quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Estética do fragmento – Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas, de José Saramago



Portugal - Diário Liberdade - [Rodrigo Moura*] O romance publicado postumamente Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas (2014) de José Saramago foi encontrado incompleto no computador do escritor português, entretanto veio a público o que seria o início deste romance que aborda a temática da guerra e da indústria de armas.

O personagem arthur paz semedo apresenta-se um pacato funcionário de uma empresa de fabricação de armas, a belona s.a, e num ímpeto de curiosidade e mistério, ele decide investigar a produção de armas durante os anos trinta, sobretudo no que tange à Guerra Civil espanhola em que Franco usava da censura, tortura e repressão para governar. O fragmento do romance nos mostra, assim como em Todos os Nomes, outro romance de Saramago, um personagem curioso que sai a procura de respostas. Nessa procura, pode-se dizer que o personagem sai em busca de compreender-se, posto que entender a Historia é compreender a si mesmo.

O fragmento do romance nos mostra um Saramago um pouco mais combativo, mas ao mesmo tempo, sentimos toda aquela leveza de um Saramago que encontramos em A jangada de Pedra, Todos os Nomes, Ensaio sobre a cegueira.

Sempre com uma certa ironia, o autor foca na curiosidade em se desvendar algo. Poder-se-ia dizer que muitas obras de Saramago estão repletas de elementos misteriosos. A figura de arthur paz semedo mostra uma tranquilidade, um personagem quase que inexistente, posto que suas atitudes aparecem mais que o próprio personagem, talvez, por este motivo, o autor português tenha optado por colocar o nome do personagem em minúscula. O romance desenvolve-se dentro do ambiente de trabalho de arthur que consegue autorização para investigar a venda de armas pela empresa nos anos 1930, logo durante a Guerra Civil Espanhola.

Em princípio, todas as ideias são bem-vindas, sobretudo se forem sensatas, e até sua, Um estudo, senhor administrador, Que espécie de estudo, Analisar o nosso antigo sistema contabilístico, por exemplo, dos anos trinta... (SARAMAGO, 2014. p.27)

Entre pequenas mentiras e omissões o personagem vai ganhando espaço no romance e o ar de mistério fica cada vez mais intenso. Dever-se-ia inferir que este livro aborda de forma magistral a questão do mistério e da busca por respostas. E essa tal procura por passa por um autoconhecimento, logo buscando entender os anos trinta, o personagem conseguiria entender a si mesmo. O livro termina com arthur trabalhando em seu ambicioso projeto, deixando para nós, leitores, uma certa vontade de se descobrir, uma certa vontade de ler mais.

Saramago mais uma vez nos brinda com a esperança, com a utopia, típicas da estética saramaguiana. Pode-se encontrar algum tipo de dificuldade para se fazer um estudo mais detalhado sobre este fragmento, entretanto se faz muito importante não deixar que esta magnífica obra não seja estudada de maneira mais profunda.

O pessoal vai gostar, senhor engenheiro, o tratamento de administrador-delegado impunha uma distancia que na realidade não existia, eu que o diga, Suponho que o seu caso foi um pouco especial, veio aqui com uma ideia, Que não iria servir para nada. Serviu para fazer surgir uma ideia melhor, não lhe parece bastante, perguntou o engenheiro. Para lhe falar francamente, tudo me parece demasiado, eu aqui sentado, eu a procurar documentos no arquivo, eu a falar com o administrador-delegado da empresa, eu um simples chefe de faturação menor, sem ofício nem beneficio. Ofício tem, não se queixe, Nada que outra pessoa não pudesse fazer. (SARAMAGO, 2014, p. 57)

*Rodrigo Barreto da Silva Moura – Mestrando em Literatura Portuguesa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ. Pesquisa as obras de Saramago e Ferrin, autor galego. Tem diversos trabalhos publicados e apresentados no Brasil e no exterior.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Lágrima Psicodélica: Creedence Clearwater Revival




Hoje na QUINTA FULL da Rock Radio Lágrima Psicodélica 
vão rolar os seguintes álbuns selecionados por Minduim Mateus.

Boa audição !



MUDDY WATERS
At Newport (1960)



NICO
Chelsea Girl (1967)




WISHBONE ASH
Argus (1972)



PATTI SMITH
Dream Of Life (1988)




RADIOHEAD
The Bends (1995)



JAKSZIKY, FRIPP & COLLINS
A Scarcety Of Miracles (2011)


THE ROLLING STONES
Out Of Our Heads (1965)



CREEDENCE, CLEARWATER, REVIVAL
Cosmo's Factory (1970)



MARILLION
Fugazi (1984)



THE BLACK CROWES
The Southern Harmony And Musical Companion (1992)



BLACK MOUNTAIN
In The Future (2008)



BLACK COUNTRY COMMUNION
Afterglow (2012)

Creedence Clearwater Revival
Creedence Clearwater Revival foi uma banda de rock and roll americana formada por John Fogerty (guitarra e vocais principais), Tom Fogerty (guitarra), Stu Cook (baixo) e Doug Clifford (bateria), que, sob outras denominações, tocavam juntos desde 1959. Adotaram o nome Creedence Clearwater Revival em 1967, com o qual lançaram as primeiras gravações em 1968. O nome C.C.R. surgiu pela junção do nome de um amigo do Tom Fogerty chamado "Creedence Nubal" e por um comercial de cerveja "Clearwater". Já naquele ano obtiveram disco de ouro com o álbum Creedence Clearwater Revival. Ao longo da carreira, entre singles e álbuns, conquistaram nove discos de ouro e sete discos de platina. Separaram-se em julho de 1972. John Fogerty foi quem teve mais êxito na carreira solo. Seu irmão Tom faleceu em 6 de setembro de 1990. Em 1993 o Creedence Clearwater Revival foi introduzido no Rock and Roll Hall of Fame. Recentemente, Stu Cook e Doug Clifford formaram o genérico Creedence Clearwater Revisited, e passaram a excursionar pelo mundo, tocando antigos sucessos da banda original.



TUDO EM CIMA: Feliz Natal...?

TUDO EM CIMA: Feliz Natal...?
Veja como como Aécio se enriquecia com a Arco Íris e silenciava a imprensa mineira


A oito dias de o grupo do senador Aécio Neves (PSDB) deixar o comando de Minas Gerais, o governo estadual divulgou nesta terça-feira, 23, os dados relacionados aos gastos com publicidade feitos pela administração desde 2003. Os dados mostram que, entre 2003 e 2011, o Estado repassou mais de R$ 1,1 milhão às três emissoras de rádio e ao jornal da família do tucano.

A iniciativa teve como objetivo desmontar acusações do PT e investigações em curso do Ministério Público. A partir de janeiro, o petista Fernando Pimentel assume o Estado no lugar de Alberto Pinto Coelho (PP), ex-vice-governador de Antonio Anastasia (PSDB), futuro colega de Aécio no Senado.

De 2003 a 2011, a Rádio Arco Íris, que detém uma franquia da Rádio Jovem Pan FM em Belo Horizonte, teria recebido R$ 1,06 milhão. A Rádio São João del Rei S/A e Vertentes FM, ambas em João del Rei, receberam juntas R$ 51, 8 mil. E o jornal Gazeta de São João del Rei, R$ 45,5 mil entre 2003 e 2011.

O caso passou a ser investigado pelo Ministério Público Estadual (MPE) em 2011, após Aécio ter sido parado em uma blitz da Lei Seca no Rio de Janeiro. Ele dirigia um veículo registrado em nome da Arco Íris.

Aécio Neves governador  beneficiou os negócios da família do tucano.

Por nota, o diretório mineiro do PT destacou a iniciativa do governo mineiro em favor de mais transparência na gestão dos recursos públicos. O partido, no entanto, não deixou de provocar os tucanos.

“Mais uma vez, o PSDB despreza a inteligência dos mineiros e das mineiras. Somente agora, no apagar das luzes de um governo que esteve à frente do Executivo estadual durante doze anos, a Subsecretaria de Comunicação de MG disponibiliza os gastos com publicidade no Estado”, diz a nota do PT.

Os mineiros pagaram a conta da propaganda de Aécio

Nos 12 anos em que foi comandado pelos tucanos, o Estado gastou mais de R$ 547 milhões com publicidade, em valores corrigidos pela inflação

 As empresas de comunicação controladas pela família de Aécio que veicularam publicidade oficial durante seu governo receberam menos do que seus concorrentes.

Aécio e sua família controlam a rádio Arco Íris, retransmissora da Jovem Pan em Belo Horizonte, e as rádios São João e Colonial, de São João del Rei, além do semanário "Gazeta de São João del Rei".


Da posse de Aécio, em 2003, até este mês, quando termina o governo tucano em Minas, os gastos do Estado com publicidade oficial aumentaram mais de 900%, já descontada a inflação do período.

Emissoras de TV ficaram com a maior fatia (R$ 290 milhões), com a Rede Globo em primeiro lugar. Entre os jornais (R$ 138 milhões), o maior beneficiado foi o "Estado de Minas", que apoiou editorialmente o governo de Aécio e sua candidatura presidencial.

O jornal é o maior do Estado e teve um aumento expressivo (1.428%) no valor recebido nos últimos 12 anos. Para o governo, no entanto, houve acréscimo na publicidade para "todos os veículos".

Só foram divulgados gastos efetuados pela administração direta, sem incluir despesas feitas por empresas estatais.

Em outubro, durante a campanha eleitoral, reportagem da Folha mostrou que o governo de Minas se recusava a divulgar informações sobre despesas que realizou para veicular publicidade em três rádios e um jornal controlados pela família de Aécio, que governou o Estado de 2003 a 2010 e disputou a eleição presidencial deste ano.

Na época, a Folha não conseguiu obter essas informações. O jornal apresentou requerimentos baseados na Lei de Acesso à Informação. O governo alegava que o levantamento concluído agora estava incompleto.

Os gastos foram divulgados em documentos no formato PDF, que podem dificultar sua análise. Os valores nas tabelas só podem ser processados após a conversão dos documentos em planilhas de cálculo, com o uso de ferramentas especiais. Na Folha

Guerra do Paraguai: o massacre de um povo soberano - A Verdade » Um jornal dos trabalhadores na luta pelo socialismo

Guerra do Paraguai: o massacre de um povo soberano


A nação paraguaia libertou-se do domínio espanhol em 1811, tendo assumido o governo José Gaspar Rodriguez Francia, que estabeleceu uma ditadura em favor do povo. Realizou a primeira grande reforma agrária da América do Sul, organizando cooperativas de camponeses sob controle do Estado e adotando o regime de trabalho comunitário baseado na experiência dos guaranis. A elite colonial foi despojada dos seus bens e duramente reprimida, inclusive a Igreja Católica, que teve suas propriedades confiscadas.

O Paraguai não tinha saída para o mar. Foi fácil ao capitalismo internacional, comandado então pela maior potência, a Inglaterra, isolar o país, impedindo desenvolvimento de sua economia, pois não havia como exportar o excedente agrícola que abarrotava os paióis por todo o país.

Quando Francia morreu, em 1840, o Paraguai era o único país sul-americano que não tinha um só analfabeto. Amado pelo povo do seu país, era conhecido no resto do mundo como bárbaro, assassino, terrorista, exatamente porque desapropriou a classe dominante colonialista e não colocou seu país sob o tacão do imperialismo inglês.

Um passo à frente

O sucessor de Francia foi Carlos Antônio Lopez, um dos ricos que fugira para o interior devido à perseguição de Francia e se convenceu de que o caminho melhor para a nação era o adotado por seu perseguidor. Primeiro presidente constitucional da República, seguiu e aprofundou o modelo de desenvolvimento autônomo. Negociou com o Uruguai uma saída para o mar, comprometendo-se a defender aquele pequeno e frágil país contra qualquer invasão estrangeira.

Viabilizando a exportação do excedente produzido, foi possível ao Estado investir na indústria e na infraestrutura. O Governo contratou técnicos europeus e enviou seus jovens para estudar nos países centrais. Com isso, foi possível a criação de tecnologia, o desenvolvimento industrial, a implantação de ferrovias. Em pouco tempo, enquanto Brasil e Argentina importavam de alfinete a botão, o Paraguai tinha uma siderúrgica funcionando 24 horas por dia, tudo isso sem dever a ninguém, com o esforço coletivo de um povo engajado.

Naturalmente, despertou a cobiça dos vizinhos e o temor da Inglaterra de que o exemplo se alastrasse e ela perdesse todo um continente que garantia seu crescimento econômico, fornecendo matéria-prima barata, consumindo seus supérfluos e se endividando cada vez mais.

As classes dominantes de Brasil e Argentina se formaram como sócias menores do capital inglês, de quem já dependiam inteiramente. Portanto, sua visão da realidade não tem como fundamento os interesses nacionais e sim os da metrópole, que são os seus também. Elas também eram atingidas pela autonomia paraguaia e se prestaram, sem vacilar, ao papel sujo de invadir o país vizinho.

Quando morre, em 1862, Carlos Antônio Lopez deixa o Paraguai na seguinte situação: “É o único país da América do Sul que não tem dívida externa nem interna; o único que não tem analfabetos; o mais bem dotado de melhoramentos como telégrafo, ferrovias, linhas de navios para a Europa. Possui o mais moderno sistema de moedas. Está livre da ingerência de bancos estrangeiros em sua economia. Todo esse progresso é a sua sentença de morte!”.

Arma-se a ofensiva militar

O Congresso paraguaio elege para suceder Carlos Antônio seu filho, Francisco Solano López. Não por ser filho, mas por demonstrar, desde os 18 anos, sua capacidade de organizar o Exército e sua qualidade de negociador, posto que, em 1859, conseguiu pacificar as províncias argentinas em conflito. Poderia tê-las ocupado, aproveitando o divisionismo e a fraqueza da confederação argentina. Mas o Paraguai nunca teve pretensões expansionistas, ao contrário do que querem fazer crer certos historiadores, não só os do império, mas até mesmo da época atual. O que queriam os paraguaios era apenas manter a paz e a estabilidade na bacia do Rio Prata.

Quanto à economia, Solano López não tinha muito o que fazer, exceto dar continuidade a um modelo de sucesso, haja vista que o pequeno Paraguai já era conhecido no mundo inteiro. Hábil diplomata, ele vai à Europa e articula apoios, contrata profissionais para ajudar na modernização dos meios de produção, vai de vento em popa.

Negocia tratados com Brasil e Argentina para garantir a paz entre as nações que têm interesse comum na região. Acredita que está tudo bem. Não percebe Solano, como não haviam percebido os governos anteriores, que não bastava negociar pequenas querelas de vizinhos, que a razão maior do conflito estava bem longe, na sede do império britânico.

A ofensiva começa no aspecto ideológico, buscando formar uma opinião pública, restrita às elites, aos que liam jornais, de que no Paraguai havia um regime ditatorial, contrário à civilização. Um diplomata inglês, Edward Thornton, afirma: “…Insignificante em si mesmo, o Paraguai pode impedir o desenvolvimento e o progresso de todos os seus vizinhos. Sua existência é nociva e sua extinção como nacionalidade deve ser proveitosa para seu próprio povo e para todo o mundo”.

Os vizinhos engolem a corda. Bartolomeu Mitre, presidente da Confederação Argentina, deixa escapar em seu jornal La Nación: “A República argentina está no imprescindível dever de formar aliança com o Brasil a fim de derrubar essa abominável ditadura de López e abrir ao comércio do mundo essa esplêndida e magnífica região que possui, talvez, os mais variados e preciosos produtos dos trópicos e rios navegáveis para serem explorados”.

A guerra seria para libertar o povo paraguaio do ditador. Seria rápida. Quando atacaram e ficou claro que o povo lutaria até o último homem, o discurso do diplomata norte-americano Charles Washburn tem o tom de um celerado: “Por sua torpeza e cegueira, junto com outros pecados, o povo paraguaio merece o completo extermínio que o aguarda. O mundo terá justo motivo para congratular-se quando não houver uma só pessoa que fale o endiabrado idioma guarani”.

A trama

Como armar um pretexto para o ataque? Simples. Havia na fronteira do Uruguai com o Rio Grande do Sul 40 mil camponeses brasileiros do lado uruguaio, que já dominavam 30% das terras do país. O Governo do Uruguai, para controlar essa ocupação econômica externa, desordenada, estabelece limites severos, aumenta impostos e proíbe o trabalho escravo. Os gaúchos cobram um posicionamento do imperador. Este envia um diplomata, Antônio Saraiva, para negociar. As conversas resultam infrutíferas. O embaixador britânico Thornton propõe uma comissão tríplice: ele próprio, Saraiva, pelo Brasil, e Elizalde, pela Argentina. São recebidos pelo presidente Berro, mas não há acordo, porque a comissão não pretendia conciliação alguma, apenas utilizar sua impossibilidade para justificar uma intervenção. Entre os pontos em discussão, colocavam algo que nada tinha a ver com o problema dos camponeses brasileiros; apenas dizia respeito à política interna uruguaia.

Frustrada a negociação, seguem para Buenos Aires e assinam o acordo, cujo conteúdo já havia sido traçado anos antes, que une Brasil e Argentina para invadir o Uruguai, fato ocorrido no dia 20 de fevereiro de 1865. O que isso tem a ver com o Paraguai? Tudo. Com o vizinho ocupado, os paraguaios ficam novamente sem saída para o mar, o que iria asfixiar sua economia e, por isso, o Paraguai se comprometera a defender o Uruguai diante de qualquer ataque.

A guerra

O Paraguai não tinha outra saída. Rompeu relações diplomáticas com Brasil e Argentina e partiu para a ofensiva, ocupando o Mato Grosso. Era o que bastava para a tríplice aliança, pois Venâncio Flores, o títere imposto ao Uruguai, juntara-se aos invasores.

A guerra, que esperavam breve, durou cinco anos. O Paraguai tinha um Exército de defesa de 50 mil homens, bem preparado, e toda uma população mobilizada para a luta. Juan Batista Alberdi, em correspondência a Sarmiento, Buenos Aires, 1967, testemunha: “O Exército paraguaio é numeroso relativamente ao seu povo porque não se distingue do povo. Cada soldado defende seu próprio interesse e o bem-estar de sua família, na defesa que faz do seu país”.

Já o Exército brasileiro, composto, em sua maioria, por escravos oprimidos no seu país, não tinha motivação para a luta. Nem o argentino, composto de mercenários. As derrotas e a desmoralização se sucedem até que é nomeado para o Comando da expedição o experiente e temido Duque de Caxias (Luís Alves de Lima e Silva), que impõe a disciplina e reverte os resultados, embora a custo de muitas perdas.

O Exército invasor cometeu abomináveis crimes de guerra, entre os quais se destacam: obrigar prisioneiros paraguaios a lutar contra a sua pátria, contaminar as águas do Rio Paraná com cadáveres de pessoas acometidas pelo cólera para contaminar a população ribeirinha (crime assumido por Caxias em carta a D. Pedro II); venda de prisioneiros como escravos (crime confessado por Bartolomeu Mitre, comandante do Exército argentino, em carta ao vice-presidente Marcos Paz); assassinato de milhares de crianças na batalha de Acosta Ñu (crime ordenado pelo conde D’eu, que assumiu o Comando das tropas em substituição a Caxias).

O genocídio

O Duque de Caxias deu por encerrada a guerra no dia 5 de janeiro de 1868, quando o Exército Imperial chegou a Assunção e estabeleceu um governo títere. Mas a ordem foi continuar. Em carta ao imperador Pedro II, datada de 18 de novembro de 1867, ele pediu demissão. Depois de referir-se à bravura do soldado paraguaio, que via como “simples cidadãos, homens, mulheres e crianças”, questionou: “Quanto tempo, quantos homens, quantas vidas para terminar a guerra, é dizer, para converter em fumo e pó toda a população paraguaia, para matar até o feto do ventre da mulher?”.

Caxias desistiu de ser o coveiro do povo paraguaio, mas o Império, atendendo à vontade maior da metrópole britânica, não arredou pé. Pedro II nomeou para o Comando seu genro, o conde D’eu. Este superou qualquer tipo de violência até então conhecido, a exemplo do episódio de Peribebuy, quando o sádico mandou fechar e incendiar um hospital onde só havia velhos e crianças doentes.

Outro crime foi a batalha de Acosta Ñu, no dia 16 de agosto de 1869. Havia se formado um batalhão de 3.500 crianças, a partir de seis anos, para fazer frente aos invasores, possibilitando a fuga de Solano López com 500 homens, o que restava para defender o país. Cercadas por 20 mil soldados, as crianças foram derrotadas, naturalmente. Muitos, chorando, abraçavam- se nas pernas dos soldados pedindo para não serem mortas, mas não havia contemplação. Eram degoladas sem dó. No final, as mães correram para a mata para resgatar corpos e procurar sobreviventes, mas não parou por aí: o conde foi capaz de ordenar o incêndio da mata, queimando as crianças e suas mães. O 16 de agosto foi estabelecido, posteriormente, como o Dia das Crianças no Paraguai.

Solano e seus últimos companheiros, cem soldados, foram encontrados e derrotados no dia 1º março de 1870. Instado a se render, ele pronunciou suas últimas palavras: “Morro com minha pátria”.

O povo paraguaio foi praticamente exterminado: mais de 75% de sua população foi morta. Dos 800 mil habitantes no início da guerra, restaram 194.000. A população masculina adulta foi dizimada em quase 100%. Sobraram 14 mil homens, em sua grande maioria, crianças com menos de 10 anos e velhos. Sarmiento, argentino, escreve: “A Guerra do Paraguai conclui-se pela simples razão de que matamos a todos os paraguaios maiores de dez anos”.

O Paraguai perdeu 140 mil quilômetros quadrados do seu território, o que corresponde a Pernambuco e Alagoas juntos. As terras, como todas as riquezas saqueadas, foram repartidas entre brasileiros e argentinos.

Um só ganhador

Mas o único ganhador, mesmo, foi o imperialismo britânico. Incitou Brasil e Argentina à guerra. Estes, com a economia debilitada, dependiam de mais empréstimos para dar conta da tarefa. Nos anos seguintes, este endividamento só fez aumentar. Entre 1871 e 1889, a soma da dívida externa brasileira atinge 45.500.000 libras, e da Argentina, 18.747.000. Das conseqüências do endividamento crescente sobre a realidade econômico-social dos dois países, não é preciso falar.

Derrotada, a nação paraguaia teve aniquilada sua experiência vitoriosa de desenvolvimento econômico soberano, independente e autônomo, a partir de próprias forças. Atualmente, o Paraguai ocupa o 111º lugar em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), entre 187 países listados pela ONU (dados de 2013).

José Levino

Fonte: Genocídio Americano, A Guerra do Paraguai. Júlio José Chiavenatto, Brasiliense, 12ª edição, São Paulo, 1980, de onde, inclusive, foram extraídas as citações.




Hepatitis C: No son muertes, son crímenes de Estado | América

Hepatitis C: No son muertes, son crímenes de Estado


Rafael Silva
Rebelión

“Hay que respetar las leyes, siempre que las leyes sean respetables“
(José Luis Sampedro)

“El sistema sanitario es una verdadera mafia que crea enfermedades y mata por dinero y poder“
(Ghislaine Lanctot)

La austeridad homicida que ejecuta este sádico Gobierno tiene múltiples manifestaciones. Vamos a abordar aquí una de las más recientes, crueles e inhumanas. De los 7.000 pacientes de Hepatitis C que aproximadamente necesitan el medicamento de nombre comercial “SOVALDI” para poder sobrevivir, los Presupuestos garantizan que únicamente lo recibirán unos 1.200 pacientes. El resto será abandonado a su suerte, probablemente morirán en un período más o menos breve de tiempo. De hecho, ya han muerto varias personas durante los últimos meses, víctimas de este abondono oficial por parte del Ministerio de Sanidad, lo cual ha provocado que su Plataforma de Afectados realice un encierro indefinido a las puertas del Hospital 12 de Octubre de Madrid. Al momento de escribir este artículo, la Dirección General de Farmacia ha confirmado que se administrará este fármaco a todos los pacientes críticos que lo necesiten, pero como decimos, las cifras realmente cubiertas van a ser irrisorias.

Y no estamos hablando de un brote virulento de una cruel enfermedad epidémica incontrolable, ni siquiera de una enfermedad mortal para la cual no exista medicamento curativo. No. La enfermedad es conocida, el tratamiento existe, su éxito en la curación es certero, el único problema es el presupuesto público para sufragarlo y expedirlo para todos los pacientes que lo necesiten. Pero claro, eso lo haría un Gobierno socialmente responsable, éticamente impecable, y humanamente justo. Un Gobierno al que le importaran las personas. Evidentemente, nuestro actual Gobierno del PP está muy alejado de dichos parámetros. Porque lo cierto es que muy ruín y despreciable tiene que ser un Gobierno para que sea capaz de sacrificar vidas humanas en pro del supuesto saneamiento de sus cuentas públicas. Es el más fiel exponente y ejemplo de cuando un Gobierno se convierte y trabaja como una empresa privada, en vez de estar al servicio de su sociedad.

Tanto que a este Gobierno le gusta comparar la gestión de las Administraciones Públicas con las de una familia, esto es como si unos padres renunciaran a salvar la vida de su hijo o hija que padece una enfermedad, porque tienen que saldar su cuenta con la comunidad de vecinos. Absolutamente miserable. Una conducta cruel y abyecta, demostrativa, una vez más, de que estamos gobernados por gente que desprecia absolutamente a la ciudadanía. Porque lo que un Gobierno responsable haría, si es que quiere priorizar el derecho a la salud, es enfrentarse con las grandes empresas farmacéuticas, para conseguir por 300 euros lo que dichas empresas quieren ofrecer por 80.000 (son cifras imaginarias). En todo caso, no es posible que una cuestión tan básica como la salud y la investigación necesaria para la creación de medicamentos se encuentre en manos de empresas privadas, que únicamente pretenden asaltar las Administraciones Públicas para enriquecerse. Hoy día, la investigación farmacéutica se encuentra absolutamente privatizada, las empresas privadas son las que investigan y monopolizan el conocimiento creado mediante patentes comerciales, y posteriormente roban al erario público y a la sociedad en general, sabiendo que necesitan de sus medicamentos.

Llegados por tanto a esta situación, se hace más necesaria que nunca la nacionalización de los grandes sectores estratégicos de nuestra economía productiva, para que pasen al control público las grandes empresas que monopolizan la investigación, el conocimiento y la comercialización de sus productos, cuando estos productos resultan básicos para la sociedad a la que deben servir. Por un lado, el ámbito público debiera fomentar un sector de Investigación y Desarrollo (I+D+i) que se ponga realmente al servicio de la sociedad, porque ¿cuántos investigadores e investigadoras podríamos financiar todos los años con el dinero con el que el Estado adquiere ciertos medicamentos? Ese conocimiento podríamos utilizarlo para fomentar una industria farmacéutica pública, que ayude realmente a curar enfermedades, y no a enriquecer a algunas empresas a costa de nuestra salud. Los criterios que deben guiar esta labor son los de rentabilidad social, no los del lucro particular y privado. Y todo ello tiene que ver también, como hemos dicho, con el rechazo y la indiferencia social que nuestro desalmado Gobierno practica con nuestro sector de Investigación y Desarrollo, especialmente con el mundo de los jóvenes investigadores, que se ven obligados a emigrar a terceros países donde reconocerán su valía profesional, porque en su país, tristemente, sólo se ven abocados al paro o a la precariedad. Mientras todo ello no se aborde con un mínimo de sensibilidad social, continuarán muriendo dependientes y pacientes crónicos en nuestro país.

Blog del autor: http://rafaelsilva.over-blog.es

http://www.rebelion.org/noticia.php?id=193636

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Adital - Decretos de natal

Decretos de natal

 
Frei Betto

Adital

Fica decretado que, neste Natal, em vez de dar presentes, nos faremos presentes junto aos famintos e excluídos, como propõe o papa Francisco. Papai Noel será malhado como Judas e, lacradas as chaminés, abriremos corações e portas à chegada salvífica do Menino Jesus.

Fica decretado que encantaremos as crianças de mistérios ao professar o Deus que se fez homem entre nós. Não mais recorreremos ao velho barbudo de sorriso ridículo, e sim aos relatos bíblicos que narram o mais singular de todos os fatos históricos: em Belém, Deus se tornou humano para que possamos nos tornar divinos.

Por trazer a muitos mais constrangimentos que alegrias, fica decretado que o Natal não mais nos travestirá no que não somos: neste verão escaldante, arrancaremos da árvore de Natal todos os algodões de falsas neves; trocaremos nozes e castanhas por frutas tropicais; renas e trenós por carroças repletas de alimentos não perecíveis; e se algum Papai Noel sobrar por aí, que apareça de bermuda e sandália.

Fica decretado que, cartas de crianças, só as endereçadas ao Menino Jesus, como a do meu sobrinho Lucas, de 6 anos, que escreveu a ele convencido de que Caim e Abel não teriam brigado se dormissem em quartos separados; e propôs ao Criador ninguém mais nascer nem morrer, e todos nós vivermos para sempre.

Fica decretado que as crianças, em vez de brinquedos e bolas, pedirão bênçãos e graças, abrindo seus corações para destinar aos pobres todo o supérfluo que entulha armários e gavetas. A sobra de um é a necessidade de outro, e quem reparte bens partilha Deus.

Fica decretado que, pelo menos um dia, desligaremos toda a parafernália eletrônica, inclusive o telefone celular e, recolhidos à solidão e ao silêncio, faremos uma viagem ao interior de nosso espírito, lá onde habita Aquele que, distinto de nós, funda a nossa verdadeira identidade. Entregues à meditação, fecharemos os olhos para ver melhor.

Fica decretado que, despidas de pudores, as famílias farão ao menos um momento de oração, lerão um texto bíblico, agradecerão ao Pai de Amor o dom da vida, as alegrias do ano que finda, e até dores que exacerbam a emoção sem que se possa entender com a razão.

Fica decretado que arrancaremos a espada das mãos de Herodes e nenhuma criança será mais condenada ao trabalho precoce, violentada, surrada ou humilhada. Todas terão direito à ternura e à alegria, à saúde e à escola, ao pão e à paz, ao sonho e à beleza.

Fica decretado que, nos locais de trabalho, as festas de fim de ano terão o dobro de seu custo convertido em cestas básicas a famílias carentes. E será considerado grave pecado abrir uma bebida de valor superior ao salário mensal da pessoa que a serve.

Como Deus não tem religião, fica decretado que nenhum fiel considerará a sua mais perfeita que a do outro, nem fará rastejar a sua língua, qual serpente venenosa, nas trilhas da injúria e da perfídia. O Menino do presépio veio para todos, indistintamente, e não há como professar que ele é "Pai Nosso” se o pão também não for de todos, e não privilégio da minoria abastada.

Fica decretado que toda dieta reverterá em benefício de quem tem fome, e que ninguém dará ao outro um presente embrulhado em bajulação ou mera formalidade. O tempo gasto em fazer laços seja muito inferior ao dedicado a dar abraços.

Fica decretado que as mesas de Natal estarão cobertas de afeto e, dispostos a renascer com o Menino, trataremos de sepultar iras e invejas, amarguras e ambições desmedidas, para que o nosso coração seja acolhedor como a manjedoura de Belém.

Fica decretado que, como os reis magos, haveremos de reverenciar, com a prática da justiça, aqueles que, como Maria e José, foram excluídos da cidade e, como uma família sem terra e teto, obrigados a ocupar um pasto, onde brilhou a esperança.

Frei Betto é escritor, autor de "Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.

http://www.freibetto.org/ > twitter:@freibetto.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Trabalho escravo na Casas Pernambucanas

Trabalho escravo na Casas Pernambucanas

Por Stefano Wrobleski, no site Repórter Brasil:

Uma das maiores empresas de varejo do Brasil, a Casas Pernambucanas foi condenada a pagar R$ 2,5 milhões por explorar trabalhadores em condições análogas às de escravos. A sentença foi proferida em São Paulo na última sexta-feira, 5, pelo juiz Marcelo Donizeti Barbosa em ação movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Em nota, a varejista disse que ainda não foi notificada e só se pronunciará quando for informada oficialmente da decisão. Por ter sido tomada em primeira instância, cabe recurso à decisão.

A condenação ocorreu por dois flagrantes, em 2010 e 2011, na cadeia produtiva da empresa. No total, foram resgatadas da escravidão 31 pessoas – entre elas, dois adolescentes de 16 e 17 anos – vindas da Bolívia, Paraguai e Peru. Em ambos os casos, as vítimas foram submetidas a jornadas exaustivas e servidão por dívidas, além de produzirem peças em oficinas consideradas em condições degradantes pela fiscalização, composta por auditores do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e procuradores do MPT.

Os trabalhadores eram subcontratados para trabalhar, em São Paulo, em oficinas informais pagas pelas empresas Dorbyn Fashion Ltda. e Nova Fibra Confecções Ltda. Estas, por sua vez, eram contratadas pela Casas Pernambucanas para a produção de roupas que seriam vendidas em sua rede de lojas.

No processo, a empresa não contestou as condições degradantes flagradas nas duas ocasiões pela fiscalização e centrou sua argumentação em dizer que não era responsável pelos trabalhadores, sustentando nunca ter interferido no trabalho dos costureiros.

Ao proferir a sentença, o juiz Marcelo Donizeti Barbosa discordou da empresa e considerou que, mesmo sendo terceirizada, a produção era de responsabilidade da Pernambucanas: “a linha de produção tinha início e término na própria ré [Casas Pernambucanas]”, resumiu.

“A ré não pode se eximir de sua responsabilidade, alegando simplesmente que não exercia atividade produtiva, como se simplesmente adquirisse produtos aleatórios de outras empresas para a mera comercialização. A própria ré descreveu que era responsável pela criação e pela definição de todas as características dos produtos, repassando ao terceiro exclusivamente a confecção das peças de roupas”, explicou Marcelo para embasar a sentença.

A varejista ainda sustentou manter cláusulas nos contratos com seus mais de 500 fornecedores proibindo a exploração de trabalho escravo e infantil. O juiz considerou, no entanto, que as determinações “não possuem força jurídica suficiente para impedir que essa subcontratação resulte” nesse tipo de superexploração do trabalho.

A multa de R$ 2,5 milhões, que deve ser paga pela Pernambucanas, foi decidida a título de danos morais coletivos. O valor é a metade do que foi solicitado inicialmente pelo MPT.

Os resgates
Em um dos casos, da Nova Fibra, o pagamento por produção alcançava os R$ 800 mensais. O recebido pelos trabalhadores, entretanto, era muito menor: até R$ 630 eram descontados das vítimas como custos pelas refeições oferecidas. Já os trabalhadores da Dorbyn recebiam cerca de R$ 400 por mês para trabalhar mais de 60 horas semanais. Todos costuravam roupas da Argonaut e Vanguard, marcas exclusivas da Pernambucanas.

Os locais de trabalho estavam em condições degradantes em ambos os casos. Não havia qualquer ventilação nem extintores de incêndio. As cadeiras eram improvisadas e a iluminação era fraca. Os alojamentos, que ficavam junto às oficinas, também estavam em condições precárias.

Essas características, verificadas pela fiscalização, fizeram a empresa ser enquadrada pela exploração de trabalho em condições análogas às de escravos, conforme definido pelo artigo 149 do Código Penal. Dentre as vítimas, havia dois jovens de 16 e 17 anos, resgatados na oficina ligada à Dorbyn. A atividade é proibida a crianças e adolescentes, sendo considerada uma das piores formas de trabalho infantil.

A Pernambucanas
Presente em sete estados do país com 303 lojas e 17 mil funcionários, a Arthur Lundgren Tecidos S/A – nome de registro da Pernambucanas – é a rede de moda que mais faturou em 2013 no Brasil, alcançando os R$ 6 bilhões naquele ano, de acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar).

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

PARA EMPODERAR A MULHER: Moçambique tem políticas favoráveis

PARA EMPODERAR A MULHER: Moçambique tem políticas favoráveis
Joana Macie - Vermelho

QUANDO o mundo se prepara para celebrar os 20 anos da IV Conferência Mundial de Beijing sobre a mulher, realizada em 1995, na China, Moçambique apresenta-se como um dos países que registou avanços significativos nas áreas de acesso da mulher à educação, na participação em lugares de tomada de decisão, nos órgãos legislativo e executivo, e aos serviços de saúde.

O mundo assumiu em Beijing compromissos em prol dos direitos da mulher, através da implementação de acções em 12 áreas identificadas como críticas para promover a igualdade de género e o seu empoderamento, nomeadamente pobreza, educação e formação, saúde, violência, conflito armado, economia, poder e tomada de decisões, mecanismos institucionais para o avanço da mulher, direitos humanos, comunicação social, ambiente e a rapariga.

Moçambique não poupou esforços, tendo estabelecido estruturas institucionais e a adopção de instrumentos legais e de políticas públicas que contribuíram em grande parte para o avanço das mulheres, assim como de metas de igualdade de género.

Segundo o relatório nacional de Moçambique “Beijing +20” sobre a implementação da declaração e plataforma de Acção lançado esta semana pela Ministra da Mulher, Yolanda Cintura, no que respeita à educação da rapariga, o país alcançou a paridade no Ensino Primário, tendo sido atingida a taxa líquida de escolarização de cerca de 95,1 por cento, o que significa uma subida considerável comparada com 2009 (93,8 por cento. A produção do relatório contou com o apoio da ONU Mulher).

Entretanto, para a discussão de diferentes temas relacionados com os progressos e desafios na implementação da Plataforma de Acção de Beijing, o Centro de Coordenação dos Assuntos de Género, na UEM está a realizar uma série de diálogos temáticos, nos quais participam académicos, empresárias e outras classes. Estas também reconheceram o crescimento alcançado, mas consideram que ainda existem muitos entraves, sobretudo na área financeira.

SAIR DA LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA

Para Leontina dos Muchangos, uma das palestrantes, no ciclo de diálogos Beijing +20, da UEM, o grande entrave continua na área financeira, pois as mulheres ainda estão sem acesso a grandes financiamentos. “Sempre que se fala de empoderamento da mulher olha-se para micro-projectos e porque não se pode apostar em projectos macros?”, questiona.

Segundo Leontina dos Muchangos, é preciso abandonarmos a ideia de associar a mulher a uma banquinha de tomate e caldo em frente à sua casa, com roupa usada nas mãos a vender pelas ruas, sentada nas esquinas das ruas e em frente das escolas com uma bacia de bolinhos. “Queremos ver a próxima geração de mulheres a desenvolver grandes negócios, a abraçar ramos da indústria, da aviação e porque não da construção de estradas?”, disse, salientando que o empoderamento não deve ser orientado para a sobrevivência, chamando à atenção das instituições financeiras no sentido de compreenderem as dificuldades da mulher.

Num outro desenvolvimento, Leontina dos Muchangos afirmou que o papel regulador das instituições do estado é muito importante para que o país tenha uma maior presença de mulheres em diferentes sectores, incluindo no privado, uma vez que no seu entender elas continuam sem espaço em alguns sectores, sobretudo os considerados masculinos. “Por exemplo, o Ministério das Obras Públicas, no sector de estradas, tem estado a registar um número considerável de mulheres a trabalhar, graças à obrigatoriedade que o Estado estabeleceu que a condição para ganhar concursos é de provar que 25 por cento da força do trabalho é composta por mulheres”.

A nossa interlocutora, que participou na conferência de Beijing de 1995, explicou que as mudanças devem ser construídas de forma persistente e com coerência, acreditando que, graças à consciencialização da sociedade, hoje já aparecem jovens engenheiras de petróleo, de minas, de obras, mecânicas, pilotos, maquinistas e outras que estão a penetrar em todas as profissões. “Eu tenho três filhas engenheiras, uma de petróleos, outra de construção civil e a terceira está a fazer ciências do mar”, disse, acrescentando que a formação das filhas é resultado das decisões de Beijing.

Leontina dos Muchangos é mestre em Desenvolvimento Agrário, foi a primeira mulher a defender a tese de licenciatura no então Instituto Superior Pedagógico e primeira directora nacional da mulher no Ministério da Mulher e Acção Social.

PERSISTÊNCIA E EXPERIÊNCIA RESULTAM EM GANHOS

Natividade Bule, empreendedora desde os anos 80 e presidente do Conselho de Administração da Caixa Poupança Económica Mulher, considera a formação e persistência como elementos importantes para o crescimento da mulher em todos os aspectos. “Acho que temos de ser persistentes naquilo que pretendemos. Eu comecei por vender rissóis nas pastelarias e hoje considero-me empresária”, disse.

Segundo Natividade Bule, que é também administradora na fábrica de anti-retrovirais em Maputo e presidente da ECOSIDA, a pessoa não pode ter vergonha de fazer coisas, o importante é fazer dentro de um determinado objectivo.

A nossa interlocutora explicou que saber desenhar projectos não é suficiente para se ser empreendedora, porque o próprio sector financeiro só investe quando tem certeza que a pessoa vai trazer resultados.

Falando da sua própria experiência, ela disse que as necessidades fazem com que as pessoas façam muitas coisas. “Vendi rissóis por necessidade, depois criei uma empresa de viação, com a qual aprendi muito, numa altura difícil, em que ninguém usava a via terrestre, por causa da guerra, mas infelizmente na viação a pessoa pode ficar muito rica como também pode ficar muito pobre, foi o meu caso, fiquei pobre, mas não desisti”, acrescenta Natividade que depois deste fracasso abriu uma empresa de prestação de serviços e aconselha que mesmo com a empresa é preciso saber adaptar-se ao mercado, uma tarefa difícil.

De acordo com a empresária, formada em Ciências Jurídicas, a formação ajudou-lhe a crescer no ramo empresarial. Mas também reconhece que as políticas desenhadas pelo Governo ajudaram a emancipar a mulher. “Recordo-me que quando abracei o empresariado, como mulher não podia abrir uma empresa ou uma conta bancária sem autorização do meu marido, mas hoje já ultrapassámos isso”, afirma.

Reconhecendo os problemas que a mulher atravessa para aceder aos financiamentos bancários, Natividade Bule explicou que ela e outras 14 mulheres decidiram abrir um banco, a Caixa Poupança Económica Mulher, para dar crédito a mulheres, sem muitas complicações. “É uma iniciativa que surgiu do reconhecimento das dificuldades por que elas passam para ter acesso ao crédito”, disse, salientando que muitas mulheres não conseguem aceder ao crédito bancário porque não têm garantias exigidas pelas instituições financeiras.

EDUCAÇÃO FORMAL É A ARMA FUNDAMENTAL

Por seu turno, a directora do Centro de Coordenação dos Assuntos de Género, na UEM, Generosa Cossa, defendeu que a educação formal continua a ser base para o crescimento da mulher e, em particular, para o seu empoderamento económico, porque ela ajuda a desenvolver competências que são necessárias para o emprego, negócios e mesmo para a vida familiar.

Explicou que muitas mulheres não conseguem desenvolver os seus projectos, sobretudo negócios, exactamente por falta desta educação formal. “A minha experiência no município de Maputo, aquando da introdução do fundo de desenvolvimento distrital na cidade de Maputo, é que este valor não beneficia as mulheres, porque não apresentam projectos com qualidade”, lamentou.

Apesar de terem sido elas que fizeram muito barulho para a introdução deste fundo, passou a beneficiar os homens e o paradoxo é que a percentagem de mulheres que acediam a este fundo era mais baixo nos distritos urbanos geridos por mulheres.

Generosa Cossa, que fez parte da delegação que foi a Beijing, em 1995, defendeu ainda o empoderamento político das mulheres porque, segundo explicou, o acesso ao poder político facilita o acesso ao poder económico. A nossa interlocutora é docente da UEM desde 1987, licenciada em Ciências Físicas e Matemática, mestre em Ciências de Educação e candidata a doutoramento pela UNISA, da África do Sul, actualmente desempenha as funções de directora do Centro de Coordenação dos Assuntos de Género (CECAGE) na UEM.

POLÍTICAS PÚBLICAS DÃO ATENÇÃO À MULHER

A Representante interina da ONU Mulheres, Florence Raef, considera que, olhando para o relatório sobre Beijing +20, Moçambique registou avanços significativos neste intervalo de 20 anos, graças à sua legislação que condena a violência contra a mulher e a criação do Ministério da Mulher e da Acção Social, uma instituição que se dedica a assuntos femininos.

Florence congratula, também, uma série de políticas públicas em vários sectores que dão mais atenção às mulheres. “Porém, os resultados ainda são limitados, pois trata-se de um trabalho que ainda vai levar o seu tempo para abranger todas as áreas”, disse a representante, considerando que a caminhada até aqui feita é positiva.

Segundo Florence Raef, um dos sectores com resultados mais visíveis é a presença de mulheres em posições de tomada de decisão, referindo-se ao parlamento e ao executivo.

Em relação ao empoderamento económico da mulher, Florence Raef chama atenção aos fazedores de políticas públicas no sentido de olharem para o sector extractivo como uma oportunidade para a inclusão da mulher.

“Temos esta oportunidade de desenhar estratégias para incluir a dimensão do género e de direitos da mulher, mas acho que tudo passa por uma maior sensibilização de vários sectores dentre os quais os investidores e o sector privado”.

Segundo a representante interina, é preciso pensar na inclusão da mulher em toda a cadeia de valores e em políticas de direitos humanos e de investimento. Disse ainda que existem hoje no mundo exemplos interessantes de formação, de discriminação positiva e de outros mecanismos que podem ser estudados.

Florence Raef trabalha em questões de género no contexto internacional há mais de 15 anos, e é funcionária das Nações Unidas desde 2001. Formada em Ciências Políticas, tem sido pesquisadora na Universidade São Paulo, Brasil, e na Universidade de Bruxelas, Bélgica.


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Em meio a protestos, Prefeitura de Porto Alegre transfere fechamento da EPA para junho « Sul 21

Em meio a protestos, Prefeitura de Porto Alegre transfere fechamento da EPA para junho

  

Débora Fogliatto no Sul21

Desde que a Prefeitura de Porto Alegre anunciou o fechamento da Escola Porto Alegre (EPA), em outubro deste ano, uma série de mobilizações têm tentado impedir que isso aconteça. Seguindo a linha de negociar com a Secretaria Municipal de Educação (Smed), vereadores das comissões de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) e de Educação, Cultura, Esportes e Juventude (Cece) da Câmara de Vereadores reuniram-se nesta terça-feira (18) com representantes do poder público e da comunidade escolar.
A EPA é a única instituição municipal de ensino voltada para a educação de jovens e adultos em situação de rua, que tem 19 anos de história e 116 alunos matriculados atualmente. A Prefeitura afirma que há necessidade de se utilizar o espaço para a educação infantil. A partir do encerramento das atividades, os alunos da EPA seriam atendidos no Centro Municipal de Educação do Trabalhador (Cmet) Paulo Freire, no bairro Santana.
Embora a ideia inicial da Prefeitura fosse de fechar a EPA até o final deste ano, este prazo foi agora estendido para junho. “A EPA funcionará até junho de 2015 e, até lá, matrículas de novos alunos serão aceitas somente para o Cmet”, explicou a coordenadora do EJA na Smed, Simone Lovatto. De acordo com ela, os estudantes da escola serão atendidos pelos mesmos professores no Cmet.
A vereadora Fernanda Melchionna (PSOL), que presidiu a reunião, afirmou que foram apresentadas três alternativas para a Prefeitura onde poderia haver escolas de educação infantil: a construção de uma escola em uma área entre as ruas Lima e Silva e José do Patrocínio, para onde o Cmet ia ir antes de adquirir o prédio atual, a parceria com escolas estaduais que têm espaços ociosos e a construção de uma estrutura no próprio terreno da EPA, onde há uma área vazia de quase 700m².

Renato Farias (Centro) criticou a proibição de se realizar matrículas na escola | Foto: Leonardo Contursi/ CMPA
As propostas, no entanto, foram negadas. Sobre a sugestão de construir ao lado da EPA uma escola de Educação Infantil, a coordenadora da Smed disse que o setor de obras da Prefeitura vistoriou o local e concluiu que não há espaço para um novo prédio. Ela também afirmou que a área na Lima e Silva já “tem destinação”, mas foi criticada por não especificar. “Então uma escola constituída há 19 anos pode fechar, mas as coisas que estão apenas planejadas não podem mudar?”, criticou Fernanda.
Embora o adiamento da data tenha sido encarado como uma boa notícia, a exigência de que não sejam mais feitas matrículas a partir de agora foi recebida com críticas. “Nós dissemos que só aconteceria isso se viesse documento assinado pela secretária exigindo que não se aceite, porque isso vai contra o direito à educação. Quando uma escola tem vaga, tem que poder fazer matrículas”, observou Renato Farias dos Santos, professor, coordenador pedagógico e presidente do Conselho Escolar da EPA.
Ele também apontou que o necessário é “ampliar o atendimento da EPA, e não fechar a escola”. “O trabalho que é feito, a metodologia, a política de acolhimento, a redução de danos foram construídos ao longo desses 19 anos, não tem como ignorar e simplesmente dizer que os alunos irão para uma outra escola”, lamentou. Renato ainda disse que a localização do Cmet, no bairro Santana, dificulta para a população em situação de rua por se tratar de uma área que não é a que estão acostumados e estar próxima de um ponto de tráfico de drogas.
O defensor público da União Geórgio Endrigo afirmou que iria começar a estudar medidas judiciais, visto que não houve negociação. “Infelizmente, a posição da Prefeitura é autoritária”, disse a vereadora Fernanda. Com a ampliação do prazo, Renato espera que a Prefeitura seja um pouco mais flexível, apontando que a comunidade escolar tem amplo apoio da população da cidade, tanto de coletivos de trabalhadores quanto de estudantes. “Estamos recebendo apoio de todos os lados, já são 3 mil assinaturas no abaixo-assinado online. A cidade, os movimentos e os trabalhadores estão dizendo que é importante a continuidade do trabalho. Esperamos que a Prefeitura não fique surda, que haja uma reflexão do prefeito e da secretária”, disse o professor.
No dia 17 de dezembro, a Câmara de Vereadores fará audiência pública, a partir das 19h, para tratar novamente do assunto. Há cerca de 20 dias, foi realizado um evento semelhante, em que não foi possível chegar a um acordo.