quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A luta continua, rumo a vitoria...

Medo da derrota faz governo retirar quórum


Sem ter maioria para votar os projetos que retiram direitos dos servidores públicos, a bancada governista mais uma vez não compareceu ao plenário da Assembleia Legislativa na tarde desta quarta-feira 16. A pressão sobre o governo e sua base no Legislativo será mantida nos próximos dias. Orientado pelo PP para não dar quórum, o deputado Mano Changes permaneceu em plenário e disse que votaria com os educadores e brigadianos.


O acampamento organizado pelos trabalhadores da educação na Praça da Matriz, em Porto Alegre, com o apoio de outras entidades de servidores, será mantido na quinta-feira 17, dia em que os educadores estarão na Assembleia pressionando pela retirada dos projetos.


O governo do estado continua querendo sacrificar os servidores e a população do Rio Grande do Sul. O CPERS/Sindicato fez todos os movimentos para que a greve iniciada ontem pudesse ser finalizada, mas o governo não fez nenhum movimento neste sentido.
João dos Santos e Silva, assessor de imprensa do CPERS/Sindicato
Fotos de Eduardo Seidl

Estamos sendo envenenados???


 
 

O veneno no pão nosso de cada dia

 
Por Tatiana Merlino
 
O Brasil é líder mundial no uso de agrotóxico. As empresas transnacionais comemoram, enquanto o prejuízo fica para os trabalhadores rurais e os consumidores. Fotos Jesus Carlos
 
Do lado esquerdo da estrada de terra vermelha, uma cerca viva impede a visão da fazenda. Do lado direito, é diferente: é possível ver o pomar repleto de árvores de laranja, embora a maioria não dê mais frutos. A época da colheita já passou, foi em agosto. Estamos em outubro. Mais alguns metros percorridos de carro pela estrada da área rural do município de Lucianópolis, interior paulista, ouve-se um som vindo por detrás do pomar. Parece o ronco de um motor. Descemos do carro e cruzamos o limite da fazenda. O som se aproxima. Primeiro quarteirão, nada, segundo, terceiro, quarto. Lá pelo quinto quarteirão de árvores o barulho fica forte e avistamos o trator vermelho,
pilotado por um homem que pulveriza um produto no laranjal. É Luiz Andrade de Souza, que trabalha e mora com a família na fazenda. Ele trabalha sem nenhum Equipamento de Proteção Individual – EPI, dispositivo exigido pela legislação do Ministério do Trabalho para a aplicação de defensivos agrícolas.
 
Luiz Andrade é uma vítima potencial de problemas de saúde decorrentes da manipulação dos agrotóxicos. De acordo com dados divulgados no começo de novembro pelo Censo Agropecuário 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve, em 2006, pelo menos 25.008 casos de intoxicação de agricultores. Os dados também indicam que herbicidas, fungicidas e inseticidas foram usados em 1,396 milhão de fazendas.
 
A pesquisa mostra que mais de 1,5 milhão, das 5,2 milhões de propriedades rurais do país, utiliza agrotóxicos. E que 56% destas não recebem orientação técnica. A aplicação manual dos venenos, por meio do pulverizador costal – que é o equipamento que apresenta maior potencial de exposição aos agrotóxicos – é a mais utilizada, presente
em 70,7% dos estabelecimentos agrícolas que fazem uso de algum tipo de defensivo. O Censo aponta também que 20% (296 mil) destas propriedades não utilizam proteção  individual. O Rio Grande do Sul é o Estado que mais aplica agrotóxicos, com 273 mil propriedades.
 
Campeão mundial
Tal cenário é do país que, em 2008, foi “consagrado” com o título de campeão mundial de uso de agrotóxicos. Foram 673.862 toneladas de defensivos, o equivalente a cerca de 4 quilos por habitante. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Defesa Vegetal (Sindag), o faturamento da indústria química no ano passado no Brasil foi de
US$ 7,125 bilhões, valor superior aos US$ 6,6 bilhões do mesmo setor dos Estados Unidos. Atreladas ao tamanho da área plantada, as maiores aplicações se deram nas culturas de soja, milho, cana-de-açúcar, algodão e cítricos.
 
De acordo com Gabriel Fernandes, da organização não governamental Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), tais números deveriam servir “como um grande sinal de alerta que indica a falência do modelo agrícola das monoculturas. Quanto mais veneno se usa, maior será o desequilíbrio ambiental. E quanto maior o desequilíbrio ambiental, mais veneno se usa”.
 
As consequências do uso dos agrotóxicos são inúmeras: coloca-se a saúde dos trabalhadores e consumidores em risco, e se contaminam o solo e a água. No caso da saúde dos trabalhadores, os riscos variam de acordo com tempo e dose da exposição a diferentes produtos. Assim, os efeitos podem ser agudos ou crônicos. O principal efeito agudo são intoxicações, dores de cabeça, alergias, náuseas e vômitos. “Dependendo do tempo de exposição, pode haver uma intoxicação aguda completamente reversível, mas também pode haver efeitos subagudos que deixarão lesões neurológicas periféricas que podem comprometer tanto a parte da sensibilidade quanto a parte motora”, explica a médica Raquel Rigotto, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).
 
De acordo com ela, os efeitos crônicos são mais difíceis de se identificar porque podem ser atribuídos a outros quadros clínicos, “mas vão desde infertilidade masculina, má formação congênita, abortamento precoce, recém-nascido com baixo peso, cânceres – especialmente os linfomas –, leucemias, doenças hepáticas crônicas, alterações do sistema imunológico, possibilidade de mutagênese – que é a indução de mudanças genéticas que vão resultar em processos de cânceres ou em filhos com má formação congênita –, problemas de pele e respiratórios, até praticamente todas as doenças neurológicas, tanto centrais quanto periféricas. É um amplo leque de patologias”, explica.
 
Dor de cabeça, olhos ardendo
Quem tem como rotina receber denúncias de trabalhadores reclamando de problemas de saúde decorrentes do manuseio de agrotóxicos é Abel Barreto, presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Duartina, cidade paulista localizada na região de Bauru. “Temos muita reclamação de gente que vai trabalhar na laranja e se sente mal. Eles ligam e dizem: ‘Estamos aqui trabalhando na laranja e o trator está na rua de cima passando veneno’. A maioria fala em dor de cabeça e ardor nos olhos”, relata.
 
Um dos casos que chegou ao sindicato de Duartina foi o das trabalhadoras Lindalva Zulian, de 38 anos, Rosimeire de Araujo, de 35, e Janaína Silva, de 25. As três trabalhavam numa fazenda de laranja no setor de inspeção, buscando localizar as plantas doentes para serem eliminadas.
 
Nascida em Duartina, Lindalva morou em São Paulo por muitos anos. Mas, nos últimos cinco, trabalhava em fazendas de laranja, alternando as funções de colheita e inspeção. O emprego, no entanto, rendeu-lhe problemas de saúde. Durante uma manhã do mês de junho deste ano, Lindalva e suas colegas faziam inspeção numa fazenda de laranja na
cidade paulista de Espírito Santo do Turvo, quando o trator que aplica veneno passou pulverizando a mesma quadra onde as mulheres trabalhavam. “Eu comecei a ter tontura, dor de cabeça, ânsia de vomito. Comecei a chorar de tanta dor. As outras também começaram a vomitar”. Depois de muita insistência, o funcionário da fazenda atendeu o pedido de levar as mulheres ao hospital. “A dor de cabeça era demais, muita ânsia de vomito, o nariz e a boca queimavam por dentro. Falta de ar, não conseguíamos respirar. Na hora, o médico disse: ‘tira essa roupa, toma um banho, nem eu estou aguentando
o cheiro de vocês’. A gente estava toda envenenada”. As mulheres ficaram três dias internadas, e, quando tiveram alta, foram dispensadas pela fazenda. “O médico falou que a gente tinha que fazer tratamento, que não podia voltar a trabalhar onde tinha veneno dentro de três meses”.
 
Desde então, Lindalva está sem trabalhar. “Não posso mais com o cheiro de veneno. Qualquer coisa já começa a me queimar o nariz, me dá tontura e a cabeça começa a doer. O médico disse que a gente pode ter sintoma dentro de vários anos, que pode aparecer algum tipo de doença porque fica tudo no sangue. A gente não sentiu só o cheiro, a gente inalou mesmo”.
 
Assim como Lindalva, Rosemeire também não voltou a trabalhar. “Não quero nem ver laranja”, diz. Já Janaína voltou para a colheita. “Não tem jeito, tenho que trabalhar. Mas até hoje eu sinto muita dor nos olhos. Nossa, quando eu forço a vista, dói para caramba”, diz, tentando segurar seu filho, que brinca com o gravador da reportagem.
 
Lista negra
Apesar de terem denunciado o caso, que está sendo investigado pelo Ministério Público, as mulheres estavam receosas de dar entrevista e serem perseguidas depois. “O medo é de entrar para a ‘lista negra’ das fazendas e nunca mais conseguirem emprego”, relata Abel Barreto, presidente do sindicato de Duartina. Segundo ele, a região é dominada por Cutrale, Coimbra, Citrosuco e Citrovita, as quatro maiores empresas do setor de citricultura. “Se você for nas fazendas dessas empresas, vai ver todo mundo com equipamento de proteção. O problema é que a precariedade está nas fazendas que fornecem laranja para elas. Essa é a maneira de se isentarem de ficar com o nome sujo”, alerta.
 
O sindicalista aponta que uma das dificuldades para sistematizar as denúncias de intoxicação por agrotóxicos ocorre porque, quando as empresas têm equipe médica na fazenda, “muitas vezes os profissionais escondem os exames dos trabalhadores, dão um atestado de um dia quando deviam dar de dois”, explica. “E mesmo alguns médicos da cidade cedem à pressão das fazendas e amenizam os problemas, argumentando com a gente que as empresas são responsáveis por milhares de empregos”, relata.
 
Estudos relacionados aos impactos do manuseio dos agrotóxicos por trabalhadores indicam que mesmo com a utilização dos equipamentos de proteção individual, a aplicação não é segura. “Além do EPI, há uma série de outras exigências que qualificam aquilo que se chama de ‘uso seguro de agrotóxicos’, mesmo que eu esteja falando isso com várias aspas de cada lado, porque eu não acredito nessa possibilidade”, explica Raquel. Um dos pré-requisitos é o respeito ao que se chama de “período de reentrada” após a aplicação do veneno, quando ninguém pode ingressar na área. “Para alguns venenos, o tempo é de três horas; para outros, são sete dias, isso varia. E quando a gente pergunta aos trabalhadores como se trabalha com esse período, que é uma exigência da legislação trabalhista, eles dizem que isso não é respeitado pelas empresas”.
 
Além disso, segundo a médica, a segurança dos equipamentos de proteção individual é muito relativa. “Eles são muito desconfortáveis e, quanto mais baratos, mais mal acabados. Incomodam, espetam, arranham. Nos climas quentes, são ainda mais difíceis de usar. É também muito complicado para as indústrias estabelecerem o ritmo correto da troca dos filtros das máscaras”, avalia. Outro problema recorrente é a absorção dos produtos pela pele: “O uniforme fica encharcado de agrotóxicos. E, em vez de ser levado para a casa do trabalhador e lavado junto com a roupa da família, como acontece muitas vezes, ele deveria ser lavado pela empresa. A família corre grandes riscos de ficar contaminada. Essa proposta do uso seguro é muito relativa”, alerta Raquel.
 
Exemplo dos limites do “uso seguro” dos agrotóxicos é o trabalhador Paulo Sérgio, morador de Duartina. Aos 37 anos, muitos de corte da cana e cinco de colheita de laranja, ele teve uma experiência complicada recentemente. Contratado pela empresa de laranja Coimbra para aplicar defensivos agrícolas, no terceiro dia de trabalho, ao aplicar o veneno Temic, Paulo passou mal. “Eu estava com todos os EPIs”. Mesmo assim, os equipamentos não impediram que o trabalhador sentisse muita ânsia de vômito, aumento da salivação e dor de cabeça. “Passei no médico e ele disse que eu estava intoxicado”, conta.
 
Tatiana Merlino é jornalista
tatianamerlino@carosamigos.com.br
 
Para ler a reportagem completa e outras matérias confira a edição de dezembro da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.

Grande Juremir Machado....

Parece que Juremir Machado está se tornando a única voz,na mídia corporativa do RS, a tomar posicionamento contrário às "alterações" no estatuto do funcionalismo público do estado, promovido pelo governo corrupto de YRC. Chega a ser digno de revolta a falta de profissionalismo dos jornalistas de esgoto que,descaradamente defendemo o indefensável,ou seja, apoiando os "pacotes de bondades" dessa (des)governadora, chefe de uma quadrilha nunca antes visto no RS. Leia na íntegra o que escreveu Juremir em seu blog no Correio do Povo:

Pacote de maldades natalinas

Quatro perguntas e quatro respostas em regime de urgência:
1) Por que uma greve no fim do ano? Porque o governo manda projeto que é uma caixa de maldades no fim do ano, tentando aprová-lo no apagar das luzes, em regime de urgência, jogando com a possibilidade de não haver greve por ser o momento inoportuno. É uma maneira de forçar a aprovação e de jogar a sociedade contra os professores.
2) Por que o governo quer dar mais piso? Para dar menos básico. É sobre o básico que incidem as vantagens da carreira. Só há um ideal: piso e básico serem iguais. De preferência, no teto. Quer dizer, quanto mais alto melhor.
3) Por que o governo quer mudar o plano de carreira? Para diminuir vantagens, tornando menor o que já é pouco.
4) Por que ter um plano de carreira garantindo pequenas vantagens? Para diminuir as enormes desvantagens. As vantagens por tempo de serviço são formas de melhor um pouco a vida das pessoas e incentivá-las, diminuindo a pressão sobre os empregadores, pois são aumentos pulverizados. Afinal, nem todos completam triênios ao mesmo tempo
Quanto ao resto, repito meu texto de ontem. Seu tempo de validade ainda não terminou.
OBS: o governo está sendo democrático: seu pacote de maldades atinge também outros setores, entre os quais os brigadianos. É que os soldados ganham fortunas para morrer por nós nas ruas das grandes cidades.

Como gosta de dizer Edgar Morin, citando Pascal, o contrário de uma verdade profunda pode não ser um erro ou uma mentira, mas outra verdade profunda. O magistério estadual entrará em greve na próxima terça-feira. É verdade que essa medida extrema trará prejuízos para alunos e pais. Mas é verdade também que o magistério não tem saída. Se a sociedade não se mobiliza para valorizar o magistério, resta ao magistério se mobilizar para interpelar a sociedade. O governo tenta jogar pais e alunos contra professores numa chantagem clara e banal.
Os salários do magistério são baixíssimos. É inadmissível que aqueles que devem alfabetizar e formar nossas crianças e jovens ganhem tão pouco. Muita gente ataca o CPERS para desqualificar as demandas dos professores alegando que as ações do sindicato têm viés político-partidário. Pode ser. Mas essas criticas, em geral, também têm viés político-partidário. São motivadas por um antipetismo ou por um antiesquerdismo visceral que não perde oportunidade para se manifestar e não quer entrar no mérito das questões em jogo. Desta vez, o CPERS tem razão. O plano de valorização do governo para o magistério é, na verdade, um plano de desvalorização. Em lugar de adotar um piso (salário inicial sobre o qual devem incidir todas as vantagens da carreira), prefere um abono, o que levará parte da categoria para um salário maior e deixará outra parte com salários congelados.
O governo tem usado uma estratégia pesada de comunicação, apoiado por boa parte da mídia conservadora, com o objetivo de desqualificar os ganhos do magistério. Por que pagar vantagens por tempo de serviço? Para estimular as pessoas ao longo do tempo. Professores, assim como jogadores de futebol, são pessoas que precisam de incentivos. Essas vantagens servem, ao mesmo tempo, para melhorar parte dos salários, que são baixos, sem precisar melhorar o todo. É uma maneira homeopática de corrigir o que é apresentado como incorrigível. Talvez a licença-prêmio tenha ficado anacrônica. Ela pode muito bem ser substituída por licenças para cursos de atualização. É preciso que isso seja regulamentado, valha para todos e não dependa da boa vontade dos chefes.
Por enquanto, o governo quer transformar o pouco em menos ainda. Aproveita-se da mídia amiga para jogar a população contra os professores, a quem não dá alternativa e nos quais tenta colar o rótulo de radicais ou até de vagabundos. Ao jogar com a palavra piso, que não entende como salário inicial sobre o qual se acrescentam as vantagens da carreira, contrariando lei federal, induz a sociedade a pensar que pretende dar um piso de R$ 1500 enquanto o CPERS, num surto de birra, estaria lutando por R$ 950. Ou seja, o CPERS estaria propondo greve para ter menos. O único argumento plausível do governo seria provar que não pode dar o piso (salário inicial) de R$ 950. Não basta dizer que isso quebraria o governo. Precisa discutir prioridades.
Para quem está achando isso abstrato, aqui vai o e-mail que me enviou a professora Lea Camelo: “O básico hoje, já incluindo a lei Britto, é de 640,00 para 40 horas. O governo paga como piso R$ 860,00, que passará para 1500,00. Acontece que todas as vantagens são calculadas sobre esse básico miserável de R$ 640,00. Veja bem: eu tenho pós graduação, tendo 100% sobre o básico, que fica em R$ 1280,00, abono de R$ 85,00, mais três triênios de R$ 192,00. Então eu com pós e 10 anos de magistério recebo bruto R$ 1557,00. Um professor só com segundo grau, em inicio de carreira, receberá R$ 1500,00 Esta sendo feito um nivelamento por baixo. O Plano de Carreira foi criado para estimular o professor a se qualificar, mas, te pergunto, que estimulo é esse se todos vão ganhar quase o mesmo? O governo argumenta que o CEPRS não quer o aumento. Eu sei que eles só fazem politicagem, mas agora eles estão com a razão. O governo argumenta que quer aproximar os salários de quem ganha mais dos que ganham menos e que não mexe com o plano de carreira, mas é uma mentira, pois o básico continuará nos mesmos R$ 640,00. Os R$ 1500,00 serão completados com uma parcela autônoma e nesse governo não recebemos nem um tostão de aumento fora a lei Britto”. Está claro?
Em resumo, o governo gaúcho que dar um abono para que nenhum professor ganhe menos de R$ 1500. Quem estiver ganhando isso ou mais do que isso não terá um centavo de aumento. O governo estadual chama de “piso”, algo que aparece até na linguagem da professora Lea Camelo, o básico (atualmente em R$ 640 para 40 horas) mais um abono (resultando em R$ 860), mas as vantagens incidem apenas sobre o básico (R$ 640). O piso estabelecido por lei federal (salário inicial sobre o qual incidem as vantagens) é de R$ 950. Yeda Crusius foi ao STF para não pagar esse piso-básico. Não poderia agora querer pagar R$ 1500. Quer manter o básico em R$ 640 e aumentar o abono, o que, embora melhorando a vida de uma parcela do magistério, representará uma enorme economia para os cofres públicos às custas do professores. Simples assim.
Com o abono do governo a professora Lea Camelo não ganhará um centavo de aumento. Se o piso-básico saltasse de R$ 640 para R$ 950, valor sobre o qual incidiriam as vantagens, a professora Lea, que ganha atualmente R$ 1557, passaria a ganhar quanto? Calculem vocês. Uma pista: apenas os 100% de acréscimo sobre o básico (que tem de ser visto como piso) por ter pós-graduação já fariam o salário dela saltar para R$ 1900. Sacaram?

A guerra dos minaretes no centro da Europa






A Suíça é um país encantador, com calendários de paisagens bucólicas, floridas e/ou nevadas que fizeram felizes milhões de brasileiros durante gerações, um recanto de paz onde as guerras não entram, cujo lema (não oficial) é um manifesto pela solidariedade, a famosa frase dos três mosqueteiros (que eram quatro) de Alexandre Dumas Pai, "um por todos, todos por um", certo? Errado.
A Suíça é um país estremecido por uma vaga de intolerância que ameaça projetá-la internacionalmente como um território ocupado por políticas e propaganda de inspiração racista, ondas de xenofobia, perseguições contra minorias étnicas e culturais, voltada para a defesa de uma "pureza européia" como raramente se viu desde as sinistras campanhas de arianismo dos anos 20 e 30 que levaram ao nazismo no mundo germânico. Errado? Não, certo.
Infelizmente, certo. Mas felizmente não é toda a Suíça (assim como não foi todo o mundo germânico que mergulhou na sandice nazista). Há ainda quem manifeste indignação, perplexidade, repúdio diante do que aconteceu.
E o que, afinal, aconteceu?
No domingo, 29 de novembro, houve um plebiscito na democrática Suíça, onde tudo pode ser plebiscitado, desde que seja objeto de uma petição com um certo número de assinaturas. O tema do plebiscito era se a construção de minaretes (as torres com sacadas circulares, junto às mesquitas muçulmanas, de onde o muezzim anuncia as preces) deveria ser proibida em território suíço, ou não. Autoridades, religiosos de todas as religiões, o Vaticano, militantes dos direitos civis, ecologistas, até políticos conservadores e de direita se posicionaram contra a proibição, a favor dos minaretes. Ademais, a população muçulmana na Suíca é pequena (400 mil em 7,75 milhões, cerca de 5,1%) e, na maioria, não provem de países árabes, mas da Turquia, da Albânia e da Bósnia; em todo o país há apenas 4 minaretes.
Cartaz da campanha contra os minaretes

As pesquisas de opinião davam uma confortável maioria para o "não". Talvez isso tenha contribuído para afrouxar o ímpeto dos que defendiam a liberdade para os minaretes e para todos os cultos religiosos. O fato é que o "sim" venceu, com 57% dos votos, e mergulhou o país numa crise de credibilidade e também de temor.
Crise de credibilidade: a Suíca deixou de ser aquela "terra de tolerância" descrita no primeiro parágrafo desse "post". Aliás, já vinha deixando de ser. Em campanhas eleitorais anteriores, um poster racista, em que três ovelhinhas brancas chutavam uma negra para fora da bandeira suíça, já chamara a atenção. Agora o poster principal da campanha pró "sim", ou seja, contra os minaretes, mostrava uma mulher com trajes muçulmanos, ao lado de minaretes negros sobre a bandeira suíça, cuja forma (a das torres) se confundia com a de mísseis. Tão ameaçador e intolerante era o poster, que ele chegou a ser proibido em algumas cidades.
Crise de temor: teme-se agoras que haja represálias por parte dos países de predominância muçulmana, não propriamente sob a forma temida do terrorismo, mas sim sob a forma apavorante da retirada de investimentos e de depósitos em bancos.
Segundo a revista Der Spiegel (artigo de Michel Soukup), por trás de ambas as propagandas (a das ovelhinhas e a das torres/mísseis), está um alemão residente na Suíça, Alexander Segart, de 46 anos, que se declara um defensor ardoroso do cristianismo.  Mas a campanha, cujo efeito na Europa é temido e pode de fato ser ameaçador, parece ter um tipo de apelo diverso do que o religioso. A sua base de propagação, também manifesta em vídeos e outros meios da mídia (inclusive no Brasil) difundidos pela internet, é uma suposta "islamização" da Europa e do mundo. Essa "islamização" teria como armas uma taxa de crescimento populacional maior entre os muçulmanos e uma militância religiosa e cultural mais empenhada do que aquela dos "frouxos" cristãos e ocidentais. Em tempos recentes uma acirrada polêmica marcou a licença para a construção de uma grande mesquita em Colônia, na Alemanha, e um dos argumentos brandidos pelos opositores era o de que a "cultura muçulmana" não "pertence à Europa", seja lá que insensatez isso queira traduzir. Insensatez? Sim, além de intolerância absurda, insensatez. Por exemplo: não fossem os sábios muçulmanos, os europeus e outros povos teriam "esquecido" quase todo o seu mundo da antigüidade grega.
Parlamentares e ativistas suíços estão se mobilizando para averiguar a possibilidade de declarar o resultado do plebiscito inconstitucional, além de pretenderem levar o caso à consideração do Parlamento e do Tribunal da União Européia em Estrasburgo, numa medida, na verdade, preventiva, já que a Suíça não faz parte da UE.
A adesão de movimentos de direita à campanha da proibição não surpreendeu. O que trouxe mais mal estar à história toda foi a adesão de grupos que se consideram "de esquerda" ou "militantes dos direitos humanos", argumentando com sua preocupação diante da "posição da mulher" nas culturas muçulmanas. Essa posição, disfarçada de "progressismo", esconde na verdade um ranço neo-colonial, baseado na idéia de que "como sou mais adiantando eu sei o que é melhor para você". Uma coisa é debater posições autoritárias ou machistas na cultura islâmica - aliás, em todas as culturas e sociedades. Outra é sair proibindo, barrando, impedindo a liberdade de expressão (é disso que se trata)  em nome de que "nós" somos "o" modelo para o mundo, o que no mínimo revela a arrogância de quem nào consegue se focar no espelho.
Infelizmente, a proibição dos minaretes, como também aponta o artigo do Der Spiegel, têm precedentes em outros tipos de proibição: na Arábia Saudita torres de igrejas cristãs são proibidas, o que apenas prova que a insensatez não tem fronteiras.