta absoluta do Presidente ou Presidenta da República se produzir durante os primeiros quatro anos do período constitucional, se procederá a uma nova eleição universal, direta e secreta dentro dos trinta dias consecutivos seguintes. Enquanto se elege e toma posse o novo Presidente ou a nova Presidenta, se encarregará da Presidência da República o Vice-Presidente Executivo ou a Vice-Presidenta Executiva.

Nos casos anteriores, o novo Presidente ou Presidenta completará o período constitucional correspondente.

Se a falta absoluta se produzir durante os últimos dois anos do período constitucional, o Vice-Presidente Executivo ou a Vice-Presidenta Executiva assumirá a Presidência da República até completar dito período.”

A oposição, apoiada freneticamente pela mídia local e internacional, insiste em que no dia 10 de janeiro encerra-se um período constitucional e começa outro. Encerrado o período deixam automaticamente de exercer suas funções o vice-presidente, Maduro, e todos os ministros designados anteriormente por Chávez. Se não houver posse do presidente eleito em 7 de outubro, sobrevem um vazio de poder. E para que não haja vazio ele só pode ser preenchido pelo presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello. Alardeia a oposição que se em 10 de janeiro não ocorrer o juramento do presidente e não forem ativadas as disposições constitucionais relacionadas com a falta temporária do Presidente da República, será consumada uma grave violação à ordem constitucional na Venezuela que afetará a essência da democracia. Ora como se viu acima, as disposições constitucionais relativas à falta temporária falam que esta será suprida pelo vice-presidente. E como o vice-presidente é nomeado pelo presidente e , segundo a oposição, suas funções se extinguem com o encerramento do período constitucional anterior, é o presidente da Assembleia Nacional, para que não haja vazio de poder, quem deve assumir. É aí que reside o golpe. Se o presidente da Assembleia assumir fica configurada a falta absoluta e ele deve obrigatoriamente convocar novas eleições em 30 dias. A oposição, derrotada em 7 de outubro e depois em 16 de dezembro, espera a revanche, agora sem a presença de Hugo Chávez.

E por quê Marco Aurélio Garcia sustenta que Nicolás Maduro deve responder pelo governo no período sugerido de 90 dias mais 90 ? Ele o faz apoiado na realidade de que há um processo de continuidade. O presidente eleito em 7 de outubro de 2012 é o mesmo que vinha exercendo o cargo, de modo que não há descontinuidade. Trata-se do mesmo presidente e de todos os seus auxiliares designados. Nesse caso concreto a posse e o juramento passam a ser uma formalidade que pode ser suprida quando o presidente eleito puder fazê-lo. A cirurgia de Chávez e a sua impossibilidade de tomar posse e jurar no dia 10 de janeiro é um motivo superveniente de que trata o “Art. 231 : O candidato eleito ou a candidata eleita tomará posse do cargo de Presidente ou Presidenta da República em 10 de janeiro do primeiro ano de seu período constitucional, mediante juramento ante a Assembleia Nacional. Se por qualquer motivo superveniente o Presidente ou Presidenta da República não puder tomar posse ante a Assembleia Nacional, o fará ante o Tribunal Supremo de Justiça.”

A Constituição não estabelece prazo para que o fato superveniente possa ser superado. O limite está exatamente naqueles 90 mais 90 dias.

O colunista Clovis Rossi, na mesma edição do jornal, interpreta a seu talante esse artigo. Diz que “a data é fixa e inamovível. Móvel pode ser apenas o local de juramento. Qualquer outra interpretação é chicana política”. Imaginem o caso de um presidente venezuelano eleito que, estando no exterior, embarca no dia 9 de janeiro para poder estar presente nesse “inamovível” dia 10. O avião em virtude de mau tempo se vê impedido de levantar vôo e esse mau tempo perdura por mais 24 horas, tornando impossível sua presença nesse dia “inamovível”. O que acontece? Perde o lugar?

Todos os artigos acima citados são fundamentais mas dizem respeito apenas ao mecanismo de posse e das faltas temporária e absoluta. Somente periódica e eventualmente a eles se lança mão.

Permanente, cláusula pétrea e essência da democracia é o que dispõe o “Art 5º : A soberania reside intransferivelmente no povo, quem a exerce diretamente na forma prevista nesta Constituição e na lei, e indiretamente, mediante o sufrágio, pelos órgãos que exercem o Poder Público.

Os órgãos do Estado emanam da soberania popular e a ela estão submetidos. “

Em 7 de outubro de 2012, o povo venezuelano, mediante sufrágio universal, direto e secreto, além de limpo, justo , democrático e concorrido, elegeu como seu presidente, pela terceira vez, Hugo Chávez. Mas não elegeu apenas Chávez, sufragou também um plano amplamente divulgado e debatido, o “Plano Socialista da Nação – 2013-2019”, programa histórico de cinco objetivos fundamentais, que tem por lema ‘desenvolvimento, progresso, independência, socialismo’.

É ao povo soberano que caberá a última palavra.

*Max Altman é jornalista

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Solidariedade aos presos políticos palestinos em Israel

(ESQUERDA MARXISTA)Divulgamos este abaixo-assinado de uma campanha que ocorre em todo o Brasil em solidariedade aos presos políticos palestinos em Isael. Antes, durante e após o Fórum Social Mundial Palestina Livre, ocorrido no final do ano passado, publicamos em nossa página diversos artigos sobre a luta do povo Palestino e nossa posição em defesa de um Estado laico e democrático em todo o território histórico da Palestina. Essa campanha de solidariedade é mais uma importante iniciativa em defesa da luta do povo Palestino contra a brutal repressão do Estado Sionista de Israel. Convidamos todos os leitores de nossa página a assinarem esta carta que será encaminhada a orgãos governamentais, comitês de direitos humanos, escritórios da ONU, etc, após o dia 15 de janeiro. Contamos com a solidariedade de todos.
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EM DEFESA DOS PRESOS POLÍTICOS PALESTINOS
LIBERDADE PARA OS 4600 PRESOS PALESTINOS ENCARCERADOS NAS PRISÕES ISRAELENSES

Desde 1948, quando foi criado o Estado de Israel em terras da Palestina, uma onda de violência e agressão marca o cotidiano do povo palestino. Todos os palestinos que lutam contra a ocupação israelense e pela independência nacional tem sido perseguidos, presos, torturados ou assassinados pelos sucessivos governos de Israel. O Estado de Israel é hoje o campeão mundial em violações dos direitos humanos. É um Estado anti-democrático e racista, que pratica uma limpeza étnica em todo o território da Palestina ocupada. A legítima luta de libertação nacional palestina contra o colonialismo israelense tem levado mais de 800 mil palestinos para as prisões israelenses.
Nós, abaixo assinados, condenamos as práticas a agressões diárias, cometidas pelo Estado de Israel, contra os presos politicos palestinos dentro das prisões israelenses. Condenamos as detenções contra o povo palestino, que almeja a liberdade e independencia. Segundo os últimos relatórios de organizações de direitos humanos o numero dos presos palestinos nas prisões israelenses chega a 4600, até o final de mês de outubro de 2012. Entre eles: 84 detidos administrativos, 189 crianças, 10 deputados, 9 mulheres, 530  que cumprem prisão perpétua, 451 sentenciados há mais de 20 anos. diante dessa situação exigimos:

1)  a revogação imediata das prisões administrativas, que carecem de qualquer fundamentação legal e são mais um instrumento ilegal das foraças de ocupação;
2)  a proteção à dignidade e à vida dos presos que realizam greves de fome como protesto contra as suas precárias condições nas prisões;
3)  o cumprimento dos acordos realizados entre os presos, a direção dos presídios e o serviço  de inteligência interna de Israel(Shein Beit);
4) imediata libertação de todos os 1027 presos que foram incluídos no acordo realidado em 2011, pois muitos dos que foram libertados foram perseguidos e presos novamente pelas tropas de ocupação;
5) libertar imediatamente todos os deputados membros do Conselho Legislativo Palestino, que foram eleitos pelo povo para exercer seu mandato e fortalecer a luta democrática na Palestina, e que hoje se encontram nas nas prisões israelenses;
6) o fim da politica de isolamento dentro das prisões, que submete o preso à condições muito mais desumanas, pois o excluí da possibilidade de contato com outros presos e com seus familiares;
7) a libertação imediata de todas as crianças e jovens menores de 18 anos, pois seus direitos fundamentais assegurados por diversas resoluções e pela própria Carta de fundação da ONU estão sendo cotidianamente desrespeitados nas prisões israelenses, como direito à saúde, à educação, etc;
8) a libertação imediata de todos os presos que se encontram com doenças consideradas graves;
9) atendimento médico digno e acesso à medicação e tratamento adequado, com possibilidade de visitas de médicos indicados por familiares e/ou organizações de direitos humanos que acompanham e prestam assistência e ajuda humanitária aos presos;
10) garantia ao direito à educação e acesso ao ensino superior no interior das prisões israelenses, com direito aos presos de ter acesso à livros, revistas e jornais;
11) que o Estado de Israel respeite e cumpra os acordos e as convenções internacionais de direitos humanos em relação aos presos políticos palestinos. 
A luta dos presos políticos palestinos por melhores condições de vida nas prisões e por sua libertação é parte fundamental da luta por justiça e pela paz na Palestina. Não haverá paz sem justiça. E justiça hoje significa tratar com dignidade e libertar todos os presos políticos encarcerados por lutarem pela libertação de sua pátria. A luta do movimento de libertação nacional palestino contra a ocupação israelense é uma luta legítima, inspirada na heróica resistência popular de outros povos que também lutaram e venceram o colonialismo, conquistando assim seu direito inalienável à soberania, à independência e a autodetermninação.
Pedimos à todas as forças democráticas e progressistas do mundo, e suas organizações políticas, sociais, culturais e humanitárias, bem como aos governos que defendem e praticam os princípios fundamentais dos direitos humanos e do direito internacional humanitário, que divulguem este abaixo-assinado e que façam chegar às autoridades israelenses em seus países, pois a causa palestina é hoje uma causa de toda a humanidade.
Ninguém pode ficar impune quando comete uma injustiça. Chegou a hora do Estado de Israel ser julgado pelos inúmeros crimes que vem cometendo contra o povo palestino.
PAZ, JUSTIÇA E LIBERDADE PARA A PALESTINA!!!!!

Para assinar envie e-mail para CONTATO@MARXISMO.ORG.BR preenchendo no assunto "SOLIDARIEDADE PRESOS PALESTINOS" e enviando no corpo do e-mail seu NOME, PROFISSÃO, ENTIDADE (se participar de algum sindicato, partido, associação de moradores, etc).

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Por que público foge da TV aberta




Conforme notícia divulgada pela Folha de São Paulo nesta semana, a Rede Globo fechou o ano passado com a pior audiência de sua história. Segundo dados do Ibope, em 2012 ela teve, em média, 14,7 pontos (cada ponto equivale a 60 mil domicílios).
A emissora ainda amarga o pior índice em seu principal programa jornalístico, o Jornal Nacional, que, ano passado, teve média de 28,1 pontos contra o pico de audiência, que ocorreu em 2006, de 36,4 pontos.
Todavia, é equivocada a percepção de muitos de que se trata de um problema isolado da Globo. Houve queda de audiência de todas as TVs abertas no ano que passou em relação a 2011.
Apesar de a Globo ter fechado 2012 com 14,7 pontos contra 16,3 em 2011, a Record teve 6,2 pontos contra 7, 2, o SBT 5,6 pontos contra 5,7, a Band 2,5 pontos contra 2,5 e a Rede TV! liderou a queda, tendo perdido 37% de sua audiência no ano passado, tendo cravado 0,9 pontos contra 1,4 em 2011.
E não foi só. O número de aparelhos ligados em televisões abertas caiu perto de 5%.
O resultado negativo mais “vistoso”, claro, foi o da Globo, que, ao longo da última década, vem perdendo mais audiência do que as concorrentes, sobretudo devido ao avanço da Record e à forte perda de audiência do Jornal Nacional.
Sobre o ainda mais assistido telejornal do país, a perda de audiência acima da média  certamente se deve, em boa parte, à utilização do informativo como arma na incessante guerra da Globo contra o governo federal e o PT.
A cobertura do julgamento do mensalão, por exemplo, irritou profundamente até o público que não gosta do PT. Tentando influir a qualquer preço na eleição municipal do ano passado, sobretudo na de São Paulo, o núcleo de jornalismo da Globo, às vésperas do segundo turno, produziu um dos maiores absurdos que se viu na televisão brasileira.
Em 23 de outubro,  a uma semana do segundo turno, logo após o horário eleitoral gratuito, o Jornal Nacional levou ao ar uma matéria que teve duração só comparável às coberturas de grandes catástrofes como a de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque, nos Estados Unidos, quando terroristas derrubaram as Torres Gêmeas do World Trade Center
Dos 32 minutos de duração da edição do JN naquele dia, 18 minutos foram gastos com o julgamento. E o que é pior: não houvera absolutamente nada de especial, naquele dia. Assim, o telejornal se limitou a importunar o telespectador com “melhores momentos” do julgamento.
Aliás, o ineditismo do tempo gasto na reportagem foi de tal monta que virou até matéria de jornal no dia seguinte, na Folha de São Paulo, e ainda gerou representação da ONG Movimento dos Sem Mídia ao Ministério Público Eleitoral acusando a emissora de fazer uso político de uma concessão pública em período eleitoral, contrariando a legislação.
O julgamento do mensalão foi tão martelado por toda a programação da Globo que passou a ser comum ouvir pessoas comentando que não agüentavam mais o assunto. Contudo, a queda mais pronunciada de audiência da Globo e do JN se deve a um processo mais amplo.
Outras emissoras não se beneficiaram da queda de audiência da Globo porque também incorrem em manipulação de notícias, mas, acima de tudo, porque todas as emissoras abertas insistem em uma programação que qualificar de medíocre soa até benevolente.
O público que pode, foge para a televisão a cabo. Quem não pode, recorre à internet. Sobretudo para se informar.
Agora, por exemplo, está sendo anunciado que o Brasil voltará a ser assolado por nada mais, nada menos do que a DÉCIMA TERCEIRA edição do Big Brother Brasil, com bebedeiras, promiscuidade e mediocridade invadindo nossos domicílios.
Alternativa ao BBB? A Record apresenta algo ainda pior, uma cópia malfeita, mais brega, ainda que menos promíscua: o reality show A Fazenda.
Novelas? Apesar de Globo e Record, acima de todas, reunirem bons elencos, as tramas são sofríveis, repetitivas. As histórias são sempre as mesmas, com pequenas variações. Ainda que o público para essas porcarias ainda se mantenha, vem diminuindo percentualmente em relação ao conjunto da população.
O progressivo aumento do nível de escolarização e cultura do brasileiro vai provocando fuga de uma programação cuja produção chega a ser cara só para produzir lixo cultural em estado puro.
Para que se informar pelos telejornais se, pela internet, você fica sabendo antes das notícias e ainda pode ter acesso a diversos ângulos delas?
No Jornal Nacional, por exemplo, o espectador sofre tentativa de manipulação, com notícias distorcidas sob interesses políticos e econômicos e, em geral, não fica sabendo do outro lado da moeda.
Há cada vez mais gente, portanto, produzindo seus próprios informativos pela internet. Hoje você pode montar uma rede de sites e blogs nacionais e internacionais e se informar em muito maior profundidade.
Claro que ainda é restrito o contingente de pessoas que montam seu portfólio informativo com base em critérios mais racionais e via internet, mas esse contingente cresce de forma exponencial.
O que ocorre no Brasil é uma tendência mundial. Nos EUA, por exemplo, a televisão aberta tem baixa audiência, muito mais baixa do que no Brasil, percentualmente.
Agora, a cereja do bolo: nos próximos anos, as operadoras de telefonia deverão começar a produzir conteúdo para transmitirem via TV digital ou internet, inclusive em celulares. E sem uma regulação das comunicações eletrônicas, a Globo e congêneres estarão ferradas.
Explico: as teles vêm aí com arcas incontáveis de dinheiro para investir em conteúdo, com seus faturamentos dez vezes maiores do que das emissoras tradicionais, inclusive da Globo. Sem regulação do setor, até ela será engolida.
Talvez por conta disso vemos o governo Dilma impassível diante do clamor de setores da sociedade por uma “lei da mídia”, pois a tecnologia deverá levar Globo e companhia limitada a baterem na porta do governo pedindo regulação, por incrível que pareça.
Muitos – entre os quais me incluo – estão contrariados com a postura da presidente Dilma de renegar qualquer intenção de dar ao Brasil uma legislação moderna para esse setor tão crucial, até porque há medo de que os barões da mídia arranquem de um governo aparentemente acovardado uma regulação feita sob medida para os interesses deles.
Todavia, apesar de também ter essa preocupação, penso que a passividade do governo federal pode – apenas pode – ser uma estratégia para negociar em posição de força quando a própria família Marinho, entre outros, bater-lhe à porta pedindo uma “lei da mídia”.
A ver.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O modelo indiano das Escolas-Ashram, no filme "O Invencível"

03012013 o invencivel cartazÍndia - PGL - [José Paz Rodrigues] Na antiga Índia um «Ashram», também chamado «Gurukul», era um eremitério e, ao mesmo tempo, uma escola no bosque ou floresta. Onde os sábios, os «sadhus» (santos), os «rishis» (ascetas), os mestres e os estudantes, seus discípulos, viviam em paz e tranquilidade em harmonia com a Natureza.

Tradicionalmente, estas escolas na floresta, chamadas assim mesmo «Topovanas», situavam-se afastadas das zonas urbanas e das vivendas, em florestas, bosques ou lugares montanhosos, no meio de amenos ambientes naturais, propícios para o ensino, as aprendizagens e a meditação espiritual. Com espaços adequados para todo o tipo de atividades: intelectuais, físicas, estéticas, exercícios corporais e todo o tipo de práticas e formas de ioga. Nas mesmas residiam os mestres e docentes com as crianças de diferentes níveis. A palavra «Ashram», a mais usada para este tipo de instituições educativas, que permanece na atualidade, deriva do termo sânscrito «aashraya», que significa «proteção». Houve em toda a Índia muitos «Gurukuls» ou «Ashrams», nos quais infinidade de rapazes se formaram e, em especial, nas aprendizagens apreciativas, no respeito pola paz e a natureza, ademais de adquirir as aprendizagens instrumentais da leitura, a escrita e o cálculo.
Os mais famosos, que ainda hoje subsistem, foram o «Sabarmati Ashram», perto da cidade de Ahmedabad, criado por Gandhi, e que serviu de sede durante a sua longa luita pela independência da Índia. O «Auronville» ou «Aurobindo Ashram», fundado polo grande bengali Aurobindo Ghosh na cidade de Pondichery, uma cidade que conserva muitas reminiscências francesas. E, especialmente, a escola Santiniketon (Morada da Paz), ashram criado por Robindronath Tagore em 22 de dezembro de 1901, na quinta que lhe cedeu seu pai, para fundar uma escola modelo, em que sabiamente integrou o modelo das antigas escolas indianas do bosque com o modelo das escolas novas europeias. As quais, de alguma forma, no contexto europeu, são similares aos ashrams indianos, por serem criadas em plena natureza e afastadas das cidades. O exemplo temo-lo na Odenwald de Paul Geheeb, na Escola das Rochas de Demolins ou na escocesa Abbotsholme de Cecil Reddie. Sem esquecer-nos das famosas escolas do bosque municipais de princípios do século vinte em Barcelona, dirigidas por Rosa Sensat. Ou das escolas monacais medievais que existiam nos mosteiros, nomeadamente nos beneditinos e nos cistercienses.
O rapaz protagonista do formoso filme do bengali Sotioyit Ray, considerado como uma obra-mestra do cinema mundial, antes de partir para Calcutá a prosseguir estudos superiores, como adolescente, frequenta uma escola-ashram do tipo que estamos a comentar. Ali desperta a sua inteligência e descobre que tem aptitudes para continuar a estudar, destacando entre os demais. O seu mestre anima-o a superar-se e continuar formando-se, pois sabe que tem qualidades para isso.
Ficha Técnica do filme:
Título original em bengali: Oporayito (O Invencível).
Diretor: Sotioyit Ray (Bengala-Índia, 1956, Branco e Preto, 115 min.).
Roteiro: S. Ray, baseado no romance de Bibhutibhushan Bondopadhai.
Música: Robi Shonkor. Fotografia: Subroto Mitro.
Atores: Kanu Banerji (Harihar Ray, o pai), Karuna Banerji (Sorboyoya, a mãe), Pinaki Sengupto (Opu jovem), Smaron Ghosal (Opu adolescente), Santi Gupto (Ginnima), Subodh Ganguli (o diretor da escola), Hemonto Chatteryi (o mestre), Horendrokumar Chokrovorti (o doutor) e outros.
Prémios: Leão de Ouro ao melhor filme no Festival de Veneza de 1957. Golden Gate ao melhor diretor no Festival de São Francisco e Melhor Filme Estrangeiro no BAFTA.
Argumento: Depois do falecimento de seu pai e de viver por algum tempo na cidade sagrada indiana de Benarés, o jovem Opu, de dez anos, muda-se com a sua mãe para a casa de um tio que os acolhe. Opu frequenta a escola local onde é um bom aluno, ao ponto de receber uma bolsa para realizar estudos superiores e ir estudar a Calcutá. Opu decide partir e sua mãe fica angustiada com a sua partida e com a sua crescente independência. Ela ama muito seu filho e pretende o seu sucesso, mas não quer ficar sozinha. O filme é sem dúvida uma comovente e bela história filmada sobre a vida e a morte no seio de uma família bengali. Configurou o segundo título da famosa trilogia de Ray intitulada «O Mundo de Opu».
Na Índia só um guru é um verdadeira modelo de mestre:
Um dia Tagore, diante dos estudantes, futuros mestres, da Escola Normal de Tóquio no Japão, pronunciou, entre outras, as lindas palavras seguintes: «Para ser mestre de crianças é completamente necessário ser como uma criança, esquecer o que sabemos e que já chegamos ao final dos conhecimentos. Se se quer ser um verdadeiro guia de crianças, não há que pensar em que se tem mais idade, nem que se sabe mais, nem nada polo estilo; há que ser um irmão mais velho, disposto a caminhar com as crianças pola mesma senda do saber elevado e da aspiração. E o único conselho que posso dar-vos nesta ocasião, se vos ides dedicar a ensinar aos filhos dos homens, é este: que cultiveis a alma da criança eterna».
Eis o modelo de mestre de um ashram, que teria que ser o de todas as escolas do mundo. Uma espécie de guru, palavra sagrada para os indianos, que só pode ser usada com aqueles mestres que reúnem as seguintes qualidades: ser alegre, otimista, altruísta, amar a vida, possuir profundos valores humanos, amar a paz, ser solidário, amar a natureza, respeitar a psicologia das crianças, adaptar-se às mesmas (não que estas se adaptem ao mestre), saber motivar e entusiasmar, saber provocar o interesse e a curiosidade, não impor as suas ideias respeitando as dos estudantes, caminhar ao lado dos alunos para refletir sobre os saberes e aprendizagens que se vão adquirindo, compreender as possíveis faltas dos educandos, não empregar a estratégia dos prémios e os castigos, fomentar a bondade e a generosidade, a verdade, os valores éticos e o disfrute da beleza ali onde existe, nas pessoas, em toda a natureza, no céu, o sol, a lua e as estrelas, a beleza da poesia, a música, a dança, o teatro, o cinema... E, acima de tudo, ser uma pessoa íntegra, que também tem profundos conhecimentos da cultura mundial, que sabe bem ensinar com acertadas estratégias didáticas. Não fechando-se às diferentes culturas e formas de ver a vida e não sendo sectário perante a diversidade que existe.
Um formoso filme cheio de belas imagnes da vida mesma:
O cinema de Ray, que se formou na universidade internacional Visva-Bharoti de Santiniketon e foi aluno de Tagore, é de um elevado realismo. Recebeu grande influência do grande diretor Jean Renoir e do neorrealismo italiano, especialmente do filme de De Sica Ladrão de bicicletas, que o entusiasmou quando o viu em Londres. Ray escreveu nos anos 40 estas belas palavras: «A crueza das imagens do cinema é a própria vida. É inacreditável como um país que inspirou tanta pintura, música e poesia, falhe perante o realizador de cinema. Ele só tem de ter os olhos abertos e os ouvidos atentos. Deixem-no fazê-lo». Foi grande amigo de Renoir, Antonioni e Kurosawa. Este chegou a dizer uma vez acertadamente: «Não ter visto o cinema de Ray significa existir no mundo sem ver o sol ou a lua». Precisamente aí radica a força do seu cinema, muito bem representado no filme que comentamos, o segundo da sua formosa e famosa trilogia intitulada «O Mundo de Opu».
O Invencível, título do filme, demonstra certa ironia, da própria vida retratada, que lhe tirou tudo ao rapaz protagonista, ficando ele só e os seus sonhos. O falecimento antes de seu pai e logo de sua mãe, uma cena além de muito bela, acompanha um dos simbolismos mais fortes para a personagem de Opu até então. Este momento conta-o em imagens de grande sensibilidade o cineasta bengali. A história da família, as personagens tratando de sobreviver e prosperar, chegam-nos diretamente ao coração e compreendem-se em qualquer parte do mundo. Tudo está contado e filmado de maneira singelamente magistral. Uma delícia cinematográfica que convida a refletir sobre a vida humana, sobre o esforço dos nossos pais para que saiamos adiante e sejamos mais que eles, sobre quão ingratos somos os filhos com os pais, algo que não reconhecemos até que se nos vão deste mundo e já não podemos olhá-los mais aos olhos.
O filme tem ritmo, fluidez e, embora com certa tristeza, esconde um transfundo de esperança. Não deixa de ser um reflexo da vida mesma, a inocência da infância que se vai forçosamente, dando passo à etapa em que se começa a ver o mundo mais claramente e a aprender dele. A aprender com boas formas, estudando, e com outras menos bem recebidas, com os golpes que dá o destino. Estamos perante um filme precioso, com uma história bem contada, de uma força prodigiosa. O impacto de cada imagem encontra-se na exuberância da paisagem de Bengala, na presença da natureza, nas modestas vivendas humanas, no modo de vida, nos costumes, nas tradições, nos exóticos sons dos instrumentos musicais autóctones e, especialmente, nas pessoas em si. As suas relações, conversas, preocupações, esperanças, tristezas e felicidade.
Possivelmente estamos perante o filme que melhor representou a etapa da adolescência, ademais de forma universal, fácil de entender em todos os lugares do mundo. No qual também se apresenta a dicotomia entre o campo e a cidade, o contexto rural e o urbano. Um representando a resignação e a tradição. O outro a vida moderna, o crescimento, o progresso e o futuro. Ao menos no contexto dos anos vinte desse grande e imenso país que é Índia. Tema este que hoje veríamos com outros olhos e outra atitude, pois são muitos os que, não só por razões económicas, voltam às aldeias e ao mundo rural, onde acham que há mais autenticidade, mais solidariedade, menos individualismo, mais cooperação e menos poluição.
Este formoso filme de Ray reflete à sua vez isso que chamamos «lei de vida», onde por desgraça ou por sorte assim é, e não há volta atrás na escolha dos nossos factos. Um filme que convida à reflexão e que é verdadeira poesia. E não só por mostrar o modelo das escolas-ashrams indianas. Também por mostrar o importante que é o papel e o labor das mães na educação dos filhos e na vida em geral dum país. Muitas vezes injusta e imoralmente pouco valorados. Uma obra-mestra realizada polo diretor bengali Ray, quem, merecidamente, em 1992, recebeu o Óscar por toda a sua magna e linda filmografia.
Temas para refletir:
- Analisar o importante que é ter bons mestres e docentes, com qualidades humanas e didáticas. Fazer propostas de como poderíamos escolhê-los e como formá-los adequadamente. Tomar como ponto de partida os únicos modelos de formação do professorado acertados que tivemos no país: o Plano Profissional de 1931 e o Plano de 1967.
- Analisar a linguagem cinematográfica utilizada por Ray neste filme: tipos de planos, movimentos de câmara, uso do tempo e do espaço, simbolismo das diferentes imagens e como amostra nitidamente que no cinema, mais que a palavra, a imagem é o mais importante. Por isso a mais acertada definição de cinema é que é a arte das imagens em movimento.
- Desenhar um plano de formação do professorado em exercício, para levar para a frente no país, com o objetivo fundamental de sensibilizar os atuais docentes de todos os níveis educativos sobre o seu importante ofício e também a sua responsabilidade perante os estudantes. Acompanhado de um importante projeto formativo sobre adequadas estratégias educativas para utilizar nas aulas. Este tema, nesta altura, com um tão nefasto ministro da educação, o pior em muitos anos, não deixa de ser uma utopia. Por isso o melhor, para o por em prática, é a auto-organização dos docentes. Como aquela que se teve que fazer nos anos sessenta e setenta durante as últimas décadas do franquismo.
(*) Académico da AGLP, didata e pedagogo tagoreano. Autor, igualmente, da coluna de opinião Dizer e Fazer.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Como foi inventado o povo judeu - Um livro importante de Shlomo Sand


Miguel Urbano Rodrigues
 
 
Embora crescentemente desmentidos pela arqueologia, pela genética e pela historiografia séria, os mitos de que se alimenta o sionismo continuam a constituir a base em que assenta a reivindicação de legitimidade do estado etnocrático, confessional, racista e colonialista de Israel. O «Estado do Povo Judeu» assume-se como democrático. Mas a realidade nega a lei fundamental aprovada pelo Knesset. Não pode ser democrático um Estado que trata como párias de novo tipo 20 % da população do país, um Estado nascido de monstruoso genocídio em terra alheia, um Estado cuja prática apresenta matizes neofascistas.

Uma chuva de insultos fustigou em Israel Shlomo Sand quando publicou um livro cujo título - «Como foi inventado o povo judeu” * - desmonta mitos bíblicos que são cimento do Estado sionista de Israel.
Professor de Historia Contemporânea na Universidade de Tel- Aviv, ele nega que os judeus constituam um povo com uma origem comum e sustenta que foi uma cultura especifica e não a descendência de uma comunidade arcaica unida por laços de sangue o instrumento principal da fermentação proto-nacional.
Para ele o «Estado judaico de Israel», longe de ser a concretização do sonho nacional de uma comunidade étnica com mais de 4 000 anos, foi tornado possível por uma falsificação da história dinamizada no seculo XIX por intelectuais como Theodor Herzl.
Enquanto académicos israelenses insistem em afirmar que os judeus são um povo com um ADN próprio, Sand, baseado numa documentação exaustiva, ridiculariza essa tese acientífica.
Não há aliás pontes biológicas entre os antigos habitantes dos reinos da Judeia e de Israel e os judeus do nosso tempo.
O mito étnico contribuiu poderosamente para o imaginário cívico. As suas raízes mergulham na Bíblia, fonte do monoteísmo hebraico. Tal como a Ilíada, o Antigo Testamento não é obra de um único autor. Sand define a Bíblia como «biblioteca extraordinária» que terá sido escrita entre os séculos VI e II antes da Nossa Era. O mito principia com a invenção do «povo sagrado» a quem foi anunciada a terra prometida de Canaã.
Carecem de qualquer fundamento histórico a interminável viagem de Moisés e do seu povo rumo à Terra Santa e a sua conquista posterior. Cabe lembrar que o actual território da Palestina era então parte integrante do Egipto faraónico.
A mitologia dos sucessivos exílios, difundida através dos séculos, acabou por ganhar a aparência de verdade histórica. Mas foi forjada a partir da Bíblia e ampliada pelos pioneiros do sionismo.
As expulsões em massa de judeus pelos Assírios são uma invencionice. Não há registo delas em fontes históricas credíveis.
O grande exilio da Babilónia é tão falso como o das grandes diásporas. Quando Nabucodonosor tomou Jerusalém destruiu o Templo e expulsou da cidade um segmento das elites. Mas a Babilonia era há muito a cidade de residência, por opção própria, de uma numerosa comunidade judaica. Foi ela o núcleo da criatividade dos rabinos que falavam aramaico e introduziram importantes reformas na religião mosaica. Sublinhe-se que somente uma pequena minoria dessa comunidade voltou à Judeia quando o imperador persa Ciro conquistou Jerusalém no séc. VI antes da Nossa Era.
Quando os centros da cultura judaica de Babilonia se desagregaram, os judeus emigram para a Bagdad abássida e não para a «Terra Santa».
Sand dedica atenção especial aos «Exílios» como mitos fundadores da identidade étnica.
As duas «expulsões» dos judeus no período Romano, a primeira por Tito e a segunda por Adriano, que teriam sido o motor da grande diáspora, são tema de uma reflexão aprofundada pelo historiador israelense.
Os jovens judeus aprendem nas escolas que «a nação judaica» foi exilada pelos Romanos apos a destruição do II Templo por Tito em 70, e posteriormente, por Adriano, em 132. Por si só o texto fantasista de Flavius Joseph, testemunha da revolta dos zelotas, retira credibilidade a essa versão, hoje oficial.
Segundo ele, os romanos massacraram então 1 100 000 judeus e prenderam 97 000.Isso numa época em que a população total da Galileia era segundo os demógrafos atuais muito inferior a meio milhão…
As escavações arqueológicas das últimas décadas em Jerusalém e na Cisjordânia criaram aliás problemas insuperáveis aos universitários e teólogos sionistas que «explicam» a história do povo judeu tomando a Torah e a palavra dos Patriarcas como referências infalíveis.
Os desmentidos da arqueologia perturbaram os historiadores. Ficou provado que Jericó era pouco mais do que uma aldeia sem as poderosas muralhas que a Bíblia cita. As revelações sobre as cidades de Canaã alarmaram também os rabinos. A arqueologia moderna sepultou o discurso da antropologia social religiosa.
Em Jerusalém não foram encontrados sequer vestígios das grandiosas construções que segundo o Livro a transformaram no seculo X, a época dourada de David e Salomão, na cidade monumental do «povo de Deus» que deslumbrava quantos a conheceram. Nem palácios nem muralhas, nem cerâmica de qualidade.
O desenvolvimento da tecnologia do carbono 14 permitiu uma conclusão. Os grandes edifícios da região Norte não foram construídos na época de Salomão, mas no período do reino de Israel.
«Não existe na realidade nenhum vestígio - escreve Shlomo Sand - da existência desse rei lendário cuja riqueza é descrita pela Bíblia em termos que fazem dele quase o equivalente dos poderosos reis da Babilonia e da Pérsia». «Se uma entidade política existiu na Judeia do seculo X antes da Nossa Era, acrescenta o historiador, somente poderia ser uma microrealeza tribal e Jerusalém apenas uma pequena cidade fortificada».
É também significativo que nenhum documento egípcio refira a «conquista» pelos judeus de Canaã, território que então pertencia ao faraó.

O SILENCIO SOBRE AS CONVERSÕES

A historiografia oficial israelense, ao erigir em dogma a pureza da raça, atribui a sucessivas diásporas a formação das comunidades judaicas em dezenas de países.
A Declaração de Independência de Israel afirma que, obrigados ao exilio, os judeus esforçaram-se ao longo dos seculos por regressar ao país dos seus antepassados,
Trata-se de uma mentira que falsifica grosseiramente a História.
A grande diáspora é ficcional, como as demais. Apos a destruição de Jerusalém e a construção de Aelia Capitolina somente uma pequena minoria da população foi expulsa. A esmagadora maioria permaneceu no país.
Qual a origem então dos antepassados de uns 12 milhões de judeus hoje existentes fora de Israel?
Na resposta a essa pergunta, o livro de Shlomo Sand destrói simultaneamente o mito da pureza da raça, isto é da etnicidade judaica.
Uma abundante documentação reunida por historiadores de prestígio mundial revela que nos primeiros séculos na Nossa Era houve maciças conversões ao judaísmo na Europa, na Asia e na Africa.
Três delas foram particularmente importantes e incomodam os teólogos israelenses.
O Alcorão esclarece que Maomé encontrou em Medina, na fuga de Meca, grandes tribos judaicas com as quais entrou em conflito, acabando por expulsá-las. Mas não esclarece que no extremo Sul da Península Arábica, no atual Iémen, o reino de Hymar adotou o judaísmo como religião oficial. Cabe dizer que chegou para ficar. No seculo VII o Islão implantou-se na região, mas, transcorridos treze seculos, quando se formou o Estado de Israel, dezenas de milhares de iemenitas falavam o árabe, mas continuavam a professar a religião judaica. A maioria emigrou para Israel onde, aliás, é discriminada.
No Imperio Romano, o judaísmo também criou raízes, mesmo na Itália. O tema mereceu a atenção do historiador Díon Cassius e do poeta Juvenal.
Na Cirenaica, a revolta dos judeus da cidade de Cirene exigiu a mobilização de várias legiões para a combater.
Mas foi sobretudo no extremo ocidental da África que houve conversões em massa à religião rabínica. Uma parcela ponderável das populações berberes aderiu ao judaísmo e a elas se deve a sua introdução no Al Andalus.
Foram esses magrebinos que difundiram na Península o judaísmo, os pioneiros dos sefarditas que, apos a expulsão de Espanha e Portugal, se exilaram em diferentes países europeus, na Africa muçulmana e na Turquia.
Mais importante pelas suas consequências foi a conversão ao judaísmo dos Khazars, um povo nómada turcófono, aparentado com os hunos, que, vindo do Altai, se fixou no seculo IV nas estepes do baixo Volga.
Os Khazars, que toleravam bem o cristianismo, construíram um poderoso estado judaico, aliado de Bizâncio nas lutas do Império Romano do Oriente contra os Persas Sassânidas.
Esse esquecido império medieval ocupava uma área enorme, do Volga à Crimeia e do Don ao atual Uzbequistão. Desapareceu da Historia no seculo XIII quando os Mongóis invadiram a Europa, destruindo tudo por onde passavam. Milhares de Khazars, fugindo das Hordas de Batu Khan, dispersaram-se pela Europa Oriental. A sua principal herança cultural foi inesperada. Grandes historiadores medievalistas como Renan e Marc Bloch identificam nos Kahzars os antepassados dos asquenazes cujas comunidades na Polonia, na Rússia e na Roménia viriam a desempenhar um papel fulcral na colonização judaica da Palestina.

UM ESTADO NEOFASCISTA

Segundo Nathan Birbaum,o intelectual judeu que inventou em 1891 o conceito de sionismo, é a biologia e não a língua e a cultura quem explica a formação das nações. Para ele, a raça é tudo. E o povo judeu teria sido quase o único a preservar a pureza do sangue através de milénios. Morreu sem compreender que essa tese racista, a prevalecer, apagaria o mito do povo sagrado eleito por Deus.
Porque os judeus são um povo filho de uma cadeia de mestiçagens. O que lhes confere uma identidade própria é uma cultura e a fidelidade a uma tradição religiosa enraizada na falsificação da Historia.
Nos passaportes do Estado Judaico de Israel não é aceite a na
cionalidade israelense. Os cidadãos de pleno direito escrevem «judeu». Os palestinos devem escrever «árabe», nacionalidade inexistente.
Ser cristão, budista, mazdeísta, muçulmano, ou hindu resulta de uma opção religiosa, não é nacionalidade. O judaísmo também não é uma nacionalidade.
Em Israel não há casamento civil. Para os judeus, é obrigatório o casamento religioso, mesmo que sejam ateus.
Essa aberração é inseparável de muitas outras num Estado confessional, etnocracia liberal construída sobre mitos, um Estado que trocou o yiddish, falado pelos pioneiros do «regresso a Terra Santa», pelo sagrado hebraico dos rabinos, desconhecido do povo da Judeia que se expressava em aramaico, a língua em que a Bíblia foi redigida na Babilónia e não em Jerusalém.
O «Estado do Povo Judeu» assume-se como democrático. Mas a realidade nega a lei fundamental aprovada pelo Knesset. Não pode ser democrático um Estado que trata como párias de novo tipo 20 % da população do país, um Estado nascido de monstruoso genocídio em terra alheia, um Estado cuja prática apresenta matizes neofascistas.
O livro de Shlalom Sand sobre a invenção do Povo Judeu é, além de um lúcido ensaio histórico, um ato de coragem. Aconselho a sua leitura a todos aqueles para quem o traçado da fronteira da opção de esquerda passa hoje pela solidariedade com o povo mártir da Palestina e a condenação do sionismo.
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Vila Nova de Gaia, 31 de Dezembro de 2012~
*Shlomo Sand, «Comment fut inventé le peuple juif» Flammarion, Paris 2010

domingo, 30 de dezembro de 2012

A extinta União Soviética completa 90 anos. Tal país, qual arte?


Nicolau II em 1898: um país de grande literatura, mas em convulsão

Milton Ribeiro no SUL21

A ensaísta Flora Süssekind, num livro sobre literatura brasileira, criou o belo título Tal Brasil, qual romance? É com este espírito — apenas com o espírito, pois nossa pobre capacidade nos afasta inexoravelmente de Flora — que pautamos para este domingo o que representou (ou pesou) a União Soviética em termos culturais. Sua origem, a Rússia czarista, foi um estado que mudou o mundo não apenas por ter se tornado o primeiro país socialista do planeta, mas por ter sido o berço de uma das maiores literaturas de todos os tempos. Quem lê a literatura russa do século XIX, não imagina que aqueles imensos autores — Dostoiévski, Tolstói, Tchékhov, Turguênev, Leskov e outros — viviam numa sociedade com resquícios de feudalismo. Através de seus escritos, nota-se claramente a pobreza e a base puramente agrária do país, mas há poucas referências ao czar, monarca absolutista que não admitia oposição e que tinha a seu serviço uma eficiente censura. Na verdade, falar pouco no czar era uma atitude que revelava a dignidade daqueles autores.
No início do século XX, Nicolau II, o último czar da dinastia Romanov, facilitou a entrada de capitais estrangeiros para promover a industrialização do país, o que já ocorrera em outros países da Europa. Os investimentos para a criação de uma indústria russa ficaram concentrados nos principais centros urbanos, como Moscou, São Petersburgo, Odessa e Kiev. Nessas cidades, formou-se um operariado de aproximadamente 3 milhões de pessoas, que recebiam salários miseráveis e eram submetidos a jornadas de até 16 horas diárias de trabalho, sem receber alimentação e trabalhando em locais imundos. Ali, havia um ambiente propício às revoltas e ao caos social, situação que antecedeu o nascimento da União Soviética, país formado há 90 anos atrás, em 30 de dezembro de 1922.
Os trabalhadores foram recebidos pela artilharia, sem diálogo

Primeiro, houve a revolta de 1905. No dia 9 de janeiro daquele ano, um domingo, tropas czaristas massacraram um grupo de trabalhadores que viera fazer um protesto pacífico e desarmado em frente ao Palácio de Inverno do czar, em São Petersburgo. O protesto, marcado para depois da missa e com a presença de muitas crianças, tinha a intenção de entregar uma petição — sim, um papel — ao soberano, solicitando coisas como redução do horário de trabalho para oito horas diárias, assistência médica, melhor tratamento, liberdade de religião, etc. A resposta foi dada pela artilharia, que matou mais de cem trabalhadores e feriu outros trezentos. Lênin diria que aquele dia, também conhecido como Domingo Sangrento, foi o primeiro ensaio para a Revolução. O fato detonou uma série de revoltas internas, envolvendo operários, camponeses, marinheiros (como a revolta no Encouraçado Potemkin) e soldados do exército.
Se internamente havia problemas, também vinham péssimas notícias do exterior. A Guerra Russo-Japonesa fora um fiasco militar para a Rússia, que foi obrigada a abrir mão, em 1905, de suas pretensões sobre a Manchúria e na península de Liaodong. Pouco tempo depois, já sofrendo grande oposição interna, a Rússia envolveu-se em um outro grande conflito, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), onde também sofreu pesadas derrotas em combates contra os alemães. A nova Guerra provocou enorme crise no abastecimento das cidades, desencadeando uma série de greves, revoltas populares e fome de boa parte da população. Incapaz de conter a onda de insatisfações, o regime czarista mostrava-se intensamente debilitado até que, em 1917, o conjunto de forças políticas de oposição (liberais e socialistas) depuseram o czar Nicolau II, dando início à Revolução Russa.
Lênin trabalhando no Kremlin, em 1918

A revolução teve duas fases: (1) a Revolução de Fevereiro, que derrubou a autocracia do czar Nicolau II e procurou estabelecer em seu lugar uma república de cunho liberal e (2) a Revolução de Outubro, na qual o Partido Bolchevique derrubou o governo provisório. A Revolução Bolchevique começou com um golpe de estado liderado por Vladimir Lênin e foi a primeira revolução comunista marxista do século XX. A Revolução de Outubro foi seguida pela Guerra Civil Russa (1918-1922) e pela criação da URSS em 1922. A Guerra Civil teve como único vencedor o Exército Vermelho (bolchevique) e foi sob sua liderança que foi criado o Estado Soviético. Lênin tornou-se, assim, o homem forte da Rússia, acompanhado por Trotsky e Stálin. Seu governo foi marcado pela tentativa de superar a crise econômica e social que se abatia sobre a nação, realizando reformas de caráter sócio-econômico. Contra a adoção do socialismo na Rússia ergueu-se uma violenta reação apoiada pelo mundo capitalista, opondo o Exército Vermelho aos russos brancos (liberais).
Canibais com suas vítimas, na província de Samara, em 1921.

O país que emergiu da Guerra Civil estava em frangalhos. Para piorar, em 1921, ocorreu a Grande Fome Russa que matou aproximadamente 5 milhões de pessoas. A fome resultou do efeito conjugado da interrupção da produção agrícola, que já começara durante a Primeira Guerra Mundial, e continuou com os distúrbios da Revolução Russa de 1917 e a Guerra Civil. Para completar, houve uma grande seca em 1921, o que agravou a situação para a de uma catástrofe nacional. A fome era tão severa que a população comia as sementes em vez de plantá-las. Muitos recorreram às ervas e até ao canibalismo, tentando guardar sementes para o plantio. (Não terá saído daí a fama dos comunistas serem comedores de criancinhas? Num documentário da BBC sobre o século XX, uma mulher, ao lembrar-se da fome, conta que sua mãe tentou morder sua filha pequena e que ela precisou trancar a mãe e fugir da casa. Bem, continuemos).
Vitorioso, Lênin criou o NEP, um plano econômico que visava reerguer a produtividade nacional e normalizar a economia. Em 1922, diversas repúblicas asiáticas e europeias agregaram-se à Rússia, originando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Mortos de fome no Volga

Não era, evidentemente, o ambiente ideal para a criação de um estado democrático aos moldes da eterna receita dos EUA. O país vinha de uma guerra civil, tinha oposição interna e externa, havia outros regimes fortes quilômetros depois das fronteiras, um histórico recente de conflitos, grande parte da população era saudosa de seu paizinho (o czar) e, fundamental e principalmente, não tinha nenhuma tradição democrática. Aliás, não tem até hoje, mesmo sob o governo eleito de Putin.
Depois desta época, a história é mais conhecida. Lênin morreu em 1924 e seu lugar foi ocupado por Stálin de 1927 a 1953. Com mão de ferro e utilizando-se dos gulags e de expurgos a fim de aniquilar seus opositores dentro e fora do Partido Comunista, Stálin fez avançar o país na direção da industrialização e do desenvolvimento. Antes dos anos 30, os artistas russos que não eram contra-revolucionários gozaram de relativa liberdade. Apesar dos frequentes embates com a burocracia, Vladimir Maiakovskie seu futurismo deram digna sequência à tradição russa. Maiakovski suicidou-se em 1930, mas o fato não parece ter relação coma política ou a censura. Desta forma, ele não conheceu Jdanov.
Maiakovski é autor de versos como “Come ananás / mastiga perdiz / teu dia está próximo, burguês”.

Nos anos 30, os artistas e escritores russos depararam-se com um gênero de censura inteiramente diferente do que era conhecido até ali. Stálin, apesar da imagem que foi criada no Ocidente, era um fino apreciador da música erudita e muitas vezes dava palpites estéticos diretamente a compositores como Shostakovich, Prokofiev e Khachaturian.
Em seu governo surgiu Andrei Jdanov, que tornou-se dirigente do PCUS em 1934 após o expurgo (assassinato) de Kírov. Jdanov foi o criador do Realismo Socialista nas artes. Na verdade, o Realismo Socialista tinha parâmetros políticos e estéticos inapreensíveis. Seus critérios eram metade artísticos, metade geopolíticos. A definição do Realismo Socialista era algo apenas claro na arquitetura. O restante escapava aos autores do país, que tinham sempre dificuldades de se adequarem a ele.
Soldados hasteiam a bandeira soviética sobre o Reichstag: esta é a célebre fotografia de Yevgeny Khaldei, tirada em 2 de maio de 1945. A foto mostra soldados soviéticos que levantam a bandeira da União Soviética sobre o prédio do Reichstag alemão após a Batalha de Berlim.

Aparentemente, o jdanovismo começou com a ópera de Shostakovich Lady Macbeth de Mtsensk, baseada numa novela de Leskov. Stálin, sempre criativo com as palavras, qualificou-a de pornofonia, e então os artistas descobriram que sexo era algo a evitar. As regras do que seria ou não censurado dependiam muito da circunstância política e das posturas de cada artista. Nem a estrondosa e heroica vitória na Segunda Guerra Mundial afrouxou a censura.
Jdanov: um censor sem manual de uso

Serguei Eisenstein foi o cineasta que criou obras-primas como A Greve, O Encouraçado Potemkin, Que Viva México! (inacabado) e Aleksandr Nevski. Assim como o jovem Shostakovich, era um dos meninos de ouro do PCUS. Porém, após o extraordinário sucesso do Potemkin, o cineasta foi contratado pela MGM norte-americana. Quando voltou, o partido e a imprensa não perdoaram sua aventura capitalista. Sinal de que não se podia viajar para produzir fora da URSS.
Viajante e cosmopolita era Igor Stravinsky, que já estava na França desde os anos 10. Ele apenas voltou ao país para curtas visitas, sabedor dos problemas que teria para produzir na URSS. Quem retirou-se do país em 1919 para nunca mais voltar foi Vladimir Nabokov, escritor nascido no seio de uma família da antiga aristocracia. Mais fiel às origens foi Serguei Prokofiev, nascido em 1891. Em 1918, vendo que o ambiente não era o melhor para um compositor experimental, foi morar nos EUA. Poucos anos depois, passou à Suíça e finalizou sua aproximação da URSS em 1935. Em quase parceria com Eisenstein, fez Alexandr Nevski, filme que talvez seja um dos mais felizes casamentos entre imagem e música. Morreu em 1953.
Bulgákov: impedido de sair, mas recebendo telefonemas do chefe

O escritor Mikhail Bulgákov sofreu muito mais. Adversário do regime, chegou a alistar-se no Exército Branco. Finalizada a Guerra Civil, Stálin proibiu-o de emigrar ou de visitar seus irmãos em Paris. Bulgákov nunca apoiou o regime e o ridicularizou em seus trabalhos. Por essa razão, muitos deles ficaram inéditos por décadas. Em 1930, escreve uma carta a Stálin pedindo permissão para emigrar, já que a União Soviética lhe oferecia oportunidades. Como resposta, recebeu uma ligação do próprio Stálin, negando seu pedido e oferecendo-lhe trabalho no teatro. Stálin não costumava mandar recados. A obra-prima de Bulgákov, o monumental romance O Mestre e Margarida, escrito entre 1928 e 1940, foi publicado pela primeira vez apenas em 1966.
Shostakovich: sua biografia já resultou e ainda resultará em muitos livros

O imenso compositor Dmitri Shostakovich (1906-1975) sofreu ainda mais. Como qualquer autor de obras sinfônicas, dependia de orquestras e teatros; ou seja, do estado. Sua vida foi infernal: herói do regime e compositor nacional até 1934, caiu em desgraça pela citada ópera baseada em Leskov. Foi recuperado durante a Segunda Guerra Mundial para cair novamente em desgraça após Stálin dar-se conta — com toda a razão — de que sua Nona Sinfonia e outras composições eram notáveis e imortais peças do mais puro sarcasmo… ao stalinismo. Shostakovich considerava-se um sincero comunista e, mesmo quando não se tratava de encomendas, produzia peças em homenagem à Revolução Russa. Apesar de genial, nunca entendeu os critérios do Realismo Socialista.
Sob a vaga acusação de “excessivo subjetivismo”, o poeta e romancista Boris Pasternak passou a ter dificuldades em publicar seus livros nos anos 30. Sua situação é curiosa: na Rússia, é mais conhecido como poeta do que romancista, em virtude de o livro Doutor Jivagoter sido censurado na antiga União Soviética. O personagem principal do romance é, justamente, um poeta que tem problemas com as autoridades soviéticas, embora simpatizante da causa. Em 1958, Pasternak recebeu o Nobel de Literatura, mas não foi autorizado a recebê-lo.
O duplo equívoco Soljenítsin: de dissidente admirado no Ocidente a antissemita nos EUA

Alexander Soljenítsin foi um ferrenho adversário do PCUS. Seus livros foram absolutamente proibidos, mas circulavam através do samizdat. O samizdatera uma ação coletiva na qual indivíduos e grupos de pessoas copiavam e distribuíam clandestinamente livros e outros bens culturais proibidos pelo governo. Soljenítsin escreveu extensa obra, toda ela antissoviética e de pouco valor artístico. Quando foi expulso do país, em 1974, soube-se de suas ideias políticas, que propunham um estado religioso. O golpe fatal em sua obra veio de quem mais o apoiara quando estava na URSS, os EUA: ao escrever sobre o absoluto protagonismo dos judeus russos no Partido Comunista e na polícia secreta soviética, foi tachado de antissemita e desmoralizado no exílio. Morreu em Moscou.
Tarkovski: todos os filmes que realizou na União Soviética tiveram rígido controle da censura

Desde seu primeiro longa metragem — o estupendo Andrei Rublev — , o cineasta Andrei Tarkovski teve problemas com a burocracia. O filme, de 1966, foi apresentado no Festival de Cannes de 1969, fora de competição, e teve sua estreia na União Soviética somente em 1971, com cortes. Todos os seus trabalhos subsequentes, apesar de respeitadíssimos, foram prejudicados pela censura. Profundamente ressentido com o controle exercido sobre o seu trabalho, Tarkovski decidiu sair da URSS em 1983. Além de seus filmes sempre excelentes, Tarkovski deixou-nos o livro Esculpir o Tempo, obra essencial a todos os amantes do cinema.
Ainda temos outros grandes autores que comprovam a continuidade da tradição russa mesmo sob a censura. O que dizer da poetisa Anna Akhmátova e de escritores como Isaac Babel e Máximo Gorki, que tornaram-se inimigos pelo fato do primeiro combater e o segundo apoiar o governo da URSS? Melhor finalizar mostrando que, na atual Rússia de Putin, pouco mudou, como mostra o irônico e triste filme russo Minha felicidade. Mais provas? O fato da classe artística russa ter silenciado sobre a decretação de prisão do grupo feminino Pussy Riot. Não gostavam das meninas? Não, nada disso, é que as maiores estrelas do país tentam não se desentender com o presidente Vladimir Putin para não pôr em risco sua principal fonte de renda: os shows particulares para os super-ricos, que pagam muito bem. Ou seja, a censura tem várias formas: aqui, por exemplo, temos a censura ao Pussy Riot e a autocensura dos colegas.
As Pussy Riot: prisão por dois anos após protestarem contra Putin e a Igreja