segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A miseria nos USA...

Morrer como bichos
Correia da Fonseca “…Para a televisão portuguesa (e não só para ela, é certo), os Estados Unidos são uma espécie de Meca envolta num hálito de sacralidade. É de lá que vem a quase totalidade da ficção importada e que a TV nos fornece para nossa edificação. É lá que têm origem directa ou indirecta as grandessíssimas verdades que diariamente nos permitem ter uma certa ideia do que vai pelo mundo. Na verdade, quase se poderia dizer, recorrendo a uma expressão popular, que o que a televisão nos diz acerca dos Estados Unidos é uma escritura. Ainda assim, e para evitar exageros, diga-se apenas que as telenotícias acerca dos States estão acima de qualquer suspeita.

Correia da Fonseca* - Odiario.info

Foi com a televisão, que tal como acontece com a maioria dos portugueses é a minha principal fonte de informações, que eu soube destes números verdadeiramente terríveis: nos Estados Unidos da América, generalizadamente reconhecidos como a mais rica e poderosa nação do mundo, 46 milhões de cidadãos não têm qualquer esquema de protecção clínica em caso de doença e, o que é ainda mais impressionante, 16 mil norte-americanos morreram no ano passado sem quaisquer cuidados médicos. A gente ouve e custa-lhe a crer, mas não há a mínima margem para sequer suspeitarmos da isenção da fonte.

Na verdade, é sabido que para a televisão portuguesa (e não só para ela, é certo), os Estados Unidos são uma espécie de Meca envolta num hálito de sacralidade. É de lá que vem a quase totalidade da ficção importada e que a TV nos fornece para nossa edificação. É lá que têm origem directa ou indirecta as grandessíssimas verdades que diariamente nos permitem ter uma certa ideia do que vai pelo mundo. Na verdade, quase se poderia dizer, recorrendo a uma expressão popular, que o que a televisão nos diz acerca dos Estados Unidos é uma escritura. Ainda assim, e para evitar exageros, diga-se apenas que as telenotícias acerca dos States estão acima de qualquer suspeita.

O que motiva a situação chocante que aqueles números exprimem é o facto de todos os seguros contra a doença estarem nos Estados Unidos exclusivamente entregues à iniciativa privada e serem de tal modo caros que os tais 46 milhões de norte-americanos não têm, pura e simplesmente, dinheiro para os pagar. Esperam, naturalmente, que a doença não lhes bata à porta tão cedo e porventura que até lá possam reunir os dólares bastantes para a pagar. Os cerca de 16 mil que morreram sem poderem recorrer a um médico testemunham a fragilidade dessa expectativa.

Foi certamente para pôr fim ao escândalo e ao horror de haver milhares de cidadãos USA a morrerem, ano após ano, sem qualquer amparo médico, verdadeiramente como bichos, que animou Barack Obama a propor um sistema público de protecção na doença. Também a televisão nos informou sobre as consequências da iniciativa: de uma ponta a outra dos Estados Unidos deflagrou uma contestação que está a revelar-se de uma espantosa veemência. A RTP1, designadamente, mostrou-nos imagens de algumas manifestações contra o projecto: indignadas, quase à beira da violência e com todo o ar de serem populares.

Seria intrigante ver que gente com o aspecto de pertencerem às camadas médias/baixas da população se manifestassem assim contra uma anunciada medida de clara solidariedade social se não soubéssemos que muita daquela gente pode ter sido recrutada a troco de uns dólares, o que na Grande e Livre América se usa muito, e que uma outra grande parte terá o cérebro bem lavadinho para que repudie toda e qualquer medida que lhe cheire a «comunismo».

É que, pelo que se viu e ouviu, um sistema estatal de protecção na doença tem esse odor para os seus narizes «verdadeiramente americanos».

O desvario e a intoxicação são de tal ordem que, por querer avançar com uma protecção estatal, Obama está a ser acusado de totalitarizante e comparado a Hitler pelo menos num cartaz que a TV nos deu a ver. É mais um fruto, este imbecil, da infame simetria que lá como cá (ou, com mais rigor, cá como lá), «ensina» que comunismo e nazifascismo são equiparáveis e confundíveis.

O que consta ser certo é que o presidente Barack Obama está a cair nas sondagens de popularidade devido a esta iniciativa, e também é a televisão que no-lo diz. Quer dizer, a popularidade de Obama terá resistido à persistência da invasão do Iraque, ao agravamento da guerra no Afeganistão, à inoperância perante a tragédia da Palestina, mas afunda-se quando o presidente se torna suspeito de querer beliscar os grandes interesses que fazem negócio com a saúde dos cidadãos norte-americanos.

É, dizem, uma inaceitável infracção ao american way of life que tem como regras básicas a deificação da iniciativa privada e do individualismo radicalmente egoísta, do business que reduz a própria vida à condição de mercadoria que deve proporcionar lucros a uma empresa, a recusa da intervenção do Estado para reduzir verdadeiros crimes sociais.

Pelo que vimos e ouvimos, há gente nos Estados Unidos que à eventual ruptura dessa sagrada regra prefere que concidadãos morram à razão de muitos milhares por ano.

Sem cuidados médicos. Como bichos.


* Correia da Fonseca é amigo e colaborador de odiario.info

Do sitio vermelho

Ensino religioso em escolas públicas divide opiniões

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, acredita que o ensino religioso não é necessário para a formação do cidadão. Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), "uma educação integral envolve o aspecto da dimensão religiosa".

O ensino religioso que aborda uma doutrina específica pode gerar discriminação dentro das salas de aula, segundo o sociólogo da Universidade Estadual Paulista (Unesp), José Vaidergorn. “O ensino religioso identificado com uma religião não é democrático, pode ser considerado discriminatório”, disse em entrevista à Agência Brasil.

Segundo Vaidegorn, o ensino voltado para uma determinada religião pode constranger os alunos que não compartilham dessas ideias. O professor ressalta ainda a possibilidade de que, dependendo da maneira que forem ministradas, as aulas de religião podem incentivar a intolerância entre os estudantes.

As aulas de religião estão previstas na Constituição de 1988. No entanto, um acordo entre o governo brasileiro e o Vaticano, em tramitação no Congresso Nacional, estabelece o ensino católico e de outras doutrinas.

A inserção do elemento religioso no processo educacional pode, segundo Varidergorn, gerar conflitos. “Em vez da educação fazer o seu papel formador, o seu papel de suprir, dentro das suas condições, as necessidades de formação da população ela passa a ser também um campo de disputa política e doutrinária.”

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, contesta a justificativa apresentada na lei de que o ensino religioso é necessário para a formação do cidadão. “Não podemos considerar que a questão ética, a questão moral, o valores sejam privilégios das religiões”, ressaltou. A presença do elemento religioso não faz sentido na educação pública e voltada para todos os cidadãos brasileiros, segundo ele. “ A escola é pública, e a questão da fé é uma coisa íntima de cada um de nós”.

Ele indicou a impossibilidade de todos os tipos de crença estarem representados no sistema de ensino religioso. Segundo ele, religiões minoritárias, como os cultos de origem afro, não teriam estrutura para estarem presentes em todos os pontos do país.

Além disso, as pessoas que não têm religião estariam completamente excluídas desse tipo de ensino, como destacou o presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), Daniel Sottomaior. “Mesmo que você conseguisse dar um ensino religioso equilibradamente entre todos os credos você ia deixar em desvantagem os arreligiosos e os ateus.”

Sottomaior vê com preocupação a possibilidade de a fé se confundir com os conhecimentos transmitidos pelo sistema educacional.“Como o aluno pode distinguir entre a confiabilidade dos conteúdos das aulas de geografia e matemática e o conteúdo das aulas de religião?”

Para o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Geraldo Lyrio Rocha, a religião é parte importante no processo educacional. “Uma educação integral envolve também o aspecto da dimensão religiosa ao lado das outras dimensões da vida humana”, afirmou.