segunda-feira, 28 de abril de 2014

Altamiro Borges: A origem e o significado do 1º de Maio

A origem e o significado do 1º de Maio

Por Altamiro Borges

“Se acreditais que enforcando-nos podeis conter o movimento operário, esse movimento constante em que se agitam milhões de homens que vivem na miséria, os escravos do salário; se esperais salvar-vos e acreditais que o conseguireis, enforcai-nos! Então vos encontrarei sobre um vulcão, e daqui e de lá, e de baixo e ao lado, de todas as partes surgirá a revolução. É um fogo subterrâneo que mina tudo”. Augusto Spies, 31 anos, diretor do jornal Diário dos Trabalhadores. 
“Se tenho que ser enforcado por professar minhas idéias, por meu amor à liberdade, à igualdade e à fraternidade, então nada tenho a objetar. Se a morte é a pena correspondente à nossa ardente paixão pela redenção da espécie humana, então digo bem alto: minha vida está à disposição. Se acreditais que com esse bárbaro veredicto aniquilais nossas idéias, estais muito enganados, pois elas são imortais''. Adolf Fischer, 30 anos, jornalista. 

“Em que consiste meu crime? Em ter trabalhado para a implantação de um sistema social no qual seja impossível o fato de que enquanto uns, os donos das máquinas, amontoam milhões, outros caem na degradação e na miséria. Assim como a água e o ar são para todos, também a terra e as invenções dos homens de ciência devem ser utilizadas em benefício de todos. Vossas leis se opõem às leis da natureza e utilizando-as roubais às massas o direito à vida, à liberdade e ao bem-estar”. George Engel, 50 anos, tipógrafo.

“Acreditais que quando nossos cadáveres tenham sido jogados na fossa tudo terá se acabado? Acreditais que a guerra social se acabará estrangulando-nos barbaramente. Pois estais muito enganados. Sobre o vosso veredicto cairá o do povo americano e do povo de todo o mundo, para demonstrar vossa injustiça e as injustiças sociais que nos levam ao cadafalso”. Albert Parsons lutou na guerra da secessão nos EUA.

As corajosas e veementes palavras destes quatro líderes do jovem movimento operário dos EUA foram proferidas em 20 de agosto de 1886, pouco após ouvirem a sentença do juiz condenando-os à morte. Elas estão na origem ao 1º de Maio, o Dia Internacional dos Trabalhadores. Na atual fase da luta de classes, em que muitos aderiram à ordem burguesa e perderam a perspectiva do socialismo, vale registrar este marco histórico e reverenciar a postura classista destes heróis do proletariado. A sua saga serve de referência aos que lutam pela superação da barbárie capitalista. 

A origem do 1º de Maio está vinculada à luta pela redução da jornada de trabalho, bandeira que mantém sua atualidade estratégica. Em meados do século XIX, a jornada média nos EUA era de 15 horas diárias. Contra este abuso, a classe operária, que se robustecia com o acelerado avanço do capitalismo no país, passou a liderar vários protestos. Em 1827, os carpinteiros da Filadélfia realizaram a primeira greve com esta bandeira. Em 1832, ocorre um forte movimento em Boston que serviu de alerta à burguesia. Já em 1840, o governo aprova o primeiro projeto de redução da jornada para os funcionários públicos. 

Greve geral pela redução da jornada 
Esta vitória parcial impulsionou ainda mais esta luta. A partir de 1850, surgem as vibrantes Ligas das Oito Horas, comandando a campanha em todo o país e obtendo outras conquistas localizadas. Em 1884, a Federação dos Grêmios e Uniões Organizadas dos EUA e Canadá, futura Federação Americana do Trabalho (AFL), convoca uma greve nacional para exigir a redução para todos os assalariados, “sem distinção de sexo, ofício ou idade”'. A data escolhida foi 1º de Maio de 1886 - maio era o mês da maioria das renovações dos contratos coletivos de trabalho nos EUA. 

A greve geral superou as expectativas, confirmando que esta bandeira já havia sido incorporada pelo proletariado. Segundo relato de Camilo Taufic, no livro “'Crônica do 1º de Maio”, mais de 5 mil fábricas foram paralisadas e cerca de 340 mil operários saíram às ruas para exigir a redução. Muitas empresas, sentindo a força do movimento, cederam: 125 mil assalariados obtiveram este direito no mesmo dia 1º de Maio; no mês seguinte, outros 200 mil foram beneficiados; e antes do final do ano, cerca de 1 milhão de trabalhadores já gozavam do direito às oito horas. 

“Chumbo contra os grevistas”, prega a imprensa 
Mas a batalha não foi fácil. Em muitas locais, a burguesia formou milícias armadas, compostas por marginais e ex-presidiários. O bando dos “'Irmãos Pinkerton” ficou famoso pelos métodos truculentos utilizados contra os grevistas. O governo federal acionou o Exército para reprimir os operários. Já a imprensa burguesa atiçou o confronto. Num editorial, o jornal Chicago Tribune esbravejou: “O chumbo é a melhor alimentação para os grevistas. A prisão e o trabalho forçado são a única solução possível para a questão social. É de se esperar que o seu uso se estenda”. 

A polarização social atingiu seu ápice em Chicago, um dos pólos industriais mais dinâmicos do nascente capitalismo nos EUA. A greve, iniciada em 1º de Maio, conseguiu a adesão da quase totalidade das fábricas. Diante da intransigência patronal, ela prosseguiu nos dias seguintes. Em 4 de maio, durante um protesto dos grevistas na Praça Haymarket, uma bomba explodiu e matou um policial. O conflito explodiu. No total, 38 operários foram mortos e 115 ficaram feridos. 

Os oito mártires de Chicago 
Apesar da origem da bomba nunca ter sido esclarecida, o governo decretou estado de sítio em Chicago, fixando toque de recolher e ocupando militarmente os bairros operários; os sindicatos foram fechados e mais de 300 líderes grevistas foram presos e torturados nos interrogatórios. Como desdobramento desta onda de terror, oito líderes do movimento - o jornalista Auguste Spies, do “'Diário dos Trabalhadores”', e os sindicalistas Adolf Fisher, George Engel, Albert Parsons, Louis Lingg, Samuel Fielden, Michael Schwab e Oscar Neebe - foram detidos e levados a julgamento. Eles entrariam para a história como “Os Oito Mártires de Chicago”. 

O julgamento foi uma das maiores farsas judiciais da história dos EUA. O seu único objetivo foi condenar o movimento grevista e as lideranças anarquistas, que dirigiram o protesto. Nada se comprovou sobre os responsáveis pela bomba ou pela morte do policial. O juiz Joseph Gary, nomeado para conduzir o Tribunal Especial, fez questão de explicitar sua tese de que a bomba fazia parte de um complô mundial contra os EUA. Iniciado em 17 de maio, o tribunal teve os 12 jurados selecionados a dedo entre os 981 candidatos; as testemunhas foram criteriosamente escolhidas. Três líderes grevistas foram comprados pelo governo, conforme comprovou posteriormente a irmã de um deles (Waller). 

A maior farsa judicial dos EUA 
Em 20 de agosto, com o tribunal lotado, foi lido o veredicto: Spies, Fisher, Engel, Parsons, Lingg, Fielden e Schwab foram condenados à morte; Neebe pegou 15 anos de prisão. Pouco depois, em função da onda de protestos, Lingg, Fielden e Schwab tiveram suas penas reduzidas para prisão perpétua. Em 11 de novembro de 1887, na cadeia de Chicago, Spies, Fisher, Engel e Parsons foram enforcados. Um dia antes, Lingg morreu na cela em circunstâncias misteriosas; a polícia alegou “suicídio”. No mesmo dia, os cinco “'Mártires de Chicago” foram enterrados num cortejo que reuniu mais de 25 mil operários. Durante várias semanas, as casas proletárias da região exibiram flores vermelhas em sinal de luto e protesto. 

Seis anos depois, o próprio governador de Illinois, John Altgeld, mandou reabrir o processo. O novo juiz concluiu que os enforcados não tinham cometido qualquer crime, “tinham sido vitimas inocentes de um erro judicial”. Fielden, Schwab e Neebe foram imediatamente soltos. A morte destes líderes operários não tinha sido em vão. Em 1º de Maio de 1890, o Congresso dos EUA regulamentou a jornada de oito horas diárias. Em homenagem aos seus heróis, em dezembro do mesmo ano, a AFL transformou o 1º de Maio em dia nacional de luta. Posteriormente, a central sindical, totalmente corrompida e apelegada, apagaria a data do seu calendário. 

Em 1891, a Segunda Internacional dos Trabalhadores, que havia sido fundada dois anos antes e reunia organizações operárias e socialistas do mundo todo, decidiu em seu congresso de Bruxelas que “no dia 1º de Maio haverá demonstração única para os trabalhadores de todos os países, com caráter de afirmação de luta de classes e de reivindicação das oito horas de trabalho”. A partir do congresso, que teve a presença de 367 delegados de mais de 20 países, o Dia Internacional dos Trabalhadores passou a ser a principal referência no calendário de todos os que lutam contra a exploração capitalista.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

PENSE - Reflexões Espíritas Acerca da Propriedade


  • Reflexões Espíritas Acerca da Propriedade



  •  Eugenio Lara


  • Os bens da terra são um dos fatores fundamentais para a evolução intelecto-moral, pois é mediante sua produção, reprodução e aquisição que o Ser exerce o primeiro de todos os direitos naturais: o direito de viver. É conceituado pelo Espiritismo de uma maneira muito abrangente: é “tudo o quanto o homem pode gozar neste mundo”. Alimentação, vestuário, transporte, lazer, todo o conforto proporcionado pela tecnologia, a produção artística, cultural etc. fazem parte, portanto, dos bens da terra.

    A primeira baliza colocada pelos espíritos na obtenção desses bens está na oposição entre o necessário e o supérfluo. Quanto ao necessário, a Natureza é “uma excelente mãe”, mas em relação ao supérfluo, sempre haverá para uma grande maioria a insuficiência de recursos, a ausência do necessário para viver, do bem-estar, consequências normais do desperdício e má aplicação dos recursos naturais.

    A proposta de uma nova sociedade passa necessariamente pela busca do bem-estar para todos. A igualdade absoluta, conforme os espíritos, é uma quimera, mas a igualdade relativa é algo a ser atingido. Enquanto um grande contingente da humanidade não tiver acesso à posse do necessário para viver, a felicidade nesse mundo será impossível.

    Segundo dados da FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas), 32% da população mundial (que vive nos países do Primeiro Mundo) consomem 75% dos bens da terra; controlam 88% do PMB (Produto Mundial Bruto); detêm na mão 80% do controle dos investimentos; 90% das atividades industriais e a quase totalidade da produção de pesquisa científica. Esses países são os açambarcadores dos bens da terra, um dos grandes responsáveis, até o momento, pela miséria do Terceiro Mundo.

    Ao nível de nosso país, podem ser citadas algumas informações sobre a distribuição da riqueza que demonstram o grau existente de desigualdade econômica. De 95.704.423 (população economicamente ativa), cerca de 40.447.453 ganham menos de três salários mínimos (IBGE - Anuário Estatístico do Brasil - 1985). Segundo dados fornecidos pelo ex-ministro da Reforma Agrária, Nélson Ribeiro, 67% dos brasileiros ingerem menos calorias diariamente do que o mínimo necessário para a obtenção de um estado de vida digno. A distribuição das terras é extremamente desigual: dos 586 milhões 877 mil e 351 hectares cadastrados pelo INCRA, 413 milhões 797 mil e 19 hectares (quase metade da área do território nacional) estão em poder de quase 1.500.000 latifundiários (3,7% da população brasileira). Os 173 milhões 80 mil 332 hectares restantes, é o que sobra para as 12 milhões de famílias (cerca de 60 milhões de pessoas), um contingente com pouquíssima ou quase nenhuma terra (dados fornecidos pelo INCRA - Revista “População & Desenvolvimento”, abril de 1986).

    Esse estado de desigualdade somente poderá ser modificado através do conflito institucional e/ou político. O conflito armado já está ocorrendo em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, especialmente no campo. Se não podemos, como espíritas, ser a favor da violência em circunstância alguma, temos de considerar que, em certas situações, o conflito armado surge como uma questão de legítima defesa da soberania e autodeterminação de um povo ou grupo social.

    Há uma minoria no Brasil e no Mundo, detentora dos meios de produção e da hegemonia política, que está impedindo a marcha do progresso da humanidade e será arrastada “pela torrente que pretende deter”. Dela, nada podemos esperar. Nesse sentido, a afirmação do presidente da UDR - União Democrática Ruralista, entidade de ultradireita, formada por grandes proprietários de terras é bem ilustrativa: “a propriedade da terra é intocável”. O setor mais reacionário da classe dominante é, sem dúvida, a burguesia agrária e que devido a sua intervenção fascista dentro do campo, só no ano passado foram registradas, até 15/07, 160 mortes (dados do MIRAD) e segundo dados da Comissão Pastoral da Terra e da CONTAG, em cada dois dias morrem cerca de três pessoas.

    A luta pela posse da terra é ainda a luta fundamental dos trabalhadores do campo e da cidade. Os meios de produção são de propriedade particular, os interesses do capital se sobrepõem aos direitos do trabalhador. O objetivo de nossa sociedade ainda é o lucro em detrimento da realização do homem, do bem-estar coletivo. É preciso que o sistema econômico atual fundamentado na propriedade privada dos meios de produção seja destruído: uma tarefa que depende da ação de homens progressistas e da grande massa de expropriados e explorados do Brasil e do mundo.

    O Espiritismo estabelece uma diferenciação entre a propriedade pessoal, fruto do trabalho honesto e a “propriedade destinada ao uso geral” (Deolindo Amorim - “O Espiritismo e os Problemas Humanos”, cap. V - USE). São dois conceitos bem distintos, que devido a interesses ideológicos dos defensores da propriedade privada dos meios de produção, têm sido confundidos num único princípio.

    A verdadeira propriedade são as nossas conquistas intelecto-morais. Esse conceito, fundamentado na ideia do Ser imortal e na transitoriedade da existência física, ao lado da compreensão dos princípios fundamentais do Espiritismo, estabelece inevitavelmente uma nova ética para a aquisição dos bens da terra, seja na forma individual ou coletiva.

    A acumulação e o gozo dos bens da terra não são contrários à Ética Espírita, porém, devem ocorrer em família, em comunidade, sem a presença do egoísmo e do orgulho, chagas corrosivas de qualquer ordem econômica, seja capitalista, pré-socialista ou socialista.

    Em relação à propriedade de uso geral ou coletiva, a proposta espírita é nitidamente cooperativista, distributiva e igualitária. A propriedade conseguida através da apropriação da mais-valia, do trabalho não-pago ao trabalhador é ilegítima; a sua legitimidade deve se fundamentar na liberdade de produção e aquisição de bens, em sua distribuição igualitária na obtenção da posse do necessário para viver e na solidariedade e fraternidade entre os trabalhadores.

    Os que se opõem à coletivização da propriedade de uso geral ou coletiva, o fazem em nome da “liberdade” (entenda-se livre-iniciativa, “laissez-faire”) e colocam a propriedade como um bem inviolável, absoluto. Ora, essa “liberdade” defendida pela burguesia não tem nada a ver com a liberdade de se adquirir um carro, uma habitação, um bem de uso pessoal. É necessário limitar a produção e aquisição dos bens da terra à posse do necessário para viver.

    Sobre os limites ao direito de propriedade, Kardec pergunta:
    885. O direito de propriedade é sem limites? – “Sem dúvida, tudo o que é legitimamente adquirido é uma propriedade. Mas, como já dissemos, a legislação humana é imperfeita e consagra frequentemente direitos convencionais que a justiça natural reprova. É por isso que os homens reformam suas leis à medida que o progresso se realiza e que eles compreendem melhor a justiça. O que num século parece perfeito, no século seguinte se apresenta como bárbaro.”

    O direito de propriedade, portanto, não é absoluto. Qualquer sistema de leis estará mais próximo das leis naturais se colocar limites à aquisição dos bens terrestres e prever mecanismos que orientem essa aquisição de forma limitada em função do bem-estar para todos, sempre dentro de bases legítimas.

    Isso somente será possível numa nova sociedade, com uma economia socialista e cooperativista, onde os indivíduos em sua grande maioria sejam espíritos em processo de regeneração intelecto- moral. E a nossa tarefa enquanto espíritas idealistas e homens progressistas que somos é construir essa nova sociedade aqui e agora.

    ■ Nota do PENSE: Tema apresentado no painel “Propriedade”, dentro do tema “Espiritismo e Constituinte”, no II Encontro Nacional Sobre o Aspecto Social da Doutrina Espírita, realizado em São Paulo de 28 de fevereiro a 3 e março de 1987.

    Fonte: Abertura - jornal de cultura espírita, maio de 1987. Licespe – Santos-SP.


    Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico, editor do site PENSE - Pensamento Social Espírita [www.viasantos.com/pense], membro-fundador do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc), é autor de Breve Ensaio Sobre o Humanismo Espírita e em edição digital: “Racismo e Espiritismo”; “Milenarismo e Espiritismo”; “Amélie Boudet, uma Mulher de Verdade - Ensaio Biográfico”; “Conceito Espírita de Evolução” e “Os Quatro Espíritos de Kardec”.
    E-mail: eugenlara@hotmail.co
    m

    Cidadão Boilesen - Um dos Empresários que Financiou a Tortura no Brasil ...

    sábado, 19 de abril de 2014

    Em defesa do populismo — CartaCapital

    Internacional

    Entrevista - Ernesto Laclau

    Em defesa do populismo

    Confira uma das últimas entrevistas do sociólogo Ernesto Laclau, um dos teóricos do modelo político que dominou a América Latina no século XX, morto no domingo 13
    por Nathalia Lavigne — publicado 19/04/2014 07:24, última modificação 19/04/2014 09:06

    Ernesto
    O filósofo Ernesto Laclau
    Em Londres
    Ernesto Laclau costumava ser apresentado pela imprensa argentina como o “intelectual do Kirchnerismo”. Embora reducionista, a definição não chega a ser uma inverdade. Um dos principais teóricos do populismo, o sociólogo e filósofo argentino sempre defendeu o projeto político de Nestór e Cristina Kirchner, assim como de outros governos latino-americanos de vocação nacional-popular. Mas tal definição quase sempre vinha acompanhada de outras em tom irônico – “el pensador favorito de la Presidenta”, que escrevia sobre a América Latina de seu sofá em Londres, eram as mais frequentes.
    Laclau não parecia se incomodar com as críticas ao seu apoio ao kirchnerismo. Quando questionado sobre a suposta relação próxima com Cristina, ele garantiu ser um disparate – e contou a Carta Capital uma história que responde às ironias na mesma moeda. “Já falaram de tudo sobre isso. Quando Kirchner ainda estava vivo, disseram até que tinham me chamado à Casa Rosada para dar aulas de oratória para eles”, lembrou. O motivo do mal entendido foi uma brincadeira feita por Cristina de que ele deveria ir até a Casa Rosada explicar ao casal do que se tratava sua complexa teoria do discurso – área de estudo que criou na Universidade de Essex junto com a mulher, a cientista política belga Chantal Mouffe.
    Um dos mais respeitados teóricos políticos da atualidade, Ernesto Laclau morreu na manhã de domingo 13, vítima de um infarto, aos 78 anos. Estava em Sevilha, na Espanha, onde participava de uma conferência com Chantal, com quem compartilhava também a mesma formação socialista e gramsciana. Junto com ela, escreveu um de seus trabalhos mais famosos Hegemony and Socialist Strategy (1985), referência na teoria política pós-marxista. Entre seus livros mais recentes publicados no Brasil está A Razão Populista(Três Estrelas, 2013), lançado em inglês em 2005. Há 45 anos vivendo na Inglaterra, o sociólogo era atualmente professor emérito de teoria política na Universidade de Essex, mesma universidade onde dirigiu o programa Ideologia e Análises do Discurso. Em uma de suas últimas entrevistas, concedida a CartaCapital em 22 de fevereiro, em sua casa, no norte de Londres, ele lamentou a morte de um de seus maiores amigos naquele mesmo mês – o jamaicano também radicado na Inglaterra Stuart Hall, um dos fundadores da área de Estudos Culturais. “Ele era um grande admirador da América Latina, costumava dizer que tínhamos que latino-americanizar a Europa”, contou.
    A conversa durou pouco menos de uma hora – a segunda parte seria feita por telefone, o que acabou não acontecendo. Naquela tarde de sábado, mesmo dia em que o presidente ucraniano Viktor Yanukovich seria deposto, ele analisou a atual onda de manifestações com certa desconfiança. “As mobilizações populares são apenas metade do quadro, sem uma força política, essas mobilizações tendem a não se desenvolver muito”, comentou. A crítica aos protestos se referia também ao contexto venezuelano. Defensor do chavismo, Laclau enxergava nas manifestações uma clara tentativa de desestabilizar o já instável governo de Maduro.
    Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida pelo pensador argentino, em seu “sofá londrino”, quase dois meses antes de sua morte:

    CartaCapital: Seu livro On Populist Reason (A Razão Populista) foi lançado em 2005, ano em que importantes países latino-americanos eram governados por líderes com fortes características populistas. Quase dez anos depois, como o senhor analisa esse momento?
    Ernesto Laclau: Quando falamos de um governo popular na América Latina temos de ver que a nossa tradição de democracia foi muito diferente da tradição europeia, onde no século XIX só havia dois termos: liberalismo e democracia. O primeiro era uma forma muito respeitável de organização do Estado, que existia na França e na Inglaterra, por exemplo, enquanto democracia era um termo pejorativo, como o populismo é hoje. Já na América Latina essa integração de liberalismo e democracia nunca aconteceu da mesma forma. Enquanto na Europa o liberalismo foi associado ao Terceiro Estado, contra a monarquia absolutista, na América Latina o Estado liberal não era nada democrático. No caso do Brasil, por exemplo, o regime da República Velha era impecavelmente liberal, mas nem um pouco democrático. E o desenvolvimento de uma nova consciência de setores excluídos da população no começo do século XX se expressou de uma forma não-liberal: a Coluna Prestes, a Revolução de 1930, e, finalmente, o Estado Novo. Esse processo, que resultou no fortalecimento da autoridade do Poder Executivo, mostra como as massas foram excluídas do jogo parlamentar por décadas e décadas. A Argentina teve um processo parecido, com o peronismo, e a emergência da vontade das massas, enquanto o liberalismo era um componente muito pequeno da experiência peronista. Há uma dualidade em relação à experiência das massas na América Latina. De um lado, a tradição liberal-democrática, de outro o nacional-popular. O primeiro tenta produzir uma democratização interna do Estado liberal - Rui Barbosa, no Brasil, é um exemplo. De outro lado, houve a tradição nacional-popular, que dominou a maior parte dos países latino-americanos nos anos 1920, 1930 e 1940. Hoje, pela primeira vez, há uma confluência do respeito às normas liberais do Estado e a prevalência da tradição nacional-popular. Esses dois sistemas não são mais tão separados como antes, na primeira fase do populismo. Neste segunda fase as coisas são diferentes, e provavelmente vão continuar muito diferentes da democracia europeia, no sentido de que a figura do presidente, o poder democrático, é o poder executivo. Se pensarmos em Chávez, em Lula, em Kirchner, em Evo Morales, em todos esses exemplos há uma tradição nacional-popular, mas que respeita os princípios do estado liberal.
    CC: A Venezuela vem passando por uma situação política delicada nos últimos meses. Como o senhor analisa esse momento de transição e instabilidade no país?
    EL: Claro que a morte de Chávez representou um grande golpe para o projeto nacional-popular na Venezuela, e as forças da oposição tentaram tirar vantagem de toda essa instabilidade gerada. Eles estão tentando que essa transição não aconteça. Se pensarmos nas campanhas de figuras como Leopoldo López, está claro que ele representa uma tendência golpista. Ele não está querendo ganhar a eleição, mas desestabilizar o governo. E essa tem sido uma tendência da oposição na Venezuela. A questão é se esses protestos vão desestabilizar sem afetar a base do sistema, ou se vão avançar em uma direção em que a base não poderá ser mantida. Se isso acontecer, será um rompimento radical com o projeto do chavismo. Mas, até agora, o que parece é que essas mobilizações não serão capazes de desestabilizar o sistema a esse ponto. Este é um momento de uma típica guerra de posição, no sentido gramsciniano, em que há um processo molecular acontecendo na sociedade – é preciso esperar um pouco para ver como eles vão se cristalizar.
    CC: O senhor tem acompanhado os protestos na Ucrânia? Qual sua opinião sobre esta e outras mobilizações populares espalhadas por diversos países nos últimos anos?
    EL: A formação das alternativas populares tem duas dimensões: a da autonomia e a da hegemonia. A primeira seria a mobilização de setores excluídos da esfera pública para serem incorporados a ela, como aconteceu no caso dos piqueteros na crise econômica da Argentina, em 2001. O que foi inteligente do Kirchner foi criar canais de comunicação com esses grupos. Essa é a dimensão da autonomia. Já a dimensão da hegemonia envolve a transformação dos aparatos do Estado. Se um grupo confia exclusivamente na dimensão da autonomia, o Estado permanece inalterado, e a mobilização tende a desaparecer. Isso aconteceu com os Indignados, na Espanha. Era um grande movimento social, mas eles não tinham objetivos políticos claros e por isso perderam a força. Por outro lado, se você confiar totalmente na transformação burocrática, a dimensão da hegemonia, sem a dimensão da autonomia, você terá governos burocráticos e sem capacidade de promover perspectivas de mudanças. No caso de Kiev, esta parece uma mobilização popular bem-sucedida pelo fato de ter atingido o aparato do Estado. A questão é o que acontece depois. Eu me lembro que, logo após a Primavera Árabe, as pessoas estavam muito animadas. Acho que devemos sempre esperar para ver qual vai ser o resultado. As mobilizações populares são apenas metade do quadro. Elas também podem levar a uma estabilização de regimes que não serão nem capazes de lidar com o desafio democrático pela frente, ou não têm interesse em seguir esse objetivo. O que está acontecendo no Egito é um exemplo. Quatro anos depois das mobilizações populares, o país ainda é incapaz de estabelecer um regime político estável.
    CC: Nos últimos meses, houve uma forte desvalorização do peso na Argentina, a maior nos últimos 12 anos. O senhor não acha que isso demostra uma inabilidade do governo Kirchner em manter uma estabilidade econômica no país?
    EL: A política econômica do governo Cristina e, anteriormente, de Kirchner, sempre trabalhou no sentido de evitar os efeitos da crise internacional e manter uma relativa autonomia no desenvolvimento econômico. Desde a fim da negociação do projeto neoliberal da Alca, no qual o Brasil teve um papel muito importante, a prioridade tem sido a de garantir uma certa autonomia do país, de não aceitar mais pressões de órgãos financeiros internacionais. O objetivo agora deve ser controlar a inflação, de uma forma ou de outra [comprometendo o câmbio ou não].
    CC: É verdade que o senhor atua como uma espécie de conselheiro político de Cristina Kirchner?
    EL: Não, de maneira nenhuma. Já estive com ela algumas vezes, mas ela nunca me pediu conselhos sobre absolutamente nada. Já falaram de tudo sobre isso. Uma vez, após um desses encontros, ela me acompanhou até a porta do seu escritório, e havia alguns jornalistas do lado de fora. Antes de ir embora, ela me disse 'Precisamos combinar um encontro para você nos explicar do que se trata a sua teoria do discurso'. No dia seguinte, publicaram que a presidenta tinha me pedido para lhe dar aulas de oratória (risos).

    sexta-feira, 18 de abril de 2014

    Altamiro Borges: Gabriel García Márquez e o jornalismo

    Gabriel García Márquez e o jornalismo

    Por Luciano Martins Costa, noObservatório da Imprensa:

    A morte de Gabriel García Márquez surpreendeu a imprensa de todo o mundo na quinta-feira (17/4), embora boatos tenham anunciado que ele esperava junto de sua família o desfecho da doença que o acometia. Gabo já não tinha vigor para outro combate com o câncer, que em 1999 havia interrompido um de seus projetos mais instigantes.

    Na sexta-feira (18), os jornais fazem longos obituários, ressaltando sua obra literária, na qual se destaca Cem Anos de Solidão, o estonteante romance que é tido como a metáfora perfeita dos rincões mais profundos da América Latina. Os comentários repetem à exaustão as referências a ele como fundador do estilo literário que ficou conhecido como “realismo mágico”, expressão que ele não reconhecia como definidora de sua obra. Aquilo que para os outros parecia magia era o modo como ele enxergava a realidade.

    Os privilegiados que puderam observá-lo de perto sabem que ele vivia em um estado que excedia os parâmetros comumente aceitos como definidores daquilo que existe. Realidade e imaginação se completavam. No convívio mais próximo, impressionava o modo como saltava rapidamente de um tema complexo para possibilidades radicais, num encadeamento de palavras que mesclavam reflexões profundas com brincadeiras pueris e provocações.

    Foi assim com os dez jornalistas que convidou para aquele projeto, em 1997, que ele intitulou “jornalismo ideal”. Era o tempo de consolidação das tecnologias de informação e comunicação que viriam a revolucionar o modo como o ser humano se comunica e se informa, e ele se juntou ao grupo para liderar o desenvolvimento de uma visão de futuro para o jornalismo.

    Este observador era um dos participantes.

    Durante meses, cada um em sua cidade, e posteriormente em Cartagena de Índias, na Colômbia, e depois em San Miguel de Allende, no México, o grupo se dedicou a imaginar como poderia ser uma imprensa capaz de se aventurar no território ilimitado da internet, abrindo-se para a sociedade e compartilhando com o público o poder de definir o que é relevante entre os fatos de cada dia.

    O zumbido da ética
    O projeto foi concluído no final de 1998 e deveria ser levado a redações e escolas de jornalismo pelo mundo afora, com uma série de recomendações e propostas que tinham como objetivo provocar uma ruptura no modo como é feita a interpretação e mediação dos acontecimentos pela imprensa. A doença surpreendeu a todos, mas aquelas reflexões permaneceram no currículo da Fundação para o Novo Jornalismo Iberoamericano, idealizado por Gabriel García Márquez e dirigido pelo intelectual Jaime Abello Banfi.

    No fundo, o propósito era romper alguns processos tradicionais do trabalho jornalístico, abrindo a possibilidade de compartilhamento das escolhas com o leitor. Cabia ao designer Roger Black elaborar os meios pelos quais haveriam de conviver textos e imagens, de modo que uma nova arquitetura estimulasse a transformação constante do conteúdo pela experiência de cada leitor.

    Gabo era o paradigma: sua presença e suas intervenções apontavam para o horizonte sem limites da imaginação. Era um homem fascinante, um manancial de ideias cuja matriz parecia vir de um profundo sentimento de solidariedade, o mesmo que o fez se aproximar dos protagonistas de algumas das utopias do seu tempo.

    Costumava dizer que o jornalismo deveria perseguir a realidade, e apostava que sempre haveria leitores interessados em acompanhar uma história, desde que fosse contada com talento. Nesse sentido, ele achava que jornalismo e literatura tinham que se mesclar em algum ponto.

    Seu Relato de um Náufrago, primorosa reportagem que resgatou, meses depois de ocorrido, o testemunho do único sobrevivente de um desastre no mar do Caribe, é um modelo dessa possibilidade literária do jornalismo. 

    No entanto, para Gabriel García Márquez, antes da técnica vinha a ética. Ele nos ensinou que essa deve ser a razão de ser da atividade jornalística: uma ética profunda, capaz de justificar a intromissão de alguém na vida do outro. Ele dizia isso com uma metáfora simples e clara: “A ética não é uma condição ocasional, mas deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o voo da mosca”.

    ODiario.info » Kennedy discutiu o derrube de Goulart dois anos antes do golpe de 1964 no Brasil

    Kennedy discutiu o derrube de Goulart dois anos antes do golpe de 1964 no Brasil

    Documentos desclassificados que acrescentam novos dados à longa história da ingerência imperialista. Historial que de Truman a Kennedy, de Bush a Obama, acumula os mais hediondos crimes contra os povos de todo o mundo. Neste caso com a particularidade de destacar de novo o papel da sinistra figura de Vernon Walters, com quem a Revolução de Abril teve também que se defrontar.

    O presidente John F. Kennedy e seus assessores discutiram o derrubamento do governo de João Goulart uns dois anos antes do golpe militar no Brasil perpetrado no 1º de Abril de 1964, opção que subsequentemente foi implementada pelo governo de Lyndon B. Johnson, segundo revelam transcrições da Casa Branca difundidas pela organização de investigação independente Arquivo de Segurança Nacional.
    Em Julho de 1962 Kennedy quis saber que tipo de relações mantinham os Estados Unidos com os militares brasileiros, e em Março de 1963 deu instruções aos seus assessores: “temos que fazer alguma coisa em relação ao Brasil” se Goulart não deixa de se entender com aquilo a que o presidente chamava “anti-estadunidenses ultra-radicais no governo brasileiro”.


    “Creio que uma das nossas tarefas mais importantes é fortalecer a coluna vertebral dos militares brasileiros”, respondeu Lincoln Gordon, embaixador estadunidense no Brasil, em reunião com Kennedy e o assessor presidencial Richard Goodwin na Casa Branca em 30 de Julho de 1962. Acrescentou que tinha de se “deixar claro, discretamente, que não somos necessariamente hostis a qualquer tipo de acção militar, seja ela qual for, se for claro que o motivo da acção militar é… que (Goulart) está entregando o país aos” …. “comunistas”, interrompeu Kennedy para acabar a frase, segundo a transcrição das gravações secretas de Kennedy das suas reuniões na Sala Oval.
    Foi nessa reunião que Kennedy e a sua equipa decidiram melhorar os seus contactos com os militares brasileiros, tarefa entregue ao então adido militar, tenente-coronel Vernon Walters, resume o Arquivo de Segurança Nacional (National Security Archive). Acrescenta que Walters se tornaria o actor clandestino chave nos preparativos para o golpe de Estado no Brasil, pouco menos de dois anos depois desta reunião.
    O Arquivo de Segurança assinala que os documentos oficiais – as novas transcrições juntamente com outros relatórios oficiais da Casa Branca anteriormente desclassificados – mostram que em finais de 1962 o governo de Kennedy tinha concluído que um golpe de Estado serviria os interesses estadunidenses se os militares brasileiros fossem encorajados a avançar com esse objectivo. A Casa Branca estava incomodada com a política exterior independente de Goulart durante a crise dos mísseis, e com a sua renitência em apoiar, entre outras coisas, o desejo de Washington de expulsar Cuba da Organização de Estados Americanos.


    Em 11 de Dezembro de 1962 o comité executivo do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca reuniu para avaliar três opções sobre o Brasil. A primeira: não fazer nada; a segunda: colaborar com elementos hostis a Goulart dentro do país com vista a impulsionar o seu derrubamento e; a última: mudar a orientação de Goulart e do seu governo. Optou-se pela terceira mas, segundo o relatório oficial desta reunião, aceitou-se que a opção de promover um golpe devia ser mantida como consideração activa e contínua.
    Pouco depois, em 17 de Dezembro de 1962, Kennedy enviou o seu irmão Robert para apresentar um ultimato a Goulart.
    Robert Kennedy informou Goulart de que Washington tinha sérias dúvidas sobre a futura relação com o Brasil dados os sinais de infiltração de comunistas e nacionalistas de extrema-esquerda em postos civis do governo do país, bem como a oposição que mantinha relativamente a políticas e interesses estadunidenses em geral.
    Em Março de 1963 Goodwin recomendava ao presidente que caso Goulart continuasse renitente em modificar a sua postura, os Estados Unidos deveriam preparar o mais prometedor clima possível para a sua substituição por um regime mais desejável, segundo transcrições das gravações.
    Numa reunião na Casa Branca em 7 de Outubro de 1963, o presidente debateu se os Estados Unidos necessitariam de derrubar Goulart, incluindo uma intervenção militar. Foram elaborados, sob a direcção do embaixador Gordon, vários planos de contingência destacando a possibilidade de uma intervenção armada, que foram transmitidos da embaixada a Washington em 22 de Novembro de 1963 – o dia em que Kennedy foi assassinado.


    Em Março de 1964, ao estalar a disputa entre Goulart e os generais brasileiros, o governo de Johnson promoveu e apoiou o crescente descontentamento militar. Segundo um documento secreto de uma reunião de responsáveis da CIA, o Departamento de Estado e a Casa Branca, manifestaram que: “não queremos que o Brasil vá a pouco e pouco pelo cano abaixo enquanto ficamos parados à espera das próximas eleições”.
    A Operação Irmão Sam já tinha sido autorizada por Johnson para permitir que os militares estadunidenses apoiassem os seus congéneres brasileiros, encoberta e abertamente, com armas e tropas se tal fosse necessário para apoiar o golpe.


    Peter Kornbluh, director do projecto sobre o Brasil do Arquivo de Segurança Nacional, comentou que as operações clandestinas de desestabilização política da CIA contra Goulart entre 1961 e 1964 constituem o buraco negro desta história, e apelou a que o governo de Barack Obama desclassifique os arquivos de inteligência desse período sobre o Brasil.
    Os documentos difundidos e analisados encontram-se em Arquivo de Segurança Nacional.
    Nova Iorque, 2 de Abril.

    *Correspondente (La Jornada, quinta-feira, 3 de Abril de 2014)

    quinta-feira, 17 de abril de 2014

    Podemos sorrir ainda em meio ao espanto e ao medo? | Brasil de Fato

    Podemos sorrir ainda em meio ao espanto e ao medo?

    Numa época como a nossa, de desagregação geral das relações sociais e de ameaças de devastação da vida em suas diferentes formas e até de risco de desaparecimento de nossa espécie humana, vale apostar nestas duas iluminações: Deus é comunhão de três que são relação e amor e que a vida não é destinada à morte pessoal e coletiva mas a mais vida ainda. 

    Por Leonardo Boff
    Na minha já longa trajetória teológica dois temas me foram desde o início sempre centrais, a partir dos anos 60 do século passado porque representam singularidades próprias do cristianismo: a concepção societária de Deus (Trindade) e a idéia da ressurreição na morte. Se deixássemos fora estes dois temas, não mudaria quase nada no cristianismo tradicional. Ele prega fundamentalmente o monoteismo (um só Deus) como se fôssemos judeus ou muçulmanos. No lugar da ressurreição preferiu o tema platônico da imortalidade da alma. É uma lastimável perda porque deixamos de professar algo singular, diria, quase exclusivo do cristianismo, carregado de jovialidade, de esperança e de um sentido inovador do futuro.
    Deus não é a solidão do uno, terror dos filósofos e dos teólogos. Ele é a comunhão dos três Únicos que, por serem únicos, não são números mas um movimento dinâmico de relações entre diversos igualmente eternos e infinitos, relações tão íntimas e entrelaçadas que impede que haja três deuses mas um só Deus-amor-comunhão-inter-retro-comunicação. Temos a ver com um monoteismo trinitário e não atrinitário ou pré-trinitário. Nisso nos distinguimos dos judeus e dos muçulmanos e de outras tradições monoteístas.
    Dizer que Deus é relação e comunhão de amor infinito e que dele se derivam todas as coisas é permitir-nos entender o que a física quântica já há quase um século vem afirmando: tudo no universo é relação, entrelaçamento de todos com todos, constituindo uma rede intrincadíssima de conexões que formam o único e mesmo universo. Ele é, efetivamente, à imagem e semelhança do Criador, fonte de interrelações infinitas entre diversos que vem sob a representação de Pai, Filho e Espírito Santo. Essa concepção tira o fundamento de todo e qualquer centralismo, monarquismo, autoritarismo e patriarcalismo que encontrava no único Deus e único Senhor sua justificação, como alguns teólogos críticos já o notaram. O Deus societário, fornece, ao invés, o suporte metafísico a todo tipo de socialidade, de participação e de democracia.
    Mas como os pregadores, geralmente, não se referem à Trindade, mas somente a Deus (solitário e único) perde-se uma fonte de crítica, de criatividade e de transformações sociais na linha da democracia e da participação aberta e sem fim.
    Algo semelhante ocorre com o tema da ressurreição. Esta constitui o núcleo central do cristianismo, seu point d’honeur. O que reuniu a comunidade dos apóstolos depois da execução de Jesus de Nazaré na cruz (todos estavam voltando, desesperançados, para suas casas) foi o testemunho das mulheres dizendo: “esse Jesus que foi morto e sepultado, vive e ressuscitou”. A ressurreição não é uma espécie de reanimação de um cadáver como o de Lázaro que acabou, no final, morrendo como todos, mas a revelação do novissimus Adam na expressão feliz de São Paulo: a irrupção do Adão definitivo, do ser humano novo, como se tivesse antecipado o fim bom de todo o processo da antropogênese e da cosmogênese. Portanto, uma revolução na evolução.
    O cristianismo dos primórdios vivia desta fé na ressurreição resumida por São Paulo ao dizer:”Se Cristo não ressuscitou a nossa pregação é vazia e vã a nossa fé”(1Cor 15,14). Faríamos então melhor pensar: ”comamos e bebamos porque amanhã morreremos”(15,22). Mas se Jesus ressuscitou, tudo muda. Nós também vamos ressuscitar, pois ele é o primeiro entre muitos irmãos e irmãs, “as primícias dos que morreram”(1Cor 15,20). Em outras palavras e isso vale contra todos os que nos dizem que somos seres-para-a-morte, que nós morremos sim, mas morremos para ressuscitar, para dar um salto para o termo da evolução e antecipá-la para o aqui e agora de nossa temporalidade.
    Não conheço nenhuma mensagem mais esperançadora do que esta. Os cristãos deveriam anunciá-la e vive-la em todas as partes. Mas a deixam para trás e ficam com o anúncio platônico da imortalidade da alma. Outros, como já observava ironicamente Nietzche, são tristes e macambúzios como se não houvesse redenção nem ressurreição. O Papa Francisco diz que são “cristãos de quaresma sem a ressurreição”,   com “cara de funeral”, tão tristes como se fossem ao próprio enterro.
    Quando alguém morre, chega para ele o fim do mundo. É nesse momento, na morte, que acontece a ressurreição: inaugura o tempo sem tempo, a eternidade benaventurada.
    Numa época como a nossa, de desagregação geral das relações sociais e de ameaças de devastação da vida em suas diferentes formas e até de risco de desaparecimento de nossa espécie humana, vale apostar nestas duas iluminações: Deus é comunhão de três que são relação e amor e que a vida não é destinada à morte pessoal e coletiva mas a mais vida ainda. Os cristãos apontam para uma antecipação desta aposta: o Crucificado que foi Transfigurado. Guarda os sinais de sua passagem dolorosa entre nós, as marcas da tortura e da crucificação, mas agora transfigurado no qual as potencialidades escondidas do humano se realizaram plenamente. Por isso o anunciamos como o ser novo entre nós.
    A Páscoa não quer celebrar outra coisa do que esta ridente realidade que nos concede sorrir e olhar o futuro sem espanto e pessimismo.
    Leonardo Boff escreveu A nossa ressurreição na morte, Vozes 2004.

    terça-feira, 15 de abril de 2014

    Acusados de tráfico de drogas com helicóptero de deputado são soltos

    Acusados de tráfico de drogas com helicóptero de deputado são soltos

    Mesmo após prisão em flagrante, procurador da República acusou a PF de efetuar a prisão dos cinco acusados a partir de uma prova ilícita





    Da Redação do BRASILDEFATO

    O caso do "helicóptero do pó", que envolveu diretamente uma empresa do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG), filho do senador  Zezé Perrella (PDT-MG), ficou conhecido por todo o Brasil no final de 2013 e ainda gera muitas perguntas por todo o país: quem seria o dono dos mais de 400 kg de pasta base para cocaína apreendidos?

    Acontece que essas perguntas podem ficar sem respostas, pois, na segunda feira passada (7), a Justiça mandou soltar os cinco denunciados pelo Ministério Público Federal, sem que fossem ouvidos. 

    Segundo o procurador da República Fernando Amorim Lavieri a PF efetuou a prisão dos cinco a partir de uma prova ilícita. Serviu como justificativa o fato de que foi a partir de uma interceptação telefônica ilegal que descobriu-se que a droga seria descarregada na cidade de Afonso Cláudio, no Espírito Santo.

    Mergulhado no caso, o repórter Joaquim de Carvalho publicou recente reportagem explicando o caso que considera "um dos escândalos mais rumorosos" e que está "longe de ser explicado". A reportagem foi publicada no Diário do Centro do Mundo. Leia na íntegra:

    Exclusivo: o que diz o processo do caso do helicóptero dos Perrellas, tratado na Justiça de “Helicoca”


    O repórter Joaquim de Carvalho está mergulhado na história da apreensão de 445 quilos de pasta de cocaína num helicóptero que pertence à família Perrella, um dos escândalos mais rumorosos do ano passado, que está longe de ser explicado. É o segundo projeto de crowdfunding do DCM, totalmente financiado pelos leitores.
    Esta é só a primeira reportagem de uma série especial. Outras virão, bem como um documentário. A matéria é fruto da apuração de Joaquim em Vitória e Afonso Cláudio, no Espírito Santo. Ele está agora a caminho de Minas Gerais.
    O senador José Perrella de Oliveira Costa, o juiz federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa e o procurador da República Júlio de Castilhos Oliveira Costa têm em comum não apenas o sobrenome.
    O juiz e o procurador atuam no processo número 0012299-92.2013.4.02.5001, sobre tráfico internacional de drogas, em que o Oliveira Costa senador, mais conhecido como Zezé, é o sujeito oculto.
    Eu fui a Vitória e a Afonso Cláudio, no Espírito Santo, conversei com pessoas envolvidas na investigação, advogados e testemunhas. Também tive acesso ao processo e a um procedimento sigiloso do Ministério Público Federal.
    Era necessário contar a história da segunda maior apreensão de drogas no estado, onde o caso é tratado como um dos maiores escândalos da história.
    No processo, não há prova de que Perrella esteja envolvido na operação criminosa que pretendia colocar nas ruas da Europa 445 quilos de cocaína produzida em Medellín, na Colômbia.
    Mas, embora seja mencionado não mais do que uma dezena de vezes nas 1162 páginas da ação penal, o nome dele paira como um fantasma sobre todo o processo.
    Tanto é assim que, entre os servidores da Justiça Federal, a ação foi apelidada de “Helicoca”, referência ao helicóptero Robinson, modelo 66, registrado em nome de uma empresa da família Perrella e que foi usado pela quadrilha no transporte da cocaína.
    Uma das poucas vezes em que José Perrella aparece é na transcrição de uma troca de mensagens entre o piloto da família Perrella, Rogério Almeida Antunes, e o primo dele, chamado Éder, que mora em Minas Gerais.
    “Man, eu quase derrubei a máquina do Zezé”, escreveu ele em seu Iphone, usando o aplicativo Whatsapp.
    Rogério conta que estava transportando cocaína, num peso superior à capacidade do helicóptero. “Eu nunca passei um apuro daquele”, digita. “Nossa!”, responde o primo.
    “Eu tava vendo a máquina cair. Suei de um jeito que eu nunca vi na vida, molhei a camiseta”, comenta Rogério. “Imagino”, responde Éder. “Tava com peso demais e o vento tava de cauda”, continua Rogério. “Mas deu tudo certo”, finaliza. “Que bom”, diz o primo.
    Nos três dias que durou a operação de busca e entrega da cocaína, Éder virou um interlocutor frequente de Rogério. Com base nos registros no GPS, é possível saber que o voo com o helicóptero de Perrella começou na sexta-feira, dia 22 de novembro, por volta das 14 horas.
    De Belo Horizonte, o helicóptero voou para o Campo de Marte, em São Paulo, onde pousou aproximadamente às 17 horas. No aeroporto paulistano, embarcou Alexandre José de Oliveira Júnior, proprietário de uma escola de formação de pilotos no Campo de Marte e, segundo a investigação da Polícia Federal, responsável por atrair Rogério para a quadrilha.
    Retomada a viagem, o helicóptero voou até Avaré. Rogério e Alexandre deixaram o helicóptero no aeroporto e foram para um hotel no centro da cidade, onde dormiram.
    Na manhã seguinte, voaram até Porecatu, no interior do Paraná, onde o helicóptero foi abastecido, e daí seguiram até Pedro Juan Caballero, no Paraguai, em uma fazenda bem próxima da divisa com o Brasil.
    O pouso em Pedro Juan Caballero ocorreu por volta das 9 horas, onde dois homens, um deles brasileiro, ajudaram a colocar os 445 quilos de cocaína no bagageiro e nos bancos do helicóptero.
    No retorno ao Brasil, nova escala em Porecatu e depois pouso em uma fazenda em Santa Cruz do Rio Pardo, seguido de uma parada em Avaré e depois no município de Janiru, próximo de São Paulo.
    Tantas paradas são justificadas pela necessidade de reabastecimento e também para esconder temporariamente a droga. Os dois evitavam parar em aeroportos regulares com cocaína a bordo.
    De Jarinu, onde a droga ficou guardada, voaram até o Campo de Marte, estacionaram no hangar da escola de Alexandre e foram para um apartamento, onde pernoitaram. No dia seguinte, domingo, demoraram para decolar do Campo de Marte, em razão da chuva.
    Na retomada da viagem, o destino é uma propriedade rural no município de Afonso Cláudio, no Espírito Santo.
    No trajeto, fizeram duas paradas, no interior de Minas Gerais: uma em Sabarazinho e outra em Divinópolis, bem perto da sede das empresas da família Perrella, em Pará de Minas. Pela investigação, não fica claro onde pegaram de volta a droga deixada em Jarinu.
    O voo estava atrasado quando chegou a Afonso Cláudio. Era quase noite. No local, aguardavam o empresário carioca Robson Ferreira Dias e o jardineiro Everaldo Lopes Souza.
    No momento em que descarregavam a cocaína, policiais federais e policiais militares do Espírito Santo, que estavam de campana, se aproximaram e deram voz de prisão, sem que nenhum dos quatro esboçasse qualquer reação.
    Chamou a atenção dos policiais o fato de que nenhum dos traficantes estivesse armado. Afinal, estavam em poder de algo de muito valor. A pasta base da cocaína apreendida tinha um grau de pureza elevado: 95%. Na Europa, onde a droga seria distribuída, a cocaína considerada de boa qualidade tem 25% de pureza.
    Portanto, os 445 quilos trazidos de Pedro Juan Caballero, a preço estimado de R$ 6 milhões, seriam transformados em quase duas toneladas de cocaína própria para o consumo. A preço de varejo na Europa, renderiam pelo menos R$ 50 milhões.
    “É muito dinheiro envolvido para uma operação tão desprotegida. Por que não havia escolta em terra? Será que ninguém da quadrilha se preocupou com traficantes rivais?”, questiona um policial civil de São Paulo, com experiência em investigação de narcóticos.
    O juiz federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa também tem os seus questionamentos. “Por que a quadrilha usou o helicóptero do senador se o Alexandre, dono de uma escola de pilotos, tem cinco helicópteros e poderia fazer uso de qualquer um deles?”
    Outra dúvida: Gustavo Perrella, deputado estadual e filho do senador Zezé Perrella, autorizou o voo até domingo à tarde, mas quando houve a prisão já era quase noite, e não há registro telefônico de que o piloto, empregado dele, tenha sido procurado.
    Como o piloto faria desaparecer do helicóptero o forte cheiro da pasta base de cocaína, que ficou impregnado, é outro mistério. O que Rogério diria ao patrão, caso ele não soubesse do transporte de cocaína, a respeito do odor?
    Estas são perguntas à espera de respostas. Há muitas outras, como admite o próprio juiz. Mas talvez algumas nunca apareçam. É que, na segunda-feira passada, 7 de abril, os únicos presos nesta operação foram colocados em liberdade, sem que fossem ouvidos.
    A libertação foi uma reviravolta que surpreendeu até o mais otimista dos advogados. Todos eles já esperavam por uma condenação severa – no mínimo, oito anos, em regime fechado, já que tráfico internacional é considerado crime hediondo.
    Os advogados e os réus estavam tensos quando o juiz adentrou a sala, com uma hora e dez minutos de atraso. Ele se desculpou pela demora. “Estava trabalhando na minha decisão. Vou mandar bater o alvará de soltura”, disse.
    O mais experiente entre os advogados de defesa, Marco Antônio Gomes, admite: “Tive que fazer um esforço muito grande para não dar um grito e comemorar. O alvará de soltura é o ápice da advocacia criminal. Se você perguntar a um bom advogado criminalista se ele prefere ficar com a modelo mais bonita do mundo ou obter um alvará de soltura, com certeza ele escolherá o alvará de soltura.”
    No caso do Espírito Santo, os advogados nem tiveram muito trabalho para chegar ao ápice. O principal motivo para a libertação dos presos foi uma denúncia do Ministério Público Federal, que tramitava em sigilo. O Ministério Público está, a rigor, no lado oposto da defesa.
    Mas, neste caso, facilitou o trabalho dos advogados. Ou será que foi a Polícia Federal que meteu os pés pelas mãos? O fato é que o procurador da República Fernando Amorim Lavieri acusou a Polícia Federal de efetuar a prisão dos traficantes mediante uma prova ilícita.
    Segundo ele, foi uma interceptação telefônica ilegal realizada em São Paulo que levou à descoberta de que a droga seria descarregada em Afonso Cláudio. Na denúncia do procurador, não é citado o telefone grampeado. A acusação, vaga e genérica, serviu, no entanto, como justificativa para o juiz colocar os traficantes em liberdade.
    Diante da versão do procurador, cai por terra a história de que os bravos homens do serviço reservado da PM do Espírito Santo teriam feito a investigação que levou à descoberta da quadrilha.
    É essa a explicação oficial: a PM paulista descobre que uma fazenda foi comprada a preço superfaturado e estaria sendo usada por pessoas suspeitas, e avisa a PF, que monta a operação no meio do mato, à espera da chegada da droga.
    Ao decidir libertar os presos, o juiz Marcus Vinícius argumentou que já tinha se esgotado o prazo legal para a prisão sem julgamento. Na verdade, ainda faltavam alguns dias, mas esse prazo, a rigor, é elástico. Vale a interpretação do juiz.
    “Eu entendo que a regra é a liberdade, prisão é exceção”, explicou Marcus Vinícius. “Não sou nenhum Torquemada. Julgo com base na lei”.
    Ele remarcou o julgamento para outubro e admite que os acusados poderão fugir.
    Para conceder o alvará de soltura, o magistrado não exigiu a apresentação de passaportes – “medida inócua” – nem fixou o pagamento de fiança, que poderia inibir a fuga. Mas talvez os acusados nem precisem fugir.
    O juiz afirma que, na hipótese do Ministério Público sustentar a acusação de grampo ilegal, vai considerar nulo todo o processo.
    O resultado prático é que os quatro acusados voltarão a ter ficha limpa e o helicóptero será devolvido para os Perrellas.
    O delegado da Polícia Federal Leonardo Damasceno, que desde os primeiros dias depois da prisão em Cláudio Afonso inocenta publicamente os Perrellas, diz que a instituição não fez nada de errado.
    Em nota, a Polícia Federal do Espírito Santo se manifestou assim a respeito do desfecho do processo:
    “Independente da soltura dos presos, a retirada de circulação de quase meia tonelada atinge a todos os planos e programas de segurança e saúde públicas, deixando essa superintendência orgulhosa de sua atuação em conjunto com a Polícia Militar do Espírito Santo.”
    José Perrella de Oliveira Costa não é parente do juiz Marcus Vinícius de Oliveira Costa nem do coordenador do Núcleo Criminal da Procuradoria da República no Espírito Santo, Júlio de Castilhos Oliveira Costa, mas em Vitória ou em Afonso Cláudio, onde o caso do helicóptero é tratado com indignação, as pessoas comuns dizem que a Justiça foi como uma “mãe” para os acusados e também para os suspeitos. O senador Perrella não foi sequer ouvido, nem para dizer que não tem nada a ver com o crime.
    Como atesta a Polícia Federal, ele não é suspeito.