quinta-feira, 2 de abril de 2015

Acordo face à independência ganha força na Catalunha

110911 diadamanifaPaísos Cataláns - Diário Liberdade - CUP critica os tempos e metodologias do acordo mas está recetiva a apoiá-lo. Continua avançando o plano do Principado da Catalunha face à sua independência do regime espanhol.

Foto do Diário Liberdade - Manifestaçom pola independência em Barcelona, em 2011.
Nesta semana, o governistaConvergència Democràtica de Catalunya (CDC), partido forte do casal direitista com Unió Democràtica de Catalunya que governa naquela parte dos Países Cataláns, atingiu um acordo com o principal partido da oposiçom, a social-democrata Esquerra Republicana de Catalunya (ERC), para os resultados das eleiçons autónomas que se celebrarám em 27 de setembro se converterem em mandado para iniciar a secessom ou, em sentido contrário, continuar dentro do decadente Reino da Espanha.
Embora institucionalmente assinado por esses dous partidos, ninguém ignora o forte peso que as duas organizaçons sociais também assinantes do acordo, a Assembleia Nacional Catalana (ANC) e Òmnium Cultural, tenhem na assinatura do mesmo. Quer nas ruas, quer nos gabinetes, desde que o independentismo atingiu suficiente força, em inícios desta decada, é a sociedade civil catalá, principamente através dessas duas organizaçons, que marca os tempos do processo e leva a reboque o governo autónomo.
O novo acordo, negociado em exclusivo por CDC e ERC, chega após meses em que segundo a imprensa de Madrid o processo estaria estagnado e sem avançar. Mas essa tese fica desmontada com o anúncio desta semana, no ámbito institucional, junto do facto de a preferência pola independência aparecer nos inquéritos de opiniom mais recentes quase empatada com a opçom contra - quando nom à frente dela, dependendo da fonte.
Chega após um processo de meses em que as tentativas de sabotagem de Madrid, esvaziando de conteúdo legal a histórica e massiva consulta popular de 9N e recorrendo diretamente à ameaça - mesmo militar - através de várias das suas instituiçons, só tenhem conseguido demorar o processo e, claro,desesperar e afundir no patetismo as e os próprios unionistas.
De continuarem assim as cousas, a posiçom que a democrata-cristá Unió tomar até o dia das eleiçons plebiscitárias - mais ambigua do que CDC sobre as suas aspiraçons para dotar a Naçom Catalá de statusjurídico - será chave, tal como o peso que a espanholista Podemos poda atingir nas mesmas.
A posiçom da esquerda independentista
O acordo de ámbito institucional atingido por CDC e ERC será agora avaliado pola Candidatura d'Unitat Popular (CUP), a candidatura unitária que abrange as posiçons da esquerda independentista nos Países Catalans. É umha mudança fundamental a respeito de fai apenas dous meses, quando a falta de um roteiro claro face à independência deixava fora à formaçom, que se declarava a caminho da ruptura e do processo constituínte.
Aliás, através do deputado Quim Arrufat a CUP criticou que se desenhe um roteiro face a independência incluindo apenas dous partidos e três entidades sociais. No entanto, anunciou que o texto parece suficientemente aberto para poder negociar os termos em que a esquerda independentista apoiará o novo roteiro.
A CUP criticou a finalidade eleitoralista do roteiro face a independência mas celebrou, no entanto, que se tenham aberto os termos do acordo que permitirám, se houver um método de trabalho destinado a construir um "discurso comum", a incorporaçom desse partido.
A independência em 18 meses
Assim, para desgosto de Madrid, na Catalunha está em andamento um plano que permitirá declarar a independência em 18 meses após a realizaçom de eleiçons autónomas em 27 de setembro deste ano.
Segundo o acordo assinado em Barcelona, o ponto primeiro do programa eleitoral das forças a favor da independência será um pronunciamento favorável à independência da Catalunha. Caso as forças com esse ponto no seu programa atingirem maioria nas eleiçons de 27 de setembro, imediatamente começará o processo para conseguir a independência no prazo de 18 meses.
O primeiro passo seria umha declaraçom de soberania do Parlamento da Catalunha e, desta vez, nom caberiam denúncias ou manobras jurídicas de Madrid, que seriam ignoradas por Barcelona, nos termos expressados no acordo.
Até o final do prazo, seria redigida e submetida a referendo umha constituiçom para o novo Estado, e porfim, seriam realizadas novas eleiçons para o primeiro parlamento da Catalunha independente.
Podemos e a marca catalá de Izquierda Unida rejeitam abertamente o acordo...
Entretanto, as posiçons acerca da prática do direito de autodeterminaçom para além da pura teoria vam-se clarificando.
Assim, já confirmou a previsível queda do comboio democrático a sucursal de Izquierda Unida no Principado da Catalunha, a ICV-EUiA. A formaçom social - democrata espanhola caiu no último momento após, no entanto, participar nas reunions preparatórias. O pretexto de ICV é que as eleiçons plebiscitárias "nom podem substituir o mandado democrático de um referendo". Um argumento que, no entanto, é de difícil consistência tendo em conta que Espanha já expressou repetidamente a sua negativa a permitir tal cousa enquanto a Catalunha estiver sob a sua jurisdiçom.
A também espanhola Podemos - que embora nom tenha representaçom no Parlamento da Catalunha, previsivelmente terá um papel de primeira ordem nas vindouras eleiçons - afastou-se em termos similares do acordo, exigindo um referendo que, hoje por hoje, é impossível graças a Madrid. Deixou, no entanto, um pouco de tintura esotérica, ao assegurar que na sua formaçom som "radicamente democratas" e que pensam que "nom há substitutivo da democracia direta". Podemos, que está próximo de atingir um acordo que permita o governo do dinástico, corrupto e neoliberal PSOE da Andaluzia, nega, no entanto, qualquer possibilidade de acordo com o (também neoliberal) Artur Mas já que, segundo os de Pablo Iglesias, com ele "é impossível derrotar as políticas de austeridade e garantir o direito a decidir dos cataláns".
... e PSOE e PP ameaçam diretamente
PSOE e PP,em queda livre no cenário político catalám, optárom, como é tradiçom, pola ameaça maiscastiza, pura furia española. Assim, o vozeiro "socialista" Miquel Iceta dixo, por CDC e ERC, que "eu vejo-os a caminho do precipício, da prisom nom sei". Entretanto, o PP através do seu líder em Espanha, o extremista Mariano Rajói, avisou que usará as instituiçons judiciais do regime espanhol para travar os anseios democráticos na Catalunha.

domingo, 8 de março de 2015

Tomando na Cuia: O PT e seus 35 anos por Olívio Dutra*


O PT e seus 35 anos por Olívio Dutra*


No dia 10 de fevereiro
passado o Partido dos Trabalhadores completou 35 anos de existência
formal. Na informalidade, começa com o Movimento Pró-PT, em 1978,
por dentro de uma intensa movimentação de trabalhadores(as) de
diferentes categorias e regiões, sendo núcleo principal o ABCD
paulista, maior concentração operária do país. O anúncio do
projeto se deu na Reunião Intersindical de Porto Alegre, RS, em
19-01-79.
Portanto, o PT não
surge dos gabinetes executivos ou legislativos, nem de geração
espontânea, muito menos de cima para baixo. Surge no seio de lutas
importantes de parcela significativa do povo brasileiro que lutava
não só contra a Ditadura mas por Terra, Trabalho, Liberdade e o
direito de ser sujeito e não objeto da política. O Partido, já nos
seus primeiros documentos, forjados nas discussões por núcleos de
trabalho, moradia, estudo, lazer, etc, enfatizava a importância da
Política não como “o toma lá dá cá” dos partidos
tradicionais, mas como a construção de uma nova sociedade com o
protagonismo das pessoas. Os debates foram se espraiando e se
aprofundando.
Incorpararam-se a esse
movimento inicial outras vertentes e experiências de lutas sociais
diversas, do pensamento libertário e do socialismo democrático,
latentes nas lutas do povo brasileiro. O Programa do Partido foi
sendo forjado num processo e num ambiente político que exigia a
interação entre a tarefa de elaborá-lo com as lutas travadas pelo
povo contra a Ditadura, seus esbirros, seus defensores e suas
políticas. Daí decorre um estaqueamento alicerçante do PT: o
Protagonismo. A ideia de que a Política pode e só é transformadora
à medida em que o povo for sujeito e não objeto dela.
O Partido já nasce
afirmando a Democracia não como tática ou estratégica, mas como
objetivo permanente. O ser humano é um ser político e se não se
realizar nessa dimensão é um ser incompleto. Entenda-se a Política
não uma profissão, um mandato, um cargo (estes são missões
importantes porém passageiras) mas o exercício pleno da cidadania
baseada na interação entre as pessoas, podendo formar associações,
entidades, partidos, etc, na busca da construção solidária do Bem
Comum. Maquiavel e Sun Tzu estão entre muitos que pensam diferente.
A Ética da Política é, portanto, a construção do Bem Comum com o
protagonismo das pessoas.
Nos seus 35 anos de
vida, o PT vem perseguindo realizar na prática essa concepção de
Política. O Orçamento Participativo é o exemplo seminal mais
emblemático dessa busca permanente. A participação direta da
cidadania na construção da proposta orçamentária – uma peça
essencialmente política – na integridade da sua Receita &
Despesa, antes de ser remetida para o Poder Legislativo que a debate
e a aperfeiçoa (ou não), tornando-a Lei. O OP, portanto, é um
processo possibilitador, através da apropriação do conhecimento de
como funciona a máquina pública, de empoderamento da cidadania e de
ampliação do controle público sobre o Estado ( nas três
dimensões), sobre os governos e os governantes, atacando, na origem,
qualquer esquema de corrupção. Seja por conjunturas políticas,
razões culturais, governabilidade, alianças, etc, o certo é que
não radicalizamos e nem espraiamos o suficiente essa experiência
democrática no universo de nossos governos, nem mesmo no trato do
orçamento partidário.
O OP é uma referência
mundial, mas praticamos um simulacro do que ele se propunha
originalmente como conquista da cidadania e não “obra do PT”. As
experiências do OP, na dimensão federada, são mínimas ou
inexistentes. Nossos governos não tiveram gana nem condições
políticas, por razões óbvias (as dimensões do país, a
burocracia, a logística, a necessidade da construção de uma
cultura participativa na maioria dos municípios e unidades
federativas) de implementar o OP na dimensão federal. Houve ensaios
importantes mas limitados a algumas regiões, com participação de
entidades de representação nacional, voltadas à temas e não “ao
conjunto da obra”; conferências temáticas, eleições de
Conselhos que a Presidenta Dilma, ultimamente, pretendia reforçar
através de um decreto definindo o Plano Nacional de Participação
Social, agora em disputa na Câmara via um projeto de lei. O certo é
que a feitura do orçamento público continua sendo um mistério, uma
alquimia tecno burocrática sobre cuja execução os grupos poderosos
têm maior influência do que o povo.
Vejam agora a manobra
do Orçamento Impositivo, aprovado na Câmara, que estilhaça uma
parcela considerável do orçamento da União em emendas
parlamentares que vão reforçar o clientelismo político e os
currais eleitorais. Isso tudo e mais um pouco, sublinha o quão
distante estamos de um efetivo e democrático controle público sobre
o Estado (nos cursos de formação é sempre bom esclarecer que o
Estado não é só o Executivo, mas também os demais Poderes)
brasileiro. Sublinhe-se a importância do MP como conquista
republicana da Constituinte de 88 e que merece ser reforçado e não
enfraquecido. O controle público sobre o Estado de Direito
Democrático não é uma questão de vontade de fazer ou não fazer,
que possa ser resolvida por decreto ou qualquer impostura. Essa é
uma conquista a ser obtida através de um processo de permanente,
pacienciosa e persistente, provocação ao protagonismo político,
uma construção inclusive cultural. Portanto, de longo prazo, que
precisa de partidos políticos (respeitada a pluralidade e a
diversidade) de corte diferenciado, como nasceu o PT, com vínculos
reais e não hegemonista e/ou utilitarista com os movimentos sociais
e comprometidos com a radicalidade democrática e com um Projeto de
Nação que poderia vir a ser um projeto de poder solidário,
socialista e democrático, não fosse as condutas condenáveis dos
que, já na subida, colocaram “a carreta adiante dos bois”.



Cabe uma reflexão
sobre as estruturas que se foram cristalizando no interior do
Partido: os mandatos legislativos e executivos se sobrepondo às
instâncias partidárias; as correntes internas não mais respondendo
a necessidade do debate de temas sempre atuais como, o Brasil na
América Latina e no Mundo, o Socialismo, o Capitalismo, o Estado, a
vida no seu lato sentido, a C & T, a mãe Natureza, a
Cultura. Evidentemente que, nessa conjuntura, a partir da
internacional, com o ressurgimento de ideologias que já ocasionaram
grandes guerras, progroms, culags, campos de extermínio e, hoje, de
formas diferenciadas, mais tecnológicas e sofisticadas, promovem
guerras localizadas, sustentam ditaduras, instigam conflitos étnicos
e religiosos, mantém campos de concentração e de torturas fora do
alcance da Justiça e dos Direitos Humanos, e manejam instrumentos
macroeconômicos que submetem nações, países e continentes à
Banca internacional e à megaempresas que lhes sugam as riquezas,
roubam-lhes a identidade, arrasam o meio ambiente, geram fome e
miséria, não é razoável imitarmos o caramujo ou a avestruz diante
de tais ameaças e perigos.
Estamos sobre ataque
cerrado da direita e do neoliberalismo não apenas caboclo, mas dos
seus comandos internacionais. A cereja no bolo desses ataques veio de
atitudes de figuras importantes do nosso Partido e com funções
destacadas nos nossos governos que cometeram erros sérios de
condução política, em nome do Partido e se relacionaram
pessoalmente de forma promiscua com contraventores e ladravazes de
colarinho branco, ferindo fundo a imagem e a respeitabilidade do PT,
dentro e fora do país. Essas condutas foram e são graves e o PT não
pode tergiversar em torno delas. Sem ser juiz, promotor e carcereiro
e enfrentando a insídia da Mídia monopolista local, regional e
nacional, não podemos deixar de afirmar que os que se conduziram
dessa forma não tiveram e não têm a concordância e a chancela de
qualquer instância do Partido e que queremos que sejam julgados pelo
Judiciário e não pela Imprensa. Punidos, que o Poder Público seja
ressarcido plena e totalmente dos valores comprovadamente desviados.
O filiado do PT,
principalmente o que não está empregado na estrutura partidária e
ou nos gabinetes executivos e legislativos, é instado todos os dias
a se posicionar diante de questionamentos e provocações de toda
ordem vindos de adversários ideológicos mas, também, de uma
cidadania que nos tinha como referência da boa política e hoje,
perplexa, nos vê com decepção e desesperança, sobre condutas de
dirigentes tomadas fora do alcance da sua militância e ao arrepio da
ética da política do PT. Ocorre que essas condutas não aconteceram
por acaso.
O Partido vem, de
longe, sofrendo uma transformação por conta de sua inserção de
corpo inteiro na institucionalidade. Antes, o PT se autossustentava,
à medida que foi conquistando, pelo voto e pela expressão de suas
candidaturas, mais presença nos legislativos e executivos, passou a
depender dos recursos de gabinetes e um grande número de pessoas aí
colocadas não contribuem financeiramente para o Partido nem
participam ativamente de suas instâncias. Há uma cultura de
acomodação e de pragmatismo se alastrando pelas engrenagens do
Partido como uma ferrugem. Uma derrota eleitoral para o projeto
adversário, ou, até mesmo uma alternância num governo petista, é
um Deus nos acuda na disputa por novas colocações. Nada contra o
Partido ter sofrido transformações nesses seus 35 anos de história.
Nesse período perdeu e ganhou eleições, elegeu prefeitos,
governadores e, por 4 vezes, a Presidência da República, formou
bancadas legislativas nos três níveis, fez e desfez alianças e
coligações. Algumas dessas transformações estão, no entanto, nos
empurrando aos poucos para a vala comum dos partidos convencionais. O
PT ao surgir inaugurou um novo tempo na política brasileira. Nos
governos que encabeçou o povo brasileiro conquistou cidadania junto
com mais emprego com carteira assinada, geração de renda, educação,
saúde, moradia, diminuição da miséria (saiu do mapa da fome da
ONU), da mortalidade infantil, do analfabetismo, aumento da
longevidade, do financiamento para a agricultura familiar e o
empreendedorismo; investimentos pesados na infraestrutura do país;
política externa independente, soberana, inclusiva, participativa e
construtora de uma cultura de Paz; combate às exclusões,
discriminações e preconceitos de qualquer espécie. Não é pouco,
mas falta ainda muito para o Brasil se tornar verdadeira nação para
o seu povo.
A maior riqueza do PT,
na verdade, são seus milhares de filiados/militantes que o têm como
ferramenta de transformação e não de acomodação; ferramenta que
não pode enferrujar, perder o fio nem ficar frouxa em suas mãos;
que se mobilizam nas ruas por uma Reforma Política de verdade, não
o ornitorrinco que está quebrando a casca no ninho da maioria no
Congresso, mas a que virá por pressão legítima e democrática da
cidadania despertada e com a qual poderemos construir parcerias
verdadeiras em torno de um Projeto de Nação com partidos de
contornos programáticos e ideológicos claros. A direita tenta
surfar sobre as águas turvas da corrupção, mas dos seus quadros
poucos se salvam com moral e autoridade para nos atacar. O maior erro
dos petistas que causaram esse estrago à Política e ao Partido foi
o terem se metido em enredos nos quais os partidos tradicionais da
elite patrimonialista brasileira são escolados e mestres há muito
tempo. Agora eles se acham “melhor do que nós” e, diante do
desgaste do PT e do Governo, retomam suas bandeiras de privatização
do Estado e achicamento da Petrobras, políticas que o povo rejeitou
ao nos eleger por quatro mandatos sucessivos. Querem entregar as
riquezas a serem extraídas do pré-sal às petrolíferas
internacionais através de concessões e não mais pela partilha como
conseguimos, em nossos governos, assegurar por Lei. Os ataques se
redobram às políticas que em nossos 12 anos de governo já
implementamos, afirmando o papel imprescindível do Estado na
emulação de um desenvolvimento sustentável, redutor das
desigualdades regionais, valorizador do trabalho e da distribuição
mais equitativa da riqueza por ele produzida, onde empresas como a
PETROBRAS, o BANCO DO BRASIL, a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e o BNDES
são estratégicas.
As forças políticas,
sociais e econômicas que se contrapõem ao projeto que defendemos e
que, mesmo em conjunturas e correlações de forças adversas por
conta de nosso compromisso com a classe trabalhadora e os mais pobres
do Brasil, estamos executando, agora, com “os erros do PT” (e
eles aconteceram), se acham “por cima da carne seca” e se
preparam para obstaculizá-lo nas eleições de 2018. Na verdade,
através dessas coligações espúrias, garantidas nas Leis, e as
composições de governos delas decorrentes, incorporando no
Executivo “técnicos”, “bruxos” e “experts” do campo
adversário, essas forças nos estão piranhando há muito tempo.
Nessa situação, o campo de luta do Partido não pode ser o
exclusivamente eleitoral. Daí que articulações serôdias,
paralelas às instâncias partidárias e em torno de pessoas buscando
prováveis candidaturas, é um grande equívoco e um desperdício de
energias que não reabilitam o PT. O campo de lutas é o céu aberto
da movimentação popular, com suas debilidades, contradições,
desenfoques, no seio do qual podemos educar e aprender fortalecendo a
organização popular e aglutinando forças para que, de baixo para
cima, cresça a pressão sobre os governos, legislativos e
judiciários, nos três níveis, em contraponto à pressão que sobre
eles é exercida, de cima para baixo, pelos grandes grupos de
interesse privado, seus lobistas e representantes.
Os neoliberais querem
uma democracia sem povo, nós queremos o povo protagonista,
exercitando plenamente a cidadania na defesa dos direitos
individuais, coletivos e solidários e de reformas estruturantes que
possibilitem o país se desenvolver de forma parelha, solidária e
descentralizada e que a Democracia se consolide, além do discurso e
do texto legal, na vida de milhões de brasileiros.
Por reformas: Agrária,
Urbana, Tributária e Política.
A luta não é pequena
mas é por isso que vale a pena!
Olívio O. Dutra
Presidente de Honra do
PT/RS

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Leonardo Boff

A intolerância no Brasil atual e no mundo

LEONARDO bOFF
O assassinato dos chargistas franceses do Charlie Hebdo recentemente e a última eleição presidencial no Brasil trouxeram à luz um preconceito latente no mundo e na cultura brasileira: a intolerância. Restrinjo-me a esta pois a outra, a do Charlie Hebdo foi abordada num artigo anterior. A intolerância no Brasil é parte daquilo que Sergio Buarque de Holanda chama de “cordial” no sentido de ódio e preconceito, que vem do coração como a hospitalidade e simpatia. Em vez de cordial eu prefereria dizer que o povo brasileiro é passional.
O que se mostrou na última campanha eleitoral foi o “cordial-passional” tanto como ódio de classe (desprezo do pobre) como o de discriminação racial (nordestino e negro). Ser pobre, negro e nordestino implicava uma pecha negativa e aí o desejo absurdo de alguns de dividir o Brasil entre o Sul “rico” e o Nordeste “pobre”. Esse ódio de classe se deriva do arquétipo da Casa Grande e da Senzala introjetada em altos setores sociais, bem expresso por uma madame rica de Salvador:”os pobres não contentes com receber a bolsa família, querem ainda ter direitos”. Isso supõe a idéia de que se um dia foram escravos, deveriam continuar a fazer tudo de graça, como se não tivesse havido a abolição da escravatura. Os homoafetivos e outros da LGBT são hostilizados até nos debates oficiais entre os candidatos, revelando uma intolerância “intolerável”.
Para entender um pouco mais profundamente a intolerância importa ir um pouco mais a fundo na questão. A realidade assim como nos é dada é contraditória em sua raiz; complexa, pois é convergência dos mais variados fatores; nela há caos originário e cosmos (ordem), há luzes e sombras, há o sim-bólico e o dia-bólicos. Em si, não são defeitos de construção, mas a condição real de implenitude de tudo que existe no universo. Isso obriga a todos a conviver com as imperfeições e as diferenças. E a sermos tolerantes com os que não pensam e agem como nós. Traduzindo numa linguagem mais direta: são pólos opostos mas pólos de uma mesma e única realidade dinâmica. Estas polaridades não podem ser suprimidas. Todo esforço de supressão termina no terror dos que presumem ter a verdade e a impõem aos demais. O excesso de verdade acaba sendo pior que o erro.
O que cada um (e a sociedade) deve sempre saber é distinguir um e outro pólo e fazer a sua opção. O indicado é optar pelo pólo de luz, do sim-bólico e do justo. Então o ser humano se revela um ser ético que se responsabiliza por seus atos e pelas consequências boas ou más que deles se derivam.
Alguém poderia pensar: mas então vale tudo? Não há mais diferença? Não se prega um vale tudo nem se borram as diferenças. Deve-se, sim, fazer distinções. O joio é joio e não trigo. O trigo é trigo, não joio. O torturador não pode ter o mesmo destino que sua vítima. O ser humano não pode igualar a ambos nem confundi-los. Deve discernir e optar pelo trigo, embora o joio continua existindo, mas sem ter a hegemonia.
Para fazer coexistir sem confundir estes dois princípios devemos alimentar em nós a tolerância. A tolerância é capacidade de manter, positivamente, a coexistência difícil e tensa dos dois pólos, sabendo que eles se opõem mas que com-põem a mesma e únca realidade dinâmica. Impõe-se optar pelo pólo luminoso e manter sob controle o sombrio.
O risco permanente é a intolerância. Ela reduz a realidade, pois assume apenas um pólo e nega o outro. Coage a todos a assumir o seu pólo e a anula o outro, como o faz de forma criminosa o Estado Islâmico e a Al Qaeda. O fundamentalismo e o dogmatismo tornam absoluta a sua verdade. Assim eles se condenam à intolerância e passam a não reconhecer e a respeitar a verdade do outro. O primeiro que fazem é suprimir a liberdade de opinião, o pluralismo e impôr o pensamento único. Os atentados como o de Paris têm por base esta intolerância.
É imperioso evitar a tolerância passiva, aquela atitude de quem aceita a existência com o outro não porque o deseje e veja algum valor nisso, mas porque não o consegue evitar.
Há que se incentivar a tolerância ativa que consiste na coexistência, na atitude de quem positivamente convive com o outro porque tem respeito por ele e consegue ver os valores da diferença e assim pode se enriquecer.
A tolerância é antes de mais nada uma exigência ética. Ela representa o direito que cada pessoa possui de ser aquilo que é e de continuar a sê-lo. Esse direito foi expresso universalmente na regra de ouro “Não faças ao outro o que não queres que te façam a ti”. Ou formulado positivamente:”Faça ao outro o que queres que te façam a ti”. Esse preceito é óbvio.
O núcleo de verdade contido na tolerância, no fundo, se resume nisso: cada pessoa tem direito de viver e de conviver no planeta Terra. Ela goza do direito de estar aqui com sua diferença específica em termos de visões de mundo, de crenças e de ideologias. Essa é a grande limitação das sociedades européias: a dificuldade de aceitar o outro, seja árabe, muçulmano ou turco e na sociedade brasileira, do afro-descendente, do nordestino e do indígena. As sociedades devem se organizar de tal maneira que todos possam, por direito, se sentir incluídos. Daí nasce a paz, que segundo a Carta da Terra, é ”a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, com outras culturas, com outras vidas, com a Terra e com o Todo maior da qual somos parte”(n.16 f).
A natureza nos oferece a melhor lição: por mais diversos que sejam os seres, todos convivem, se interconectam e formam a complexidade do real e a esplêndida diversidade da vida.
Leonardo Boff é colunista do JBonline, teólogo e filósofo

domingo, 4 de janeiro de 2015

Os 18 motivos da mudança de postura dos EUA em relação a Cuba

Os 18 motivos da mudança de postura dos EUA em relação a Cuba

Cuba - Carta Maior - [Nazanín Armanian] Ninguém estava pressionando um Barack Obama debilitado e exausto para que rompesse o tabu de restabelecer relações diplomáticas com Cuba, lançando-se para os falcões belicosos. Neste mercado da política e da realpolitik, no qual reina a lógica do custo-benefício, o pequeno tamanho do mercado cubano e seus insignificantes recursos naturais não explicam essa histórica decisão de Obama.

Que sejam bem-vindas essas nove reuniões em 18 meses com representantes de Cuba, e logo a confissão da derrota, do triunfo do povo cubano e de todas as forças progressistas do mundo que denunciavam o meio século de cruéis e inúteis sanções, atentados, sabotagens, e outros atos de guerra contra a ilha socialista, que se negou a se transformar em outro “estado falido”.

“Não podemos continuar fazendo a mesma coisa e esperar um resultado diferente”. Este é o argumento oficial do Presidente para justificar a nova política. Trata-se, portanto, de mudar as táticas para conseguir o mesmo objetivo, que é provocar a mudança no sistema político cubano a favor de seus interesses, desta vez mediante o uso do poder brando: relações políticas, econômicas, sociais e culturais para “conquistar o castelo de dentro”. Desde a queda da URSS até pouco tempo atrás, Washington já não podia tratar Cuba como uma ameaça à sua segurança nacional.

As coisas mudam quando a Rússia e a China reencontram os velhos companheiros cubanos e começam a ampliar seus laços em todos os níveis, e diante do olhar atento do Conjunto de Operações Especiais do Pentágono, com sede na Flórida. O fato de não impor a Cuba qualquer condição para dar esse passo (ao contrário das exigências feitas a Irã ou Rússia para retirar sanções) se deve a essa preocupação e também ao fato de que Havana não morria de vontade e de necessidade para se ver obrigada a aceitá-lo, ainda que a imprensa democrática – com a finalidade de acalmar as críticas – afirme que haja um compromisso dos cubanos para restaurar o capitalismo, como o preço a pagar pelo fim do bloqueio.

Os três níveis das razões “não oficiais”

A. No contexto da política interna dos EUA, os seguintes fatores contaram na tomada de decisão por Obama:

1. O fato de o próprio presidente pertencer à corrente de políticos que admite a decadência do império e a existência de uma nova ordem multipolar, opondo-se aos falcões vestidos de armadura e presos à ficção de se ver como a única e todo-poderosa superpotência. Já em 2004, como senador, ele criticou o embargo.

2. O fato de ter feito isso a pouco tempo de deixar seu cargo, e não durante os seis primeiros anos de mandato, é porque não tem nada a perder: entrará para a história sem pagar qualquer custo político.

3. A impossibilidade de encontrar ou criar um líder carismático entre os opositores exilados capaz de provocar um levante em Cuba: pois as rebeliões populares surgem e triunfam sobre fundamentos objetivos e não pela eloquência de salvadores de todo tipo. Além disso, as sanções incrementavam os sentimentos anti-EUA do povo cubano, e também quanto à legitimidade de seu governo. As medidas tomadas por Washington estão sendo apoiadas inclusive pela maioria dos exilados cubanos, que assim poderiam ampliar seus laços com a ilha.

4. Os EUA pretendem estar presente em Havana quando houver a mudança geracional de seus líderes para poder influir sobre eles de dentro.

5. Para a opinião pública norte-americana, esse gesto em relação ao vizinho cubano é mais importante que os desastres deixados por Obama no Iraque, Afeganistão, Paquistão, Iêmen, Ucrânia ou Síria. Além disso, alivia a decepção dos eleitores democratas pelo descumprimento de suas promessas eleitorais na política exterior.

B. No contexto da política regional:

1. Após o fracasso da estratégia de “Regresso à Ásia” para conter a China, de ter sido arrastado às guerras do Oriente Próximo, e do surgimento de governos de esquerda em vários países da região, Obama decidiu “Regressar à América” para recuperar a influência debilitada sobre os centenas de milhões de almas da América. Vai desenterrar a Doutrina Monroe para aplicá-la à sua maneira, apesar de que John Kerry ter dito no ano passado que essa doutrina havia morrido (mas também disseram “saímos do Iraque, do Afeganistão, e fecharemos Guantánamo”).

2. As fortes e contínuas pressões dos países latino-americanos sobre Washington deram frutos: por fim, conseguiram que Cuba estivesse presente na Cúpula das Américas.

3. A necessidade de recuperar a projeção hegemônica em uma região no auge econômico, e fazer isso com o controle dos grandes projetos de infraestrutura, como o da ampliação do Canal do Panamá e das explorações petrolíferas no Golfo do México.

4. Recuperar a Venezuela, e não apenas mediante o “dumping” dos preços do petróleo (planejado com a cumplicidade da Arábia Saudita) ou com provocações internas; mas sobretudo gerando distanciamento entre Havana e Caracas. Cuba continua representando a resistência diante do imperialismo, e há quem, inclusive na esquerda, chame de “vacilo” a acertada política de Havana.

5. Trazer o Brasil para perto de si e tirá-lo dos Brics. Para os estrategistas da Casa Branca, é inadmissível que se desfaça do dólar em suas transações e, além disso, equipe seu exército com bilhões de dólares de armas russas.

C. No contexto internacional:

1. Cuba em troca da Crimeia? Ainda que não tenham nada a ver, essa iniciativa foi, sem dúvida, a jogada mais magistral de Obama contra a China e a Rússia, que se atreveram a entrar de cheio no quintal dos EUA. Passou despercebida a Resolução 758, aprovada em dezembro pelo Congresso dos EUA, e que insta o governo e os países aliados não só a armar a Ucrânia, mas a tomar medidas militares contra a Rússia.

Moscou, que se sente acurralada, em manobras sem precedentes, exibiu no dia 31 de outubro o voo de seus quatro aviões Tu-95 (equivalente aos B-52 americanos) no céu da OTAN, desde o Báltico até Portugal.

2. Não é motivo de preocupação para os EUA que a China, o principal inimigo do império para Obama, tenha se transformado no segundo sócio comercial de Cuba (e de outros países latinos) depois de ninguém menos que a Venezuela?

3. O temor de que o aumento das relações de China e Rússia com a região inclua também sua presença militar. Por isso, resgatam a memória da crise dos mísseis de 1962 para justificar a difusão do medo. A imprensa do dia 12 de novembro ressaltou que o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, organizou patrulhas nas águas do Golfo do México, ainda que tenha desmentido que a Rússia fosse reativar as instalações de espionagem eletrônica de Lourdes (Cuba), o mais potente centro de escutas da URSS no exterior para monitorar as comunicações dos EUA. Lourdes foi fechada em 2001 por problemas financeiros e também pela pressão de Washington.

4. Os EUA, que agora dedicam poucos recursos na defesa de suas fronteiras (enquanto investe quantidades absurdas para desestabilizar as fronteiras dos demais, recorrendo à excepcionalidade dos EUA), se verão forçados a investir dinheiro nisso e aumentar a militarização da região. Este é um fator contraproducente para atrair a confiança de estados que ele pretende iludir.

5. Obviamente, o peso do temor de perder a América Latina é muito maior que o de fazer negócio com um pequeno e pobre país como Cuba (não se trata de um Irã, de 80 milhões de consumidores e suas imensas reservas de petróleo). Foi casual o fato de, um dia antes de anunciar a boa notícia, Obama ameaçar Moscou com novas sanções?

6. Há cinco meses, quando houve a queda do avião malaio sobre a Ucrânia, passou despercebida a notícia da visita de Vladimir Putin na América Latina; poucos perceberam que Moscou havia perdoado 90% dos 26 bilhões de euros da dívida que Cuba havia contraído com a União Soviética. Putin também assinou com Cuba importantes contratos de investimento na indústria petrolífera da ilha, a construção do novo aeroporto da capital, a criação de uma empresa aérea russo-cubana, e a cooperação na produção de produtos farmacêuticos, agrícolas, de transporte, mineração e turismo. Mas agora que a Rússia (assim como a Venezuela) foi tocada pela queda dos preços do petróleo e pelas sanções econômicas (e dificilmente possa cumprir os acordos), Mr. Marshall pensa em chegar com seus milhões ao país que empobreceu previamente.

7. Para os russos, Cuba é mais do que uma questão geopolítica ou de reputação. É uma questão sentimental. E acreditam que arranha a imagem russa o fato de que agora os norte-americanos queiram ocupar seu lugar na Ilha.

Moscou e Pequim opinam

Dmitry Rogozin, vice-primeiro-ministro russo, considera que a tática calculada do novo enfoque da Casa Branca, mesmo sendo positivo para os cubanos, não é mais do que um “abraço de urso” para estrangular Cuba.

A China elogia Obama por demonstrar que é um estadista que soube transformar “um jogo de nenhum ganhador em um no qual todos ganham”, e o vê como o “legado mais memorável de sua presidência”.

Os EUA não aprendem com seus erros

Reconhecer que o bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba não provocou um levante popular contra o governo socialista não significa que Washington vá deixar de utilizar essa tática – que, segundo o direito internacional, é uma declaração ilegal de guerra contra uma nação. Nem sequer funcionou contra o governo impopular de Saddam Husein no Iraque, e é improvável que provoque mudanças nas políticas de Putin.

Cuba, que se beneficia com a entrada de tecnologia e capital norte-americanos – agora que a Rússia e a Venezuela estão sofrendo com a sabotagem petrolífera –, não poderia nem deveria perder essa oportunidade com o governo Obama: afinal, os mais belicosos ameaçam ocupar o Salão Oval em 2016. Para além de toda a especulação sobre o futuro de Cuba, hoje, vendo as nações inteiras que ardem no fogo das guerras, o primordial é a defesa da diplomacia nos conflitos entre os estados. A paz é a condição prévia para qualquer ação democrática.

É possível que o presidente Obama, com esse “pequeno” passo que deu com Cuba, esteja dando um passo gigante para conseguir o grande prêmio de sua política externa: Irã (e este é o 18º motivo). Ele conseguirá?

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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Estética do fragmento – Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas, de José Saramago



Portugal - Diário Liberdade - [Rodrigo Moura*] O romance publicado postumamente Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas (2014) de José Saramago foi encontrado incompleto no computador do escritor português, entretanto veio a público o que seria o início deste romance que aborda a temática da guerra e da indústria de armas.

O personagem arthur paz semedo apresenta-se um pacato funcionário de uma empresa de fabricação de armas, a belona s.a, e num ímpeto de curiosidade e mistério, ele decide investigar a produção de armas durante os anos trinta, sobretudo no que tange à Guerra Civil espanhola em que Franco usava da censura, tortura e repressão para governar. O fragmento do romance nos mostra, assim como em Todos os Nomes, outro romance de Saramago, um personagem curioso que sai a procura de respostas. Nessa procura, pode-se dizer que o personagem sai em busca de compreender-se, posto que entender a Historia é compreender a si mesmo.

O fragmento do romance nos mostra um Saramago um pouco mais combativo, mas ao mesmo tempo, sentimos toda aquela leveza de um Saramago que encontramos em A jangada de Pedra, Todos os Nomes, Ensaio sobre a cegueira.

Sempre com uma certa ironia, o autor foca na curiosidade em se desvendar algo. Poder-se-ia dizer que muitas obras de Saramago estão repletas de elementos misteriosos. A figura de arthur paz semedo mostra uma tranquilidade, um personagem quase que inexistente, posto que suas atitudes aparecem mais que o próprio personagem, talvez, por este motivo, o autor português tenha optado por colocar o nome do personagem em minúscula. O romance desenvolve-se dentro do ambiente de trabalho de arthur que consegue autorização para investigar a venda de armas pela empresa nos anos 1930, logo durante a Guerra Civil Espanhola.

Em princípio, todas as ideias são bem-vindas, sobretudo se forem sensatas, e até sua, Um estudo, senhor administrador, Que espécie de estudo, Analisar o nosso antigo sistema contabilístico, por exemplo, dos anos trinta... (SARAMAGO, 2014. p.27)

Entre pequenas mentiras e omissões o personagem vai ganhando espaço no romance e o ar de mistério fica cada vez mais intenso. Dever-se-ia inferir que este livro aborda de forma magistral a questão do mistério e da busca por respostas. E essa tal procura por passa por um autoconhecimento, logo buscando entender os anos trinta, o personagem conseguiria entender a si mesmo. O livro termina com arthur trabalhando em seu ambicioso projeto, deixando para nós, leitores, uma certa vontade de se descobrir, uma certa vontade de ler mais.

Saramago mais uma vez nos brinda com a esperança, com a utopia, típicas da estética saramaguiana. Pode-se encontrar algum tipo de dificuldade para se fazer um estudo mais detalhado sobre este fragmento, entretanto se faz muito importante não deixar que esta magnífica obra não seja estudada de maneira mais profunda.

O pessoal vai gostar, senhor engenheiro, o tratamento de administrador-delegado impunha uma distancia que na realidade não existia, eu que o diga, Suponho que o seu caso foi um pouco especial, veio aqui com uma ideia, Que não iria servir para nada. Serviu para fazer surgir uma ideia melhor, não lhe parece bastante, perguntou o engenheiro. Para lhe falar francamente, tudo me parece demasiado, eu aqui sentado, eu a procurar documentos no arquivo, eu a falar com o administrador-delegado da empresa, eu um simples chefe de faturação menor, sem ofício nem beneficio. Ofício tem, não se queixe, Nada que outra pessoa não pudesse fazer. (SARAMAGO, 2014, p. 57)

*Rodrigo Barreto da Silva Moura – Mestrando em Literatura Portuguesa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ. Pesquisa as obras de Saramago e Ferrin, autor galego. Tem diversos trabalhos publicados e apresentados no Brasil e no exterior.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Lágrima Psicodélica: Creedence Clearwater Revival




Hoje na QUINTA FULL da Rock Radio Lágrima Psicodélica 
vão rolar os seguintes álbuns selecionados por Minduim Mateus.

Boa audição !



MUDDY WATERS
At Newport (1960)



NICO
Chelsea Girl (1967)




WISHBONE ASH
Argus (1972)



PATTI SMITH
Dream Of Life (1988)




RADIOHEAD
The Bends (1995)



JAKSZIKY, FRIPP & COLLINS
A Scarcety Of Miracles (2011)


THE ROLLING STONES
Out Of Our Heads (1965)



CREEDENCE, CLEARWATER, REVIVAL
Cosmo's Factory (1970)



MARILLION
Fugazi (1984)



THE BLACK CROWES
The Southern Harmony And Musical Companion (1992)



BLACK MOUNTAIN
In The Future (2008)



BLACK COUNTRY COMMUNION
Afterglow (2012)

Creedence Clearwater Revival
Creedence Clearwater Revival foi uma banda de rock and roll americana formada por John Fogerty (guitarra e vocais principais), Tom Fogerty (guitarra), Stu Cook (baixo) e Doug Clifford (bateria), que, sob outras denominações, tocavam juntos desde 1959. Adotaram o nome Creedence Clearwater Revival em 1967, com o qual lançaram as primeiras gravações em 1968. O nome C.C.R. surgiu pela junção do nome de um amigo do Tom Fogerty chamado "Creedence Nubal" e por um comercial de cerveja "Clearwater". Já naquele ano obtiveram disco de ouro com o álbum Creedence Clearwater Revival. Ao longo da carreira, entre singles e álbuns, conquistaram nove discos de ouro e sete discos de platina. Separaram-se em julho de 1972. John Fogerty foi quem teve mais êxito na carreira solo. Seu irmão Tom faleceu em 6 de setembro de 1990. Em 1993 o Creedence Clearwater Revival foi introduzido no Rock and Roll Hall of Fame. Recentemente, Stu Cook e Doug Clifford formaram o genérico Creedence Clearwater Revisited, e passaram a excursionar pelo mundo, tocando antigos sucessos da banda original.



TUDO EM CIMA: Feliz Natal...?

TUDO EM CIMA: Feliz Natal...?
Veja como como Aécio se enriquecia com a Arco Íris e silenciava a imprensa mineira


A oito dias de o grupo do senador Aécio Neves (PSDB) deixar o comando de Minas Gerais, o governo estadual divulgou nesta terça-feira, 23, os dados relacionados aos gastos com publicidade feitos pela administração desde 2003. Os dados mostram que, entre 2003 e 2011, o Estado repassou mais de R$ 1,1 milhão às três emissoras de rádio e ao jornal da família do tucano.

A iniciativa teve como objetivo desmontar acusações do PT e investigações em curso do Ministério Público. A partir de janeiro, o petista Fernando Pimentel assume o Estado no lugar de Alberto Pinto Coelho (PP), ex-vice-governador de Antonio Anastasia (PSDB), futuro colega de Aécio no Senado.

De 2003 a 2011, a Rádio Arco Íris, que detém uma franquia da Rádio Jovem Pan FM em Belo Horizonte, teria recebido R$ 1,06 milhão. A Rádio São João del Rei S/A e Vertentes FM, ambas em João del Rei, receberam juntas R$ 51, 8 mil. E o jornal Gazeta de São João del Rei, R$ 45,5 mil entre 2003 e 2011.

O caso passou a ser investigado pelo Ministério Público Estadual (MPE) em 2011, após Aécio ter sido parado em uma blitz da Lei Seca no Rio de Janeiro. Ele dirigia um veículo registrado em nome da Arco Íris.

Aécio Neves governador  beneficiou os negócios da família do tucano.

Por nota, o diretório mineiro do PT destacou a iniciativa do governo mineiro em favor de mais transparência na gestão dos recursos públicos. O partido, no entanto, não deixou de provocar os tucanos.

“Mais uma vez, o PSDB despreza a inteligência dos mineiros e das mineiras. Somente agora, no apagar das luzes de um governo que esteve à frente do Executivo estadual durante doze anos, a Subsecretaria de Comunicação de MG disponibiliza os gastos com publicidade no Estado”, diz a nota do PT.

Os mineiros pagaram a conta da propaganda de Aécio

Nos 12 anos em que foi comandado pelos tucanos, o Estado gastou mais de R$ 547 milhões com publicidade, em valores corrigidos pela inflação

 As empresas de comunicação controladas pela família de Aécio que veicularam publicidade oficial durante seu governo receberam menos do que seus concorrentes.

Aécio e sua família controlam a rádio Arco Íris, retransmissora da Jovem Pan em Belo Horizonte, e as rádios São João e Colonial, de São João del Rei, além do semanário "Gazeta de São João del Rei".


Da posse de Aécio, em 2003, até este mês, quando termina o governo tucano em Minas, os gastos do Estado com publicidade oficial aumentaram mais de 900%, já descontada a inflação do período.

Emissoras de TV ficaram com a maior fatia (R$ 290 milhões), com a Rede Globo em primeiro lugar. Entre os jornais (R$ 138 milhões), o maior beneficiado foi o "Estado de Minas", que apoiou editorialmente o governo de Aécio e sua candidatura presidencial.

O jornal é o maior do Estado e teve um aumento expressivo (1.428%) no valor recebido nos últimos 12 anos. Para o governo, no entanto, houve acréscimo na publicidade para "todos os veículos".

Só foram divulgados gastos efetuados pela administração direta, sem incluir despesas feitas por empresas estatais.

Em outubro, durante a campanha eleitoral, reportagem da Folha mostrou que o governo de Minas se recusava a divulgar informações sobre despesas que realizou para veicular publicidade em três rádios e um jornal controlados pela família de Aécio, que governou o Estado de 2003 a 2010 e disputou a eleição presidencial deste ano.

Na época, a Folha não conseguiu obter essas informações. O jornal apresentou requerimentos baseados na Lei de Acesso à Informação. O governo alegava que o levantamento concluído agora estava incompleto.

Os gastos foram divulgados em documentos no formato PDF, que podem dificultar sua análise. Os valores nas tabelas só podem ser processados após a conversão dos documentos em planilhas de cálculo, com o uso de ferramentas especiais. Na Folha

Guerra do Paraguai: o massacre de um povo soberano - A Verdade » Um jornal dos trabalhadores na luta pelo socialismo

Guerra do Paraguai: o massacre de um povo soberano


A nação paraguaia libertou-se do domínio espanhol em 1811, tendo assumido o governo José Gaspar Rodriguez Francia, que estabeleceu uma ditadura em favor do povo. Realizou a primeira grande reforma agrária da América do Sul, organizando cooperativas de camponeses sob controle do Estado e adotando o regime de trabalho comunitário baseado na experiência dos guaranis. A elite colonial foi despojada dos seus bens e duramente reprimida, inclusive a Igreja Católica, que teve suas propriedades confiscadas.

O Paraguai não tinha saída para o mar. Foi fácil ao capitalismo internacional, comandado então pela maior potência, a Inglaterra, isolar o país, impedindo desenvolvimento de sua economia, pois não havia como exportar o excedente agrícola que abarrotava os paióis por todo o país.

Quando Francia morreu, em 1840, o Paraguai era o único país sul-americano que não tinha um só analfabeto. Amado pelo povo do seu país, era conhecido no resto do mundo como bárbaro, assassino, terrorista, exatamente porque desapropriou a classe dominante colonialista e não colocou seu país sob o tacão do imperialismo inglês.

Um passo à frente

O sucessor de Francia foi Carlos Antônio Lopez, um dos ricos que fugira para o interior devido à perseguição de Francia e se convenceu de que o caminho melhor para a nação era o adotado por seu perseguidor. Primeiro presidente constitucional da República, seguiu e aprofundou o modelo de desenvolvimento autônomo. Negociou com o Uruguai uma saída para o mar, comprometendo-se a defender aquele pequeno e frágil país contra qualquer invasão estrangeira.

Viabilizando a exportação do excedente produzido, foi possível ao Estado investir na indústria e na infraestrutura. O Governo contratou técnicos europeus e enviou seus jovens para estudar nos países centrais. Com isso, foi possível a criação de tecnologia, o desenvolvimento industrial, a implantação de ferrovias. Em pouco tempo, enquanto Brasil e Argentina importavam de alfinete a botão, o Paraguai tinha uma siderúrgica funcionando 24 horas por dia, tudo isso sem dever a ninguém, com o esforço coletivo de um povo engajado.

Naturalmente, despertou a cobiça dos vizinhos e o temor da Inglaterra de que o exemplo se alastrasse e ela perdesse todo um continente que garantia seu crescimento econômico, fornecendo matéria-prima barata, consumindo seus supérfluos e se endividando cada vez mais.

As classes dominantes de Brasil e Argentina se formaram como sócias menores do capital inglês, de quem já dependiam inteiramente. Portanto, sua visão da realidade não tem como fundamento os interesses nacionais e sim os da metrópole, que são os seus também. Elas também eram atingidas pela autonomia paraguaia e se prestaram, sem vacilar, ao papel sujo de invadir o país vizinho.

Quando morre, em 1862, Carlos Antônio Lopez deixa o Paraguai na seguinte situação: “É o único país da América do Sul que não tem dívida externa nem interna; o único que não tem analfabetos; o mais bem dotado de melhoramentos como telégrafo, ferrovias, linhas de navios para a Europa. Possui o mais moderno sistema de moedas. Está livre da ingerência de bancos estrangeiros em sua economia. Todo esse progresso é a sua sentença de morte!”.

Arma-se a ofensiva militar

O Congresso paraguaio elege para suceder Carlos Antônio seu filho, Francisco Solano López. Não por ser filho, mas por demonstrar, desde os 18 anos, sua capacidade de organizar o Exército e sua qualidade de negociador, posto que, em 1859, conseguiu pacificar as províncias argentinas em conflito. Poderia tê-las ocupado, aproveitando o divisionismo e a fraqueza da confederação argentina. Mas o Paraguai nunca teve pretensões expansionistas, ao contrário do que querem fazer crer certos historiadores, não só os do império, mas até mesmo da época atual. O que queriam os paraguaios era apenas manter a paz e a estabilidade na bacia do Rio Prata.

Quanto à economia, Solano López não tinha muito o que fazer, exceto dar continuidade a um modelo de sucesso, haja vista que o pequeno Paraguai já era conhecido no mundo inteiro. Hábil diplomata, ele vai à Europa e articula apoios, contrata profissionais para ajudar na modernização dos meios de produção, vai de vento em popa.

Negocia tratados com Brasil e Argentina para garantir a paz entre as nações que têm interesse comum na região. Acredita que está tudo bem. Não percebe Solano, como não haviam percebido os governos anteriores, que não bastava negociar pequenas querelas de vizinhos, que a razão maior do conflito estava bem longe, na sede do império britânico.

A ofensiva começa no aspecto ideológico, buscando formar uma opinião pública, restrita às elites, aos que liam jornais, de que no Paraguai havia um regime ditatorial, contrário à civilização. Um diplomata inglês, Edward Thornton, afirma: “…Insignificante em si mesmo, o Paraguai pode impedir o desenvolvimento e o progresso de todos os seus vizinhos. Sua existência é nociva e sua extinção como nacionalidade deve ser proveitosa para seu próprio povo e para todo o mundo”.

Os vizinhos engolem a corda. Bartolomeu Mitre, presidente da Confederação Argentina, deixa escapar em seu jornal La Nación: “A República argentina está no imprescindível dever de formar aliança com o Brasil a fim de derrubar essa abominável ditadura de López e abrir ao comércio do mundo essa esplêndida e magnífica região que possui, talvez, os mais variados e preciosos produtos dos trópicos e rios navegáveis para serem explorados”.

A guerra seria para libertar o povo paraguaio do ditador. Seria rápida. Quando atacaram e ficou claro que o povo lutaria até o último homem, o discurso do diplomata norte-americano Charles Washburn tem o tom de um celerado: “Por sua torpeza e cegueira, junto com outros pecados, o povo paraguaio merece o completo extermínio que o aguarda. O mundo terá justo motivo para congratular-se quando não houver uma só pessoa que fale o endiabrado idioma guarani”.

A trama

Como armar um pretexto para o ataque? Simples. Havia na fronteira do Uruguai com o Rio Grande do Sul 40 mil camponeses brasileiros do lado uruguaio, que já dominavam 30% das terras do país. O Governo do Uruguai, para controlar essa ocupação econômica externa, desordenada, estabelece limites severos, aumenta impostos e proíbe o trabalho escravo. Os gaúchos cobram um posicionamento do imperador. Este envia um diplomata, Antônio Saraiva, para negociar. As conversas resultam infrutíferas. O embaixador britânico Thornton propõe uma comissão tríplice: ele próprio, Saraiva, pelo Brasil, e Elizalde, pela Argentina. São recebidos pelo presidente Berro, mas não há acordo, porque a comissão não pretendia conciliação alguma, apenas utilizar sua impossibilidade para justificar uma intervenção. Entre os pontos em discussão, colocavam algo que nada tinha a ver com o problema dos camponeses brasileiros; apenas dizia respeito à política interna uruguaia.

Frustrada a negociação, seguem para Buenos Aires e assinam o acordo, cujo conteúdo já havia sido traçado anos antes, que une Brasil e Argentina para invadir o Uruguai, fato ocorrido no dia 20 de fevereiro de 1865. O que isso tem a ver com o Paraguai? Tudo. Com o vizinho ocupado, os paraguaios ficam novamente sem saída para o mar, o que iria asfixiar sua economia e, por isso, o Paraguai se comprometera a defender o Uruguai diante de qualquer ataque.

A guerra

O Paraguai não tinha outra saída. Rompeu relações diplomáticas com Brasil e Argentina e partiu para a ofensiva, ocupando o Mato Grosso. Era o que bastava para a tríplice aliança, pois Venâncio Flores, o títere imposto ao Uruguai, juntara-se aos invasores.

A guerra, que esperavam breve, durou cinco anos. O Paraguai tinha um Exército de defesa de 50 mil homens, bem preparado, e toda uma população mobilizada para a luta. Juan Batista Alberdi, em correspondência a Sarmiento, Buenos Aires, 1967, testemunha: “O Exército paraguaio é numeroso relativamente ao seu povo porque não se distingue do povo. Cada soldado defende seu próprio interesse e o bem-estar de sua família, na defesa que faz do seu país”.

Já o Exército brasileiro, composto, em sua maioria, por escravos oprimidos no seu país, não tinha motivação para a luta. Nem o argentino, composto de mercenários. As derrotas e a desmoralização se sucedem até que é nomeado para o Comando da expedição o experiente e temido Duque de Caxias (Luís Alves de Lima e Silva), que impõe a disciplina e reverte os resultados, embora a custo de muitas perdas.

O Exército invasor cometeu abomináveis crimes de guerra, entre os quais se destacam: obrigar prisioneiros paraguaios a lutar contra a sua pátria, contaminar as águas do Rio Paraná com cadáveres de pessoas acometidas pelo cólera para contaminar a população ribeirinha (crime assumido por Caxias em carta a D. Pedro II); venda de prisioneiros como escravos (crime confessado por Bartolomeu Mitre, comandante do Exército argentino, em carta ao vice-presidente Marcos Paz); assassinato de milhares de crianças na batalha de Acosta Ñu (crime ordenado pelo conde D’eu, que assumiu o Comando das tropas em substituição a Caxias).

O genocídio

O Duque de Caxias deu por encerrada a guerra no dia 5 de janeiro de 1868, quando o Exército Imperial chegou a Assunção e estabeleceu um governo títere. Mas a ordem foi continuar. Em carta ao imperador Pedro II, datada de 18 de novembro de 1867, ele pediu demissão. Depois de referir-se à bravura do soldado paraguaio, que via como “simples cidadãos, homens, mulheres e crianças”, questionou: “Quanto tempo, quantos homens, quantas vidas para terminar a guerra, é dizer, para converter em fumo e pó toda a população paraguaia, para matar até o feto do ventre da mulher?”.

Caxias desistiu de ser o coveiro do povo paraguaio, mas o Império, atendendo à vontade maior da metrópole britânica, não arredou pé. Pedro II nomeou para o Comando seu genro, o conde D’eu. Este superou qualquer tipo de violência até então conhecido, a exemplo do episódio de Peribebuy, quando o sádico mandou fechar e incendiar um hospital onde só havia velhos e crianças doentes.

Outro crime foi a batalha de Acosta Ñu, no dia 16 de agosto de 1869. Havia se formado um batalhão de 3.500 crianças, a partir de seis anos, para fazer frente aos invasores, possibilitando a fuga de Solano López com 500 homens, o que restava para defender o país. Cercadas por 20 mil soldados, as crianças foram derrotadas, naturalmente. Muitos, chorando, abraçavam- se nas pernas dos soldados pedindo para não serem mortas, mas não havia contemplação. Eram degoladas sem dó. No final, as mães correram para a mata para resgatar corpos e procurar sobreviventes, mas não parou por aí: o conde foi capaz de ordenar o incêndio da mata, queimando as crianças e suas mães. O 16 de agosto foi estabelecido, posteriormente, como o Dia das Crianças no Paraguai.

Solano e seus últimos companheiros, cem soldados, foram encontrados e derrotados no dia 1º março de 1870. Instado a se render, ele pronunciou suas últimas palavras: “Morro com minha pátria”.

O povo paraguaio foi praticamente exterminado: mais de 75% de sua população foi morta. Dos 800 mil habitantes no início da guerra, restaram 194.000. A população masculina adulta foi dizimada em quase 100%. Sobraram 14 mil homens, em sua grande maioria, crianças com menos de 10 anos e velhos. Sarmiento, argentino, escreve: “A Guerra do Paraguai conclui-se pela simples razão de que matamos a todos os paraguaios maiores de dez anos”.

O Paraguai perdeu 140 mil quilômetros quadrados do seu território, o que corresponde a Pernambuco e Alagoas juntos. As terras, como todas as riquezas saqueadas, foram repartidas entre brasileiros e argentinos.

Um só ganhador

Mas o único ganhador, mesmo, foi o imperialismo britânico. Incitou Brasil e Argentina à guerra. Estes, com a economia debilitada, dependiam de mais empréstimos para dar conta da tarefa. Nos anos seguintes, este endividamento só fez aumentar. Entre 1871 e 1889, a soma da dívida externa brasileira atinge 45.500.000 libras, e da Argentina, 18.747.000. Das conseqüências do endividamento crescente sobre a realidade econômico-social dos dois países, não é preciso falar.

Derrotada, a nação paraguaia teve aniquilada sua experiência vitoriosa de desenvolvimento econômico soberano, independente e autônomo, a partir de próprias forças. Atualmente, o Paraguai ocupa o 111º lugar em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), entre 187 países listados pela ONU (dados de 2013).

José Levino

Fonte: Genocídio Americano, A Guerra do Paraguai. Júlio José Chiavenatto, Brasiliense, 12ª edição, São Paulo, 1980, de onde, inclusive, foram extraídas as citações.




Hepatitis C: No son muertes, son crímenes de Estado | América

Hepatitis C: No son muertes, son crímenes de Estado


Rafael Silva
Rebelión

“Hay que respetar las leyes, siempre que las leyes sean respetables“
(José Luis Sampedro)

“El sistema sanitario es una verdadera mafia que crea enfermedades y mata por dinero y poder“
(Ghislaine Lanctot)

La austeridad homicida que ejecuta este sádico Gobierno tiene múltiples manifestaciones. Vamos a abordar aquí una de las más recientes, crueles e inhumanas. De los 7.000 pacientes de Hepatitis C que aproximadamente necesitan el medicamento de nombre comercial “SOVALDI” para poder sobrevivir, los Presupuestos garantizan que únicamente lo recibirán unos 1.200 pacientes. El resto será abandonado a su suerte, probablemente morirán en un período más o menos breve de tiempo. De hecho, ya han muerto varias personas durante los últimos meses, víctimas de este abondono oficial por parte del Ministerio de Sanidad, lo cual ha provocado que su Plataforma de Afectados realice un encierro indefinido a las puertas del Hospital 12 de Octubre de Madrid. Al momento de escribir este artículo, la Dirección General de Farmacia ha confirmado que se administrará este fármaco a todos los pacientes críticos que lo necesiten, pero como decimos, las cifras realmente cubiertas van a ser irrisorias.

Y no estamos hablando de un brote virulento de una cruel enfermedad epidémica incontrolable, ni siquiera de una enfermedad mortal para la cual no exista medicamento curativo. No. La enfermedad es conocida, el tratamiento existe, su éxito en la curación es certero, el único problema es el presupuesto público para sufragarlo y expedirlo para todos los pacientes que lo necesiten. Pero claro, eso lo haría un Gobierno socialmente responsable, éticamente impecable, y humanamente justo. Un Gobierno al que le importaran las personas. Evidentemente, nuestro actual Gobierno del PP está muy alejado de dichos parámetros. Porque lo cierto es que muy ruín y despreciable tiene que ser un Gobierno para que sea capaz de sacrificar vidas humanas en pro del supuesto saneamiento de sus cuentas públicas. Es el más fiel exponente y ejemplo de cuando un Gobierno se convierte y trabaja como una empresa privada, en vez de estar al servicio de su sociedad.

Tanto que a este Gobierno le gusta comparar la gestión de las Administraciones Públicas con las de una familia, esto es como si unos padres renunciaran a salvar la vida de su hijo o hija que padece una enfermedad, porque tienen que saldar su cuenta con la comunidad de vecinos. Absolutamente miserable. Una conducta cruel y abyecta, demostrativa, una vez más, de que estamos gobernados por gente que desprecia absolutamente a la ciudadanía. Porque lo que un Gobierno responsable haría, si es que quiere priorizar el derecho a la salud, es enfrentarse con las grandes empresas farmacéuticas, para conseguir por 300 euros lo que dichas empresas quieren ofrecer por 80.000 (son cifras imaginarias). En todo caso, no es posible que una cuestión tan básica como la salud y la investigación necesaria para la creación de medicamentos se encuentre en manos de empresas privadas, que únicamente pretenden asaltar las Administraciones Públicas para enriquecerse. Hoy día, la investigación farmacéutica se encuentra absolutamente privatizada, las empresas privadas son las que investigan y monopolizan el conocimiento creado mediante patentes comerciales, y posteriormente roban al erario público y a la sociedad en general, sabiendo que necesitan de sus medicamentos.

Llegados por tanto a esta situación, se hace más necesaria que nunca la nacionalización de los grandes sectores estratégicos de nuestra economía productiva, para que pasen al control público las grandes empresas que monopolizan la investigación, el conocimiento y la comercialización de sus productos, cuando estos productos resultan básicos para la sociedad a la que deben servir. Por un lado, el ámbito público debiera fomentar un sector de Investigación y Desarrollo (I+D+i) que se ponga realmente al servicio de la sociedad, porque ¿cuántos investigadores e investigadoras podríamos financiar todos los años con el dinero con el que el Estado adquiere ciertos medicamentos? Ese conocimiento podríamos utilizarlo para fomentar una industria farmacéutica pública, que ayude realmente a curar enfermedades, y no a enriquecer a algunas empresas a costa de nuestra salud. Los criterios que deben guiar esta labor son los de rentabilidad social, no los del lucro particular y privado. Y todo ello tiene que ver también, como hemos dicho, con el rechazo y la indiferencia social que nuestro desalmado Gobierno practica con nuestro sector de Investigación y Desarrollo, especialmente con el mundo de los jóvenes investigadores, que se ven obligados a emigrar a terceros países donde reconocerán su valía profesional, porque en su país, tristemente, sólo se ven abocados al paro o a la precariedad. Mientras todo ello no se aborde con un mínimo de sensibilidad social, continuarán muriendo dependientes y pacientes crónicos en nuestro país.

Blog del autor: http://rafaelsilva.over-blog.es

http://www.rebelion.org/noticia.php?id=193636