segunda-feira, 13 de maio de 2013

A armadilha fenícia




Heródoto, ao relembrar suas conversas com os anciões de Tiro, uma das capitais da antiga fenícia, assegurou a seu público que os comerciantes que ocupavam a atual costa libanesa haviam chegado naquela parte do mundo 28 séculos antes de Cristo. Teriam migrado das praias do mar vermelho, na península arábica, em direção ao Mediterrâneo, assim como fizeram diversas tribos árabes. Conhecido pelos livros escolares como o Pai da Historia, o autor grego é visto no Líbano de forma um pouco mais peculiar. Aqui ele é tido por muitos como um desonesto disseminador de boatos, inimigo do estado e da sociedade. Não são poucos os libaneses que odeiam serem associados aos árabes que os cercam.
Apesar do desgosto, mais uma vez o destino do Líbano parece estar sendo decidido na cidade orgulhosamente árabe de Damasco. Os recentes bombardeios de Israel à capital síria reforçam tal fato. Tentando desassociar seu país da guerra civil ao norte, Tel Aviv foi categórico no comentário: Nosso ataque não tem nada a ver com as tentativas de derrubar o ditador Bashar Al-Assad, estávamos apenas atacando armas iranianas de última geração que se dirigiam ao Líbano.
A ofensiva aérea israelense, que pode muito bem jogar Líbano, Síria e Israel em mais uma guerra, parece possuir uma complexidade maior do que apenas um bombardeio a mercadorias importadas do Hezbollah, grupo amado Libanês que a décadas disputa a hegemonia do sul de seu país com o estado sionista. Israel anuncia a tempos que pretende impedir qualquer forma os envios de armas da Síria ao grupo fundamentalista xiita, porem a dinâmica dos ataques não se encaixam muito bem nesta narrativa. Se os alvos eram misseis do Hezbollah, porque foram atacadas também bases da Guarda Republicana Síria? Alem do mais, é crível que o governo do Baath, em meio a uma guerra de vida ou morte contra seus oponentes armados, enviaria o supra sumo de seu arsenal para o vizinho?
Enquanto tais perguntas seguem sem respostas, os milicianos do Hezbollah parecem estar se engajando cada vez mais na defesa incondicional do governo de Bashar. Adepto de um dos expoentes da religião xiita (o Alawismo) e aliado prioritário do Irã, que por acaso também é patrono do grupo libanês, a possível queda do regime da família Assad tem sido tratado pelo Hezbollah como uma derrota inaceitável. Já são centenas os mártires do grupo nas batalhas das cidades Sírias próximas ao Líbano, onde o governo de Damasco parece ter terceirizado a seus aliados libaneses a luta contra os insurgentes. A guerra prioritária do Hezbollah parece ser a guerra pela sobrevivência de Assad, o que, pela lógica, faria a guerra central de Israel ser a guerra pela derrubada do regime sírio.
Tal raciocínio teria todo sentido se Israel não estivesse mobilizando seus diplomatas pelo mundo em uma campanha contra o armamento dos rebeldes na Síria. Segundo a perspectiva israelense, apesar dos amigos inconvenientes no Líbano, o regime Assad é um companheiro de respeito quando o tema é garantir paz e tranquilidade nas colinas de Golan, território sírio ocupado por Israel a mais de quatro décadas. Dizem as mas línguas que os revolucionários da Síria, baderneiros pela própria natureza, não dariam tranquilidade ao estado sionista uma vez que houvessem derrubado o governo de Damasco.
Zona livre
Segundo o Major-General Yair Golan, chefe do Comando Norte de Israel, a resposta para tal ameaça é simples, cabe a Tel Aviv “criar uma zona militar no lado de lá da fronteira”; invadir o sul da Síria para impedir qualquer rebelde intruso de chegar perto aos territórios que o General chefia. Para o mesmo, o modelo seria a zona tampão criada por Israel entre 1985 e 2000 no sul do Líbano. Curiosamente, foi a partir da luta contra aquela mesma zona que o Hezbollah tornou-se uma potencia regional.
Os bombardeios de Israel a Damasco podem ter tido como objetivo abrir o terreno para uma futura ocupação militar voltada a conter a insurreição. Mais o oposto também pode ser verdadeiro, sendo o ataque uma ajuda a luta dos rebeldes contra o regime de Bashar, ou ainda, apenas um bombardeio ao Hezbollah, sem relação alguma com o levante sírio. Talvez o mais correto seja uma equação que envolva as três hipóteses ao mesmo tempo. A única certeza é que um envolvimento maior de Israel na guerra, segundo o próprio Hezbollah, levaria a milícia libanesa a assumir uma política ainda mais intervencionista no país vizinho.
Pelo menos foi assim que anunciou Hassan Nassarallah, dirigente máximo do grupo libanês, no seu canal de televisão. Segundo Nasserallah, talvez o único dirigente da região conhecido por cumprir suas ameaças publicas, o Hezbollah é um “amigo de verdade” do povo sírio, e por os ter como tanta estima, não os deixarão sair de seu rumo atual.
Persona non grata
As declarações de carinho do Hezbollah aos sírios, porem, parecem ter pouco eco nas cidades e bairros dirigidos pelo grupo no Líbano. São cada vez mais frequentes os ataques a refugiados do país vizinho nos territórios controlados pela milícia. Entre os ativistas exilados que continuam tentando apoiar a revolução que ocorre em seu país natal, as áreas do Hezbollah tornaram-se praticamente zonas proibidas.
A maioria destes jovens, por motivos de segurança, tem buscado refúgio nos bairros cristãos controlados pelas milícias da Falange, um dos principais grupos fascistas que controlam pedaços de Beirute. Inspirada na juventude nazista após a viagem de seu fundador às Olimpíadas de 1936 em Munich, a Falange é mundialmente conhecida por ter executado, em conjunto com Israel, os massacres aos refugiados palestinos dos campos de Shabra e Chatila. Arautos do caráter fenício de seu povo e adversários históricos do governo “árabe” da Síria, os falangistas têm sediado (mesmo que com pouco entusiasmo) os ativistas sírios em suas zonas. Apesar dos esforços, até os mais isolacionistas dos libaneses não conseguem se desmembrar dos acontecimentos no país vizinho.
Já nos bairros controlados pelo Partido Nacionalista Socialista Sírio, cuja bandeira carrega uma versão estilizada da suástica em seu centro, os sírios que não gostam de Bashar são classificados como persona non grata. Defensores de teses heterodoxas, entre as quais a ilha de Chipre integraria uma suposta “Grande Síria” histórica que eles próprios sonham em dirigir, os Nacionalistas Socialistas conseguem ser mais barulhentos que o Hezbollah na defesa do governo de Damasco. No mosaico político de Beirute, onde diferentes milícias disputam milímetro por milímetro as ruas da capital, a sensação de uma guerra iminente a tempos não latejava com tanta força.
Mais uma vez, os refugiados
Talvez o que mais reforça esta ideia é a onda de refugiados sírios que tem-se abrigado no país durante os últimos dois anos. Segundo dados oficiais do Alto Comissariado da ONU, são mais de 450 mil refugiados cadastrados. Os números extra-oficiais falam em mais de um milhão.
Não são poucos os libaneses que tem alertado aos paralelos entre a onda de refugiados palestinos ao país, que supostamente empurrou-o a guerra civil entre 1975 a 1990, e a atual maré Síria. Em um país fraturado de apenas 4 milhões de habitantes, o influxo massivo dos sírios está desequilibrando a correlação de forças interna entre as facções do país. A solução apresentada a tal problema pelo governo libanês foi bastante simples. Está proibido no Líbano a construção de campos para os que fogem às barbáries da guerra. A ideia é deixar claro aos refugiados que eles não são bem-vindos.
A forma encontrada pelo governo para expressar tal sentimento, porém, tem somente empurrado os sírios para debaixo do tapete. A falta de tendas da ONU apenas os espreme nas cidades, onde grupos de famílias inteiras alugam poucos metros quadrados dos cômodos disponíveis. Há casos de famílias de refugiados que foram morar em prisões abandonadas, estábulos ou qualquer coisa que os possa proteger do frio e da chuva.
Para além do descaso governamental, estes refugiados lidam não só com o ambiente hostil da sociedade libanesa, pouco simpática a seus vizinhos, como também aos ataques físicos dos agrupamentos políticos que precisam assassinar sírios para se reafirmarem socialmente.
Um país inviável
Ataques a civis da Síria no Líbano, verdade seja dita, esta longe de ser uma nova realidade. No período anterior à revolução, o espancamento ou assassinato de grupos de trabalhadores migrantes, até então restritos as zonas cristãs, eram notícia comum. A novidade agora é sua democratização entre as diferentes seitas do país.
Devido a falta de mão de obra barata, o Líbano é historicamente um polo de atração de trabalhadores sírios. Não que os libaneses estejam vivendo o sonho do pleno emprego, a ausência de mão de obra se da menos pela grandeza da demanda que o fato de boa parte da juventude libanesa, em busca de trabalho descentes, foge assim que puder de seu próprio país.
Durante o século 19, quando o capitalismo foi introduzido na região que viria ser o Líbano, a economia passou a se basear essencialmente na exportação de seda à Europa e a importação de todo e qualquer outro bem. Os entornos do porto de Beirute tornaram-se o centro de onde esta capital se acumulou, deixando o resto da região na miséria.
A cidade portuária ganhou estados de porta de entrada e saída para o interior da Síria, e a partir dali, o resto do Oriente. Após a quebra da indústria da seda no início do século 20 e a danosa separação econômica entre Líbano e Síria, a economia do país reduziu-se ao setor de serviços, principalmente financeiros, importando praticamente tudo que podia. Em um país pequeno em que nada se produz, o desemprego tornou-se uma doença crônica, sendo o único verdadeiro patrimônio nacional as redes familiares pre-estabelecidas pelo mundo, que facilitam a imigração.
Numa tentativa de justificar a desastrosa estrutura socioeconómico do país, que na prática, expulsa seus jovens, desenvolveu-se a ideia de um gene especificamente atribuído ao povo fenício, que os transforma em grandes exploradores do mundo, e não imigrantes empobrecidos. Esqueceram-se também que o Monte Líbano, região onde o gene fenício é supostamente mais latente, nunca foi colonizado por tal povo, que se restringia a costa do mediterrâneo. Em meio a uma sociedade voltada quase inteiramente a negação de seu entorno, é compreensível a má fama de Heródoto.
(Uma versão resumida deste artigo foi publicada em O Estado de S. Paulo, 13 mai. 2013.)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Por que os médicos cubanos assustam

Fonte: Blog do Porfírio
Só em 2011, médicos cubanos recuperaram a visão  gratuitamente de2 milhões de pessoas em  35 países
Elite corporativista teme que mudança do foco no atendimento abale o nosso sistema mercantil de saúde

A virulenta reação do Conselho Federal de Medicina contra a vinda de 6 mil médicos cubanos para trabalhar em áreas absolutamente carentes do país é muito mais do que uma atitude corporativista: expõe o pavor que uma certa elite da classe médica tem diante dos êxitos inevitáveis do modelo adotado na ilha, que prioriza a prevenção e a educação para a saúde, reduzindo não apenas os índices de enfermidades, mas sobretudo a necessidade de atendimento e os custos com a saúde.
Essa não é a primeira investida radical do CFM e da Associação Médica Brasileira contra a prática vitoriosa dos médicos cubanos entre nós. Em 2005, quando o governador de Tocantins não conseguia médicos para a maioria dos seus pequenos e afastados municípios, recorreu a um convênio com Cuba e viu o quadro de saúde mudar rapidamente com a presença de apenas uma centena de profissionais daquele país.
A reação das entidades médicas de Tocantins, comprometidas com a baixa qualidade da medicina pública que favorece o atendimento privado, foi quase de desespero. Elas só descansaram quando obtiveram uma liminar de um juiz de primeira instância determinando em 2007 a imediata “expulsão” dos médicos cubanos.
No Brasil, o apego às grandes cidades
Dos  371.788 médicos brasileiros, 260.251 estão nas regiões Sul e Sudeste
Neste momento, o governo da presidenta Dilma Rousseff só está cogitando de trazer os médicos cubanos, responsáveis pelos melhores índices de saúde do Continente, diante da impossibilidade de assegurar a presença de profissionais brasileiros em mais de um milhar de municípios, mesmo com a oferta de vencimentos bem superiores aos pagos nos grandes centros urbanos.
E isso não acontece por acaso. O próprio modelo de formação de profissionais de saúde, com quase 58% de escolas privadas, é voltado para um tipo de atendimento vinculado à indústria de equipamentos de alta tecnologia, aos laboratórios e às vantagens do regime híbrido, em que é possível conciliar plantões de 24 horas no sistema público com seus consultórios e clínicas particulares, alimentados pelos planos de saúde.
Mesmo com consultas e procedimentos pagos segundo a tabela da AMB, o volume de clientes é programado para que possam atender no mínimo dez por turnos de cinco horas. O sistema é tão direcionado que na maioria das especialidades o segurado pode ter de esperar mais de dois meses por uma consulta.
Além disso, dependendo da especialidade e do caráter de cada médico, é possível auferir faturamentos paralelos em comissões pelo direcionamento dos exames pedidos como rotinas em cada consulta.
Sem compromisso em retribuir os cursos públicos
Há no Brasil uma grande “injustiça orçamentária”: a formação de médicos nas faculdades públicas, que custa muito dinheiro a todos os brasileiros, não presume nenhuma retribuição social, pelo menos enquanto não se aprova o projeto do senador Cristóvam Buarque, que obriga os médicos recém-formados que tiveram seus cursos custeados com recursos públicos a exercerem a profissão, por dois anos, em municípios com menos de 30 mil habitantes ou em comunidades carentes de regiões metropolitanas.
Cruzando informações, podemos chegar a um custo de R$ 792.000,00 reais para o curso de um aluno de faculdades públicas de Medicina, sem incluir a residência. E se considerarmos o perfil de quem consegue passar em vestibulares que chegam a ter 185 candidatos por vaga (UNESP), vamos nos deparar com estudantes de classe média alta, isso onde não há cotas sociais.
Um levantamento do Ministério da Educação detectou que na medicina os estudantes que vieram de escolas particulares respondem por 88% das matrículas nas universidades bancadas pelo Estado. Na odontologia, eles são 80%.
Em faculdades públicas ou privadas, os quase 13 mil médicos formados anualmente no Brasil não estão nem preparados, nem motivados para atender às populações dos grotões. E não estão por que não se habituaram à rotina da medicina preventiva e não aprenderam como atender sem as parafernálias tecnológicas de que se tornaram dependentes.
Concentrados no Sudeste, Sul e grandes cidades
Números oficiais do próprio CFM indicam que 70% dos médicos brasileiros concentram-se nas regiões Sudeste e Sul do país. E em geral trabalham nas grandes cidades. Boa parte da clientela dos hospitais municipais do Rio de Janeiro, por exemplo, é formada por pacientes de municípios do interior.
Segundo pesquisa encomendada pelo Conselho, se a média nacional é de 1,95 médicos para cada mil habitantes, no Distrito Federal esse número chega a 4,02 médicos por mil habitantes, seguido pelos estados do Rio de Janeiro (3,57), São Paulo (2,58) e Rio Grande do Sul (2,31). No extremo oposto, porém, estados como Amapá, Pará e Maranhão registram menos de um médico para mil habitantes.
A pesquisa “Demografia Médica no Brasil” revela que há uma forte tendência de o médico fixar moradia na cidade onde fez graduação ou residência. As que abrigam escolas médicas também concentram maior número de serviços de saúde, públicos ou privados, o que significa mais oportunidade de trabalho. Isso explica, em parte, a concentração de médicos em capitais com mais faculdades de medicina. A cidade de São Paulo, por exemplo, contava, em 2011, com oito escolas médicas, 876 vagas – uma vaga para cada 12.836 habitantes – e uma taxa de 4,33 médicos por mil habitantes na capital.
Mesmo nas áreas de concentração de profissionais, no setor público, o paciente dispõe de quatro vezes menos médicos que no privado. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar, o número de usuários de planos de saúde hoje no Brasil é de 46.634.678 e o de postos de trabalho em estabelecimentos privados e consultórios particulares, 354.536. Já o número de habitantes que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) é de 144.098.016 pessoas, e o de postos ocupados por médicos nos estabelecimentos públicos, 281.481.
A falta de atendimento de saúde nos grotões é uma dos fatores de migração. Muitos camponeses preferem ir morar em condições mais precárias nas cidades, pois sabem que, bem ou mal, poderão recorrer a um atendimento em casos de emergência.
A solução dos médicos cubanos é mais transcendental pelas características do seu atendimento, que mudam o seu foco no sentido de evitar o aparecimento da doença. Na Venezuela, os Centros de Diagnósticos Integrais espalhados nas periferias e grotões, que contam com 20 mil médicos cubanos, são responsáveis por uma melhoria radical nos seus índices de saúde.
Cuba é reconhecida por seus êxitos na medicina e na biotecnologia
Em sua nota ameaçadora, o CFM afirma claramente que confiar populações periféricas aos cuidados de médicos cubanos é submetê-las a profissionais não qualificados. E esbanja hipocrisia na defesa dos direitos daquelas pessoas.
Não é isso que consta dos números da Organização Mundial de Saúde. Cuba, país submetido a um asfixiante bloqueio econômico, mostra que nesse quesito é um exemplo para o mundo e tem resultados melhores do que os do Brasil.
Graças à sua medicina preventiva, a ilha do Caribe tem a taxa de mortalidade infantil mais baixa da América e do Terceiro Mundo – 4,9 por mil (contra 60 por mil em 1959, quando do triunfo da revolução) – inferior à do Canadá e dos Estados Unidos. Da mesma forma, a expectativa de vida dos cubanos – 78,8 anos (contra 60 anos em 1959) – é comparável a das nações mais desenvolvidas.
Com um médico para cada 148 habitantes (78.622 no total) distribuído por todos os seus rincões que registram 100% de cobertura, Cuba é, segundo a Organização Mundial de Saúde, a nação melhor dotada do mundo neste setor.
Segundo a New England Journal of Medicine, “o sistema de saúde cubano parece irreal. Há muitos médicos. Todo mundo tem um médico de família. Tudo é gratuito, totalmente gratuito. Apesar do fato de que Cuba dispõe de recursos limitados, seu sistema de saúde resolveu problemas que o nosso [dos EUA] não conseguiu resolver ainda. Cuba dispõe agora do dobro de médicos por habitante do que os EUA”.
O Brasil forma 13 mil médicos por ano em 200 faculdades: 116 privadas, 48 federais, 29 estaduais e 7 municipais. De 2000 a 2013, foram criadas 94 escolas médicas: 26 públicas e 68 particulares.
Formando médicos de 69 países
Estudantes estrangeiros na Escola Latino-Americana de Medicina
Estudantes estrangeiros na ELAM
Em 2012, Cuba, com cerca de 13 milhões de habitantes, formou em suas 25 faculdades, inclusive uma voltada para estrangeiros, mais de 11 mil novos médicos: 5.315 cubanos e 5.694 de 69 países da América Latina, África, Ásia e inclusive dos Estados Unidos.
Atualmente, 24 mil estudantes de 116 países da América Latina, África, Ásia, Oceania e Estados Unidos (500 por turma) cursam uma faculdade de medicina gratuita em Cuba.
Entre a primeira turma de 2005 e 2010, 8.594 jovens doutores saíram da Escola Latino-Americana de Medicina. As formaturas de 2011 e 2012 foram excepcionais com cerca de oito mil graduados. No total, cerca de 15 mil médicos se formaram na Elam em 25 especialidades distintas.
Isso se reflete nos avanços em vários tipos de tratamento, inclusive em altos desafios, como vacinas para câncer do pulmão, hepatite B, cura do mal de Parkinson e da dengue. Hoje, a indústria biotecnológica cubana tem registradas 1.200 patentes e comercializa produtos farmacêuticos e vacinas em mais de 50 países.
Presença de médicos cubanos no exterior
Desde 1963, com o envio da primeira missão médica humanitária à Argélia, Cuba trabalha no atendimento de populações pobres no planeta. Nenhuma outra nação do mundo, nem mesmo as mais desenvolvidas, teceu semelhante rede de cooperação humanitária internacional. Desde o seu lançamento, cerca de 132 mil médicos e outros profissionais da saúde trabalharam voluntariamente em 102 países.
No total, os médicos cubanos trataram de 85 milhões de pessoas e salvaram 615 mil vidas. Atualmente, 31 mil colaboradores médicos oferecem seus serviços em 69 nações do Terceiro Mundo.
No âmbito da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), Cuba e Venezuela decidiram lançar em julho de 2004 uma ampla campanha humanitária continental com o nome de Operação Milagre, que consiste em operar gratuitamente latino-americanos pobres, vítimas de cataratas e outras doenças oftalmológicas, que não tenham possibilidade de pagar por uma operação que custa entre cinco e dez mil dólares. Esta missão humanitária se disseminou por outras regiões (África e Ásia). A Operação Milagre dispõe de 49 centros oftalmológicos em 15 países da América Central e do Caribe. Em 2011, mais de dois milhões de pessoas de 35 países recuperaram a plena visão.
Quando se insurge contra a vinda de médicos cubanos, com argumentos pueris, o CFM adota também uma atitude política suspeita: não quer que se desmascare a propaganda contra o regime de Havana, segundo a qual o sonho de todo cubano é fugir para o exterior. Os mais de 30 mil médicos espalhados pelo mundo permanecem fiéis aos compromissos sociais de quem teve todo o ensino pago pelo Estado, desde a pré-escola e de que, mais do que enriquecer, cumpre ao médico salvar vidas e prestar serviços humanitários.
Fonte: Blog do Porfírio

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A educação latino-americana em evidência: Cuba x Brasil







Cuba aparece nos dados comparativos da ordem mundial burguesa, como o primeiro país em controle do analfabetismo. Modelo educacional brasileiro é o oposto e está relacionado à vitória do capital transnacional










Por Roberta Traspadini na Rádioagência NP





Depois da queda do muro de Berlim e da ofensiva neoliberal na América Latina, propagandeia-se o fim do socialismo cubano e a vitória hegemônica do capitalismo monopólico transnacional.

Se é verdade que o fim Guerra Fria trouxe uma fragilização do socialismo real no âmbito mundial, também o é que o exemplo educacional cubano segue forte, na condução de um modelo educacional público, universalizado, gratuito e de qualidade.

O exemplo cubano

A UNESCO, em seu relatório mundial sobre educação em 2011, fez uma radiografia do sistema cubano e explicitou porque este país é um exemplo concreto para o mundo de uma educação exitosa.

O artigo 205 da constituição cubana garante a educação pública, gratuita e de qualidade para todos os seus cidadãos, independente da posição socioeconômica na qual se encontram.

Mas é o artigo 39 o que chama mais atenção, quando afirma três princípios básicos revolucionários de uma educação de qualidade: a. Garantia de avanço na ciência e na tecnologia; b. Referencial marxista e martiano de ser social que se pretende formar; c. Demarcação da tradição pedagógica progressista cubana e universal.

Juntos, os dois artigos explicitam o teor do público-gratuito-de qualidade. A sustentação em conteúdo de um posicionamento político que garante o direito à reflexão crítica e à formação continuada, com centralidade dos gastos do governo em educação.

Os aspectos qualitativos dos dados cubanos

Com uma população de 11.247.925, Cuba conta com 2.193.312 matriculados nas respectivas faixas etárias educativas.

São 9.673 escolas públicas, 298.508 professores, 170 mil bolsistas, e 908 mil estudantes em escolas semi-internas.

Segundo os dados oficiais referentes a 2010 e 2011, formaram-se 85.757 cubanos, 23,4% em cursos técnicos, 31,4% em ciências médicas, 14,9% em pedagogia, 9.9% em economia e 20,4% em outras áreas.

A participação em cursos de pós-graduação em 2010 merece destaque. Havia mais de 500 mil cubanos matriculados em cursos continuados após a graduação. 307.932 em cursos gerais; 144.640 em mestrados e especializações; 41.048 em diplomados; 27.047 em profissionalizantes, 5.776 em doutorados.

Para isto, são gastos 30% do PIB cubano, que é de U$60 bilhões, com educação, saúde e garantias sociais.

Vale destaque a ação internacionalista de Cuba, que recebe na escola latino-americana vários filhos da classe trabalhadora, tanto para cursos da área de ciências e humanidades, quanto de ciências médicas.

Com uma política concreta de educação pública de qualidade, Cuba aparece, nos dados comparativos da ordem mundial burguesa, como o primeiro país em controle do analfabetismo e exportador do modelo de alfabetização "sí yo puedo", em que, com recursos didáticos magistrais, ensina como ler nas letras o que já se lê no cotidiano.

Será o exemplo cubano um mero acaso? Um caso especifico? Ou será a confirmação da incompatibilidade entre desenvolvimento do capitalismo e pensamento crítico, com educação pública universalizada e princípios políticos claros sobre o ser social que se deseja (trans)formar?

E o caso brasileiro? O que temos a dizer?

O modelo educacional brasileiro é oposto de Cuba. O cotidiano manifesta, por si só, o fracasso da universalidade, gratuidade e supremacia do público no sistema educativo brasileiro, sendo oposto ao modelo cubano.

A atual falência do modelo brasileiro de educação está diretamente relacionada à vitória do capital transnacional na conduta política da ordem e do progresso brasileiro, a partir dos anos 90.

As reformas educacionais foram revendo os princípios constitucionais de garantia pública, gratuita e de qualidade, e direcionando seu sentido para a privatização da educação, cujo rumo é dirigido pelos princípios ético-morais do capital contando com o financiamento público, para a realização de sua orgia.

O vergonhoso piso mínimo salarial dos professores da educação básica e média, a política de contratação de temporários como regra e as inúmeras parcerias público-privadas são a gênese da atual educação "pública" brasileira.

Basta olharmos o cotidiano nacional de greves para constatarmos o absurdo. Nessa luta se insere a defesa dos 10% do PIB para a educação PÚBLICA.

O Brasil figura entre as sete maiores economias do mundo. O orçamento público de 2011 foi de aproximadamente R$1,5 trilhões. Deste total, 45% foram gastos com o pagamento de dívidas e amortizações e 3% foram gastos com educação, seja ela pública ou em parceria privada, segundo a auditoria cidadã da dívida.

O artigo 214 da constituição não prevê ser obrigação total do Estado a universalização da educação. Tem como objetivos a erradicação do analfabetismo; universalização do atendimento escolar; melhoria da qualidade do ensino; formação para o trabalho; promoção humanística, científica e tecnológica do País; e estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto.

Chama a atenção, na página do MEC, o financiamento da educação, FIES, como outro aspecto claro de mercantilização deste direito social.

Exemplos concretos de mercantilização da educação

Para fortalecer a campanha pela melhoria da educação em que o poder público não assume seu protagonismo, a organização Todos pela educação, apresenta-se como uma entidade-apoio ao desenvolvimento brasileiro. Entre seus mantenedores-parceiros estão: Instituto Camargo Corrêa, Santander, Fundação Bradesco, Rede Globo, Suzano Papel Celulose, Gerdau, Itaú BBA, Instituto Ayrton Sena, Faber Castell, BID, HSBC, etc.

O canal Agência do Estado noticiou, esta semana, a fusão entre dois grandes capitais da educação brasileira: Kroton e Anhanguera. Juntas, faturam anualmente R$ 4,3 bilhões, através das 800 unidades de ensino superior e as 810 escolas associadas distribuídas pelo País.

No site da Anhanguera lemos sua missão: "ser uma das maiores instituições de ensino superior do mundo e oferecer aos seus alunos a melhor relação custo versus qualidade". Para isto, conta com financiamento, crédito educativo, e amplas formas de transações, enquanto uma empresa de capital aberto, para facilitar a permanência-conclusão dos estudantes no ensino.

No site da Krotan, além do mapa do Brasil ocupado pela empresa, reitera, via fundação Pitágoras, sua ação na "responsabilidade social", tendo como parcerias para a auto-sustentação financeira: Embraer, Grupo Gerdau, Instituto Camargo Correia, Grupo Votorantim, Fundação Arcelor Mittal e Instituto Unibanco".

Cuba x Brasil: dois modelos opostos de educação

A educação pública virou um grande negócio. Cantinas terceirizadas, venda de uniformes e de materiais escolares, sucateamento da merenda escolar. Isto, somado à falta de recursos para a qualificação profissional e às péssimas condições da superexploração da força de trabalho, mostra a real face mercantil da educação pública brasileira.

Esse Brasil da ordem e do progresso do capital transnacional evidencia o atual estágio de desenvolvimento do capitalismo brasileiro, em que a regra é a financeirização da riqueza e a internacionalização da produção-circulação das mercadorias, às custas de uma maior opressão das condições de vida da classe trabalhadora brasileira.

Entre o exemplo cubano e a realidade brasileira, façam suas escolhas. Nesse quesito, não tenho dúvida: sou cubana, bolivariana, latino-americana, na educação, na saúde, no modelo de desenvolvimento, antes que a morte anunciada pelo capital nos mate.

Roberta Traspadini é professora da ENFF e da UFVJM, integrante da Consulta Popular no Brasil.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

É preciso contar a verdadeira história da Palestina


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Palestina - Brasil de Fato- Deir Yassin, como acontecimento e como representação política, permanece como componente decisivo da luta palestina por liberdade, mas a história da qual o massacre faz parte continua a sujeitar-se ao preconceito – ou, mais especificamente, ao racismo – da academia e da mídia.

No início de abril os palestinos do mundo inteiro relembraram o massacre de Deir Yassin, ocorrido em 9 de abril de 1948. Na consciência palestina, o massacre, que tirou a vida de mais de 100 pessoas inocentes, representou a face cruel do sionismo – a base ideológica sobre a qual o Estado de Israel foi fundado. Ao longo dos anos, as lembranças aterradoras associadas a Deir Yassin transformaram-se em algo mais do que sua representação imediata como ato criminoso deliberado, com objetivos políticos, e sobreviveram como uma cicatriz permanente no centro de uma memória coletiva carregada de muitos massacres como o de Deir Yassin.
Deir Yassin, como acontecimento e como representação política, permanece como componente decisivo da luta palestina por liberdade, mas a história da qual o massacre faz parte continua a sujeitar-se ao preconceito – ou, mais especificamente, ao racismo – da academia e da mídia.
O massacre de Deir Yassin é amplamente aceito no pensamento israelense e ocidental porque os líderes sionistas da época desejavam destacá-lo como uma tática terrorista bem-sucedida para tirar centenas de milhares de palestinos das terras que lhes pertenciam. Entretanto, outros massacres cometidos pelas forças sionistas durante a Nakba (catástrofe) palestina passam ao largo do conhecimento israelense e ocidental sobre a Palestina e sua história encharcada de sangue, e isso porque esses massacres foram contados, em sua maioria, apenas pelos palestinos.
Trata-se de uma tragédia na qual nem a vítima obtém justiça nem sua vitimização é admitida por aquilo que foi e é. Muitos massacres cometidos contra palestinos estão ocultos porque, a menos que sejam reconhecidos por historiadores israelenses, para as audiências ocidentais é como se eles nunca tivessem acontecido.
Somente quando o jornalista israelense Amir Gilat decidiu publicar um artigo, alguns anos atrás, no jornal israelense Ma'ariv, citando a pesquisa de Theodore Katz, estudante de pós-graduação de Israel, foi que a mídia ocidental reconheceu, ou ao menos concordou em debater, o massacre de Tantura. Pouco lhes importou que descendentes e familiares das 240 vítimas dessa vila destroçada, assassinadas a sangue-frio pelas tropas da Brigada Alexandroni, nunca cessassem de relembrar seus entes queridos.
Ao longo dos 65 anos da conquista sionista da Palestina e do início do "problema dos refugiados palestinos" – que também pode ser lido como "genocídio" por quem ousa enfrentar as sensibilidades israelenses-ocidentais –, a história da Palestina vem sendo filtrada pelos mesmos mecanismos de décadas atrás. No entanto, é hora de o direito à narrativa verossímil, até agora reservado aos historiadores israelenses, ser assumidamente desafiado.
Quem cavar fundo o texto histórico palestino ficará admirado com a história verdadeira de seu povo, suas muitas tragédias e suas volumosas, fascinantes narrativas de uma civilização profundamente arraigada, insuperável em suas singularidade e continuidade históricas. A representação – ou falsificação – da narrativa palestina, porém, existe na academia, na mídia e até mesmo na imaginação popular ocidentais, tecida por um "conhecimento" cuidadosamente fabricado com o qual os narradores israelenses gentilmente decidiram revesti-la. Remova-se o vínculo israelense com a compreensão ocidental sobre tudo o que diz respeito à Palestina e ter-se-á um espaço vazio de textos desconexos que têm muito pouco de um discurso alternativo.
O caso de Deir Yassim foi largamente aceito como massacre porque historiadores israelenses como Benny Morris – um pesquisador razoavelmente honesto que permaneceu comprometido com o sionismo, a despeito da história macabra que ele mesmo descobriu – admitiram sua existência como fato histórico. "Famílias inteiras foram perfuradas por balas [...] homens, mulheres e crianças foram chacinados à medida que saíam de suas casas; indivíduos eram postos de lado e assassinados. A inteligência da Haganah relatou: 'Havia pilhas de mortos. Alguns dos detidos, levados a locais de encarceramento, incluindo mulheres e crianças, eram cruelmente assassinados por seus captores [...]".
Foram as milícias sionistas do Irgun, de Menachem Begin, e da Stern Gang, lideradas por Yitzhak Shamir, que receberam o crédito pela infâmia cometida naquele dia – e ambos os líderes foram generosamente recompensados pela atrocidade de seus atos. Anos depois, esses homens passaram da condição de criminosos procurados para a de primeiros-ministros.
O massacre de Tantura tem uma boa chance de deixar de ser mera ficção palestina e tornar-se história verdadeira porque um estudante israelense resolveu desafiar o discurso oficial de seu país, que insiste em retratar Israel como um oásis de democracia e de pureza histórica.
Numerosas vilas palestinas e seus habitantes, submetidos ao genocídio de 1948 (conhecido, nos círculos polidos, como "limpeza étnica"), não conseguiram fazer o corte histórico, como se continuassem a esperar que um historiador israelense validasse a afirmação de que esse genocídio realmente ocorreu.
Numa comunicação recente, o dr. Salman Abu Sitta, um dos principais historiadores palestinos da Nakba, disse: "A ironia é que aquilo que o suspeito Benny Morris e o respeitado Ilan Pappé escreveram é o que os palestinos vêm dizendo há mais de seis décadas. A mídia dominada pelo sionismo é surda e muda. Trata-se do orientalismo em sua pior forma". Sem dúvida.
Massacre de Tantura
O assunto, entretanto, é tão relevante hoje como era há 65 anos. Os descendentes dos que sobreviveram à Nakba e às subsequentes guerras e massacres são, em sua maioria, refugiados na própria Palestina ou em outros países do Oriente Médio e do mundo. Nem seus ancestrais receberam justiça, nem a geração atual obteve a restituição do que pertencia a seus ascendentes. De Deir Yassim a Tantura, de Ain Al Hilweh a Yarmouk e Jabalya, a escala de sofrimento é a mesma, e permanente.
Mas isso precisa mudar. Sem uma narrativa palestina autêntica, isenta de adulterações, nenhum entendimento verdadeiro da Palestina e de seu povo – até mesmo por aqueles considerados simpáticos à causa palestina – pode ser alcançado. Uma narrativa centrada em relatos que reflitam a história, a realidade e as aspirações da gente comum permitirá uma compreensão genuína da verdadeira dinâmica que move o conflito. Essa narrativa, que faz justiça a toda uma geração de palestinos, é poderosa o bastante para desafiar a parcialidade e a polarização atuais.
Deir Yassin deve ser tão relevante para o presente como essencial para revelar o passado. Não apenas existiram muitos massacres como Deir Yassin, de variadas formas, como Deir Yassim é o microcosmo de um drama muito maior, que continua acontecendo na Palestina. Se o Deir Yassin original, e outros massacres, forem desprezados, considerados anomalias históricas irrelevantes, então o presente permanecerá contaminado e incompreendido.
É tempo de os historiadores palestinos darem um passo adiante e reivindicarem o que é, essencialmente, a sua narrativa, desafiando os preconceitos da mídia e avançando, com coragem, além dos limites permitidos por Israel, desafiando também, portanto, o controle intelectual sobre o discurso palestino.
*Ramzy Baroud, palestino da diáspora, é colunista internacional e editor do site Palestine Chronicle (http://palestinechronicle.com). Seu mais recente livro é My Father Was a Freedom Fighter: Gaza's Untold History [Meu pai era um revolucionário: a história não contada de Gaza], publicado pela Pluto Press.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Uma (bem-vinda) bomba sacode a área ambiental



Operação da PF colocará a prova argumentos dos defensores da flexibilização da legislação ambiental.

Marco Weissheimer


Ambientalistas não cansaram de denunciar nos últimos anos atropelos à legislação para acelerar a aprovação de obras e empreendimentos das mais variadas naturezas. Imaginava-se que a situação na gestão ambiental de Porto Alegre e do Estado estava cheia de problemas. Mas, se alguém dissesse que, numa determinada manha de segunda-feira, os secretários do Meio Ambiente da capital e do Estado seriam presos acusados de fraudar licenciamentos ambientais, provavelmente seria chamado de louco. Pois aconteceu. A notícia caiu como uma bomba na manhã desta segunda-feira chuvosa e cinzenta. Em uma ação conjunta com o Ministério Público Estadual, a Polícia Federal prendeu, na madrugada desta segunda (29), o secretário estadual do Meio Ambiente, Carlos Niedersberg, o secretário municipal do Meio Ambiente, Luiz Fernando Záchia, e o ex-secretário do Meio Ambiente, Berfran Rosado, entre outras pessoas (os nomes foram divulgados, inicialmente, pelo jornal Zero Hora, em sua edição on-line).
Em nota oficial, a Polícia Federal anunciou que deflagrou a Operação Concutare com o objetivo de reprimir crimes ambientais, crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro. A operação, diz ainda a PF, iniciou em junho de 2012 e identificou um “grupo criminoso formado por servidores públicos, consultores ambientais e empresários”. Os investigados atuariam na “obtenção e na expedição de concessões ilegais de licenças ambientais e autorizações minerais junto aos órgãos de controle ambiental”.
Ainda segundo a mesma nota, cerca de 150 policiais federais participam da operação para executar 29 mandados de busca e apreensão e 18 mandados de prisão temporária expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. As ordens judiciais estão sendo cumpridas nos municípios de Porto Alegre, Taquara, Canoas, Pelotas, Caxias do Sul, Caçapava do Sul, Santa Cruz do Sul, São Luiz Gonzaga e também em Florianópolis. As investigações foram conduzidas pela Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e ao Patrimônio Histórico e pela Unidade de Desvios de Recursos Públicos da Polícia Federal no Rio Grande do Sul.
A operação foi batizada de Concutare, numa referência ao termo latino que significa concussão (segundo o Código Penal brasileiro: ato de exigir para si ou para outrem dinheiro ou vantagem em razão da função, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. Os investigados, anunciou ainda a Polícia Federal, serão indiciados por “corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, crimes ambientais e lavagem de dinheiro, conforme a participação individual.”
As consequências políticas da Operação Concutare foram imediatas. De Tel Aviv, onde cumpre missão oficial, o governador do Estado, Tarso Genro, anunciou o afastamento de Carlos Niedersberg. O mesmo fez o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati.
Operação Moeda Verde
A Operação Concutare lembra outra operação desencadeada pela Polícia Federal também na área ambiental. Em maio de 2007, a PF desencadeou em Florianópolis a Operação Moeda Verde, que teve como alvo um esquema de venda de leis e atos administrativos de conteúdo ambiental e urbanístico em favor da construção de grandes empreendimentos imobiliários na ilha de Santa Catarina. Naquela época, a Justiça Federal expediu 22 mandados de prisão temporária contra políticos, empresários e funcionários públicos de Florianópolis acusados de negociar licenças ambientais. A Operação Moeda Verde investigou a ocorrência de crimes contra a ordem tributária, falsificação de documentos, uso de documentos falsos, formação de quadrilha, corrupção e tráfico de influência.
O alvo inicial da Polícia Federal era um empreendimento em Jurerê Internacional, localizado no norte da ilha. A partir daí, as investigações conduziram os policiais para pelo menos outros três empreendimentos de grande porte construídos em áreas de marinha, mangues e restingas, o que é proibido pela legislação. Segundo a PF, todos tinham sido licenciados de forma irregular através de “vantagens devidas”, que incluíam o pagamento de valores em espécie, troca de favores entre órgãos públicos e uso de carros.
Seis anos depois, uma operação similar sacode agora a área ambiental no Rio Grande do Sul. Será uma ótima oportunidade não só de averiguar como anda a administração pública nesta área, mas também de conhecer quem são as empresas dispostas a corromper funcionários públicos para “agilizar” a concessão de licenciamentos ambientais. A explosão imobiliária nas grandes cidades brasileiras costuma ser marcada por uma falta de transparência quanto aos processos de licenciamento ambiental necessários para a autorização de obras. Em Porto Alegre, por exemplo, o aumento do número de condomínios de luxo na zona sul, em áreas próximas de morros (ou mesmo invadindo morros) e do Guaíba envolve a aprovação de muitas licenças ambientais. O mesmo se aplica à gestão ambiental nas áreas estadual e federal.
O que significa flexibilizar a legislação ambiental?
Será uma boa oportunidade também para testar os argumentos dos defensores da necessidade de flexibilizar a legislação ambiental e agilizar os processos de licenciamento. Debates recentes envolvendo mudanças no Código Florestal, liberação de transgênicos, de agrotóxicos e de grandes obras são marcados por uma lógica argumentativa que, espremida, revela-se impregnada de irracionalidade. Uma impregnação que se espraia por boa parte do espectro político, reunindo direita e esquerda em torno de muitas posições.
A argumentação utilizada por esses setores começa sempre afirmando, é claro, a importância de proteger o meio ambiente para, logo em seguida colocar um senão: não podemos ser radicais nesta questão, precisamos gerar renda e emprego, desenvolver o país, etc. e tal. É curioso e mesmo paradoxal que essa argumentação apele para um bom senso mítico que seria sempre o resultado de uma média matemática entre dois extremos. Você quer 2, ele quer 10, logo o bom senso nos diz para dar 6. Esse cálculo infantil pode funcionar para muitas coisas, mas certamente não serve para buscar respostas à destruição ambiental do planeta, que não cessa de aumentar.
É curioso também, mas não paradoxal neste caso, que a argumentação utilizada pelos defensores do “desenvolvimento” seja sempre a mesma, com algumas variações. Supostamente recoberta por um bom senso capaz de conciliar desenvolvimento com proteção do meio ambiente (combinação que até hoje tem sido usada para justificar toda sorte de crimes ambientais), essa argumentação, na verdade, é atravessada por falácias e por uma irracionalidade profunda, na medida em que, em última instância, volta-se contra o futuro da própria espécie humana.

sábado, 27 de abril de 2013

Filmografia completa de Charles Chaplin

créditos: cinearteum

Charles Spencer Chaplin nasceu em 16 de abril de 1889 em WalworthInglaterra. Faleceu no natal de 1977 em Vevey, Suíça. Foram 88 anos de vida, tendo boa parte sido dedicada ao cinema. Além de atuar era também diretor, produtor, roteirista, compositor, câmera, editor, etc. Sabia tudo de cinema. Foi um dos
fundadores da United Artists. O cinema de hoje deve muito a ele. Coletei informações com a filmografia completa do mestre. Algumas obras estão com link para assistir online.

1967 A Countess from Hong Kong - A Condessa de Hong Kong 

1957 A King in New York

1952 Limelight - Luzes da Ribalta





1928 The Circus - O Circo

1926 A Dama das Camélias – Camille


1923 A Woman of Paris: A Drama of Fate - Casamento ou Luxo

1923 The Pilgrim

1922 Pay Day

1922 Nice and Friendly




1919 Sunnyside



1918 The Bond

1918 Triple Trouble

1918 A Dog´s Life - Vida de Cachorro

1917 The Adventurer - O Aventureiro

1917 The Immigrant - O Imigrante


1917 Easy Street - Rua da Paz

1916 The Rink

1916 Behind the Screen - Carlitos no Estúdio


1916 The Count

1916 One A.M.

1916 The Vagabond - O Vagabundo


1916 The Floorwalker

1916 Police

1915 Burlesque on Carmen


1915 Shanghaied

1915 The Bank

1915 A Woman

1915 Work

1915 His Regeneration

1915 By the Sea

1915 The Tramp

1915 A Jitney Elopement

1915 In the Park

1915 The Champion

1915 A Night Out

1915 His New Job


1914 Getting Acquainted

1914 Tillie´s Punctured Romance - Carlitos O Inesquecível

1914 His Trysting Place

1914 His Musical Career

1914 Gentlemen of Nerve

1914 Dough and Dynamite

1914 Those Love Pangs


1914 The Rounders

1914 His New Profession

1914 The Masquerader

1914 Recreation

1914 The Face on the Bar Room Floor

1914 The Property Man

1914 Laughing Gas

1914 Mabel's Married Life

1914 Mabel's Busy Day

1914 The Knockout

1914 Her Friend the Bandit

1914 The Fatal Mallet

1914 A Busy Day

1914 Caught in the Rain

1914 Caught in a Cabaret

1914 Twenty Minutes of Love

1914 Mabel at the Wheel

1914 The Star Boarder

1914 Cruel, Cruel Love

1914 His Favorite Pastime

1914 Tango Tangles

1914 A Film Johnnie

1914 Between Showers

1914 A Thief Catcher

1914 Carlitos no Hotel