quarta-feira, 13 de março de 2013


“Pastor das trevas” e direitos humanos

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br
Por Altamiro Borges

Milhares de pessoas participaram ontem (9) de uma passeata em São Paulo – da Avenida Paulista até a Praça Roosevelt – em protesto contra a indicação de Marco Feliciano (PSC-SP) para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara Federal. A rejeição ao deputado – que já foi batizado nas redes sociais de “pastor das trevas” – saiu da internet para ganhar as ruas. De acordo com a Polícia Militar, o ato reuniu “entre 800 e 1.200 pessoas”. Já para os organizadores, ele contou com milhares de ativistas.

Segundo Igor Carvalho, da revista Fórum, “aos gritos de ‘racista, ladrão, cadê a solução’ e ‘se até o papa renunciou, Feliciano, sua hora já chegou’, representantes de diversos movimentos sociais, com forte predominância dos ativistas da causa LGBT, chegaram a deitar nas quatro faixas da Rua Consolação, parando o trânsito... ‘Somos, aqui, com certeza umas 20 mil pessoas protestando contra essa vergonha nacional, contra essa anomalia que é a eleição de Marcos Feliciano’, disse Daniel de Ogum, um dos organizadores”.

“Fatos novos” podem reverter a eleição

Também ocorreram protestos no Rio de Janeiro e Brasília. Pelas redes sociais, que coletaram 70 mil assinaturas numa petição contra a eleição do deputado/pastor em apenas um dia, novos atos estão sendo agendados para os próximos dias. Diante da forte resistência, até o presidente da Câmara Federal, deputado Henrique Eduardo Alves, já admitiu a hipótese de reverter a decisão, caso surjam “fatos novos... A Câmara poderá avaliar a situação da comissão, mas respeitando o direito de cada parlamentar e de cada partido”, afirmou.

O próprio Marco Feliciano já sentiu o baque da rejeição. Em entrevista hoje à Folha, ele tentou posar de vítima e anunciou que pedirá proteção policial. “A situação está tomando dimensões muito estranhas. É assustador, estou me sentindo perseguido como aquela cubana lá. Como é o nome? A Yoani Sánchez”, choramingou. Mesmo assim, ele garantiu que não renunciará ao cargo. “Não estou preocupado” com os protestos. Maroto, ele ainda jogou a culpa por sua eleição no PT, que abriu mão da presidência do CDHM.

Eleição tumultuada e STF

Marco Feliciano foi eleito presidente da CDHM na quinta-feira (7). Ele teve 11 votos dos 18 possíveis – um deputado votou em branco e outros seis abandonaram a sessão. A votação foi feita às portas fechadas, mas houve protestos de um grupo de ativistas a sua escolha. Quem saiu em sua defesa foi o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que na semana anterior ciceroneou a dissidente cubana Yoani Sánchez. Aos berros, ele extravasou seus instintos fascistas, chamando os manifestantes de “baderneiros” e gritando “vão para o zoológico”.

O pastor só chegou ao cargo devido ao rodízio entre os partidos nas várias comissões existentes na Câmara. O Partido Social Cristão bancou a provocação ao indicá-lo e agora é alvo de uma enxurrada de críticas. Diante da manobra do PSC e de uma parte da bancada evangélica, o deputado Domingos Dutra (PT-MA), que presidia a comissão, abandonou a reunião, juntamente com as parlamentares do PT, PSOL e PSB. O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) já anunciou que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a eleição.

Racista, homofóbico e direitista

A eleição de Marco Feliciano para presidir a CDHM é uma verdadeira aberração. O deputado é conhecido por suas posições racistas e homofóbicas. Pela sua conta na twitter, ele já escreveu que “os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé” e que “a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, à rejeição”. Ele chegou a afirmar que a ex-senadora Marta Suplicy e a deputada Érica Kokay, defensoras do projeto de lei que criminaliza a homofobia, “são mulheres com sexualidade distorcida".

O pastor também é alvo de um processo por estelionato. Num culto gravado em vídeo, ele reclamou de um fiel que entregou o cartão do banco, mas não revelou a senha. Sua visão preconceituosa explica o apoio dado a José Serra nas eleições do ano passado. “Serra merece mais que respeito, merece admiração. É um guerreiro”, escreveu no twitter. Para ele, o tucano seria o único capaz de derrotar “a militância dos gays, a militância do povo que luta pelo aborto, a militância dos que querem descriminalizar as drogas”.

Um pacto nefasto: ruralistas e evangélicos rifando o meio ambiente e os direitos humanos



(Este texto vai ter exatamente o tamanho de 8% de bateria do notebook por conta da falta de energia elétrica que se abateu, novamente, sobre o meu bairro após a chuva da noite deste sábado.)

Com exceção dos fanáticos religiosos que enxergam sinais da primeira ou da segunda vinda do messias (dependendo se a religião em questão não permite comer X-Burguer ou abraça o consumismo para celebrar o nascimento do seu deus), apenas os mais míopes não percebem que o planeta está dando o troco.
Eu sei que já falei disso aqui antes, mas em tempos de fundamentalismo cristão no Congresso Nacional e de chuvas torrenciais na cidade de São Paulo, o assunto segue novo.
Não estou falando apenas do aquecimento global e das já irreversíveis mudanças climáticas através dos quais ajustamos o termostato do planeta para a posição “Gratinar os Idiotas Lentamente”, mas também dos crimes ambientais que fomos acumulando debaixo do tapete e que, agora, tornaram-se uma montanha pronta a nos soterrar. No campo e nas cidades.
Muitos falam de tragédias como se fossem situações desconectadas da ação humana, resultados da fúria divina e só. Não foi Deus quem colocou Marco Feliciano onde está, ao contrário do que parte de seus fieis acredita. Ele não foi ungido pelo divino, mas sim por milhares de votos paulistas, conscientes ou não.
Da mesma forma, um prefeito de uma cidade atingida pelas chuvas, anos atrás, disse que só restava a ele rezar para Deus controlar as águas. Bem-feito para a população que votou nele e viu o administrador do município “terceirizando” o trabalho para o plano superior, provavelmente dando continuidade ao que foi feito pelos que vieram antes dele.
A declaração é da mesma escola daquela de um assessor de George W. Bush quando questionado se a herança deixada às próximas gerações pelos gases causadores do efeito estufa da indústria norte-americana não poderia ser nefasta. Não me lembro da frase exata, porque lá se vão anos, mas foi algo do tipo: “não será um problema, porque Cristo voltará antes disso”. Salve, aleluia, salve!
Não é à toa que uma das mais estranhas e, ao mesmo tempo, mais brilhantes alianças políticas no parlamento brasileiro seja entre a bancada evangélica e a bancada ruralista. De um lado, os fieis ajudam a garantir a manutenção de um desenvolvimento a qualquer preço, passando por cima do meio ambiente, como se não houvesse amanhã. Do outro, os fazendeiros contribuem para que os direitos humanos sejam rasgados diante de uma visão distorcida de religião, garantindo que não haja mesmo um amanhã.
Tendo em vista todo esse negacionismo maluco, um renomado cientista declarou, pouco antes de uma das cúpulas do clima, que era melhor então deixar os fatos tomarem seu curso natural, o mundo aquecer, refugiados ambientais quadruplicarem, cidades nos países ricos serem invadidas pelo mar, a fome surgir no centro do mundo, guerras ambientais ocorrerem. Só assim pessoas e países tomariam atitudes reais. Situação que, no Brasil, é vulgarmente conhecida como “a hora em que a água bate na bunda”.
O problema é que, se nada for feito até lá, quando chegarmos nesse ponto, talvez não haja mais bunda para salvar.
É irônico que, de certa forma, o desespero diante do caos ambiental (fomentado pelos ruralistas ao derrubarem o Código Florestal), daqui a algumas décadas, irá contribuir para trazer mais fieis a igrejas. Pois só restará lamentar. Ou rezar.
Enquanto isso, a maioria segue escondida no conforto do anonimato, defendendo o seu, fazendo meia dúzia de ações insignificantes para dormir sem o peso da consciência e o resto que se dane. Não querem mudanças no modelo de desenvolvimento que impactaria o “American Way of Life” que importamos, apenas reciclar latinhas de alumínio e dar três descargas a menos no vaso sanitário por dia. Da mesma forma, não se importam com quem for eleito, desde que isso não atrapalhe o seu final de semana na praia. Afinal de contas, não precisam de um Estado que lhes garanta um mínimo de dignidade, uma vez que nasceram brancos, heterossexuais, ricos, enfim, o que convencionamos chamar de “cidadãos de bem”.
E seguem respondendo de boca cheia que fariam de tudo para ajudar o meio ambiente e defender a liberdades das pessoas.

terça-feira, 12 de março de 2013

Será o fim do papado????


Jesus barrado no conclave dos Cardeais

Por Leonardo Boff, em seu blog:

Cardeais da Igreja Católica vieram de todas as partes do mundo, cada qual carregando as angústicas e as esperanças de seus povos, alguns martirizados pela Aids e outros atormentados pela fome e pela guerra. Mas todos mostravam certo constrangimento e até vergonha pois vieram à luz os escândalos, alguns até criminosos, ocorridos em muitas dioceses do mundo, com os padres pedófilos; outros implicados na lavagem de dinheiro de mafiosos e super-ricos italianos que para escapar dos duros ajustes financeiros do governo italiano, usavam o bom nome do Banco Vaticano para enviar milhões de Euros para a Alemanha e para os USA. E havia ainda escândalos sexuais no interior da Cúria bem como intrigas internas e disputas de poder.

Face à gravidade da situação, o Papa reinante sentiu que lhe faltavam forças para enfrentar tão pesada crise e constatando o colapso de sua própria teologia e o fracasso do modelo de Igreja, distanciado do Vaticano II, que, sem sucesso, tentou implementar na cristandade, acabou honestamente renunciando. Não era covardia de um pastor que abandona o rebanho mas a coragem de deixar o lugar para alguém mais apropriado para sanar o corpo ferido da Igreja-instituição.

Finalmente chegaram todos os Cardeais, alguns retardatários, à sede de São Pedro para elegerem um novo Papa. Fizeram várias reuniões prévias para ver como enfrentariam este fato inusitado da renúncia de um Papa e o que fariam com o volumoso relatório do estado degenerado da administração central da Igreja. Mas em fim decidiram que não podiam esperar mais e que em poucos dias deveriam realizar o Conclave.

Juntos rezaram e discutiram o estado da Terra e da Igreja, especialmente a crise moral e financeira que a todos preocupava e até escandalizava. Consideraram, à luz do Espírito de Deus, qual deles seria o mais apto para cumprir a dificil missão de “confirmar os irmãos e as irmãs na fé”, mandato que o Senhor conferira a Pedro e a seus sucessores e recuperar a moralidade perdida da instituição eclesiástica.

Enquanto lá estavam, fechados e isolados do mundo, eis que apareceu um senhor que pelo modo de vestir e pela cor de sua pele parecia ser um semita. Veio à porta da Capela Sistina e disse a um dos Cardeais retardatários: ”posso entrar com o Senhor, pois todos os Cardeais são meus representantes e preciso urgentemente falar com eles”.

O Cardeal, pensando tratar-se de um louco, fez um gesto de irritação e disse-lhe benevolamente: “resolva seu problema com a guarda suiça”. E bateu a porta. Então, este estranho senhor, calmamente se dirigiu ao guarda suiço e lhe disse:”posso entrar para falar com os Cardeais, meus representantes”?

O guarda o olhou de cima para baixo e não acreditando no que ouvira, pediu, perplexo, que repetisse o que dissera. E ele o fez. O guarda com certo desdém lhe disse: “aqui entram somente cardeais e ninguém mais”.

Mas esta figura enigmática insistiu: “eu até falei com um dos Cardeais e todos eles são meus representantes, por isso, me permito de estar com eles”.

O guarda, com razão, pensou estar diante de um paranóico destes que se apresentam como Cesar ou Napoleão. Chamou o chefe da guarda que tudo ouvira. Este o agarrou pelos ombros e lhe disse com voz alterada: ”Aqui não é um hospital psiquiátrico. Só um louco imagina que os Cardeais são seus representantes”.

Mandou que o entregassem ao chefe de polícia de Roma. Lá, no prédio central, repetiu o mesmo pedido: “preciso falar urgentemente com meus representantes, os Cardeais”. O chefe de polícia nem se deu ao trabalho de ouvir direito. Com um simples gesto determinou que fosse retirado. Dois fortes policiais o jogaram numa cela escura.

De lá de dentro continuava a gritar. Como ninguém o fizesse calar, deram-lhe murros na boca e muitos socos. Mas ele, sangrando, continuava a gritar:”preciso falar com meus representantes, os Cardeais”. Até que irrompeu cela adentro um soldado enorme que começou a golpeá-lo sem parar até que caisse desmaiado. Depois amarrou-lhe os braços com um pano e o dependurou em dois suportes que havia na parede. Parecia um crucificado. E não se ouviu mais gritar:”preciso falar com meus representantes, os Cardeais”.

Ocorre que este misterioso personagem não era cardeal, nem patriarca, nem metropolita, nem arcebispo, nem bispo, nem padre, nem batizado, nem cristão, nem católico. Era um simples homem, um judeu da Galiléia. Tinha uma mensagem que poderia salvar a Igreja e toda a humanidade. Mas ninguém quis ouvi-lo. Seu nome é Jeshua.

Qualquer semelhança com Jesus de Nazaré, de quem os Cardeais se dizem representantes, não é mera coincidência mas a pura verdade.

“Veio para os seus, e os seus não o receberam” observou mais tarde e tristemente um seu evangelista.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Os intolerantes evangélicos deveriam ser banidos da política brasileira...

“Ninguém ganha de nós no grito”, diz pastor do PSC sobre CDHM

Da Redação do SUL21
Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) foi repudiado na primeira sessão de votação nesta quarta-feira (06)./ Foto: Alexandra Martins / Câmara Federal

Em entrevista ao jornal O Globo, o principal articulador da eleição de Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, o presidente executivo do PSC, pastor Everaldo Dias Pereira disse que a disputa foi “para ganhar ou perder”. Alegando que o espaço foi uma das opções dadas pela base aliada do governo Dilma, o pastor afirmou que os protestos populares não vão mudar a decisão da eleição. “Ninguém ganha de nós no grito. Ele não vai abandonar em hipótese alguma”, falou.
Na opinião do presidente executivo do PSC, os protestos em contrariedade ao nome de Marco Feliciano são descabidos e carregados de intolerância. “Aquele protesto dos ativistas gays na comissão… Se fossem evangélicos, seríamos massacrados. Com todo o respeito, se quiséssemos, colocaríamos ali, fácil, duzentas, quinhentas mil pessoas para fazer barulho”, falou.
Sobre as acusações de homofobia e racismo contra Feliciano, ele reafirma “que o princípio cristão é que casamento se dá entre homem e mulher. Não abrimos mão disso. Se a pessoa quer ser homossexual, problema dela. É o livre-arbítrio. Mas respeitem o que pensamos”.

Governo concedeu a Comissão de Direitos Humanos ao PSC, afirma pastor

A presidência da Comissão de Direitos Humanos foi parar nas mãos do PSC, após votação secreta e não comunicada à Mesa Diretora, por desacordo com o PT, afirma o presidente do PSC, Everaldo Dias Pereira. “Essa comissão veio parar em nossas mãos porque não cumpriram acordo conosco. Era para continuarmos na presidência da Comissão de Fiscalização e Controle, como foi em 2011 e 2012. Não cumpriram e, no final, sobrou Direitos Humanos ou Comissão de Participação Legislativa. Escolhemos a primeira”, disse.
Apesar de conceder a CDHM ao PSC, o governo não estaria interessado no nome de Marco Feliciano e, segundo o pastor, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário teria manifestado isso ao líder do PSC, André Moura, por telefone. “Não conseguimos indicar um garçom sequer no governo. Somos da base aliada, mas nunca nos convidaram para o banquete”, falou.
Informações do O Globo

domingo, 10 de março de 2013

Decepcionados com a Igreja

Muitos são os cristãos abandonam o convívio das igrejas locais e decidem exercer sua religiosidade em modelos alternativos.
Por Mauricio Zágari - Créditos
A Igreja Evangélica brasileira está cansada. E é um cansaço que vem provocando mudanças fortes de paradigmas com relação aos modelos eclesiásticos tradicionais. Ele afeta milhões de pessoas que se cansaram de promessas que não se cumprem, práticas bizarras impostas de cima para baixo, estruturas hierárquicas que julgam imperfeitas ou do mau exemplo e do desamor de líderes ou outros membros de suas congregações. Dessa exaustão brotou um movimento que a cada dia se torna maior e mais visível: o de cristãos que abandonam o convívio das igrejas locais e decidem exercer sua religiosidade em modelos alternativos – ou, então, simplesmente rejeitam qualquer estrutura congregacional e passam a viver um relacionamento solitário com Deus. O termo ainda não existe no vernáculo, mas eles bem que poderiam ser chamados de desigrejados.
No cerne desse fenômeno está um sentimento-chave: decepção. Em geral, aqueles que abandonam os formatos tradicionais ou que se exilam da convivência eclesiástica tomam tal decisão movidos por um sentimento de decepção com algo ou alguém. Muitos se protegem atrás da segurança dos computadores, em relacionamentos virtuais com sacerdotes, conselheiros ou simples irmãos na fé que se tornam companheiros de jornada. Há ainda os que se decepcionam com o modelo institucional e o abandonam não por razões pessoais, mas ideológicas. Outros fogem de estruturas hierárquicas que promovam a submissão a autoridades e buscam relações descentralizadas, realizando cultos em casa ou em espaços alternativos.
A percepção de que as decepções estão no coração do problema levou o professor e pastor Paulo Romeiro a escrever Decepcionados com a graça (Mundo Cristão), livro onde avalia algumas causas desse êxodo. Embora tenha usado como objeto de estudo uma denominação específica – a Igreja Internacional da Graça de Deus –, a avaliação abrange um momento delicado de todo o segmento evangélico. Para ele, o epicentro está na forma de agir das igrejas, sobretudo as neopentecostais. “A linguagem dessas igrejas é dirigida pelo marketing, que sabe que cliente satisfeito volta. Por isso, muitas estão regendo suas práticas pelo mercado e buscam satisfazer o cliente”. Romeiro, que é docente de pós-graduação no Programa de Ciências da Religião da Universidade Mackenzie e pastor da Igreja Cristã da Trindade, em São Paulo, observa que essas igrejas não apresentam projetos de longo prazo. “Não se trata da morte, não se fala em escatologia; o negócio é aqui e agora, é o imediatismo”.  Segundo o estudioso, a membresia dessas comunidades é, em grande parte, formada por gente desesperada, que busca ajuda rápida para situações urgentes – uma doença, o desemprego, o filho drogado. “O problema é que essa busca gera uma multidão de desiludidos, pessoas que fizeram o sacrifício proposto pela igreja mas viram que nada do prometido lhes aconteceu.”
Se a mentalidade de clientela provocou um efeito colateral severo, a ética de mercado faz com que os fiéis passem a rejeitar vínculos fortes com uma única igreja local, como aponta tese acadêmica elaborada por Ricardo Bitun. Pastor da Igreja Manaim e doutor em sociologia, ele usa um termo para designar esse tipo de religioso: é o mochileiro da fé. “Percebemos pelas nossas pesquisas que muitas igrejas possuem um corpo de fiéis flutuantes. Eles estão sempre de passagem; são errantes, andam de um lugar para outro em busca das melhores opções”, explica. Essa multiplicação das ofertas religiosas teria provocado um esvaziamento do senso de pertencimento, com a formação de laços cada vez mais temporários e frágeis – ao contrário do que normalmente ocorria até um passado recente, quando era comum que as famílias permanecessem ligadas a uma instituição religiosa por gerações.
Para Bitun, a origem desse comportamento é a falta de um compromisso mútuo, tanto do fiel para com a denominação e seus credos quanto dessa denominação para com o fiel. O descompromisso nas relações, um traço de nosso tempo, impede que raízes de compromisso – não só com a igreja, mas também em relação a Deus – sejam firmadas. “Enquanto está numa determinada igreja, o indivíduo atua intensamente; porém, não tendo mais nada que lhes interesse ali, rapidamente se desloca para outra, sem qualquer constrangimento, em busca de uma nova aventura da fé”, constata.
Modelo desgastado – O desprestígio do modelo tradicional de igreja, aquele onde há uma liderança com legitimidade espiritual perante os membros, numa relação hierárquica, já não satisfaz uma parcela cada vez maior de crentes. “As decepções ocorrem tanto por causa de líderes quanto de outros crentes”, aponta o pastor Valdemar Figueiredo Filho, da Igreja Batista Central em Niterói (RJ). Para ele, um fator-chave que provoca a multiplicação dos desigrejados é a frustração em relação a práticas e doutrinas. “Nesses casos, geralmentequem se decepciona é quem se envolve muito, quem participa ativamente da vida em igreja”. Com formação sociológica, o religioso diz que o fenômeno não se restringe à esfera religiosa, já que todo tipo de tradição tem sido questionada pela sociedade. “Há uma tendência ampla de se confrontar as instituições de modo geral”, diz Valdemar, que é autor do livro Liturgia da espiritualidade popular evangélica (Publit).
O jovem Pércio Faria Rios, de 18 anos, parece sintetizar esse tipo de sentimento em sua fala. Criado numa igreja tradicional – ele é descendente de uma linhagem de crentes batistas –, Pércio hoje só freqüenta cultos esporadicamente. “Sinto-me muito melhor do lado de fora”, admite. “Estou cansado da igreja e da religião”. A exemplo da maioria das pessoas que pensam como ele, o rapaz não abriu mão da fé em Jesus – apenas não quer estar ligado ao que chama de “igreja com i minúsculo”, a institucional, que considera morta. “Reconheço o senhorio de Cristo sobre a minha vida e sou dependente da sua graça”, afirma. E qual seria a Igreja com i maiúsculo, em sua opinião? “O Corpo de Cristo, que continua viva, e bem viva, no coração de cada cristão.”
Boa parte dos desigrejados  encontra no território livre da internet o espaço ideal para exposição de seus pontos de vista. É o caso de uma mulher de 42 anos que vive em Cotia (SP) e assina suas mensagens e posts com o inusitado pseudônimo de Loba Muito Cruel. À reportagem de CRISTIANISMO HOJE, ela garante que é uma ovelha de Jesus, mas conta que durante muito tempo foi incompreendida e rejeitada pela igreja. “Desde os nove anos, estive dentro de uma denominação cheia de dogmas e regras rígidas, acusadora e extremamente castradora”. Na juventude, afastou-se do Evangelho, mas o pior, diz ela, veio depois. “Retornei ao convívio dos irmãos tatuada e cheia de vícios, e ao invés de ser acolhida, não senti receptividade alguma por parte da igreja, o que acabou me afastando mais ainda dela. Percebi o quanto os crentes discriminam as pessoas”, queixa-se.
Loba conta que, a partir dali, começou uma peregrinação por várias igrejas. Não sentiu-se bem em nenhuma. “Percebi que nenhum dos líderes vivia o que pregava. Isso foi um balde de água fria na minha fé”, relata. Hoje, ela prefere uma expressão de fé mais informal, e considera possível tanto a vida cristã como o engajamento no Reino de Deus fora da igreja – “Desde que haja comunhão com outros irmãos de fé, que se reúnam em oração e para compartilhar a Palavra, evangelizar e atuar na comunidade”, enumera.
Igreja virtual – Gente comoPércio e Loba compartilham algo em comum, além da busca por uma espiritualidade em moldes heterodoxos: são ativos no ambiente virtual, seja por meio de blogs ou através de ferramentas como o twitter e outras redes sociais. É cada vez maior a afluência de pessoas das mais diversas origens denominacionais à internet, em busca de comunhão, instrução e edificação. O pastor Leonardo Gonçalves lidera a Iglesia Bautista Misionera em Piura, no Peru. Mestre em teologia, edita o blog Púlpito cristão. “Quando comecei esse trabalho, passei a conhecer muitas pessoas que estavam insatisfeitas com os rumos que o evangelicalismo brasileiro estava tomando”, revela. “Neste processo, alguns começaram a ver o blog como uma alternativa à Igreja, ou até mesmo como uma igreja virtual”. Leonardo lida com esse tipo de público diariamente no blog. “Geralmente, são pessoas extremamente ressentidas. Consideram-se vítimas de líderes abusivos e autoritários e relatam que tiveram sua autonomia violada e a identidade quase banida em nome de uma mentalidade de rebanho que não refletia os ideais de Cristo.”
Outro que considera natural essa migração em busca de uma comunhão cristã que prescinde da igreja tradicional é o marqueteiro e teólogo presbiteriano Danilo Fernandes, editor do blog e da newsletter Genizah Virtual. Voltado à apologética, seu trabalho tem causado polêmicas e enfrentado resistências, inclusive de líderes eclesiásticos. “Pessoas cansadas de suas igrejas estão buscando pregadores com boas palavras, o que as leva à internet”. Para ele, buscar comunhão virtual em chats e outras mídias sociais é uma tendência. “A massa está desconfiada por traumas do passado; é gente machucada, marcada, ferida, gente que viu seus ídolos caírem”, conclui. Ele mesmo tem atendido diversas pessoas que o procuram para desabafar ou pedir conselhos.
Um resultado dessa busca por comunhão no ambiente virtual é o surgimento de grupos como o Clube das Mulheres Autênticas (CMA). Nascido de uma brincadeira entre mulheres cristãs que se conhecem apenas virtualmente, o grupo tem como lema “Liberdade de ser quem realmente se é”. A bacharel em direito Roberta Oliveira Lima, de 31 anos, é uma das integrantes. Ex-membro da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte (MG), ela afastou-se de muitas das práticas ensinadas no modelo congregacional e se diz em busca de uma igreja “sem excessos”. Ela se define como “uma pessoa desigrejada, mas não desviada dos princípios do Evangelho”. Segundo Roberta, o CMA supre carências que a igreja local já não preenchia mais. “Nosso espaço tem sido um local de refúgio, acolhimento e alegrias”, relata.
Ela garante que, até o momento, o grupo não sentiu falta de uma figura sacerdotal. “Aquilo que nos propomos a buscar não requer tal figura”, alega. “Pelo contrário, temos entre nós alguns feridos da religião e abusados por figuras sacerdotais clássicas. O nosso objetivo maior é compartilhar a vida e o Evangelho que permeia todos os centímetros de nossa existência”, descreve, ressaltando que, para isso, não é necessário adotar uma postura proselitista. “Mas nosso objetivo jamais será o de substituir a igreja local”, enfatiza.
“Galho seco” – “Falta de acolhimento pela comunidade, o desgaste provocado pelo estilo centralizador e carismático de liderança e frustração com as ênfases doutrinárias contribuem para esse fenômeno”, concorda o pastor Alderi Matos, professor de teologia histórica no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, em São Paulo. Mas ele destaca outro fator que empurra as pessoas pela porta de saída dos templos: “É quando uma igreja e seus líderes se envolvem em escândalos morais e outros”.
A paraibana C., de 37 anos, é um exemplo de gente que fez esse penoso percurso. Ela relata uma história de abusos e falta de princípios bíblicos na congregação presbiteriana de que foi membro por mais de quinze anos, culminando com um caso de violência doméstica de que foi vítima – sendo que o agressor, seu marido, era pastor. “Havia perdido completamente a alegria de viver, ao me deparar com uma realidade bem distante daquela que o Evangelho propõe como projeto para a vida”. C. fala que conviveu em um ambiente religioso adoecido pela ausência do amor de Cristo entre as pessoas: “Contendas sem fim, maledicência impiedosa e muitos litígios entre pessoas que se diziam irmãs”.
Este ano, C. pediu o divórcio do marido e tem frequentado um grupo alternativo de cristãos. “Rompi com a religião. Hoje, liberta disso, tudo o que eu desejo é Jesus, é viver em leveza e simplicidade a alegria das boas novas do Evangelho”. Ela explica que, nesse grupo, encontrou pessoas que vivenciaram experiências igualmente traumáticas com a religião e chegaram com muitas dores de alma, precisando ser acolhidas e amadas. “Temos nos ajudado e temos sido restaurados pouco a pouco. No âmbito do grupo, um ambiente de confiança foi formado, de modo que compartilhar é algo que acontece naturalmente e com segurança.”
“As pessoas anseiam por ver integridade na liderança. Quando o discurso não casa com a prática, o indivíduo reconhece a hipocrisia e se afasta”, avalia o bispo primaz da Aliança das Igrejas Cristãs Nova Vida (ICNV), Walter McAlister. Para ele, se os modelos falidos de igrejas que não buscam o senso de comunhão e discipulado – como os que denuncia em seu livro O fim de uma era (Anno Domini) não mudarem, o êxodo dos decepcionados vai aumentar. Apesar de compreender os motivos que levam as pessoas a abandonarem a experiência congregacional, o bispo é enfático: “Nossa identidade cristã depende da coletividade e, portanto, de um compromisso com uma família de fé. Sem isso, a pessoa não cresce nas virtudes cristãs e deixa de viver verdadeiramente a sua fé. Como um galho solto, seca e morre”.
“O fenômeno dos desigrejados é péssimo. Somos um corpo, nunca vi orelhas andando sozinhas por ai”, diz Paulo Romeiro. O pastor Alderi, que também é historiador, recorre à tradição cristã para defender a importância da igreja na vida cristã. “Da maneira como a fé cristã é descrita no Novo Testamento, ela apresenta uma feição essencialmente coletiva, comunitária. A lealdade denominacional é importante para os indivíduos e para as igrejas. Quem não tem laços firmes com um grupo de irmãos provavelmente também terá a mesma dificuldade em relação a Deus”, sentencia.
Sinais do Reino – Dentro dessa linha de pensamento, é possível até mesmo encontrar quem fez uma jornada às avessas, ou seja, da informalidade religiosa para o pertencimento denominacional. Responsável pelo blog Lion of Zion, Marco Antonio da Silva, de 31 anos, é membro da Comunidade da Aliança, ligada à Igreja Presbiteriana do Brasil, em Recife (PE). Ele afirma que redescobriu sua fé na igreja institucional. “Para alguns militantes virtuais mais radicais, isso seria uma heresia, mas tenho uma família com necessidades que uma igreja local pode suprir – e a congregação da qual faço parte supre essa lacuna muito bem”, afirma.
“Existe desgaste, autoritarismo e inoperância em todos os lugares onde o homem está”, reconhece o pastor e missionário Nelson Bomilcar. Ele prepara um livro sobre o tema, baseado nas próprias observações do segmento evangélico a partir de suas andanças pelo país. “Podemos ficar cansados e desencorajados, mas temos que perseverar e continuar amando e servindo a Igreja pela qual Jesus morreu e ressuscitou”. Como músico e integrante do Instituto Ser Adorador, Bomilcar constantemente percorre congregações das mais variadas confissões denominacionais – além de ser ligado a seis igrejas locais, ele congrega na Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo. “Continuo acreditando na Igreja do Senhor. Estou na Igreja porque fui colocado nela pelo Espírito Santo. É possível viver o Evangelho na comunidade, apesar de todas as suas ambiguidades, para balizarmos aqui e ali sinais do Reino de Deus. Tenho sido testemunha disso”.

sábado, 9 de março de 2013


Dia da Mulher e a sociedade idiota

Por Leonardo Sakamoto, em seublog:

Quando liguei a TV, nesta manhã de 8 de março, me deparei com colegas de profissão cumprindo suas pautas sobre o Dia Internacional da Mulher. Deu aquele desgosto ver uma importante data de reflexão e de luta novamente reduzida à distribuição de flores, promoções em salões de beleza, presentes na forma de jóias e vestidos e até equipamentos de limpeza do lar. Como se isso fosse o fundamental para garantir a dignidade das mulheres.

Por conta disso, elenquei, abaixo, algumas coisas que gostaria de ver noticiadas nesta data. Creio que, em algum momento, isso vai ser verdade. Depende de nós para mostrar quando. E a que custo:

1) A partir de agora, o sobrenome do marido não deverá ser imposto à sua companheira contra vontade dela, como uma marca de ferro em brasa delimitando a propriedade.

2) O currículo escolar será aprimorado para que, nas aulas de língua portuguesa, os meninos e rapazes possam compreender o real, objetivo, profundo e simples significado da palavra “não”.

3) As frases “Onde você acha que vai vestida assim?”, “A culpa não é minha, olha como você tá vestida!”, “Se saiu de casa assim, é porque está pedindo” a partir de agora serão banidas da boca de maridos, pais, irmãos, filhos, netos, namorados, amigos e outros barbados.

4) Está terminantemente proibido empregar apenas atrizes em comerciais de detergentes, desinfetantes, saches de privada, sabão em pó, rodos, vassouras, esponjas de aço, palhas de aço, aspiradores de pó, cera para chão e afins. A associação direta de mulheres e produtos de limpeza em comerciais de TV está extinta.

5) Empresas estão proibidas de distribuir flores no dia de hoje como prova de seu afeto às mulheres. Em vez disso, implantarão políticas para: 1) impedir que elas ganhem menos pela mesma função; 2) não sejam preteridas em promoções para cargos de chefia pelo fato de serem mulheres; 3) não precisem temer que a maternidade roube seu direito a ter uma carreira profissional; 4) seja punido com demissão o assédio de gênero como crime à dignidade de suas funcionárias.

6) Cuidar da casa e criar os filhos passa a ser visto também como coisa de homem. E prazer e orgasmo também como coisa de mulher.

7) Os editoriais dos veículos de comunicação não serão escritos por equipes eminentemente masculinas. Da mesma forma, as agências se comprometem a derrubar a hegemonia XY em suas equipes de criação, contribuindo para diminuir o machismo na publicidade.

8) O direito da mulher a ter autonomia sobre o próprio corpo e o direito de interromper uma gravidez indesejada não precisarão ser questionados. Nem devem requerer explicação.

9) Os partidos políticos não apenas garantirão cotas para a participação das mulheres nas eleições, mas investirão pesado em suas candidaturas a fim de contribuir para que os parlamentos representem, realmente, a sociedade brasileira. Da mesma forma, nomear mulheres como secretárias de governo, ministras e em cargos de confiança, na mesma proporção que homens, será ato corriqueiro.

10) Homens entenderão que “um tapinha não dói” é uma idiotice sem tamanho.

11) Por fim, feminismo será considerado sim assunto de homem. E meninos e rapazes, mas também meninas e moças, deverão ser devidamente educados desde cedo para que não sejam os monstrinhos formados em ambientes que fomentam o machismo, como a família, colégios e universidades.

Em tempo: aproveito para agradecer novamente às mulheres que passaram pela minha vida e foram fundamentais para que fosse um homem menos idiota.

sexta-feira, 8 de março de 2013

CHÁVEZ, BARÕES DA IMPRENSA, JORNALISTAS E JORNALISMO BURGUÊS


quarta-feira, 6 de março de 2013

Fotos de Hugo Chávez que arrepiam!: Hasta siempre Comandante


Em fotos, Chávez, uma vida dedicada a  luta pelo povo
 8 de agosto de 1998. El comandante Hugo Chávez Frías acompañado por su esposa, Marisabel, durante una gran marcha al inicio de la campaña electoral de los comicios presidenciales del 6 de diciembre de aquel año. © AFP Bertrand Parres
8 de agosto de 1998. El comandante Hugo Chávez Frías acompañado por su esposa, Marisabel, durante una gran marcha al inicio de la campaña electoral de los comicios presidenciales del 6 de diciembre de aquel año.
© AFP Bertrand Parres
 2 de febrero 1999. El recién investido presidente de Venezuela por vez primera, se dirige al Congreso de Venezuela tras ganar las elecciones presidenciales del 6 de diciembre con un 56% de los votos. © AFP Rodrigo Arangua
2 de febrero 1999. El recién investido presidente de Venezuela por vez primera, se dirige al Congreso de Venezuela tras ganar las elecciones presidenciales del 6 de diciembre con un 56% de los votos.
© AFP Rodrigo Arangua
 12 de octubre de 2001. El presidente de Venezuela le entrega un obsequio al Papa Juan Pablo II tras culminar la audiencia que mantuvieron en privado en el Vaticano. © AFP Presidencia
12 de octubre de 2001. El presidente de Venezuela le entrega un obsequio al Papa Juan Pablo II tras culminar la audiencia que mantuvieron en privado en el Vaticano.
© AFP Presidencia
 14 de abril de 2002. Hugo Chávez regresa al palacio presidencial para reasumir la presidencia tras ser expulsado del país. El 11 de abril de 2002, en medio de protestas en contra del sistema socialista, su puesto fue ocupado por Pedro Carmona Estanga, titular de Fedecámaras, el principal gremio empresarial de Venezuela. © AFP Rodrigo Arangua
14 de abril de 2002. Hugo Chávez regresa al palacio presidencial para reasumir la presidencia tras ser expulsado del país. El 11 de abril de 2002, en medio de protestas en contra del sistema socialista, su puesto fue ocupado por Pedro Carmona Estanga, titular de Fedecámaras, el principal gremio empresarial de Venezuela.
© AFP Rodrigo Arangua
 11 de abril de 2004. Hugo Chávez con los miembros del Ejército en Maracaibo, a 500 kilómetros de Caracas. © AFP Presidencia
11 de abril de 2004. Hugo Chávez con los miembros del Ejército en Maracaibo, a 500 kilómetros de Caracas.
© AFP Presidencia
 15 de agosto de 2004. Chávez celebra la victoria del referendo revocatorio de su mandato con un 59% de los votos. © AFP Luis Acosta
15 de agosto de 2004. Chávez celebra la victoria del referendo revocatorio de su mandato con un 59% de los votos.
© AFP Luis Acosta
 4 de diciembre de 2005. Elecciones legislativas. El oficialismo gana todos los cargos de la Asamblea Nacional (Parlamento). © AFP Andrew Alvarez
4 de diciembre de 2005. Elecciones legislativas. El oficialismo gana todos los cargos de la Asamblea Nacional (Parlamento).
© AFP Andrew Alvarez
 03 de diciembre de 2006. Chávez vota durante las elecciones presidenciales, donde fue reelegido para su segundo mandato con un 62% de los votos. © AFP Juan Barreto
03 de diciembre de 2006. Chávez vota durante las elecciones presidenciales, donde fue reelegido para su segundo mandato con un 62% de los votos.
© AFP Juan Barreto
 21 de diciembre de 2006. Hugo Chávez firma acuerdos bilaterales con el presidente electo de Ecuador, Rafael Correa, en el palacio presidencial de Miraflores, en Caracas. © AFP Presidencia
21 de diciembre de 2006. Hugo Chávez firma acuerdos bilaterales con el presidente electo de Ecuador, Rafael Correa, en el palacio presidencial de Miraflores, en Caracas.
© AFP Presidencia
 19 de agosto de 2007. Hugo Chávez graba una edición de su programa de televisión 'Aló Presidente'. © AFP Servicio de Prensa Presidencial / HO
19 de agosto de 2007. Hugo Chávez graba una edición de su programa de televisión ‘Aló Presidente’.
© AFP Servicio de Prensa Presidencial / HO
 31 de octubre de 2007. Hugo Chávez habla con su huésped, la modelo británica Naomi Campbell, antes de una ceremonia en el teatro Teresa Carreño de Caracas. © AFP Juan Barreto
31 de octubre de 2007. Hugo Chávez habla con su huésped, la modelo británica Naomi Campbell, antes de una ceremonia en el teatro Teresa Carreño de Caracas.
© AFP Juan Barreto
 18 de noviembre de 2007. Chávez con su homólogo iraní, Mahmoud Ahmadineyad, durante la ceremonia de clausura de la cumbre de la OPEP en Riad. © AFP Hassan Amar
18 de noviembre de 2007. Chávez con su homólogo iraní, Mahmoud Ahmadineyad, durante la ceremonia de clausura de la cumbre de la OPEP en Riad.
© AFP Hassan Amar
 30 de noviembre de 2007. Hugo Chávez besa la mano de una proponente suya durante una concentración en apoyo a las reformas constitucionales promovidas por su Gobierno. © AFP Juan Barreto
30 de noviembre de 2007. Hugo Chávez besa la mano de una proponente suya durante una concentración en apoyo a las reformas constitucionales promovidas por su Gobierno.
© AFP Juan Barreto
8 de diciembre de 2007. El presidente venezolano, Hugo Chávez con su homólogo bielorruso, Aleksandr Lukashenko, examinando una muestra de crudo pesado en la Faja del Orinoco, en el sureño estado de Anzoátegui, a 310 kilómetros de Caracas.
8 de diciembre de 2007. El presidente venezolano, Hugo Chávez con su homólogo bielorruso, Aleksandr Lukashenko, examinando una muestra de crudo pesado en la Faja del Orinoco, en el sureño estado de Anzoátegui, a 310 kilómetros de Caracas.
 18 de diciembre de 2007. El presidente venezolano abraza a su homólogo boliviano, Evo Morales, durante la XXXIV Cumbre del Mercosur en Montevideo. © AFP Pablo Porciuncula
18 de diciembre de 2007. El presidente venezolano abraza a su homólogo boliviano, Evo Morales, durante la XXXIV Cumbre del Mercosur en Montevideo.
© AFP Pablo Porciuncula
 6 de marzo de 2008. Chávez saluda afectuosamente a su homóloga argentina, Cristina Fernández de Kirchner, en el palacio presidencial de Miraflores, en Caracas. © AFP Juan Barreto
6 de marzo de 2008. Chávez saluda afectuosamente a su homóloga argentina, Cristina Fernández de Kirchner, en el palacio presidencial de Miraflores, en Caracas.
© AFP Juan Barreto
 25 de septiembre de 2008. Hugo Chávez con una réplica de un Tupolev TU-160 junto al entonces primer ministro y actual presidente ruso, Vladímir Putin, durante su reunión en Moscú. © AFP Presidencia
25 de septiembre de 2008. Hugo Chávez con una réplica de un Tupolev TU-160 junto al entonces primer ministro y actual presidente ruso, Vladímir Putin, durante su reunión en Moscú.
© AFP Presidencia
 18 de abril de 2009. Hugo Chávez entrega a su homólogo estadounidense, Barack Obama, el libro 'Las venas abiertas de América Latina' durante una reunión multilateral de la Cumbre de las Américas en Puerto España, Trinidad y Tobago. © AFP Jim Watson
18 de abril de 2009. Hugo Chávez entrega a su homólogo estadounidense, Barack Obama, el libro ‘Las venas abiertas de América Latina’ durante una reunión multilateral de la Cumbre de las Américas en Puerto España, Trinidad y Tobago.
© AFP Jim Watson
 11 de febrero de 2010. Hugo Chávez se prepara para lanzar una pelota durante un partido de softball con jugadores profesionales venezolanos en Caracas. © AFP Juan Barreto
11 de febrero de 2010. Hugo Chávez se prepara para lanzar una pelota durante un partido de softball con jugadores profesionales venezolanos en Caracas.
© AFP Juan Barreto
 21 de septiembre de 2010. Hugo Chávez y los candidatos a la Asamblea Nacional del gobernante Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) en la víspera de las legislativas, donde el oficialismo logró la mayoría de los escaños. © AFP
21 de septiembre de 2010. Hugo Chávez y los candidatos a la Asamblea Nacional del gobernante Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) en la víspera de las legislativas, donde el oficialismo logró la mayoría de los escaños.
© AFP
 15 de octubre de 2010. Hugo Chávez entrega unos regalos a Dmitri Medvédev, ex presidente de Rusia (2008-2012) y actual primer ministro, durante una conferencia de prensa celebrada en el Kremlin. © RIA Novosti Mikhail Klimentyev
15 de octubre de 2010. Hugo Chávez entrega unos regalos a Dmitri Medvédev, ex presidente de Rusia (2008-2012) y actual primer ministro, durante una conferencia de prensa celebrada en el Kremlin.
© RIA Novosti Mikhail Klimentyev
 31 de marzo de 2011. Hugo Chávez junto con su homólogo boliviano, Evo Morales, saluda a la gente durante su visita al país andino. © AFP Aizar Raldes
31 de marzo de 2011. Hugo Chávez junto con su homólogo boliviano, Evo Morales, saluda a la gente durante su visita al país andino.
© AFP Aizar Raldes
 6 de junio de 2011. Hugo Chávez y la presidenta de Brasil, Dilma Rousseff, durante una reunión en el Palacio de Planalto, en Brasil. © AFP Evaristo SA
6 de junio de 2011. Hugo Chávez y la presidenta de Brasil, Dilma Rousseff, durante una reunión en el Palacio de Planalto, en Brasil.
© AFP Evaristo SA
23 de julio de 2011. Maradona, Fidel y Chávez. Foto: Estudios Revolución
23 de julio de 2011. Maradona, Fidel y Chávez. Foto: Estudios Revolución
 21 de julio de 2012. Hugo Chávez saluda a sus partidarios durante un acto de campaña electoral para las presidenciales del 7 de octubre, en las que fue reelegido. © AFP
21 de julio de 2012. Hugo Chávez saluda a sus partidarios durante un acto de campaña electoral para las presidenciales del 7 de octubre, en las que fue reelegido.
© AFP
 27 de agosto de 2012. Chávez visita el Hospital de Paraguaná, donde están ingresadas las personas heridas en la explosión de la refinería de petróleo Amuay. © AFP Presidencia
27 de agosto de 2012. Chávez visita el Hospital de Paraguaná, donde están ingresadas las personas heridas en la explosión de la refinería de petróleo Amuay.
© AFP Presidencia
2012. Conclusión de visita a Cuba de Chávez, sostuvo encuentros con Fidel y Raúl
2012. Concluysión de visita a Cuba de Chávez, sostuvo encuentros con Fidel y Raúl
 20 de septiembre de 2012. Hugo Chávez toca la guitarra durante un Consejo de Ministros en el palacio presidencial de Miraflores en Caracas. © AFP Presidencia
20 de septiembre de 2012. Hugo Chávez toca la guitarra durante un Consejo de Ministros en el palacio presidencial de Miraflores en Caracas.
© AFP Presidencia
 24 de septiembre de 2012. Hugo Chávez "noquea" a la oposición durante un acto de campaña electoral en Acarigua (noroeste de Venezuela). © AFP Juan Barreto
24 de septiembre de 2012. Hugo Chávez “noquea” a la oposición durante un acto de campaña electoral en Acarigua (noroeste de Venezuela).
© AFP Juan Barreto
 3 de octubre de 2012. Hugo Chávez baila durante un acto de campaña electoral en Maracay. © AFP Juan Barreto
3 de octubre de 2012. Hugo Chávez baila durante un acto de campaña electoral en Maracay.
© AFP Juan Barreto
 7 de octubre de 2012. Hugo Chávez saluda a sus partidarios tras recibir la noticia de su reelección con el 54,42% de los votos, derrotando así al principal candidato opositor, Henrique Capriles, que obtuvo el 44,47%. © AFP Juan Barreto
7 de octubre de 2012. Hugo Chávez saluda a sus partidarios tras recibir la noticia de su reelección con el 54,42% de los votos, derrotando así al principal candidato opositor, Henrique Capriles, que obtuvo el 44,47%.
© AFP Juan Barreto

terça-feira, 5 de março de 2013

Morre o presidente Hugo Chávez


O presidente da Venezuela e líder da 'revolução bolivariana', Hugo Chávez Frias, morreu nesta terça (5), aos 58 anos, vítima de câncer. O vice-presidente do país, Nicolás Maduro, fez o anúncio durante a tarde, em rede de rádio e televisão. Ele já havia confirmado, durante o dia, a notícia de que o estado de saúde de Chávez se agravara. "Viva Hugo Chávez! Viva para sempre", celebrou Maduro.

O vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou a morte do presidente Hugo Chávez, em pronunciamento em rede de rádio e televisão. Chávez tinha 58 anos e morre após enfrentar longo tratamento contra o câncer, parte dele feito em Cuba.

O governo ainda vai informar onde será velado o corpo de Chávez e dará detalhes sobre o sepultamento. Maduro pediu que o povo venezuelano enfrente este momento "com o amor que Chávez ensinou". O vice-presidente encerrou a fala com a frase: "Viva Hugo Chávez! Viva para Sempre".

As Forças Armadas venezuelanas, também em comunicado em rede nacional de rádio e televisão, disse que se unia ao povo "neste momento de dor", que permanece unida e que manterá a luta pelos ideais de Chávez. O texto aponta que a Constituição seguirá sendo respeitada e que Maduro poderá "contar com as Forças Armadas".

Por causa da morte do presidente da Venezuela, Dilma Rousseff cancelou a viagem que faria à Argentina na próxima quinta-feira (7). A presidenta iria a El Calafate para reuniões bilaterais com sua colega argentina, Cristina Kirchner.

Ao falar, com a voz embargada, sobre a morte de Chávez, Dilma afirmou: "O presidente Hugo Chávez deixará no coração, na história e nas lutas da América Latina um vazio. Lamento, como presidente da República e como uma pessoa que tinha por ele um grande carinho".

A presidenta Dilma participava nesta terça do Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, que ocorre em Brasília. Ela e sua colega argentina, Cristina Kirchner, devem viajar à Venezuela para participar do velório de Chávez.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conviveu bastante com Chávez ao longo de seus oito anos de governo, divulgou nota oficial.

"Eu me solidarizo com o povo venezuelano, com os familiares e correligionários de Chávez, neste dia tão triste, mas tenho a confiança de que seu exemplo de amor à pátria e sua dedicação à causa dos menos favorecidos continuarão iluminando o futuro da Venezuela", diz um trecho da nota.

Clique aqui para ler o especial 'O Chavismo além de Chávez'

*Com informações da Agência Brasil

Stalingrado, onde começou a derrota de Hitler e dos nazistas



José Carlos Ruy*

Adolf Hitler e a liderança nazista subestimavam os russos; que considerava como “sub-humanos”, bárbaros, inferiores e indignos de continuar vivendo. Via os territórios do leste da Europa, sobretudo as estepes férteis da Ucrânia, como “um lebensraum (espaço vital), à prova de bloqueio" cuja conquista levaria, depois da vitória, ingleses e norte-americanos a negociar os termos da paz. Era ali que Hitler pretendia lançar as bases do "Reich de mil anos", depois de abrir um vazio populacional com o assassinato de ao menos 30 milhões de eslavos, cujo território seria ocupado pela colonização étnica alemã.

Destruir a União Soviética e comunismo

Numa das reuniões de planejamento da Operação Barbarossa (o código nazista para a invasão da União Soviética, que ocorreria em junho daquele ano), em 30 de março de 1941, Hitler deixou claro o objetivo da guerra: destruir a União Soviética e o comunismo.

O general Franz Haider, que foi chefe do estado maior do exército nazista, anotou em seu diário a declaração do dirigente nazista. Será a “luta de duas visões de mundo”, disse Hitler numa “sentença aniquilatória contra o bolchevismo”, que é a “mesma coisa que criminalidade antissocial”, anotou Haider. “Comunismo, tremendo perigo para o futuro”, disse Hitler. E ordenou o assassinato puro e simples dos comissários políticos do Exército Vermelho e da intelectualidade comunista.


Hitler acreditava que a invasão seria mais uma blitzkrieg - uma guerra relâmpago a ser resolvida rapidamente. Em seus planos, tudo estaria terminado antes do Natal de 1941, e do temível inverno russo. “Nós só temos que chutar a porta da frente e todo o edifício ruirá”, disse em outra ocasião, registrou o historiador Rupert Matthews. Hitler estava convicto de que suas tropas seriam recebidas na URSS como “libertadoras” contra o comunismo.

Era uma crença generalizada também entre governos aliados, como o norte-americano ou o inglês, de que os russos se levantariam contra o comunismo. Na véspera da invasão, o serviço secreto britânico calculou que a União Soviética estaria liquidada em oito ou dez semanas. Um funcionário do Departamento de Estado dos EUA foi mais “pessimista” e previu na mesma ocasião que a derrota soviética ocorreria entre um a três meses. (citados por Domenico Losurdo).

Mesmo quando os nazistas foram derrotados em Moscou, em janeiro de 1942, essa crença não perdeu a força, como mostra a reação do governo inglês diante de um telegrama enviado por um diplomata de Moscou para Londres. “Essa ofensiva forçará os nazistas a um longo recuo”, dizia. “Uma nova ofensiva alemã está prevista para a primavera, podendo fazer alguns progressos limitados na Rússia, mas não logrará muito. Em seguida, os russos pretendem dar o golpe de misericórdia no outono ou no inverno. Não acredito que os russos parem nas fronteiras alemãs, mas que partam para uma derrota da Alemanha de forma conclusiva e definitiva”. (citado por Rupert Matthews). Seus chefes em Londres fizeram piada dessa previsão que o tempo revelaria correta.

Invasão e assassinato em massa

A invasão da União Soviética, que começou na madrugada de 22 de junho de 1941, foi a maior e mais feroz ação bélica da história. A artilharia alemã abriu fogo numa extensa frente de mais de 1.600 quilômetros, indo do Báltico ao mar Negro. Foram mobilizados cerca de 4,5 milhões de soldados da Wehrmacht com o apoio de 600.000 veículos e 750.000 cavalos, e cerca de 2.700 aeronaves (mais da metade do efetivo da força aérea alemã).

A passagem das tropas era seguida pelos efetivos da SS, da Gestapo e dos “esquadrões especiais” (na verdade esquadrões da morte) com ordens explícitas de Hitler para agir de maneira brutal contra a população civil e executar todos os funcionários comunistas, comissários do povo, “judeus em cargos partidários ou estatais” e “outros elementos radicais (sabotadores, propagandistas, atiradores de tocaias, assassinos, agitadores etc.)”, anotou o historiador britânico Richard J. Evans em sua monumental história do Terceiro Reich, recentemente publicada. Outro historiador britânico, Rupert Matthews registrou a barbárie que ocorreu no rastro das tropas invasoras. Cumprindo as ordens assassinas de Hitler, as bestas humanas com uniforme nazista exterminaram, só em 1941, entre 300 mil e 500 mil pessoas nos territórios soviéticos ocupados.

Era demais até mesmo para chefes militares da tradição prussiana, como o comandante alemão Fedor von Bock. No inverno de 1941 ele reclamou a Hitler, por escrito, sobre as ações bárbaras da SS, da Gestapo e de outras unidades paramilitares contra a população civil em áreas conquistadas, com execução em massa de judeus, estupros e assassinatos generalizados, sendo lugar comum o uso de trabalho escravo em condições terríveis. Ele reclamava, diz o historiador Rupert Matthews, sobretudo porque esta bestialidade fortalecia a disposição dos russos para resistir, fortalecendo os grupos guerrilheiros que logo se juntaram à ação do Exército Vermelho.

Esse comportamento bestial logo indispôs as tropas invasoras até mesmo com as pessoas que se opunham ao comunismo, levando outro general alemão, Hans Meier-Welcker, a registrar: “Se nossa gente fosse apenas um pouquinho mais decente e cordata!”.

Os horrores cometidos pelos alemães fortaleceram, de fato, entre soldados e cidadãos soviéticos a disposição para acatar a mensagem patriótica difundida através do rádio por Stálin convocando o povo para unir-se à guerrilha para sabotar e combater, de todas as formas, o ocupante nazista naquela que, com razão, é chamada pelos russos de Grande Guerra Pátria.

O ataque contra Stalingrado

A invasão da União Soviética fora planejada para desdobrar-se em três frente: ao norte, com o foco em Leningrado; no centro, com Moscou no alvo; e no sul, onde o objetivo era Kiev. Mas a resistência soviética mostrou a inviabilidade dessa invasão em três frentes, coisa que os generais alemães perceberam já em agosto, menos de dois meses depois do início da agressão. Eles propuseram a Hitler a escolha de um ponto onde colocar o peso principal que, preferiam, seria Moscou. Mais uma vez o desprezo de Hitler pelas tropas russas levou-o a subestimar seu poderio. Hitler preferiu concentrar o ataque ao sul, contra Kiev, em busca dos recursos econômicos das porções ocidentais da URSS, do Cáucaso e suas reservas de petróleo.

Em seguida, decidiu atacar Stalingrado, pelo valor simbólico e propagandístico (era a cidade de Stalin) e estratégico (o domínio do Volga poderia abrir um caminho por onde os invasores pretendiam chegar a Moscou).

Foi a origem da maior e mais sangrenta das batalhas da 2ª Guerra Mundial, que começou em 17 de julho de 1942. Os 250 mil soldados do 6º Exército (um das joias da coroa nazista), sob o comando do então general Friedrich von Paulus, alcançaram o Volga, ao norte de Stalingrado, em 23 de agosto de 1942. Antes de sua chegada, a cidade foi arrasada pelos bombardeios da Luftwaffe. A luta prosseguiu nos escombros da cidade, entre setembro de 1942 a janeiro de 1943. A batalha foi dura, e os soldados alemães - treinados para a blitzkrieg com apoio de tanques - não estavam preparados para a luta urbana, com os obstáculos representados pelos escombros. Em Stalingrado cada pedaço de terreno foi disputado literalmente palmo a palmo, casa a casa, numa batalha corpo a corpo.

A defesa soviética foi intensa, e o grande contra-ataque para libertar Stalingrado teve início em 19 de novembro de 1942, reunindo mais de um milhão de soldados.

As tropas soviéticas romperam as linhas inimigas a quase 160 km ao oeste da cidade; a reação alemã inicial foi lenta, demorando a perceber que estava em andamento uma manobra tradicional de envolvimento, que se completou no dia 23. Os alemães ainda fizeram uma tentativa de ataque pelo sul, em 12 de dezembro, repelida pelos soviéticos.

Sem combustível, comida e munição, no Natal de 1942 o exército de Paulus estava efetivamente condenado. Menos de um mês depois, em 22 de janeiro de 1943, ele sugeriu a Hitler (que rejeitou) a rendição como única maneira de salvar o que restava das tropas. Em 24 de janeiro de 1943 estava cercado nas ruinas de Stalingrado, sendo continuamente atacado pela artilharia soviética.

Hitler ainda tentou manter as aparências e, em 30 de janeiro de 1943 (no décimo aniversário de sua escolha como Chanceler), fez uma solene proclamação pelo rádio: "Daqui a mil anos, os alemães falarão sobre a Batalha de Stalingrado com reverência e respeito, e se lembrarão que a despeito de tudo, a vitória final da Alemanha foi ali decidida". Nesse dia, ele promoveu Friedrich Von Paulus para o mais alto posto da hierarquia militar alemã: marechal de campo, em uma evidente tentativa de induzi-lo a preferir um suicídio “honroso” a cair prisioneiro dos soviéticos.

Em vão. No dia seguinte, 31 de janeiro de 1943, o agora marechal de campo Friedrich von Paulus comunicou aos soviéticos sua capitulação, que efetivou em 2 de fevereiro de 1943.

No total, cerca de 235 mil soldados alemães e aliados foram capturados; mais de 200 mil foram mortos, diz Richard Evans. Entre os capturados estavam, além do marechal Paulus, 24 generais e outros 2.500. Foram mortos cerca de 140 mil soldados da Wehrmacht e 200 mil do Exército Vermelho. Os soviéticos tomaram do exército inimigo 60 mil veículos, 1,5 mil blindados, seis mil canhões e dois mil aviões. Os próprios alemães reconheceram que, em Stalingrado, perderam o correspondente a seis meses da produção de sua indústria bélica.

Foi a primeira vez na história que um marechal alemão era feito prisioneiro em combate, e que dois exércitos alemães foram capturados (o 6º Exército de Paulus e parte do 4º Exército Panzer, de tanques de guerra). Foram neutralizadas mais de 20 divisões alemãs; em seis meses de combate, foram mortos mais de 1,5 milhão de soldados invasores. Entre os russos, o número de mortos foi semelhante.

Moscou, Leningrado, Stalingrado

O fracasso em Stalingrado foi a confirmação de uma derrota alemã anunciada antes em Moscou e no cerco a Leningrado. A primeira etapa da derrota alemã ocorreu em Moscou onde, em 5 de dezembro de 1941. Era o início do inverno e as tropas soviéticas e moradores expulsaram os invasores nazistas que haviam chegado a 80 quilômetros da cidade. Naquele dia começou a ruir o mito da invencibilidade nazista. Sob o comando do então general Georgy Zhukov começou o contra-ataque que barrou a tentativa de blitzkrieg e empurrou os alemães (congelados, famintos e exaustos) de volta para o ponto de partida de seu ataque, a uns 250 quilômetros. A consolidação da posição soviética em abril de 1942 afastou a ameaça alemã contra a capital, reforçando a autoconfiança soviética em seus soldados, nos equipamentos que produziam (entre eles os tanques T-34 e os lança foguetes Katyusha), e na capacidade tática e vencer os invasores nazistas. O dia 5 de dezembro é justamente comemorado na Rússia como Dia da Glória Militar.

O outro passo importante foi dado em Leningrado (cidade que Hitler havia prometido varrer do mapa). O cerco alemão durou mais de dois anos, de 8 de Setembro de 1941 a 27 de Janeiro de 1944, submetendo os moradores a intensos bombardeios aéreos, à fome, a epidemias e males semelhantes. Os moradores e os defensores não esmoreceram; em 18 de janeiro de 1943 conseguiram, pela primeira vez, romper o cerco, mas a luta ainda demoraria cerca de um ano até a derrota completa do inimigo nazista, em janeiro de 1944.

O desastre diante de Moscou foi particularmente catastrófico, classificado pelo general Franz Haider como “a maior crise em duas guerras mundiais”. Fritz Told, ministro de Armamentos, concluiu por sua vez que a guerra não podia ser vencida pois os recursos industriais britânicos, americanos e soviéticos eram mais poderosos que os da Alemanha, e a indústria soviética estava produzindo equipamento melhor em escala maior, mais adaptado para o combate no rigor do inverno, registrou Richard Evans.

Hitler subestimou a capacidade soviética

As perdas das Forças Armadas alemãs após a invasão da União Soviética estiveram acima de todos os cálculos nazistas. Nas ações anteriores, suas perdas foram assimiláveis: em 1939 chegaram a 19 mil mortos; nas campanhas de 1940, foram 83 mil - bastante sérias mas não insubstituíveis, comentou o historiador Richard Evans. Com a invasão da União Soviética esse número multiplicou-se. Somente em 1941 houve 357 mil soldados alemães dados como mortos ou desaparecidos, mais de 300 mil deles na frente oriental onde, a partir de 22 de junho de 1941 estavam engajadas pelo menos 2/3 das forças alemãs.

As grandes perdas alemãs começaram já no início da invasão. Um mês depois de atravessarem as fronteiras, o número de mortos, feridos e desaparecidos alemães já passava de 213 mil e a desordem causada entre as fileiras levou o Comando Supremo do Exército a ordenar, em 31 de julho, uma parada no avanço, para reagrupamento. Isto é, cerca de 40 dias depois de seu início, a invasão começava a perder ímpeto.

Isto é, logo no início a liderança nazista teve que defrontar-se com as dificuldades não previstas. Em 2 de julho de 1941, depois de dez dias do início da invasão, Goebbels escreveu em seu diário: o combate é duro e obstinado, e “não se pode, de modo algum, falar em passeata. O regime russo mobilizou o povo”. Avaliação mantida em 24 de julho: “Não podemos nutrir nenhuma dúvida sobre o fato de que o regime bolchevique, que existe há quase um quarto de século, lançou marcas profundas no povo da União Soviética”. E avançou: é preciso dizer ao povo alemão “que esta operação é muito difícil, mas que podemos superá-la, e a superaremos”. Em 16 de setembro, seu registro da situação reconhecia que “calculamos o potencial dos bolcheviques de maneira completamente errada” (citado por Domenico Losurdo).

Era uma situação que os generais estavam vivendo na prática. Em 20 de julho de 1941 o general alemão Gotthard Heinrici, escreveu à esposa que “os russos são muito fortes e lutam com desespero”. “Eles aparecem de súbito por toda parte, atirando, caem sobre as colunas, carros individuais, mensageiros, etc.” “Nossas perdas são consideráveis”.

Eram perdas com as quais os “invencíveis” alemães não estavam acostumados; elas chegaram a mais de 63 mil homens até o fim de julho; no dia 22 desse mês, Heinrici reconhecia, em outra carta à esposa, que a disposição russa para resistir não fora destruída e que o povo não queria depor os líderes bolcheviques.

Haider, em 2 de agosto, reconheceu os erros de avaliação: “está ficando cada vez mais claro que subestimamos o colosso russo, que se preparou de modo consciente para a guerra”. Em agosto ele avaliou que os alemães já tinham perdido 10% de seus soldados, que foram mortos ou feridos pela resistência até o final de julho. Em 15 de agosto ele anotou em seu diário: “Em vista da fraqueza de nossas forças e dos espaços infindáveis, podemos jamais alcançar o sucesso”.

Quando a notícia da derrota em Stalingrado foi transmitida por rádio, em Berlim, em 4 de fevereiro de 1943, Goebbels, registrou em seu diário: “As notícias de Stalingrado tiveram um efeito de choque no povo alemão” (Der Spiegel). Aparentemente era um sentimento geral. Um relatório do Serviço de Segurança da SS registrou que algumas pessoas de fato viram em Stalingrado “o começo do fim”, e dizia-se que nos gabinetes de governo de Berlim havia “em certa medida uma nítida atmosfera de desespero iminente” (citado por Richard Evans).

O mito do absolutismo soviético

A historiografia ocidental alimenta um persistente mito sobre Stalingrado. O Exército Vermelho e a polícia política soviética teriam imposto o terror sobre seus próprios cidadãos e combatentes para obrigá-los a combater os invasores. Em 1998, o historiador britânico Anthony Beevor concluiu que o Exército Vermelho executou mais de 13 mil soldados durante a batalha, acusados de covardia ou deserção; além disso, 50 mil soviéticos teriam passado para o lado dos alemães.

Não é verdade. Esse mito foi demolido por documentos agora revelados no livro The Stalingrad Protocols, publicado em novembro de 2012, na Alemanha e na Rússia, escrito pelo historiador alemão Jochen Hellbeck. Segundo os documentos houve menos de 300 execuções, por covardia, entre os soviéticos até outubro de 1942, três meses antes da derrota alemã. E, naqueles meses cruciais, o número de filiados ao Partido Comunista na cidade conflagrada aumentou, passando de 28.500 para 53.500 entre agosto e outubro de 1942.

The Stalingrad Protocols foi escrito com base em cartas e memórias de soldados soviéticos. Hellbeck consultou mais de 10 mil documentos sobre o Exército Vermelho existentes na Academia Soviética de Ciências, em Moscou e sua conclusão é de que a luta contra as tropas hitleristas era encarada pelos cidadãos soviéticos como uma causa libertadora. “Os comissários soviéticos souberam captar o sentimento patriótico das pessoas e mobilizar a população contra a agressão nazista”, diz ele, derrubando mitos consolidados sobre os soviéticos. Desmente, por exemplo, a alegação comum na historiografia liberal, de que civis participaram daquela batalha devido ao medo do terror do regime soviético. E retrata a história de pessoas que se envolveram de forma voluntária na defesa de sua cidade e sua pátria.

O esforço do governo para mobilizar o povo e defender as conquistas do regime surtiu efeito. O objetivo da luta era claro para a população e para os soldados. Ele fora apontado inúmeras vezes em transmissões de rádio onde Stalin falava ao povo desde o início da invasão nazista. Em 23 de fevereiro de 1942, por exemplo - data do 24º aniversário da entrada do Exército Vermelho na Primeira Guerra Mundial - ele defendeu o direito de autodefesa dos soviéticos. “A força do Exército Vermelho”, disse, “reside sobretudo no fato de não travar uma guerra predatória imperialista, mas uma guerra patriótica, uma guerra de libertação, uma guerra justa.” “O Exército Vermelho, como qualquer exército de quaisquer outros povos, tem o direito e a obrigação de aniquilar os escravizadores de nossa Pátria”.

Nas comemorações dos 70 anos da vitória em Stalingrado, a rádio Voz da Rússia ouviu alguns sobreviventes daquela batalha cujo depoimento confirma as conclusões do autor de The Stalingrad Protocols. Um exemplo é o da veterana Taïssia Postnova que, hoje, tem 93 anos de idade; na ocasião, era estudante de medicina e foi enviada para Stalingrado em setembro de 1942 para trabalhar como enfermeira. Ela lembrou que os nazistas "bombardearam continuamente de nove da manhã até às quatro horas da tarde. Duas vezes nosso bunker foi completamente soterrado após as explosões”. Viveu os horrores da guerra mas, disse, "não tínhamos medo. Tínhamos apenas uma ideia em mente: vencer”, em defesa da Pátria e do regime. “Muitas vezes aqueles que estavam à beira da morte diziam: 'eu morro pela Pátria, por Stalin’. Se não tivesse havido Stalin, teríamos perdido a guerra", afirmou.

Isso confirma a opinião de Jochen Hellbeck em entrevista à revista alemã Der Spiegel; segundo ele, o Exército Vermelho era política e moralmente superior a seu oponente nazista. “O Exército Vermelho era um exército político”, disse.

Rendição incondicional

O impulso soviético iniciado em Moscou e reforçado com a vitória em Stalingrado cumpriu a previsão do diplomata inglês em Moscou, em 1942: o rolo compressor do Exército Vermelho não se deteve nas fronteiras russas mas só parou quando um soldado soviético do destacamento avançado do general Ivan Koniev, em 2 de maio de 1945, hasteou a bandeira da foice e do martelo no mastro principal do Reichstag, em Berlim, e a Alemanha foi completamente derrotada na guerra. Cinco dias depois, em 8 de maio, Hitler havia cometido suicídio e seus substitutos à frente da Alemanha nazista, rendição incondicional, diante dos generais Ivan Susloparov, soviético, Walter Bedell Smith, americano, e François Sevez, francês.

Muito antes disso, ainda em 1943, a notícia da derrota em Stalingrado foi noticiada através do rádio, em Berlim, no dia 3 de fevereiro, pelo general Zeitzler, chefe do Alto Comando das Forças Armadas alemãs, ao som de tambores abafados e da execução do segundo movimento da Quinta Sinfonia de Beethoven. Esta foi mais uma vilania dos nazistas: Beethoven foi um democrata que jamais teria concordado com a barbárie dirigida por Hitler e seus asseclas. Basta lembrar que, em 1802 (cerca de 140 anos antes dos eventos trágicos transmitidos pelo general Zeitzler) ele havia dedicado a Terceira Sinfonia (Eroica) ao Napoleão, dirigente da revolução francesa. Mas riscou a dedicatória dois anos depois, em 1804, quando Napoleão se coroou imperador.

A poesia, agora, está nos jornais

A batalha de Stalingrado ficou na história como um símbolo intenso da resistência contra a opressão, o imperialismo e a ocupação estrangeira. Um poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, registrou sua dimensão histórica imorredoura. Hoje, “a poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais”, escreveu. “Os telegramas de Moscou repetem Homero. / Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo”.

Mundo novo defendido com muita coragem, sangue, sacrifício para enfrentar aqueles que, há mais de 70 anos, armaram o até então maior exército jamais visto para destruir a União Soviética e o comunismo.

*José Carlos Ruy é jornalista

Referências
Evans, Richard J. O Terceiro Reich em Guerra. São Paulo, Planeta, 2012
Losurdo, Domenico. Stalin - storia e critica di uma legenda nera. Roma, Carocci editore, 2008
Matthews, Rupert. Segunda Guerra Mundial: Stalingrado. A resistência heroica que destruiu o sonho de Hitler de dominar o mundo. São Paulo, M. Books do Brasil, 2013

Internet
http://www.spiegel.de/international/zeitgeist/frank-interviews-with-red-army-soldiers-shed-new-light-on-stalingard-a-863229.html, consultado em 03/02/2013.
http://newsbom.com/world/118575.html, consultado em 03/02/2013.
http://www.independent.ie/world-news/revealed-the-horrific-forgotten-secrets-of-stalingrad-3285052.html, consultado em 03/02/2013.
http://m.g1.globo.com/mundo/noticia/2013/01/russia-de-putin-celebra-os-70-anos-da-vitoria-de-stalingrado.html, consultado em 03/02/2013.