segunda-feira, 27 de maio de 2013

Direito à Saúde e governo Dilma: nada a ver. O caso dos médicos cubanos





Há cerca de um mês, a imprensa repercute notícias sobre medidas para facilitar a contratação de médicos estrangeiros para áreas de difícil fixação destes profissionais (como no interior do país). A medida mais polêmica diz respeito à iniciativa de contratar cerca de 6 mil médicos vindos de Cuba. Há dois tipos de reação mais comuns: os tradicionais donos do Brasil destilam argumentos reacionários e preconceituosos contra a proposta. No outro pólo, o governismo acrítico acredita que, finalmente, a presidenta encontrou a salvação definitiva para o problema. O Setorial de Saúde do Partido Socialismo e Liberdade quer discutir os possíveis desdobramentos deste pequeno e insuficiente avanço numa conjuntura de enormes ataques do governo Dilma ao SUS.

A existência de médicos estrangeiros não é incomum em outros países. Nos EUA, 27% do total de médicos atuantes são formados no exterior; no Reino Unido, 37%; quase metade dos residentes em Medicina de Família e Comunidade na Espanha é de fora da União Europeia. E o problema persiste: de acordo com a Association of American Medical Colleges, os EUA terão 63 mil médicos a menos do que precisam, em 2015 (http://www.nytimes.com/2012/07/29/health/policy/too-few-doctors-in-many-us-communities.html), e são acusados de “roubar” médicos dos países pobres (http://www.nytimes.com/2012/03/11/magazine/america-is-stealing-foreign-doctors.html?pagewanted=all&_r=0). Ainda assim, os EUA têm 2,4 médicos por mil habitantes, nível comparável ao de Reino Unido (2,7) e menor que o da Espanha (4). Cuba tem o melhor índice: 6,7. Em nosso país, a força de trabalho médica ainda é um luxo (1,8 médicos por mil habitantes), se comparado àqueles (dados do Banco Mundialhttp://data.worldbank.org/indicator/SH.MED.PHYS.ZS).

O Brasil é um país em que as diferenças entre classes ricas e classes pobres, estados ricos e estados pobres e entre cidades do interior e grandes cidades, são gritantes. Estas diferenças se expressam, por exemplo, na renda familiar, no consumo de alimentos saudáveis, no acesso à educação de qualidade, no tempo gasto para ir e voltar do trabalho e na existência de rede de esgoto. Os problemas de acesso a profissionais de saúde (o caso mais grave é dos médicos) e a medicamentos são uma expressão do país segregado em que vivemos. Como a situação de saúde do povo brasileiro é determinada por todos estes fatores, sabemos que apenas transformações profundas poderiam mudar radicalmente o cenário. Não é o que acontece no Brasil de hoje

Mesmo assim, uma medida que conseguisse paliar este problema seria digna de elogio. No entanto, o governo até o momento não fez nenhum anúncio oficial (http://www.cebes.org.br/internaEditoria.asp?idConteudo=4405&idSubCategoria=56), como, de resto, tem sido sua prática: negociar as grandes questões nacionais por debaixo dos panos, sem debate público. Exemplo é a proposta de mais isenções aos empresários da saúde.

Supondo que os rumores sejam verdade e que o governo Dilma resolva se contrapor ao conservadorismo das corporações médicas, seria de se apoiar a contratação de médicos formados em Cuba pelas seguintes razões: em primeiro lugar, pela qualidade da formação dos médicos, que desde o começo do curso estagiam em unidades de Saúde da Família e sabem que a saúde não é apenas prescrição de medicamentos ou realização de exames, mas embasam sua prática clínica na noção de que a vida social é que determina as condições de saúde de uma população. Por isso, são profissionais que, mais que curarem diarreia ou prescreverem remédios para hipertensão, trabalham na perspectiva do cuidado integral à saúde: tratamento, prevenção, reabilitação, promoção.

Em segundo lugar, o Brasil precisa beber desta vasta experiência. Cuba, mesmo sendo um país pobre, tem expectativa de vida, mortalidade infantil, mortalidade materna, e muitos outros indicadores melhores que os nossos e que o resto da América Latina, segundo a Organização Panamericana de Saúde  (http://new.paho.org/hq/index.php?option=com_content&task=view&id=2470&Itemid=2003). Em artigo recente publicado no “New England Journal of Medicine”, um dos mais importantes periódicos médicos no mundo, o sistema cubano foi bastante elogiado (conforme lembrou o médico Pedro Saraivahttp://www.sul21.com.br/jornal/2013/05/a-questao-da-vinda-dos-medicos-cubanos-para-o-brasil/). Apenas a idiotia incurável da revista “Veja” é capaz de condenar os sensacionais avanços da saúde cubana desde o triunfo da revolução. Se considerarmos então o histórico de solidariedade internacional por parte de Cuba, e a atuação desses médicos em mais de 70 países, por mais de quatro décadas (frequentemente nas condições mais adversas), a virulência dos ataques fica ainda mais despropositada. Sendo assim, é de enorme irresponsabilidade condenar o alívio que seria para milhares de municípios, vilas, lugarejos, aldeias ou ribeiras, poder contar, muitos pela primeira vez, com profissionais médicos bem formados.

No entanto, os aspectos positivos desta suposta medida não devem aparentar ser mais importantes do que de fato são. A extrema concentração de médicos no setor privado cresce sem controle. De acordo com estudo do CFM publicado em 2011, há quatro vezes mais médicos no setor privado que no público, e entre 2002 e 2009 a diferença cresceu. Para piorar, o governo Dilma empreende ataques organizados aos marcos constitucionais do SUS e está colocando em risco a noção de direito à saúde construída pela Reforma Sanitária.

Assim, a escassez absoluta e relativa (referente às desigualdades regionais e entre o SUS e a saúde privada) da força de trabalho médica tende a crescer com o avanço da privatização feita pelo governo federal. Assim, a chegada dos médicos estrangeiros não apenas não irá resolver o problema, como ocorrerá em vigência de outro retrocesso político de Dilma: o sucateamento da Atenção Primária à Saúde (APS).

Todos os países com sistemas universais de saúde (como Cuba, Reino Unido, Espanha, Canadá, Portugal) centram sua organização na APS, que utiliza médicos generalistas. O governo Dilma rema no sentido contrário: investe em Unidades de Pronto-Atendimento, centra esforços em parte de cuidados especializados, medidas importantes, mas quando tomadas de forma isolada prejudicam o atendimento à saúde. Para piorar, suas “soluções de emergência” para o problema da APS, como o PROVAB, redundaram em estrondoso fracasso: muitos médicos desistem de trabalhar nas equipes de áreas mais carentes e distantes, pela absoluta falta de estrutura e apoio prometidos pelo Ministério da Saúde. A falta de médicos generalistas,  mais grave nas periferias, estados pobres e cidades pequenas, continua gritante.

Neste cenário, a precariedade é regra: cerca de 70% da força de trabalho do SUS trabalha sob contratos precários, sem garantia de recebimento de salários e direitos. E aqui reside outro problema que não tem solução pela vinda dos médicos estrangeiros: as deficiências da política brasileira de saúde ocorrem pela carência de todos os tipos de profissionais de saúde (não apenas médicos) no sistema público de saúde – caso curioso de perversidade à brasileira, já que há milhares de psicólogos, enfermeiras, fisioterapeutas, entre outros, desempregados.

Além disso, a contrarreforma universitária iniciada por FHC e continuada por Lula e Dilma deixou a formação da força de trabalho médica nas mãos dos empresários da saúde. Isto desvirtua o processo de formação de profissionais, que deveria ser na lógica do direito à saúde, passando a se dar nos marcos da ultramercantilização dos direitos sociais dos últimos anos. Esta tendência os médicos cubanos não têm capacidade de reverter.

Por fim, a suposta proposta do governo não muda a enorme desigualdade na distribuição de médicos em áreas chave como urgência/emergência ou cuidados especializados e de alta complexidade no SUS. Do contrário, as políticas de Dilma têm acentuado o caráter privatizado destes setores, que continuarão como gargalos no acesso aos serviços de saúde por parte da maioria do povo brasileiro.

Em suma, a vinda de médicos cubanos para trabalhar em áreas de difícil fixação tem valor. No entanto, como na maior parte das políticas sociais dos governos petistas, uma fachada “progressista” procura encobrir os retrocessos tremendos. Ao acenar com a possibilidade de amainar as carências históricas do povo brasileiro no acesso a serviços de saúde em uma conjuntura de ataques frontais ao SUS, o governo Dilma combina demagogia com privatização e quer convencer de que isto ajudaria na construção do direito à saúde.

A falta completa de perspectiva de uma política universalista de saúde no curto, médio e longo prazo atesta o profundo distanciamento deste governo com os movimentos que, no passado e no presente, sonharam e sonham com uma totalidade de mudanças em direção à emancipação do povo brasileiro.

A história de Cuba mostra que nas sociedades periféricas e de origem colonial, o protagonismo do povo foi decisivo para derrotar os interesses do imperialismo e dos negócios e privilégios nativos, inclusive no caso da saúde. No Brasil do lulismo, o paradigma da “inclusão via mercado” faz parte de uma conta que não fecha. O profundo mal-estar que experimenta o nosso povo no que tange a saúde é apenas uma faceta da bomba-relógio que os neoprivatistas ajudaram a armar. Que não será desmontada com a vinda de valorosos e valorosas colegas cubanos e cubanas.

Os médicos Felipe Monte Cardoso, Bruna Ballarotti e Felipe Corneau, e Bernado Pilloto, técnico administrativo em educação, são membros do Setorial de Saúde do Partido Socialismo e Liberdade.
Há cerca de um mês, a imprensa repercute notícias sobre medidas para facilitar a contratação de médicos estrangeiros para áreas de difícil fixação destes profissionais (como no interior do país). A medida mais polêmica diz respeito à iniciativa de contratar cerca de 6 mil médicos vindos de Cuba. Há dois tipos de reação mais comuns: os tradicionais donos do Brasil destilam argumentos reacionários e preconceituosos contra a proposta. No outro pólo, o governismo acrítico acredita que, finalmente, a presidenta encontrou a salvação definitiva para o problema. O Setorial de Saúde do Partido Socialismo e Liberdade quer discutir os possíveis desdobramentos deste pequeno e insuficiente avanço numa conjuntura de enormes ataques do governo Dilma ao SUS.


O canibalismo comunista da Veja



Praticamente nenhuma pessoa séria leva a revista Veja a sério. 
Sabe-se que é uma publicação humorística. Faz um humor meio sem graça,
 apelativo, rasteiro, como é o humor dominante na mídia brasileira atual.
 Mas há um traço de original nesse humor: ele é ideológico. Nesta semana, 
porém, Veja caprichou no ridículo. O texto “Os ossos do socialismo” 
é uma obra-prima de charlatanismo, de reacionarismo delirante e de besteirol 
histórico. Segundo o repórter, que assina a matéria, há uma relação direta
 entre canibalismo e comunismo.
 Em 1609, os primeiros colonos ingleses instalados em Jamestown, na América,
 loucos de fome, comeram os seus semelhantes.

Arqueólogos descobriram os ossos de Jane, vítima do canibalismo 
dos seus parceiros de aventura no Novo Mundo. 
A revista Veja não tem a menor dúvida: “Jane foi devorada por seus 
pares como consequência do fracasso do modelo de produção coletiva 
implantado nos primeiros anos da colonização dos Estados Unidos.
 A propriedade era comunitária, e o fruto do trabalho era dividido 
igualmente entre todos. Era, portanto, uma experiência que 
antecipava os princípios básicos do comunismo. Deu no que deu”. Uau! A 
cadeia estabelecida é imperativa: o coletivismo levou à preguiça, 
que levou à improdutividade, que levou à fome, que levou ao canibalismo. 
A saída viria com a propriedade privada. É reportagem
 para prêmio Esso de estupidez. Longe de mim defender o comunismo.
 O buraco é mais embaixo. Vejamos.

O autor tem a segurança dos tolos encantados com o lugar que 
ocupam na escala social: “Se não fosse o sistema fracassado, 
a situação dificilmente teria chegado a esse ponto”. 
Todos os demais aspectos de adaptação e de conjuntura
 são desconsiderados. O reducionismo ideológico surge 
como uma iluminação. A solução chega com um novo administrador, 
que impõe à propriedade privada: “A decisão despertou os traços
 hoje bem conhecidos do capitalismo americano: o empreendedorismo
 e a aptidão para a competição”. Disso teria decorrido que, 
em 1775, os americanos “já eram mais altos que os ingleses”.
 Tem gente batendo os dentes nos consultórios de dentista, onde
 Veja é campeã de leitura, de tanto rir. É um riso nervoso.

Nem os primatas do Pânico fariam melhor.

Para a pragmática revista Veja, no coletivismo, entre trabalhar
 e comer seus semelhantes, as pessoas escolhem a segunda opção.
 Um colono comeu a esposa grávida. Veja, enfim, descobriu a
 origem da expressão “comunista comedor de criancinha”. 
Na verdade, encontrou algo mais grave, o comunista comedor de feto. 
Sem contar que Duda Teixeira chegou ao elo perdido,
 a origem sempre procurada do capitalismo, o estalo: 
“Foi essa mudança, nascida do trauma de um inverno 
em que colonos caíram na selvageria que permitiu aos
 Estados Unidos se tornar o maior gerador de riqueza do planeta 
e o berço do capitalismo moderno”. 
O capitalismo nada mais é que uma reação ao canibalismo comunista. Agora é científico.

Não fosse grosseiro, eu diria: é a coisa mais idiota que li.







Under Creative Commons License: Attribution

sábado, 25 de maio de 2013

Marcha contra o veneno da Monsanto

Por Tatiana Félix, no sítio da Adital:

 Neste sábado (25) milhares de ativistas de várias partes do mundo se reunirão na Marcha contra a Monsanto para protestar contra a transnacional estadunidense de biotecnologia e seus organismos geneticamente modificados (OGMs) que afetam agricultores, natureza e a saúde dos consumidores. O objetivo da marcha transnacional é rechaçar os cultivos e alimentos transgênicos, ao mesmo tempo em que alerta as populações para os perigos destes tipos de produtos, que, segundo pesquisas científicas, podem desencadear problemas de saúde como cânceres, infertilidade e defeitos congênitos. Os/as ativistas organizados/as também rechaçam a Lei H.R.933, chamada ‘Lei de Proteção da Monsanto’ (Monsanto Protection Act), aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos e pelo presidente norte-americano Barack Obama, cuja finalidade é impedir a justiça de deter a plantação e a comercialização de colheitas transgênicas sob a alegação de que representariam um risco para a saúde dos consumidores. Além disso, reclamam da falta de informações e pesquisas governamentais que esclareçam sobre os efeitos que os produtos transgênicos causam a longo prazo na vida e na natureza. Também não passou despercebido o fato de a Agência de Alimentos e Medicamentos e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos serem administrados por ex-empregados da Monsanto. Para os/as ativistas, a "gigante da biotecnologia” se beneficia de favoritismo político, e por isso agricultores orgânicos e pequenos agricultores acabam sendo prejudicados com as patentes exclusivas sobre sementes e composições genéticas, e com o monopólio de fornecimento mundial de alimentos da Monsanto. "Os produtos da Monsanto são prejudiciais para o meio ambiente, por exemplo, os cientistas determinaram que as plantações OGMs e seus pesticidas provocaram a morte massiva de abelhas ao redor do mundo”, exemplificam. Como solução para estes problemas, os/as ativistas pedem que consumidores boicotem os produtos transgênicos e comprem apenas produtos orgânicos, e chamam a atenção sobre a necessidade de haver mais pesquisas científicas e informações sobre os efeitos dos OGMs na saúde da população. Também exigem a anulação das disposições pertinentes da Lei de Proteção da Monsanto e defendem que os executivos da Monsanto e seus apoiadores sejam responsabilizados pelos efeitos negativos que a empresa causa com suas atividades mundiais. A iniciativa partiu da ativista Tami Monroe Canal que insatisfeita com a falta de acesso a produtos agrícolas e frescos resolveu se mobilizar e organizar um protesto. De caráter pacífico, os organizadores alertam aos participantes a possibilidade de haver infiltração de pessoas "contratadas para desacreditar a atividade e os ativistas”. Para mais informações, acesse: http://www.march-against-monsanto.com/ Acompanhe a mobilização também pelo facebook: https://www.facebook.com/MarchAgainstMonstanto

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Hungria decide eliminar plantações com transgênicos da Monsanto



A Hungria decidiu eliminar todas as plantações feitas com sementes transgênicas da Monsanto. De acordo com o ministro do Desenvolvimento Rural, Lajos Bognar, foram queimados nesta semana cerca de 500 hectares das lavouras de milho – equivalente a cinco milhões de metros quadrados. A intenção é que o país não tenha nenhum fruto com origem de material geneticamente modificado.



Segundo informações do portal Real Pharmacy divulgadas na quinta-feira (23), as plantações de milho destruídas estavam espalhadas pelo território húngaro e haviam sido plantadas recentemente. Assim, o pólen venenoso do milho ainda não estava a ponto de ser dispersado no ar, não oferecendo, então, perigo à população.

Os húngaros são os primeiros a tomar uma posição contundente na União Europeia em relação ao uso de sementes transgênicas. Durante os últimos anos, o governo da Hungria vem destruindo diversas plantações oriundas dos materiais da Monsanto. O ministro Bognar afirma que os produtores do país são obrigados a certificarem que não usam sementes geneticamente modificadas.

A União Europeia tem uma política de livre trânsito de produtos dentro dos países que compõem o bloco. Assim as autoridades húngaras não podem investigar como as sementes chegam ao seu território. No entanto, afirma Lajos Bognar, “isso não impede que investiguemos a fundo a utilização dessas sementes em nosso território”.

De acordo com a imprensa húngara, o país ainda tem milhares de hectares nestas condições. Ainda de acordo com o portal Portugal Mundial, os agricultores defenderam-se da acusação da utilização de material geneticamente modificado. Eles afirmam que não sabiam tratar-se de sementes da Monsanto.

Como o período fértil para plantações já está na metade, é tarde demais para serem plantadas novas sementes. Dessa forma, a colheita deste ano foi completamente perdida. E, para piorar o cenário aos agricultores, a companhia que distribuiu as sementes geneticamente modificadas abriu falência - o que impede que recebam compensação.

Fonte: Opera Mundi

Professor vagabundo que faz greve deveria ser demitido



“Vagabundo que faz greve deveria ser demitido.” Algumas poucas vezes me dou o direito de atualizar e republicar certos textos deste blog. Hoje é o caso. Pois, ouvi no trem, uma senhora reclamando destemperadamente com uma amiga dos professores da rede municipal em São Paulo, que estão em greve desde o dia 03 – da mesma forma que doutos senhores espezinhavam a greve de professores das universidades federais, tomando cafezinho nos Jardins, tempos atrás. Pedem 17% de recomposição inflacionária dos últimos três anos. A prefeitura oferece 10,19% agora e mais 13,43% em 2014. Mas os sindicatos alertam que esses valores seriam relativos a outros acordos firmados em anos anteriores para incorporação de abonos.
Contudo, mais do que discutir se o salário dos professores será suficiente para pagar uma esfiha ou um kibe no Habib’s, o que me interessa neste texto é a forma com a qual vemos suas reivindicações e as descolamos da melhoria da educação como um todo.
Quando escrevi pela primeira vez sobre isso vivíamos a greves dos mestres das universidades federais. E, é claro, essa frase nunca vem sozinha: passeata que atrapalha o trânsito? Cacete neles! Protesto em praça pública? Cacete neles! Onde já se viu? Essas pessoas têm que saber seu lugar.
Sindicatos não são perfeitos, longe disso. Assim como ocorre em outras instituições, possuem atores que resolvem voltar-se para os próprios umbigos e tornar a busca pelo poder e sua manutenção de privilégio mais importante que os objetivos para os quais foram eleitos. Ou seja, tá cheio de sindicalista pelego ou picareta, da mesma forma que empresário corrupto e sonegador. Contudo, graças à organização e pressão dos trabalhadores, importantes conquistas foram obtidas para civilizar minimamente as regras do jogo – não trabalhar até a exaustão, descansar de forma remunerada, ter salários (menos in)justos, garantir proteção contra a exploração infantil. Direitos estes que, mesmo incompletos, são chamados por alguns empregadores de “gargalos do crescimento”.
É esquizofrênico reclamar que não há no Brasil quantidade suficiente de força de trabalho devidamente preparada para fazer frente às necessidades de inovação e produtividade e, ao mesmo tempo, chutar feito caixa de giz vazia as reivindicações de professores por melhores condições e remuneração. Como acham que o processo de formação ocorre? Por osmose? Cissipartição? Geração espontânea a partir dos argumentos fedidos desse povo?
Incrível como muitos colegas, ao tratarem sobre greve de professores, chamam sempre as mesmas fontes de informação que dizem, sempre, as mesmas coisas: é hora de apertar os cintos, os grevistas só pensam neles, a economia não aguenta, bando de vagabundos, já para a senzala sem jantar, enfim. Não existe imparcialidade jornalística. Qualquer estudante de jornalismo aprende isso nas primeiras aulas. Quando você escolhe um entrevistado e não outro está fazendo uma opção, racional ou não, por isso a importância de ouvir a maior diversidade de fontes possível sobre determinado tema. Fazer uma análise ou uma crítica tomando partido não é o problema, desde que não se engane o leitor, fazendo-o acreditar que aquilo é a única intepretação possível da realidade.
Infelizmente, muitos veículos ou jornalistas que se dizem imparciais, optam sistematicamente por determinadas fontes, sabendo como será a análise de determinado fato. Parece até que procuram o especialista para que legitime um ponto de vista. Ou têm preguiça de ir além e fugir da agenda da redação, refrescando suas matérias com análises diferentes. Ou alguém acha que é aleatório escolherem sistematicamente o professor José Pastore para analisar direitos trabalhistas?
Apoio os professores. Apoio os metalúrgicos de fábricas de automóveis. Apoio os controladores de vôo. Apoio os cobradores e motoristas de ônibus. Apoio os bancários. Apoio os garis. Apoio os residentes médicos. Apoio o santo direito de se conscientizarem, reconhecerem-se nos problemas, dizer não e entrar em greve até que a sociedade pressione e os patrões escutem. Mesmo que a manifestação deles torne minha vida um absurdo.
O Brasil está conseguindo universalizar o seu ensino fundamental, mas isso não está vindo acompanhado de um aumento significativo na qualidade da educação. Mesmo que os dados para a evolução dos primeiros anos de estudo estejam além do que o governo esperava no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), grande parte dos jovens de escolas públicas têm entrado no ensino médio sabendo apenas ordenar e reconhecer letras, mas não redigir e interpretar textos. Enquanto isso, o magistério no Brasil continua sendo tratado como profissão de segunda categoria.
Uma educação de baixa qualidade, insuficiente às características de cada lugar, que passa longe das demandas profissionalizantes e com professores mal tratados pode mudar a vida de um povo?
Por fim, estou farto daquele papinho do self-made man cansativo de que os professores e os alunos podem conseguir vencer, com esforço individual, apesar de toda adversidade, “ser alguém na vida”. Aí surgem as histórias do tipo “Joãozinho comia biscoitos de esterco com insetos e vendia ossos de zebu para sobreviver. Mas não ficou esperando o Estado, nem seus professores lhe ajudarem e, por conta, própria, lutou, lutou, lutou (às vezes, contando com a ajuda de um mecenas da iniciativa privada), andando 73,5 quilômetros todos os dias para pegar o ônibus da escola e usando folhas de bananeira como caderno. Hoje é presidente de uma multinacional”. Passando uma mensagem “se não consegue ser como Joãozinho e vencer por conta própria sem depender de uma escola de qualidade e de um bom professor, você é um verme nojento que merece nosso desprezo”. Afe. Daí para tornar as instituições públicas de ensino e a figura do próprio professor cada vez mais acessórias é um passo.
Educação é a saída, mas qual educação? Aquela defendida pelo pessoal do “Amigos do Joãozinho”? Educar por educar, passar dados e técnicas, sem conscientizar o futuro trabalhador e cidadão do papel que ele pode vir a desempenhar na sociedade, é o mesmo que mostrar a uma engrenagem o seu lugar na máquina e ponto final. Uma das principais funções da escola deveria ser produzir pessoas pensantes e contestadoras que podem colocar em risco a própria estrutura política e econômica montada para que tudo funcione do jeito em que está. Educar pode significar libertar ou enquadrar. Que tipo de educação estamos oferecendo? Que tipo de educação precisamos ter? Para essa tarefa, professores bem formados e remunerados são fundamentais.
Em algumas sociedades, pessoas assim, que protestam, discutem, debatem, discordam, mudam são úteis para fazer um país crescer. Por aqui, são vistas com desconfiança e chamadas de mal-educadas e vagabundas. Ironia? Não, Brasil.
Aproveitando o gancho, há algum tempo aves funestras passam voando por redacões de veículos de comunicação demitindo sem dó.
Mudanças acontecem e a nova geração que, hoje, pega uma revista e, com dois dedinhos, tenta ampliar uma foto como uma tela sensível ou que não entende porque a TV da sala não responde aos seus toques terá um relação diferente com o papel que temos hoje. Jornais vão morrer no meio dessa transição. Outros migrarão para a internet. Veículos novos vão surgir, pensados para plataformas digitais, multimídias, interativas. Quem não se adaptar e não se planejar para essa virada, vai comer capim pela raiz mais cedo. Contudo, temos uma forte produção jornalística em formato de empresa tradicional e, durante muito tempo, ainda teremos. Talvez essa parte nunca mude, garantindo as coisas boas e ruins dessas estruturas. O fato é que isso está sustentado em uma relação capital/trabalho, ou melhor dizendo, patrão/empregado. Sim, colegas jornalistas, apesar de muitos de nós pensarem que não, nós somos operários da notícia. É difícil ouvir isso, mas é a realidade.
De tempos em tempos, somos surpreendidos com notícias de demissões coletivas em veículos de comunicação. Motivos são vários: garantir a sobrevivência do veículo, aumentar a margem de lucro, gerar capacidade de investimento em outros produtos da empresa. Há ainda os casos em que um jornal fecha as portas e boa parte das pessoas simplesmente vai para a rua por má gestão e erros na condução da publicação. Razões podem existir para o encerramento das atividades de um veículo ou a diminuição de sua força de trabalho. Mas o que não entra pela minha cabeça é que isso seja encarado tão bovinamente por todos nós.
E que algumas empresas que defendem a democracia e o diálogo como processo de construção de uma sociedade melhor, ignorem isso quando se trata delas próprias. É um negócio e pertence a alguém? Claro! Mas cresceu graças ao suor de trabalhadores, que deveriam ser consultados e chamados a compartilhar decisões. Quando demissões coletivas ou fechamentos de fábricas acontecem em linhas de montagem de veículos, metalúrgicos mobilizam o Pai, o Filho e o Espírito Santo, informam a população, além de cruzarem os braços até que uma solução seja encontrada para reverter o corte de vagas ou, pelo menos, criar compensações à altura. Professores vão para as ruas. Nós, não. Vemos colegas irem embora e não fazemos nada. Ou melhor, ficamos com medo de sermos os próximos e choramos sozinhos no banheiro.
Isso não é texto novo. Como já disse, nós, jornalistas, muitas vezes não nos reconhecemos como classe trabalhadora. Devido às peculiaridades da profissão, desenvolvemos laços com o poder e convivemos em seus espaços sociais e culturais, seduzidos por ele ou enganados por nós mesmos. Só percebemos que essa situação não é real e que também somos operários, transformando fato em notícia, quando nossos serviços não são mais necessários em determinado lugar.
Alguns colegas vão repetir: japa, mas essas mudanças são boas. Agora, os jornalistas vão poder trabalhar por conta própria e criar seus próprios veículos na internet. Como se um grupo de pessoas que, durante toda a vida, trabalhou em uma estrutura empresarial possa, de uma hora para outra, tornar-se um empreendedor de sucesso. Tendo família para sustentar, contas a pagar e sem a disposição de tentar do zero e dar com a cara no muro. Financiamento coletivo, patrocínio cruzado, enfim, há quem lide com isso de forma mais fácil. Mas lembrem-se que a maioria não foi programada para isso. Por isso, temos o chamado “Milagre da Multiplicacão dos Frilas”, que eram assalariados e tornaram-se “chefes de si mesmos”. Alguns são felizes por não terem férias remuneradas. Outros, não.
Talvez o futuro seja um misto de tudo isso, emprego CLT, frilas, empreendedores individuais ou coletivos, pessoas produzindo conteúdo em redes, ONGs, enfim. Mas, hoje, o que me preocupa são os viventes e suas contas a pagar.
O que estou pedindo? Jornalistas do mundo, uni-vos? Que tamancos sejam jogados nas prensas dos jornais? Nem… isso seria muito brega. Ou melhor, kitsch – tenho horror a kitch. O que gostaria de lembrar é que as coisas vão mudar cada vez mais rápido. E temos duas opções: encarar isso sozinhos ou juntos.
Um bom exercício seria tentar entender e relatar as greves de professores como algo que faz parte das necessárias disputas sociais e econômicas e não tema para página policial. O próximo pode ser você, caro jornalista com salário de coxinha e emprego de palha.

Os homens por trás das mercadorias



Por Sylvia Debossan Moretzsohn 
 
A publicidade comercial sempre nos vendeu um mundo de facilidades e prazeres. A propaganda do mundo virtual, que tantas vezes o jornalismo assume alegremente, especialmente na TV, investe pesadamente na leveza e fluidez de uma vida obrigatoriamente divertida.
De repente, um documentário nos devolve à realidade.
Exibido no festival “É Tudo Verdade”de 2011 e várias vezes premiado, o documentário Carne e Osso, de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, chegou à GloboNews dois anos depois, no domingo (5/5), inaugurando a abertura de um espaço para produções externas ao canal. Em pouco mais de 50 minutos, expõe a rotina de quem trabalha no abate e processamento da carne de aves, porcos e bois: a esteira dessa particular linha de montagem que exige movimentos rápidos e repetitivos num índice quase três vezes maior do que o limite internacionalmente aceito para a preservação da saúde do trabalhador – e que resultam, inevitavelmente, em doenças incapacitantes –, o enorme risco de acidentes que vez por outra provocam mutilações, as jornadas exaustivas, o ambiente asfixiante e excessivamente frio e as pressões por produção que levam a transtornos psicológicos e à depressão, as táticas das empresas para evitar flagrantes nas visitas dos fiscais e o valor irrisório das multas, inócuas para desencorajar tantos abusos.
O confronto de dados sobre o sucesso do mercado de carnes e sobre os acidentes de trabalho nessa atividade sintetiza o abismo entre o lucro de um dos mais importantes setores de nossa indústria e a situação vivida pelas pessoas que engordam aquelas cifras.
O essencial do jornalismo
Disponibilizado online pela emissora (ver aqui), embora já pudesse ser visto no site da Rede de Televisões Culturais da América Latina (aqui), o documentário foi produzido pela Repórter Brasil, uma ONG dedicada à denúncia de trabalho escravo e demais formas de desrespeito aos direitos humanos e de agressões ao meio ambiente.
O fato de ter sido acolhido por um canal integrante da maior rede de comunicação do país pode sugerir, quem sabe, a esperança de realização de reportagens que recuperem o essencial do jornalismo em nosso cotidiano infestado por matérias engraçadinhas – divertidas, et pour cause – ou “bem intencionadas”, empenhadas nessa espécie de autoajuda que produz pautas do tipo “como ser feliz no trabalho”.
Recuperar o essencial do jornalismo é ir à contracorrente da fluidez virtual tão enaltecida pela propaganda – e por certas correntes do ambiente acadêmico fechadas em seu mundo indolor e alheio à realidade – e mostrar os homens por trás das mercadorias: nos frigoríficos, nas tecelagens, nas montadoras. Mostrar o quanto de sofrimento existe naquele corte de carne que distraidamente botamos no carrinho do supermercado, naquela peça de roupa que inocentemente escolhemos, naquele modelo de automóvel que povoa nossos sonhos.
E, principalmente, mostrar que o preço a pagar por esses bens não é inevitável: que é possível aliviar o sofrimento do trabalhador mudando-se as condições de produção, e que essa mudança não é apenas uma questão de bom senso tardiamente despertado, mas implica o enfrentamento de interesses solidamente instalados no mundo dos negócios e da política.
***
Sylvia Debossan Moretzsohn é jornalista, professora da Universidade Federal Fluminense, autora de Repórter no volante. O papel dos motoristas de jornal na produção da notícia (Editora Três Estrelas, 2013) e Pensando contra os fatos. Jornalismo e cotidiano: do senso comum ao senso crítico (Editora Revan, 2007)

quarta-feira, 15 de maio de 2013

DA GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEO PARA A DO GÁS


 - Imad Fawzi Shueibi

A revelação do segredo do gás sírio dá uma idéia da importância do que está realmente em jogo. Quem tenha o controle da Síria poderá controlar o Médio Oriente. E a partir da Síria, portão da Ásia, terá em suas mãos a chave da Rússia e, também, da China, através da "Rota da Seda", assim você poderá dominar o mundo neste século, já que é o século do gás.
É esta a razão pela qual os signatários do acordo de Damasco, que permite que o gás iraniano passe pelo Iraque e chegue ao Mediterrâneo, criando um novo espaço geopolítico e cortando a linha vital do Projeto Nabucco, declararam na época que "A Síria é a chave da nova era".
Imad Fawzi Shueibi: geopolítico e filósofo. Presidente do centro de documentação e estudos estratégicos de Damasco - Síria A agressão midiática e militar contra Síria está diretamente relacionada com a concorrência global pelos recursos energéticos, explica o Professor Imad Shuebi no magistral artigo que apresentamos hoje.
Nesse exato momento em que assistindo ao colapso da zona do euro, e que uma grave crise econômica levou os Estados Unidos a acumular uma dívida superior a 14.940 bilhões de dólares; no momento em que a influência americana declina em contraste com os países emergentes que conformam o Brics, se faz evidente que a chave para o exito econômico e o predomínio político reside principalmente no controle da energia do século XXI: o gás.
A Síria tornou-se alvo justamente por estar no meio do mais importante reservatório de gás do planeta. O petróleo foi a causa das guerras do século XX. Hoje estamos vivendo o surgimento de uma nova era: a da guerras do gás.

Após a queda da União Soviética, ficou claro para os russos que a corrida armamentista havia lhes prejudicado em demasia , sobretudo no campo energético, onde faltou a energia necessária ao processo de modernização industrial do país. Os Estados Unidos, por outro lado, tinham conseguido se desenvolver e impor, sem muitas dificuldades, sua política internacional nesta área graças a sua presença por décadas nas áreas de petróleo. Os russos decidiram, em seguida, posicionar-se nas fontes de energia, tanto nas que produzem petróleo, como nas empresas de produção de gás. Considerando que, devido à sua distribuição internacional, o setor de petróleo não oferecia boas perspectivas, Moscou apostou pelo gás , por sua produção, seu transporte e sua comercialização em larga escala. Tudo começou em 1995, quando Vladimir Putin traçou a estratégia da Gazprom: partindo desde as áreas de produção de gás da Rússia até Azerbaidjão, Turcomenistão, Irã (para comercialização), até o Oriente Médio. A verdade é que os projetos North Stream e South Stream demonstraram os esforços de Vladimir Putin e seu governo de situar a Rússia na arena internacional na área energética, que já desempenha um papel importante na economia européia, que, durante as próximas décadas, dependerá do gás como alternativa ao petróleo ou como complemento deste, quando deu prioridade ao gás, em detrimento do petróleo.
A partir desse contexto, era urgente para Washington implementar seu próprio projeto: Nabbuco , uma estratégia que concorria com a dos russos e que jogava para desempenhar um papel decisivo na determinação da estratégia e política energética para os próximos 100 anos.

Fato é que o gás será a principal fonte de energia do século XXI, uma alternativa diante da redução das reservas mundiais de petróleo e, ao mesmo tempo, uma fonte de energia limpa.O controle das zonas gasíferos no mundo disputado entre as antigas potências e as emergentes é o elemento que dá origem a um conflito internacional com manifestações de caráter regional.

É evidente que a Rússia aprendeu com as lições do passado, pelo menos no que se refere aquilo que, do ponto de vista da economia, contribuiu para o colapso da União Soviética , que foi, precisamente, a falta de controle dos recursos de energia indispensáveis para o desenvolvimento da estrutura industrial. A Rússia compreendeu que o gás está destinado a ser a fonte de energia do próximo século.


A historia da "partida de xadrez" do gás


Um primeiro olhar para o mapa do gás revela que este recurso está localizado nas seguintes regiões, o mapa diz respeito tanto à situação dos depósitos como ao acesso as áreas de consumo:
1. Rússia: Vyborg e Beregvya
2. Anexo a Rússia: Turcomenistão
3. Nos arredores mais ou menos imediatos da Rússia: Azerbaidjão e Irã
4. Ex influência da Rússia: Geórgia
5. Mediterrâneo Oriental: Síria e Líbano
6. Catar e Egito.

Moscou trabalhou rapidamente sobre dois eixos: o primeiro foi a criação de um projeto sino-russo de longo prazo, com bases no crescimento econômico do Bloco de Shangai; o segundo foi garantir o controle das reservas de gás. Com este desenho, foram assentadas as bases dos projetos North Stream e South Stream que se confronta com o projeto americano Nabucco, projeto apoiado pela União Europeia, com vistas ao gás do mar Negro e do Azerbaidjão. Uma corrida estratégica para o controle das reservas de gás se estabeleceu entre os dois projetos distintos.


Os Projetos da Rússia:

O projeto North Stream conecta diretamente a Rússia com a Alemanha através do mar Báltico, até Weinberg e Sassnitz, sem passar pela Bielorússia. O projeto South Stream começa na Rússia, atravessa o mar Negro até a Bulgária e se divide passando pela Grécia e pelo Sul da Itália, por um lado, e pela Hungria e a Áustria, por outro lado.


O projeto dos Estados Unidos:

O projeto Nabucco parte da Ásia Central e dos arredores do mar Negro, passando através da Turquia - onde situa-se a infra-estrutura de armazenamento - , e corta a Bulgária, passa pela Roménia, Hungria e chega até a Áustria, de onde é direcionado para a República Checa, Croácia, Eslovênia e Itália. Originalmente, deveria passar pela Grécia, idéia que foi abandonada devido à pressão da Turquia.
Por suposição, "Nabucco" deveria ser o concorrente para os projetos dos russos. Nabucco estava previsto para 2014, mas diversos problemas técnicos provocaram seu adiamento até 2017. A partir desse adiamento, o projeto Russo começou a ganhar a batalha pelo gás, mas cada parte trata sempre de estender seu próprio projeto para novas áreas.
Isso tem haver, por um lado com o gás iraniano, que os Estados Unidos pretendia incorporar ao projeto Nabucco conectando-o ao ponto de armazenamento de Erzurum, na Turquia. E, também, com o gás vindo do Mediterrâneo Oriental, ou seja, Síria, Líbano e Israel.

Em julho de 2011, Iran firmou vários acordos para o transporte do seu gás através do Iraque e da Síria. Por conseguinte, Síria tornou-se o principal centro de armazenagem e de produção, vinculado, também, com as reservas do Líbano. Se abre assim um espaço geográfico, estratégico e energético completamente novo, que abarca Iran, Iraque, Síria e o Líbano.

Os obstáculos que esse novo projeto (Nabucco) enfrenta, há mais de um ano, dão uma idéia do grau de intensidade na luta que o império está travando pelo controle da Síria e do Líbano. Ao mesmo tempo, esclarece o papel da França, que considera o Mediterrâneo Oriental sua própria zona de influência histórica, por conseguinte, destinada a satisfazer os interesses franceses, logo, isso justifica precisamente, recuperar o terreno perdido desde II Guerra Mundial. Em outras palavras, a França pretende desempenhar um papel importante no mundo do gás, para isto já adquiriu um tipo de "seguro saúde", com a Líbia, agora, pretende obter um «seguros de vida» que somente as riquezas da Síria e do Líbano podem proporcionar. Turquia, por seu lado, se sente excluída desta guerra do gás devido ao atraso do projeto Nabucco e porque não tem nada a ver com os projetos South e North Stream. O gás do Mediterrâneo Oriental parece lhe escapar inexoravelmente a medida que se afasta do projecto Nabucco.


O Eixo Moscou-Berlim


Gerhard Schroeder e Alexei Miller. Em 30 de março de 2006, ex-chanceler alemão foi nomeado chefe da construção do North Stream.

Para realizar os dois projetos, Moscou criou a empresa Gazprom, em 1990. Alemanha, ansiosa por se livrar de uma vez por todas das consequências da Segunda Guerra Mundial , se preparou para se juntar aos dois projetos, tanto em termos de instalações e de revisão do gasoduto norte e as instalações de armazenamento do duto de South Stream em sua área de influência, principalmente na Áustria.
A empresa Gazprom foi fundada com a colaboração de Hans-Joachim Gornig, um alemão conhecido em Moscou, ex-vice presidente da Companhia alemã de Petróleo e gás industrial que supervisionou a construção da rede de gasodutos RDA . Até outubro de 2011, o diretor da Gazprom foi Vladimir Kotenev, ex-embaixador da Rússia na Alemanha.
Gazprom assinou diversas transações com empresas alemãs, em primeiro lugar com aquelas que cooperam com o projeto North Stream, como as gigantes E.ON, do setor de energia, e BASF, do setor da indústria química. No caso da E.ON, existem cláusulas que garantem tarifas preferenciais quando há alta dos preços. Isso significa uma espécie de subsídio "político" da Rússia às empresas de energia alemãs.
Moscou aproveitou a liberalização dos mercados europeus do gás para forçá-los a desconectar as rede de distribuição das instalações de produção. Superados os confrontos antigos entre a Rússia e Berlim , abriu-se uma fase de cooperação econômica baseada em facilitar a enorme dívida que pesava sobre os ombros da Alemanha, de uma Europa excessivamente endividada pelo domínio americano. Se trata de uma Alemanha que considera que o espaço germânico (Alemanha, Áustria, República Checa e Suíça) está destinado a converter-se no centro da Europa, sem ter de suportar as conseqüências do envelhecimento de todo o continente, ou da queda de outra superpotência.
As iniciativas alemãs de Gazprom empresa conjunta (joint venture) da Wingas com Wintershall, uma subsidiária da BASF, é a maior produtora de petróleo e gás da Alemanha e controla 18% do mercado de gás. Gazprom outorgou aos seus principais parceiros alemãs participação em seus ativos russos, nunca visto anteriormente. Assim, BASF e E.ON controlam cada uma cerca de um quarto dos campos de gás de Lujno-Rousskoie que alimentarão em grande parte o circuito North Stream. Não será coincidência se a equivalente alemã da Gazprom, chamado de "Gazprom a germânica" chegar a ser proprietária de 40% da empresa austríaca Austrian Centrex Co, especializada em armazenamento de gás e se destina a ampliar-se até Chipre.
Esta expansão não é certamente do agrado da Turquia, país ansioso por sua participação no projeto Nabucco . Participação que consistiria em armazenar, comercializar e transportar um volume de gás que chegaria a 31.000 milhões de metros cúbicos de gás por ano, cifra que poderia crescer para 40.000 milhões ao ano, um projeto que faz com que Ancara seja cada vez mais dependente das decisões Washington e da OTAN , sobretudo tendo em conta as várias recusas aos seus pedidos de adesão à União Européia.

Os vínculos estratégicos determinados pelo gás são cada vez mais decisivos na arena política : o lobby de Moscou junto ao Partido Social Democrata alemão, na Renânia do Norte-Westfália, onde há uma importante base industrial , centro do conglomerado alemão RWE, fornecedor de eletricidade e onde se situa uma subsidiária da E.ON
Hans-Joseph Fell, responsável pela política de energia dos Verdes, reconheceu a existência dessa influência. Segundo ele, as 4 empresas alemãs vinculadas à Rússia têm um papel importante na definição da política energética alemã. Estas empresas contam com a Comissão de Relações Econômicas da Europa Oriental, - isto é, com empresas que mantêm contatos econômicos muito próximo com a Rússia e com os países do antigo bloco soviético - Comisão que dispõe , por sua vez, de uma rede muito complexa de influências sobre os ministros e a opinião pública. Na Alemanha, a discrição é a regra no que diz respeito à crescente influência da Rússia, com base no princípio de que é altamente necessário melhorar a "segurança energética" na Europa.
É interessante notar que a Alemanha considera que a política da União Européia destinada a resolver a crise do euro pode prejudicar os investimentos Germano-Russos . Esta razão, entre outras, explica a relutância da Alemanha para o resgate do euro, moeda muito sobrecarregada pelas dívidas da Europa, apesar do bloco germânico poder suportar essas dívidas. Além disso, sempre que os demais países europeus se opõem à sua política com a Rússia, a Alemanha declara que os planos utópicos da Europa não são viáveis ""e que , inclusive, poderiam levar a Rússia a vender seu gás na Ásia, o que colocaria em risco a segurança energética da Europa.

Este casamento por interesses entre os Germânicos e os russos está enraizado no legado da Guerra Fria: 3 milhões de russos vivem atualmente na Alemanha, representando a maior comunidade estrangeira desse país, depois da comunidade turca. Putin também era favorável a utilização da rede de responsáveis da RDA, que favoreceu os interesses das empresas russas na Alemanha, sem mencionar o recrutamento de ex-agentes da Stassi, como diretores de pessoal e finanças da Gazprom Germania, assim como o diretor financeiro do Consórcio North Stream, Warnig Matthias , quem, segundo o Wall Street Journal , ajudou Putin recrutar espiões em Dresde, na época em que o próprio Putin era agente da KGB. É certo, no entanto, que o uso que a Rússia tem dado as suas antigas relações não tem sido prejudicial para a Alemanha, uma vez que os interesses de ambas as partes têm sido beneficiados sem favoritismo para qualquer lado.

O projeto North Stream , a principal ligação entre a Rússia e a Alemanha, foi inaugurado recentemente com um condutor que custou 4,700 milhões de euros. Apesar deste condutor ligar a Rússia com a Alemanha, dado o reconhecimento dos europeus do fato de este projeto garantir a segurança energética da Europa, França e Holanda foram forçados a declarar que era de fato um "projeto europeu" . É importante mencionar, nesse sentido que o Sr.. Lindner, diretor-executivo do Comitê Alemão das Relações Econômicas com os Países da Europa Oriental declarou, com toda a seriedade do mundo que se tratava realmente de "um projeto europeu e não de um projeto alemão e que [o projeto] não encerraria a Alemanha em maior dependência da Rússia". Esta declaração ressalta a inquietação provocada pelo aumento da influência russa na Alemanha. A verdade é que o projeto North Stream é, pela sua estrutura, moscovita e não europeu.
Os russos podem paralisar a sua vontade a distribuição de energia na Polônia e em vários países , isso sem falar que terão todas as condições de vender o gás para a melhor oferta. No entanto, a Alemanha é de muita importância para a estratégia da Rússia, como plataforma que necessita para desenvolver sua estratégia continental, especialmente considerando que a Gazprom Germania participa de 25 projetos cruzados, em países como a Grã-Bretanha, Itália , Turquia, Hungria, entre outros. Isto nos leva a crer que a Gazprom está prestes a se tornar, em pouco tempo, uma das maiores empresas do mundo, se não se tornar a mais importante.


Os gasodutos North Stream, South Stream y Nabucco

Os dirigentes da Gazprom não só desenvolveram seu projeto, como também conseguiram conter o projeto Nabucco. Gazprom detém 30% do projeto envolvendo a construção de uma segunda linha condutora de gás para o leste, seguindo aproximadamente a mesma rota prevista do projeto Nabucco. Os próprios partidários dessa segunda condutora confessam que se trata de um projeto "político" destinado a proporcionar uma demonstração de força ao travar e até mesmo bloquear o projecto Nabucco. Moscou se esforçou , também, por comprar gás da Ásia central e no mar Cáspio para enterrar este projeto e ridicularizar Washington politicamente, economicamente e estrategicamente.
Gazprom está explorando instalações vinculadas ao gás na Áustria, ou seja, no entorno estratégico da Alemanha, além de alugar instalações na Grã-Bretanha e na França. São, no entanto, as importantes estruturas de armazenamento na Áustria, que serão usadas para redesenhar o mapa energético de Europa, já que irão prover a Eslovênia, a Eslováquia, a Croácia, a Hungria, a Itália e a Alemanha. A essas instalações deve ser adicionado o centro de armazenamento que Gazprom está construindo em Katrina, com a cooperação da Alemanha, capacitando desta forma a exportação de gás para os principais centros de consumo na Europa Ocidental.

A Gazprom criou uma instalação comum de armazenamento com Sérvia para fornecer gás à Bósnia-Herzegovina e a própria Sérvia. Também em curso, a realização de estudos de viabilidade sobre métodos de armazenamento semelhantes na República Checa, Roménia, Bélgica, Grã-Bretanha, Eslováquia, Turquia, Grécia e, inclusive, na França.
A Gazprom reforça a posição de Moscou, provedor de 41% do gás consumido na Europa. Isto representa uma mudança substancial nas relações entre o Oriente e o Ocidente, a curto, médio e longo prazo. Também indica um declínio da influência estadunidense, representada pelos escudos antimísseis, e se verifica o estabelecimento de uma nova organização internacional cujo pilar fundamental será a gás. Tudo isso explica a intensificação da luta pelo gás, desde a costa oriental do Mediterrâneo até o Oriente Médio.

Nabucco y Turquia em dificuldades

Era de supor que Nabucco transportaria gás até a Áustria através de 3 900 km do território turco e que estava projetado para fornecer anualmente, para os mercados europeus, 31 000 milhões de m3 de gás natural provenientes do Oriente Médio e da bacia do mar Cáspio. A difícil situação da coalizão OTAN/EUA/França para eliminar os obstáculos aos seus interesses em matéria de abastecimento de gás no Oriente Médio, principalmente na Síria e no Líbano, reside na necessidade de assegurar a estabilidade e o consentimento do entorno quando se fala de infra-estruturas e investimentos que requerem a indústria do gás. A resposta Síria foi firmar contrato que autoriza a passagem do gás iraniano em seu território, passando através do Iraque. A batalha é, portanto, centrada em torno do gás sírio e libanês. Ele irá alimentar a Nabucco ou South Stream ??
O consórcio Nabucco é composto por várias empresas: a alemã REW, a austríaca OML, a turca Botas, a búlgara Energy Holding Company e a romena Transgaz. Há 5 Anos, os custos iniciais foram estimados em 11.200 milhões de dólares, mas até o ano 2017 poderia chegar a 21.400 milhões. Isso levanta inúmeras questões à sua viabilidade econômica já que Gazprom tem contratos com vários países que deveriam alimentar a Nabucco, que já não pode contar com os excedentes do Turcomenistão, sobretudo após as tentativas sem sucesso para capturar o gás iraniano. Esse último fator é um dos segredos que são desconhecidos sobre a batalha por Irã, país que ultrapassou a linha vermelha em seu desafio aos Estados Unidos e Europa ao escolher o Iraque e a Síria como rotas para o trajeto de uma parte de seu gás.

Assim, a maior esperança de Nabucco é o abastecimento com o gás do Azerbaijão e o reserva de Shah Deniz, convertido em quase a única fonte de aprovisionamento de um projeto que parece ter fracassado sem ter começado. Isso é o que se segue, por um lado, da aceleração da assinatura de contratos que Moscou concluiu para a compra de fontes inicialmente destinadas a Nabucco e das dificuldades surgidas, por outro lado, ao tratar de impor mudanças geopolíticas no Irã, Síria e Líbano. E tudo isto ocorre num momento em que a Turquia reclama sua participação no projeto Nabucco, quer seja mediante um contrato com o Azerbaijão para a compra de 6.000 milhões de m ³ de gás em 2017 ou através da anexação da Síria e do Líbano, com a esperança de impedir o trânsito do petróleo iraniano ou receber uma parte da riqueza gasífera do Líbano e da Síria. Parece que a possibilidade de ter um lugar na nova ordem mundial exige prestar certa quantidade de serviços, que vão do apoio militar até servir de base ao dispositivo estratégico do escudo antimisseis.
Talvez a principal ameaça para o Nabucco seja a tentativa russa de faze-lo fracassar através da negociação de contratos mais vantajosos a favor da Gazprom para North Stream e South Stream, que invalidaria os esforços dos Estados Unidos e da Europa, diminuiria a influência de ambos e perturbaria a política energética dessas concorrentes no Irã e/ou no Mediterrâneo. Além disso, Gazprom poderia tornar-se um dos investidores ou operadores mais importantes das novas reservasde gás na Síria e no Líbano. Não por acaso, em 16 de agosto de 2011, o Ministro de Petróleo da Síria anunciou a descoberta de um poço de gás em Qara perto de Homs, cuja capacidade seria de 400 000 m ³ por dia (146 milhões de m ³ por ano), para não mencionar a importância do gás Mediterrâneo existente.

Os projetos North Stream e South Stream , por conseguinte, reduziu a influência política dos Estados Unidos, que agora parece ter ficado para trás. Os sintomas de hostilidade entre os Estados europeus e a Rússia foram atenuados, mas a Polônia e os Estados Unidos não parecem dispostos a renunciar. No final de outubro de 2011, estes dois países anunciaram a alteração de sua política de energia como conseqüência da descoberta de reservas européias de carvão que deveriam diminuir a dependência à Rússia e ao Médio Oriente. Parece ser uma meta ambiciosa, mas só possível a longo prazo devido a inúmeras etapas previas exigidas para a comercialização já que se trata de um tipo de carvão encontrados em rochas sedimentares a milhares de metros abaixo da terra, que requer o uso de técnicas hidráulicas de fratura e alta pressão para liberar o gás e sem falar ou considerar os riscos para o ambiente.

A participação da China

A Organização de Cooperação de Shangai, conformada por Russia, China, Kazajstán, Kirguistán, Tayikistán y Uzbekistán

A cooperação sino-russo no campo energético é o motor da parceria estratégica entre os dois gigantes. De acordo com especialistas, constitue, inclusive, "base" do duplo veto em defesa da Síria no Conselho de Segurança.

Esta operação não tem que ver unicamente com o abastecimento da China em condições preferenciais. China participa diretamente com a distribuição de gás, através da aquisição de ativos e de instalações, bem como em um projeto de controle conjunto das redes de distribuição. Paralelamente, Moscou mostra sua flexibilidade nos preços do gás, desde que tenha acesso ao ambicionado mercado interno chinês.Se tem garantido, portanto, que os peritos russos e chineses trabalhem juntos nos seguintes campos: « Coordenação de estratégias energéticas, Previsão e prospecção, Desenvolvimento dos mercados, Eficiência energética e Fontes alternativas de energia».

Outros interesses estratégicos comuns estão relacionados com os riscos que representa o projeto americano de 'escudo antimísseis'. Washington tem envolvido não apenas o Japão e Coréia do Sul, mas no início de setembro de 2011, convidou, também, a Índia a aderir ao projeto. Isto traz como conseqüência que as preocupações de ambos os países se cruzam no momento que Washington trata de reativar sua estratégia na Ásia central ou em seja na Rota da Seda

Essa estratégia é a mesma que George Bush havia empreendido (o projeto da Grande Ásia Central) com vistas a contrariar, com a colaboração da Turquia, a influência da Rússia e da China, resolver a situação no Afeganistão até 2014 e impor a força militar da OTAN em toda região. O Uzbequistão já sinalizou que poderia acomodar a OTAN, e Vladimir Putin tem avaliado que o que poderia fazer fracassar as investidas do ocidente e impedir que os Estados Unidos prejudique a Rússia seria a expansão do espaço Russia-Kazajstán - Bielorrússia, em cooperação com Pequim.

O panorama dos mecanismos da atual luta internacional dá idéia do processo existente de formação de uma nova ordem internacional, com base na luta pela supremacia militar e cujo elemento central é a energia, com o gás em primeiro lugar.


O gás de Síria

A «revolução siria» é uma encenação midiática que esconde a intervenção militar ocidental para a conquista do gás.

Quando Israel empreendeu a extração de petróleo e gás, a partir de 2009, ficou claro que a bacia do Mediterrânea se havia somado ao jogo e que haveria duas possibilidades: Síria seria alvo de um ataque ou toda a região viveria em paz, pois se supõe que o século XXI seja o século da energia limpa.

De acordo com o Washington Institute for Near East Policy (WINEP, Think-Tank do AIPAC), a bacia do Mediterrânea contém as maiores reservas de gás e é, precisamente, na Síria onde se localizam as mais importantes. Este mesmo Instituto também emitiu a hipótese de que a batalha entre a Turquia e Chipre se intensificará porque a Turquia não pode aceitar a perda do projecto Nabucco (apesar do contrato assinado com Moscou em Dezembro de 2011 para o transporte de grande parte do gás de South Stream através da Turquia).

A revelação do segredo do gás sírio dá uma idéia da importância do que está realmente em jogo. Quem tenha o controle da Síria poderá controlar o Médio Oriente. E a partir da Síria, portão da Ásia, terá em suas mãos a chave da Rússia e, também, da China, através da "Rota da Seda", assim você poderá dominar o mundo neste século, já que é o século do gás.

É esta a razão pela qual os signatários do acordo de Damasco, que permite que o gás iraniano passe pelo Iraque e chegue ao Mediterrâneo, criando um novo espaço geopolítico e cortando a linha vital do Projeto Nabucco, declararam na época que "A Síria é a chave da nova era".




Artigos que tratam do mesmo tema na Red Voltaire:


«Suspende Estados Unidos sus planes de guerra convencional contra Damasco y Teherán», Red Voltaire, enero 2012.
«¿Nueva guerra de Israel contra Líbano por el gas?», Alfredo Jalife-Rahme, Red Voltaire, 09 de agosto de 2010.
«La nueva importancia geopolítica de Lubmin», F. William Engdhal, Red Voltaire, 19 de septiembre de 2010.
«Cambio crucial en la geopolítica de oleoductos», M. K. Bhadrakumar, Red Voltaire, 08 de febrero de 2010
Fontes:

Original:
La Syrie, centre de la guerre du gaz au Proche-Orient
Imad Fawzi Shueibi. Réseau Voltaire | Damas (Syrie) | 8 mai 2012.
En Español:
Siria, centro de la guerra del gas en el Medio Oriente. por Imad Fawzi Shueibi
Red Voltaire | Damasco (Siria) | 13 de mayo de 2012

Imad Fawzi Shueibi: geopolítico e filósofo. Presidente do centro de documentação e estudos estratégicos de Damasco - Síria.